Idéias de um livre pensador sem medo da polêmica ou da patrulha dos "politicamente corretos".
quarta-feira, maio 31, 2006
O Declínio de Porto Rico
Rodrigo Constantino
A revista The Economist trouxe uma interessante matéria sobre Porto Rico esta semana, mostrando a deterioração do quadro econômico do país. Porto Rico é território americano por mais de um século, e seu povo tem cidadania americana desde 1917. Esta proximidade com os Estados Unidos contribuiu muito para o enriquecimento do país no passado, mas a economia vem mostrando sinais de desgaste nas últimas três décadas. A culpa poderia ser encontrada no excesso de governo.
A renda per capita do país estava em US$ 12 mil em 2004, um bom patamar para os padrões do Caribe, mas menos da metade de Mississipi, o estado americano mais pobre. A taxa de pobreza era quatro vezes maior que a média nacional americana. Os “anos dourados” após a Segunda Guerra parecem ter chegado ao fim. Desde 1970, Porto Rico tem ficado para trás se comparado aos tigres asiáticos ou Irlanda, que tinha então uma mesma renda per capita. O governo americano assumiu um papel grande demais na economia local, e um agigantado “welfare state” tem prejudicado a dinâmica do país. As transferências federais para Porto Rico aumentaram drasticamente desde 1970, e ainda correspondem a cerca de 20% da renda pessoal na ilha. Algo como 30% dos empregos estão no setor público. Como lamentou o próprio prefeito de Aguadilla, Carlos Méndez, “tudo que querem é achar segurança apenas”. Ele completa que “não existe mais ambição, todos querem trabalhar para o governo”. Como o governo não cria riqueza, um país sempre encontra dificuldades quando muitos querem os privilégios do setor público. Afinal, quem paga a conta assume um fardo cada vez maior. E como resultado concreto disso, a renda per capita de Porto Rico vem caindo em relação a americana desde 1970, enquanto países mais liberais, como Cingapura, Taiwan e Irlanda, vem reduzindo bastante a diferença.
O excesso de controle estatal gera um efeito moral perverso. As pessoas passam a ver os bens e serviços disponíveis como “direitos naturais”, passando apenas a disputar pela via política mais e mais privilégios. O “welfare state” acaba criando problemas de conflito em vários níveis, forçando as pessoas a competir por suas parcelas de uma riqueza continuamente decrescente. A “necessidade” passa a substituir o mérito, e a liberdade individual cede espaço para mais e mais regulações e controles estatais. A responsabilidade do próprio sustento deixa de ser uma prioridade, pois os indivíduos consideram como certo que o Estado irá prover suas demandas. Como crianças mimadas, ignorando como a riqueza é de fato criada, os indivíduos exigem seus “direitos”, jogando a obrigação de produzi-los para os outros. O caso de Porto Rico, com suas mudanças nas últimas décadas, não é uma exceção. Podemos observar essas características até mesmo na Suécia e demais escandinavos. Alguns estão agora tentando adotar reformas mais liberais, devido ao fato desse modelo se mostrar insustentável no longo prazo. A mentalidade de que tudo que é desejado cabe ao Estado cria verdadeiros parasitas. Tivemos um caso esdrúxulo na Escandinávia onde um idoso entrou na justiça para exigir do Estado o pagamento de prostitutas!
A riqueza de uma nação é criada pelos seus indivíduos, e quanto maior a liberdade desses, maiores os incentivos para o trabalho e a conseqüente criação de riqueza. Indivíduos reagem a incentivos. O “welfare state” acaba reduzindo bastante os incentivos ao esforço individual, posto que a responsabilidade individual é substituída por uma sensação de proteção coletiva. No longo prazo, entretanto, trata-se de uma falsa proteção. O caso de Porto Rico apenas corrobora, entre muitos outros, com essa lógica. O país teria muito a ganhar se mudasse seu modelo, delegando novamente ao próprio indivíduo a tarefa do seu sustento. Afinal, a nação mais rica do mundo, da qual Porto Rico faz parte por acordo, foi criada justamente com esta mentalidade.
terça-feira, maio 30, 2006
Ocidentalismo
Rodrigo Constantino
Os professores Ian Buruma e Avishai Margalit escreveram um livro no qual cunharam o termo “ocidentalismo”, explicado como o retrato desumano do Ocidente pintado por seus inimigos. Nele, os autores tentam explicar os motivos do ódio que leva determinados grupos a declarar guerra ao estilo de vida ocidental e tudo que ele representa. A conclusão é que boa parte da culpa desse ressentimento originou-se no próprio Ocidente, através de certos pensadores e intelectuais.
A visão desumana do Ocidente reduz toda uma sociedade ou civilização a uma massa de parasitas sem alma, decadentes que vivem apenas para o prazer imediato. Quando essa visão de que os outros são menos humanos adquire força revolucionária, leva à destruição de seres humanos. As causas dessa imagem perversa possuem raízes históricas. Por trás dela, está a noção de que os homens desafiaram Deus, colocando-se como centro do universo e transformando suas relações em trocas impessoais ligadas apenas ao dinheiro. A cidade passa a ser vista como desumana, um zoológico de animais depravados, consumidos pela luxúria. Nas palavras dos autores, eis o resumo da visão ocidentalista da cidade, do capitalismo, e da ‘civilização-máquina’ ocidental: “uma prostituta sem alma como um autômato voraz”.
Os intelectuais ocidentais, com raras e nobres exceções, contribuíram muito para essa imagem. Entre as causas, pode estar o fato deles saberem que, em uma cultura comercial, o papel dos filósofos e dos literatos é, na melhor das hipóteses, marginal. Os temores e preconceitos afetam as idéias dos intelectuais urbanos, que se sentem deslocados num mundo de comércio em massa. Na tentativa de “reformar” os homens, como se apenas os intelectuais tivessem a sabedoria para conhecer o caminho da salvação e os verdadeiros interesses individuais, vários pensadores pariram idéias revolucionárias que derramaram oceanos de sangue. As massas foram cobaias desses cruéis experimentos.
Os exemplos são vastos. Os soldados do Khmer Vermelho, por exemplo, vinham de áreas miseráveis e eram analfabetos, mas os líderes do movimento que exterminou quase um terço da população do Camboja tinham estudado em Paris, sofrendo forte influência de Sartre e Marx. O próprio Pol-Pot era um desses. O objetivo era restaurar a pureza e a virtude do seu povo, e o meio usado foi o sistemático assassinato em massa. O mesmo ocorreu na “revolução cultural” de Mao Tse-Tung, na China, ou na revolução comunista dos bolcheviques.
As democracias liberais do Ocidente valorizam o indivíduo comum, e o livre comércio preserva justamente a busca da satisfação dos interesses particulares de cada um. Fica faltando, na visão dos ocidentalistas, o sacrifício e o heroísmo. O renascimento só pode vir através da destruição e do sacrifício humano, por esta ótica. O piloto kamikaze, durante a Segunda Guerra, é o símbolo perfeito disso. O culto à morte no Japão vicejou em meio ao mais alto nível de sofisticação tecnológica, cultural e industrial. Suas raízes não podem ser encontradas na pobreza. Esses kamikazes se viam como intelectuais rebeldes, enfrentando a corrupção ocidental, o capitalismo egoísta, e superficialidade da cultura americana. O arquiteto do ataque a Pearl Harbor havia estudado em Harvard. Não é muito diferente da situação que encontramos hoje na Al Qaeda. Bin Laden, um milionário com acesso aos grandes pensadores ocidentais, recruta jovens de classe média, usando a mesma retórica dos kamikazes.
As sociedades liberais do Ocidente dão oportunidades de conquistas extraordinárias aos indivíduos, mas tais conquistas são individuais. Isso não pode satisfazer aqueles que desejam ver o heroísmo e glória como partes de um empreendimento coletivo. O fascismo, o comunismo e o nazismo atraíam justamente o homem medíocre, porque lhe dava um vislumbre de glória por associação, seja da raça, da classe ou da nação. Os autores explicam: “O auto-sacrifício por uma causa nobre, por um mundo ideal, livre da cobiça humana e da injustiça, é o caminho para o homem comum sentir-se heróico”. O liberalismo ocidental, com sua natureza anti-heróica, passa a ser o grande inimigo dos radicais coletivistas.
Na conclusão do livro, os autores defendem a idéia de que o combate a este ocidentalismo, que prega a destruição dos valores seculares ocidentais, não está no uso do mesmo veneno dos inimigos da sociedade aberta, mas sim nos próprios valores que fizeram do Ocidente uma civilização mais rica e livre. Eles finalizam: “Não podemos permitir o fechamento de nossas sociedades como uma forma de defesa contra aquelas que se fecharam; do contrário, seríamos todos ocidentalistas e não haveria nada mais a defender”.
segunda-feira, maio 29, 2006
A Auto-suficiência em Petróleo
Rodrigo Constantino
A Petrobrás, apesar de monopolista, tem gasto rios de dinheiro em propaganda recentemente, celebrando a auto-suficiência brasileira em petróleo. O país produz o mesmo que consome, ainda que o óleo aqui produzido seja de pior qualidade, fazendo com que tenhamos que importar petróleo mais leve. Quando o assunto é Petrobrás, as emoções costumam dominar a razão, e após tanta repetição, muitos acreditam de verdade na expressão “o petróleo é nosso”, mesmo que o “nosso” petróleo seja um dos mais caros do mundo. O “argumento” de setor estratégico também conquista muitos adeptos, ainda que estratégico mesmo seja ter comida na barriga, não petróleo. Vamos analisar esses pontos com maior atenção.
Quais são os países no mundo que conseguiram essa conquista da auto-suficiência em petróleo? Podemos começar pela Venezuela, que há décadas recebe bilhões de dólares pela exportação do “ouro negro”. O que isso fez pelo povo venezuelano? Não muito, posto que o desemprego é enorme, a população abaixo da linha de pobreza é muito grande e a renda per capita é baixa. A estatal PDVSA ganha muito dinheiro, mas quem vê a cor dele são os políticos e seus aliados. Outro país exportador de petróleo é a Nigéria. Creio que não há muito o que falar de um país cuja expectativa de vida do povo está abaixo de 50 anos, e a renda per capita não passa de mil dólares. A abundância de petróleo não parece ter feito muito pelo povo de lá também.
Em compensação, o Japão é um dos países mais dependentes da importação de petróleo do mundo. Mas possui o segundo maior PIB mundial. Na frente dele, apenas os Estados Unidos, outro país extremamente dependente da commodity. A China tem crescido em ritmo acelerado após reformas liberais, e também depende da importação do petróleo, assim como a Coréia do Sul. Cingapura não tem recursos naturais, mas seu PIB per capita chega a US$ 30 mil. A riqueza de um povo claramente não depende dos recursos naturais. Não é diferente no caso do petróleo.
Refutando o argumento de que a auto-suficiência em petróleo automaticamente gera benefícios para o povo, resta rebater o argumento de “setor estratégico”. Nada mais estratégico que o setor de alimentos, e no entanto o setor privado, em livre concorrência, representa o melhor mecanismo para satisfazer as demandas. Quando o Estado monopolizou este setor na URSS e China, tivemos milhões morrendo de inanição. Fora isso, nenhum outro país pode alegar que o petróleo é estratégico mais que os Estados Unidos. No entanto, lá temos dezenas de empresas privadas competindo livremente, incluindo estrangeiras. Gigantes privadas como a ExxonMobil, ChevronTexaco, ConocoPhillips, Marathon Oil, Occidental Petrol, todas competem no livre mercado em busca da maximização dos lucros. Não é por outro motivo que o setor funciona bem lá, enquanto vemos estatais como a Petrobrás virarem palco de corrupção, cabides de emprego, pressão política etc. Justamente por ser estratégico é que o setor de petróleo deve respeitar a livre concorrência de empresas privadas, garantindo maior eficiência e preços menores.
