Ludwig von Mises nasceu no dia 29 de setembro de 1881. Foi um dos maiores defensores da liberdade individual, e um dos gigantes da Escola Austríaca. Segue minha homenagem a ele, com meu primeiro podcast.
Podcast Mises
Idéias de um livre pensador sem medo da polêmica ou da patrulha dos "politicamente corretos".
sábado, setembro 29, 2012
Brasil dos Jecas
Bruno Bressan De Cnop *
Depois
que a casa do Jeca COLLOR Tatu caiu, vieram os Jecas Itamar/FHC e colocaram a
casa de pé, deram uma guaribada no telhado, tiraram o cartão de crédito e o celular
da filharada.
Jeca
FHC Tatu sentou com a família e assumiu a dívida de todo mundo nas vendas da
cidade e mandou cancelar as cadernetas. É por isso que as pessoas fofoqueiras
da cidade falam que Jeca FHC Tatu fez muita dívida, ele tava era botando ordem
neste pardieiro. Isso foi igual a botar a mão em casa de marimbondo.
Colocou
as crianças na escola, não era muito boa, mas era o que o dinheiro dava, e ainda deu uma ajuda para os alunos mais pobres, deve
ter sido coisa de Dona Ruth.
Arranjou
um médico para visitar a casa de vez em quando, ganhou alguns pontos quando um compadre
dele peitou o dono da farmácia e conseguiu uns remédios mais baratos, mas foi
excomungado pelos idosos da casa quando aumentou a idade para parar de
trabalhar e criou umas contas esquisitas que não deixava o pessoal receber
muita aposentadoria, medida mais dura que toco de braúna, mas que se não fosse
feito, não teria dinheiro para todo mundo.
E
por último decidiu não gastar mais do ganhava, acreditem ou não muitos filhos
acharam esta decisão absurda, choraram feito criança birrenta.
No
sítio, Jeca dava duro e controlou a saúde do gado, melhorou as sementes e seu
plantio, ele vendeu umas máquinas velhas de tirar pedra que dava mais dinheiro
para os mecânicos que para ele e passou a receber uma tanto pela pedra tirada e
botou gente pra tomar conta, deu pra ganhar bem mais dinheiro. O pessoal que
consertava a máquina até hoje fala mal do Jeca FHC Tatu por conta disso.
Foram
anos difíceis de muito trabalho e pouco dinheiro, pois colocar a casa em pé foi
caro pra chuchu e não foi fácil, muita trovoada, muito vendaval e pouca chuva quase que a casa caiu de novo, mas sempre se arrumava
mais algumas goteiras, quase não conseguia pagar as contas, muitos filhos
reclamando das durezas destas decisões.
Com
o tempo, o fato de terem uma casa melhor não importava mais, a falação só
aumentava.
A
coisa ficou feia mesmo quando o Jeca não trocou uma fiação velha e teve
problema na parte elétrica da casa, todo mundo ficou brabo com o Jeca FHC Tatu.
Isso foi a gota d’água!
Saiu o Jeca
FHC Tatu entrou no seu lugar o Jeca LULA Tatu, um dos que mais reclamavam e
sempre dizia que tinha que mudar tudo que foi feito, pra ele tava tudo sempre errado.
Graças
a Deus era só conversa pra boi dormir, ele também resolveu não gastar mais do
que ganhava, até deixou outro compadre do Jeca FHC Tatu para tomar conta do
cofre.
Falar é
fácil!
Ele
falava que ia voltar com a máquina velha para tirar pedra e não fez, dizia que
ia voltar com as aposentadorias para igualzinho era antes e não fez, dizia que
o bolsa escola para os estudantes era bolsa esmola, isso aí ele mudou, mudou de
nome para bolsa família. Só para não dar o braço a torcer.
Ufa!
Ainda bem que ele não acabou com isso tudo. Acho que ele falava só pra ser do
contra.
Mas
esse Jeca LULA Tatu nasceu virado pra lua, não é que as coisas do sítio
começaram a dar dinheiro!
