sábado, julho 30, 2011

As boas intenções

Rodrigo Constantino

"De boas intenções, o inferno está cheio". (Ditado popular)

Uma constatação que fiz ao longo de minha vida sempre me intrigou bastante: inúmeras pessoas boas, decentes e bem-intencionadas defendem idéias que considero visivelmente erradas ou mesmo absurdas, cujos resultados práticos costumam ser diametralmente opostos àqueles desejados. Compreender este fenômeno sempre foi uma meta minha. Por que o intervencionismo estatal, a despeito de seu terrível histórico de resultados, consegue atrair tantos defensores genuinamente preocupados com os outros?

O principal fator, creio eu, está na pouca rigorosidade com a qual estas pessoas confrontam suas boas intenções com os possíveis efeitos delas derivados. Usualmente, elas se satisfazem com uma primeira etapa mais simples, que é partir da premissa de que bastam as intenções para se obter os resultados. Colocando-se sempre na posição do executor das medidas defendidas, ou “déspotas esclarecidos”, estas pessoas assumem que as intenções são suficientes para resolver os problemas.

“Se ao menos pessoas melhores (como eu?) estivessem no poder...”, eles pensam. Não levam em conta que outros, não tão bons assim, poderão assumir o imenso poder que ajudaram a criar e defendem. Também não refletem que o próprio poder corrompe. Além disso, ignoram ainda que o desafio imposto pelos problemas pode ser tão grande e complexo que boas intenções não bastam para resolvê-los. O caminho alternativo, pelo livre mercado, desperta forte desconfiança.

Os empresários querem lucrar, e não ajudar os mais pobres e necessitados. Falta a boa intenção! O que não entendem é que os bons resultados deste processo independem da intencionalidade dos empresários. Se eles querem lucrar, então terão que satisfazer a demanda dos consumidores. Os remédios disponíveis nas farmácias não são fruto do altruísmo de cientistas abnegados, mas sim a conclusão de um pesado programa de investimento em pesquisas cujo objetivo é elevar a lucratividade do laboratório farmacêutico. (Claro, isso pode gerar excessos também nocivos, como a indústria dos diagnósticos simplistas apenas para vender mais remédios. Mas os benefícios compensam amplamente estes riscos.)

O livro “As boas intenções”, do escritor espanhol Max Aub, ilustra de forma brilhante como medidas repletas de bons sentimentos podem acarretar efeitos catastróficos, inclusive na vida daqueles que tais ações mais visavam a ajudar. Trata-se da história de Agustín Alfaro, “o que normalmente se chama um bom rapaz”, nas palavras do autor. O livro retrata uma série de acontecimentos trágicos que vão ocorrendo à medida que Agustín tenta proteger sua mãe do sofrimento.

Tudo começa quando surge na casa da família uma moça chamada Remedios, que alega ser mãe de um filho de Agustín. O problema é que o rebento não era de Agustín, e sim de seu pai, que usara o nome do filho com a amante. No afã de poupar sua querida mãe de tamanho sofrimento, uma vez que ela considerava o marido um homem exemplar, Agustín acaba aceitando a farsa. O que se segue é uma verdadeira comédia de enganos que, naturalmente, acaba por desgraçar ainda mais a vida de sua mãe, sem falar das demais envolvidas, começando pelo próprio Agustín.

A existência do mal incomoda qualquer pessoa minimamente decente. A miséria, o sofrimento, o desemprego, a fome, tudo isso produz nestas pessoas um legítimo desejo de ajudar de alguma forma. O problema é quando o remédio proposto gera ainda mais do mal que pretende combater. Em seu livro sobre o mal, o pensador francês Michel Lacroix tem um capítulo justamente sobre “os fracassos da vontade do bem”. Ele faz uma pergunta angustiante, mas que todos deveriam se fazer: “mesmo que queiramos o bem, teremos nós a possibilidade de o concretizar”?

Lacroix vai além e questiona: “Será possível que, por uma espécie de maldição, a vontade do bem gere o próprio mal”? Não vamos esquecer que o século XX foi uma epopéia da luta contra o mal, e as experiências socialistas buscaram criar um paraíso terrestre, extirpando do mundo todos os males que assolavam a humanidade. Não foram poucos os bem-intencionados que embarcaram nesta furada. O que estas pessoas talvez não levaram em conta no momento de aderir às utopias pode ter sido justamente as tais conseqüências indesejadas. Para acabar com a fome, os regimes socialistas coletivizaram as terras agrícolas, produzindo milhões de vítimas de inanição.

O fracasso do socialismo é bastante evidente hoje, mas não muito diferente é a esperança que o Estado social despertou e desperta nestas almas caridosas. Todos terão direito a uma saúde digna bancada pelo governo. Todos terão garantias de bons empregos e salários. Todos terão conforto material oferecido pelo Estado. E, novamente, poucos pararam para fazer aquela incômoda pergunta: e se os meios que defendo para fins tão nobres produzirem conseqüências indesejadas ou mesmo resultados perversos?

Volto à Lacroix, que coloca o dedo na ferida, para finalizar:

“As grandes instituições, nomeadamente as que asseguram um serviço público, devem, por sua vez, responder por acusações graves. A sociologia das organizações mostrou que estas instituições consagradas ao bem comum são frequentemente minadas por desvios de finalidade, disfunções burocráticas, que as tornam improdutivas. Na primeira linha dos inculpados figura o Estado-providência, acusado de alimentar a passividade dos beneficiários e de esterilizar as energias. Não sufocará o Estado-providência aqueles que protege?”

PS: Aproveito para recomendar o filme “As invasões bárbaras”, de Denys Arcand, que mostra a realidade do sistema de saúde pública do Canadá, bem menos atraente do que a fantasia de seus defensores.

Thomas Sowell on debt ceiling

Some people may have been shocked when the credit-rating firm Moody's recently suggested that the debt-ceiling law be repealed, in order to avoid fiscal crises which can throw world financial markets into turmoil that can injure countries around the world. Anyone who wants to show that Moody's is wrong should be prepared to show the actual benefits of the debt-ceiling, not its goals or hopes. That will not be easy, if possible at all. . . .

The national debt-ceiling law should be judged by what it actually does, not by how good an idea it seems to be. The one thing that the national debt-ceiling has never done is to put a ceiling on the rising national debt. Time and time again, for years on end, the national debt-ceiling has been raised whenever the national debt gets near whatever the current ceiling might be.

Regardless of what it is supposed to do, what the national debt-ceiling actually does is enable any administration to get all the political benefits of runaway spending for the benefit of their favorite constituencies—and then invite the opposition party to share the blame, by either raising the national debt ceiling, or by voting for unpopular cutbacks in spending or increases in taxes.

The Obama Recovery

Editorial do WSJ

Americans already know that economic growth is flagging, but Friday's second quarter GDP report confirms it: The current recovery, already one of the weakest on record, nearly stalled in the first half of 2011.

The economy expanded by a wan 1.3% in the quarter, following a revised 0.4% in the first quarter, and another downward revision in last year's final quarter to 2.3%. This means that for nine months the economy has averaged growth of less than 1.5%, which is barely treading water. At this growth rate a single major shock—such as a European meltdown, or a Chinese slowdown—could tip the U.S. back into recession.

What meager growth there was came from exports, federal spending and business investment. Inventories grew slowly and businesses are flush with cash, so there's hope for a bounce off the mat in the second half. But when you add this report to the jobless rate of 9.2%, the flat to falling housing market, layoffs at firms like Cisco and Merck, and capital flowing out of the U.S., it all adds up to a growth recession.

The GDP revisions—done every year by the federal Bureau of Economic Analysis—also show that the recession was deeper than first thought. Output fell 8.9% in the fourth quarter of 2008, and 6.7% in the first quarter of 2009. This means the Obama Administration had to climb out of a deeper hole, but paradoxically it also means that the recovery should be far more rapid.

The historical pattern is that the deeper the recession, the more robust the recovery. This is precisely what happened after the deep 1982 recession, as the nearby table shows. Growth was 4.5% in 1983, 7.2% in 1984, and it averaged nearly 4% for the five years after that through 1989. That is what a healthy recovery is supposed to look like, which is in marked contrast to the anemic eight quarters of this recovery.

This tale of two recoveries is an object lesson in economic policy. Taking office in 2009, President Obama embarked on one of the greatest reflation bets in history. He deployed the entire arsenal of neo-Keynesian policies to lift domestic demand, much as former White House economist Larry Summers still instructs at Harvard and most of the media still recommend.

So Congress deployed nearly a $1 trillion in stimulus, plus a battalion of temporary and targeted programs: cash for clunkers, cash for caulkers, tax credits for home buyers, 99 weeks of jobless benefits, "clean energy" grants, subsidies to states, and so much more. We were told that every $1 of this spending would conjure $1.50 in new economic output. The Federal Reserve has also more than cooperated by keeping interest rates near-zero for 31 months.

The bet was that with all this stimulus the economy would rebound as it did in the 1980s. Most of Washington and Wall Street believed that Mr. Obama was set up beautifully to inherit a normal recovery, claim victory for his policies, and ride easily to re-election. The problem is that the policies haven't worked. We are left with slow growth, high unemployment and $4 trillion in new debt.

The architects of this Keynesian debacle now offer the ex-post explanation that recoveries that follow financial panics are always slower. And there is no doubt that the financial meltdown has required banks, businesses and consumers to shore up their balance sheets and pay down debt.

But this is all the more reason to have pursued policies that nurture business and consumer confidence, rather than frighten them into taking fewer risks. An economy recovering from financial duress needs incentives to invest again, not threats of higher taxes. It needs encouragement to rebuild animal spirits, not rants against "millionaires and billionaires" and banker baiting. It needs careful monetary management, not endless easing that leads to commodity bubbles and $4 gasoline.

Such an economy also needs consistent and restrained government policy, not the frenetic rewriting of the entire health-care (ObamaCare), financial (Dodd-Frank), and energy (29 major EPA rule-makings) industries.

Perhaps the best proof of this policy failure is the response of the neo-Keynesians to the current malaise. They want more of the same, only less. Mr. Summers proposes a one-year extension of the payroll tax cut that has coincided with this year's growth decline. In a statement Friday, chief White House economist Austan Goolsbee also invoked the payroll tax cut, plus more jobless payments, free trade agreements (good, but why has it taken three years?), and a new "infrastructure bank." Wasn't the stimulus supposed to finance "shovel ready" infrastructure?

The message is that these folks are intellectually tapped out. They can't explain their current failure any more than they could the stagflation of the 1970s.

The only way out of this mess is to return to the growth policies that nurtured the boom of the 1980s. The circumstances aren't the same, so some of the policy choices will have to be different. But the principles are the same: Encourage businesses to expand, rather than government; let markets allocate capital, rather than politicians; liberate entrepreneurs by reining in the regulatory state.

