Idéias de um livre pensador sem medo da polêmica ou da patrulha dos "politicamente corretos".
sábado, abril 30, 2011
Epidemia da Luz branca
Rodrigo Constantino
É impressão minha ou virou moda agora colocar luz branca na casa toda? Olho do meu apartamento e fico impressionado com a quantidade de gente que aderiu a esta mania.
De Gustibus non est Disputandum. O que seria do azul se todos preferissem o verde? Estou de acordo que gosto não se discute; no máximo se lamenta. Mas pergunto: alguém realmente acha mais bonito colocar luz branca na casa toda?
Lembremos que luz branca é típica para ambientes como cozinha, hospital ou escritório. Por que será? Porque é fria, ora! A luz amarela é mais quente, coisa de quem curte um calor humano, essa coisa ultrapassada pelas redes virtuais.
No fundo, arrisco dizer que esta epidemia de luz branca tem ligação com a mais poderosa seita da atualidade: o ambientalismo, ou eco-terrorismo. Os “verdes” (melancias é melhor, pois são verdes por fora mas vermelhos por dentro) querem salvar o planeta, e nada como uma lâmpada mais econômica, ainda que horrível, para tão nobre objetivo.
Isso mesmo! Vamos salvar a Terra usando uma lâmpada um pouco mais econômica... enquanto vivemos em casas que parecem hospitais! Ainda que considere esta escolha uma agressão visual, nada posso fazer quanto ao gosto alheio.
Mas o perigoso é que essa turma, organizada, chata e influente, vai acabar conseguindo banir do mercado as velhas lâmpadas amarelas. Praticamente já não as vemos mais à venda. Que mundo mais feio e pentelho estamos deixando para nossos filhos...
sexta-feira, abril 29, 2011
Sonhos de um libertário
Comentário do blogueiro: A matéria abaixo saiu no caderno EU & Fim de Semana do jornal Valor Econômico. Vale a leitura. Tenho ressalvas quanto ao anarco-capitalismo, que considero utópico demais e simplista também. Além disso, defendo a democracia, reconhecendo suas inúmeras imperfeições. Hoppe diz que o "deus" falhou, mas o ponto é que a democracia não deve ser encarada como um deus, e sim como o pior método de escolha das coisas públicas, exceto todos os outros (by Churchill). Dito isso, os pontos de Hoppe são no mínimo instigantes, e numa era de extremo coletivismo e governos vistos como deuses laicos por tanta gente, seu radicalismo tem lá seu valor, ainda que seja para jogar o vetor resultante na direção de menos governo e mais liberdade individual. Mas não creio em panacéias, em modelos perfeitos ou em "soluções". O que existem são "trade-offs", alternativas melhores, ou menos piores. Crises, ciclos, injustiças e abuso de poder SEMPRE existirão, e jamais acreditem em quem promete o contrário.
Economia: Nem bancos centrais, nem Estado, nem democracia. O economista alemão Hans-Hermann Hoppe imagina uma "sociedade de leis privadas".
Sergio Lamucci | De São Paulo
O alemão Hans-Hermann Hoppe é um crítico feroz dos bancos centrais. Para o economista da escola austríaca, a existência dessas instituições é a principal causa de crises financeiras como a que abateu a economia global em 2008 e 2009. "Um banco central é a única instituição que pode criar dinheiro virtualmente a partir do nada. Não se deve esperar que uma instituição que pode imprimir dinheiro, criar crédito e redistribuir renda em seu favor cause uma crise financeira?", diz ele, que se classifica também como um filósofo libertário/anarco-capitalista.
Membro-sênior do Instituto Ludwig von Mises e fundador e presidente da Property and Freedom Society, Hoppe coleciona opiniões polêmicas. Além de defender a extinção dos bancos centrais, vitupera contra a democracia, como no livro "Democracy: the God that Failed". Em seu lugar, Hoppe propõe o que chama de "sociedade de leis privadas", em que até a segurança seria oferecida por companhias particulares, num ambiente de livre concorrência. Nesse mundo, o Estado não existiria.
Hoppe falou ao Valor em São Paulo, no começo do mês. Nos dias 9 e 10, participou do II Seminário da Escola Austríaca, em Porto Alegre, promovido pelo Instituto Ludwig von Mises do Brasil. Hoppe é um entusiasta da obra de Mises, um dos expoentes da escola austríaca, defensor de uma política irrestrita de livre mercado e de respeito total ao direito de propriedade. "'Human Action', a obra mais importante de Mises, ainda será lida daqui a 200 ou 300 anos, ao passo que ninguém mais lerá Milton Friedman dentro de 100 anos", afirma ele, destacando, entre outros pontos, o fato de Mises explicar economia a partir de uma lógica aplicada, integrando-a num grande sistema.
Para Hoppe, a própria existência dos bancos centrais é a grande responsável pela crise financeira de 2008/2009, cujos efeitos ainda afetam a economia global, e não a progressiva desregulação do sistema financeiro a partir dos anos 90. "O banco central é uma instituição muito pouco comum, a única que pode criar dinheiro basicamente a partir do nada. Todos os outros que fizerem isso são considerados criminosos", ataca Hoppe, PhD em filosofia pela Universidade Goethe, em Frankfurt.
"Só bancos centrais podem criar dinheiro basicamente a partir do nada. Todos os outros que fizerem isso são considerados criminosos"
Hoppe diz que há algumas diferenças institucionais no modo como bancos centrais operam na Europa, nos Estados Unidos ou no Brasil, mas o princípio básico é sempre o mesmo: a possibilidade de imprimir dinheiro. "É sempre possível criar um boom reduzindo os juros a um nível artificialmente baixo. Se as coisas vão mal, o banco central pode resgatar a si mesmo, simplesmente imprimindo os recursos necessários para cobrir suas perdas. Os ganhos são privatizados, obtidos pela expansão de crédito, e as perdas são socializadas quando as coisas dão errado."
Como os bancos centrais vão continuar a existir, a eclosão de novas crises é apenas questão de tempo, afirma Hoppe, observando que o problema foi enfrentado pela impressão de ainda mais dinheiro. O resultado? Uma nova bolha em gestação, ainda maior que a anterior, que terá um colapso ainda mais drástico, vaticina.
Para o economista, a melhor resposta à crise seria ter deixado os bancos quebrarem. "Governos e Estados amam crises, porque oferecem sempre a possibilidade de aumentar o poder. A resposta à crise foi aumentar ainda mais o poder dos bancos centrais, para supervisionar o sistema bancário, quando o mais adequado seria deixar os bancos quebrados falirem. Isso teria afetado alguns grandes 'players', mas não a maior parte dos pequenos homens de negócios e as pessoas mais pobres ou moderadamente ricas. O que ocorreu foi o resgate de governos, grandes bancos e pessoas bem relacionadas. Se os bancos cometeram erros, como qualquer outra empresa, deveriam falir", diz Hoppe, para quem também é um erro o resgate dos países europeus, como Grécia e Portugal.
Mas se a crise se agravou com o colapso de um banco que não era gigante - o Lehman Brothers -, a quebra de instituições do tamanho do Citigroup e a AIG não teria um impacto ainda maior sobre a economia real? "Por que isso ocorreria? Alguns bancos quebrariam, alguns grandes investidores nesses bancos também quebrariam, mas os ativos reais no país continuariam exatamente os mesmos. Não haveria perda de bens. Haveria exatamente as mesmas fábricas, casas, imóveis. Elas apenas iriam para as mãos de pessoas diferentes, que não cometeram erros."
Ludwig Von Mises: expoente da escola austríaca, defensor de uma política irrestrita de livre mercado e de respeito total ao direito de propriedade
Para Hoppe, com essa estratégia o desemprego aumentaria por pouco tempo, e a recuperação da economia seria mais rápida. "Quando as empresas quebram, há um curto período de mais desemprego. Mas isso significa que esses trabalhadores agora estão disponíveis para outras indústrias, em que há mais demanda. O que precisamos, para lidar com o desemprego, é ter mercados de trabalho flexíveis. Os salários devem poder ir para cima ou para baixo, sem nada como leis de salário mínimo."
Mas é realista esperar o fim dos bancos centrais? "Vamos supor que tenhamos hiperinflação. Posso imaginar muito bem que a opinião pública se volte contra o Fed [Federal Reserve, o banco central americano], por exemplo. Há alguns anos, eram considerados intocáveis, falavam no Maestro [Alan] Greenspan [ex-presidente do Fed], apenas atrás de Deus. Hoje ninguém mais os vê desse modo."
Num mundo sem bancos centrais, os juros seriam fixados pelo mercado e haveria a tendência de que uma commodity, possivelmente o ouro, se desenvolvesse como moeda de uso global, para facilitar as trocas. "Por centenas de anos tivemos dinheiro-commodity e bancos privados concorrentes, emitindo suas notas, sempre resgatáveis em ouro, prata ou outro metal."
Em relação aos juros, Hoppe diz que são "um fenômeno de mercado, como qualquer outro preço". Para ele, a noção de que é necessária uma instituição para fixar os juros é "bastante estranha". "Os juros são simplesmente a relação entre o preço futuro e o preço presente do dinheiro."
Entre as ideias de Hoppe, chama a atenção sua visão negativa da democracia. Segundo ele, o movimento democrático foi inicialmente direcionado contra as monarquias, com o argumento de que eram baseadas em privilégios. Na democracia, isso não ocorreria, e todos seriam iguais perante a lei. "Mas isso é um erro, porque também na democracia há privilégios. A questão é que não são privilégios pessoais, mas de função. Um funcionário público pode fazer coisas que um pessoa comum não pode fazer", afirma Hoppe. "Como uma pessoa comum, não posso tomar seu dinheiro contra sua vontade e gastar como eu quiser. No caso dos funcionários públicos, isso é chamado de política social e redistribuição de renda." Com isso, privilégios existem na democracia, assim como na monarquia, exceto que eles não são de caráter pessoal.
"A resposta à crise foi aumentar ainda mais o poder dos bancos centrais, quando o mais adequado seria deixar os bancos quebrados falirem"
O segundo ponto é que, ao mudar um rei por governante democrático, troca-se alguém que considerava o país sua propriedade por alguém que se vê como um zelador temporário do país. "Na democracia, a exploração do país, por assim dizer, se torna mais orientada para o curto prazo. Tenta-se tirar o máximo que se conseguir no período mais curto possível."
Para Hoppe, outra diferença relevante é que, na democracia, a população tende a ser mais tolerante com a expansão do poder do governo. "Na monarquia, como não serei o rei e você não será o rei, sempre que o governo quiser aumentar impostos, expropriar mais, haverá resistência. Na democracia, como em teoria qualquer um pode se tornar 'rei', há mais tolerância em relação a isso. Não gosto de pagar mais impostos, mas talvez amanhã eu esteja recebendo os recursos dos impostos."
Hoppe não propõe, contudo, a volta da monarquia absoluta. Segundo ele mesmo escreveu num artigo, isso seria hoje considerado risível. O que defende é uma sociedade de leis privadas. "Todo indivíduo e toda instituição estariam sujeitos exatamente às mesmas leis. Não haveria nenhuma instituição que pudesse cobrar impostos de outras pessoas ou que tivesse o monopólio da produção de qualquer coisa." Nesse mundo, haveria também livre competição na oferta de segurança, com forças policiais privadas, companhias de seguro privadas e agências privadas de arbitragem, que teriam que oferecer contratos, em contraste com a situação atual. Não temos nenhum contrato com o Estado."
Segundo Hoppe, no Estado democrático, quando há conflito entre um cidadão e um órgão estatal, não há arbitragem independente. Há outras pessoas, também empregadas do Estado, que decidem quem está certo. "Além disso, uma companhia privada que o proteja nunca poderia mudar o contrato unilateralmente, como fazem os Estados ao aumentar os impostos, por exemplo. Sempre que eles passam uma nova lei, as regras do jogo mudam. Coisas que eram legais ontem se tornam ilegais amanhã."
Como transição até esse modelo, Hoppe imagina um mundo com "dezenas de milhares de países, regiões e cantões, e centenas de milhares de cidades livres independentes, como as excêntricas Mônaco, San Marino, Liechtenstein, Hong Kong e Cingapura". Para ele, esse seria um mundo de prosperidade, crescimento e avanço cultural sem precedentes. como afirmou em entrevista ao "The Brussels Journal". A vantagem, segundo Hoppe, é que pequenos Estados são menos propensos a recorrer a políticas protecionistas, dando prioridade ao livre comércio.
Tudo isso não é utópico demais? "O que os socialistas queriam era verdadeiramente utópico, porque queriam mudar a natureza do homem. O que estou dizendo, o que os libertários dizem, não é utópico nesse sentido", responde Hoppe. Para ele, um fator que pode levar o mundo a caminhar na direção de maior descentralização é a inviabilidade do Estado de bem-estar social. Os sistemas previdenciários, por exemplo, não podem ser financiados no longo prazo, diz.
"Quando esse colapso ocorrer e o Estado de bem-estar social não puder mais ser financiado, poderá haver uma tendência em direção à descentralização e à secessão", afirma Hoppe. Os alemães podem se cansar de custear o socorro a países como Grécia e Portugal. Também pode ocorrer o mesmo com países mais pobres, como Estônia, Lituânia e Eslováquia, cujo padrão de vida é mais baixo do que na Grécia, mas que adotaram políticas econômicas mais sóbrias que os gregos. O mesmo movimento poderia ocorrer dentro dos países, acredita Hoppe, que vê como possível o colapso do Estado de bem-estar social em algo como 20 anos.
Economia: Nem bancos centrais, nem Estado, nem democracia. O economista alemão Hans-Hermann Hoppe imagina uma "sociedade de leis privadas".
Sergio Lamucci | De São Paulo
O alemão Hans-Hermann Hoppe é um crítico feroz dos bancos centrais. Para o economista da escola austríaca, a existência dessas instituições é a principal causa de crises financeiras como a que abateu a economia global em 2008 e 2009. "Um banco central é a única instituição que pode criar dinheiro virtualmente a partir do nada. Não se deve esperar que uma instituição que pode imprimir dinheiro, criar crédito e redistribuir renda em seu favor cause uma crise financeira?", diz ele, que se classifica também como um filósofo libertário/anarco-capitalista.
Membro-sênior do Instituto Ludwig von Mises e fundador e presidente da Property and Freedom Society, Hoppe coleciona opiniões polêmicas. Além de defender a extinção dos bancos centrais, vitupera contra a democracia, como no livro "Democracy: the God that Failed". Em seu lugar, Hoppe propõe o que chama de "sociedade de leis privadas", em que até a segurança seria oferecida por companhias particulares, num ambiente de livre concorrência. Nesse mundo, o Estado não existiria.
Hoppe falou ao Valor em São Paulo, no começo do mês. Nos dias 9 e 10, participou do II Seminário da Escola Austríaca, em Porto Alegre, promovido pelo Instituto Ludwig von Mises do Brasil. Hoppe é um entusiasta da obra de Mises, um dos expoentes da escola austríaca, defensor de uma política irrestrita de livre mercado e de respeito total ao direito de propriedade. "'Human Action', a obra mais importante de Mises, ainda será lida daqui a 200 ou 300 anos, ao passo que ninguém mais lerá Milton Friedman dentro de 100 anos", afirma ele, destacando, entre outros pontos, o fato de Mises explicar economia a partir de uma lógica aplicada, integrando-a num grande sistema.
Para Hoppe, a própria existência dos bancos centrais é a grande responsável pela crise financeira de 2008/2009, cujos efeitos ainda afetam a economia global, e não a progressiva desregulação do sistema financeiro a partir dos anos 90. "O banco central é uma instituição muito pouco comum, a única que pode criar dinheiro basicamente a partir do nada. Todos os outros que fizerem isso são considerados criminosos", ataca Hoppe, PhD em filosofia pela Universidade Goethe, em Frankfurt.
"Só bancos centrais podem criar dinheiro basicamente a partir do nada. Todos os outros que fizerem isso são considerados criminosos"
Hoppe diz que há algumas diferenças institucionais no modo como bancos centrais operam na Europa, nos Estados Unidos ou no Brasil, mas o princípio básico é sempre o mesmo: a possibilidade de imprimir dinheiro. "É sempre possível criar um boom reduzindo os juros a um nível artificialmente baixo. Se as coisas vão mal, o banco central pode resgatar a si mesmo, simplesmente imprimindo os recursos necessários para cobrir suas perdas. Os ganhos são privatizados, obtidos pela expansão de crédito, e as perdas são socializadas quando as coisas dão errado."
Como os bancos centrais vão continuar a existir, a eclosão de novas crises é apenas questão de tempo, afirma Hoppe, observando que o problema foi enfrentado pela impressão de ainda mais dinheiro. O resultado? Uma nova bolha em gestação, ainda maior que a anterior, que terá um colapso ainda mais drástico, vaticina.
Para o economista, a melhor resposta à crise seria ter deixado os bancos quebrarem. "Governos e Estados amam crises, porque oferecem sempre a possibilidade de aumentar o poder. A resposta à crise foi aumentar ainda mais o poder dos bancos centrais, para supervisionar o sistema bancário, quando o mais adequado seria deixar os bancos quebrados falirem. Isso teria afetado alguns grandes 'players', mas não a maior parte dos pequenos homens de negócios e as pessoas mais pobres ou moderadamente ricas. O que ocorreu foi o resgate de governos, grandes bancos e pessoas bem relacionadas. Se os bancos cometeram erros, como qualquer outra empresa, deveriam falir", diz Hoppe, para quem também é um erro o resgate dos países europeus, como Grécia e Portugal.
Mas se a crise se agravou com o colapso de um banco que não era gigante - o Lehman Brothers -, a quebra de instituições do tamanho do Citigroup e a AIG não teria um impacto ainda maior sobre a economia real? "Por que isso ocorreria? Alguns bancos quebrariam, alguns grandes investidores nesses bancos também quebrariam, mas os ativos reais no país continuariam exatamente os mesmos. Não haveria perda de bens. Haveria exatamente as mesmas fábricas, casas, imóveis. Elas apenas iriam para as mãos de pessoas diferentes, que não cometeram erros."
Ludwig Von Mises: expoente da escola austríaca, defensor de uma política irrestrita de livre mercado e de respeito total ao direito de propriedade
Para Hoppe, com essa estratégia o desemprego aumentaria por pouco tempo, e a recuperação da economia seria mais rápida. "Quando as empresas quebram, há um curto período de mais desemprego. Mas isso significa que esses trabalhadores agora estão disponíveis para outras indústrias, em que há mais demanda. O que precisamos, para lidar com o desemprego, é ter mercados de trabalho flexíveis. Os salários devem poder ir para cima ou para baixo, sem nada como leis de salário mínimo."