Muitos falam das conquistas tecnológicas da Petrobrás, líder em extração em águas profundas, mas ignoram o custo de oportunidade para tais conquistas. Não param para refletir como estaria a situação hoje se o setor contasse com várias empresas privadas competindo. Todas as empresas que foram privatizadas passaram por profundas melhorias, como a Vale, Embraer, CSN, Usiminas e Telebrás. A gestão privada é sempre mais eficiente. A competição força o aprimoramento da produtividade e a redução dos custos.
Por fim, temos que levar em conta a alternativa para o uso do capital do governo empatado na empresa. Governo não tem que ser empresário. O valor de mercado da Petrobrás oscila atualmente perto dos R$ 200 bilhões. A União Federal possui 32,2% do capital total, exercendo o controle acionário através de 55,7% das ações votantes. Supondo um prêmio de controle da ordem de 50%, normal em privatizações, a União poderia arrecadar cerca de R$ 100 bilhões com a venda do controle da Petrobrás. Essa montanha de dinheiro poderia ser usada para abatimento da dívida pública, hoje acima de um trilhão de reais. Isso economizaria algo como R$ 15 bilhões de juros por ano. O país continuaria auto-suficiente, teria provavelmente um preço do combustível bem menor por conseqüência da maior competição, e reduziria o uso político de um importante setor da economia. Todos os consumidores e pagadores de impostos teriam muito a ganhar. Isso sim, seria motivo de “orgulho nacional”. Não a auto-suficiência por si só, que como vimos, não garante nada de bom ao povo.
sexta-feira, maio 26, 2006
Um Líder Carismático
Rodrigo Constantino
“Quem espera que o diabo ande pelo mundo com chifres será sempre sua presa.” (Schopenhauer)
Era uma vez um sujeito humilde, que resolveu entrar para o Partido dos Trabalhadores, logo no começo de sua existência. Foi praticamente um dos fundadores do partido. Tamanha era sua influência sobre os demais membros, que logo se tornou o maior líder dentro do partido. Praticamente redigiu o programa que seria defendido pelo partido. Este programa era uma mistura de socialismo com nacionalismo.
O programa defendia a “obrigação do governo de prover aos cidadãos oportunidades adequadas de emprego e vida”. Alertava que “as atividades dos indivíduos não podem se chocar com os interesses da comunidade, devendo ficar limitadas e confinadas ao objetivo do bem geral”. Demandava o “fim do poder dos interesses financeiros”, assim como a “divisão dos lucros pelas grandes empresas”. Também demandava “uma grande expansão dos cuidados aos idosos”, e alegava que “o governo deve oferecer uma educação pública muito mais abrangente e subsidiar a educação das crianças com pais pobres”. Defendia que “o governo deve assumir a melhoria da saúde pública protegendo as mães e filhos e proibindo o trabalho infantil”. Pregava uma “reforma agrária para que os pobres tivessem terra para plantar”. Combatia o “espírito materialista” e afirmava ser possível uma recuperação do povo “somente através da colocação do bem comum à frente do bem individual”. O meio defendido para tanto era o centralismo do poder.
O líder era muito carismático, e sua retórica populista conquistava milhões de seguidores. Ele contava com um brilhante “marqueteiro”, que muito ajudava na roupagem do “messias restaurador”, enfeitiçando as massas. Foi projetada a imagem de um homem simples e modesto, de personalidade mágica e hipnotizadora, um incansável batalhador pelo bem-estar do seu povo. Seus devaneios megalomaníacos eram constantes. Sua propaganda política incluía constante apelo às emoções, repetindo idéias e conceitos de forma sistemática, usando frases estereotipadas e evitando ao máximo a objetividade. O Estado seria a locomotiva do crescimento econômico, da criação de empregos e do resgate do orgulho nacional. A liberdade individual era algo totalmente sem importância neste contexto.
Seu Partido dos Trabalhadores finalmente chegou ao poder, através da mesma democracia que era vista com desdém por seus membros. Uma “farsa” para tomar o poder. O real objetivo tinha sido conquistado. As táticas de lavagem cerebral tinham surtido efeito. Uma vez no governo, o líder foi concentrando mais e mais poder para o Estado, controlando a mídia, as empresas, tudo. Claro que o resultado foi catastrófico, como não poderia deixar de ser. O povo pagou uma elevada conta pelo sonho do “messias” que iria salvar a pátria.
Caro leitor, o líder carismático descrito acima não é quem você está pensando. Ele é, na verdade, Adolf Hitler, líder do Partido dos Trabalhadores Nacional-Socialista da Alemanha, mais conhecido apenas como “nazistas”. Schopenhauer estava certo no alerta da epígrafe. O diabo costuma se vestir de nobre altruísta. Os chifres aparecem somente depois que a vítima vendeu-lhe sua alma. Aí já é tarde demais...
quinta-feira, maio 25, 2006
Um Corrupto de Direita
Rodrigo Constantino
Caro leitor, pretendo a seguir apresentar a figura hipotética de um governante, eleito para presidir um grande país. Qualquer semelhança com alguém conhecido pode não ser mera coincidência. Peço, entretanto, que o leitor tente focar apenas nos supostos fatos em si, ignorando a pessoa do governante. Afinal, a justiça é cega para cor, raça, sexo ou ideologia, devendo ater-se somente aos fatos. Façamos justiça então!
Era uma vez um sujeito carismático, que pregava soluções milagrosas e simplistas para os males que assolavam sua nação. Após algumas tentativas, ele logrou chegar ao poder. Quando sentado ao trono, no entanto, teve que esquecer todas aquelas crenças que divulgava como corretas para levar o país ao progresso. Culpou a “herança maldita” pelas coisas ruins que viu na economia, mas acabou repetindo o mesmo modelo que o anterior nesta área específica. Na verdade, fez ainda pior, e o crescimento econômico durante seu governo foi pior que medíocre quando comparado ao resto do mundo. No restante, de fato trouxe mudanças. Todas para pior.
Esse governante sempre flertou com ditadores assassinos. Suas amizades eram mais que suspeitas. Seu partido contava com figuras pitorescas, da sua extrema confiança. Incluíam terroristas, assaltantes de bancos e até seqüestradores. Eles receberam cargos importantes – além de anistias milionárias por este passado criminoso – quando o governante assumiu a presidência. Alguns viraram ministros. No entanto, alguns fatos vieram à tona, e um sério procurador da Justiça acusou a turma toda de formação de quadrilha. As evidências que sustentavam tal acusação eram contundentes, não deixando margem para dúvidas. Tratava-se de um enorme assalto aos cofres públicos, com um nefasto projeto de poder perpetrado por 40 ladrões, todos muito próximos do governante. Faltava apenas o Ali Babá, que somente repetia que não sabia de nada, não tinha visto nada, e que roubar era algo comum no país. Mas ele era, segundo ele mesmo, o ser mais ético de todos na nação.
Fora o maior esquema de corrupção de que se tem conhecimento no país, o governo do nosso “amigo” avançou – ou tentou avançar – sobre a liberdade dos indivíduos também. Parece que atacar apenas o seu bolso não era suficiente. Desta forma, seu governo tentou amordaçar a mídia, buscando copiar aquilo que seus camaradas ditadores tinham feito. Propôs projetos para controle sobre os jornalistas, expulsou do país um deles e tentou tomar conta até do cinema nacional. As verbas com propaganda cresceram. Até mesmo promotores foram alvo de seu viés autoritário. Controlar súditos, não governar para cidadãos, parecia ser claramente seu objetivo.
O projeto de poder não parecia limitado ao seu país. A megalomania era visível em seus discursos e ações. Assim, o governante começou a perdoar dívidas com o dinheiro dos outros, tentando conseguir votos para uma inútil cadeira no Conselho da ONU. Visitou cruéis ditadores para pescar mais alguns votos. Mandou tropas nacionais para um país vizinho, enquanto largava a questão da segurança no país em situação precária. Parece que exercer controle político maior mundo afora era mais importante para ele que cuidar do próprio quintal.
Nosso governante abraçou com vontade o populismo também. Deu um nome novo ao modelo assistencialista que herdou, expandiu as esmolas e criou novos – e fracassados – programas sociais. Tentou atacar o problema da fome, absurdamente exagerado por ele, criando um super aparato burocrático. A ineficiência e corrupção não poderiam faltar, e os resultados foram piores que pífios. Na questão do emprego fez ainda pior, lançando um programa já falido desde o nascimento, servindo apenas para jogar o suado dinheiro do povo no lixo. Isso porque ele havia prometido a criação de 10 milhões de empregos durante sua campanha. Os únicos que “criou” foram os milhares de cargos distribuídos para seus colegas de partido, aumentando os já estratosféricos gastos públicos. Gastou ainda milhões e milhões para tentar desarmar os inocentes, enquanto os bandidos armavam-se cada vez mais. Na completa confusão entre público e privado, depois de colocar o símbolo do seu partido no jardim da casa oficial da presidência, gastou dez milhões de dólares dos contribuintes para pagar uma viagem de turismo para um astronauta, que foi plantar feijão no espaço. O descaso com o duro e suado dinheiro que os pagadores de impostos ganham era total.
A lista de atrocidades do governante “hipotético” é bem maior, quase infindável. Elas não caberiam todas neste curto artigo. Elas abrangem vários artigos criminais e ferem qualquer código de ética. Mas acredito que já é possível pegar a idéia geral. Resta agora fazer então um último pedido ao leitor. Peço que feche os olhos e imagine que esse governante... é de direita! O leitor daria seu voto novamente para ele?
A ideologia não pode estar acima dos fatos. A justiça verdadeira exige um julgamento imparcial. Quem votar no Lula mesmo após tudo que sabemos, é tudo, menos justo.
terça-feira, maio 23, 2006
O Templo
Rodrigo Constantino
“Prever o futuro econômico significa prever decisões no investimento e consumo que são tão incertas quanto todo o futuro.” (Albert Hahn)
A concentração de poder em poucas mãos sempre irá representar um enorme risco para os indivíduos. Isto não é diferente quando o assunto é economia. Por tratar-se de um campo com um jargão muito técnico, os leigos acabam vendo certas figuras como “sábios clarividentes”, delegando a esses as rédeas de toda a economia. Entretanto, não devemos esquecer que são apenas humanos, sujeitos às falhas comuns da espécie, além de pressões externas e busca de interesses próprios. Tendo isso em mente, uma postura alerta de eterna vigilância, assim como a criação de mecanismos que possam mitigar os riscos de abusos de poder ou graves erros, muito podem contribuir para melhores resultados.
O ex-governador do Federal Reserve, Laurence Meyer, escreveu um livro (A Term at the Fed) que fala de sua experiência nos anos que passou no banco central americano. Algumas passagens são elucidativas. Meyer diz que logo descobriu que o Fed não sabe precisamente onde a economia está ou onde ele quer que a economia vá. Em certa ocasião, após o primeiro aumento na taxa de juros depois de dois anos, Meyer foi honesto ao afirmar que “a verdade é que nenhum de nós do FOMC sabíamos o que aconteceria em seguida”. O FOMC é o todo-poderoso comitê que decide a taxa de juros básica da economia, assim como nosso COPOM. Tal decisão exerce profundo impacto na economia, e acaba ficando sob a tutela de alguns poucos homens. O próprio Meyer chamava a equipe de “o templo”, em parte pela obscuridade do processo decisório. É evidente que o mercado acaba tendo muita influência nas decisões do Fed. Mas seria o caso de questionarmos até onde pouco mais de uma dezena de indivíduos falíveis deveriam concentrar o poder sobre o destino econômico de toda uma nação.