The Obama malaise wasn't inevitable and needn't continue. It will end when our political class admits that its nostrums have failed and it is time to once again free the creative energies of the American people.

sexta-feira, julho 29, 2011

Nada como um dia depois do outro...

Ganha uma mariola quem souber o autor dessas frases:

"The fact that we are here today to debate raising America’s debt limit is a sign of leadership failure. It is a sign that the U.S. Government can’t pay its own bills. It is a sign that we now depend on ongoing financial assistance from foreign countries to finance our Government’s reckless fiscal policies."

"The cost of our debt is one of the fastest growing expenses in the Federal budget. This rising debt is a hidden domestic enemy, robbing our cities and States of critical investments in infrastructure like bridges, ports, and levees; robbing our families and our children of critical investments in education and health care reform; robbing our seniors of the retirement and health security they have counted on."

"Every dollar we pay in interest is a dollar that is not going to investment in America’s priorities. Instead, interest payments are a significant tax on all Americans–a debt tax that Washington doesn’t want to talk about. If Washington were serious about honest tax relief in this country, we would see an effort to reduce our national debt by returning to responsible fiscal policies."

"Increasing America’s debt weakens us domestically and internationally. Leadership means that 'the buck stops here'. Instead, Washington is shifting the burden of bad choices today onto the backs of our children and grandchildren. America has a debt problem and a failure of leadership. Americans deserve better."

"I therefore intend to oppose the effort to increase America’s debt limit."

Opa! Acertou quem disse que foi Obama quem disse tais coisas. Só que, à época, ele era da oposição! Os americanos possuem o Lula deles*, apenas com tez mais morena e diploma em Harvard. Haja cara-de-pau desses populistas de esquerda!!!

* Tá bom, eu sei que forcei muito a barra aqui. Não suporto Obama, mas não dá para compará-lo com Lula. Este deveria estar PRESO!

Cobertor curto

Rodrigo Constantino, para o Instituto Liberal

O governo Dilma anunciou novo pacote cambial para tentar conter a valorização do real. Será cobrado agora 1% de imposto sobre a diferença entre a posição vendida e a posição comprada em derivativos cambiais, quando o excedente for superior a US$ 10 milhões. O mercado ficou confuso com a distinção entre operações de “hedge” e especulação, uma vez que é difícil distingui-las. Além disso, no limite os agentes podem simplesmente transferir suas operações de câmbio para o exterior. As ações da BM&FBovespa despencaram já antecipando esta perda de receita.

Foram várias medidas até agora com o mesmo objetivo, mas todas surtiram efeito apenas de curto prazo. Compreende-se o desespero dos industriais com esta valorização da moeda nacional, o que torna os produtos importados mais competitivos. Mas o fenômeno de desvalorização do dólar é global, e alguns fatores importantes que colaboram com a enxurrada de dólares para o Brasil são estruturais. O governo está tentando enxugar gelo, atacando com medidas paliativas os sintomas, em vez de lidar com a raiz do problema.

Com taxas de juros praticamente nulas nos países desenvolvidos, e nossa Selic chegando perto de 13%, parece natural que o Brasil se torne foco de atração de capital especulativo. Mesmo levando em conta a alta inflação, o diferencial de juros reais é alto. A ata do Copom sinalizou ontem o término da elevação dos juros, mas ainda é muito cedo para decretar vitória sobre a inflação. E eis que, de forma resumida, desenha-se o cenário complicado: o mundo rico não tem juros e exporta capital, o Brasil é destino certo pela sua elevada taxa de juros, mas esta não pode ceder porque a inflação ameaça sair de controle; o real se valoriza, e os industriais começam a chiadeira; o governo vai fazendo uma colcha de retalhos com medidas pontuais para atender grupos de interesse.

O cerne da questão é a baixa competitividade da economia brasileira, por causa dos elevados impostos e encargos trabalhistas, burocracia asfixiante, infraestrutura capenga e baixa produtividade da mão-de-obra sem educação. Como o governo não ataca nenhum destes problemas com coragem, e ainda mantém gastos públicos altos, fica impossível reduzir os juros reais sem gerar inflação. O editorial do Estadão hoje resume bem a coisa: “O quadro só mudará quando o peso do combate à inflação for dividido entre a política monetária e a política fiscal. Isso ocorrerá quando o governo se dispuser de fato a conter seus gastos. Por enquanto, isso está fora da agenda”. O cobertor é curto.

A credibilidade do governo americano está em xeque

Rodrigo Constantino, Valor Econômico (Palavra do Gestor)

O impasse político nos Estados Unidos tem dominado a agenda dos investidores. A crescente possibilidade de um calote temporário nos títulos do governo mais poderoso do mundo produz forte incerteza nos mercados. Qual seria seu efeito? Será que o sistema monetário travaria como ocorreu na crise do Lehman Brothers? Para onde correr?

A questão é complexa, e agravada pelo fato de haver eleição em 2012. Há um jogo político entre democratas e republicanos, o que aumenta o receio dos investidores. Apostas políticas arriscadas, dos dois lados, podem inviabilizar um acordo sensato.

O cenário base ainda é o de que haverá algum tipo de acordo aos 45 minutos do segundo tempo. Se, por um lado, o presidente Obama não quer ser lembrado como aquele que deu calote, a oposição teme ser responsabilizada pela postura de "quanto pior, melhor".

O foco do debate tem sido a possível perda do rating AAA. Ninguém sabe ao certo quais seriam os efeitos disso. Alguns acreditam que haveria pressão vendedora de instituições obrigadas a manter em carteira apenas títulos AAA, mas outros pensam que a aversão ao risco seria tão grande nos mercados que poderia ocorrer uma fuga para liquidez. E esta ainda se encontra nos EUA.

Paradoxalmente, o "downgrade" poderia fazer o "yield" cair. É difícil tomar partido aqui, pois estamos navegando em águas desconhecidas. O caso japonês aponta nessa direção, mas tudo pode acontecer. E uma eventual normalização das taxas de juros poderia representar um aumento dos gastos públicos de até US$ 500 bilhões com o serviço da dívida.

Apesar de muitos investidores falarem dos problemas que o rebaixamento pelas agências de risco pode acarretar, acredito que o maior problema ainda é estrutural. Os EUA podem ser rebaixados mesmo aprovando o aumento do "debt ceiling", uma vez que os fundamentos estão fragilizados. Aqui faço distinção entre duas abordagens totalmente diferentes: a de curto e a de longo prazo.

O mercado financeiro quase sempre adota a primeira delas. O "curto-prazismo" chega a ser uma doença. Como Santo Agostinho, o mercado quer austeridade, mas não agora. A impressão que fica é que todos torcem por qualquer acordo que empurre o problema para frente. Pode ser a proposta da "Gangue dos Seis" ou a do republicano Boehner: o relevante é evitar o calote no momento. Os ativos de risco sem dúvida iriam celebrar o evento com um interessante rali.

Mas nada estrutural teria mudado. Os debates giram em torno de cortes de gastos e aumento de impostos, mas os democratas se recusam a colocar na mesa as necessárias reformas dos "entitlements": Medicare, Medicaid e Social Security. Esses gastos saíram de 30% do total em 1970 para mais de 65% hoje, e nas próximas décadas a trajetória é explosiva, por conta da demografia.

O que está em jogo, portanto, é qual modelo de sociedade os americanos desejam. Há populistas na ala republicana do Tea Party, mas é inegável que o essencial de sua demanda faz sentido. Eles querem resgatar o modelo que transformou os Estados Unidos no colosso que é hoje. E esse modelo passa longe do idealizado pelos democratas, que se aproxima muito, por sua vez, do falido "welfare state" europeu.

O presidente Obama quer um cheque em branco. O Congresso passou a ter maioria republicana nas últimas eleições justamente para evitar isso. A meta daqueles eleitos com a ajuda do Tea Party é clara: impedir que os EUA se transformem num Portugal ou quiçá numa Grécia. Ajustar as contas públicas demandaria um sacrifício grande no primeiro momento, mas colocaria o país novamente no rumo do crescimento sustentável.

Obama tem pedido mais responsabilidade dos deputados, mas a maior irresponsabilidade é gastar trilhões a mais do que arrecada. E não há nada de responsável na solução "mágica" do presidente, que é aumentar os impostos e manter seus insustentáveis programas sociais. No longo prazo, esse modelo limitaria o dinamismo e o crescimento econômico.

Em 1980, a dívida pública estava perto de US$ 1 trilhão (30% do PIB), e o governo quer expandir uma dívida que já passa de US$ 14 trilhões (quase 100% do PIB). Qual o limite? O "sonho americano" não pode ser realizado por meio de mais dívida e inflação. Quanto antes o governo enfrentar essa dura realidade, melhor será para todos os credores de títulos americanos. Quem possui ativos em dólar deveria torcer por uma solução duradoura, não para simplesmente ganhar algum tempo extra. O mais importante para os investidores de longo prazo é a credibilidade do plano para resolver de vez a questão fiscal.

Rodrigo Constantino é sócio da Graphus Capital

quinta-feira, julho 28, 2011

The Road to a Downgrade


Editorial do WSJ

Even without a debt default, it looks increasingly possible that the world's credit rating agencies will soon downgrade U.S. debt from the AAA standing it has enjoyed for decades.

A downgrade isn't catastrophic because global financial markets decide the creditworthiness of U.S. securities, not Moody's and Standard & Poor's. The good news is that investors still regard Treasury bonds, which carry the full faith and credit of the U.S. government, as a near zero-risk investment. But a downgrade will raise the cost of credit, especially for states and institutions whose debt is pegged to Treasurys. Above all a downgrade is a symbol of fiscal mismanagement and an omen of worse to come if we continue the same habits.

President Obama will deserve much of the blame for the spending blowout of his first two years (see the nearby chart). But the origins of this downgrade go back decades, and so this is a good time to review the policies that brought us to this sad chapter and $14.3 trillion of debt.

FDR began the entitlement era with the New Deal and Social Security, but for decades it remained relatively limited. Spending fell dramatically after the end of World War II and the U.S. debt burden fell rapidly from 100% of GDP. That changed in the mid-1960s with LBJ's Great Society and the dawn of the health-care state. Medicare and Medicaid were launched in 1965 with fairy tale estimates of future costs.

Medicare, the program for the elderly, was supposed to cost $12 billion by 1990 but instead spent $110 billion. The costs of Medicaid, the program for the poor, have exploded as politicians like California Democrat Henry Waxman expanded eligibility and coverage. In inflation-adjusted dollars, Medicaid cost $4 billion in 1966, $41 billion in 1986 and $243 billion last year. Rather than bending the cost curve down, the government as third-party payer led to a medical price spiral.

LBJ launched other welfare programs—public housing, food stamps and many more—that have also grown over time. Last year, the panoply of welfare programs spent about $20,000 for every man, woman and child in poverty, according to Robert Rector of the Heritage Foundation.