Pra
vocês terem uma idéia da diferença de preço das coisas que ele vendia na feira:
Produto
|
Preço
em 2001
|
Preço
em 2010
|
Soja (saco)
|
U$ 7,08
|
U$ 25,05
|
Milho (saco)
|
U$ 3,34
|
U$ 12,63
|
Boi @
|
U$ 16,06
|
U$ 48,96
|
Petróleo (barril)
|
U$ 25,00
|
U$100,00
|
Ferro (Ton)
|
U$ 16,00
|
U$ 75,00
|
Em
2001, Jeca FHC Tatu tinha para gastar uns R$ 4.000,00 por mês e em 2010, o que Jeca
LULA Tatu tinha para gastar era R$ 13.000,00 por mês. Ganhava
3 vezes mais dinheiro?!!!
Com essa dinheirama extra a vida no sítio
melhorou muito.
O pessoal está feliz, porque dá para comprar
mais coisas, estão fazendo mais casas no sítio, o pessoal está podendo escolher
mais o que quer fazer, tem gente que nem quer mais trabalhar por causa do aumento
que o Jeca LULA Tatu deu na mesada dos filhos.
Teve uma tempestade das brabas e a casa
agüentou o tranco, muitos vizinhos tiveram que refazer o telhado. Jeca tava com
dinheiro e foi arrumando uma escora aqui outra ali.
Mas
o problema é que o Jeca LULA Tatu, não gosta que ninguém fala mal dele, então
ele parou com aquelas medidas que o pessoal fazia cara feia, mas que eram
importantes.
O
pessoal que consertava as máquinas e que reclamava sem parar ficou feliz,
porque agora estão ajudando o Jeca LULA Tatu a tomar conta do sítio.
Os
estudantes mais velhos ganharam uma grana do Jeca LULA Tatu e nunca mais
reclamaram de nada, nem da educação que está ruim de dar dó.
Os
vizinhos reclamaram com ele de umas coisas antigas e acabaram levando vantagem,
deu uma máquina novinha para um e fez um gato de
luz para o outro tudo de graça. Eita vizinho bom!
Os
idosos não gostaram muito que ele não acabou com aquela conta esquisita que ele
garantiu que ia acabar, mas ai o Jeca LULA deixou eles pegarem um dinheiro
emprestado com o moço do banco bem baratinho, o problema é que ele deixou o
moço do banco pegar o dinheiro de volta sem eles saberem direito. Tem um monte de senhorinha enrolada até o pescoço.
Deixou
todo mundo comprar fiado nas vendas, pagando um pouquinho por mês, o problema é
que nunca teve tanta gente devendo no sítio.
Contratou
mais empregado para ajudar na lida da casa, está comprando mais roupa pra
meninada, celular, TV de plasma, carro, comida para a família, está todo mundo
gordinho, tão desperdiçando tanto que até os ratos da dispensa estão mais
gordos.
Teve
uma tia velha que até comprou um jetsky mesmo sem ter lago grande no sitio. Que coisa esquisita!
Jeca
LULA ficou tão bem na foto que saiu e deixou uma comadre sua lá, a Jeca Dilma
Tatu! Dizem que é o Jeca LULA Tatu de Saia!
O
problema, que com este esbanjamento, não ta sobrando para as coisas mais
importantes e olha que já tem 10 anos
que o Jeca LULA Tatu assumiu.
Mesmo
ganhando 3 vezes mais, o Jeca LULA Tatu não melhorou em nada as escolas dos
pequenos, ele preferiu dar dinheiro para as escolas dos marmanjos, que também
está péssima. A escola dos pequenos está ensinando cada vez pior.
O
médico continua indo no sitio de vez em quando, mas não me lembro de nada que
tenha melhorado nestes 10 anos, ele continua reclamando que falta uns remédios,
uns equipamentos com nome difícil. Dá dó de vê o doutor trabalhar.
As
estradas do sítio estão estreitas, com um monte de barreiras, quando chove
atola, os seleiros e os embarcadores não tão dando conta. Depois de 10 anos e apesar
de ganhar 3 vezes mais, o Jeca LULA Tatu não melhorou praticamente nada na infra-estrutura
do sítio. Com a estrada assim a mula emPACa toda hora!