Mas é realista esperar o fim dos bancos centrais? "Vamos supor que tenhamos hiperinflação. Posso imaginar muito bem que a opinião pública se volte contra o Fed [Federal Reserve, o banco central americano], por exemplo. Há alguns anos, eram considerados intocáveis, falavam no Maestro [Alan] Greenspan [ex-presidente do Fed], apenas atrás de Deus. Hoje ninguém mais os vê desse modo."
Num mundo sem bancos centrais, os juros seriam fixados pelo mercado e haveria a tendência de que uma commodity, possivelmente o ouro, se desenvolvesse como moeda de uso global, para facilitar as trocas. "Por centenas de anos tivemos dinheiro-commodity e bancos privados concorrentes, emitindo suas notas, sempre resgatáveis em ouro, prata ou outro metal."
Em relação aos juros, Hoppe diz que são "um fenômeno de mercado, como qualquer outro preço". Para ele, a noção de que é necessária uma instituição para fixar os juros é "bastante estranha". "Os juros são simplesmente a relação entre o preço futuro e o preço presente do dinheiro."
Entre as ideias de Hoppe, chama a atenção sua visão negativa da democracia. Segundo ele, o movimento democrático foi inicialmente direcionado contra as monarquias, com o argumento de que eram baseadas em privilégios. Na democracia, isso não ocorreria, e todos seriam iguais perante a lei. "Mas isso é um erro, porque também na democracia há privilégios. A questão é que não são privilégios pessoais, mas de função. Um funcionário público pode fazer coisas que um pessoa comum não pode fazer", afirma Hoppe. "Como uma pessoa comum, não posso tomar seu dinheiro contra sua vontade e gastar como eu quiser. No caso dos funcionários públicos, isso é chamado de política social e redistribuição de renda." Com isso, privilégios existem na democracia, assim como na monarquia, exceto que eles não são de caráter pessoal.
"A resposta à crise foi aumentar ainda mais o poder dos bancos centrais, quando o mais adequado seria deixar os bancos quebrados falirem"
O segundo ponto é que, ao mudar um rei por governante democrático, troca-se alguém que considerava o país sua propriedade por alguém que se vê como um zelador temporário do país. "Na democracia, a exploração do país, por assim dizer, se torna mais orientada para o curto prazo. Tenta-se tirar o máximo que se conseguir no período mais curto possível."
Para Hoppe, outra diferença relevante é que, na democracia, a população tende a ser mais tolerante com a expansão do poder do governo. "Na monarquia, como não serei o rei e você não será o rei, sempre que o governo quiser aumentar impostos, expropriar mais, haverá resistência. Na democracia, como em teoria qualquer um pode se tornar 'rei', há mais tolerância em relação a isso. Não gosto de pagar mais impostos, mas talvez amanhã eu esteja recebendo os recursos dos impostos."
Hoppe não propõe, contudo, a volta da monarquia absoluta. Segundo ele mesmo escreveu num artigo, isso seria hoje considerado risível. O que defende é uma sociedade de leis privadas. "Todo indivíduo e toda instituição estariam sujeitos exatamente às mesmas leis. Não haveria nenhuma instituição que pudesse cobrar impostos de outras pessoas ou que tivesse o monopólio da produção de qualquer coisa." Nesse mundo, haveria também livre competição na oferta de segurança, com forças policiais privadas, companhias de seguro privadas e agências privadas de arbitragem, que teriam que oferecer contratos, em contraste com a situação atual. Não temos nenhum contrato com o Estado."
Segundo Hoppe, no Estado democrático, quando há conflito entre um cidadão e um órgão estatal, não há arbitragem independente. Há outras pessoas, também empregadas do Estado, que decidem quem está certo. "Além disso, uma companhia privada que o proteja nunca poderia mudar o contrato unilateralmente, como fazem os Estados ao aumentar os impostos, por exemplo. Sempre que eles passam uma nova lei, as regras do jogo mudam. Coisas que eram legais ontem se tornam ilegais amanhã."
Como transição até esse modelo, Hoppe imagina um mundo com "dezenas de milhares de países, regiões e cantões, e centenas de milhares de cidades livres independentes, como as excêntricas Mônaco, San Marino, Liechtenstein, Hong Kong e Cingapura". Para ele, esse seria um mundo de prosperidade, crescimento e avanço cultural sem precedentes. como afirmou em entrevista ao "The Brussels Journal". A vantagem, segundo Hoppe, é que pequenos Estados são menos propensos a recorrer a políticas protecionistas, dando prioridade ao livre comércio.
Tudo isso não é utópico demais? "O que os socialistas queriam era verdadeiramente utópico, porque queriam mudar a natureza do homem. O que estou dizendo, o que os libertários dizem, não é utópico nesse sentido", responde Hoppe. Para ele, um fator que pode levar o mundo a caminhar na direção de maior descentralização é a inviabilidade do Estado de bem-estar social. Os sistemas previdenciários, por exemplo, não podem ser financiados no longo prazo, diz.
"Quando esse colapso ocorrer e o Estado de bem-estar social não puder mais ser financiado, poderá haver uma tendência em direção à descentralização e à secessão", afirma Hoppe. Os alemães podem se cansar de custear o socorro a países como Grécia e Portugal. Também pode ocorrer o mesmo com países mais pobres, como Estônia, Lituânia e Eslováquia, cujo padrão de vida é mais baixo do que na Grécia, mas que adotaram políticas econômicas mais sóbrias que os gregos. O mesmo movimento poderia ocorrer dentro dos países, acredita Hoppe, que vê como possível o colapso do Estado de bem-estar social em algo como 20 anos.
O fracasso de Keynes
Rodrigo Constantino, para o Instituto Liberal
O editorial do The Wall Street Journal de hoje faz a pergunta do ano. Em uma tradução livre: “Imagine se o presidente Obama tivesse apresentado seu estímulo original em fevereiro de 2009 com a promessa de que, 26 meses depois, o PIB estaria crescendo 1,8% ao ano e a taxa de desemprego estaria em 8,8%. Alguém pensa que ele teria passado?”
Pois é. Mas, à época, os keynesianos fizeram verdadeiro alarde de que, caso seus planos mirabolantes de estímulos não fossem adiante, os Estados Unidos não retomariam o crescimento e o desemprego poderia chegar a 10%. Dois anos e trilhões de dólares depois, eis que a economia apresenta crescimento pífio e desemprego próximo de 9%, sem falar da inflação crescente.
Claro que os keynesianos jamais vão admitir que podem estar errados. Eles preferem apelar para o argumento contrafactual, de que tudo estaria muito pior sem tais estímulos. Fica mais complicado refutar o famoso “e se”, não é mesmo? Mas o fato é que muitos alertaram para a ineficácia destas medidas, e anteciparam exatamente este resultado, que agora espanta os keynesianos. Os mais fanáticos deles, como Paul Krugman, acham que o problema é a falta de estímulos. O Fed e Washington estariam tímidos demais. Talvez o modelo de Zimbábue seja o ideal deles. Para quem tem apenas um martelo, tudo se parece com um prego.
Os Estados Unidos correm o risco de experimentar novamente uma era de estagflação. O próprio editorial do WSJ apresenta uma alternativa, comparando as medidas atuais com aquelas da era Reagan: cortar impostos, reduzir custo e incerteza regulatória, deixar o livre mercado alocar o capital sem tanta influência política, e focar a política monetária na estabilidade de preços em vez de redução do desemprego.
Duro é acreditar que a dupla Bernanke e Obama seria capaz de ir por este caminho mais racional. A lamentável verdade é que, a despeito do fracasso das idéias de Keynes na prática, há uma incrível persistência de suas teorias no “mainstream”. Como mostra o excelente vídeo “Luta do Século: Keynes vs Hayek Round Dois”, Keynes acaba sofrendo nocaute no ringue das idéias, mas o árbitro, mesmo assim, resolve dar a vitória intelectual a ele. Os jornalistas e aquilo que parece um grupo de banqueiros e políticos correm para congratulá-lo, enquanto Hayek recebe o cumprimento de acadêmicos. Keynes fracassou. Mas levou no tapetão!
Com um cenário desses, o dólar que se cuide, pois o ouro já passou de US$ 1.500 a onça...
The Keynesian Growth Discount
Editorial do WSJ
For three long years, the U.S. has been undertaking an experiment in economic policy. Could record levels of government spending, waves of new regulation and political credit allocation, and unprecedented monetary stimulus re-ignite growth? The results have been rolling in, and they represent what increasingly looks like an historic mistake that deserves to be called the Keynesian growth discount.
***
The latest evidence is yesterday's disappointing report of 1.8% in first quarter GDP. At this stage of recovery after a deep recession, the economy is typically growing by 4% or more as consumer confidence returns and businesses accelerate investment as their profits revive. Yet in this recovery consumers are still cautious and business investment remains weak.
Some of the first quarter's growth slump is due to seasonal factors such as bad weather and weaker defense spending. In the silver lining department, the private economy grew faster than the overall GDP figure because government spending declined. But even maintaining the 2.9% growth rate of 2010 would mark an historic underachievement for a recovery after a recession that was as deep as the one from late 2007 to mid-2009.
The most recent recession of comparable depth and job loss was in 1981-1982, when unemployment hit 10.8%. Huge chunks of industrial America shut down and never re-opened. Yet once the recovery began in earnest in the first quarter of 1983, the economy boomed. As the nearby table shows, growth exceeded 7.1% for five consecutive quarters, and it kept growing at nearly a 4% pace for another two years. Growth didn't dip below 2% in any quarter until the second three months of 1986. This was the Reagan boom.
Now look at the first seven quarters of the current recovery. Only briefly has growth hit 5%, in the fourth quarter of 2009 as businesses rebuilt inventories that had been pared to the bone. Growth has been mediocre ever since, sputtering to a near-stall in the middle of last year, accelerating modestly late last year, and now slowing again. This recovery is as weak as the much-maligned "jobless recovery" of the last decade, which followed a mild recession and at least gained speed after the tax cut of 2003.
Most striking is that this weak growth follows everything that the Keynesian playbook said politicians should throw at the economy. First came $168 billion in one-time tax rebates in February 2008 under George W. Bush, then $814 billion more in spending spread over 2009-2010, cash for clunkers, the $8,000 home buyer tax credit, Hamp to prevent home foreclosures, the Detroit auto bailouts, billions for green jobs, a payroll tax cut for 2011, and of course near-zero interest rates for 28 months buttressed by quantitative easing I and II. We're probably forgetting something.
Imagine if President Obama had introduced his original stimulus in February 2009 with the vow that, 26 months later, GDP would be growing by 1.8% and the jobless rate would be 8.8%. Does anyone think it would have passed?
Liberal economists will blame this latest slowdown on spending cuts across all levels of government, and government spending did fall in the first quarter. But those modest declines follow the biggest government spending binge since World War II that was supposed to kick start the economy and then stop. Remember former White House chief economist Larry Summers's mantra that stimulus spending should be timely, targeted and temporary?
With deficits this year estimated to hit $1.65 trillion, are we really supposed to believe that more deficit spending will produce faster growth? Would $2 trillion do the trick, or how about $3 trillion? Two years after the stimulus debate began, the critics who said all of this spending would provide at most a temporary lift to GDP while saddling the economy with record deficits have been proven right.
The good news is that the private economy seems to have enough momentum to avoid a recession in the near term, but the danger is that growth will continue to be subpar. The evidence is that the combination of spendthrift fiscal policy and a wave of new regulatory costs and mandates are restraining business expansion and hiring.
Then there's the threat of higher tax rates on investment and business that we dodged for two years after the GOP won Congress but that President Obama has now promised for 2013 if he is re-elected. This too deters the animal spirits necessary for robust growth. The great risk is stagflation, a la the 1970s, when easy money tried to compensate for bad fiscal and regulatory policy, which led to sluggish growth, rising prices and declines in real wages.
***
The contrast in results between the current recovery and the Reagan years is instructive because the policy mix was so different. In the 1980s, the policy goals were to cut tax rates, reduce regulatory costs and uncertainty, let the private economy allocate capital free of political direction, and focus monetary policy on price stability rather than on reducing unemployment. This is the policy mix we need to rediscover if we are going to escape our current malaise and stop suffering from the Keynesian discount.
For three long years, the U.S. has been undertaking an experiment in economic policy. Could record levels of government spending, waves of new regulation and political credit allocation, and unprecedented monetary stimulus re-ignite growth? The results have been rolling in, and they represent what increasingly looks like an historic mistake that deserves to be called the Keynesian growth discount.
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The latest evidence is yesterday's disappointing report of 1.8% in first quarter GDP. At this stage of recovery after a deep recession, the economy is typically growing by 4% or more as consumer confidence returns and businesses accelerate investment as their profits revive. Yet in this recovery consumers are still cautious and business investment remains weak.
Some of the first quarter's growth slump is due to seasonal factors such as bad weather and weaker defense spending. In the silver lining department, the private economy grew faster than the overall GDP figure because government spending declined. But even maintaining the 2.9% growth rate of 2010 would mark an historic underachievement for a recovery after a recession that was as deep as the one from late 2007 to mid-2009.
The most recent recession of comparable depth and job loss was in 1981-1982, when unemployment hit 10.8%. Huge chunks of industrial America shut down and never re-opened. Yet once the recovery began in earnest in the first quarter of 1983, the economy boomed. As the nearby table shows, growth exceeded 7.1% for five consecutive quarters, and it kept growing at nearly a 4% pace for another two years. Growth didn't dip below 2% in any quarter until the second three months of 1986. This was the Reagan boom.
Now look at the first seven quarters of the current recovery. Only briefly has growth hit 5%, in the fourth quarter of 2009 as businesses rebuilt inventories that had been pared to the bone. Growth has been mediocre ever since, sputtering to a near-stall in the middle of last year, accelerating modestly late last year, and now slowing again. This recovery is as weak as the much-maligned "jobless recovery" of the last decade, which followed a mild recession and at least gained speed after the tax cut of 2003.
Most striking is that this weak growth follows everything that the Keynesian playbook said politicians should throw at the economy. First came $168 billion in one-time tax rebates in February 2008 under George W. Bush, then $814 billion more in spending spread over 2009-2010, cash for clunkers, the $8,000 home buyer tax credit, Hamp to prevent home foreclosures, the Detroit auto bailouts, billions for green jobs, a payroll tax cut for 2011, and of course near-zero interest rates for 28 months buttressed by quantitative easing I and II. We're probably forgetting something.
Imagine if President Obama had introduced his original stimulus in February 2009 with the vow that, 26 months later, GDP would be growing by 1.8% and the jobless rate would be 8.8%. Does anyone think it would have passed?
Liberal economists will blame this latest slowdown on spending cuts across all levels of government, and government spending did fall in the first quarter. But those modest declines follow the biggest government spending binge since World War II that was supposed to kick start the economy and then stop. Remember former White House chief economist Larry Summers's mantra that stimulus spending should be timely, targeted and temporary?
With deficits this year estimated to hit $1.65 trillion, are we really supposed to believe that more deficit spending will produce faster growth? Would $2 trillion do the trick, or how about $3 trillion? Two years after the stimulus debate began, the critics who said all of this spending would provide at most a temporary lift to GDP while saddling the economy with record deficits have been proven right.
The good news is that the private economy seems to have enough momentum to avoid a recession in the near term, but the danger is that growth will continue to be subpar. The evidence is that the combination of spendthrift fiscal policy and a wave of new regulatory costs and mandates are restraining business expansion and hiring.
Then there's the threat of higher tax rates on investment and business that we dodged for two years after the GOP won Congress but that President Obama has now promised for 2013 if he is re-elected. This too deters the animal spirits necessary for robust growth. The great risk is stagflation, a la the 1970s, when easy money tried to compensate for bad fiscal and regulatory policy, which led to sluggish growth, rising prices and declines in real wages.
***
The contrast in results between the current recovery and the Reagan years is instructive because the policy mix was so different. In the 1980s, the policy goals were to cut tax rates, reduce regulatory costs and uncertainty, let the private economy allocate capital free of political direction, and focus monetary policy on price stability rather than on reducing unemployment. This is the policy mix we need to rediscover if we are going to escape our current malaise and stop suffering from the Keynesian discount.
quinta-feira, abril 28, 2011
Brazil’s boom masks growing vulnerabilities
By John Paul Rathbone in Rio de Janeiro
Published: April 28 2011 16:29 | Last updated: April 28 2011 16:29
It has been almost 50 years since Astrud Gilberto and Stan Getz recorded the bossa-nova hit “The Girl from Ipanema”. Much has changed in Brazil since they sang of the tanned Rio de Janeiro beauty: “When she walks, she’s like a samba.”
The song has become elevator music and the young girl from Rio’s most famous beach district is now a grandmother. But not all the loveliness has faded. In some ways, those wistful days have returned. Brazil, once more, is enjoying the kind of economic boom it did when the song was first recorded.
In the mid-1960s, Brazil was in the midst of a state-led and debt-financed investment “miracle”. This fantasy of fast growth crashed during the Latin American debt crisis of the 1980s, which gave way to the grinding reforms and stabilisation packages of the 1990s.
Those, helped by the commodity price boom, laid the ground for steady growth during the 2000s. And now things have come full circle, with the overheated Brazilian “miracle” of the 2010s.
Much as when the girl from Ipanema first sashayed across the beach at Ipanema, Brazil’s current prosperity is being partly sustained by an economic model that promotes state-led investment and high debt. How long can this boom last?
It is a question at the forefront of the minds of those attending this year’s World Economic Forum on Latin America – the regional offshoot of its better known Davos cousin – which opened in Rio on Thursday. Set in a bay along from Ipanema beach, it considers the theme “Laying the Foundation for Latin America’s decade”.
That the coming decade might be Latin America’s is a self-congratulatory slogan that has caught on quickly. Like all marketing slogans, it is part truth and part intoxicating dream.
Brazil, like much of the region, sailed through the global financial crisis. Roaring Asian demand for the commodities it exports in such abundance – iron ore, ethanol, soya and other foods – buoyed Brazil’s terms of trade. This huge windfall allowed for a huge surge in imports, but masked growing vulnerabilities.
Plug in 2005 commodity prices, for example, and Brazil’s $23bn trade surplus would become a $20bn deficit. If Chinese demand for commodities were to fall – and it cannot be sustained for ever – Brazil’s growing deficit would explode.
Meanwhile, the government has pursued the state-led mega-projects – most particularly in the oil sector – in which Dilma Rousseff, the president, believes and that are part of a global ideological shift towards bigger government. The echoes with the 1960s and 1970s are eerie – and not just in Rio’s retro-looking buildings and street decor.