Social Security's fiscal trouble began in earnest in 1972 with bills that increased benefits immediately by 20%, added an annual cost of living adjustment, and created a benefit escalator requiring payments to rise with wages, not inflation. This and other tweaks by Democrat Wilbur Mills added trillions of dollars to the program's unfunded liabilities. Believe it or not, these 1972 amendments were added to a debt-ceiling bill.

None of these benefit expansions were subject to annual budget review and thus they grew by automatic pilot. They are sometimes called "mandatory spending" because Congress is required by law to make payments to those who meet eligibility standards, regardless of other spending needs or tax revenues.

According to the most recent government data, today some 50.5 million Americans are on Medicaid, 46.5 million are on Medicare, 52 million on Social Security, five million on SSI, 7.5 million on unemployment insurance, and 44.6 million on food stamps and other nutrition programs. Some 24 million get the earned-income tax credit, a cash income supplement.

By 2010 such payments to individuals were 66% of the federal budget, up from 28% in 1965. (See the second chart.) We now spend $2.1 trillion a year on these redistribution programs, and the 75 million baby boomers are only starting to retire.

We suspect that in the 1960s as now—with ObamaCare—liberals knew they had created fiscal time-bombs. They simply assumed that taxes would keep rising to pay for it all, as they have in Europe.

On Monday night Mr. Obama blamed President George W. Bush's "two wars" for the debt buildup. But national defense spending was 7.4% of GDP and 42.8% of outlays in 1965, and only 4.8% of GDP and 20.1% of federal outlays in 2010. Defense has not caused the debt crisis.

Many on the left still blame Ronald Reagan, but the debt increase in the 1980s financed a robust economic expansion and victory in the Cold War. Debt held by the public at the end of the Reagan years was much lower as a share of GDP (41% in 1988 and still only 40.3% in 2008) compared to the estimated 72% in fiscal 2011. That Cold War victory made possible the peace dividend that allowed Bill Clinton to balance the budget in the 1990s by cutting defense spending to 3% of GDP from nearly 6% in 1988.

Mr. Bush and Republicans did prove after 9/11 that the Washington urge to spend and borrow is bipartisan. Republicans launched a Medicare drug benefit, record outlays on education, the most expensive transportation bill in history, and home ownership aid that contributed to the housing bubble. The GOP's blunder was refusing to cut domestic spending to finance the war on terrorism. Guns and butter blowouts never last.

Then came Mr. Obama, arguably the most spendthrift president in history. He inherited a recession and responded by blowing up the U.S. balance sheet. Spending as a share of GDP in the last three years is higher than at any time since 1946. In three years the debt has increased by more than $4 trillion thanks to stimulus, cash for clunkers, mortgage modification programs, 99 weeks of jobless benefits, record expansions in Medicaid, and more.

The forecast is for $8 trillion to $10 trillion more in red ink through 2021. Mr. Obama hinted in a press conference earlier this month that if it weren't for Republicans, he'd want another stimulus. Scary thought: None of this includes the ObamaCare entitlement that will place 30 million more Americans on government health rolls.

This is the road to fiscal perdition. The looming debt downgrade only confirms what everyone knows: Congress has made so many promises to so many Americans that there is no conceivable way those promises can be kept. Tax rates might have to rise to 60%, 70%, even 80% to raise the revenues to finance these promises, but that would be economically ruinous.

Yet Mr. Obama and most Democrats still oppose any serious reform of Medicare, Medicaid and Social Security. This insistence on no reform reinforces the notion that our entitlement state is too big to afford but also too big to change politically. This is how a AAA country becomes AA, the first step on the march to Greece.

Enquete encerrada

Na última enquete do blog, perguntei: Qual a sua opinião acerca do BNDES? Foram 3 opções distintas, para avaliar as opiniões dos leitores. A primeira opção defendia a atuação do BNDES como um papel fundamental ao país, e recebeu apenas 3% dos votos (bom sinal). A segunda alternativa considerava o banco importante, mas alegava que ele deveria focar nas pequenas e médias empresas. Recebeu 22% dos votos. Por fim, a terceira opção dizia que o BNDES transfere renda de pobres para ricos e deveria ser abolido ou vendido. Teve 75% dos votos, incluindo o meu, naturalmente. Foram 98 votos no total.

quarta-feira, julho 27, 2011

A Leadership Default

Editorial do WSJ

The Obama Presidency has been unprecedented in many ways, and last night we saw another startling illustration: A President using a national TV address from the White House to call out his political opposition as unreasonable and radical and blame them as the sole reason for the "stalemate" over spending and the national debt.

We've watched dozens of these speeches over the years, and this was more like a DNC fund-raiser than an Oval Office address. Though President Obama referred to the need to compromise, his idea of compromise was to call on the public to overwhelm Republicans with demands to raise taxes. He demeaned the GOP for protecting, in his poll-tested language, "millionaires and billionaires," for favoring "corporate jet owners and oil companies" over seniors on Medicare, and "hedge fund managers" over "their secretaries." While he invoked Ronald Reagan, the Gipper would never have used such rhetoric about his opposition on an issue of national moment.

One irony is that Mr. Obama's demands for tax increases have already been abandoned by Members of his own party in the Senate. Majority Leader Harry Reid knows that Democrats running for re-election next year don't want to vote to raise taxes, so he's fashioning a bill to raise the debt ceiling that includes only reductions in spending. But Mr. Obama never mentioned that rather large fact about Mr. Reid's effort.

Apart from shifting blame for any debt default, the speech was also an attempt to inoculate Mr. Obama in case the U.S. loses its AAA credit rating. He cleverly, if dishonestly, elided the credit-rating issue with the debt-ceiling debate. But he knows that Standard & Poor's has said that it may cut the U.S. rating even if Congress moves on the debt ceiling. Mr. Obama wants to avoid any accountability for the spending blowout of the last three years that has raised the national debt held by the public—the kind we have to pay back—from 40% in 2008 to 72% next year, and rising. This will be the real cause of any downgrade.

Speaker John Boehner made clear in his speech that the GOP doesn't want a default but wants more genuine cuts in spending. Mr. Obama is betting his rhetoric will cause the public to turn against the GOP, but we wonder if voters will be persuaded by a man whose concept of leadership is the politics of blame.

Comentário: É impressionante como Obama cada vez mais se parece com uma espécie de Lula americano, apenas mais moreninho. Retórica sensacionalista, só pensa em aumentar impostos para os mais ricos (como se isso não afetasse negativamente os mais pobres), culpa os republicanos por todos os problemas, só pensa em fazer campanha política o tempo todo, quer gastar mais e mais dinheiro do pagador de imposto, pretende criar o fracassado SUS nos EUA, e até elogiou o nosso BNDES! Por isso Obama chamou o ex-presidente Lula de "o cara". Seu sonho era viver numa nação tupiniquim em que fosse mais fácil ser populista sem a reação de liberais e conservadores, sem o Tea Party, onde a "oposição" fosse feita por tucanos! Só falta mesmo Obama começar seus discursos falando: "Never before in the history of United States..."

terça-feira, julho 26, 2011

Um suíço no Brasil

Rodrigo Constantino, O GLOBO

“O que me preocupa não é o grito dos maus; é o silêncio dos bons.” (Martin Luther King Jr.)

Diz-se que um sapo jogado num recipiente fervendo pula e sobrevive, mas, se a temperatura da água subir gradualmente, ele permanece até se esturricar. Por pena do batráquio, nunca fiz o teste. Mas, aceitando sua veracidade, o brasileiro parece um sapo escaldado: acostumou-se a ser cozinhado lentamente sem reagir.
Se um suíço caísse de paraquedas por aqui e olhasse em volta, ficaria horrorizado. Imaginem uma conversa de bar entre um suíço que acaba de chegar ao país e um típico brasileiro:
– Seu país é muito belo. Mas que sufoco aquele aeroporto, não? Sem falar das estradas. O que acontece?
– É que falta dinheiro para o governo.
– Mesmo arrecadando quase 40% do PIB em impostos?
– O governo tem outras prioridades: o trem-bala, a construção de Belo Monte, os subsídios do BNDES para grandes empresas e estádios de futebol. Por isso que a Infraero, estatal que controla os aeroportos, não investe o suficiente.
– E o governo vai gastar bilhões com coisas supérfluas enquanto a infraestrutura do país encontra-se em frangalhos? Se a Infraero é incapaz de atender a demanda, por que ela não é privatizada?
– A presidente até sinalizou nesta direção. Mas é que este governo sempre condenou as privatizações. Os petistas acreditam num Estado-empresário, locomotiva do progresso.
– Em pleno século 21? Que coisa! Mudando de assunto, notei que a imprensa mostra diariamente inúmeros escândalos de corrupção. As cadeias devem estar repletas de políticos, certo?
– Que eu saiba, não há político algum preso.
– Nem aqueles “mensaleiros”? Mas eu vi que um poderoso ex-ministro foi acusado de “chefe de quadrilha”. Ele continua solto?
– Nem foi julgado ainda.
– Mas o “mensalão” não foi em 2005?
– Pois é.
– Que absurdo! Na Suíça ele estaria cumprindo pena há anos! Isso é a “banalização do mal”. Será que crime e impunidade são vistos como coisas normais por aqui?
– Todos fazem mesmo. Além disso, nós precisamos é de mais “justiça social”.
– Isso é muito perigoso! É o “ovo da serpente” quando a população fica complacente com o crime e não responsabiliza o indivíduo por seus atos. Mas vi que o povo ainda tem alguma capacidade de mobilização. Não tiveram marchas populares recentemente?
– Sim. Marcha das vadias, dos gays e pela legalização da maconha.
– Quer dizer então que a criminalidade ocorre à luz do dia, a impunidade é total, a infraestrutura está podre mesmo com impostos abusivos, e o povo vai às ruas pelas vadias, gays e maconha? Nada contra estas causas em si. Mas não te parece um despautério?
– Pode ser.
– Vocês não conseguem mais se indignar? Perderam as esperanças? Lembre-se: basta que as pessoas de bem nada façam para o mal triunfar. O preço da liberdade é a eterna vigilância. Uma sociedade de cordeiros desarmados terá sempre um governo de lobos. Vocês estão brincando com fogo!
– Mas nós temos o carnaval, o futebol e a praia.
– Desde os romanos sabemos dos riscos do “pão e circo”. Escravos miseráveis tinham o Coliseu para se manterem entretidos e, com isso, ignorar os abusos dos governantes. Mudando radicalmente de assunto: explica essas tomadas que vi pelo país todo, e que não tem em nenhum outro lugar do mundo.
– O governo decidiu um padrão novo de tomada e é obrigatório para todos, por questão de segurança.
– O governo escolhe até as tomadas? Segurança não há, porque notei que muitos usam adaptadores vagabundos. Aliás, é espantoso o grau de intervenção do governo central no Brasil. Nunca ouviram falar no federalismo?
– Vagamente.
– São aqueles cantões que decidem as coisas públicas de forma bem descentralizada e próxima do cidadão.
– Este modelo de vocês pode até funcionar melhor, mas não tem o “calor humano” brasileiro.
– Nós somos uma nação meio “fria” mesmo. Não temos o “jeitinho” e a malandragem dos brasileiros. Em compensação, temos uma renda per capita acima de 40 mil dólares, baixa criminalidade, corrupção quase inexistente, inflação praticamente nula, elevada expectativa de vida e ótimos indicadores sociais. Sem falar do respeito às liberdades individuais e à propriedade privada. Para quem busca fortes emoções, a Suíça não é o local mais adequado. Talvez o Iraque, a Venezuela ou o Brasil. Já para quem busca tranqüilidade, paz, liberdade e prosperidade...
– Mas quem precisa disso tudo quando se têm as Olimpíadas e a Copa do Mundo? Eu tenho orgulho de ser brasileiro!
Nisso, entrou um sujeito no bar e gritou:
– Mãos ao alto que isso é um assalto!
“Haja emoção”, pensou o suíço.

segunda-feira, julho 25, 2011

A morte de Amy Winehouse

João Pereira Coutinho escreveu artigo na Folha online sobre a morte de Amy Winehouse, defendendo basicamente que as drogas são uma questão de escolha, e que a cantora fez a sua. Os moralistas de plantão devem lembrar disso, segundo Coutinho. Claro que, uma vez viciado, a questão da escolha não é tão simples. Mas entendo o que Coutinho quer dizer. Amy claramente tinha optado por essa vida destrutiva. As drogas eram sintoma de suas fraquezas. Muitos admiravam sua "rebeldia", e agora lamentam o efeito dela. Hipocrisia.