Ele
até tá tentando levar água pro outro lado do sítio, mas tá demorando demais e o
moço da venda já avisou que vai ficar bem mais caro.
A
reforma da casa parou onde estava, mesmo ganhando mais, só se fez remendos e
puxadinhos.
Como
Jeca LULA Tatu tem um grande coração, acabou ficando bem com todo mundo, o
problema é que sempre aparece um primo distante pedindo dinheiro, outro que
pede para ser fiador do aluguel, o cunhado pedindo saco de cimento...
Vocês
acreditam, que até o Jeca COLLOR Tatu, que fez a casa cair, voltou a morar lá?
E virou parceiro de truco do Jeca LULA Tatu. Esse mundão dá volta!
Tem
gente dizendo que a vaca vai pro brejo, na dúvida, o jeito é rezar para o
Menino Jesus e Nossa Senhora Aparecida, continuar protegendo nosso sítio e colocar
um pouco de juízo da cabeça desses Jecas.
* Empresário - Administrador
de empresas pós graduado pela Fundação Getúlio Vargas.
sexta-feira, setembro 28, 2012
Improvisação e imediatismo
Rogério Furquim Werneck, O GLOBO
A condução da política econômica vem sendo marcada por duas dificuldades: improvisação e prevalência do imediatismo sobre preocupações mais permanentes, de prazo mais longo. São tantos os exemplos que não há como dar conta de todos neste artigo. Mas basta mencionar alguns deles para que a extensão dessas dificuldades possa ser percebida.
1. Desde meados do ano passado, o governo vem fazendo grande alarde com a desoneração da folha de pagamentos da indústria. O que começou como um projeto piloto, que favorecia quatro setores, assumiu agora proporções bem maiores.
Desonerar a folha é, em princípio, uma boa ideia. Mas, em vez de simplesmente reduzir a contribuição patronal, o governo partiu para desastrada mudança de base fiscal. Contribuição sobre faturamento e não mais sobre a folha, com alguma desoneração embutida na troca.
O problema é que a mudança reintroduz, pela porta dos fundos, a famigerada tributação cumulativa sobre faturamento, uma deformidade fiscal desnecessária da qual o país havia praticamente se livrado, graças ao louvável esforço de reforma tributária do primeiro governo do presidente Lula.
2. Desonerar a energia elétrica também era uma boa ideia. Mas, para que houvesse redução significativa da brutal carga tributária que recai sobre as tarifas, era essencial que os governadores fossem engajados no esforço de desoneração, já que boa parte da carga advém das escorchantes alíquotas de ICMS impostas pelos Estados. Não seria fácil, mas a União teria muito o que oferecer numa negociação séria com os Estados sobre a questão. Em vez de tentar avançar nessa linha, o que fez o governo? Preferiu uma redução arbitrária de preços pagos ao produtor de energia, que desincentiva investimentos na expansão da oferta e deixa a conta da desoneração nas costas do contribuinte.
3. Desde pelo menos 2008, o governo parece empenhado num esforço metódico de demolição da construção institucional que redundou na Lei de Responsabilidade Fiscal.
Especialmente lamentável nessa demolição foi a violação da regra de estrita separação entre contas do Tesouro e das instituições financeiras federais. Nos últimos anos, montou-se no BNDES um gigantesco orçamento fiscal paralelo, alimentado por fartas transferências diretas do Tesouro, não contabilizadas nem no Orçamento e nem nas estatísticas de dívida líquida e de resultado primário. Com o avanço da demolição institucional, tal esquema foi agora estendido à CEF e ao Banco do Brasil, que passaram a ser também nutridos, nas mesmas bases, com generosas transferências do Tesouro.