The Brazilian real is the most overvalued major currency in the world. Cheaper imports have made Brazilians feel richer, feeding a consumer boom. But domestic manufacturers have appealed for help – and the same kind of tariff protections that characterised the doomed economic model of bygone years.
Finally, to deal with the global financial crisis, the government opened up the taps – and has only just started to withdraw the stimulus. Ultra-low interest rates in the United States, Europe and Japan has flooded the country with capital, pumping up the economy further. Bank credit is now growing at a 20 per cent annual clip.
That has given Brazil’s economy an appearance of strength, but also risked stretching it thin. Typically, Brazilians now spend a quarter of disposable income on debt payments. At the height of the US credit boom, by contrast, American households spent about 15 per cent. If US interest rates were to rise, Brazil’s boom could turn to a sudden bust.
Managing abundance is hard. Economists increasingly warn Brazil and the region of the dangers of complacency and over-exuberance. High foreign exchange reserves provide some protection. But if the coming decade really is to be Latin America’s, more needs to be done: grinding out efficiency from the state, saving part of the commodity bonanza to maintain social programmes when tough times return, improving education and infrastructure to foster lasting productivity gains, all the while maintaining macroeconomic stability.
That is a difficult task. Yet unless it is met, the almost unprecedented current boom – as with so many in the past – will eventually pass Brazil by, just like the girl from Ipanema who when she walked to the sea, looked “straight ahead, not at me”. Ah, what a wasted opportunity that would be.
Published: April 28 2011 16:29 | Last updated: April 28 2011 16:29
It has been almost 50 years since Astrud Gilberto and Stan Getz recorded the bossa-nova hit “The Girl from Ipanema”. Much has changed in Brazil since they sang of the tanned Rio de Janeiro beauty: “When she walks, she’s like a samba.”
The song has become elevator music and the young girl from Rio’s most famous beach district is now a grandmother. But not all the loveliness has faded. In some ways, those wistful days have returned. Brazil, once more, is enjoying the kind of economic boom it did when the song was first recorded.
In the mid-1960s, Brazil was in the midst of a state-led and debt-financed investment “miracle”. This fantasy of fast growth crashed during the Latin American debt crisis of the 1980s, which gave way to the grinding reforms and stabilisation packages of the 1990s.
Those, helped by the commodity price boom, laid the ground for steady growth during the 2000s. And now things have come full circle, with the overheated Brazilian “miracle” of the 2010s.
Much as when the girl from Ipanema first sashayed across the beach at Ipanema, Brazil’s current prosperity is being partly sustained by an economic model that promotes state-led investment and high debt. How long can this boom last?
It is a question at the forefront of the minds of those attending this year’s World Economic Forum on Latin America – the regional offshoot of its better known Davos cousin – which opened in Rio on Thursday. Set in a bay along from Ipanema beach, it considers the theme “Laying the Foundation for Latin America’s decade”.
That the coming decade might be Latin America’s is a self-congratulatory slogan that has caught on quickly. Like all marketing slogans, it is part truth and part intoxicating dream.
Brazil, like much of the region, sailed through the global financial crisis. Roaring Asian demand for the commodities it exports in such abundance – iron ore, ethanol, soya and other foods – buoyed Brazil’s terms of trade. This huge windfall allowed for a huge surge in imports, but masked growing vulnerabilities.
Plug in 2005 commodity prices, for example, and Brazil’s $23bn trade surplus would become a $20bn deficit. If Chinese demand for commodities were to fall – and it cannot be sustained for ever – Brazil’s growing deficit would explode.
Meanwhile, the government has pursued the state-led mega-projects – most particularly in the oil sector – in which Dilma Rousseff, the president, believes and that are part of a global ideological shift towards bigger government. The echoes with the 1960s and 1970s are eerie – and not just in Rio’s retro-looking buildings and street decor.
The Brazilian real is the most overvalued major currency in the world. Cheaper imports have made Brazilians feel richer, feeding a consumer boom. But domestic manufacturers have appealed for help – and the same kind of tariff protections that characterised the doomed economic model of bygone years.
Finally, to deal with the global financial crisis, the government opened up the taps – and has only just started to withdraw the stimulus. Ultra-low interest rates in the United States, Europe and Japan has flooded the country with capital, pumping up the economy further. Bank credit is now growing at a 20 per cent annual clip.
That has given Brazil’s economy an appearance of strength, but also risked stretching it thin. Typically, Brazilians now spend a quarter of disposable income on debt payments. At the height of the US credit boom, by contrast, American households spent about 15 per cent. If US interest rates were to rise, Brazil’s boom could turn to a sudden bust.
Managing abundance is hard. Economists increasingly warn Brazil and the region of the dangers of complacency and over-exuberance. High foreign exchange reserves provide some protection. But if the coming decade really is to be Latin America’s, more needs to be done: grinding out efficiency from the state, saving part of the commodity bonanza to maintain social programmes when tough times return, improving education and infrastructure to foster lasting productivity gains, all the while maintaining macroeconomic stability.
That is a difficult task. Yet unless it is met, the almost unprecedented current boom – as with so many in the past – will eventually pass Brazil by, just like the girl from Ipanema who when she walked to the sea, looked “straight ahead, not at me”. Ah, what a wasted opportunity that would be.
quarta-feira, abril 27, 2011
Bernanke, o crente lunático
Saiu o statement do FOMC (Copom americano), que, conforme o esperado, decidiu manter as taxas de juros em ZERO, o que já ocorre desde 2008! Abaixo, segue o statement (em itálico), com meus comentários (em negrito).
Information received since the Federal Open Market Committee met in March indicates that the economic recovery is proceeding at a moderate pace and overall conditions in the labor market are improving gradually. Household spending and business investment in equipment and software continue to expand. However, investment in nonresidential structures is still weak, and the housing sector continues to be depressed. Sério? Mesmo com taxas de juros NULAS, os investimentos não deslancham? Por que será? Alguma explicação, Bernanke? Podemos levar o cavalo ao rio, mas não podemos forçá-lo a beber a água? Será que passa pela cabeça dos brilhantes economistas do Fed que o grau de incerteza gerado pela própria política do Fed pode estar assustando os investidores? Commodity prices have risen significantly since last summer, and concerns about global supplies of crude oil have contributed to a further increase in oil prices since the Committee met in March. E vai ficar nisso mesmo? Não vão dar uma única explicação dos MOTIVOS pelos quais as commodities dispararam de preço, justamente na época em que o segundo "quantitative easing" foi anunciado? A alta no preço das commodities veio do além? É culpa dos marcianos? Inflation has picked up in recent months, but longer-term inflation expectations have remained stable and measures of underlying inflation are still subdued. Sim, a inflação medida pelo CPI. Em 2006-2008 esta "inflação" também não incomodava muito, e isso não impediu o estouro da BOLHA imobiliária! Será, talvez, que a forma pela qual o Fed tenta mensurar a inflação possa estar errada? Claro, o preço do Ipad caiu. Mas quem come Ipad? A classe média americana vê seu custo de vida subir a cada ano, mas o Fed afirma que não há inflação. E, mesmo aceitando as métricas do Fed, a inflação implícita nos EUA está em 2,6% ao ano para os próximos 10 anos. Não é um patamar nada baixo, historicamente falando. Bernanke, você está brincando com fogo!
Consistent with its statutory mandate, the Committee seeks to foster maximum employment and price stability. The unemployment rate remains elevated, and measures of underlying inflation continue to be somewhat low, relative to levels that the Committee judges to be consistent, over the longer run, with its dual mandate. Ah, o mandato duplo! E esse desemprego, APESAR de todo o estímulo do Fed, continua perto de 9%? Que coisa, não? Será, talvez, que o próprio Fed não tem algo a ver com isso? Quando um remédio fracassa sistematicamente, o que o médico faz? Questiona o diagnóstico e o remédio? Claro que não! Ele aumenta a dose!!! Increases in the prices of energy and other commodities have pushed up inflation in recent months. The Committee expects these effects to be transitory, but it will pay close attention to the evolution of inflation and inflation expectations. Bernanke, COM BASE EM QUE você espera que a alta das commodities seja transitória? Com base em suas rezas noturnas, suas orações para deus? Há alguma explicação para tanto otimismo? Em 2007 você esperava também que a crise de subprime não iria se espalhar pelo resto da economia. Sua taxa de acerto não é das melhores. E se sua esperança for furada? Como fica? The Committee continues to anticipate a gradual return to higher levels of resource utilization in a context of price stability. E eu continuo antecipando um bilhete premiado na mega-sena. Será responsável de minha parte se eu gastar por conta?
To promote a stronger pace of economic recovery and to help ensure that inflation, over time, is at levels consistent with its mandate, the Committee decided today to continue expanding its holdings of securities as announced in November. Claro, o rabo é que abana o cachorro, e não o contrário. Se o banco central criar dinheiro do nada, então isso vai estimular o crescimento econômico e a criação de empregos. É lindo o mundo keynesiano! Mugabe acreditou nisso até o limite da lógica, e Zimbábue foi para o buraco. In particular, the Committee is maintaining its existing policy of reinvesting principal payments from its securities holdings and will complete purchases of $600 billion of longer-term Treasury securities by the end of the current quarter. The Committee will regularly review the size and composition of its securities holdings in light of incoming information and is prepared to adjust those holdings as needed to best foster maximum employment and price stability. O balanço do Fed saiu de menos de $ 900 bilhões em ativos para quase $ 3 trilhões atualmente. Mas Bernanke ainda não sabe se foi o suficiente! Quem sabe um terceiro "quantitative easing" com mais $ 600 bilhões não possa estimular melhor a economia? Se brincar de alquimista não tem custo, então vamos logo brincar direito, Ben!
The Committee will maintain the target range for the federal funds rate at 0 to 1/4 percent and continues to anticipate that economic conditions, including low rates of resource utilization, subdued inflation trends, and stable inflation expectations, are likely to warrant exceptionally low levels for the federal funds rate for an extended period. Isso, vamos manter artificialmente as taxas de juros em ZERO por um período extenso! Qual o problema? Mal-investments? Who cares? Bolha em commodities? It's not my problem! Wall Street ganhando bônus bilionários enquanto os trabalhadores de classe média sofrem com a inflação maior? Isso que é programa de transferência de riqueza! Viva o banco central expansionista! Quem quer dinheiro?
The Committee will continue to monitor the economic outlook and financial developments and will employ its policy tools as necessary to support the economic recovery and to help ensure that inflation, over time, is at levels consistent with its mandate. Agora sim, estou BEM mais tranquilo! O FOMC vai continuar "monitorando" o cenário econômico e proteger a poupança dos trabalhadores. "Desde 1913 cuidando de seu dinheiro", deveria ser o slogan do Fed. A inflação no período? "Apenas" 1.000%. Isso mesmo: MIL porcento! É o Fed tomando conta de seus dólares conquistados com suor. E não custa lembrar: era essa mesma turma "clarividente" que estava "monitorando" o cenário econômico em 2008...
terça-feira, abril 26, 2011
O que vai acontecer após o término do 'quantitative easing' 2?
Rodrigo Constantino, Palavra do gestor - Valor
No final de junho, chegará ao fim o segundo programa de "quantitative easing" (QE2) do Fed, consumindo US$ 600 bilhões. Qual será o impacto dessa retirada de estímulos no preço dos principais ativos?
Dependendo da premissa adotada, o efeito pode ser bem diferente. Alguns analistas nem mesmo ignoram a possibilidade de uma extensão do programa de estímulos: um QE3.
Há dados que mostram uma inegável recuperação da economia americana. Mas o ponto central é a sustentabilidade dessa recuperação. Afinal, a economia americana mais parece um doente na UTI, recebendo doses cavalares de adrenalina na veia. O que acontecerá quando os estímulos forem retirados?
Ninguém sabe ao certo. E essa extrema incerteza reduz o apetite dos empresários. As empresas americanas possuem uma montanha de dinheiro em caixa, mas não estão dispostas ainda a acelerar a taxa de investimentos. São muitas dúvidas pairando no ar. O governo americano, com seu déficit de quase US$ 1,5 trilhão, terá inevitavelmente que aumentar impostos no futuro. Os empresários, antecipando isso, ficam com apetite menor para investir. Não obstante, as mudanças regulatórias pós-crise geram mais incertezas ainda.
Por fim, as taxas de juros anormalmente baixas produzem investimentos ruins, distorcendo os preços na economia e quebrando o termômetro dos empresários. Investimentos que não seriam rentáveis acabam parecendo interessantes, e recursos são desviados para projetos ineficientes.
O setor de tecnologia passa por uma renovação em seu ciclo de investimentos. Empresas como Facebook levantaram bilhões de investidores, mas são empresas que geram poucos empregos diretos. Além disso, houve um aumento do desemprego estrutural nos EUA, pois muitas pessoas se tornaram corretores com a bolha imobiliária, e agora não possuem qualificação adequada para novas áreas. Treinar essas pessoas leva muito tempo. Mas como o Fed possui um mandato duplo, de mirar na inflação e no emprego, pode ser que ele decida manter uma política monetária expansionista por mais tempo.
Esse cenário é extremamente arriscado. O valor do dólar está perto de seu patamar mínimo de 2008, antes de estourar a crise mundial. Isso, por sua vez, ajuda a elevar o preço das commodities, que são negociadas em dólar. Como consequência, as economias emergentes desfrutam um momento favorável, mas os preços começam a subir, primeiro dos produtores, e depois dos consumidores. O mundo está agora vivendo esta etapa do ciclo. Se o Fed normalizar suas taxas e retirar os estímulos, um "crash" no preço das commodities não pode ser descartado. Isso teria efeitos catastróficos para algumas economias emergentes, incluindo o Brasil.
Por outro lado, se o Fed mantiver sua postura recente, novas bolhas poderão ser formadas, e a inflação poderá sair de controle nos países emergentes, e depois também nos países desenvolvidos. O governo americano e o Fed parecem estar abusando daquilo que Charles De Gaulle chamou de "exorbitante privilégio", o fato de o dólar ser usado como moeda de reserva internacional. Sem ter para onde correr, credores como a China acabam reféns do dólar. O ouro, sintoma desses desequilíbrios todos, já chegou a US$ 1.500 a onça.
O que poderia salvar o dólar e colocar a economia americana num "bull market" sustentável? Apenas as duras reformas que endereçassem os rombos fiscais. Mas, como a Standard & Poor's avaliou, dificilmente haverá clima político para tanto. A agência colocou em "outlook" negativo a dívida soberana do país, algo que não ocorria há 50 anos. Apenas a responsabilidade fiscal poderia gerar a confiança necessária para investimentos produtivos, que produzem crescimento sustentável.
Sem isso, há apenas ciclos produzidos pela política monetária. O dólar pode ser "salvo", nesse caso, pela desgraça alheia, como ocorreu em 2008. Uma crise explodindo na Europa novamente, ou um "crash" nas commodities arrastando os países emergentes fariam com que todos corressem para liquidez, ou seja, para o dólar.
Eis o dilema dos investidores atualmente: se o Fed retirar os estímulos e normalizar os juros, ele pode matar a frágil recuperação, muito dependente dos próprios estímulos artificiais; mas se ele decidir estender sua política expansionista, o dólar corre sérios riscos, e as commodities podem virar uma nova bolha. Nesse caso, o cenário "mais do mesmo" dos últimos dois anos poderá continuar inalterado por algum tempo. Mas tem que ser corajoso - ou irresponsável - para apostar pesado nesse jogo explosivo.
Rodrigo Constantino é sócio da Graphus Capital
No final de junho, chegará ao fim o segundo programa de "quantitative easing" (QE2) do Fed, consumindo US$ 600 bilhões. Qual será o impacto dessa retirada de estímulos no preço dos principais ativos?
Dependendo da premissa adotada, o efeito pode ser bem diferente. Alguns analistas nem mesmo ignoram a possibilidade de uma extensão do programa de estímulos: um QE3.
Há dados que mostram uma inegável recuperação da economia americana. Mas o ponto central é a sustentabilidade dessa recuperação. Afinal, a economia americana mais parece um doente na UTI, recebendo doses cavalares de adrenalina na veia. O que acontecerá quando os estímulos forem retirados?
Ninguém sabe ao certo. E essa extrema incerteza reduz o apetite dos empresários. As empresas americanas possuem uma montanha de dinheiro em caixa, mas não estão dispostas ainda a acelerar a taxa de investimentos. São muitas dúvidas pairando no ar. O governo americano, com seu déficit de quase US$ 1,5 trilhão, terá inevitavelmente que aumentar impostos no futuro. Os empresários, antecipando isso, ficam com apetite menor para investir. Não obstante, as mudanças regulatórias pós-crise geram mais incertezas ainda.
Por fim, as taxas de juros anormalmente baixas produzem investimentos ruins, distorcendo os preços na economia e quebrando o termômetro dos empresários. Investimentos que não seriam rentáveis acabam parecendo interessantes, e recursos são desviados para projetos ineficientes.
O setor de tecnologia passa por uma renovação em seu ciclo de investimentos. Empresas como Facebook levantaram bilhões de investidores, mas são empresas que geram poucos empregos diretos. Além disso, houve um aumento do desemprego estrutural nos EUA, pois muitas pessoas se tornaram corretores com a bolha imobiliária, e agora não possuem qualificação adequada para novas áreas. Treinar essas pessoas leva muito tempo. Mas como o Fed possui um mandato duplo, de mirar na inflação e no emprego, pode ser que ele decida manter uma política monetária expansionista por mais tempo.
Esse cenário é extremamente arriscado. O valor do dólar está perto de seu patamar mínimo de 2008, antes de estourar a crise mundial. Isso, por sua vez, ajuda a elevar o preço das commodities, que são negociadas em dólar. Como consequência, as economias emergentes desfrutam um momento favorável, mas os preços começam a subir, primeiro dos produtores, e depois dos consumidores. O mundo está agora vivendo esta etapa do ciclo. Se o Fed normalizar suas taxas e retirar os estímulos, um "crash" no preço das commodities não pode ser descartado. Isso teria efeitos catastróficos para algumas economias emergentes, incluindo o Brasil.
Por outro lado, se o Fed mantiver sua postura recente, novas bolhas poderão ser formadas, e a inflação poderá sair de controle nos países emergentes, e depois também nos países desenvolvidos. O governo americano e o Fed parecem estar abusando daquilo que Charles De Gaulle chamou de "exorbitante privilégio", o fato de o dólar ser usado como moeda de reserva internacional. Sem ter para onde correr, credores como a China acabam reféns do dólar. O ouro, sintoma desses desequilíbrios todos, já chegou a US$ 1.500 a onça.