Por outro lado, Reinaldo Azevedo discorda de Coutinho em artigo no seu blog. Reinaldo é totalmente contra a legalização das drogas, mesmo da maconha. Ele chama a atenção para o fato de que esta postura de Amy Winehouse não fazia mal somente a ela, mas a terceiros, pela influência que exerce, especialmente nos mais jovens.

Ambos apresentam argumentos interessantes. Eu confesso ter mais simpatia pelo ponto de vista de Coutinho. Mas o importante mesmo é o debate civilizado. Com ele, todos ganham.

Open Letter to President Obama on the Debt Ceiling Debate

Dear President Obama,

As you are likely well aware, you and I have many fundamental philosophical differences. I have long believed in personal liberty and economic freedom. Despite the rhetoric that you may espouse, your actions imply that you believe government can plan our lives better than we can plan them ourselves. Nearly all of the policies you have championed throughout your political career were designed to destroy individual freedom. With all due respect President, your big government philosophy is the antithesis of everything our Founding Fathers stood for.

Over the past few years, we have seen a spontaneous uprising of citizen activists protesting big government and reckless spending. My organization FreedomWorks (formerly known as Citizens for a Sound Economy) has never seen so many passionate activists in our 27 year history. As you stated in a September 2010 Rolling Stone interview, “Dick Armey and FreedomWorks, which was one of the first organizational mechanisms to bring Tea Party folks together...” We believe that the Tea Party is a direct response to the out of control spending habits of Former President George W. Bush and you.

FreedomWorks has fought your numerous power grabs at every turn. Our over one million members stood strong against the failed $814 billion “stimulus” package, your 2,801 page healthcare takeover law and the Dodd-Frank Act (also known as the “Federal Reserve Empowerment Act”). We’re exhausted from these grueling battles but we will never give up. As you already know, the Tea Party has begun to change the debate in Washington, D.C. Liberty is always worth fighting for.

The federal government has hit the $14.3 trillion debt ceiling under your watch. It’s closer to $144 trillion with unfunded liabilities factored in. You often assert that you inherited massive debt from your predecessor. Now I’ll be the first to agree that George W. Bush was a big spending Republican. Both Democrats and Republicans are responsible for our current fiscal mess. When you took office two and a half years ago, the national debt stood at $10.6 trillion. It’s now over $14.3 trillion. That’s a 35 percent increase, Mr. President.

You remain committed to raising the debt ceiling. It’s unfortunate that you have announced your intentions to veto the Cut, Cap and Balance Act if it landed on your desk. The bill would cut $111 billion from the federal budget, place enforceable caps on spending and require the passage of a Balanced Budget Amendment. It’s a step in the right direction to get spending under control. How much further are you willing to raise the debt ceiling, Mr. President? Enough is enough.

We’d like a mature discussion on how to significantly reduce the national debt. So far, you have only offered $2 billion in phony cuts. Let’s put that number into perspective. The federal government borrows $4 billion every single day and our federal budget is a whopping $3.73 trillion. Your so-called solution is to cut 5 hundredths of one percent from the budget. We must do better.

I urge you to stop your scare tactics. “Armageddon” will not occur on August 2nd. The federal government still has plenty of money to ensure that our bond holders are paid in full even if we do not raise the debt ceiling. Your threat to withhold Social Security checks if we don’t raise the ceiling is merely a dirty political trick. Social security checks will still go out as usual. The federal government is predicted to take in between $170 to $200 billion in August (we will spend closer to $300 billion) but Social Security checks only cost $50 billion. The American people deserve to hear the truth.

We need a principled leader. You were opposed to raising the debt ceiling before you were for it. On March 20, 2006, Senator Obama said “the fact that we are here today to debate raising America’s debt limit is a sign of leadership failure…Leadership means the ‘buck stops here.’ Instead, Washington is shifting the burden of bad choices today onto the backs of children and grandchildren.” I agree 100 percent with your statement. Stand by your convictions, Mr. President.

Where’s your plan? A “clean” debt ceiling hike will only make our fiscal mess worse. It’s time to change Washington’s spending habits once and for all. The debt clock is ticking and we cannot afford to kick the can down the road any longer.

Sincerely,

Matt Kibbe
President and CEO
FreedomWorks

Aumentar investimentos é meta estratégica para o Brasil

Robson B. de Andrade, Valor Econômico

Levantamento realizado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) revela que, entre as 25 maiores economias emergentes do mundo, o país é o último no ranking dos investimentos produtivos em relação ao Produto Interno Bruto (PIB).

Mesmo entre as 25 maiores economias industriais avançadas, que têm menor propensão a investir em função de sua maturidade econômica, a posição do Brasil é também desconfortavelmente baixa. Nesse grupo, está em penúltimo lugar.

Sintetizando: entre 50 países, o G-25 dos maiores emergentes e o G-25 dos mais avançados, somente um, o Reino Unido, ficou abaixo do Brasil em comparação internacional criteriosamente construída com base em séries históricas dos últimos 20 anos, de 1991 a 2010.

Os números impressionam. A média ponderada dos investimentos produtivos do Brasil nas duas últimas décadas em relação ao PIB foi de 17,7%, muito abaixo da média do G-25 emergente, que atingiu 28,3% no mesmo período. E ficou também abaixo da média do G-25 avançado, que foi de 20,9%.

Essas diferenças se refletiram, naturalmente, no crescimento econômico dos dois grupos. Em valores nominais, o G-25 emergente cresceu expressivamente mais, 7,4% ao ano, contra 3,4 % do G-25 avançado. Com isso, os emergentes ampliaram de 18,3% para 37,8% sua participação no conjunto dos 50 países, mudando a configuração da economia mundial. Mas a posição do Brasil, no G-25 emergente, caiu de 14,1% para 10,6%.

São reconhecidamente favoráveis as condições que o país reúne para alcançar posição de potência mundial
País emergente de alto potencial, o Brasil reúne amplo conjunto de condições para subir no ranking das maiores economias do mundo. Seu peso no Produto Mundial Bruto não é pequeno. A despeito da baixa propensão a investir, o país é a 8ª economia do mundo, com chances de avançar mais uma posição nos próximos três anos. Mas, daí em diante, poderá estacionar se não forem definidas estratégias para substancial aumento da relação entre os investimentos produtivos e o PIB.

Há fundamentos estratégicos para o Brasil não estacionar nesse ranking. São reconhecidamente favoráveis as condições que o país reúne para alcançar posição de potência mundial: dimensão territorial, abundância de capital natural, diversidade de fontes renováveis para produção de energia, cadeias de produção competitivas, base demográfica e dimensões do mercado interno.

Condições institucionais e sócio-econômicas também favoráveis somam-se a esses atributos geoeconômicos. Entre as geralmente reconhecidas como de alta relevância para a expansão dos investimentos, destacamos três. A primeira é o sistema político aberto, democrático, estabelecido desde a primeira metade dos anos 80, focado em objetivos de alcance social, como a melhor distribuição da renda e da riqueza.

A segunda é a emergência de nova classe empresarial, menos atrelada à busca por políticas protecionistas e mais atenta à definição de estratégias competitivas. São visíveis, nas regiões mais dinâmicas do país, o surgimento e a rápida consolidação de novas empresas, com propósitos e projetos estrategicamente orientados para o crescimento.

A terceira condição favorável é a mobilidade sócio-econômica ascendente, que tem se acentuado nos últimos 15 anos e que está levando à consolidação de amplo mercado interno de massas.

Diante desse elenco de boas condições, pode parecer estranho que o Brasil apresente taxas tão baixas de investimentos produtivos em relação ao PIB, comparado com as 50 maiores economias.

As razões estão na estrutura fiscal do país e na inapetência para a condução de três reformas - a tributária, a previdenciária e a administrativa - que, se profundas, poderão gerar condições para ampla expansão da relação investimentos/PIB.

Operando um sistema tributário complexo e excessivo, o setor público capta 40% da renda nacional disponível para investir apenas 1,5% do PIB. Já o setor privado, com os 60% que lhe restam, investe 17%. Se a mesma proporção renda/investimento entre os dois setores fosse mantida, o setor público deveria investir 11,3%. Isso elevaria para 28,3% a relação investimentos/PIB, que, talvez não por mera coincidência, é a média ponderada do G-25 emergente.

Fica claro, assim, que a discrepante propensão ao investimento nos setores público e privado é a condição de maior peso na baixa posição do Brasil no ranking da relação entre PIB e investimentos produtivos.

Uma ampla reforma da estrutura fiscal - alcançando os dois lados do orçamento do setor público, receitas e dispêndios - removeria outras travas dos investimentos, como gargalos em infraestrutura e ônus sistêmicos. Na esteira dessas mudanças, outras condições adversas seriam eliminadas simultaneamente, reorientando-se tanto a estrutura tributária quanto despesas, como as destinadas à educação, à segurança e à viabilização de parcerias público-privadas em grande escala.

É verdade que o governo tem manifestado preocupação com o estímulo aos investimentos, por meio da desoneração tributária e constituindo fundos de longo prazo operados pelo BNDES. Mas há um elenco de outras condições que não podem esperar.

Apesar da complexidade das mudanças necessárias, é possível mobilizar amplo apoio político-institucional para a construção de um novo ciclo virtuoso na história econômica do país, que puxe para cima a relação investimentos/PIB. Se isso não for feito, essa relação estratégica continuará refém do ciclo vicioso que se enraizou e que trava a aceleração do crescimento - uma consequência perversa, não compatível com as aspirações de conduzir o Brasil à posição de potência mundial.