4. Políticas improvisadas costumam ser marcadas por pouca reflexão prévia e percepção incompleta dos prováveis desdobramentos de medidas supostamente bem intencionadas. É o que se observa com especial nitidez nas impensadas restrições que o governo decidiu impor à exploração do pré-sal. De um lado, exige-se que a Petrobras tenha monopólio da operação dos campos do pré-sal e participação de pelo menos 30% em cada consórcio que venha a explorar tais campos. De outro, que os equipamentos utilizados no pré-sal tenham nada menos que 65% de conteúdo nacional. Está a cada dia mais claro que tais restrições vêm impondo enorme ônus à Petrobras, sobrecarregando em demasia suas necessidades de investimento e trazendo atrasos inaceitáveis à exploração do pré-sal. A questão agora é como livrar a Petrobras e o pré-sal dessa estapafúrdia camisa de força, sem que o recuo imponha custo político excessivo ao governo.
5. Na condução da política comercial, o governo achou que o Brasil poderia, impunemente, esquecer sua estatura e passar a se comportar como uma Argentina. Agora, queixa-se da perda do respeito internacional que, a duras penas, o país havia conseguido angariar nessa área, ao mostrar, durante anos, que estava seriamente engajado num jogo cooperativo de combate ao cerceamento do comércio mundial. Bastaram poucos meses para que tal reputação fosse destruída. Agora é tarde. E não adianta esbravejar.
1. Desde meados do ano passado, o governo vem fazendo grande alarde com a desoneração da folha de pagamentos da indústria. O que começou como um projeto piloto, que favorecia quatro setores, assumiu agora proporções bem maiores.
Desonerar a folha é, em princípio, uma boa ideia. Mas, em vez de simplesmente reduzir a contribuição patronal, o governo partiu para desastrada mudança de base fiscal. Contribuição sobre faturamento e não mais sobre a folha, com alguma desoneração embutida na troca.
O problema é que a mudança reintroduz, pela porta dos fundos, a famigerada tributação cumulativa sobre faturamento, uma deformidade fiscal desnecessária da qual o país havia praticamente se livrado, graças ao louvável esforço de reforma tributária do primeiro governo do presidente Lula.
2. Desonerar a energia elétrica também era uma boa ideia. Mas, para que houvesse redução significativa da brutal carga tributária que recai sobre as tarifas, era essencial que os governadores fossem engajados no esforço de desoneração, já que boa parte da carga advém das escorchantes alíquotas de ICMS impostas pelos Estados. Não seria fácil, mas a União teria muito o que oferecer numa negociação séria com os Estados sobre a questão. Em vez de tentar avançar nessa linha, o que fez o governo? Preferiu uma redução arbitrária de preços pagos ao produtor de energia, que desincentiva investimentos na expansão da oferta e deixa a conta da desoneração nas costas do contribuinte.
3. Desde pelo menos 2008, o governo parece empenhado num esforço metódico de demolição da construção institucional que redundou na Lei de Responsabilidade Fiscal.
Especialmente lamentável nessa demolição foi a violação da regra de estrita separação entre contas do Tesouro e das instituições financeiras federais. Nos últimos anos, montou-se no BNDES um gigantesco orçamento fiscal paralelo, alimentado por fartas transferências diretas do Tesouro, não contabilizadas nem no Orçamento e nem nas estatísticas de dívida líquida e de resultado primário. Com o avanço da demolição institucional, tal esquema foi agora estendido à CEF e ao Banco do Brasil, que passaram a ser também nutridos, nas mesmas bases, com generosas transferências do Tesouro.
4. Políticas improvisadas costumam ser marcadas por pouca reflexão prévia e percepção incompleta dos prováveis desdobramentos de medidas supostamente bem intencionadas. É o que se observa com especial nitidez nas impensadas restrições que o governo decidiu impor à exploração do pré-sal. De um lado, exige-se que a Petrobras tenha monopólio da operação dos campos do pré-sal e participação de pelo menos 30% em cada consórcio que venha a explorar tais campos. De outro, que os equipamentos utilizados no pré-sal tenham nada menos que 65% de conteúdo nacional. Está a cada dia mais claro que tais restrições vêm impondo enorme ônus à Petrobras, sobrecarregando em demasia suas necessidades de investimento e trazendo atrasos inaceitáveis à exploração do pré-sal. A questão agora é como livrar a Petrobras e o pré-sal dessa estapafúrdia camisa de força, sem que o recuo imponha custo político excessivo ao governo.