O que poderia salvar o dólar e colocar a economia americana num "bull market" sustentável? Apenas as duras reformas que endereçassem os rombos fiscais. Mas, como a Standard & Poor's avaliou, dificilmente haverá clima político para tanto. A agência colocou em "outlook" negativo a dívida soberana do país, algo que não ocorria há 50 anos. Apenas a responsabilidade fiscal poderia gerar a confiança necessária para investimentos produtivos, que produzem crescimento sustentável.
Sem isso, há apenas ciclos produzidos pela política monetária. O dólar pode ser "salvo", nesse caso, pela desgraça alheia, como ocorreu em 2008. Uma crise explodindo na Europa novamente, ou um "crash" nas commodities arrastando os países emergentes fariam com que todos corressem para liquidez, ou seja, para o dólar.
Eis o dilema dos investidores atualmente: se o Fed retirar os estímulos e normalizar os juros, ele pode matar a frágil recuperação, muito dependente dos próprios estímulos artificiais; mas se ele decidir estender sua política expansionista, o dólar corre sérios riscos, e as commodities podem virar uma nova bolha. Nesse caso, o cenário "mais do mesmo" dos últimos dois anos poderá continuar inalterado por algum tempo. Mas tem que ser corajoso - ou irresponsável - para apostar pesado nesse jogo explosivo.
Rodrigo Constantino é sócio da Graphus Capital
segunda-feira, abril 25, 2011
A falibilidade humana
Meu artigo publicado no OrdemLivre.org sobre a falibilidade humana e a postura humilde e tolerante dos liberais.
terça-feira, abril 19, 2011
Almas sensíveis
Rodrigo Constantino
“A força mais enérgica não chega perto da energia com que alguns defendem suas fraquezas.” (Karl Kraus)
A Arezzo anunciou que vai retirar do mercado sua nova coleção Pelemania após protestos em redes sociais da internet. O motivo dos protestos seria o uso de peles verdadeiras de coelho e raposa na coleção, ainda que a grande parte seja de pele sintética. O “ecologicamente correto”, derivado do “politicamente correto”, chegou a patamares impressionantes mesmo. Era a gota d’água que eu precisava para escrever este desabafo.
O mundo parece habitado cada vez mais por “almas sensíveis”. O que seria isso? São pessoas covardes, quase sempre membros da “elite culpada”, normalmente desfrutando do conforto que somente o capitalismo ocidental pode oferecer, e pregando diversas bandeiras “nobres” para se sentir moralmente superiores. Vamos salvar as baleias! Vamos salvar as tartarugas! Vamos salvar os ratos! Vamos salvar os mosquitos da dengue! Ops, talvez eu tenha exagerado um pouco. Mas o fato é que essa gente não encontra limites para suas causas “politicamente corretas”.
Só mesmo alguém que vive no conforto das cidades modernas poderia se dar ao luxo de lutar pelas raposas. Quem vive feito nômade no frio, sem calefação alimentada pelo “maldito” petróleo, daria um bom trocado para ter um casaco de pele que o aquecesse no inverno. Sim, a revolução industrial, também tão condenada pela esquerda, avançou a ponto de permitir o uso de pele sintética. Não é fantástico? Claro que sim. Mas nem por isso vamos repudiar aqueles que não colocam a vida das raposas no topo de sua hierarquia de valores. E também não vamos condenar o “ouro negro” enquanto usufruímos de sua imensa utilidade. No meu dicionário, isso se chama hipocrisia. Viu, Al Gore?
A maioria dos “eco-chatos” não anda de bicicleta para cima e para baixo, nem vive sem ar condicionado. Seria pedir demais. Eles idolatram a vida “natural”, reverenciam a “mãe natureza”, mas bem de longe. Afinal, como são bons esses avanços artificiais que as empresas em busca de lucro criaram! Elogiar o Jardim do Éden sob o refresco de um aparelho moderno de ar condicionado é fácil; difícil é enfrentar a mosquitada no baita calor da selva, sem um mísero ventilador e tendo que se defender de tudo que é bicho selvagem! Algumas pessoas, ao que parece, levaram muito a sério a antropomorfização dos bichos, que vemos nos filmes da Disney e Dreamworks. Correm o risco de se apaixonar por uma ovelha, como no filme de Woody Allen (ao menos o nível da conversa seria adequado).
Voltando às raposas e aos coelhos (estes ao menos mais fofinhos que aquelas), o fato é que alguns os encaram como úteis aos seres humanos, enquanto outros chegam a preferi-los em detrimento dos seres humanos. Eis a grande diferença que vejo. A turma do PETA chega a declarar ódio ao homo sapiens, o grande “vírus” do planeta (seria projeção daquilo que enxergam no espelho?). A misantropia chega a patamares absurdos quando é preciso salvar um mico-leão. Construir uma hidrelétrica que vai produzir eletricidade para milhões de pessoas? Só se isso não for causar impacto na vida dos sapos, que têm “direito” de ficar em paz no rio! Cada um com suas prioridades, não é mesmo?
Coelho é comida em diversos lugares do mundo. Pergunta aos mais sensíveis: qual o destino da pele dos coelhos que morrem para virar ensopado? Ou agora comer coelho também não pode mais? Está bem, eu mesmo confesso me sentir mal, pois o bicho é mesmo fofinho. Mas galinha pode? Vaca pode? Qual o critério? A “fofura” do bicho? Pode até ser um critério; afinal, seria impensável para mim a idéia de comer um cachorro. Mas e a raposa nessa história? Quem protege a raposa pretende adotar alguma, como animal de estimação? Melhor tomar cuidado com a conhecida astúcia do bicho...
Sei que radicalizei no desabafo. Claro que há gente com preocupação legítima quando se trata dos animais. Meu ponto não é atacar essas pessoas, mas sim os excessos, a ditadura do “politicamente correto”, esta tendência moderna de ignorar as dificuldades na vida e pregar um mundo idílico do conforto de suas casas aquecidas e com farta comida. Não suporto tanta hipocrisia. E também não tenho muita paciência com a covardia que caracteriza a modernidade, onde pululam as “almas sensíveis” e pusilânimes, vítimas do “consenso” que precisam agradar a todos. Como alertou T.S. Eliot, não importa o que você pense, mas esteja certo ao menos que é aquilo que você pensa. O mundo atual está repleto de “Maria-vai-com-as-outras”.
Vejamos um último exemplo sintomático: o tal do “bullying”. Agora virou moda mesmo. Qualquer coisa é culpa do “bullying”. Matou crianças friamente com tiros na cabeça? Sofreu “bullying” na infância, claro! E isso explica quase tudo. Responsabilidade individual? Livre arbítrio? Capacidade de escolha entre estímulo e resposta? Nada disso existe. Se alguém te chamou de “gorducho” no segundo ano do ensino fundamental, você pode ser um potencial assassino mais tarde.
Não importa que “bullying” seja tão antigo quanto a humanidade (e aqui recomendo o excelente livro “Senhor das Moscas”, de William Golding, que retrata de forma dura e realista a natureza humana, contra a visão romântica de “bom selvagem” de Rousseau). Karl Kraus alertou: “Primeiro se proteger das crianças, depois protegê-las!” Não importa também que os “especialistas” digam que cerca de 80% das crianças sofrem “bullying”, ou seja, quase todos são alvos de chacota ou ataques de outras crianças. Aquilo que todos vivenciam não pode ser justificativa para atos isolados de uma minoria, pode? Mas a lógica também não importa. O importante é culpar o “bullying” por qualquer atrocidade cometida pelos marmanjos.
Vamos criar um mundo cheio de “mané”, onde vai parar na cadeia aquele que chamar o coleguinha de “zarolho”. Ninguém terá que aprender a se defender sozinho, a enfrentar os outros, e suportar os ataques e ofensas. Teremos o estado para tanto! É a ditadura dos medíocres, medrosos e covardes. Eles chegaram ao poder. E implantaram a ditadura do “politicamente correto”. Dureza...
Como era gostoso nosso comunismo
ARNALDO JABOR
O Estado de S.Paulo
O artigo que FHC escreveu sobre um possível programa novo para o falecido PSDB caiu na boca maldita do dia a dia, no cafezinho ideológico dos sabotadores e oportunistas. Todos sabem o que ele quis dizer, mas fingem que não, para manter o mito sem vergonha da "herança maldita" que eles conseguiram emplacar, graças à ignorância política do povão, sim. O povão não tem educação política para entender a complexidade de um projeto social democrata, que é o único que pode enxugar os absurdos que incham um Estado falido, mas que os demagogos ainda conseguem enfeitar de "patrimônio nacional". Sempre distorcem o que FHC fala, num permanente desejo de fazê-lo "direitista", neoliberal e outros ridículos xingamentos.
Ele quis dizer que o PSDB não deve continuar surripiando o discurso populista e demagógico do PT, na base de "fome" de um lado e "indigestão" do outro. Disse que o PSDB tem a tarefa de explicar o complexo programa social democrata, para a nova classe média que se forma aqui. Na mesma hora o Lulão, atual showman e palestrante, acusou-o de desprezar o "povão". Um dia, essa mentirada ainda vai ser corrigida pelos historiadores sérios do futuro. Se é que haverá futuro... Mas, eu entendo a cabeça dos comunistas. Não dos picaretas de hoje, mas dos bons e generosos comunas de 30, 40 anos atrás: românticos e corajosos. E iam à luta - não estavam atrás de boquinhas e mensalões.
Ai, que saudades do comunismo... O povão era nossa boa consciência, o povão era nosso salvo-conduto para a alma pacificada, sem culpas - o povão era nossa salvação. O ritmo das coisas tinha a linearidade de um filme acadêmico. Nós, jovens de esquerda, falávamos muito em "luta de classes", mas não conhecíamos ainda a violência da "reação". Acreditávamos em um Papai Noel histórico.
Mas, mesmo assim, como num Amarcord vermelho, eu me lembro com saudade dos anos 60, durante a Guerra Fria... Ah, como era bom se sentir acima dos outros, por superioridade ética. Nós éramos mais "puros", mais poéticos, mais heroicos que os meus colegas da PUC, todos já de gravatinhas adultas.
Eu, não. Eu era comunista. Andava mal vestido, com minha testa alta, barba revolucionária, citando Lenin em francês: "La Liberté, pour quoi faire?" (Liberdade, pra quê?"). Ah... como era bom se sentir superior a um mundo povoado de "burgueses, caretas e babacas", como eu classificava a humanidade. E todo esse charme vinha sem esforço, sem estudar nada; bastava ler um ou outro livrinho da Academia da URSS, decorar meia dúzia de slogans e pronto, eu podia andar com minha camisa de marinheiro aberta ao vento e vagar por Copacabana, olhando em volta a população de "alienados", trabalhando em suas vidas "medíocres".
Ah... que saudades dos amores de esquerda, quando eu cantava as meninas ainda sem a maquiagem burguesa, a quem eu lançava a cantada infalível: "Não seja "pequeno-burguesa" e entra aí no "aparelho", meu bem... Nosso amor também é uma forma de luta contra o imperialismo".
Como nós amávamos os operários, que na época eram o "futuro da humanidade". Nas oficinas do jornal comuna que fazíamos, crivavam-nos de perguntas e agrados, sendo que os ditos operários ficavam desconfiados e pensavam que nós éramos veados e não fervorosos marxistas.
Como me alegrei quando Mao Tsé-tung proibiu Beethoven na "revolução cultural", pensando: "Claro, temos de raspar tudo que a burguesia inventou e começar de novo" - um mundo novo feito de agricultura e homens fardados de cinza, rindo, felizes, unidos pelo futuro do "povão". Tiveram de matar uns 10 milhões de "alienados", mas era para o Bem...
Como era bom ignorar as neuroses pequeno-burguesas de minha mente, pois eu não me sabia melancólico e narcisista; eu era apenas um comunista "saudável" como um cartaz de balé chinês. Amava as reuniões secretas - muito cigarro e a sensação de viver uma missão profunda. As discussões sem fim: "questão de ordem, companheiro!", "o companheiro está numa posição revisionista" ou "a companheira está sendo sectária
em não querer dar para mim".
E a beleza de não ter um tostão e pedir dinheiro à mãe ou roubar do paletó do pai (milico "reaça") para comprar Marlboro de contrabando (meu secreto pecado)? Era belo não ter um puto e se orgulhar disso, na convivência dos botequins, olhando os operários bêbedos de pobreza e pensar: "Um dia eles serão "homens totais", "sujeitos da história", enquanto os mendigos vomitavam no meio-fio - gente que eu chamava com
desprezo de "lumpens"".
Que saudades. Tudo era possível - bastava convencer o proletariado de que os burgueses malvados, aliados ao latifúndio improdutivo e dominados pelo imperialismo americano eram a causa de seus males. Pronto; aí, os proletários conscientizados tomariam o poder, e tudo seria perfeito e bom. Por isso, eu tenho hoje tanta saudade da generosa burrice que nos assolava.
E depois, quando a barra pesou de 68 em diante, com a dura frieza da era Médici, lembro-me do sentimento de ser uma "vítima" real da ditadura, fugindo da morte, ajudando os reais suicidas que faziam a guerra urbana, achando que iam derrotar o Exército com meia dúzia de revólveres e assaltos a banco. Muitos morreram. E, mesmo na tragédia daqueles dias, senti a delícia dolorida de ser uma vítima "santificada" da violência da direita, e isso me enobrecia, sempre acima dos "babacas, burgueses e caretas".
Um dia, um companheiro (que morreu há pouco...) me disse: "Não tema a morte. Marx disse que somos seres sociais. Assim, o indivíduo é uma ilusão. Para o comunista a morte não existe." E eu sonhei com a vida eterna.
Era bom, era lindo. Por isso, quando vejo as demonstrações de bolchevismo arcaico nos arredores do governo, não me horrorizo, nem reclamo, como fazem esses meus colegas jornalistas "burgueses, neoliberais vendidos aos patrões". Ao contrário, tenho até vontade de chorar pelos bons tempos...
Comentário: O "mea culpa" de Jabor é interessante por alguns aspectos. Mostra como "revolucionários" fanáticos, na maioria dos casos jovens, abraçam suas seitas em busca desta sensação de "superioridade moral". Eles são os únicos "donos da Verdade"; o restante não passa de um bando de alienados, vítimas do "sistema". Para eles, basta repetir uns 3 slogans tirados do livro de um "guru" da seita, e pronto: o mundo está compreendido, eles possuem a razão, e são os únicos defensores da Justiça, Amém!
São os verdadeiros alienados, que juram ter compreendido o complexo mundo dos homens, apresentando "soluções" prontas, mágicas, SIMPLES! É tudo tão simples... Luta de classes, capital x trabalho, exploradores x explorados, tudo culpa "deles", dos opressores. O monopólio das virtudes é a marca registrada dessa turma. Somente eles querem realmente lutar pelos fins nobres. Quem discorda de seus meios, de suas premissas, só pode ser um inimigo da liberdade, da Justiça, claro!
E que entorpecimento deve gerar ser membro de uma seita dessas... O herói pela Justiça, pela liberdade, contra o mundo de alienados que precisam ser libertados. Os únicos com uma ideologia "científica", contra os demais, todos ignorantes. E não pensem que somente comunistas são assim! Muitos anarquistas ditos "libertários" assumem a mesma postura, de seita fechada, de detentores da Verdade absoluta, onde basta discordar de uma vírgula para ser tachado de "herege", de inimigo da liberdade. Infelizmente, o fanatismo religioso/ideológico ainda conquista muitos seguidores, loucos por essa "solução definitiva" para os complexos problemas da humanidade. São intolerantes e perigosos esses fanáticos.
O Estado de S.Paulo
O artigo que FHC escreveu sobre um possível programa novo para o falecido PSDB caiu na boca maldita do dia a dia, no cafezinho ideológico dos sabotadores e oportunistas. Todos sabem o que ele quis dizer, mas fingem que não, para manter o mito sem vergonha da "herança maldita" que eles conseguiram emplacar, graças à ignorância política do povão, sim. O povão não tem educação política para entender a complexidade de um projeto social democrata, que é o único que pode enxugar os absurdos que incham um Estado falido, mas que os demagogos ainda conseguem enfeitar de "patrimônio nacional". Sempre distorcem o que FHC fala, num permanente desejo de fazê-lo "direitista", neoliberal e outros ridículos xingamentos.
Ele quis dizer que o PSDB não deve continuar surripiando o discurso populista e demagógico do PT, na base de "fome" de um lado e "indigestão" do outro. Disse que o PSDB tem a tarefa de explicar o complexo programa social democrata, para a nova classe média que se forma aqui. Na mesma hora o Lulão, atual showman e palestrante, acusou-o de desprezar o "povão". Um dia, essa mentirada ainda vai ser corrigida pelos historiadores sérios do futuro. Se é que haverá futuro... Mas, eu entendo a cabeça dos comunistas. Não dos picaretas de hoje, mas dos bons e generosos comunas de 30, 40 anos atrás: românticos e corajosos. E iam à luta - não estavam atrás de boquinhas e mensalões.
Ai, que saudades do comunismo... O povão era nossa boa consciência, o povão era nosso salvo-conduto para a alma pacificada, sem culpas - o povão era nossa salvação. O ritmo das coisas tinha a linearidade de um filme acadêmico. Nós, jovens de esquerda, falávamos muito em "luta de classes", mas não conhecíamos ainda a violência da "reação". Acreditávamos em um Papai Noel histórico.
Mas, mesmo assim, como num Amarcord vermelho, eu me lembro com saudade dos anos 60, durante a Guerra Fria... Ah, como era bom se sentir acima dos outros, por superioridade ética. Nós éramos mais "puros", mais poéticos, mais heroicos que os meus colegas da PUC, todos já de gravatinhas adultas.
Eu, não. Eu era comunista. Andava mal vestido, com minha testa alta, barba revolucionária, citando Lenin em francês: "La Liberté, pour quoi faire?" (Liberdade, pra quê?"). Ah... como era bom se sentir superior a um mundo povoado de "burgueses, caretas e babacas", como eu classificava a humanidade. E todo esse charme vinha sem esforço, sem estudar nada; bastava ler um ou outro livrinho da Academia da URSS, decorar meia dúzia de slogans e pronto, eu podia andar com minha camisa de marinheiro aberta ao vento e vagar por Copacabana, olhando em volta a população de "alienados", trabalhando em suas vidas "medíocres".
Ah... que saudades dos amores de esquerda, quando eu cantava as meninas ainda sem a maquiagem burguesa, a quem eu lançava a cantada infalível: "Não seja "pequeno-burguesa" e entra aí no "aparelho", meu bem... Nosso amor também é uma forma de luta contra o imperialismo".
