Em artigo de hoje no Estadão, Demétrio Magnoli, quem muito respeito, resgata certo otimismo com os acontecimentos ligados à "Primavera Árabe". Diz o sociólogo:
A "segunda Tahrir" revela tanto a vitalidade da revolução democrática no Egito quanto o fracasso dos profetas que condenaram de antemão a Primavera Árabe como uma queda no precipício do fundamentalismo islâmico. Em pouco mais de dois anos os egípcios derrubaram uma ditadura militar e um governo eleito que pretendia aprisionar as liberdades no calabouço da ortodoxia religiosa. Depois disso a tese do "choque de civilizações" deveria ser recolhida ao museu das relíquias ideológicas.
Eu não estaria tão certo disso. Considero a conclusão otimista precipitada. É verdade que o povo não aceitou a "democracia" islâmica (sharia) de Mursi e seus colegas fanáticos da Irmandade Muçulmana. Mas daí a concluir que há em curso uma luta por democracia, pois os egípcios derrubaram tanto a ditadura militar como a ditadura velada e disfarçada de democracia islâmica, acho que vai uma longa distância.
Eu faria uma provocação alternativa: e se esses povos ainda não estão preparados para democracia alguma, e a opção realista que se apresenta for entre regime militar secular e aliado ao Ocidente, ou "democracias" que nada mais são do que uma estratégia para o totalitarismo islâmico? E se o "choque de civilizações" é justamente o que está acontecendo por lá?
Estou lendo um ótimo livro que tem justamente essa tese. Trata-se de Spring Fever: The Illusion of Islamic Democracy, de Andrew C McCarthy, que é autor também de The Grand Jihad. O livro sobre a "Primavera Árabe" é bem interessante, e pretendo escrever mais sobre ele depois de terminar a leitura.
Por enquanto, fica a questão: podemos mesmo afirmar que os povos árabes "despertaram" e clamam por democracia e liberdade? Ceticismo parece crucial nesse momento, para não cairmos novamente em ilusões perigosas...
Pergunto-me se é possível construir uma democracia num país onde o islamismo é a religião dominante. Essa religião não aceita não ter o poder político nas mãos. Num Estado islâmico a Constituição é o Alcorão.
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