5. Na condução da política comercial, o governo achou que o Brasil poderia, impunemente, esquecer sua estatura e passar a se comportar como uma Argentina. Agora, queixa-se da perda do respeito internacional que, a duras penas, o país havia conseguido angariar nessa área, ao mostrar, durante anos, que estava seriamente engajado num jogo cooperativo de combate ao cerceamento do comércio mundial. Bastaram poucos meses para que tal reputação fosse destruída. Agora é tarde. E não adianta esbravejar.
O crepúsculo de um mito
Rodrigo
Constantino
Fidel
Castro, repetindo o também tirano Adolf Hitler, disse certa vez que a História
iria absolvê-lo. Winston Churchill, por sua vez, teria dito que a História
seria boa com ele, afinal, ele mesmo pretendia escrevê-la. Os vencedores
dominam a prensa, principalmente em países sem ampla cultura de liberdade, como
Cuba.
Mas,
na Inglaterra, há liberdade, e se a História foi mesmo favorável a Churchill,
isso se deve aos seus acertos maiores que erros, e não ao seu poder de influência
sobre a imprensa e o pensamento. Já Fidel certamente não será absolvido pela História, a despeito da ditadura e da
máquina de propaganda que montou em sua ilha particular.
Em
outras palavras, o tempo costuma ser
o maior aliado da verdade, o que dá esperança aos defensores da decência. Nem
sempre ela vem à luz. Mas quando há alguma liberdade de pensamento e de
imprensa, cedo ou tarde os fatos emergem do pântano da ignorância, espalhando
seu odor antes disfarçado. É possível enganar algumas pessoas por muito tempo,
mas é difícil enganar todos, o tempo todo.
Disse
isso tudo para chegar ao Nosso Guia. O ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva
parecia acreditar na possibilidade de ser absolvido pela História. Na verdade,
vaidoso que só ele, Lula certamente tinha a esperança de ser reverenciado pela História. O tempo
mostraria que o Mensalão não passara de uma armação de golpistas da elite para
manchar a honra deste grande estadista do povo. Não tão rápido...
Aos
poucos o Brasil vai mudando, e o mito Lula vai sendo desconstruído. O
julgamento da História, quando passar o burburinho do momento, será duro com o
líder do PT. Afinal de contas, ao contrário da propaganda dos “intelectuais”
durante décadas, a verdade é que não há nada de louvável em sua trajetória.
Desde os tempos de sindicalista até a posição de ex-presidente, Lula tem sido
uma pessoa que merece raríssimos elogios, e infindáveis críticas.
Rótulos
como “egocêntrico”, “megalomaníaco”, “mitomaníaco”, “imoral” e “inescrupuloso”
combinam infinitamente mais com sua pessoa do que os adjetivos criados pelos
“intelectuais” bajuladores do “homem do povo”. Lula sempre fez tudo em causa
própria, sempre demonstrou uma sede incrível pelo poder, e se mostrou disposto
a quase tudo em nome deste objetivo. Com o tempo, isso tudo ficará mais claro
para as pessoas.
O
“legado” sócio-econômico, um dos poucos pilares que seus acólitos usam para
sustentar a imagem do mito, também será desfeito com o passar do tempo. Ficará
evidente para muitos que tudo não passou de uma enorme onda de fora, mais
especificamente da China, que inflou as economias dos países emergentes ricos
em recursos naturais como o Brasil. Tudo isso com o auxílio das turbinas
monetárias dos bancos centrais de países desenvolvidos.
Até
mesmo uma das poucas áreas que muitos ainda concedem o epíteto de “gênio” ao
Lula será revisada em breve. Lula não é um “gênio” da política. Sim, ele tem
algum carisma, em parte porque o povão se identifica com seu jeito. Sim, ele
tem alguma habilidade na comunicação com as massas, abusando de retórica
sensacionalista e demagógica. Por esta ótica, ele seria quase tão “gênio” quanto
Hitler ou Mussolini, nada que uma pessoa minimamente íntegra poderia se
orgulhar.