Robson Braga de Andrade é presidente da Confederação Nacional da Indústria

The Debt Ceiling and the Pursuit of Happiness

By ARTHUR C. BROOKS, WSJ

The battle over the debt ceiling is only the latest skirmish in what promises to be an ongoing, exhausting war over budget issues. Americans can be forgiven for seeing the whole business as petty, selfish and tiresome. Conservatives in particular are beginning to worry that public patience will wear thin over their insistence that our nation's government-spending problem must be remedied through spending cuts, not by raising more revenues.

But before they succumb to too much caution, budget reformers need to remember three things. First, this is not a political fight between Republicans and Democrats; it is a fight against 50-year trends toward statism. Second, it is a moral fight, not an economic one. Third, this is not a fight that anyone can win in the 15 months from now to the presidential election. It will take hard work for at least a decade.

Consider a few facts. The Bureau of Economic Analysis tells us that total government spending at all levels has risen to 37% of gross domestic product today from 27% in 1960—and is set to reach 50% by 2038. The Tax Foundation reports that between 1986 and 2008, the share of federal income taxes paid by the top 5% of earners has risen to 59% from 43%. Between 1986 and 2009, the percentage of Americans who pay zero or negative federal income taxes has increased to 51% from 18.5%. And all this is accompanied by an increase in our national debt to 100% of GDP today from 42% in 1980.

Where will it all lead? Some despairing souls have concluded there are really only two scenarios. In one, we finally hit a tipping point where so few people actually pay for their share of the growing government that a majority become completely invested in the social welfare state, which stabilizes at some very high level of taxation and government social spending. (Think Sweden.)

In the other scenario, our welfare state slowly collapses under its weight, and we get some kind of permanent austerity after the rest of the world finally comprehends the depth of our national spending disorder and stops lending us money at low interest rates. (Think Greece.)

In other words: Heads, the statists win; tails, we all lose.

Anyone who seeks to provide serious national political leadership today—those elected in 2010 or who seek national office in 2012—owe Americans a plan to escape having to make this choice. We need tectonic changes, not minor fiddling.

Rep. Paul Ryan's (R., Wis.) budget plan is the kind of model necessary. But structural change will only succeed if it's accompanied by a moral argument—an unabashed cultural defense of the free enterprise system that helps Americans remember why they love their country and its exceptional culture.

America's Founders knew the importance of moral language, which is why they asserted our unalienable right to the pursuit of happiness, not to the possession of property. Similarly, Adam Smith, the father of free-market economics, had a philosophy that transcended the mere wealth of nations. His greatest book was "The Theory of Moral Sentiments," a defense of a culture that could support true freedom and provide the greatest life satisfaction.

Yet today, it is progressives, not free marketeers, who use the language of morality. President Obama was not elected because of his plans about the taxation of repatriated profits, or even his ambition to reform health care. He was elected largely on the basis of language about hope and change, and a "fairer" America.

The irony is that statists have a more materialistic philosophy than free-enterprise advocates. Progressive solutions to cultural problems always involve the tools of income redistribution, and call it "social justice."

Free-enterprise advocates, on the other hand, speak privately about freedom and opportunity for everybody—including the poor. Most support a limited safety net, but also believe that succeeding on our merits, doing something meaningful, and having responsibility for our own affairs are what give us the best life. Sadly, in public, they always seem stuck in the language of economic efficiency.

The result is that year after year we slip further down the redistributionist road, dissatisfied with the growing welfare state, but with no morally satisfying arguments to make a change that entails any personal sacrifice.

Examples are all around us. It is hard to find anyone who likes our nation's current health-care policies. But do you seriously expect grandma to sit idly by and let Republicans experiment with her Medicare coverage so her great-grandchildren can get better treatment for carried interest? Not a chance.

If reformers want Americans to embrace real change, every policy proposal must be framed in terms of self-realization, meritocratic fairness and the promise of a better future. Why do we want to lower taxes for entrepreneurs? Because we believe in earned success. Why do we care about economic growth? To make individual opportunity possible, not simply to increase wealth. Why do we need entitlement reform? Because it is wrong to steal from our children.

History shows that big moral struggles can be won, but only when they are seen as decade-long fights and not just as a way to prevail in the next election. Welfare reform was first proposed in 1984 and regarded popularly as a nonstarter. Twelve years of hard work by scholars at my own institution and others helped make it a mainstream idea (signed into law by a Democratic president) and perhaps the best policy for helping the poor to escape poverty in our nation's history. Political consultants would have abandoned welfare reform as unworkably audacious and politically suicidal. Real leaders understood that its moral importance transcended short-term politics.

No one deserves our political support today unless he or she is willing to work for as long as it takes to win the moral fight to steer our nation back toward enterprise and self-governance. This fight will not be easy or politically safe. But it will be a happy one: to share the values that make us proud to be Americans.

Mr. Brooks is president of the American Enterprise Institute and author of "The Battle: How the Fight Between Free Enterprise and Big Government Will Shape America's Future" (Basic Books, 2010).

Aeroportos fantasmas simbolizam derrocada da economia espanhola

Associated Press, Valor

Quem se aproxima do Aeroporto Central de Ciudad Real nota algo estranho. Não se avista aviões. Na verdade, não há ninguém. À distância, ouve-se carros passando.

Trata-se de um dos "aeroportos fantasmas" da Espanha, projetos ambiciosos financiados pelos contribuintes que ajudaram a gerar a onda de expansão econômica e agora são símbolo do desperdício que contribuiu para a débâcle.

Foi imaginado como um aeroporto auxiliar para Madri. Tem uma das pistas mais longas da Europa e, no entanto, praticamente não há marcas de pneus. Recebe apenas um punhado de voos por semana. Seu enorme terminal, pelo qual deveriam passar 2,5 milhões de passageiros por ano, é uma caixa de ressonância, que a qualquer som gera eco.

A derrocada da economia espanhola marcou a sorte do Central, mas alguns dizem que o projeto estava condenado ao fracasso de antemão, por estar demasiado longe da capital.

A Espanha agora luta para superar a crise, que trouxe desemprego de 21% e foi decorrente principalmente da decadência da indústria de construção. O Central é um exemplo do que acontece quando as coisas não saem bem.

Há indícios de sobra, contudo, de que a Espanha não aprendeu as lições deixadas pela crise. Há pouco, anunciou-se a construção de um trem de alta velocidade na Galícia, norte da Espanha, em uma região pouco povoada. Alguns economistas consideram o projeto uma extravagância. Estradas e pontes, no entanto, continuam sendo projetadas, apesar de não haver dinheiro para essas iniciativas.

"Tínhamos grandes esperanças no Central, acreditávamos nele. Pensamos que seria a salvação da região", comentou o taxista Enrique Buendia, de Ciudad Real. "Mas não se pode misturar política com negócios."

De fato, foi a combinação pouco salutar de política e negócios que resultou em elefantes brancos como o aeroporto de Ciudad Real, uma cidade com 74 mil habitantes. A Espanha tem um longo histórico de projetos duvidosos financiados pelo Estado, que alimentam ambições de políticos e empresários.

Aeroportos e outras iniciativas ilustram como governos regionais e instituições de poupança vinculadas ao governo contraíram dívidas que levarão anos para saldar.

Analistas dizem que as dívidas regionais são um dos fatores que mais afetam as possibilidades de redução do déficit da Espanha, que em 2009 chegou a 11,2% do Produto Interno Bruto (PIB). A União Europeia estipulou que até 2013 não supere os 3%.

O Central é um aeroporto até bem movimentado em comparação ao de Huesca, construído há dois anos no norte da Espanha e cujos funcionários não verão um voo sequer por seis meses. O restaurante funciona, mas atendendo a pessoas da região atraídas por suas boas refeições.

Outro caso é o do Castellón, construído em uma região onde há aeroportos de sobra. Custou € 150 milhões e foi inaugurado em março. Ainda não recebeu um só voo. Provavelmente, não receberá por muito tempo, já que ainda precisa conseguir licença para operar.

Castellón foi construído porque um parque temático de diversões seria instalado na área, projeto que ainda não saiu do papel e cujo futuro não é promissor.

Em sua entrada, pretendiam instalar uma estátua, com 24 metros, do presidente provincial de Castellón, Carlos Fabra, que encomendou o projeto e já foi investigado várias vezes por suspeita de corrupção.

"Substituímos nossa obsessão por tijolos e construção de casas por uma obsessão por tijolos, estradas e trens de alta velocidade, mas é tudo a mesma história", afirmou Fernando Fernández, professor de macroeconomia na IE Business School, de Madri.

"É como um viciado em drogas que tenta se desintoxicar", acrescentou. "A economia esteve crescendo graças à construção nos últimos dez anos e isso cria todo tipo de maus hábitos."

León, a cidade do primeiro-ministro, José Luis Rodríguez Zapatero, passou a usar um aeroporto militar para fins comerciais, mas são poucos os voos que chegam a cada semana.

A cidade de 200 mil habitantes conta com modernas estradas e receberá um trem-bala a ser construído em Galícia.

Murcia, ao sul, conta com um segundo aeroporto a meia hora do primeiro, que não só bastava como sobrava. Agora, se fala em também construir um em Toledo, a uma hora de Ciudad Real.

Boa parte do problema deriva do fato de a Espanha ter 17 regiões semiautônomas.

"Este é um país de feudos, como na Idade Média", declarou Stephen Matlin, diretor-executivo da empresa de investimentos Matlin Associates, em Madri. "Todos querem seu aeroporto, seu centro de convenções e seu trem rápido."

"Um ou dois aeroportos não são um problema. "O problema surge quando temos centenas de milhares de projetos e comprometemos bilhões de dólares por todos os lados."

Os dois principais partidos políticos da Espanha defendem os projetos de infraestrutura e acusam-se mutuamente pelos excessos.

Ambos alegam que, quando os projetos mais questionáveis foram elaborados, ninguém previa a crise que estava por chegar.

Rafael Simancas, porta-voz do Partido Socialista, diz que nos últimos 20 anos a Espanha embarcou em muitos mais projetos de infraestrutura que vizinhos mais ricos porque havia perdido terreno durante a ditadura de Francisco Franco, que durou até 1978.

Alguns analistas afirmam que um desastre pode acontecer, a menos que a Espanha comece a investir em novos modelos econômicos, educação, pesquisa e desenvolvimento.

"Estamos mantendo a velha estrutura econômica do país", disse Fernández. "Em vez de investir em novas habilidades, gastamos dinheiro para tentar manter as pessoas ocupadas e dar a impressão de que estamos reduzindo o desemprego."

sábado, julho 23, 2011

A falência do Estado social


Rodrigo Constantino, para a revista VOTO

O que a crise européia demonstra é a falência de um modelo de sociedade, qual seja, aquele calcado na demasiada concentração de poder no governo. O sonho igualitário vem de longa data. A “justiça social” seria a façanha de um governo contra as injustiças criadas pelo livre mercado. Todos devem ter “direito” a uma vida digna, e o Estado é o instrumento desta conquista.