Como nós amávamos os operários, que na época eram o "futuro da humanidade". Nas oficinas do jornal comuna que fazíamos, crivavam-nos de perguntas e agrados, sendo que os ditos operários ficavam desconfiados e pensavam que nós éramos veados e não fervorosos marxistas.
Como me alegrei quando Mao Tsé-tung proibiu Beethoven na "revolução cultural", pensando: "Claro, temos de raspar tudo que a burguesia inventou e começar de novo" - um mundo novo feito de agricultura e homens fardados de cinza, rindo, felizes, unidos pelo futuro do "povão". Tiveram de matar uns 10 milhões de "alienados", mas era para o Bem...
Como era bom ignorar as neuroses pequeno-burguesas de minha mente, pois eu não me sabia melancólico e narcisista; eu era apenas um comunista "saudável" como um cartaz de balé chinês. Amava as reuniões secretas - muito cigarro e a sensação de viver uma missão profunda. As discussões sem fim: "questão de ordem, companheiro!", "o companheiro está numa posição revisionista" ou "a companheira está sendo sectária
em não querer dar para mim".
E a beleza de não ter um tostão e pedir dinheiro à mãe ou roubar do paletó do pai (milico "reaça") para comprar Marlboro de contrabando (meu secreto pecado)? Era belo não ter um puto e se orgulhar disso, na convivência dos botequins, olhando os operários bêbedos de pobreza e pensar: "Um dia eles serão "homens totais", "sujeitos da história", enquanto os mendigos vomitavam no meio-fio - gente que eu chamava com
desprezo de "lumpens"".
Que saudades. Tudo era possível - bastava convencer o proletariado de que os burgueses malvados, aliados ao latifúndio improdutivo e dominados pelo imperialismo americano eram a causa de seus males. Pronto; aí, os proletários conscientizados tomariam o poder, e tudo seria perfeito e bom. Por isso, eu tenho hoje tanta saudade da generosa burrice que nos assolava.
E depois, quando a barra pesou de 68 em diante, com a dura frieza da era Médici, lembro-me do sentimento de ser uma "vítima" real da ditadura, fugindo da morte, ajudando os reais suicidas que faziam a guerra urbana, achando que iam derrotar o Exército com meia dúzia de revólveres e assaltos a banco. Muitos morreram. E, mesmo na tragédia daqueles dias, senti a delícia dolorida de ser uma vítima "santificada" da violência da direita, e isso me enobrecia, sempre acima dos "babacas, burgueses e caretas".
Um dia, um companheiro (que morreu há pouco...) me disse: "Não tema a morte. Marx disse que somos seres sociais. Assim, o indivíduo é uma ilusão. Para o comunista a morte não existe." E eu sonhei com a vida eterna.
Era bom, era lindo. Por isso, quando vejo as demonstrações de bolchevismo arcaico nos arredores do governo, não me horrorizo, nem reclamo, como fazem esses meus colegas jornalistas "burgueses, neoliberais vendidos aos patrões". Ao contrário, tenho até vontade de chorar pelos bons tempos...
Comentário: O "mea culpa" de Jabor é interessante por alguns aspectos. Mostra como "revolucionários" fanáticos, na maioria dos casos jovens, abraçam suas seitas em busca desta sensação de "superioridade moral". Eles são os únicos "donos da Verdade"; o restante não passa de um bando de alienados, vítimas do "sistema". Para eles, basta repetir uns 3 slogans tirados do livro de um "guru" da seita, e pronto: o mundo está compreendido, eles possuem a razão, e são os únicos defensores da Justiça, Amém!
São os verdadeiros alienados, que juram ter compreendido o complexo mundo dos homens, apresentando "soluções" prontas, mágicas, SIMPLES! É tudo tão simples... Luta de classes, capital x trabalho, exploradores x explorados, tudo culpa "deles", dos opressores. O monopólio das virtudes é a marca registrada dessa turma. Somente eles querem realmente lutar pelos fins nobres. Quem discorda de seus meios, de suas premissas, só pode ser um inimigo da liberdade, da Justiça, claro!
E que entorpecimento deve gerar ser membro de uma seita dessas... O herói pela Justiça, pela liberdade, contra o mundo de alienados que precisam ser libertados. Os únicos com uma ideologia "científica", contra os demais, todos ignorantes. E não pensem que somente comunistas são assim! Muitos anarquistas ditos "libertários" assumem a mesma postura, de seita fechada, de detentores da Verdade absoluta, onde basta discordar de uma vírgula para ser tachado de "herege", de inimigo da liberdade. Infelizmente, o fanatismo religioso/ideológico ainda conquista muitos seguidores, loucos por essa "solução definitiva" para os complexos problemas da humanidade. São intolerantes e perigosos esses fanáticos.
Buffett mostra que está longe de ser um modelo moral
Jonathan Weil | Bloomberg, de Nova York
19/04/2011
Muito tempo atrás, quando eu era um jovem repórter que cobria o Legislativo do Estado de Arkansas para o jornal da cidade de Little Rock, eu ouvia periodicamente nos corredores uma ladainha sobre o padrão moral dominante adotado pelos parlamentares ao defender os interesses do povo, chamado "a regra do faça direito".
Ela determinava: se sou eu que faço, precisa sair direito. Isso nos leva ao assunto Warren Buffett, partidário de longa data de sua própria versão da regra do faça direito, que não tem qualquer significado especial a não ser o fato de ser versátil e soar informal e popularesca. O problema com essa regra é que ela funciona bem até o momento em que não funcionar bem. E, ultimamente, no caso de Buffett, um dos maiores criadores de valor de todos os tempos, seu funcionamento não tem sido tão bom.
Veja-se a ríspida reação pública à despedida calorosa dada por Buffett na semana retrasada a David Sokol, 54, diretor de várias subsidiárias da Berkshire Hathaway que vinha sendo encarado, em amplos círculos, como sucessor de Buffett no banco dos reservas.
Na carta em que informava o pedido surpresa de demissão de Sokol, Buffet elogiou as "extraordinárias" contribuições de Sokol. Contou como Sokol comprara milhões de dólares de ações da Lubrizol para si mesmo, pouco antes de ter sugerido (com sucesso) a Buffett que a Berkshire comprasse a empresa. Foi tudo dentro da legalidade, opinou Buffett. Buffett também nos contou que Sokol tinha dito que suas compras de papéis da Lubrizol "não pesaram em sua decisão de pedir demissão", como se desse para acreditar.
Só no fim de sua carta é que comecei a me perguntar se Buffett tinha ficado louco. "Eu não omiti nada nesta declaração", disse ele. "Portanto, se for questionado sobre esse assunto no futuro, simplesmente reencaminharei o questionante a este informe."
Portanto, não são apenas alguns questionantes que obterão o tratamento de "O Grande Oz Falou" de Buffett. Todos os questionantes o obterão, o que é loucura. Quero dizer, o que ele fará se e quando a Securities and Exchange Commission (SEC) lhe perguntar sobre as transações de Sokol? Vai recorrer à 5ª Emenda [que reserva ao cidadão o direito de não dar declaração que deponha contra si mesmo]?
Este deveria ser um momento de definição para Buffett, e para a opinião pública, por cuja adulação de astro do rock ele anseia. Talvez agora o mundo compreenderá que nós nunca deveríamos tê-lo colocado como exemplo - e aceitado sua mise-en-scène -, como modelo moral na área de negócios.
Claro, podemos admirar seu talento para a análise de ações e seu sucesso na construção de um império e no seu enriquecimento, e o de muitos outros investidores. Mas vamos deixar de lado as exaltações à sua fala franca e sua ambição de ter um caráter forte. Ele é o principal executivo de uma companhia, meu Deus do céu! Esses são os tipos de artimanhas que passamos a esperar de muitos executivos.
Buffett, cujo histórico em termos de arranhões de reputação é longo e variado, não é exceção.
Ele estava no comitê de auditoria do conselho de administração da Coca-Cola quando a SEC descobriu que a empresa tinha ludibriado os investidores sobre seus lucros durante a década de 1990. Ele silenciou sobre a Moody's quando ela enganou a opinião pública com incontáveis notas AAA para todo aquele lixo de bônus de crédito imobiliário "subprime", quando a Berkshire era sua maior acionista.
Quatro ex-executivos da divisão Gen Re da Berkshire receberam sentenças de prisão por ajudar o American Internacional Group (ING) a cometer fraude contábil uma década atrás. Pelo menos nesse caso, depois que a Gen Re pagou US$ 92 milhões, no ano passado, para encerrar com acordo denúncias dos investidores e pôr fim às investigações do governo, Buffett reconheceu publicamente que a empresa tinha feito coisa errada.
E qual será, na verdade, o grau de importância que o conselho de administração da Berkshire atribui ao uso de informações privilegiadas por pessoas de sua confiança, afinal?
A empresa manteve a Deloitte & Touche como sua auditoria externa depois de saber, em 2008, que o vice-presidente da Deloitte comprou e vendeu freneticamente ações da Berkshire quando era um dos sócios consultivos na auditoria da Berkshire. Isso fez com que a Deloitte e a Berkshire infringissem as normas da SEC sobre a independência dos auditores, disse o órgão no ano passado.
Em vez de mudar de empresa, no entanto, a Berkshire concluiu que a Deloitte era independente, de qualquer maneira. A SEC aceitou isso, o que, em última instância, era o que interessava, e não alguma virtude maior da Berkshire em manter aparências impolutas. (O ex-sócio da Deloitte pagou no ano passado cerca de US$ 1 milhão para encerrar com acordo as acusações de fraude interpostas pela SEC.)
Às vezes as grandes mentiras da Berkshire são mais sutis. A última declaração para voto por procuração da empresa arrola Bill Gates, presidente do conselho de administração da Microsoft, como um conselheiro "independente", embora Buffett tenha comprometido a maior parte de sua fortuna de US$ 47 bilhões com a Fundação Bill & Melinda Gates. Isso pode estar certo pela definição de "independente" da SEC, mas não pelos padrões do senso comum.
Outro conselheiro supostamente independente é Walter Scott, que detém 9,4% das ações com poder de voto na MidAmerican Energy Holdings, subsidiária da Berkshire, da qual Sokol está pedindo afastamento como presidente do conselho de administração. A declaração para voto por procuração da Berkshire nos assegura que essas questões foram devidamente examinadas.
A Berkshire encaminha milhões de dólares de honorários, todos os anos, para a Munger, Tolles & Olson, o velho escritório de advocacia do vice-presidente de seu conselho de administração, Charlie Munger, onde o diretor da Berkshire Ronald Olson é um dos sócios. Entre os demais conselheiros estão o filho de Buffett, Howard. Na maioria das empresas com ações negociadas em bolsa esses acordos seriam tidos como exemplos de má governança. Pelo fato de se tratar de Buffett, a Berkshire normalmente tem salvo-conduto.
Existe um parâmetro pelo qual Buffett, de 80 anos, tem sido enormemente bem-sucedido: "No caso da Berkshire, lhe dissemos muito tempo atrás que nossa tarefa é aumentar o valor intrínseco por ação a uma taxa superior ao aumento (incluindo dividendos) da S&P 500", escreveu Buffett em sua mais recente carta anual aos acionistas.
Isso, ao lado de encontrar um sucessor capacitado, é o padrão pelo qual os investidores deveriam julgá-lo e vão julgá-lo. Alguém que esteja à cata de um herói para idolatrar deve procurá-lo em outro lugar.
Jonathan Weil é colunista da Bloomberg News
Comentário: no mundo real, como é difícil ter heróis! John Galt é ficção, não custa lembrar. Existem pessoas admiráveis, sem dúvida. Mas são seres humanos, repletos de imperfeições e defeitos. Por isso sempre fui uma espécie de iconoclasta: detesto a idolatria, não gosto da idéia de colocar homens em pedestais. Não é relativismo exacerbado, pois não somos "todos iguais". Há gente melhor e gente pior, sem dúvida. Mas só preserva a "pureza" aqueles que vivem eternamente numa Torre de Marfim, sem ousar, sem colocar em prática suas idéias, sem viver no mundo real dos trade-offs, e não das "soluções mágicas". Buffett tem inúmeras qualidades e merece respeito dos defensores do capitalismo. Mas tem gente que extrapola na reverência...
19/04/2011
Muito tempo atrás, quando eu era um jovem repórter que cobria o Legislativo do Estado de Arkansas para o jornal da cidade de Little Rock, eu ouvia periodicamente nos corredores uma ladainha sobre o padrão moral dominante adotado pelos parlamentares ao defender os interesses do povo, chamado "a regra do faça direito".
Ela determinava: se sou eu que faço, precisa sair direito. Isso nos leva ao assunto Warren Buffett, partidário de longa data de sua própria versão da regra do faça direito, que não tem qualquer significado especial a não ser o fato de ser versátil e soar informal e popularesca. O problema com essa regra é que ela funciona bem até o momento em que não funcionar bem. E, ultimamente, no caso de Buffett, um dos maiores criadores de valor de todos os tempos, seu funcionamento não tem sido tão bom.
Veja-se a ríspida reação pública à despedida calorosa dada por Buffett na semana retrasada a David Sokol, 54, diretor de várias subsidiárias da Berkshire Hathaway que vinha sendo encarado, em amplos círculos, como sucessor de Buffett no banco dos reservas.
Na carta em que informava o pedido surpresa de demissão de Sokol, Buffet elogiou as "extraordinárias" contribuições de Sokol. Contou como Sokol comprara milhões de dólares de ações da Lubrizol para si mesmo, pouco antes de ter sugerido (com sucesso) a Buffett que a Berkshire comprasse a empresa. Foi tudo dentro da legalidade, opinou Buffett. Buffett também nos contou que Sokol tinha dito que suas compras de papéis da Lubrizol "não pesaram em sua decisão de pedir demissão", como se desse para acreditar.
Só no fim de sua carta é que comecei a me perguntar se Buffett tinha ficado louco. "Eu não omiti nada nesta declaração", disse ele. "Portanto, se for questionado sobre esse assunto no futuro, simplesmente reencaminharei o questionante a este informe."
Portanto, não são apenas alguns questionantes que obterão o tratamento de "O Grande Oz Falou" de Buffett. Todos os questionantes o obterão, o que é loucura. Quero dizer, o que ele fará se e quando a Securities and Exchange Commission (SEC) lhe perguntar sobre as transações de Sokol? Vai recorrer à 5ª Emenda [que reserva ao cidadão o direito de não dar declaração que deponha contra si mesmo]?
Este deveria ser um momento de definição para Buffett, e para a opinião pública, por cuja adulação de astro do rock ele anseia. Talvez agora o mundo compreenderá que nós nunca deveríamos tê-lo colocado como exemplo - e aceitado sua mise-en-scène -, como modelo moral na área de negócios.
Claro, podemos admirar seu talento para a análise de ações e seu sucesso na construção de um império e no seu enriquecimento, e o de muitos outros investidores. Mas vamos deixar de lado as exaltações à sua fala franca e sua ambição de ter um caráter forte. Ele é o principal executivo de uma companhia, meu Deus do céu! Esses são os tipos de artimanhas que passamos a esperar de muitos executivos.
Buffett, cujo histórico em termos de arranhões de reputação é longo e variado, não é exceção.
Ele estava no comitê de auditoria do conselho de administração da Coca-Cola quando a SEC descobriu que a empresa tinha ludibriado os investidores sobre seus lucros durante a década de 1990. Ele silenciou sobre a Moody's quando ela enganou a opinião pública com incontáveis notas AAA para todo aquele lixo de bônus de crédito imobiliário "subprime", quando a Berkshire era sua maior acionista.
Quatro ex-executivos da divisão Gen Re da Berkshire receberam sentenças de prisão por ajudar o American Internacional Group (ING) a cometer fraude contábil uma década atrás. Pelo menos nesse caso, depois que a Gen Re pagou US$ 92 milhões, no ano passado, para encerrar com acordo denúncias dos investidores e pôr fim às investigações do governo, Buffett reconheceu publicamente que a empresa tinha feito coisa errada.
E qual será, na verdade, o grau de importância que o conselho de administração da Berkshire atribui ao uso de informações privilegiadas por pessoas de sua confiança, afinal?
A empresa manteve a Deloitte & Touche como sua auditoria externa depois de saber, em 2008, que o vice-presidente da Deloitte comprou e vendeu freneticamente ações da Berkshire quando era um dos sócios consultivos na auditoria da Berkshire. Isso fez com que a Deloitte e a Berkshire infringissem as normas da SEC sobre a independência dos auditores, disse o órgão no ano passado.
Em vez de mudar de empresa, no entanto, a Berkshire concluiu que a Deloitte era independente, de qualquer maneira. A SEC aceitou isso, o que, em última instância, era o que interessava, e não alguma virtude maior da Berkshire em manter aparências impolutas. (O ex-sócio da Deloitte pagou no ano passado cerca de US$ 1 milhão para encerrar com acordo as acusações de fraude interpostas pela SEC.)
Às vezes as grandes mentiras da Berkshire são mais sutis. A última declaração para voto por procuração da empresa arrola Bill Gates, presidente do conselho de administração da Microsoft, como um conselheiro "independente", embora Buffett tenha comprometido a maior parte de sua fortuna de US$ 47 bilhões com a Fundação Bill & Melinda Gates. Isso pode estar certo pela definição de "independente" da SEC, mas não pelos padrões do senso comum.
Outro conselheiro supostamente independente é Walter Scott, que detém 9,4% das ações com poder de voto na MidAmerican Energy Holdings, subsidiária da Berkshire, da qual Sokol está pedindo afastamento como presidente do conselho de administração. A declaração para voto por procuração da Berkshire nos assegura que essas questões foram devidamente examinadas.
A Berkshire encaminha milhões de dólares de honorários, todos os anos, para a Munger, Tolles & Olson, o velho escritório de advocacia do vice-presidente de seu conselho de administração, Charlie Munger, onde o diretor da Berkshire Ronald Olson é um dos sócios. Entre os demais conselheiros estão o filho de Buffett, Howard. Na maioria das empresas com ações negociadas em bolsa esses acordos seriam tidos como exemplos de má governança. Pelo fato de se tratar de Buffett, a Berkshire normalmente tem salvo-conduto.
Existe um parâmetro pelo qual Buffett, de 80 anos, tem sido enormemente bem-sucedido: "No caso da Berkshire, lhe dissemos muito tempo atrás que nossa tarefa é aumentar o valor intrínseco por ação a uma taxa superior ao aumento (incluindo dividendos) da S&P 500", escreveu Buffett em sua mais recente carta anual aos acionistas.
Isso, ao lado de encontrar um sucessor capacitado, é o padrão pelo qual os investidores deveriam julgá-lo e vão julgá-lo. Alguém que esteja à cata de um herói para idolatrar deve procurá-lo em outro lugar.