Mas
nem mesmo isso é tão verdadeiro assim. As pessoas se esquecem de que Lula
perdeu três eleições seguidas para
presidente! Que grande comunicador invencível é esse? Depois ele conseguiu
eleger seu “poste”, mas, novamente, isso se deve bem mais ao crescimento chinês
e às peripécias de Bernanke do que ao seu talento para transferir votos. Lula
contou mais com a sorte do cenário externo do que qualquer coisa.
Isso
começa a ficar claro agora nas eleições municipais, durante o julgamento do
Mensalão, em que Lula não chega a ser um grande puxador de votos para
prefeitos. Alguns já ensaiam até um afastamento gradual da figura do
todo-poderoso, enquanto o próprio aproveita para se aproximar de Paulo Maluf. O
“gênio” da política, ao que parece, não passa de um analista cego que ignora as
mudanças no país e a crescente demanda por mais ética por parte da classe
média. Não há muito espaço para o fisiologismo escancarado de Lula nessa
configuração.
Posso
estar sendo otimista demais, esperançoso ao extremo. Reconheço. Pode ter muito
de desejo em minha análise. Mas
acredito, realmente, que o Brasil irá amadurecer com o tempo a ponto de
compreender que Lula foi uma enorme mancha negra na política nacional. Maluf,
Collor, Sarney e tantos outros ainda estão por aí, é verdade, todos inclusive
aliados do próprio Lula.
Há
muita ignorância no país; os safados se fartam. Mas, ao menos, nenhum deles
goza de uma aura de santo, de estadista, de líder popular disposto a
sacrifícios pelo povo. A imensa maioria os enxerga como são: oportunistas
inescrupulosos que só querem o poder. Lula, finalmente, fará parte dessa lista.
De preferência no topo dela, pois essa liderança
ele merece.
O
Brasil ainda vai conviver com os estragos institucionais e morais causados pela
gestão Lula por muito tempo. Mas tudo indica que o mito será destruído de vez.
Os canalhas que ajudaram a criá-lo farão o que sabem fazer: dissimular e fingir
que nunca tiveram nada com aquilo, que estão muito decepcionados. Alguns ainda
insistem em inflar o mito, talvez calculando que o estrago não será fatal e que
a lealdade, moeda importante na máfia, será muito bem compensada se o homem
regressar com tudo ao poder. Quem viver, verá.
De
minha parte, resta a consciência limpa de jamais
ter acreditado, por um único segundo, nesse sujeito indecente, por ter
combatido tudo o que ele representa desde o primeiro momento, por ter alertado
em dezenas de artigos e vídeos para os riscos que ele representava. Lutei a boa
luta dentro de minhas limitações, e isso me dá orgulho.
É
hora de aproveitar o regozijo merecido e observar o crepúsculo do mito Lula,
ainda que a Justiça, para ser efetivada, tivesse que condená-lo como “o chefe” do
maior escândalo de corrupção da história de nosso país. Mas aí já seria sonhar
alto demais. Sou mais realista, e me contento com menos. Basta vê-lo
desmoralizado. E saber que, para alguém vaidoso como ele, deve ser desesperador
imaginar que o futuro reserva palavras nada bonitas sobre sua história, apesar
da máquina de mentira a seu dispor. Adeus, mito Lula. Já vai tarde!
Luta livre e eleições
Luta
livre e eleições
Rodrigo
Constantino, para o Instituto Liberal
Faleceu
nesta quinta Ted Boy Marino, o “avô” da luta livre. Ele foi um dos ícones
daquelas “lutas” da década de 70, que mais pareciam um show cômico. Eu era
muito novo no começo dos anos 80, mas ainda me lembro de algumas tardes vendo o
espetáculo. E uma coisa nele sempre me incomodou profundamente: era “fake”.
Os
gostos mudaram, os “reality shows” estouraram (até em demasia), e hoje parece
impensável tanto sucesso para uma luta armada daquelas. Estamos na era do MMA,
da pancadaria real que pode mandar alguém direto ao hospital, quiçá cemitério.