Não há nada novo aqui. A República platônica já esboçava os primeiros desenhos desta mentalidade. A desconfiança com o mercado vem de longa data. Intelectuais que jamais compreenderam o poder desta “ordem espontânea” sempre desprezaram o lucro e a competição, preferindo criar modelos “justos” em suas abstrações filosóficas. O papel aceita qualquer coisa. A realidade não.

Os experimentos modernos desta sanha igualitária levaram aos regimes comunistas totalitários, deixando um rastro enorme de sangue, terror e miséria. As “viúvas de Stalin“ se viram desamparadas após a queda do Muro de Berlim e do império soviético. Muitos buscaram refúgio na seita ambientalista que, apelando ao eco-terrorismo, criava a oportunidade para ataques contínuos ao capitalismo. Seu grande defeito agora era criar riqueza demais e ameaçar o planeta. Outros encontraram no Estado social europeu uma “terceira via” para preservar seus devaneios igualitários.

Este modelo encontra-se próximo do esgotamento. A principal causa está nos mecanismos perversos de incentivo. O Estado se tornou, nas palavras de Bastiat, “a grande ficção pela qual todos tentam viver à custa de todos”. Em verdadeiros leilões de promessas irrealistas, governo atrás de governo foi ofertando privilégios e benesses. Enquanto a demografia ajudava e os choques de produtividade permitiam algum crescimento econômico, a ciranda da felicidade seguiu seu rumo. Até bater no muro da realidade.

As contas públicas explodiram. Os governos acumularam dívidas quase do tamanho de sua produção nacional, e em alguns casos extremos o endividamento público ultrapassa o PIB. Os trabalhadores conseguiram inúmeras regalias, engessando o mercado de trabalho e retirando competitividade de suas economias. Os salários deixaram de ser atrelados à produtividade, como se fosse possível criar riqueza por decretos estatais. A fome insaciável do governo por recursos levou a uma arrecadação tributária insana, superando a metade do PIB em alguns casos.

Enquanto o próprio povo demandava mais do “deus” governo, não percebia que o poder de dar tudo também é o poder de tirar tudo. Os cidadãos se tornaram súditos, labutando metade do ano apenas para contribuir com o bolo total a ser distribuído com critérios claramente clientelistas e eleitoreiros. Uma casta se formou dos mais privilegiados, os funcionários públicos, os sindicalistas e os empresários próximos ao governo. E este poderia sempre emitir mais dívida ou arrecadar mais para sustentar o modelo.

Mas há um limite. Quando o governo controla a emissão de moeda, o limite costuma se dar pela hiperinflação, que destrói o sistema monetário e derruba o governo. Só que na Europa a coisa não é tão simples. O Banco Central Europeu mantém certa independência, e traz consigo tradição ortodoxa do Bundesbank, o banco central alemão que, por já ter vivido a hiperinflação, não costumava brincar com fogo. Sem contar com a saída fácil da impressora de moeda, os governos tiveram que apelar para o endividamento excessivo mesmo. Até acender todos os alertas dos credores.

O que permitiu que esta farra durasse tanto tempo foi, em parte, a criação do euro. O projeto do euro foi essencialmente político, para tentar acalmar uma região acostumada com guerras ininterruptas. Mas o euro trouxe muitos desequilíbrios econômicos. Ele possibilitou uma convergência nas taxas de juros de países com fundamentos muito distintos. A Grécia podia captar recursos pagando quase o mesmo que a Alemanha. A eficiência de um criava um “almoço grátis” para o outro. Não havia muito incentivo para as formigas, se as cigarras podiam desfrutar de uma dolce vita sem pagar a fatura.

Durante a fase de excesso de liquidez nos mercados mundiais, os pilares podres do modelo foram ignorados. Mas quando a maré baixou, aqueles que nadavam nus ficaram expostos. Eis a situação atual. A crise já se alastrou pela Europa. Com fundamentos frágeis, com as finanças públicas fora de controle, com cargas tributárias abusivas, com regulamentação em demasia, sem dinamismo de crescimento, a Europa enfrenta um árduo desafio. A própria sobrevivência do euro está em xeque. Calotes serão inevitáveis. Haverá muito sofrimento e, partindo de um elevado desemprego, as tensões sociais serão preocupantes.

A monarquia francesa tentou se perpetuar no poder comprando o apoio da nobreza. Não percebeu que o golpe fatal viria de baixo, de um povo desesperado e cansado de tanto abuso. Hoje, os governos do Estado social tentam sobreviver fazendo basicamente o mesmo, distribuindo mais dinheiro para a nomenklatura incrustada no poder. Até quando conseguirão fazer isso sem despertar a fúria incontrolável da turma do andar de baixo?

sexta-feira, julho 22, 2011

Ingenuidade e memória curta


Rodrigo Constantino, para o Instituto Liberal

Não são poucos os que passaram a acreditar nas melhores intenções da presidente Dilma com esta “faxina” no Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), um dos maiores antros de corrupção do governo. A demissão de vários funcionários ligados aos caciques do PR causou a impressão, em alguns, de que a presidente pretende fazer uma limpa no governo. Seria a “vassoura” moralista de uma presidente intolerante com a corrupção. E ainda tem quem compre este tese!

Como o brasileiro costuma ter memória curta, é sempre bom ajudá-lo a refrescá-la. Esta mesma Dilma Rousseff, agora presidente, era a ministra poderosa do corrupto governo Lula, aquele do “mensalão”. Foi Dilma quem alçou ao elevado posto de ministra-chefe da Casa Civil sua aliada próxima, Erenice Guerra. Erenice, para quem já não lembra mais, caiu envolta em escândalos de corrupção e nepotismo. Erenice, para quem já esqueceu, era o braço-direito de Dilma. Erenice, para as vítimas de Alzheimer, estava no dia da posse da nova presidente, como convidada especial da própria.

Este recém-adquirido moralismo da presidente só convence alguém muito ingênuo mesmo. A ajuda que a grande imprensa tem dado a esta imagem até é fácil de entender: estão aproveitando a oportunidade para pressionar uma presidente fraca a tomar medidas salutares contra a corrupção, na tentativa de separá-la da imagem do ex-presidente Lula, sempre disposto a beijar a mão dos maiores corruptos. A própria presidente pode estar aproveitando isso para conquistar parte da classe média, enojada com os infindáveis casos de roubalheira no governo.

Mas não há desculpas para quem realmente abraça a tese da presidente moralista e intolerante com a corrupção. Dilma foi cúmplice de Lula, que foi cúmplice de Delúbio Soares e José Dirceu; todos eles são farinha do mesmo saco. E como minha memória vai mais longe ainda, aproveito para questionar aos que admiram o esforço “genuíno” de Dilma pela moralidade: onde foram parar aqueles US$ 2,6 milhões roubados do cofre de Adhemar de Barros pelo grupo guerrilheiro VAR-Palmares, que Dilma fazia parte no passado?

quinta-feira, julho 21, 2011

O exemplo de Jaraguá

Recebi por email e divulgo. O exemplo dos outdoors colocados em Jaraguá, Santa Catarina, deveria ser seguido em todos os municípios. A mais pura verdade!



The End of the Growth Consensus

By JOHN B. TAYLOR, WSJ

This month marks the two-year anniversary of the official start of the recovery from the 2007-09 recession. But it's a recovery in name only: Real gross domestic product growth has averaged only 2.8% per year compared with 7.1% after the most recent deep recession in 1981-82. The growth slowdown this year—to about 1.5% in the second quarter—is not only disappointing, it's a reminder that the recovery has been stalled from the start. As shown in the nearby chart, the percentage of the working-age population that is actually working has declined since the start of the recovery in sharp contrast to 1983-84. With unemployment still over 9%, there is an urgent need to change course.

Some blame the weak recovery on special factors such as high personal saving rates as households repair their balance sheets. But people are consuming a larger fraction of their income now than they were in the 1983-84 recovery: The personal savings rate is 5.6% now compared with 9.4% then. Others blame certain sectors such as weak housing. But the weak housing sector is much less of a negative factor today than declining net exports were in the 1983-84 recovery, and the problem isn't confined to any particular sector. The broad categories of investment and consumption are both contributing less to growth. Real GDP growth is 60%-70% less than in the early-'80s recovery, as is growth in consumption and investment.

In my view, the best way to understand the problems confronting the American economy is to go back to the basic principles upon which the country was founded—economic freedom and political freedom. With lessons learned from the century's tougher decades, including the Great Depression of the '30s and the Great Inflation of the '70s, America entered a period of unprecedented economic stability and growth in the '80s and '90s. Not only was job growth amazingly strong—44 million jobs were created during those expansions—it was a more stable and sustained growth period than ever before in American history.

Economic policy in the '80s and '90s was decidedly noninterventionist, especially in comparison with the damaging wage and price controls of the '70s. Attention was paid to the principles of economic and political liberty: limited government, incentives, private markets, and a predictable rule of law. Monetary policy focused on price stability. Tax reform led to lower marginal tax rates. Regulatory reform encouraged competition and innovation. Welfare reform devolved decisions to the states. And with strong economic growth and spending restraint, the federal budget moved into balance.

As the 21st century began, many hoped that applying these same limited-government and market-based policy principles to Social Security, education and health care would create greater opportunities and better lives for all Americans.

But policy veered in a different direction. Public officials from both parties apparently found the limited government approach to be a disadvantage, some simply because they wanted to do more—whether to tame the business cycle, increase homeownership, or provide the elderly with better drug coverage.

And so policy swung back in a more interventionist direction, with the federal government assuming greater powers. The result was not the intended improvement, but rather an epidemic of unintended consequences—a financial crisis, a great recession, ballooning debt and today's nonexistent recovery.

The change in policy direction did not occur overnight. We saw increased federal intervention in the housing market beginning in the late 1990s. We saw the removal of Federal Reserve reporting and accountability requirements for money growth from the Federal Reserve Act in 2000. We saw the return of discretionary countercyclical fiscal policy in the form of tax rebate checks in 2001. We saw monetary policy moving in a more activist direction with extraordinarily low interest rates for the economic conditions in 2003-05. And, of course, interventionism reached a new peak with the massive government bailouts of Detroit and Wall Street in 2008.

Since 2009, Washington has doubled down on its interventionist policy. The Fed has engaged in a super-loose monetary policy—including two rounds of quantitative easing, QE1 in 2009 and QE2 in 2010-11. These large-scale purchases of mortgages and Treasury debt did not bring recovery but instead created uncertainty about their impact on inflation, the dollar and the economy. On the fiscal side, we've also seen extraordinary interventions—from the large poorly-designed 2009 stimulus package to a slew of targeted programs including "cash for clunkers" and tax credits for first-time home buyers. Again, these interventions did not lead to recovery but instead created uncertainty about the impact of high deficits and an exploding national debt.