No livro, Meyer deixa algumas sugestões para maior eficiência de um banco central. Reconhecendo os riscos da pressão política no processo de decisão e a enorme influência que as medidas adotadas por esses poucos homens exerce, Meyer conclui que a independência dos bancos centrais é uma das grandes invenções dos homens. Além disso, uma maior transparência se faz necessária. Ele recomenda o uso de inflation targets, onde o banco central determina uma meta de inflação e utiliza seus mecanismos com tal objetivo apenas. Vários países desenvolvidos adotam este modelo, tais como Nova Zelândia, Inglaterra, Canadá e Suécia. Por fim, parece que Meyer gostaria de um poder mais pulverizado entre os membros do comitê. Ele chegou a desabafar: “Para ser sincero, eu fiquei frustrado com o poder desproporcional que o chairmain tinha sobre o FOMC”. Não é à toa que muitos chamavam Alan Greenspan, o ex-presidente do Fed, de “maestro”. Creio ser interessante então vermos o que o próprio Greenspan pensava sobre o Fed no passado, quando ainda não tinha tamanho poder em mãos.
Em 1966, no livro Capitalism: The Unknown Ideal, de Ayn Rand, Alan Greenspan contribuiu com um artigo muito esclarecedor sobre suas posições políticas e econômicas. Sobre as causas da criação do Fed, vejamos o que ele disse: “Foram as reservas de ouro limitadas que pararam as expansões desequilibradas da atividade de negócios, antes que pudessem se desenvolver no tipo de desastre após a Primeira Guerra Mundial. Se os bancos pudessem continuar a emprestar indefinidamente o dinheiro - reivindicou-se - nunca mais precisariam ocorrer quedas drásticas nos negócios. E o Federal Reserve System (Fed) foi portanto criado em 1913.”
Greenspan parecia ser bastante desconfiado em relação à eficácia do Fed. Ele basicamente imputou ao banco central as causas da amplificação da crise de 1929: “Quando a economia nos Estados Unidos se submeteu a uma contração suave em 1927, o Fed criou mais reservas de papel na esperança de prevenir alguma falta possível da reserva bancária. Mais desastrosa, entretanto, foi a tentativa do Fed de ajudar a Grâ Bretanha que vinha perdendo reservas de ouro para os Estados Unidos porque o Bank of England recusou-se a permitir que as taxas de juros subissem quando as forças do mercado assim demandavam (era politicamente inaceitável)”. Ele conclui: “O crédito adicional que o Fed injetou na economia se espalhou para o mercado financeiro - provocando um crescimento especulativo fantástico. Em 1929 os desequilíbrios especulativos tinham-se tornado tão exagerados que a tentativa de enxugar as reservas adicionais precipitou uma aguda retração e a conseqüente desmoralização da confiança dos empresários. Em conseqüência, a economia americana desmoronou”.
Ironicamente, Greenspan seria acusado por muitos de agir de forma semelhante na sua gestão como manda-chuva do Fed. Até mesmo Meyer reconhece o risco do efeito perverso que existe na crença de que o banco central sempre irá socorrer os investidores injetando liquidez no sistema.
Para concluir, após o alerta de que a concentração de muito poder em poucas mãos representa sempre um grande risco, podemos voltar a atenção para o caso brasileiro. Se estes riscos são grandes em um país com sólidas instituições como os Estados Unidos, podemos imaginar como deve ser o nosso caso. De fato, temos uma boa noção disso através de uma entrevista publicada meses atrás no jornal Valor por Chico Lopes, ex-presidente do Banco Central do Brasil. Nela, vemos como certas decisões cruciais eram tomadas de forma irresponsável, sob enorme influência política. É esclarecedora a entrevista – e estarrecedora também.
Câmbio e juros são preços, e como tais, devem ser livres. Alguns leigos acham que tais preços podem e devem ser arbitrariamente impostos pelo governo, ignorando as terríveis conseqüências disso. O mercado deve ser livre para funcionar. O banco central deve ter um objetivo bem definido, ser independente das pressões políticas e mostrar a maior transparência possível. Seria saudável se entrasse na pauta de debates políticos e econômicos esse tema. Questionar a suposta clarividência do “templo” não faz mal algum. Principalmente quando é um Mantega que está sentado no trono.
sábado, maio 20, 2006
A Religião Marxista
Rodrigo Constantino
Poucos intelectuais exerceram tanta influência direta como Karl Marx. Suas idéias, afinal, foram colocadas em prática por seguidores convictos como Lenin, Stalin e Mao Tse-Tung, sacrificando milhões de vidas no altar da utopia. O marxismo pretendia ser científico, e tal termo era comumente usado pelo próprio Marx. Seria crucial, então, analisarmos quão científica era sua obra.
Como o estudo da vida de Marx deixa claro, ele não tinha as características de um cientista que se interessa na busca da verdade. Mais parecia um profeta, interessado em proclamá-la. Seu tom messiânico e seu escrito escatológico, influenciado pelo pano de fundo poético, nada tinham de científico. Sua visão apocalíptica de uma catástrofe imensa prestes a se abater sobre o sistema vigente desprezava a necessidade de evidências sustentadas pelos fatos. Tal característica conquistou muitos seguidores pelo desejo de crer no fim próximo do capitalismo, dispensando o uso da razão para tanto.
Marx tinha um bom talento como jornalista polêmico, e sabia usar aforismos de forma inteligente, ainda que a maioria tenha sido copiada de outros autores, e não criada por ele. Mas seu mérito residia no uso das palavras para instigar sentimentos e revolta nos leitores. A elaboração de sua filosofia foi um exercício de retórica, sem a sustentação de sólidos pilares. Distanciado do mundo real, em seu bunker intelectual, ele iria fazer de tudo para confirmar suas idéias já preconcebidas. Afirmava ser o defensor dos proletários, e até onde sabemos, nunca esteve numa manufatura ou fábrica. Seus aliados eram intelectuais de classe média, como ele, e havia inclusive certo desprezo pela classe trabalhadora.
Um cientista sério busca dados novos que possam contradizer suas teses. Marx nunca fez isso; pelo contrário: tentava encontrar o tipo certo de informação, adequada para suas teorias já definidas. Toda a sua abordagem era no sentido da justificação de algo declarado como sendo a verdade, não na investigação imparcial dos fatos. Era a convicção não de um cientista, mas de um crente. Os dados estariam subordinados aos seus trabalhos de pesquisa, tendo apenas que reforçar as conclusões alcançadas independentemente deles. Com tal método, foi escrita sua obra clássica, O Capital, repleta de contradições, dados errados ou defasados, fontes suspeitas ou mesmo manipulações e falsificações. Assim como na obra do seu colega Engels, o descaso flagrante e a distorção tendenciosa estão presentes nos escritos de Marx, como prova de uma desonestidade inequívoca.
Alguns exemplos merecem destaque para a melhor compreensão desta total falta de compromisso com a verdade, premissa básica para qualquer um que se considera um cientista. Marx utilizou informações obsoletas quando interessava, já que as novas não validavam suas alegações. Em exemplos gritantes, usava casos de décadas atrás para mostrar uma suposta conseqüência nefasta do capitalismo, sendo que o próprio capitalismo tinha feito a situação perversa desaparecer. Ele escolheu também indústrias onde as condições de trabalho eram particularmente ruins, como sendo típicas do capitalismo. Entretanto, esses casos específicos eram justamente nas indústrias onde o capitalismo não tinha dado o ar de sua graça, e as firmas não tinham condições de implantar máquinas, por falta de capital. A realidade gritava que quanto mais capital, menor o sofrimento dos trabalhadores. Marx não tinha o menor interesse em escutar este brado retumbante dos fatos. Salvar a teoria, e em última instância seu ódio ao capitalismo, era mais importante que a verdade. Chamar isso de científico beira o absurdo completo.
No fundo, podemos tentar buscar os motivadores de Marx em alguns aspectos de seu caráter. Ele alimentava um profundo gosto pela violência, tendo deixado isso claro ao longo de toda a sua vida. Desejava ardentemente o poder. Mostrava uma inabilidade irresponsável e infantil de lidar com dinheiro, sendo vítima constante de agiotas. E mostrava uma tendência de explorar os que se encontravam a sua volta, incluindo família e melhores amigos.
Provavelmente, seu rancor refletia uma frustração em possuir certas potencialidades mas ser incapaz de exercê-las de forma mais efetiva. Marx levou uma vida boêmia e ociosa durante sua juventude. Mostrou uma enorme incapacidade de lidar com dinheiro, gastando sempre muito mais que recebia, tendo que parasitar nos familiares e amigos ou recorrer aos agiotas. Isso pode estar na raiz de seu ódio ao sistema capitalista e também seu anti-semitismo, já que os judeus praticavam normalmente a usura. Ele pegava dinheiro emprestado, gastava de forma insensata, e depois ficava nervoso com a cobrança. Passou a ver os juros como um crime contra a humanidade, uma exploração do homem pelo homem. Não o interessava verificar que o problema estava, de fato, em sua completa irresponsabilidade. Chegou ao ponto de ser deserdado pela mãe, que recusou pagar suas dívidas certa vez. Foi procurar refúgio em Engels, um rico herdeiro e a maior fonte de renda de Marx, que passava então a viver como pensionista de um rentier. Sua mulher, de família aristocrata, também foi uma fonte de recursos para Marx. Aquele que considerava o trabalho uma exploração, nunca quis muito saber de trabalhar ou de se relacionar com trabalhadores, orgulhava-se da nobre descendência de sua esposa e ainda vivia às custas do dinheiro dos outros.
Poucos são os casos, em minha opinião, onde um só intelectual concentra tantas idéias estapafúrdias. Fora isso, o desprezo por Marx aumenta mais quando conhecemos sua vida e seu caráter, sem falar do fato de que a concretização de seus ideais derramou um oceano de sangue inocente. Por fim, a autoproclamação de que tanto absurdo e contradição tem um respaldo científico é um crime contra a ciência e a razão. Se a religião é o ópio do povo, como Marx dizia, o marxismo é o crack. Seus seguidores – e eles são muitos ainda, principalmente entre os intelectuais – precisam desprezar o uso da razão para manter a fé dogmática no marxismo. Não foi a razão que falhou nas idéias de Marx. Foi a falta dela, necessária para salvar a religião dogmática que é o marxismo.
sexta-feira, maio 19, 2006
O Bom Selvagem
Rodrigo Constantino
A análise de uma idéia deve ser objetiva, independente de quem a profere. Caso contrário, podemos incorrer no risco de argumento ad hominem, desqualificando o autor da idéia em vez dela em si. Em certos casos, porém, faz sentido abrirmos uma exceção e julgarmos quem defendeu certa coisa, se esse estudo nos ajudar a melhor compreender sua lógica – ou a falta dela. Foi o que fez o historiador Paul Johson em Os Intelectuais, que começa a investigação sobre esse grupo de pensadores com Jean-Jacques Rousseau, considerado o primeiro dos intelectuais modernos, além de o mais influente de todos, em vários aspectos.