É
verdade que a quase completa ausência de regras no começo do “vale-tudo”, nos
tempos de Tank Abbott e dos Gracie, também era um impeditivo ao grande público.
Era “tosco” demais, e para o MMA atingir milhões de espectadores, foi preciso
suavizar um pouco a coisa e criar regras mais rígidas e civilizadas.
Mas
por que falo disso tudo aqui? Porque, ao escutar sobre a morte de Ted Boy,
pensei nas eleições. Se as lutas evoluíram para algo mais realista, as eleições
brasileiras continuam um jogo de cena, pura armação. Não temos uma oposição
legítima, séria, disposta a encarar de verdade os vilões da democracia e da
liberdade. Temos “opositores” que simulam ataques, e provavelmente saem para
bebericar juntos depois. São atores canastrões fazendo um teatro de quinta
categoria para o “respeitável” público.
Está
na hora de trocar a “luta livre” ensaiada pelo “vale-tudo” no ringue das
eleições nacionais. Não é preciso liberar geral, com direito a dedo no olho e
baixo nível. Mas é necessário tornar o evento mais realista sim, com disputas
legítimas. E quem pretende ter vida pública e viver do dinheiro dos nossos
impostos, deve saber que temos o direito de esmiuçar os detalhes de sua vida privada,
pois o decoro é um dos quesitos importantes para a liderança política. Ou
deveria ser.
Nas
eleições de 2006, por exemplo, no auge do mensalão, a grande sorte de Lula e do
PT foi ter no outro lado do ringue uma espécie de Ted Boy, pois fosse um
Anderson Silva da vida, era nocaute na certa!
quarta-feira, setembro 26, 2012
A morte da Europa que amo
Janer Cristaldo, Folha de SP
Ao não cortar relações diplomáticas com o Irã, em 1989, quando o aiatolá Khomeini decretou uma fatwa condenando Salman Rushdie à morte pela publicação de "Versos Satânicos", os países europeus perderam uma oportunidade única de evitar os conflitos hoje provocados pelos muçulmanos na Ásia, Oriente Médio e Ocidente.
Do alto de seus minaretes, o aiatolá condenou um estrangeiro, residente em país estrangeiro, por um ato cometido no estrangeiro e que no estrangeiro não constitui crime. Khomeini legislou urbi et orbi e o islã pegou gosto pela abrangência de sua jurisdição.
Se migrantes de todos os quadrantes normalmente se adaptam à cultura europeia, há um imigrante particular que não só causa problemas na Europa como quer dominá-la culturalmente. São muçulmanos, que querem instituir no continente suas práticas, muitas vezes tipificadas como crime nas legislações nacionais.
Uma é a excisão do clitóris e infibulação da vagina. Médicos europeus chegaram a propor um pequeno corte simbólico no clitóris, para aplacar a misoginia islâmica. Outra é o véu. Na Itália, migrantes árabes pretenderam que mulheres tirassem documentos de identidade... veladas.
Muçulmanos têm grande dificuldade para aceitar as leis dos países que os acolhem. Em plena Espanha, há tribunais islâmicos clandestinos. A primeira corte ilegal, descoberta na Catalunha, operava como em um país muçulmano, com a aplicação do rigor da sharia. O tribunal foi revelado em dezembro de 2009, quando a Justiça da região de Tarragona indiciou dez imigrantes por liderar uma corte que teria sentenciado à morte uma mulher muçulmana.
Na Grã-Bretanha, a sharia começa a ser usada para resolver disputas familiares e pequenas causas. O primeiro tribunal foi identificado em 2008, mas opera desde 2007. Na Escandinávia, um muçulmano, junto com seus filhos, executou uma filha porque esta tinha relações antes do casamento com um sueco. Não foi preciso tribunal algum. A família se erigiu em tribunal. Há muitos outros casos pela Europa.
A Europa é leniente. Em 2007, a juíza Christa Datz-Winter, de Frankfurt, negou o pedido de divórcio feito por uma mulher muçulmana que se queixava da violência do marido. A juíza declarou que os dois vieram de um "ambiente cultural marroquino em que não é incomum um homem exercer um direito de castigo corporal sobre sua esposa". Quando a mulher protestou, Datz-Winter citou uma passagem do Corão: porque "os homens são encarregados das mulheres".