Big government has proved to be a clumsy manager, and it did not stop with monetary and fiscal policy. Since President Obama took office, we've added on complex regulatory interventions in health care (the Patient Protection and Affordable Care Act) and finance (the Dodd-Frank Wall Street Reform and Consumer Protection Act). The unintended consequences of these laws are already raising health-care costs and deterring new investment and risk-taking.

If these government interventions are the economic problem, then the solution is to unwind them. Some lament that with the high debt and bloated Fed balance sheet, we have run out of monetary and fiscal ammunition, but this may be a blessing in disguise. The way forward is not more spending, greater debt and continued zero-interest rates, but spending control and a return to free-market principles.

Unfortunately, as the recent debate over the debt limit indicates, narrow political partisanship can get in the way of a solution. The historical evidence on what works and what doesn't is not partisan. The harmful interventionist policies of the 1970s were supported by Democrats and Republicans alike. So were the less interventionist polices in the 1980s and '90s. So was the recent interventionist revival, and so can be the restoration of less interventionist policy going forward.

Mr. Taylor, a professor of economics at Stanford and a senior fellow at the Hoover Institution, is the author of "Getting Off Track: How Government Actions and Interventions Caused, Prolonged and Worsened the Financial Crisis" (Hoover Press, 2009).

quarta-feira, julho 20, 2011

Are We Entering Into Revolutionary Times?

GaveKal Research

In "A Study of History", Toynbee explains that the role of a society's elite is to rise to the challenges of the times, and find solutions fitting to those times, even if this involves a radical break with the past. Meanwhile, the modus operandi for most leaders is to try and maintain the status quo, and restore the "old order" that prevailed before the disruption. But if the problems are large enough, this does not work, and the same challenges reappear until either a solution is found (e.g., the European Union project as the solution to Franco-German rivalry), the elite is replaced by a new elite (i.e., revolution), or the country, system or civilization disappears (e.g., end of the Soviet Union). Now if one buys into Toynbee's grid of reference (and a number of us do), then it is possible that welfare states everywhere around the world are entering revolutionary times.

Indeed, eighteen months ago when we drew our first decision tree to review the possible scenarios for a denouement in the Greek crisis, we indicated that the worst possible outcome would be the "fudge." But of course, this is what we got and a year and a half later, we are none the wiser as to who will carry the losses on the Greek loans that everyone knows have been wasted. Worse yet, Spain and Italy are now coming into play.

Over that period, a number of our papers have been centered on the idea that negative real rates, increases in government spending, devaluations and transfers of debt from banks to taxpayers would not work. Worse yet, the very low nominal rates of the past decade have led to a huge expansion of what can be best described as "social clientelism," i. e., governments wasting money as never before in peace time through social transfers to "buy" votes. We now seem to be reaching the logical end to this process, though there are few signs emanating from the elite of a will to tackle this issue (witness how the French socialists and centre right are patting themselves on the back for agreeing to reduce the French budget deficit to -3% of GDP by 2013 if GDP growth continues to remain above trend -- as if the market will give French technocrats that kind of time and leeway!).

Now if today's elites cannot fathom confronting the imbedded benefits of civil servants and pensioners anymore than Louis XVI could take on the privileges of French aristocrats, then following Toynbee's grid, we have to fear that elites will be changed forcefully.

Of course, this is exactly what the US Tea Party is all about which is why we find the movement encouraging; at the very least, it offers a democratic alternative. Meanwhile, in Europe, where the economic and budgetary situations are arguably worse in a number of countries, nothing has emerged on the political scene. When a challenge as pressing as the one Europe is currently facing is obvious for all to see and yet nothing is done as politicians try to stay the course until the next election (for what?), this leaves an open field to the demagogues.Of course, demagogues are a great European tradition when the going gets tough. Historically, foxes are replaced by lions in the US and the UK, by demagogues elsewhere. We fully expect that coming elections across the Western world will produce some hair-raising outcomes.

terça-feira, julho 19, 2011

Enquete encerrada

Na última enquete, perguntei: Qual deveria ser a punição de Dirceu, o "chefe de quadrilha" do mensalão? Com 113 votos no total, a resposta vencedora foi a última opção, que recebeu 54% dos votos: ele deveria ser obrigado a se tratar pelo resto da vida no SUS, sistema de saúde pública do Brasil que o ex-presidente Lula considera quase "perfeito". De fato, seria uma punição e tanto. Dependendo do SUS, o "resto da vida" não é muita coisa...

Falência moral da democracia brasileira

Ricardo Vélez Rodriguez - O Estado de S.Paulo

A sociedade brasileira está em crise. Não sabemos, como povo organizado, qual é o nosso padrão de comportamento. Nas últimas décadas estivemos preocupados com outras coisas, que encheram a nossa agenda, ao ensejo da saída do último ciclo autoritário para a construção da Nova República. Não foi resolvida, no entanto, a questão da moral social, que daria embasamento às instituições. Acontece que sem equacionar essa questão tudo o mais fica no ar: Constituição, Códigos de Direito Civil e Penal, funcionamento adequado dos poderes públicos, pacto federativo, respeito às leis, organização e funcionamento dos partidos políticos, fundamento das práticas econômicas em rotinas de transparência que dariam ensejo ao que Alain Peyrefitte denominava "sociedade de confiança", governabilidade, etc.

Definamos o que se entende por moral: como frisa mestre Antônio Paim no seu Tratado de Ética, ela consiste num "conjunto de normas de conduta adotado como absolutamente válido por uma comunidade humana numa época determinada". A moral tem uma dupla dimensão, individual e social. A primeira se identifica com o que Immanuel Kant denominava "imperativo categórico da consciência". A segunda consiste na definição do mínimo comportamental que uma sociedade exige dos seus indivíduos para que se torne possível a vida em comunidade. A moral social pode ser de dois tipos:

- Vertical, quando um grupo de indivíduos impõe ao restante o padrão de comportamento;

- social, quando o padrão de comportamento é adotado por consenso da comunidade. A moral social consensual constitui, no mundo contemporâneo, o fundamento axiológico da vida democrática.

No plano da moral social, no entanto, herdamos modelos verticais que não se ajustam aos ideais democráticos. Os arquétipos de moral social sedimentados na História quadrissecular da Nação brasileira ressentem-se do vício do estatismo e da verticalidade que ele implica. É evidentemente vertical o modelo de moral social herdado da Contrarreforma; nele os indivíduos deveriam agir, em sociedade, seguindo à risca os ditames provenientes da Igreja mancomunada com o trono, no esquema de absolutismo católico ensejado pelos Áustrias na Península Ibérica, ao longo dos séculos 16 e 17. De outro lado, o modelo imposto pelo despotismo iluminista de Sebastião José de Carvalho e Melo, o marquês de Pombal, no século 18, não mudou radicalmente as coisas, pois pecava por manter a verticalidade da formulação do código de moral social, ao ensejo da "aritmética política" que passou a vigorar, ao redor dos seguintes princípios:

Compete ao Estado empresário, alicerçado na ciência aplicada, garantir a riqueza da Nação.

É da alçada do Estado fixar a normas que consolidam a moralidade pública e privada.

O cidadão, em razão de tais princípios, ficava desonerado das incumbências de produzir a riqueza e de se comprometer com a definição da moral social, que nas democracias modernas terminou sendo configurada de forma consensual pelas respectivas sociedades. Tudo se resolveria mediante a tutela do Estado modernizador sobre os cidadãos, considerados como simples peças da engrenagem a ser gerida pelo governo. O ciclo imperial, com a preocupação da elite em prol da constituição e do aperfeiçoamento da representação, mantendo a unidade nacional contra os separatismos caudilhescos, num contexto presidido pelos ideais liberais, foi abruptamente rompido pelo advento da República positivista. Frustraram-se assim, talvez de forma definitiva, a aparição e o amadurecimento de um modelo ético de moral social consensual.

Ora, a partir do arquétipo pombalino firmaram-se os modelos de moral social vertical que têm presidido a nossa caminhada ao longo dos dois últimos séculos, de mãos dadas com a cultura patrimonialista, que sempre entendeu o Estado como bem a ser privatizado por clãs e patotas, desde a República iluminista apregoada por frei Caneca, no início do século 19, à luz da denominada "geometria política", passando pela "ditadura científica" positivista, que se tornou forte ao ensejo do Castilhismo, no Rio Grande do Sul, nas três primeiras décadas do século passado, passando pelo modelo getuliano de "equacionamento técnico dos problemas" (elaborado pela segunda geração castilhista, com Getúlio Vargas e Lindolfo Collor como cérebros dessa empreitada, e cooptando, como estamento privilegiado, as Forças Armadas). A última etapa dessa caminhada estatizante foi o modelo tecnocrático efetivado pelo ciclo militar, à sombra da "engenharia" política do general Golbery do Couto e Silva.

Com o advento da Nova República tentou-se retomar a questão da representação política como meio para configurar, no País, a formulação de uma moral social consensual. No entanto, o fracasso da reforma política que levaria ao amadurecimento da representação terminou dando ensejo, no ciclo lulista e na atual quadra do pós-lulismo, à consolidação de modelo vertical de moral social formulado no contexto do que se denomina "ética totalitária", segundo a qual os fins justificam os meios. A cooptação de aliados pelo Executivo hipertrofiado, no seio de uma consciência despida de freios morais, terminou dando ensejo à atual quadra desconfortável de corrupção generalizada, que ameaça gravemente a estabilidade econômica, duramente conquistada nas gestões social-democratas de Fernando Henrique Cardoso.