Rousseau popularizou o culto da natureza, identificando e apontando a artificialidade da civilização. Uma de suas idéias mais famosas, a do “homem bom” no estado natural, depois corrompido pela sociedade, já parte de uma certa contradição, já que a sociedade é justamente formada por esses mesmos “homens bons”. Isso não o impediu de idealizar o homem, imaginando como ele deveria ser, mas ignorando como ele de fato é. Rousseau passou a considerar a competitividade um pecado que destrói o senso comunitário inato ao homem, estimulando suas características mais perversas, incluindo o desejo de exploração. Ele desconfiava da propriedade privada, julgando-a a causa da criminalidade social. Marx iria explorar sem limites tal idéia depois, com conseqüências terríveis para as cobaias da experiência. E não deixa de ser curioso que as tribos à parte da civilização, os bárbaros, costumavam mostrar doses bem mais cavalares de violência uns com os outros. Foi justamente o aumento das trocas voluntárias, calcadas no direito de propriedade privada, que permitiu um progresso pacífico jamais visto antes pela humanidade.
As idéias de Rousseau eram pregadas em tom messiânico, e ele se autoproclamava o mais virtuoso dos homens. Sentia-se bastante diferente dos demais, e considerava sua situação singular, “sem precedente desde o início dos tempos”. Costumava apelar para a autocomiseração em busca de atenção e interesses, alimentando um egoísmo exagerado. Ele se dizia amigo de toda a humanidade, porém, desenvolveu forte predisposição para brigar com seres humanos em particular. Colecionou uma lista e tanto de inimigos e desafetos, vários desses considerados grandes amigos antes. Como dizia Nelson Rodrigues, “amar a humanidade é fácil; difícil é amar o próximo”.
Conscientemente ou não, ele era bastante habilidoso em se autopromover. Atraía bastante atenção para si, fosse através de suas brigas ou de suas excentricidades. Sua base de negociação com as pessoas era simples: elas davam, ele recebia. E ainda por cima justificava tal atitude afirmando que aquele que o ajudasse estaria, na verdade, fazendo um favor a si próprio, visto que ele era um ser incomparável. Já não é algo comum uma pessoa virtuosa ter que espalhar aos ventos sua infinita virtude. Mas Rousseau ia além, e chegou a falar que deveria ser estrangulado aquele que observasse sua natureza, caráter e princípios morais, e ainda assim acreditasse ser ele um homem desonesto.
Grande parte da reputação de Rousseau se deve a suas teorias sobre a educação das crianças. Creio que seria relevante então sabermos como ele realmente agia no que diz respeito ao tema. Quando sua mulher deu à luz ao primeiro filho, Rousseau a convenceu de abandoná-lo, para que “a sua honra fosse salva”. A criança foi colocada em uma trouxa e levada para o Hospital das Crianças Encontradas. Outros quatro filhos tiveram o mesmo destino depois. Rousseau passou então a transferir para o Estado a responsabilidade da paternidade, inspirado na República de Platão. Sua tentativa de se autojustificar, num comportamento claramente anormal, levaria à proposição de um Estado paternalista ao extremo. Como Paul Johson coloca, “graças a uma lógica infame, a perversidade de Rousseau como pai estava ligada a sua conseqüência ideológica futura: o Estado totalitário”.
A defesa de um contrato social, calcado na Vontade Geral à qual todos obedeceriam por convenção, transformaria indivíduos em filhos do orfanato paterno, o Estado. Rousseau confessava ter um “certo ressentimento em relação aos ricos e bem-sucedidos, como se a riqueza e felicidade deles tivessem sido alcançadas à minha custa”. A inveja parece ser outro ingrediente nos sentimentos que levaram Rousseau à defesa de um modelo de “centralismo democrático”, similar ao imposto por Lênin posteriormente, com catastróficos resultados. Caberia ao Estado o controle até mesmo do pensamento individual, tudo em prol do conjunto da comunidade. Temos em Rousseau um ícone do coletivismo perverso que transforma indivíduos em meios sacrificáveis para outros fins.
O caráter verdadeiro de Rousseau não passou totalmente despercebido por outros filósofos, apesar de sua dissimulação toda. Hume descreveu-o como um “monstro que se via como o único ser importante do universo”. Diderot considerou-o um “enganador, vaidoso como Satã, mal-agradecido, cruel, hipócrita e cheio de maldade”. Estes foram pessoas próximas e amigos dele. Para Voltaire, ele era “um poço de presunção e vileza”. Sophie d’Houdetot, quem ele mesmo considerou seu único amor, julgou-o, quando mais velha, como “repulsivo”, uma “figura patética” e um “louco interessante”. Não foram poucos os relacionamentos destruídos por Rousseau ao longo de sua vida.
A história da vida de Rousseau poderia servir apenas para nos despertar pena, pois tratava-se claramente de um ser desequilibrado e perturbado. Entretanto, idéias têm conseqüências, assim como mitos. Não obstante o absurdo de grande parte de suas idéias, o mito Rousseau exerce influência até os dias de hoje, principalmente na esquerda mais romântica. As idéias de Rousseau muito contribuíram para o surgimento de Robespierre, que o considerava o “professor da humanidade”. Os sangrentos anos de terror da Revolução Francesa merecem uma boa parcela de culpa deste pretensioso reformador.
Em vez do mundo voltar sua atenção para a verdadeira revolução, que ocorria nos Estados Unidos através das idéias infinitamente mais sensatas dos seus “pais fundadores”, eram as idéias de Rousseau que ainda despertavam fortes emoções, encontrando eco nos corações de muitos sonhadores. Para Kant, por exemplo, Rousseau tinha “uma sensibilidade espiritual de inigualável perfeição”. Parece espantoso que pessoas de tal gabarito ainda viam Rousseau desta forma idílica. A realidade é bem diferente, como Paul Johnson demonstrou muito bem. O defensor do “bom selvagem”, ao que parece, tinha muito mais de selvagem que de bom.
quinta-feira, maio 18, 2006
Os Pacifistas
Rodrigo Constantino
Diante do pânico incutido pela escalada do crime, muitos correm para o refúgio do pacifismo. A decisão de enfrentar a violência de forma dura traz consigo riscos imediatos, e perdas no curto prazo são inevitáveis. Contemporizar com os criminosos garante um interregno de paz, passando a falsa sensação de solução dos problemas. No entanto, a complacência hoje é paga com a angústia de amanhã e com o sangue mais tarde. Com certos criminosos, não há diálogo possível.
A história tem muito a nos ensinar sobre o pacifismo e suas conseqüências para a criminalidade. Infelizmente, as lições não costumam ser vantajosas para a ótica do “paz e amor”. Para começo de conversa, o principal símbolo do pacifismo já foi criado pelos motivos completamente errados. Em 1949, o cartaz para o Congresso Mundial da Paz em Paris foi impresso com uma litografia de Picasso, que eternizou a pomba como símbolo da paz. Os patrocinadores do evento, paradoxalmente, eram os assassinos de Moscou. Os objetivos dos comunistas eram basicamente dois: poderiam dispersar a atenção mundial de Moscou e das atrocidades lá cometidas por Stalin; e forçariam uma associação simplista entre comunismo e luta pela paz. Enquanto ingênuos bem intencionados levantavam cartazes pedindo paz, seus financiadores executavam milhões de inocentes.
Os pacifistas costumam sempre pregar a saída diplomática para os problemas geopolíticos. Vestidos com a causa pacifista, os comunistas franceses exortaram os trabalhadores das fábricas de armamento a sabotarem seu trabalho e pressionaram os soldados a desertarem, quando os exércitos nazistas estavam a poucas semanas de ocupar Paris. Quando o inimigo despreza a razão e luta por uma causa fanática, ou quando já afastou de vez os vestígios de civilização em sua alma, a diplomacia é totalmente ineficaz. Conversar com Bin Laden, Hitler, Stalin ou Ahmadinejad não rende bons frutos. Com terroristas não se negocia.
Muitos pacifistas usam o caso de Gandhi como suposta prova de que a paz pode ser o caminho certo. Ignoram que do outro lado estava a Inglaterra, com uma população mais esclarecida e sujeita aos apelos da razão. Fosse um Hitler ou Stalin, Gandhi seria apenas mais um mártir morto sem bons resultados. Para quem dúvida, basta ver o destino do Tibete. Gandhi teria alertado que “olho por olho e a humanidade acabará cega”. Creio que faltou mencionar algo alternativo: “olho por nada e uma parte da humanidade acabará cega; a parte inocente”.
Não quero ser mal compreendido. Odeio violência com todas as minhas forças. Acho que seu uso é um último recurso, após o fracasso de todas as alternativas. Porém, não vou sucumbir ao mundo das fantasias, dissociado da realidade. Em certas ocasiões, lidando com certas pessoas, não existe outra opção que não a reação dura ou mesmo violenta. Ninguém vai oferecer rosas para um estuprador na iminência de um estupro. Não é razoável achar que há chance de diálogo com quem mata crianças deliberadamente. Chega a ser ridículo afirmar que a educação sozinha faria um animal que pratica genocídio virar um bom samaritano. O mundo real não é tão simples. Frutos podres existem e as causas são variadas. Quem não ataca as conseqüências dos atos bárbaros desses indivíduos está pedindo para viver num mundo caótico, sob o domínio do mal.
Entre os casos de sucesso no combate à criminalidade, temos a cidade de Nova Iorque. Seus métodos passaram longe da receita pacifista. A violência não foi controlada com apelos de homens vestidos de branco nas ruas. Tampouco foi resultado de ONGs pregando mais “direitos humanos” para os bandidos. Também não foi através do desarmamento de inocentes. A receita nova-iorquina contou com um decente aparelhamento da polícia, a aplicação do império da lei e uma política de tolerância zero com o crime. Nem mesmo os pequenos delitos sairiam impunes. Não haveria complacência nem acordo com bandidos. Apenas punição exemplar.
Eis o que anda faltando em nosso país. Não vamos oferecer rosas – ou aparelhos de televisão – para os criminosos. Vamos puni-los!
segunda-feira, maio 15, 2006
Chega de Impunidade!
Rodrigo Constantino
“Quem poupa o lobo, mata as ovelhas.” (Victor Hugo)
O povo brasileiro ficou estarrecido com a afronta dos criminosos no último fim de semana, quando ataques orquestrados mataram vários policiais e feriram inocentes em São Paulo. A sensação de insegurança é total - com razão. O Estado é grande demais onde não deveria e falha naquela que é sua função primordial. Os cidadãos de bem viraram reféns dos bandidos. Há uma completa inversão de valores, onde as pessoas honestas vivem aprisionadas e os malfeitores assumem o controle da situação. É chegada a hora de uma reação mais enérgica sobre a questão da segurança.
A principal causa da violência está na impunidade. Quando o crime compensa, e os riscos de punição são baixos, temos um convite ao crime. Há um fator cultural por trás disso, que permite esse clima de baderna generalizada. A mentalidade “humanitária”, pregando a igualdade de todos os homens, independente de seus valores e atitudes, chuta a estátua da Justiça, cuja balança deveria servir para emitir um julgamento objetivo dos fatos. O altruísmo, ao pedir que a vítima ofereça a outra face, contribui para a injustiça. Justiça, afinal, é a virtude de julgar objetivamente o caráter e a conduta dos homens e agir de acordo, garantindo a cada homem aquilo que ele merece. Quando alçam a compaixão acima da justiça, quando pedem para não julgarmos de forma a não sermos julgados, estão acabando com qualquer chance de justiça. A recompensa e a punição devem fazer parte do código de ética que pretende ser justo.