Jonathan Weil é colunista da Bloomberg News
Comentário: no mundo real, como é difícil ter heróis! John Galt é ficção, não custa lembrar. Existem pessoas admiráveis, sem dúvida. Mas são seres humanos, repletos de imperfeições e defeitos. Por isso sempre fui uma espécie de iconoclasta: detesto a idolatria, não gosto da idéia de colocar homens em pedestais. Não é relativismo exacerbado, pois não somos "todos iguais". Há gente melhor e gente pior, sem dúvida. Mas só preserva a "pureza" aqueles que vivem eternamente numa Torre de Marfim, sem ousar, sem colocar em prática suas idéias, sem viver no mundo real dos trade-offs, e não das "soluções mágicas". Buffett tem inúmeras qualidades e merece respeito dos defensores do capitalismo. Mas tem gente que extrapola na reverência...
Como se faz oposição
Rodrigo Constantino, O GLOBO
A oposição brasileira finalmente esboça alguma reação, ainda que bastante atrasada. O senador Aécio Neves fez um discurso mais duro no Senado, atacando os abusos do governo atual. E o ex-presidente FHC escreveu um artigo propondo mais foco da oposição, que deveria, segundo ele, aproximar-se da classe média, hoje abandonada pelo governo. Ainda que iniciativas louváveis, estas são reações muito tímidas.
Os políticos que discordam dos rumos atuais do país deveriam aprender com o jovem americano Paul Ryan, do Partido Republicano. Responsável por apresentar um orçamento alternativo ao Congresso, Ryan teve a coragem de enfrentar os verdadeiros problemas do país e colocar o dedo na ferida. Seu plano fiscal, chamado “O caminho para a prosperidade”, apresenta uma visão bastante diferente do futuro da nação americana e do papel do governo.
Deixando o excessivo pragmatismo de lado, Paul Ryan pretendeu resgatar valores hoje perdidos naquela que já foi a “terra da liberdade”. Seu objetivo é limitar novamente as funções do governo àquilo prescrito na Constituição. A igualdade perante as leis, por exemplo, voltaria a ser um princípio básico respeitado pelo governo, que atualmente vem concentrando poder arbitrário e exagerado. Ryan compartilha do ideal dos “pais fundadores” dos Estados Unidos, que defendiam um país com ampla liberdade individual, meritocracia e governo limitado.
Além disso, ele apresentou propostas concretas para a redução drástica do déficit público. O governo americano tem sido irresponsável há anos, gastando mais do que arrecada. As guerras mundo afora, os resgates bilionários de empresas e bancos falidos, estímulos keynesianos e um estado de bem-estar social cada vez mais inchado comprometeram as finanças públicas do país. O déficit fiscal este ano será novamente superior a US$ 1 trilhão.
Não obstante, o presidente Obama, com tom extremamente populista, defende um governo ainda mais ativo. O governo pretende criar uma espécie de SUS no país, como se isso fosse realmente desejável para os mais pobres. A grande bandeira política de Obama foi sua reforma do sistema de saúde pública. Os crescentes rombos fiscais, cujos maiores drenos são justamente os gastos com saúde e previdência, parecem não incomodar os democratas no poder. Sua visão de nação reflete uma fé inabalável na capacidade de o governo prover bons serviços a preços baixos, o que a história sempre demonstrou ser uma grande ingenuidade.
Paul Ryan apresentou uma visão alternativa, onde indivíduos decidem como gastar seu próprio dinheiro, sem a tutela ineficiente do governo. Seu plano prevê um código tributário mais simples e menores impostos em relação ao que os democratas desejam. Com o foco no longo prazo, Ryan mostrou que há a necessidade de escolha entre dois futuros muito diferentes. De um lado, Washington continua decidindo onde gastar os recursos criados pela iniciativa privada, com seus projetos corruptos e incompetentes. Do outro, o governo adota uma política de forte redução dos gastos, deixando o caminho livre para que indivíduos e empresas possam novamente colocar a economia na trilha da prosperidade.
Sem apelar para discurso demagógico, Ryan reconhece que os ajustes necessários seriam também dolorosos no primeiro momento. Afinal, trata-se de corrigir o rumo atual, que tem sido de total irresponsabilidade. Não dá mais para viver além dos meios existentes, e, quanto mais tempo levar para os americanos aceitarem este fato da realidade, maior será o sofrimento. A complacência de hoje será paga com o suor dobrado de amanhã. E Ryan teve a coragem de não ignorar o enorme elefante na sala, que todos fingem não existir.
Se sua iniciativa vai ou não surtir efeito prático, ainda parece cedo dizer. A escolha, em última instância, caberá aos eleitores americanos. Mas o presidente Obama já teve de vir a público reagir, e anunciou um projeto de corte de US$ 4 trilhões nos gastos públicos nos próximos 12 anos. Muitas incertezas ainda pairam no ar, e seu discurso foi carregado de demagogia. Obama atacou os mais ricos, como se mais impostos para ricos não prejudicassem justamente os mais pobres. Mas o pêndulo pode ter começado a virar. Os americanos agora contam com uma liderança que tem a coragem de defender uma opção diferente para o país.
Voltando ao Brasil, vemos que a reação da oposição é bem-vinda, mas que ainda é muito tímida. Falta uma liderança que conteste o modelo atual de estado, que concentra poder demais e arrecada impostos demais. Onde está o Paul Ryan brasileiro?
A oposição brasileira finalmente esboça alguma reação, ainda que bastante atrasada. O senador Aécio Neves fez um discurso mais duro no Senado, atacando os abusos do governo atual. E o ex-presidente FHC escreveu um artigo propondo mais foco da oposição, que deveria, segundo ele, aproximar-se da classe média, hoje abandonada pelo governo. Ainda que iniciativas louváveis, estas são reações muito tímidas.
Os políticos que discordam dos rumos atuais do país deveriam aprender com o jovem americano Paul Ryan, do Partido Republicano. Responsável por apresentar um orçamento alternativo ao Congresso, Ryan teve a coragem de enfrentar os verdadeiros problemas do país e colocar o dedo na ferida. Seu plano fiscal, chamado “O caminho para a prosperidade”, apresenta uma visão bastante diferente do futuro da nação americana e do papel do governo.
Deixando o excessivo pragmatismo de lado, Paul Ryan pretendeu resgatar valores hoje perdidos naquela que já foi a “terra da liberdade”. Seu objetivo é limitar novamente as funções do governo àquilo prescrito na Constituição. A igualdade perante as leis, por exemplo, voltaria a ser um princípio básico respeitado pelo governo, que atualmente vem concentrando poder arbitrário e exagerado. Ryan compartilha do ideal dos “pais fundadores” dos Estados Unidos, que defendiam um país com ampla liberdade individual, meritocracia e governo limitado.
Além disso, ele apresentou propostas concretas para a redução drástica do déficit público. O governo americano tem sido irresponsável há anos, gastando mais do que arrecada. As guerras mundo afora, os resgates bilionários de empresas e bancos falidos, estímulos keynesianos e um estado de bem-estar social cada vez mais inchado comprometeram as finanças públicas do país. O déficit fiscal este ano será novamente superior a US$ 1 trilhão.
Não obstante, o presidente Obama, com tom extremamente populista, defende um governo ainda mais ativo. O governo pretende criar uma espécie de SUS no país, como se isso fosse realmente desejável para os mais pobres. A grande bandeira política de Obama foi sua reforma do sistema de saúde pública. Os crescentes rombos fiscais, cujos maiores drenos são justamente os gastos com saúde e previdência, parecem não incomodar os democratas no poder. Sua visão de nação reflete uma fé inabalável na capacidade de o governo prover bons serviços a preços baixos, o que a história sempre demonstrou ser uma grande ingenuidade.
Paul Ryan apresentou uma visão alternativa, onde indivíduos decidem como gastar seu próprio dinheiro, sem a tutela ineficiente do governo. Seu plano prevê um código tributário mais simples e menores impostos em relação ao que os democratas desejam. Com o foco no longo prazo, Ryan mostrou que há a necessidade de escolha entre dois futuros muito diferentes. De um lado, Washington continua decidindo onde gastar os recursos criados pela iniciativa privada, com seus projetos corruptos e incompetentes. Do outro, o governo adota uma política de forte redução dos gastos, deixando o caminho livre para que indivíduos e empresas possam novamente colocar a economia na trilha da prosperidade.
Sem apelar para discurso demagógico, Ryan reconhece que os ajustes necessários seriam também dolorosos no primeiro momento. Afinal, trata-se de corrigir o rumo atual, que tem sido de total irresponsabilidade. Não dá mais para viver além dos meios existentes, e, quanto mais tempo levar para os americanos aceitarem este fato da realidade, maior será o sofrimento. A complacência de hoje será paga com o suor dobrado de amanhã. E Ryan teve a coragem de não ignorar o enorme elefante na sala, que todos fingem não existir.
Se sua iniciativa vai ou não surtir efeito prático, ainda parece cedo dizer. A escolha, em última instância, caberá aos eleitores americanos. Mas o presidente Obama já teve de vir a público reagir, e anunciou um projeto de corte de US$ 4 trilhões nos gastos públicos nos próximos 12 anos. Muitas incertezas ainda pairam no ar, e seu discurso foi carregado de demagogia. Obama atacou os mais ricos, como se mais impostos para ricos não prejudicassem justamente os mais pobres. Mas o pêndulo pode ter começado a virar. Os americanos agora contam com uma liderança que tem a coragem de defender uma opção diferente para o país.
Voltando ao Brasil, vemos que a reação da oposição é bem-vinda, mas que ainda é muito tímida. Falta uma liderança que conteste o modelo atual de estado, que concentra poder demais e arrecada impostos demais. Onde está o Paul Ryan brasileiro?
domingo, abril 17, 2011
O lado negro da internet
Rodrigo Constantino
Há uma crença cada vez mais disseminada de que as novas tecnologias por si só serão capazes de derrubar regimes autoritários e levar a democracia mundo afora. Os recentes acontecimentos no Oriente Médio serviram para reforçar tal crença, quando muitos atribuíram o mérito das revoluções ao Twitter ou Facebook. Mas Evgeny Morozov tem opinião bastante diferente, expressa em seu instigante livro “The Net Delusion”, que tenta mostrar justamente o lado negro da internet.
O autor demonstra maior ceticismo quanto ao potencial libertador das novas tecnologias, combatendo o que chamou de “cyber-utopia”, a idéia de que a internet favorece os oprimidos e não os opressores. Morozov acredita que as expectativas com a internet andam bastante infladas ultimamente, e apresenta argumentos importantes para suscitar mais desconfiança. Ele alega que o papel efetivo da internet na busca pela liberdade é ambíguo, e que creditar as redes sociais como causa das revoluções árabes é altamente questionável. Afinal, Facebook não faz brotar armas nas mãos de rebeldes.
Quanto mais as lideranças ocidentais reforçarem a crença de que a internet é uma poderosa aliada na luta contra regimes autoritários, mais estes vão reagir, encarando a internet como uma arma dos governos ocidentais. Nada garante, segundo o autor, que a própria internet não seja usada pelos opressores de forma eficiente no controle dos cidadãos. O autoritarismo, não custa lembrar, não depende somente da força bruta; religião, cultura, história, nacionalismo, todos são forças potentes e que não necessariamente saem enfraquecidas com o advento da internet.
Por trás do instrumento estão sempre pessoas. E enquanto a internet ajudou a tornar quase tudo mais barato, a estupidez humana ainda é uma commodity que ostenta preço relativamente alto. A visão ocidental de que todas as pessoas aspiram liberdade e que basta retirar alguns obstáculos do caminho que tudo ficará bem parece muito ingênua. O Iraque demonstrou como é mais complicado exportar democracia sem as devidas instituições estabelecidas. Que existam muitas vozes na internet é algo ótimo, mas é preciso também saber quais vozes. Nada garante que serão apenas vozes em prol de mais liberdade.
O que costuma receber mais atenção na internet são bobagens, vídeos tolos, não documentários ou argumentos políticos a favor da liberdade. A tecnologia é importante, mas seu conteúdo ainda depende muito do ambiente cultural da sociedade. Quando a grande preferência é por lixo puro, isso não se traduz em mais pessoas conscientes e dispostas a lutar por mais liberdade. A Stasi descobriu que os alemães orientais com acesso clandestino aos programas de televisão do lado ocidental não queriam saber de notícias da OTAN, mas de seriados americanos para passar o tempo. E acabavam se tornando mais dóceis que os demais, aceitando de forma mais resignada sua situação.
Enquanto Orwell achava que nossos medos iriam nos escravizar, Huxley pensava que nossas paixões fariam isso. Em vez de o “Grande Irmão” de “1984”, o “soma” do “Admirável Mundo Novo” faria com que cidadãos se transformassem em súditos passivos. Ocorre um efeito anestésico, trocando-se a repressão da ditadura pela magia da Louis Vitton. Pode não ter pão o suficiente, mas há muito circo para distrair o público. A ditadura chinesa chegou a suspender um banimento de pornografia na internet, pois notou que ela ajudava a manter o povo mais calmo. A censura estava ajudando a politizar a população. O entretenimento ajuda a mantê-lo hipnotizado.
Além disso, os governos autoritários aprenderam a usar a internet para ludibriar o povo. O PCC possui milhares de blogueiros “chapa-branca”, que recebem dinheiro para postar comentários favoráveis ao regime chinês. São conhecidos como “fifty-cent party”, por receber meio dólar para cada comentário. No Brasil mesmo, vários blogs vivem de verbas públicas, e durante as últimas eleições, a campanha do PT criou um “bunker virtual” para espalhar propaganda pela rede. Com um fluxo absurdo de “informação” na internet, fica difícil separar o joio do trigo, sem falar de teorias conspiratórias e falácias que pululam na rede. Tem muitos que até hoje pensam que o ataque no 11 de setembro de 2001 foi organizado pelo próprio governo americano, e há vasta “evidência” na rede para os que querem acreditar nisso.
Outro ponto abordado pelo autor diz respeito a maior facilidade que os regimes opressores encontram na internet para espiar potenciais dissidentes. Muitos internautas expõem voluntariamente diversos detalhes de suas vidas, num verdadeiro “momento Caras”, e isso é um prato cheio para as autoridades. O trabalho que tinham a KGB e a Stasi para coletar informações sobre suspeitos parece brincadeira quando basta um click no Facebook hoje para tanto. Com uma senha roubada um governo pode ter acesso a todas as mensagens de um dissidente. Novas tecnologias, como reconhecimento facial, podem ajudar governos a encontrar inimigos. Enfim, a internet é apenas uma ferramenta, e pode ser usada para o bem ou para o mal.
Morozov destaca o risco da internet produzir complacência também. Ser um dissidente exige tempo, dedicação e comprometimento. Hoje, em uma sociedade bastante narcísica, ficou muito fácil posar de “bom samaritano”, apoiar as causas mais nobres do mundo, sem, contudo, se implicar de verdade. Basta clicar em “curtir” ou “compartilhar” e todos os seus “amigos” (quem tem 500 amigos de verdade?) da rede saberão como você se preocupa com a fome na África ou com a democracia no Oriente Médio. São, além disso, campanhas demais, causas demais competindo entre si. Elas angariam milhões de adeptos, mas que dificilmente fazem mais do que apertar um botão do mouse. Na hora de contribuir financeiramente, de se arriscar, de se organizar efetivamente pela causa, o vídeo novo do YouTube com o gatinho puxando a descarga conquista mais atenção.
Por fim, o livro refresca a memória dos leitores com as lições da história. No passado, não foram poucos os avanços tecnológicos que produziram um otimismo excessivo nas pessoas. Marx achava que as ferrovias iriam derrubar o regime de castas indiano. Em 1858, a revista “New Englander” estampou: “O telégrafo une por um cordão vital todas as nações da Terra... é impossível que antigos preconceitos e hostilidades possam continuar existindo”. Nos anos 1930 muitos pensaram que o avião iria espalhar a democracia pelo mundo, refinar o gosto das massas e acabar com as guerras. Parece que a Luftwaffe não concordava. O rádio fez pessoas sonharem com a paz sobre a Terra, mas Hitler e Mussolini não compartilhavam deste otimismo. A televisão passou a ser a grande esperança, mas faltou novamente combinar com os inimigos da liberdade ou com os produtores de lixo. Nada prova que assistir a onze “Big Brother Brasil” seguidos contribui na luta pela liberdade de uma sociedade.
Em suma, avanços tecnológicos podem colaborar com a luta por mais democracia e liberdade, mas não há garantia alguma de que o efeito será positivo, muito menos sempre positivo. A complacência apenas serve para aumentar os riscos. Quando muitos passam a crer que basta ter uma rede social que automaticamente mais liberdade será o resultado, aí mesmo é que mora o grande perigo. Inovações tecnológicas estão sempre prometendo demais e entregando de menos quando se trata de mudar a natureza humana. O preço da liberdade é a eterna vigilância. A internet pode ajudar nesta vigilância, mas também ajuda na vigilância do governo sobre nós, ou na organização de terroristas, criminosos e disseminadores de ódio. A luta não está definida. Contra a “cyber-utopia”, o ceticismo de Morozov é muito bem-vindo. Devemos reconhecer o lado negro da internet, pois ele existe.
quinta-feira, abril 14, 2011
Tombini assustado
Rodrigo Constantino, para o Instituto Liberal
A capa do jornal Valor desta quinta-feira estampou: “Inflação assusta e BC abre diálogo com ministérios”. Segundo a matéria, o Banco Central estaria preocupado com a persistência da inflação, especialmente dos preços de commodities. E isso fez o presidente do BC, Alexandre Tombini, mobilizar um grupo de especialistas do governo para aprofundar o debate e entender melhor o que se passa no setor.
Quando o próprio presidente do BC, teoricamente o guardião da estabilidade dos preços, parece viver no mundo da lua, então é porque a coisa está realmente feia. Será que Tombini não sabe que inflação, como já alertara Milton Friedman e Ludwig von Mises, é sempre um fenômeno monetário? Enquanto o governo anuncia medidas “macroprudenciais” de efeito tímido e incerto, os preços seguem em alta, e não apenas os agrícolas: os serviços subiram 8,5% nos últimos 12 meses. O crédito, especialmente o público, sobe sem parar. O governo parece ver o BNDES como uma fonte inesgotável de recursos. E a reação do presidente do BC é debater com ministros, ligados ao setor agrícola, o que está acontecendo com os preços?