O Brasil perde o seu rumo, num mundo agressivo e cada vez mais interdependente, assombrado pela ética totalitária petista, aliada, na síndrome lulista do "herói sem nenhum caráter", a desprezíveis formas de populismo irresponsável, que elevou como ideal o princípio macunaímico de levar vantagem em tudo, num sórdido cenário de desfaçatez e incultura. Tudo presidido pela maré estatizante que se apropria da riqueza da Nação para favorecer a nova casta sindical e burocrática que emerge ameaçadora, excludente e voraz.

segunda-feira, julho 18, 2011

A tentação totalitária

LUIZ FELIPE PONDÉ, Folha de SP

VOCÊ SE considera uma pessoa totalitária? Claro que não, imagino. Você deve ser uma pessoa legal, somos todos.
Às vezes, me emociono e choro diante de minhas boas intenções e me pergunto: como pode existir o mal no mundo? Fossem todos iguais a mim, o mundo seria tão bom... (risadas).
Totalitários são aqueles skinheads que batem em negros, nordestinos e gays.
Mas a verdade é que ser totalitário é mais complexo do que ser uma caricatura ridícula de nazista na periferia de São Paulo.
A essência do totalitarismo não é apenas governos fortes no estilo do fascismo e comunismo clássicos do século 20.
Chama minha atenção um dado essencial do totalitarismo, quase sempre esquecido, e que também era presente nos totalitarismos do século 20.
Você, amante profundo do bem, sabe qual é? Calma, chegaremos lá.
Você se lembra de um filme chamado "Um Homem Bom", com Viggo Mortensen, no qual ele é um cara legal, um professor universitário não simpatizante do nazismo (o filme se passa na Alemanha nazista), e que acaba sendo "usado" pelo partido?
Pois bem. Neste filme, há uma cena maravilhosa, entre outras. Uma cena num parque lindo, verde, cheio de árvores (a propósito, os nazistas eram sabidamente amantes da natureza e dos animais), famílias brincando, casais se amando, cachorros correndo, até parece o Ibirapuera de domingo.
Aliás, este é um dos melhores filmes sobre como o nazismo se implantou em sua casa, às vezes, sem você perceber e, às vezes, até achando legal porque graças a ele (o partido) você arrumaria um melhor emprego e mais estabilidade na vida.
Fosse hoje em dia, quem sabe, um desses consultores por aí diria, "para ter uma melhor qualidade de vida".
E aí, a jovem esposa do professor legal (ele acabara de trocar sua esposa de 40 anos por uma de 25 -é, eu sei, banal como a morte) o puxa pelo braço querendo levá-lo para o comício do partido que ia rolar naquele domingão no parque onde as famílias iam em busca de uma melhor qualidade de vida.
Mas ele não tem nenhuma vontade de ir para o comício porque sente um certo "mal-estar" com aquilo tudo. Mas ela, bonita, gostosa, loira, jovem e apaixonada (não se iluda, um par de pernas e uma boca vermelha são mais fortes do que qualquer "visão política de mundo"), diz: "meu amor, tanta gente junta querendo o bem não pode ser tão mal assim".
É, meu caro amante do bem, esta frase é uma das melhores definições do processo, às vezes invisível, que leva uma pessoa a ser totalitária sem saber: "quero apenas o bem de todos".
Aí está a característica do totalitarismo que sempre nos escapa, porque ficamos presos nas caricaturas dos skinheads: aquelas pessoas, sim, se emocionavam e choravam diante de tanta boa vontade, diante de tanta emoção coletiva e determinação para o bem.
Esquecemos que naqueles comícios, as pessoas estavam ali "para o bem".
Se você tem absoluta certeza que "você é do bem", cuidado, um dia você pode chorar num comício achando que aquilo tudo é lindo e em nome de um futuro melhor.
E se essa certeza vier acompanhada de alguma "verdade cientifica" (como foi comum nos totalitarismos históricos) associada a educadores que querem "fazer seres humanos melhores" (como foi comum nos totalitarismos históricos) e, finalmente, se tiver a ambição política, aí, então, já era.
Toda vez que alguém quiser fazer um ser humano melhor, associando ciência (o ideal da verdade), educação (o ideal de homem) e política (o ideal de mundo), estamos diante da essência do totalitarismo.
O que move uma personalidade totalitária é a certeza de que ela está fazendo o "bem para todos", não é a vontade de destruir grupos diferentes do dela.
Primeiro vem a certeza de si mesmo como agente do "bem total", depois você vira autoritário em nome desse bem total.
O melhor antídoto para a tentação do totalitarismo não é a certeza de um "outro bem", mas a dúvida acerca do que é o bem, aquilo que desde Aristóteles chamamos de prudência, a maior de todas as virtudes políticas.
Não confio em ninguém que queira criar um homem melhor.

Gold Moves Above $1,600 on the Spot Market


By FRANCESCA FREEMAN, WSJ

LONDON—Gold prices broke through $1,600 a troy ounce on the spot market for the first in Europe, supported by concerns over debt in the U.S. and the bloc of euro-using nations, though more definitive move higher stalled as some investors sought to book profits.

At midday, gold was back at $1,599.03 a troy ounce, after hitting $1,600.64. Silver moved back above $40 an ounce to $40.220, after hitting a 10-week high of $40.263.

The August futures contract closed Friday at a nominal record of $1,589.30 a troy ounce, up $3.80, or 0.2%, on the Comex arm of the New York Mercantile Exchange. Gold still is well off the inflation-adjusted record of $2,395.03 a troy ounce, in June dollars, set in January 1980.

Gold extended its win streak as concerns over debt contagion in Europe and failing confidence in the U.S. economy sent investor money into the perceived safety of the yellow metal. Late last week European banking stress tests failed to boost confidence in the region, while two ratings providers last week threatened to downgrade the U.S. credit rating if the issue of the country's debt-ceiling talks remain unresolved.

"If you're concerned about either the euro zone or U.S. debt issues, there's a reason to buy gold," said Mitsui analyst David Jollie. "At [$1,600 an ounce], gold may be overextended to the upside, but the bullish trend seems to be intact."

However, while a temporary pull-back around $1,600 is likely, gold looks well-positioned to move higher, said market players.

Relatively quiet trade Monday suggested that the market wasn't getting "over excited," said the industry participant. "This is encouraging, and suggests that this isn't just a temporary sensation," he said. "Prices could go significantly higher."

Spot gold soared to fresh records in both euro and sterling terms, as nervous European buyers exchange paper currency for the perceived haven metal. The spot price of gold in euros rallied at high as €1,139.22, while in sterling terms, the price hit a record £994.79.

The Debt Battle Is Good for the GOP

By CLARK S. JUDGE, WSJ

Watching the debt-ceiling battle on Capitol Hill—and even more the battle between the tea party young guns and older House Republicans—feels like déjà vu, or, rather, 1995, all over again.

Sixteen years ago, in the middle of the government shutdown, I found myself racing up Capitol Hill in a car filled with Republican congressmen. I had expected to hear talk of standing firm, of arguing their case for spending cuts on the House floor, of raising banners with bright, bold colors.

As I'd learned from years in the Reagan White House, confidence, clarity and consistency were essential to winning such high-stakes showdowns. Instead, these seasoned politicians were wringing their hands, snapping at any stalwart suggestion, and asking, "How did we get ourselves into this mess and how do we get out?"

Then-House Speaker Newt Gingrich takes criticism to this day for surrendering too quickly in his face-off with President Bill Clinton. Exhibit One has been the incredulous jubilation of Clinton staffers when Mr. Gingrich accepted an offer they regarded as the start of serious bargaining, not the end. But the speaker was dealing with what I saw in that car ride up the Hill—a majority that could not hold. Too many members were melting under White House and, even more, media heat. Raising the white flag reflected no more than a bow to reality. The GOP retreat could be orderly or chaotic. Mr. Gingrich prevented panic.

Today, again, the GOP caucus is divided, but with a difference. The tea party freshmen are insisting on a strong negotiating stance. They want real spending cuts without tax increases. House Majority Leader Eric Cantor has become their voice in the budget talks. Reflecting uncertainty about holding non-freshmen in line, both Senate Minority Leader Mitch McConnell and Speaker John Boehner have signaled readiness to accept cosmetic compromises.

Mr. Boehner in particular is responding to House members desperately in search of cover from fallout over the president's threat to delay Social Security checks if the debt ceiling isn't raised. Many are terrified of Democratic attack ads painting them as would-be destroyers of Medicare. The GOP defeat this May in the special election in New York's 26th District shook them, which is a sign of how badly they've defended their positions.

After all, if Social Security tax receipts don't cover all the checks in any month, the Social Security Trust Fund can sell its government bonds, bills and notes, as Sen. Jim DeMint (R., S.C), recently suggested. The holdings are enormous, and sales, even at a discount, could cover the system's needs for years, much less the time to finish budget parlaying.

So, if the checks stop coming, it will be the president who decided to stop them. That's not a hard message to get across.

Meanwhile, messaging on Medicare should be in Republicans' favor, not against them. Without reform, the system is doomed—and sooner than used to be thought, thanks to the half-trillion-dollar cuts written into Mr. Obama's health-reform legislation last year.

So, if Democrats don't like the budget reforms proposed by House Budget Committee Chairman Paul Ryan, they should propose something else. There will be lots of ideas put on the table before this is done. Medicare's only enemy is Dr. No, those who say "no" to exploring any reforms—and Dr. No is the role congressional Democrats and the administration are playing today.

Congressional tea party Republicans hold a stronger hand than anyone realizes. They speak for a large group of voters who have been swinging back and forth between the parties for more than a decade, determined the last three elections, and are likely to determine the 2012 outcome.

As early as 2005 at least one pollster—Kellyanne Conway—reported that part of the Bush 2004 vote was becoming disaffected over revulsion at federal spending. After the 2006 GOP debacle, then Republican National Committee Chairman Ken Mehlman told his troops they had got out their vote, which, as he said, then voted for the other guys.

Those same voters stayed with the other guys in 2008. But by 2010, the new Obama administration's multiple trillion-dollar bailouts and stimulus packages had driven them back toward the GOP, with one hitch. They still didn't trust the party and its officeholders.

The national tea party movement is just the most vocal element in this much larger wave. By and large, polling has not captured it. Pollsters follow the movements of demographic groups or the changing preferences of party loyalists and independents. They typically do not try to identify something like Bush voters of 2004 who became Obama voters in 2008 and GOP House voters in 2010. The tea party is the first broadly based American political insurgency since California's Proposition 13 in the 1970s. Sure, its fervor will make the old guard uncomfortable, but intensity is what the GOP needs.

In short, the tea party movement is Reaganism updated. A contest has been fought over and over in Washington since Republicans embraced cutting tax rates and nondefense spending under Ronald Reagan in the early '80s. When Republicans have united behind these priorities, they have won elections. Nervous Republicans should bear that in mind when they begin to go wobbly on something as basic as reining in spending and refusing to raise taxes. And achieving that unity has always been difficult.

Global markets must receive a clear signal that Washington has the political will to reduce spending radically. If market jitters over U.S. government debt do not convince congressional Republicans that, in the days ahead, they should hold firm for spending cuts, politics should.

Mr. Judge is managing director of the White House Writers Group and chairman of Pacific Research Institute. He was a speechwriter and special assistant to the president during the Reagan administration.

Comentário: Se você ler apenas a imprensa brasileira, ficará com a nítida sensação de que os riscos com o teto da dívida americana ser reprovado no Congresso têm ligação apenas com um bando de xiitas reacionários do Partido Republicano que atendem por membros do movimento "Tea Party". Nada mais falso! Ninguém fala do Obama, seu populismo e o Medicare, programa demagógico insustentável. Ninguém fala que esses membros do "Tea Party" foram eleitos com forte apoio popular justamente para barrar um projeto de governo que mira no modelo europeu, falido, de welfare state. Os "reacionários" querem resgatar valores do tempo em que a responsabilidade individual era importante, e que não cabia ao governo se meter em tudo e avançar no bolso dos cidadãos com tal voracidade. Se há o risco de curto prazo com o problema do "debt ceiling", isso tem raízes na expansão irresponsável dos tentáculos do governo, que acelerou-se durante a gestão Obama. Isso você não lê na nossa imprensa...