A crença em um determinismo qualquer, seja genético ou social, como se o indivíduo não tivesse o poder da escolha, o livre-arbítrio, retira a responsabilidade das pessoas e inviabiliza qualquer julgamento. Se não há escolha não há ação moral ou imoral. A neutralidade moral condena o bom e enaltece o mau. Abster-se de condenar um torturador é o mesmo que tornar-se cúmplice na tortura de suas vítimas. Um homem merece de outros aquilo e tão-somente aquilo que ele faz por merecer. O homem inocente não clama por misericórdia ou compaixão, mas por justiça. Ele quer aquilo que lhe é devido. Enquanto a reação das pessoas ao malfeitor for amolecer, dar a outra face ou culpar fatores exógenos por sua atitude, seu crime jamais irá cessar.
Muitos colocam a culpa da criminalidade na miséria. Esse materialismo é uma afronta a todas as pessoas pobres de bem, ou seja, a grande maioria. A honestidade não depende da conta bancária. Vemos muitos políticos ricos que roubam cada vez mais, enquanto pobres trabalhadores dão duro de forma honesta. Se a miséria fosse a principal causa da violência, a maior ameaça à paz mundial viria da Etiópia, não do rico Irã. Os ataques terroristas, por exemplo, não são financiados por um mutirão de famintos, mas por ricos como Bin Laden, que usam inclusive muitos jovens de classe média. Todos que aproveitam o caos da violência para logo sacar o termo vago “justiça social” deveriam lembrar que seus eleitores humildes não saem por aí matando policiais do nada. Os eleitores deveriam lembrar disso também, para não serem vítimas de um golpe populista. Quando alguém falar que a pobreza é que causa a criminalidade, o leitor humilde deve se perguntar se seria capaz de matar um policial ou uma criança.
Vários desses defensores da tal “justiça social” são, na verdade, defensores do crime. São aqueles que pregam soluções milagrosas e “igualdade social” ao mesmo tempo que sempre tomam o partido dos culpados. São os políticos que defendem os “direitos humanos” sempre objetivando eximir de culpa os criminosos. São os que preocupam-se apenas com os “coitados” dos assassinos, ignorando a dor das vítimas inocentes.
Devemos lembrar que para o triunfo do mal, basta que as pessoas de bem nada façam. A complacência com os algozes é paga com o sangue das vítimas. Se o Brasil pretende ser um país mais justo, devemos dar um basta à impunidade. Direitos humanos sim, mas para os humanos direitos. Para os bandidos, a punição.
sábado, maio 13, 2006
Letargia Mental
Rodrigo Constantino
“A qualquer hora, envolvendo qualquer problema de sua vida, você é livre para pensar ou se evadir desse esforço.” (Ayn Rand)
Pensar ou não pensar, eis a questão! Diferente dos animais e plantas, o ser humano não sobrevive na base de reações automáticas. Sua consciência é volitiva, depende de sua vontade e esforço. O primeiro estágio da consciência é a sensação, um estado de apreensão produzido pela ação de um estímulo sobre um órgão dos sentidos. O segundo estágio é a percepção, um grupo de sensações automaticamente retidas e integradas pelo cérebro. Por fim, temos o estágio conceitual, onde os homens desenvolvem o conhecimento através do uso da lógica. Este estágio é o que tanto nos distancia dos demais organismos vivos. Entretanto, não se trata de um processo automático, mas sim voluntário. O homem deve querer pensar, respeitando seu mais fiel instrumento epistemológico: a razão.
Como o ato de pensar não é um processo mecânico e as conexões da lógica não são feitas por instinto, diferente das funções do estômago, pulmões ou coração, o indivíduo depara com a escolha entre ser ou não consciente. Para tanto, o homem deve decidir focar ou não sua mente. Da mesma forma que a faculdade da visão não é muito útil até estar focada, do contrário produz nada mais que um borrão, a mente também deve estar focada. Isso exige esforço contínuo. Em um extremo, temos o indivíduo que possui a mente ativa, atenta para entender tudo com que ela lida, na luta para apreender os fatos com clareza, sem preguiça na busca dos dados e de denominadores comuns para os concretos observados. Tal indivíduo não permite contradições, buscando a verdade com total honestidade intelectual. No outro extremo, está o homem para quem tudo além do nível sensório-perceptual é um borrão, uma névoa. A mente encontra-se entorpecida, tal como a de um bêbado pouco antes de desmaiar. Ela é passiva, errante, atordoada, vivenciando estímulos ao acaso. Esse homem encontra-se num estágio de completa letargia mental.
Se a escolha individual for pela anti-razão, na crença de que o conhecimento humano ou é impossível ou cai do além, de alguma divindade qualquer, a pessoa será vítima de constante falta de foco da mente. Ela irá se sentir cada vez mais cega, insegura e ansiosa. Após algum tempo, o indivíduo sentirá o foco como uma tensão nada natural, fazendo com que o processo de pensamento seja relativamente tortuoso e improdutivo. Tal indivíduo ficará bastante tentado a fugir para um estado passivo. Num grau extremo, a letargia transforma-se em total evasão mental, quando o indivíduo revoga a própria consciência por vontade própria. Ele se recusa a pensar, na fuga da responsabilidade de julgamento. Diferente do letárgico, que não se esforça, o evasivo esforça-se para não enxergar, na esperança de que o fato desaparecerá caso ele não o reconheça. Podemos dar como exemplo todos aqueles que cometeram suicídio coletivo sob o comando do reverendo Jim Jones. O caminho inevitável, cedo ou tarde, para quem adota a evasão mental como filosofia de vida, é a autodestruição. “Deixar a vida levar” costuma levar ao precipício.
Em resumo, o poder de escolha de um homem num processo de pensamento é manter ou não o vínculo entre sua mente e a realidade. Trata-se de uma questão de volição, onde o homem tem que escolher ser homem, um ser racional com livre-arbítrio. A alternativa é entregar-se ao acaso, sendo guiado por forças ocultas, sem a compreensão objetiva da realidade. Este indivíduo será uma presa fácil para oportunistas de plantão, seguindo como autômato o comando de algum líder, seja o vizinho, a maioria, o papa, o presidente ou até o reverendo Jim Jones. Para evitar tal destino e assumir o controle de sua vida, o homem tem que escolher ser homem. Ele deve optar pelo foco constante de sua mente, num processo que exige esforço contínuo para o ato de pensar. Ser ou não ser, eis a questão. E para tanto, fica a pergunta: pensar ou não pensar, eis a verdadeira questão!
“A qualquer hora, envolvendo qualquer problema de sua vida, você é livre para pensar ou se evadir desse esforço.” (Ayn Rand)
Pensar ou não pensar, eis a questão! Diferente dos animais e plantas, o ser humano não sobrevive na base de reações automáticas. Sua consciência é volitiva, depende de sua vontade e esforço. O primeiro estágio da consciência é a sensação, um estado de apreensão produzido pela ação de um estímulo sobre um órgão dos sentidos. O segundo estágio é a percepção, um grupo de sensações automaticamente retidas e integradas pelo cérebro. Por fim, temos o estágio conceitual, onde os homens desenvolvem o conhecimento através do uso da lógica. Este estágio é o que tanto nos distancia dos demais organismos vivos. Entretanto, não se trata de um processo automático, mas sim voluntário. O homem deve querer pensar, respeitando seu mais fiel instrumento epistemológico: a razão.
Como o ato de pensar não é um processo mecânico e as conexões da lógica não são feitas por instinto, diferente das funções do estômago, pulmões ou coração, o indivíduo depara com a escolha entre ser ou não consciente. Para tanto, o homem deve decidir focar ou não sua mente. Da mesma forma que a faculdade da visão não é muito útil até estar focada, do contrário produz nada mais que um borrão, a mente também deve estar focada. Isso exige esforço contínuo. Em um extremo, temos o indivíduo que possui a mente ativa, atenta para entender tudo com que ela lida, na luta para apreender os fatos com clareza, sem preguiça na busca dos dados e de denominadores comuns para os concretos observados. Tal indivíduo não permite contradições, buscando a verdade com total honestidade intelectual. No outro extremo, está o homem para quem tudo além do nível sensório-perceptual é um borrão, uma névoa. A mente encontra-se entorpecida, tal como a de um bêbado pouco antes de desmaiar. Ela é passiva, errante, atordoada, vivenciando estímulos ao acaso. Esse homem encontra-se num estágio de completa letargia mental.
Se a escolha individual for pela anti-razão, na crença de que o conhecimento humano ou é impossível ou cai do além, de alguma divindade qualquer, a pessoa será vítima de constante falta de foco da mente. Ela irá se sentir cada vez mais cega, insegura e ansiosa. Após algum tempo, o indivíduo sentirá o foco como uma tensão nada natural, fazendo com que o processo de pensamento seja relativamente tortuoso e improdutivo. Tal indivíduo ficará bastante tentado a fugir para um estado passivo. Num grau extremo, a letargia transforma-se em total evasão mental, quando o indivíduo revoga a própria consciência por vontade própria. Ele se recusa a pensar, na fuga da responsabilidade de julgamento. Diferente do letárgico, que não se esforça, o evasivo esforça-se para não enxergar, na esperança de que o fato desaparecerá caso ele não o reconheça. Podemos dar como exemplo todos aqueles que cometeram suicídio coletivo sob o comando do reverendo Jim Jones. O caminho inevitável, cedo ou tarde, para quem adota a evasão mental como filosofia de vida, é a autodestruição. “Deixar a vida levar” costuma levar ao precipício.
Em resumo, o poder de escolha de um homem num processo de pensamento é manter ou não o vínculo entre sua mente e a realidade. Trata-se de uma questão de volição, onde o homem tem que escolher ser homem, um ser racional com livre-arbítrio. A alternativa é entregar-se ao acaso, sendo guiado por forças ocultas, sem a compreensão objetiva da realidade. Este indivíduo será uma presa fácil para oportunistas de plantão, seguindo como autômato o comando de algum líder, seja o vizinho, a maioria, o papa, o presidente ou até o reverendo Jim Jones. Para evitar tal destino e assumir o controle de sua vida, o homem tem que escolher ser homem. Ele deve optar pelo foco constante de sua mente, num processo que exige esforço contínuo para o ato de pensar. Ser ou não ser, eis a questão. E para tanto, fica a pergunta: pensar ou não pensar, eis a verdadeira questão!
quarta-feira, maio 10, 2006
A Desacreditada ONU
Rodrigo Constantino
“Política é a arte de procurar encrenca, encontrá-la, diagnosticar errado o problema, e depois aplicar os remédios incorretos.” (Groucho Marx)
Está formado o novo Conselho dos Direitos Humanos da ONU, que sepulta a antiga Comissão de Direitos Humanos, tomada por completo descrédito devido aos membros com péssima reputação. Entre as 47 nações eleitas para compor o novo conselho, estão ditaduras como Cuba, Arábia Saudita e China, além de países como Paquistão e Rússia, onde os tais “direitos humanos” passaram bem longe. Resgatar a credibilidade da instituição desta forma parece um tanto estranho.