Parece piada de mau gosto! Qual será o próximo passo do governo Dilma? Recriar os fiscais do Sarney para controlar os preços do chuchu? Colocar a culpa da inflação na ganância dos empresários? Apelar para o congelamento de preços? A verdade é que Tombini não demonstra ter nem força política para ser independente em sua política de juros, nem conhecimento profundo das verdadeiras causas da inflação. Se Tombini está mesmo assustado com a inflação, imagine como estão assustados aqueles que entendem um pouco mais de economia e observam as reações do governo diante dos riscos inflacionários...
quarta-feira, abril 13, 2011
Coluna de Merval Pereira
Na coluna de hoje de Merval Pereira em O Globo:
"O poder das novas mídias, como o Facebook e o Twitter, foi dos temas mais debatidos no Fórum da Liberdade, e houve de tudo, desde o depoimento de Rony Rodrigues, jovem empresário defensor intransigente das maravilhas da internet, sem aceitar qualquer reparo a essa ferramenta, até o contraponto do economista Rodrigo Constantino, que se encarregou do papel de "advogado do diabo" para desconstruir a propalada força de mobilização de tais mídias sociais, responsabilizadas pela recente revolta popular nos países árabes.
Constantino considera uma ingenuidade achar que foi o Facebook que levou à queda de Mubarak no Egito, por exemplo, e atribui o sucesso dessa nova mídia à espetacularização das relações sociais no momento que o mundo globalizado vive.
Ele chamou a atenção para a quantidade de lixo que se encontra na internet, repisando uma crítica que já havia sido feita anteriormente por Carlos Alberto Sardemberg, fortemente contestado por Rony Rodrigues, que disse que a navegação pela internet pode levar o usuário a acessos interessantes e importantes como também a lixos, o mesmo acontecendo em uma livraria tradicional.
A superficialidade do conhecimento adquirido pela internet foi outro ponto criticado por vários palestrantes."
"O poder das novas mídias, como o Facebook e o Twitter, foi dos temas mais debatidos no Fórum da Liberdade, e houve de tudo, desde o depoimento de Rony Rodrigues, jovem empresário defensor intransigente das maravilhas da internet, sem aceitar qualquer reparo a essa ferramenta, até o contraponto do economista Rodrigo Constantino, que se encarregou do papel de "advogado do diabo" para desconstruir a propalada força de mobilização de tais mídias sociais, responsabilizadas pela recente revolta popular nos países árabes.
Constantino considera uma ingenuidade achar que foi o Facebook que levou à queda de Mubarak no Egito, por exemplo, e atribui o sucesso dessa nova mídia à espetacularização das relações sociais no momento que o mundo globalizado vive.
Ele chamou a atenção para a quantidade de lixo que se encontra na internet, repisando uma crítica que já havia sido feita anteriormente por Carlos Alberto Sardemberg, fortemente contestado por Rony Rodrigues, que disse que a navegação pela internet pode levar o usuário a acessos interessantes e importantes como também a lixos, o mesmo acontecendo em uma livraria tradicional.
A superficialidade do conhecimento adquirido pela internet foi outro ponto criticado por vários palestrantes."
XXIV Forum da Liberdade
Alguns destaques:
Band News FM: Entrevista com Marcelo Madureira e Marcelo Tas
Bom Dia Rio Grande, RBSTV: Os efeitos da internet na economia
Rádio Guaíba: Preço da liberdade é eterna vigilância
Jornal do Brasil: Facebook não coloca fuzil na mão de rebelde
Zero Hora: Tuítes não derrubam governos, pessoas derrubam
Papo de Economia no Zero Hora: vídeo
Correio Braziliense: Medidas do governo são paliativas para conter inflação
Jornal do Comércio: Internet democratiza espaço para crítica
Terra: Facebook não coloca fuzil na mão de rebelde
terça-feira, abril 12, 2011
A economia brasileira encontra-se em uma encruzilhada
Rodrigo Constantino, Valor Econômico
O modelo econômico brasileiro está chegando a um ponto de esgotamento. A grande melhora nos termos de troca, fruto do acelerado crescimento chinês e da alta das commodities, permitiu um ambiente econômico favorável nos últimos anos. O crédito e o consumo dispararam, e nossa economia apresentou taxas razoáveis de crescimento.
Os gargalos estruturais, porém, já colocam em xeque esse modelo. A inflação tem rodado acima de 6% ao ano, e não se trata apenas de choque de oferta nas commodities. Há um superaquecimento na demanda, estimulada pelo crédito. O desemprego está em patamares historicamente baixos. Os serviços estão subindo uma média de 8% ao ano, sem sinais de arrefecimento à vista.
Enquanto isso, o governo parece viver em negação da realidade, torcendo para que alguma força divina possa aliviar a pressão inflacionária. Sem as reformas estruturais que possibilitariam aumento de poupança doméstica e juros menores, e sem as reformas microeconômicas que reduziriam a burocracia e levariam a um choque de produtividade, o governo acaba refém da política monetária como única ferramenta para conter a inflação.
O anúncio de corte nos gastos públicos não passou de propaganda enganosa, uma vez que os gastos serão maiores este ano do que foram em 2010. E o mercado financeiro começa a questionar a autonomia do Banco Central, que parece claramente "atrás da curva". Surge então a questão: a inflação vai ou não sair de controle?
Contar somente com a política monetária para segurar a inflação é como usar uma bazuca para matar uma formiga: o estrago é geral. Um dos efeitos colaterais do aumento dos juros é apreciar ainda mais a moeda, atraindo capital estrangeiro. O setor industrial, já vítima do excesso de burocracia e impostos, fica em situação ainda mais delicada. Para compensar essa perda de competitividade, o governo libera mais crédito subsidiado para grandes empresas por meio do BNDES. O tiro sai pela culatra.
A despeito do que pensam os atuais governantes, isso não funciona. Em primeiro lugar, a crença de que crédito para investimentos não gera inflação é absurda. Quando a própria presidente afirma, em entrevista a este jornal, que expandir mais ainda o balanço do BNDES não gera inflação, isso envia um alerta ao mercado. E o fato é que a expansão de crédito público foi absurda nos últimos anos. O BNDES tinha ativos de R$ 200 bilhões em 2007, e no ano passado esse valor chegou a R$ 550 bilhões. Um aumento de 270% em apenas três anos! Isso sem falar do risco de má alocação dos recursos, com critérios políticos, e não econômicos.
Em suma, o quadro econômico se encontra em estágio preocupante. Os ventos favoráveis externos criaram um ambiente propício à expansão creditícia. A inflação se aproxima do topo da banda da meta, já é elevada. O governo conta com a esperança de que ela vai automaticamente voltar a patamares mais comportados, sem drásticos cortes nos gastos, no crédito e sem subir muito os juros. Apenas com medidas "macroprudenciais" o dragão seria domado. Contar com isso é irresponsável.
Eis a encruzilhada em que o país se encontra agora. A conta dos excessos estimulados pelo governo parece ter chegado. Há basicamente dois modelos a seguir nesta bifurcação: o chileno e o argentino. No primeiro, o governo faria reformas estruturais, cortaria gastos públicos, retomaria o programa de privatizações, reduziria a burocracia e os impostos, e isso permitiria juros menores e acelerado crescimento sem gerar inflação. O dinamismo econômico faria com que pequenas e médias empresas tivessem mais acesso a capital. Infelizmente, parece um sonho distante.
No segundo modelo, o governo continua fingindo que não existem os problemas graves, tenta manipular os indicadores econômicos e usa bancos estatais para selecionar os grandes grupos nacionais "vencedores". O país continua dependente demais das commodities e, por tabela, do crescimento chinês. Os setores ligados à produção de bens básicos seguem com peso desproporcional na economia e na bolsa. A economia perde dinamismo, afetando as menores empresas. Trata-se um modelo fadado ao fracasso no longo prazo.
Qual será a rota que o Brasil vai tomar? Para os investidores, isso faz toda diferença do mundo. No primeiro caso, o Ibovespa poderia disparar rumo aos 100 mil pontos. No segundo caso, com muita sorte e ajuda externa, ele poderá ficar de lado, em torno dos 70 mil pontos, enquanto a renda fixa oferece retorno bem mais interessante, ainda mais se ajustada pelo risco.
Rodrigo Constantino é sócio da Graphus Capital
O modelo econômico brasileiro está chegando a um ponto de esgotamento. A grande melhora nos termos de troca, fruto do acelerado crescimento chinês e da alta das commodities, permitiu um ambiente econômico favorável nos últimos anos. O crédito e o consumo dispararam, e nossa economia apresentou taxas razoáveis de crescimento.
Os gargalos estruturais, porém, já colocam em xeque esse modelo. A inflação tem rodado acima de 6% ao ano, e não se trata apenas de choque de oferta nas commodities. Há um superaquecimento na demanda, estimulada pelo crédito. O desemprego está em patamares historicamente baixos. Os serviços estão subindo uma média de 8% ao ano, sem sinais de arrefecimento à vista.
Enquanto isso, o governo parece viver em negação da realidade, torcendo para que alguma força divina possa aliviar a pressão inflacionária. Sem as reformas estruturais que possibilitariam aumento de poupança doméstica e juros menores, e sem as reformas microeconômicas que reduziriam a burocracia e levariam a um choque de produtividade, o governo acaba refém da política monetária como única ferramenta para conter a inflação.
O anúncio de corte nos gastos públicos não passou de propaganda enganosa, uma vez que os gastos serão maiores este ano do que foram em 2010. E o mercado financeiro começa a questionar a autonomia do Banco Central, que parece claramente "atrás da curva". Surge então a questão: a inflação vai ou não sair de controle?
Contar somente com a política monetária para segurar a inflação é como usar uma bazuca para matar uma formiga: o estrago é geral. Um dos efeitos colaterais do aumento dos juros é apreciar ainda mais a moeda, atraindo capital estrangeiro. O setor industrial, já vítima do excesso de burocracia e impostos, fica em situação ainda mais delicada. Para compensar essa perda de competitividade, o governo libera mais crédito subsidiado para grandes empresas por meio do BNDES. O tiro sai pela culatra.
A despeito do que pensam os atuais governantes, isso não funciona. Em primeiro lugar, a crença de que crédito para investimentos não gera inflação é absurda. Quando a própria presidente afirma, em entrevista a este jornal, que expandir mais ainda o balanço do BNDES não gera inflação, isso envia um alerta ao mercado. E o fato é que a expansão de crédito público foi absurda nos últimos anos. O BNDES tinha ativos de R$ 200 bilhões em 2007, e no ano passado esse valor chegou a R$ 550 bilhões. Um aumento de 270% em apenas três anos! Isso sem falar do risco de má alocação dos recursos, com critérios políticos, e não econômicos.
Em suma, o quadro econômico se encontra em estágio preocupante. Os ventos favoráveis externos criaram um ambiente propício à expansão creditícia. A inflação se aproxima do topo da banda da meta, já é elevada. O governo conta com a esperança de que ela vai automaticamente voltar a patamares mais comportados, sem drásticos cortes nos gastos, no crédito e sem subir muito os juros. Apenas com medidas "macroprudenciais" o dragão seria domado. Contar com isso é irresponsável.
Eis a encruzilhada em que o país se encontra agora. A conta dos excessos estimulados pelo governo parece ter chegado. Há basicamente dois modelos a seguir nesta bifurcação: o chileno e o argentino. No primeiro, o governo faria reformas estruturais, cortaria gastos públicos, retomaria o programa de privatizações, reduziria a burocracia e os impostos, e isso permitiria juros menores e acelerado crescimento sem gerar inflação. O dinamismo econômico faria com que pequenas e médias empresas tivessem mais acesso a capital. Infelizmente, parece um sonho distante.
No segundo modelo, o governo continua fingindo que não existem os problemas graves, tenta manipular os indicadores econômicos e usa bancos estatais para selecionar os grandes grupos nacionais "vencedores". O país continua dependente demais das commodities e, por tabela, do crescimento chinês. Os setores ligados à produção de bens básicos seguem com peso desproporcional na economia e na bolsa. A economia perde dinamismo, afetando as menores empresas. Trata-se um modelo fadado ao fracasso no longo prazo.
Qual será a rota que o Brasil vai tomar? Para os investidores, isso faz toda diferença do mundo. No primeiro caso, o Ibovespa poderia disparar rumo aos 100 mil pontos. No segundo caso, com muita sorte e ajuda externa, ele poderá ficar de lado, em torno dos 70 mil pontos, enquanto a renda fixa oferece retorno bem mais interessante, ainda mais se ajustada pelo risco.
Rodrigo Constantino é sócio da Graphus Capital
sexta-feira, abril 08, 2011
Inflação fora de controle
Rodrigo Constantino, para o Instituto Liberal
O IPCA de março divulgado esta semana ficou acima das expectativas do mercado. O ministro Mantega chegou a culpar a chuva pela alta dos preços dos alimentos. O governo parece ainda viver em negação da realidade. O IPCA já acumula alta de 2,44% no primeiro trimestre do ano, o que representa mais de 10% de inflação anualizada. Nos últimos 12 meses, a inflação já chega a 6,3%, muito perto do topo da meta do governo, que é 6,5%.
O governo e alguns analistas “chapa-branca” ainda culpam apenas as commodities pela inflação, mas o item de serviços subiu 8,5% nos últimos 12 meses, com índice de difusão de 68,2%. Ou seja, mais de dois terços dos itens que compõem o setor de serviços estão aumentando de preço, e de forma acelerada. Será que os honorários de um advogado aumentam muito porque o preço do tomate subiu?
Enquanto a inflação foge do controle do governo, o Banco Central divulga ata negligente, sinalizando aumento reduzido nas taxas de juros à frente. E o governo continua adotando medidas paliativas, enquanto o BNDES jorra crédito no mercado. As medidas “macroprudenciais” são um tiro no escuro, e o governo está contando com a sorte de forma irresponsável. Ataca os efeitos, mas não mexe nas causas principais do problema. A economia segue superaquecida, com elevada capacidade utilizada, dados de emprego no limite, e fortes estímulos monetários, liderados pelo próprio governo.
O ministro Mantega tem aparecido em público para anúncios oficiais quase diariamente, comunicando novas medidas, como o recente aumento de IOF sobre crédito para pessoa física. A imagem que ele passa me remete aos desenhos animados de minha infância. Quando começava um vazamento, o personagem tentava, desesperado, tampar o buraco, apenas para ver outro buraco vazando. No final, ele estava todo enrolado, tampando buracos com as mãos e os pés, mas nada impedia o rompimento final do recipiente.
O IPCA de março divulgado esta semana ficou acima das expectativas do mercado. O ministro Mantega chegou a culpar a chuva pela alta dos preços dos alimentos. O governo parece ainda viver em negação da realidade. O IPCA já acumula alta de 2,44% no primeiro trimestre do ano, o que representa mais de 10% de inflação anualizada. Nos últimos 12 meses, a inflação já chega a 6,3%, muito perto do topo da meta do governo, que é 6,5%.
O governo e alguns analistas “chapa-branca” ainda culpam apenas as commodities pela inflação, mas o item de serviços subiu 8,5% nos últimos 12 meses, com índice de difusão de 68,2%. Ou seja, mais de dois terços dos itens que compõem o setor de serviços estão aumentando de preço, e de forma acelerada. Será que os honorários de um advogado aumentam muito porque o preço do tomate subiu?
Enquanto a inflação foge do controle do governo, o Banco Central divulga ata negligente, sinalizando aumento reduzido nas taxas de juros à frente. E o governo continua adotando medidas paliativas, enquanto o BNDES jorra crédito no mercado. As medidas “macroprudenciais” são um tiro no escuro, e o governo está contando com a sorte de forma irresponsável. Ataca os efeitos, mas não mexe nas causas principais do problema. A economia segue superaquecida, com elevada capacidade utilizada, dados de emprego no limite, e fortes estímulos monetários, liderados pelo próprio governo.
O ministro Mantega tem aparecido em público para anúncios oficiais quase diariamente, comunicando novas medidas, como o recente aumento de IOF sobre crédito para pessoa física. A imagem que ele passa me remete aos desenhos animados de minha infância. Quando começava um vazamento, o personagem tentava, desesperado, tampar o buraco, apenas para ver outro buraco vazando. No final, ele estava todo enrolado, tampando buracos com as mãos e os pés, mas nada impedia o rompimento final do recipiente.
Chacina em Realengo
Rodrigo Constantino
Não quero comentar em detalhes a verdadeira tragédia em Realengo. Que aquelas tristes famílias possam sofrer em paz o luto de suas perdas, longe do oportunismo dos abutres de sempre.
Apenas destaco que é abominável ver certos “especialistas” tentando culpar A, B ou C pelo crime bárbaro. Uma psicóloga chegou a colocar a culpa do “bullying”, modismo do momento. Outros condenam as armas, ignorando que o Estatuto do Desarmamento já completou sete anos de vida, e só não retirou as armas dos bandidos ou assassinos. Alguns adoram condenar a “cultura”, especialmente quando o atentado se passa nos Estados Unidos.
Mas crimes como este já ocorreram nos Estados Unidos, na Escócia, em Israel, na China, e até na pacata Finlândia, mais de uma vez. Maluco é maluco, e os demais fatores podem, no máximo, fornecer o contexto. Não vamos apelar para o reducionismo ou culpar um fator específico qualquer. Somos obrigados a conviver num mundo em que barbaridades como esta podem ocorrer, sem uma causa aparente ou simples, e sem uma garantia segura para evitá-la.
Desde que o homem é homem, alguns demonstram quão monstruosa a espécie pode ser. O fato de tais atos produzirem profundo choque e consternação na imensa maioria, entretanto, nos dá alguma esperança no futuro. Mas sempre conviveremos com esses tais monstros entre nós. Eis um fato, por mais lamentável que seja.
Não quero comentar em detalhes a verdadeira tragédia em Realengo. Que aquelas tristes famílias possam sofrer em paz o luto de suas perdas, longe do oportunismo dos abutres de sempre.
Apenas destaco que é abominável ver certos “especialistas” tentando culpar A, B ou C pelo crime bárbaro. Uma psicóloga chegou a colocar a culpa do “bullying”, modismo do momento. Outros condenam as armas, ignorando que o Estatuto do Desarmamento já completou sete anos de vida, e só não retirou as armas dos bandidos ou assassinos. Alguns adoram condenar a “cultura”, especialmente quando o atentado se passa nos Estados Unidos.
Mas crimes como este já ocorreram nos Estados Unidos, na Escócia, em Israel, na China, e até na pacata Finlândia, mais de uma vez. Maluco é maluco, e os demais fatores podem, no máximo, fornecer o contexto. Não vamos apelar para o reducionismo ou culpar um fator específico qualquer. Somos obrigados a conviver num mundo em que barbaridades como esta podem ocorrer, sem uma causa aparente ou simples, e sem uma garantia segura para evitá-la.
