O público e o privado *
A revolução audiovisual de nosso tempo derrubou as barreiras que a censura opunha à livre informação e à discordância crítica, e, graças a isso, os regimes autoritários têm muito menos possibilidade do que no passado de manter seus povos na ignorância e de manipular a opinião pública. Isso, evidentemente, constitui um grande progresso para a cultura da liberdade e devemos aproveitá-lo. Mas daí a concluir que a prodigiosa transformação das comunicações, representada pela internet, autoriza os internautas a saberem de tudo e a divulgarem tudo o que ocorre sob o sol (ou sob a lua), fazendo desaparecer de uma vez por todas a demarcação entre o público e o privado, há um abismo que, se abolido, poderia significar não uma façanha libertária, mas pura e simplesmente um liberticídio que, além de minar as bases da democracia, infligiria duro golpe na civilização.
Nenhuma democracia poderia funcionar se desaparecesse a confidencialidade das comunicações entre funcionários e autoridades, e nenhuma forma de política nos campos da diplomacia, da defesa, da segurança, da ordem pública e até da economia teria consistência se os processos que determinam essas políticas fossem expostos totalmente ao público em todas as suas instâncias. O resultado de semelhante exibicionismo informativo seria a paralisia das instituições, tornando mais fácil para as organizações antidemocráticas travar e anular todas as iniciativas incompatíveis com seus desígnios autoritários. A libertinagem informativa não tem nada a ver com a liberdade de expressão; ao contrário, é seu exato oposto.
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Não se trata, pois, de combater uma "mentira", mas realmente de satisfazer a curiosidade mórbida e malsã da civilização do espetáculo, que é a de nosso tempo, em que o jornalismo (como a cultura em geral) parece desenvolver-se guiado pelo objetivo único de entreter. O senhor Julian Assange, mais que um grande lutador libertário, é um bem-sucedido entertainer ou animador, o Oprah Winfrey da informação.
* Trecho do capítulo com este nome do livro "A civilização do espetáculo", de Mario Vargas Llosa
Eu não entendi. A confidencialidade da comunicação só vai existir se o estado for eficiente na sua comunicação. Pois impedir que a informação seja divulgada depois que a mesma vazou é impossível. E se vazou foi por total incompetência de que geriu a informação e nesse tipo de caso o Assange não tem culpa nenhuma, já que se ele consegue ter acesso outros também conseguem e nesse caso é melhor expor o quão incompetente é a inteligência do governo americano.
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