Até onde eu sei, o conceito vago de “direitos humanos” ainda não ficou elástico o suficiente para abranger paredon ou gulags para dissidentes políticos. Colocar Cuba para julgar um ato sob o prisma dos direitos humanos é como colocar um assassino para julgar um crime qualquer. A China, que executa milhares de pessoas todo ano, sem transparência no processo de julgamento, tampouco tem moral para validar um julgamento sobre direitos humanos. Como esperar alguma credibilidade da ONU com um time desses eleito justamente para o Conselho dos Direitos Humanos?
O Brasil também foi eleito para o novo conselho, e o embaixador Ronaldo Sardenberg, chefe da missão brasileira na ONU, considerou que “isso significa confiança no Brasil, o reconhecimento que o respeito aos direitos humanos é uma política nacional”. Ora, será que os diplomatas reconheceram também que Cuba respeita os direitos humanos? De certas pessoas é melhor não receber elogios. Quem elogia os direitos humanos no Brasil ao mesmo tempo que elogia Cuba e China presta um desserviço ao país. O que aconteceu com o brocardo “diga-me com quem andas que te direi quem és”?
Até mesmo Irã, Iraque e Venezuela candidataram-se para membros do conselho. O Zimbábue, do ditador Robert Mugabe, teve um espasmo de bom senso e não tentou. Mas ao que tudo indica, teria boas chances. Os Estados Unidos foram contra a criação do novo órgão, e sequer apresentaram candidatura. Acredito que seja a postura mais acertada mesmo. Nessas companhias, o novo conselho já nasce desacreditado. A presença de gente séria apenas respalda imerecidamente o órgão. Acusam os americanos de unilateralismo. Na verdade, a coalizão da guerra no Iraque envolveu dezenas de países, do peso de um Japão e uma Austrália, por exemplo. Mas sem o sinal verde da ONU, fica a imagem desse unilateralismo. A ONU passa a representar uma espécie de governo mundial todo-poderoso. Mas com uma ONU tão desacreditada assim, sem falar dos casos de corrupção ligados ao programa “petróleo por comida”, será que não fica mais fácil compreender a postura americana?
O mundo teria muito a ganhar se a ONU realmente se reformasse, por completo. Entretanto, desde sua antecessora, a Liga das Nações, a prática não parece condizente com a idéia por trás de sua concepção. A ONU foi marcada por inúmeros casos de inoperância ou incompetência, let alone propósitos obscuros. Se reforma significa, para seus membros, chamar Cuba e China para o Conselho de Direitos Humanos, parece-me que a situação tende apenas a se deteriorar. Talvez a reforma plausível que reste à famigerada ONU seja uma só: sua extinção.
terça-feira, maio 09, 2006
Voto: Direito ou Dever?
Rodrigo Constantino
“O maior castigo para aqueles que não se interessam por política é que serão governados pelos que se interessam.” (Arnold Toynbee)
Qual o sentido de se ter um sistema de voto obrigatório em uma democracia? Garantir ao cidadão seu direito de escolha dos representantes políticos é uma coisa; obrigá-lo a fazer isso é outra, completamente diferente. O voto, quando obrigatório, não é um direito, mas um dever. Em nome da suposta “cidadania”, transforma-se indivíduos em súditos. O que está por trás dessa imposição aos eleitores?
O que mais se aproxima a um argumento na defesa da obrigatoriedade do voto é a idéia de que os cidadãos deveriam se interessar pelas eleições. Afinal, é através delas que eles serão, supostamente, representados na via política. Mas não é porque algo deveria ser de um jeito que temos o direito de impor nossa vontade aos demais, que podem pensar diferente. As pessoas não deveriam, por exemplo, comer muita gordura. Mas somente alguém com mentalidade muito autoritária iria defender o uso do aparato coercitivo do Estado para obrigar uma certa dieta aos indivíduos. A liberdade de escolha pressupõe que os indivíduos possuem preferências particulares, e contanto que assumam a responsabilidade por seus atos, ninguém deve interferir nessas escolhas sob a forma de coação. Ora, se o sujeito deve ser livre para comer onde quiser, comprar o que desejar no mercado, por que deveria ser forçado a participar de uma eleição a qual não se interessa? Não existem bons argumentos, de fato, para sustentar tal modelo.
No fundo, o voto acaba sendo obrigatório pois assim mais pessoas desinteressadas irão votar, e suas escolhas são mais manipuláveis. De forma mais objetiva: fica mais fácil comprar o voto daqueles que, sendo livres, não iriam sequer votar. Normalmente são pessoas com nível de escolaridade inferior, que trocam seus votos por migalhas ou promessas utópicas. A quem interessa manter o voto compulsório? Com certeza, não aos indivíduos que preferem não ter que votar. Os políticos que praticam o jogo sujo da compra de votos e do populismo é que se beneficiam de tal imposição.
A mesma linha de raciocínio vale para a idade mínima exigida dos eleitores. Quando os políticos consideram que adolescentes de 16 anos estão prontos para o direito de votar, sabem que, via de regra, esses jovens são mais fáceis de se manipular com a emoção, dispensando a apresentação de propostas mais elaboradas, calcadas na razão. O romantismo juvenil acaba sendo uma boa arma para populistas de plantão. Assim, um mesmo político que considera que um rapaz de 17 anos que cometeu um assassinato ainda não é homem o suficiente para pagar pelo crime, acaba defendendo seu direito de participar da escolha dos governantes do país. Dois pesos, duas medidas.
Fiz um levantamento do modelo de votação nos principais países do mundo, e a maciça maioria possui voto facultativo. Apenas Austrália, Bélgica e Cingapura, entre 20 nações observadas, adotam o modelo compulsório. O restante reconhece que o voto é um direito, não um dever. Em todos eles a idade mínima é 18 anos, quando não mais, como no caso japonês, onde votam somente os maiores de 20 anos. Os países analisados que respeitam o direito de votar ou não dos seus cidadãos são: Áustria, Canadá, Dinamarca, Finlândia, França, Alemanha, Japão, Coréia do Sul, Holanda, Nova Zelândia, Noruega, Portugal, Espanha, Suécia, Suíça, Inglaterra e Estados Unidos. Creio que temos mais a aprender com o modelo desses países do que ensinar.
Infelizmente, tal tema é pouco debatido no país. Está na hora de colocar na pauta de reformas esta questão. Somos cidadãos livres, não súditos. Vota quem quer. A escolha dos governantes deve ser um direito, não um dever.
“O maior castigo para aqueles que não se interessam por política é que serão governados pelos que se interessam.” (Arnold Toynbee)
Qual o sentido de se ter um sistema de voto obrigatório em uma democracia? Garantir ao cidadão seu direito de escolha dos representantes políticos é uma coisa; obrigá-lo a fazer isso é outra, completamente diferente. O voto, quando obrigatório, não é um direito, mas um dever. Em nome da suposta “cidadania”, transforma-se indivíduos em súditos. O que está por trás dessa imposição aos eleitores?
O que mais se aproxima a um argumento na defesa da obrigatoriedade do voto é a idéia de que os cidadãos deveriam se interessar pelas eleições. Afinal, é através delas que eles serão, supostamente, representados na via política. Mas não é porque algo deveria ser de um jeito que temos o direito de impor nossa vontade aos demais, que podem pensar diferente. As pessoas não deveriam, por exemplo, comer muita gordura. Mas somente alguém com mentalidade muito autoritária iria defender o uso do aparato coercitivo do Estado para obrigar uma certa dieta aos indivíduos. A liberdade de escolha pressupõe que os indivíduos possuem preferências particulares, e contanto que assumam a responsabilidade por seus atos, ninguém deve interferir nessas escolhas sob a forma de coação. Ora, se o sujeito deve ser livre para comer onde quiser, comprar o que desejar no mercado, por que deveria ser forçado a participar de uma eleição a qual não se interessa? Não existem bons argumentos, de fato, para sustentar tal modelo.
No fundo, o voto acaba sendo obrigatório pois assim mais pessoas desinteressadas irão votar, e suas escolhas são mais manipuláveis. De forma mais objetiva: fica mais fácil comprar o voto daqueles que, sendo livres, não iriam sequer votar. Normalmente são pessoas com nível de escolaridade inferior, que trocam seus votos por migalhas ou promessas utópicas. A quem interessa manter o voto compulsório? Com certeza, não aos indivíduos que preferem não ter que votar. Os políticos que praticam o jogo sujo da compra de votos e do populismo é que se beneficiam de tal imposição.
A mesma linha de raciocínio vale para a idade mínima exigida dos eleitores. Quando os políticos consideram que adolescentes de 16 anos estão prontos para o direito de votar, sabem que, via de regra, esses jovens são mais fáceis de se manipular com a emoção, dispensando a apresentação de propostas mais elaboradas, calcadas na razão. O romantismo juvenil acaba sendo uma boa arma para populistas de plantão. Assim, um mesmo político que considera que um rapaz de 17 anos que cometeu um assassinato ainda não é homem o suficiente para pagar pelo crime, acaba defendendo seu direito de participar da escolha dos governantes do país. Dois pesos, duas medidas.
Fiz um levantamento do modelo de votação nos principais países do mundo, e a maciça maioria possui voto facultativo. Apenas Austrália, Bélgica e Cingapura, entre 20 nações observadas, adotam o modelo compulsório. O restante reconhece que o voto é um direito, não um dever. Em todos eles a idade mínima é 18 anos, quando não mais, como no caso japonês, onde votam somente os maiores de 20 anos. Os países analisados que respeitam o direito de votar ou não dos seus cidadãos são: Áustria, Canadá, Dinamarca, Finlândia, França, Alemanha, Japão, Coréia do Sul, Holanda, Nova Zelândia, Noruega, Portugal, Espanha, Suécia, Suíça, Inglaterra e Estados Unidos. Creio que temos mais a aprender com o modelo desses países do que ensinar.
Infelizmente, tal tema é pouco debatido no país. Está na hora de colocar na pauta de reformas esta questão. Somos cidadãos livres, não súditos. Vota quem quer. A escolha dos governantes deve ser um direito, não um dever.
segunda-feira, maio 08, 2006
A Sanção das Vítimas
Rodrigo Constantino
“Tudo que é necessário para o triunfo do mal é que as pessoas de bem nada façam.” (Edmund Burke)
No filme “V de Vingança”, que conta a história futurista de uma Inglaterra dominada por um governo totalitário, o rebelde, conhecido apenas por V, faz um pronunciamento público com uma passagem que marca a mensagem do filme, na minha opinião. Nesta passagem, o revolucionário, que luta sozinho contra o autoritarismo estatal, destaca que a culpa pela presente situação do povo é de ninguém menos que do próprio povo. “Se querem achar um culpado, que olhem no espelho”, é o recado do justiceiro. De fato, a maldade no mundo costuma ser possível somente pela sanção das vítimas.
Tal reflexão me remete ao presente momento brasileiro. Ainda estamos bem longe de um cenário caótico como o descrito no filme, que mais se assemelha às experiências socialistas mundo afora, onde as liberdades individuais foram totalmente extirpadas pelo governo. Mas o governo avança sobre o cotidiano do cidadão, assim como seus bens, com uma volúpia assustadora. E o que é mais preocupante: com seu consentimento! O caminho da servidão parece ser uma questão de escolha no país, com os próprios eleitores votando em partidos que pregam o aumento do poder estatal. Os galos querem que a raposa tome conta do galinheiro.