Desde que o homem é homem, alguns demonstram quão monstruosa a espécie pode ser. O fato de tais atos produzirem profundo choque e consternação na imensa maioria, entretanto, nos dá alguma esperança no futuro. Mas sempre conviveremos com esses tais monstros entre nós. Eis um fato, por mais lamentável que seja.
quarta-feira, abril 06, 2011
GPA e o "orgulho de ser brasileiro"
Na carta da administração do relatório anual de resultados do Grupo Pão de Açúcar (GPA), eis como o presidente, Enéas Pestana, finaliza:
"O Brasil não é apenas mais uma promessa. Nos próximos anos, muitos fatores - como a Copa do Mundo, as Olimpíadas, o bom momento do setor imobiliário e até mesmo os programas governamentais - vão aquecer o mercado consumidor, o que, na prática significa o aumento do poder de compra e a entrada de mais consumidores na classe média. [...] Nossa perspectiva de bons resultados reflete a expectativa positiva em relação ao desempenho da economia brasileira, reafirma nosso compromisso com a geração de novos empregos e a contribuição para o crescimento do país, reforçando o nosso ORGULHO DE SER BRASILEIRO."
As letras são garrafais mesmo. O ufanismo tomou conta do país. As grandes empresas, que tanto dependem do governo, agora focam nos empregos e no crescimento do país, com "orgulho de ser brasileiro". Abílio Diniz, presidente do conselho de administração do GPA, chegou a declarar publicamente sua profunda admiração por Dilma Rousseff na época da campanha eleitoral. O CADE precisa aprovar a compra da Casas Bahia, não vamos esquecer.
Seria o caso de perguntar: e o retorno aos acionistas, leitmotiv de qualquer empresa, onde fica? Foi-se o tempo em que as empresas tinham "apenas" a meta de gerar valor aos seus acionistas, seguindo as leis e valores éticos. Agora, o importante é contribuir com o "desenvolvimentismo" idealizado pelo governo, e claro, com "orgulho de ser brasileiro" (ignorando, naturalmente, que o grupo francês Casino é o segundo maior acionista do GPA, com quase a mesma participação que toda a família Diniz junta).
Brasil, um país de TOLOS.
O presidente da Vale presidirá?
Editorial do Estadão
Escolhido para assumir a presidência da Vale, a maior companhia privada brasileira, o executivo Murilo Ferreira terá de atender a dois objetivos possivelmente incompatíveis - cuidar do crescimento da empresa e de sua rentabilidade e, ao mesmo tempo, agradar ao governo. Se for obediente à presidente Dilma Rousseff e aos políticos por ela autorizados a dar palpites, comprometerá o desempenho econômico da Vale e perderá a confiança dos acionistas privados. Se assumir a função como um preposto do Palácio do Planalto, acabará entrando no jogo do aparelhamento partidário e do empreguismo. Mas, se levar em conta só os critérios profissionais e se concentrar na gestão dos negócios, entrará em conflito com o Palácio do Planalto, ficará sujeito a pressões políticas e terá de lutar duramente, como lutou seu antecessor, Roger Agnelli, para não ser defenestrado. Poderá resistir até por muito tempo, mas a derrota será quase certa.
Ao escolher o nome do executivo Murilo Ferreira, os controladores da empresa levaram em conta esse duplo desafio. O administrador foi funcionário do grupo, presidiu a Vale Inco, no Canadá, e é conhecido no mercado. Ontem mesmo já houve manifestações de investidores a favor de seu nome. Além disso, ele presidiu a Albrás, empresa fabricante de alumínio e grande consumidora de eletricidade. Nessa condição, reuniu-se várias vezes com a então ministra de Minas e Energia, Dilma Rousseff. Murilo Ferreira, segundo fontes confiáveis, era o nome preferido da presidente da República para a sucessão de Roger Agnelli.
O problema do novo presidente da Vale, no entanto, não consistirá apenas em manter um difícil equilíbrio entre as demandas do mundo político e as do mercado. Muitos empresários importantes são forçados, ocasionalmente, a levar em conta os dois tipos de interesse. Mas o caso da Vale é especial. Como empresa privada, cresceu firmemente, multiplicou seus lucros e alcançou posições cada vez mais importantes no mercado global. Alimentou o Tesouro Nacional com volumes crescentes de impostos e tornou-se um fator de enorme importância estratégica para o País. Sem a Vale, a economia brasileira seria muito menos dinâmica e as contas externas, muito menos seguras.
Em outras palavras, a Vale, tal como foi administrada a partir da privatização, assumiu um papel cada vez mais importante para a realização dos objetivos nacionais. O ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, parece desconhecer esse fato.
Segundo ele, a Vale "precisa contribuir mais fortemente para os interesses do País". "A produção de aço no País", acrescentou, "é conveniente, é necessária ao povo brasileiro e à sociedade." Ele não explicou a diferença entre o povo brasileiro e a sociedade, mas esse pormenor é pouco relevante, no meio desse discurso lamentável. A produção de aço é importante, de fato, mas a siderurgia brasileira tem cumprido bem esse papel - e com sobras, porque há capacidade ociosa no setor.
O ministro parece ignorar também esse fato. Isso é compreensível. Reconduzido ao cargo por influência do senador José Sarney, ele deve preocupar-se com assuntos muito mais importantes, como a sujeição da Vale aos interesses políticos do Planalto e de seus aliados. O simples fato de o ministro Edison Lobão falar a respeito das obrigações da Vale é preocupante não só para os acionistas privados, mas para todos os brasileiros sérios. A ocupação do setor elétrico estatal pelo PMDB é fato bem conhecido. Outras estatais têm sido usadas, também, para servir aos aliados do governo. As consequências tornaram-se públicas, em alguns casos, depois da exibição de vídeos gravados durante sessões de bandalheiras.
Será esse o destino da Vale? A pergunta é mais que razoável, diante da experiência brasileira. Mas as perspectivas já são assustadoras, mesmo sem a hipótese da distribuição predatória de cargos. O governo quer forçar a companhia a investir segundo critérios voluntaristas - por exemplo, aumentando a capacidade ociosa do setor siderúrgico ou substituindo o Grupo Bertin no consórcio da Hidrelétrica de Belo Monte. Terá o novo presidente algo razoável para dizer sobre essas pretensões?
Escolhido para assumir a presidência da Vale, a maior companhia privada brasileira, o executivo Murilo Ferreira terá de atender a dois objetivos possivelmente incompatíveis - cuidar do crescimento da empresa e de sua rentabilidade e, ao mesmo tempo, agradar ao governo. Se for obediente à presidente Dilma Rousseff e aos políticos por ela autorizados a dar palpites, comprometerá o desempenho econômico da Vale e perderá a confiança dos acionistas privados. Se assumir a função como um preposto do Palácio do Planalto, acabará entrando no jogo do aparelhamento partidário e do empreguismo. Mas, se levar em conta só os critérios profissionais e se concentrar na gestão dos negócios, entrará em conflito com o Palácio do Planalto, ficará sujeito a pressões políticas e terá de lutar duramente, como lutou seu antecessor, Roger Agnelli, para não ser defenestrado. Poderá resistir até por muito tempo, mas a derrota será quase certa.
Ao escolher o nome do executivo Murilo Ferreira, os controladores da empresa levaram em conta esse duplo desafio. O administrador foi funcionário do grupo, presidiu a Vale Inco, no Canadá, e é conhecido no mercado. Ontem mesmo já houve manifestações de investidores a favor de seu nome. Além disso, ele presidiu a Albrás, empresa fabricante de alumínio e grande consumidora de eletricidade. Nessa condição, reuniu-se várias vezes com a então ministra de Minas e Energia, Dilma Rousseff. Murilo Ferreira, segundo fontes confiáveis, era o nome preferido da presidente da República para a sucessão de Roger Agnelli.
O problema do novo presidente da Vale, no entanto, não consistirá apenas em manter um difícil equilíbrio entre as demandas do mundo político e as do mercado. Muitos empresários importantes são forçados, ocasionalmente, a levar em conta os dois tipos de interesse. Mas o caso da Vale é especial. Como empresa privada, cresceu firmemente, multiplicou seus lucros e alcançou posições cada vez mais importantes no mercado global. Alimentou o Tesouro Nacional com volumes crescentes de impostos e tornou-se um fator de enorme importância estratégica para o País. Sem a Vale, a economia brasileira seria muito menos dinâmica e as contas externas, muito menos seguras.
Em outras palavras, a Vale, tal como foi administrada a partir da privatização, assumiu um papel cada vez mais importante para a realização dos objetivos nacionais. O ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, parece desconhecer esse fato.
Segundo ele, a Vale "precisa contribuir mais fortemente para os interesses do País". "A produção de aço no País", acrescentou, "é conveniente, é necessária ao povo brasileiro e à sociedade." Ele não explicou a diferença entre o povo brasileiro e a sociedade, mas esse pormenor é pouco relevante, no meio desse discurso lamentável. A produção de aço é importante, de fato, mas a siderurgia brasileira tem cumprido bem esse papel - e com sobras, porque há capacidade ociosa no setor.
O ministro parece ignorar também esse fato. Isso é compreensível. Reconduzido ao cargo por influência do senador José Sarney, ele deve preocupar-se com assuntos muito mais importantes, como a sujeição da Vale aos interesses políticos do Planalto e de seus aliados. O simples fato de o ministro Edison Lobão falar a respeito das obrigações da Vale é preocupante não só para os acionistas privados, mas para todos os brasileiros sérios. A ocupação do setor elétrico estatal pelo PMDB é fato bem conhecido. Outras estatais têm sido usadas, também, para servir aos aliados do governo. As consequências tornaram-se públicas, em alguns casos, depois da exibição de vídeos gravados durante sessões de bandalheiras.
Será esse o destino da Vale? A pergunta é mais que razoável, diante da experiência brasileira. Mas as perspectivas já são assustadoras, mesmo sem a hipótese da distribuição predatória de cargos. O governo quer forçar a companhia a investir segundo critérios voluntaristas - por exemplo, aumentando a capacidade ociosa do setor siderúrgico ou substituindo o Grupo Bertin no consórcio da Hidrelétrica de Belo Monte. Terá o novo presidente algo razoável para dizer sobre essas pretensões?
terça-feira, abril 05, 2011
Modelo equivocado
Rodrigo Constantino, O GLOBO
A economia brasileira não está no rumo certo para um crescimento sustentável. A inflação acelerou, os gargalos de infraestrutura e mão de obra impedem um avanço mais sólido e o país corre o risco de viver um novo voo de galinha. As principais causas desta situação estão ligadas ao excessivo peso do governo na economia.
Falta poupança doméstica para investimentos produtivos, e falta maior descentralização na alocação dos recursos. Com reduzido nível de investimentos, e com o governo centralizando o crédito por meio de bancos estatais, há o risco de a economia sair dos trilhos num futuro próximo.
Uma nação só consegue crescer de forma sustentável investindo em bens de capital e educação. Para tanto, faz-se necessário aumentar a poupança, ou seja, deixar de consumir parte da produção atual. Com a fome insaciável do governo por recursos, resta pouco para o setor privado poupar. Como agravante, o governo usa em gastos correntes sua arrecadação de quase 40% do PIB, sobrando muito pouco para investimento.
Restam duas alternativas para suprir a falta de poupança doméstica: pegar poupança externa emprestada ou usar poupança forçada doméstica, por meio de uma política inflacionária. Ambas apresentam grandes riscos. A Era JK foi marcada pelo acelerado crescimento, apenas para descambar na inflação galopante em seguida. O “milagre econômico” do regime militar plantou as sementes da “década perdida” posterior.
Não existe almoço grátis. Um povo, assim como um indivíduo, pode até viver algum tempo dependendo de recursos alheios, mas somente se estes forem canalizados de forma eficiente para investimentos produtivos. A conta precisa ser paga depois, com juros. Tomar dinheiro emprestado para consumo corrente, ou então para investir em projetos ineficientes, é um caminho fadado ao fracasso.
Os excessos da Era PT ainda não cobraram a fatura graças ao cenário internacional. Com o forte crescimento chinês puxando o preço das commodities, e com taxas de juros praticamente nulas nos países ricos, os recursos migraram para países emergentes, como o Brasil. Mas até quando este quadro vai durar? Ficamos dependentes dos ventos externos, pois o governo não fez as reformas estruturais e não reduziu efetivamente seus gastos, para permitir maior investimento.
Para piorar a situação, o governo expandiu de forma assustadora o crédito público. O BNDES praticamente triplicou seus ativos em apenas três anos! Seus desembolsos subsidiados são destinados a poucas e grandes empresas, e o governo ainda acredita que esta expansão creditícia não é inflacionária. Esse modelo já foi testado no passado, em inúmeros países, e sempre fracassou. O governo não tem capacidade para alocar de forma eficiente os recursos, sem falar dos riscos de uso de critérios políticos na decisão.
Não satisfeito, o governo aumentou a ingerência sobre a iniciativa privada também. O caso assombroso da pressão estatal pela demissão do presidente da Vale comprova isso. O aporte de capital da Caixa Econômica no falido Banco Panamericano demonstra outro episódio preocupante do modelo atual de gestão. Os governantes parecem realmente acreditar que os recursos são infindáveis e que eles possuem capacidade clarividente para selecionar as empresas “vencedoras” na economia.
A história, contudo, mostra que esta visão é totalmente equivocada. Hayek chamou de “arrogância fatal” esta mania que alguns têm de acreditar no planejamento central. O “capitalismo de estado” nunca foi capaz de entregar bons resultados ao longo do tempo, sem falar dos riscos para as liberdades individuais sob este modelo. Infelizmente, os principais membros do governo parecem crer justamente nesta receita furada.
A ausência de uma oposição organizada que aponte estas falhas e apresente modelos alternativos é um fator muito preocupante. Parece que todos estão anestesiados com a bonança momentânea, tentando pegar carona nos números ainda favoráveis da economia. Falta uma liderança com visão de maior alcance. O modelo atual está se esgotando, e suas ineficiências logo virão à tona. A inflação já é um sinal disso. E, ainda que seja cedo para chamar de bolha, o rápido aumento do crédito cobrará seu preço.
O alerta, feito pelos economistas Kenneth Rogoff e Carmen Reinhart, merece atenção: "Como se demonstrou reiteradamente ao longo do tempo, os governos dos países emergentes tendem a considerar os surtos favoráveis como tendências duradouras, o que, por seu turno, atiça uma farra de gastos e de empréstimos públicos, que termina em lágrimas".
A economia brasileira não está no rumo certo para um crescimento sustentável. A inflação acelerou, os gargalos de infraestrutura e mão de obra impedem um avanço mais sólido e o país corre o risco de viver um novo voo de galinha. As principais causas desta situação estão ligadas ao excessivo peso do governo na economia.
Falta poupança doméstica para investimentos produtivos, e falta maior descentralização na alocação dos recursos. Com reduzido nível de investimentos, e com o governo centralizando o crédito por meio de bancos estatais, há o risco de a economia sair dos trilhos num futuro próximo.
Uma nação só consegue crescer de forma sustentável investindo em bens de capital e educação. Para tanto, faz-se necessário aumentar a poupança, ou seja, deixar de consumir parte da produção atual. Com a fome insaciável do governo por recursos, resta pouco para o setor privado poupar. Como agravante, o governo usa em gastos correntes sua arrecadação de quase 40% do PIB, sobrando muito pouco para investimento.
Restam duas alternativas para suprir a falta de poupança doméstica: pegar poupança externa emprestada ou usar poupança forçada doméstica, por meio de uma política inflacionária. Ambas apresentam grandes riscos. A Era JK foi marcada pelo acelerado crescimento, apenas para descambar na inflação galopante em seguida. O “milagre econômico” do regime militar plantou as sementes da “década perdida” posterior.
Não existe almoço grátis. Um povo, assim como um indivíduo, pode até viver algum tempo dependendo de recursos alheios, mas somente se estes forem canalizados de forma eficiente para investimentos produtivos. A conta precisa ser paga depois, com juros. Tomar dinheiro emprestado para consumo corrente, ou então para investir em projetos ineficientes, é um caminho fadado ao fracasso.
Os excessos da Era PT ainda não cobraram a fatura graças ao cenário internacional. Com o forte crescimento chinês puxando o preço das commodities, e com taxas de juros praticamente nulas nos países ricos, os recursos migraram para países emergentes, como o Brasil. Mas até quando este quadro vai durar? Ficamos dependentes dos ventos externos, pois o governo não fez as reformas estruturais e não reduziu efetivamente seus gastos, para permitir maior investimento.
Para piorar a situação, o governo expandiu de forma assustadora o crédito público. O BNDES praticamente triplicou seus ativos em apenas três anos! Seus desembolsos subsidiados são destinados a poucas e grandes empresas, e o governo ainda acredita que esta expansão creditícia não é inflacionária. Esse modelo já foi testado no passado, em inúmeros países, e sempre fracassou. O governo não tem capacidade para alocar de forma eficiente os recursos, sem falar dos riscos de uso de critérios políticos na decisão.
Não satisfeito, o governo aumentou a ingerência sobre a iniciativa privada também. O caso assombroso da pressão estatal pela demissão do presidente da Vale comprova isso. O aporte de capital da Caixa Econômica no falido Banco Panamericano demonstra outro episódio preocupante do modelo atual de gestão. Os governantes parecem realmente acreditar que os recursos são infindáveis e que eles possuem capacidade clarividente para selecionar as empresas “vencedoras” na economia.
A história, contudo, mostra que esta visão é totalmente equivocada. Hayek chamou de “arrogância fatal” esta mania que alguns têm de acreditar no planejamento central. O “capitalismo de estado” nunca foi capaz de entregar bons resultados ao longo do tempo, sem falar dos riscos para as liberdades individuais sob este modelo. Infelizmente, os principais membros do governo parecem crer justamente nesta receita furada.
A ausência de uma oposição organizada que aponte estas falhas e apresente modelos alternativos é um fator muito preocupante. Parece que todos estão anestesiados com a bonança momentânea, tentando pegar carona nos números ainda favoráveis da economia. Falta uma liderança com visão de maior alcance. O modelo atual está se esgotando, e suas ineficiências logo virão à tona. A inflação já é um sinal disso. E, ainda que seja cedo para chamar de bolha, o rápido aumento do crédito cobrará seu preço.
O alerta, feito pelos economistas Kenneth Rogoff e Carmen Reinhart, merece atenção: "Como se demonstrou reiteradamente ao longo do tempo, os governos dos países emergentes tendem a considerar os surtos favoráveis como tendências duradouras, o que, por seu turno, atiça uma farra de gastos e de empréstimos públicos, que termina em lágrimas".