segunda-feira, março 07, 2011

Deus me livre de ser feliz

Luiz Felipe Pondé, Folha de SP

DEUS ME livre de ser feliz. Existem coisas mais sérias que a felicidade. Algum sabichão por aí vai dizer, sentindo-se inteligentinho: "Existem várias formas de felicidade!". E o colunista dirá: "Sou filósofo, cara. Conheço esse blá-blá-blá de que existem vários tipos de felicidade, mas hoje não estou a fim".
Um bom teste para saber se o que você está aprendendo vale a pena é ver se o conteúdo em questão visa te deixar feliz.
Se for o caso e você tiver uns 40 anos de idade, você corre o risco de sair do "curso" engatinhando como um bebê fora do prazo de validade. A mania da felicidade nos deixa retardados.
Querer ser feliz é uma praga. Quando queremos ser felizes sempre ficamos com cara de bobo. Preste atenção da próxima vez que vir alguém querendo ser feliz.
Mas hoje em dia todo mundo quer deixar todo mundo feliz porque agradar é, agora, um conceito "científico". Quem não agrada, não vende, assim como maçãs caem da árvore devido à lei de Newton.
Mas eu, talvez por causa de algum trauma (fiz análise por 20 anos e acho que Freud acertou em tudo o que disse), não quero agradar ninguém.
Não considero isso uma "vantagem moral", mas uma espécie de vício. Claro, por isso tenho poucos amigos. Mas, como dizem por aí, se você tiver muitos amigos, ou você é superficial, ou eles são, ou os dois.
Quanto aos meus alunos e leitores, esses eu nunca penso em deixar felizes, graças a Deus.
Desejo para eles uma vida atribulada, conflitos infernais com as famílias, dúvidas terríveis quanto a se vale a pena ou não ter filhos e casar.
Desejo que, caso optem por não ter família, experimentem a mais dura solidão da existência humana, porque, no fundo, não passam de egoístas. Mas se tiverem família, desejo que percebam como os filhos cada vez mais são egoístas porque querem ser felizes e livres.
Desejo para eles pressões violentas no mercado de trabalho. E jantares à meia-noite diante de um trabalho que não pode ficar para amanhã porque querem viajar e ter grana para gastar.
Quem quiser ser livre, que aguente a insegurança da liberdade. Quem for covarde e optar por uma vida miseravelmente cotidiana que veja um dia sua filha jogar na sua cara que você foi um covarde.
Especialmente, desejo um futuro cruel para quem acredita que "ser uma pessoa de bem" a protege de ser infiel, infeliz, abandonada e invejosa.
Espero que um dia descubram que, sim, eles têm um preço (apenas desejo que seja um preço alto) e que se vendam.
Espero que percebam que seus pais não foram santos e parem com essa coisa de gente brega de classe média que tenta inventar uma "tradição ética familiar" que só engana bobo.
E por que digo isso? Porque hoje todos nós estamos um tanto infantilizados e só queremos que nos digam o que achamos legal.
O resultado é uma massa de obviedades. A tendência é transformar o pensamento público em autoajuda ou em "compromisso com um mundo melhor", o que é a mesma coisa.
Quem quer agradar é, no fundo, um frouxo. Vejamos alguns exemplos do produto "querer ser feliz". Comecemos por quem acha que o seu "querer ser feliz" é superior e espiritualizado.
Talvez você queira virar luz quando morrer porque ser luz é legal (risadas). Deus me livre de querer virar luz quando morrer. Prefiro as trevas.
Se for para continuar vivendo depois de morto, prefiro viver no "meu elemento", as trevas, porque sou cego como um morcego.
Normalmente, quem quer virar luz quando morrer é gente feia ou magra demais. Mulheres bonitas vão para o inferno, logo...
E gente que acha que frango tem mãe (só porque ele "descende" do ovo de uma galinha, e ela de outro...) e por isso é crime matá-los? Trata-se de uma nova forma de compromisso com a "felicidade social e política".
Entre esses "felizes que desejam a felicidade para os frangos" existem pessoas de 40 anos com cérebro de dez e pessoas de dez anos que um dia terão 40, mas com o mesmo cérebro de dez. Não creio que mudem.
Hoje é Carnaval. Espero que você não tenha pegado aquele trânsito idiota de cinco horas para ser feliz na praia.

10 comentários:

  1. Anônimo10:46 AM

    Muito bom! É o mal da felicidade...

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  2. Anônimo12:04 PM

    SOBRE O RISCO DO ADJETIVO “SOCIAL”


    Evitem falar ou escrever o adjetivo "social" (função social, serviços sociais, igualdade social, desigualdade social, justiça social, etc). Este adjetivo é a palavra mágica usada pelo gramscismo para hipnotizar as consciências e conduzi-las à aceitação das propostas coletivistas. Só o utilize quando não houver possibilidade de não fazê-lo.

    A linguagem recheada de signos que remetem ao coletivismo é uma das técnicas usadas pelas esquerdas para conquistar a hegemonia cultural e política.

    PELA LIBERDADE INDIVIDUAL, DIGA NÃO À “JUSTIÇA SOCIAL”!!!!!!!!!!!!!

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  3. Anônimo12:11 PM

    "responsabilidade social", "trabalho social" rs

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  4. Anônimo1:20 PM

    Questão social, consciência social...hehe

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  5. Anônimo2:03 PM

    Rodrigo, juro que não entendi direito o que quis dizer com o artigo transcrito, afinal creio que voce certamente defende as premissas da constituição americana de "vida, liberdade e busca da felicidade". Trata-se de uma critica ao "politicamente correto"?

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  6. Em parte sim. Mas é mais que isso. A busca pela Felicidade é uma utopia. O que temos são momentos felizes, bons, agradáveis. Essa Felicidade com F maiúsculo não existe de fato, mas tem sido uma cobrança social cada vez maior. Vivemos na era do Prozac, dos "happy people" do Facebook, gente que tem que mostrar aos outros como vive sempre tão feliz, casal capa de Caras, onde é proibido sofrer, ter angústias, encarar a falta de sentido da vida muitas vezes. Isso é uma patologia moderna, uma doença social. Acho que o Pondé tem batido muito bem nesse problema.

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  7. Anônimo4:05 PM

    Grato pelo esclarecimento.

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  8. E que tal pegar aquele transito de 5 horas para ser INFELIZ na praia debaixo de chuva?

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  9. Paula2:47 AM

    A busca pela felicidade no mundo moderno é bem diferente de querer ter momentos de paz,tranquilidade, alegria que, em alguns casos, precisa ser alienante. Digo, momentos alienantes e não consciência alienada de manobra de consumo. Há possibilidade de momentos muito felizes próximo da família, que é o alicerce do ser humano. Parece que 20 anos de terapia não funcionaram para o Pondé e ele quer espalhar o ceticismo e sua rabugice para as pessoas. Ser feliz, sim, porque não??

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  10. Anônimo6:35 PM

    Qta amargura

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