Não parecem suficientes as infindáveis lições de que o excesso de governo causa miséria e escravidão. As vítimas parecem não se importar com o fato de que o nacional-populismo fracassou em todos os países onde foi adotado. Modelos que concentram no Estado o poder de cura para os males do povo, normalmente criados pelo próprio Estado, geraram apenas desgraças. Governos dirigistas, fortemente interventores na economia, que pregam a “justiça social” acima de tudo, que apelam para o ufanismo patriótico, que prometem mais e mais sem focar nos custos, sempre representaram a causa primeira do atraso de uma nação. A América Latina é a prova incontestável disso. Mas com Hugo Chávez, Evo Morales, Kirchner e Lula no poder, parece que alguns povos nunca aprendem.
Dizem que cada povo tem o governo que merece. Seria uma outra maneira de falar que a culpa de um governo totalitário reside no próprio povo. Claro que muitos foram inocentes vítimas de uma carnificina injusta como a perpetrada por Stalin. Mas será que o ditador teria se mantido no poder por tantos anos sem um apoio de boa parte da população, ainda que contando com um regime de terror? O mesmo vale para Hitler. É evidente que o medo incutido pelos governantes nos leigos é uma poderosa arma de sedução. Um povo aturdido, em pânico, miserável e ignorante sempre será presa mais fácil para o oportunismo dos inescrupulosos. Mas será que, no final do dia, não está no espelho o reflexo do verdadeiro culpado? Toda ação gera uma reação. Quando o estado mental da vítima de uma ação maléfica é de letargia total, quando não aprovação masoquista, como culpar somente o ator da ação? Quando a covardia domina os bons, como culpar unicamente os maus? Os alemães que foram complacentes com os nazistas, os soviéticos que contribuíram para a causa comunista, todos esses merecem sua parcela de culpa.
Portanto, todos os brasileiros que defendem mais e mais governo, mesmo após tantas evidências do resultado terrível desse modelo, são culpados pela atual situação do país. Todos aqueles que ignoram os fatos disponíveis e pedem mais do veneno que assola o país merecem parte da culpa. Ignorância não é atenuante neste caso. Não há como alegar total ignorância quando tantas provas estão disponíveis para quem quiser vê-las. Quando um eleitor ignora o “mensalão” e vota no PT apenas porque está satisfeito com seu “bolsa-família”, está consentindo com o “rouba mas faz”. Quando um cineasta ignora o Ancinav e defende o PT apenas para garantir as verbas federais está autorizando sua escravidão, ainda que bem paga. Quando um jornalista ignora o CNJ proposto pelo PT e vota no partido em troca de cargos para parentes, está pedindo para ser escravo. Quando um funcionário público ignora que os elevados gastos públicos são insustentáveis e vota no PT apenas para manter alguns privilégios, está assinando embaixo de um modelo injusto e criador de miséria.
Enfim, quando alguém ignora o caráter autoritário do PT, o enorme esquema de corrupção arquitetado pelo partido, seu populismo demagógico, suas péssimas amizades, sua ideologia fracassada, fazendo vista grossa à todas as atrocidades cometidas pelo governo Lula, em troca de algum interesse imediato qualquer, merece ser culpado também pelo rumo do país. Afinal, está dando uma carta branca nas mãos de políticos comprovadamente corruptos e incompetentes, vendendo a alma ao diabo em troca de migalhas. Está estendendo o pescoço voluntariamente à guilhotina. Focando apenas no lucro momentâneo, está vendendo a corda que será usada para seu próprio enforcamento. Eis o que ocorre quando o caminho da servidão conta com a sanção das vítimas.
sexta-feira, maio 05, 2006
A Verborragia dos Intelectuais
Rodrigo Constantino
Quando algumas pessoas afirmam que a resposta para todos os nossos males encontra-se na palavra mágica “educação”, inevitavelmente me vem à cabeça a figura de Marilena Chauí. A professora da USP tem até doutorado, mas defende tudo de errado no mundo. Não que eu menospreze a relevância da educação. Ela é fundamental, sem dúvida. Apenas não é a panacéia que alguns pensam, como se fosse curar todas as doenças do nosso povo. Creio que o buraco é mais embaixo. Somos prisioneiros de uma mentalidade torta, que deposita no Estado uma fé messiânica, transferindo a responsabilidade, que é individual, para entes coletivos. Há um grave problema cultural no país. Somente aprender a ler e escrever não resolve isso. Marilena Chauí é a prova disso.
O contra-exemplo para quem deposita toda a fé na educação está em Cuba. Dizem que não há analfabetos naquela ilha-presídio. No entanto, sobra miséria, enquanto Fidel aparece entre os mais ricos do mundo, segundo a revista Forbes, que avalia em quase um bilhão de dólares sua fortuna. Os cubanos são analfabetos funcionais. Como disse Mário Quintana, “os verdadeiros analfabetos são os que aprenderam a ler e não lêem”. De que adianta saber ler e ter apenas um jornal como fonte de “informação”, controlado pelo ditador? Para que vale saber ler e ser vítima de doutrinação ideológica desde cedo, nas escolas? O que importa ter diploma e não ter emprego? Temos taxistas engenheiros e prostitutas diplomadas. Isso é o resultado de “educação” sem liberdade econômica. Fica então a pergunta: qual educação é válida?
Voltando ao exemplo de Marilena Chauí, temos nessa intelectual o ícone das pregações esquerdistas que sempre fracassaram, trazendo infinita miséria para as cobaias dessas experiências grotescas. Lembro que o socialismo não foi idealizado por proletários, mas sim por intelectuais eruditos. A doutora Chauí, que tenta culpar fatores exógenos pela enorme crise moral que seu querido partido se meteu, defende aberrações como o MST e ainda enxerga importância no Fórum Social Mundial, cacofonia sem propostas concretas que serve apenas de palco para críticas vazias. O “outro mundo possível” pregado pelos seus participantes é na verdade a Utopia, o “não-lugar”, que na prática leva ao caos e terror dos países que testaram o comunismo. O fato de Chauí ter um doutorado parece não ajudá-la a enxergar o óbvio, partindo da premissa altamente questionável de que ela é honesta intelectualmente.
Os absurdos pregados por Chauí parecem ser infindáveis. A professora considera que justiça “consiste em tornar iguais os desiguais”. Como seres humanos sempre serão diferentes em inúmeros aspectos – tais como altura, beleza, peso e gostos – podemos concluir que tal igualdade diz respeito somente ao fator financeiro. Tamanho materialismo só pode ser fruto de uma grande inveja de quem detesta o sucesso alheio. Afinal, riqueza não é estática, mas sim dinâmica e criada por indivíduos. Para um ficar rico, o outro não tem que ficar pobre. Defender a igualdade material, tirando dos ricos para dar aos pobres, é imoral, além de ineficiente, pois nenhuma nova riqueza será criada assim. Fica também a suspeita de hipocrisia, dado que a professora vive com bem mais conforto que a média, e poderia começar sua “justiça social” doando seus bens materiais para pessoas mais pobres. Defender o altruísmo com o esforço alheio é fácil.
Marilena Chauí culpa o “neoliberalismo” pelos problemas brasileiros. Como pode alguém com tanta erudição desconhecer que o liberalismo passou mais distante do Brasil que Plutão da Terra? Será que tanta “educação” não foi suficiente para a intelectual saber que estamos depois da octogésima posição no ranking de liberdade econômica tanto do Heritage como do Frasier, conhecidos institutos internacionais? Que “neoliberalismo” é esse onde abrir uma empresa é tarefa hercúlea, e fechar é impossível? Onde está a liberdade econômica quando a burocracia controla cada detalhe dos negócios? O Brasil é tudo, menos liberal. Chauí, com mestrado e doutorado, não sabe disso?
Em resumo, educar o povo é crucial, uma condição necessária para o progresso da nação. Mas não parece ser suficiente. Afinal, qual educação será dada é uma questão fundamental. O que será lido quando o povo souber ler? Quando vemos famosos intelectuais defendendo ideologias totalmente fracassadas, fica a dúvida: será que o povo poderá ter uma educação decente sob a tutela de professores como Marilena Chauí? Me parece que antes de tudo os brasileiros precisam de um antídoto contra a verborragia dos intelectuais de esquerda. A maioria das desgraças humanas não foi parida por idéias de completos ignorantes, mas sim por intelectuais de renome, como a senhora Marilena Chuaí.
quinta-feira, maio 04, 2006
Pseudo-Nacionalismo
Rodrigo Constantino
Evo Morales fez ressurgir do fundo do baú um debate saudável sobre nacionalismo, ao invadir com tropas ativos de uma empresa brasileira na Bolívia, objetivando a sua expropriação. Uma medida claramente populista, já testada – e totalmente fracassada – na América Latina. Sempre com embalagens nobres, como a defesa do “interesse nacional” e o “argumento” de setor estratégico, no fundo esta postura mascara somente um desejo de poder. Trata-se de um pseudo-nacionalismo.
Na mesma Bolívia, em 1937, o governo militar acusou a subsidiária da Standard Oil de evasão fiscal e confiscou suas propriedades. O resultado foi catastrófico, como não poderia deixar de ser. No México, em março de 1938, Cárdenas disse que pretendia assumir o controle da indústria de petróleo, e assinou uma ordem de expropriação. Tal ato foi o símbolo de uma resistência passional ao controle estrangeiro. O governo inglês reagiu de forma bastante dura, insistindo que as propriedades retornassem aos seus donos legítimos. Mas o México simplesmente ignorou, dificultando as relações diplomáticas entre ambos os países.
Após o racha, o México encontrou nos nazistas alemães e fascistas italianos os seus maiores clientes. Foi estabelecida uma empresa estatal de petróleo, a Pemex, que controlava praticamente toda a indústria no México. O negócio de petróleo deixou de ser orientado para exportação, e o país perdeu enorme importância no mercado mundial. A indústria sofreu bastante também por falta de capital para investimentos, assim como dificuldade de acesso à tecnologia moderna e gente qualificada. A exigência do elevado aumento salarial, que havia sido o casus belli na expropriação dos ativos, acabou cedendo espaço para a realidade econômica, sendo adiado indefinidamente. O estrago tinha sido feito, e as cicatrizes iriam acompanhar o México por longo período. O trauma causado na indústria seria o maior desde a Revolução Bolchevique na Rússia, que expulsou diversos investidores do país, forçando inclusive a fuga da família Nobel, importante controladora de ativos de petróleo.
No Chile de Allende, o primeiro aspecto de seu programa de governo foi um assalto às propriedades privadas agrícolas, na medida conhecida como tomas. As expropriações eram carregadas de violência, por bandos armados, normalmente membros do MIR. Entre novembro de 1970 e abril de 1972, mais de 1.700 fazendas foram tomadas por bandos armados. Em seguida, Allende iniciou um programa de nacionalização de diversos setores da economia, como mineração e têxtil. Seu governo utilizou pequenas brechas na lei para infernizar a vida das empresas, e conseguir assim expulsar o capital estrangeiro do país. Os resultados são conhecidos, com queda drástica na produção industrial, elevado desemprego e hiperinflação.
Como fica claro, a expressão “interesse nacional” é utilizada como escusa para a concentração de poder nas mãos do Estado. O povo brasileiro não escapou ileso desta irracionalidade demagógica. Brizola, por exemplo, sempre foi um grande defensor da expropriação de ativos estrangeiros, supostamente na defesa do tal “interesse nacional”. Com tal mentalidade, os políticos criaram as reservas de mercado, a Lei da Informática, expulsaram multinacionais do país e tudo o mais que poderia afastar investimentos produtivos que geram o progresso de uma nação. Em nome do nacionalismo, prejudicaram justamente o avanço da nação.
As lições deveriam estar amplamente aprendidas. Estado não é sinônimo de povo. Governo não tem que ser empresário. Interesse nacional não é o mesmo que interesse de alguns políticos poderosos. Investimento estrangeiro não é o mesmo que exploração. A manutenção de contratos é conditio sine qua non para a prosperidade. Um ambiente amigável para os negócios, inclusive para multinacionais, é fundamental para o progresso. Ser patriota não é aderir ao pseudo-nacionalismo, que fecha a nação para o mundo e concentra no Estado um poder arbitrário.
Evo Morales não luta pelos “interesses nacionais” da Bolívia. Pelo contrário: suas medidas populistas prejudicam a grande maioria de indivíduos bolivianos. Os resultados são sempre terríveis quando a lógica é trocada pela ideologia dogmática. E não há como se alegar surpresa na medida de Morales. Afinal, é o que o Foro de São Paulo prega, o que defendem Fidel Castro, Hugo Chávez e demais socialistas que tomaram o poder na região, com os aplausos e apoio do presidente Lula, que também faz parte do Foro fundado em 1990. Fica difícil imaginar como Lula irá lutar pelos interesses dos indivíduos brasileiros desta forma.
O pseudo-nacionalismo é o caminho da desgraça, da miséria, da escravidão. O aprendizado está disponível para quem quiser. O povo tem a escolha: ou adota este conhecido rumo “nacionalista”, que leva inexoravelmente à catástrofe; ou abraça com força a idéia de liberdade individual, que vai na contramão desse populismo que tomou conta da América Latina.
terça-feira, maio 02, 2006
Oportunismo Xenófobo
Rodrigo Constantino
"Os que crêem que a culpa de nossos males está em nossas estrelas e não em nós mesmos ficam perdidos quando as nuvens encobrem o céu." (Roberto Campos)
A História nos ensina que os oportunistas inescrupulosos sempre aproveitaram-se do fato da natureza humana ter maior inclínio para a busca de bodes expiatórios que para a dolorosa mea culpa. Um povo sofrido e miserável, afastado dos fatos através da ignorância induzida, precisa de explicações simplistas para seus problemas. Nada mais oportuno que condenar terceiros, normalmente os bem sucedidos, que já despertam automaticamente o sentimento da inveja, bastante comum à nossa natureza também. Tal receita foi utilizada em demasia pelas nossas terras tupiniquins, sempre despertando fortes emoções nos pseudo-nacionalistas, que costumam acreditar que o sucesso alheio é responsável pelo nosso fracasso. Esse texto irá tratar de um dos primeiros casos explícitos dessa xenofobia tola, que empanturra os cofres de poucos oportunistas enquanto esvazia o bolso do cidadão comum.
Na década de 1920, o México era o segundo maior produtor mundial de petróleo. Na década seguinte, a produção caiu cerca de 80%, e o governo mexicano culpou exclusivamente as empresas estrangeiras, ignorando o contexto da Grande Depressão que assolava o mundo. O ambiente político estava mudando no país, com a febre revolucionária e nacionalista em alta novamente, assim como o poder cada vez maior dos sindicatos. Tais mudanças estavam personificadas na figura do General Lázaro Cárdenas, que se tornou presidente em 1934. Jogando sempre um grupo contra o outro para manter sua própria supremacia, ele acabou criando um sistema político que iria dominar o México até o final dos anos 80. E o petróleo, assim como o nacionalismo, seria central a este sistema.
Para Cárdenas, a presença dos estrangeiros no setor de petróleo era um grande incômodo, o qual ele pretendia livrar-se à qualquer custo. As empresas começaram a ser pressionadas de várias formas, uma tendência crescente em toda a América Latina. Em 1937, o novo governo militar da Bolívia, desejando popularidade, acusou a subsidiária da Standard Oil de evasão fiscal e confiscou suas propriedades. No México, a briga não seria muito diferente. A crise piorou quando a Corte Suprema manteve um julgamento contrário às empresas estrangeiras numa negociação salarial. Estas, em troca, aumentaram duas vezes a proposta de salário, mas ainda aquém das demandas dos poderosos sindicatos. Em Março de 1938, Cárdenas disse que intencionava assumir o controle da indústria de petróleo, e assinou uma ordem de expropriação. Tal ato foi o símbolo de uma resistência passional ao controle estrangeiro.
O governo inglês reagiu de forma bastante dura, insistindo que as propriedades retornassem aos seus donos legítimos. Mas o México simplesmente ignorou, dificultando as relações diplomáticas entre ambos os países. Os Estados Unidos foram mais complacentes, pois Roosevelt não pretendia agravar as relações com o México num ambiente de rápida deterioração da situação internacional. Economicamente falando, a produção de petróleo mexicano era mais vital para a Inglaterra mesmo, que obtinha quase 40% de seu ouro negro nesse país. Após o racha, o México encontrou nos nazistas alemães e fascistas italianos os seus maiores clientes.
Foi estabelecida uma empresa nacional e estatal de petróleo, a Pemex, que controlava praticamente toda a indústria no México. O negócio de petróleo deixou de ser orientado para exportação, e o país perdeu enorme importância no mercado mundial. A indústria sofreu bastante também por falta de capital para investimentos, assim como dificuldade de acesso à tecnologia moderna e gente qualificada. A exigência do elevado aumento salarial, que havia sido o casus belli na expropriação dos ativos, acabou cedendo espaço para a realidade econômica, sendo adiado indefinidamente. O estrago tinha sido feito, e as cicatrizes iriam acompanhar o México por longo período. O trauma causado na indústria seria o maior desde a Revolução Bolchevique na Rússia, que expulsou diversos investidores do país, forçando inclusive a fuga da família Nobel, importante controladora de ativos de petróleo.
Como podemos ver, vem de longa data o uso escancarado de bodes expiatórios estrangeiros para enganar as massas e perpetuar um asqueroso esquema de corrupção e poder concentrado nas mãos de poucos poderosos. O nacionalismo se transforma em arma contra a lógica, expulsando investidores em nome do interesse nacional. Tal tendência suicida não foi monopólio do México, mas sim comum a toda América Latina, sem falar de outras regiões pobres, como o Oriente Médio. Aqui no Brasil tivemos em Brizola um dos maiores ícones dessa xenofobia pérfida. Os debates geravam sempre muito calor, e pouca luz. Em vez de focarmos nos problemas internos causados por nós mesmos, adotamos a rota fácil de fuga, culpando fatores exógenos. E infelizmente o povo parece não aprender com o passar do tempo. Afinal, ainda rende votos afirmar que Bush é culpado pelos nossos males. Há que se esforçar muito na arte da estupidez!
"Os que crêem que a culpa de nossos males está em nossas estrelas e não em nós mesmos ficam perdidos quando as nuvens encobrem o céu." (Roberto Campos)
A História nos ensina que os oportunistas inescrupulosos sempre aproveitaram-se do fato da natureza humana ter maior inclínio para a busca de bodes expiatórios que para a dolorosa mea culpa. Um povo sofrido e miserável, afastado dos fatos através da ignorância induzida, precisa de explicações simplistas para seus problemas. Nada mais oportuno que condenar terceiros, normalmente os bem sucedidos, que já despertam automaticamente o sentimento da inveja, bastante comum à nossa natureza também. Tal receita foi utilizada em demasia pelas nossas terras tupiniquins, sempre despertando fortes emoções nos pseudo-nacionalistas, que costumam acreditar que o sucesso alheio é responsável pelo nosso fracasso. Esse texto irá tratar de um dos primeiros casos explícitos dessa xenofobia tola, que empanturra os cofres de poucos oportunistas enquanto esvazia o bolso do cidadão comum.
Na década de 1920, o México era o segundo maior produtor mundial de petróleo. Na década seguinte, a produção caiu cerca de 80%, e o governo mexicano culpou exclusivamente as empresas estrangeiras, ignorando o contexto da Grande Depressão que assolava o mundo. O ambiente político estava mudando no país, com a febre revolucionária e nacionalista em alta novamente, assim como o poder cada vez maior dos sindicatos. Tais mudanças estavam personificadas na figura do General Lázaro Cárdenas, que se tornou presidente em 1934. Jogando sempre um grupo contra o outro para manter sua própria supremacia, ele acabou criando um sistema político que iria dominar o México até o final dos anos 80. E o petróleo, assim como o nacionalismo, seria central a este sistema.
Para Cárdenas, a presença dos estrangeiros no setor de petróleo era um grande incômodo, o qual ele pretendia livrar-se à qualquer custo. As empresas começaram a ser pressionadas de várias formas, uma tendência crescente em toda a América Latina. Em 1937, o novo governo militar da Bolívia, desejando popularidade, acusou a subsidiária da Standard Oil de evasão fiscal e confiscou suas propriedades. No México, a briga não seria muito diferente. A crise piorou quando a Corte Suprema manteve um julgamento contrário às empresas estrangeiras numa negociação salarial. Estas, em troca, aumentaram duas vezes a proposta de salário, mas ainda aquém das demandas dos poderosos sindicatos. Em Março de 1938, Cárdenas disse que intencionava assumir o controle da indústria de petróleo, e assinou uma ordem de expropriação. Tal ato foi o símbolo de uma resistência passional ao controle estrangeiro.
O governo inglês reagiu de forma bastante dura, insistindo que as propriedades retornassem aos seus donos legítimos. Mas o México simplesmente ignorou, dificultando as relações diplomáticas entre ambos os países. Os Estados Unidos foram mais complacentes, pois Roosevelt não pretendia agravar as relações com o México num ambiente de rápida deterioração da situação internacional. Economicamente falando, a produção de petróleo mexicano era mais vital para a Inglaterra mesmo, que obtinha quase 40% de seu ouro negro nesse país. Após o racha, o México encontrou nos nazistas alemães e fascistas italianos os seus maiores clientes.
Foi estabelecida uma empresa nacional e estatal de petróleo, a Pemex, que controlava praticamente toda a indústria no México. O negócio de petróleo deixou de ser orientado para exportação, e o país perdeu enorme importância no mercado mundial. A indústria sofreu bastante também por falta de capital para investimentos, assim como dificuldade de acesso à tecnologia moderna e gente qualificada. A exigência do elevado aumento salarial, que havia sido o casus belli na expropriação dos ativos, acabou cedendo espaço para a realidade econômica, sendo adiado indefinidamente. O estrago tinha sido feito, e as cicatrizes iriam acompanhar o México por longo período. O trauma causado na indústria seria o maior desde a Revolução Bolchevique na Rússia, que expulsou diversos investidores do país, forçando inclusive a fuga da família Nobel, importante controladora de ativos de petróleo.
Como podemos ver, vem de longa data o uso escancarado de bodes expiatórios estrangeiros para enganar as massas e perpetuar um asqueroso esquema de corrupção e poder concentrado nas mãos de poucos poderosos. O nacionalismo se transforma em arma contra a lógica, expulsando investidores em nome do interesse nacional. Tal tendência suicida não foi monopólio do México, mas sim comum a toda América Latina, sem falar de outras regiões pobres, como o Oriente Médio. Aqui no Brasil tivemos em Brizola um dos maiores ícones dessa xenofobia pérfida. Os debates geravam sempre muito calor, e pouca luz. Em vez de focarmos nos problemas internos causados por nós mesmos, adotamos a rota fácil de fuga, culpando fatores exógenos. E infelizmente o povo parece não aprender com o passar do tempo. Afinal, ainda rende votos afirmar que Bush é culpado pelos nossos males. Há que se esforçar muito na arte da estupidez!