Na Finlândia, imigrantes somalis protestam por seus filhos estarem sendo educados por professoras. Porque um jovem macho somali não dirige a palavra a uma mulher.
Na Suécia, que nos anos 1970 gozou a fama de paraíso do amor livre, o atual número de estupros per capita coloca o país apenas abaixo do Lesotho, na África. De lá para cá, o país foi invadido por muçulmanos. Segundo Ann-Christine Hjelm, advogada que investiga crimes na Suprema Corte sueca, 85% dos estupradores condenados no tribunal nasceram em solo estrangeiro ou são filhos de pais estrangeiros.
Em 2004, os jornais nórdicos noticiaram que um mufti chamado Shahid Mehdi declarou em Copenhague que mulheres que não portam véus estão "pedindo para serem estupradas". Para estes senhores, uma mulher sueca independente é apenas uma "puta sueca".
Mas, claro, não se pode estuprar uma árabe. Entrevistado pelo "Dagens Nyheter", principal periódico sueco, Hamid, membro de uma gangue de violadores, justificou: "A sueca recebe um monte de ajuda depois, além disso ela já transou antes. Mas a árabe tem problemas com sua família. Para ela, é uma grande vergonha ser violentada. Para ela, é importante ser virgem ao casar".
No Reino Unido, França e Espanha, muçulmanos lutam contra a presença de cães nas cidades. Porque o profeta não gostava de cães.
Os atuais distúrbios em função de um filmeco americano sobre Maomé, que não fere lei alguma no Ocidente, refletem a leniência com que a Europa tem tratado os muçulmanos. O islã quer determinar que tipo de arte o Ocidente pode produzir. Já condenaram Rushdie à morte. O tradutor de "Versos Satânicos" para japonês foi assassinado. Sobreviveram os tradutores ao italiano, esfaqueado, ao norueguês, baleado, e o editor turco, que se hospedou em um hotel que foi incendiado.
Em 2004, o cineasta Theo Van Gogh foi assassinado em Amsterdã por ter dirigido "Submissão", filme sobre a situação da mulher nas sociedades islâmicas.
Como boi que ruma ao matadouro, a Europa está se rendendo às aiatolices de fanáticos que ainda vivem na Idade Média. Já se fala em uma "Eurábia" daqui a 50 anos. Ainda bem que não estarei lá para testemunhar a morte de uma cultura que tanto amo.
JANER CRISTALDO, 65, doutor em letras francesas e comparadas pela Universidade de Sorbonne Nouvelle (Paris 3), é tradutor e jornalista
O Sarney da economia
Rodrigo
Constantino
O
economista Antonio Delfim Netto escreveu um artigo realmente abjeto hoje na
Folha, uma defesa patética ao ex-presidente Lula. Para o velho “czar” da
economia brasileira, a “mídia” virou um partido político com poder abusivo,
tudo isso porque expõe os fatos sobre o julgamento do mensalão que, ainda para
Delfim, envolve o PSDB também, em processo da mesma natureza (o que é mentira).
Depois,
Delfim cita um parágrafo da Constituição com o claro intuito de alerta quanto a
uma ameaça velada à liberdade de imprensa, lembrando que o dispositivo previne
que “os meios de comunicação social não podem, direta ou indiretamente, ser
objeto de monopólio ou oligopólio”.
Refresca
a memória desses que insistem em divulgar os dados sobre o julgamento, que o
Congresso tem poder para instituir o Conselho de Comunicação Social, ou seja,
censura velada. Para Delfim, esses dois dispositivos “suficientemente vagos”
podem acabar criando “problemas muito delicados no futuro”. Eis a sutileza de um
elefante em uma loja de porcelanas tentando fazer uma ameaça aos meios de
comunicação.
Mas
isso não é o pior! No final, Delfim acusa de maliciosa a tentativa da oposição
de, no calor das eleições, tentar destruir, “com aleivosias genéricas, a imagem
do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ignorando o grande avanço social e
econômico por ele produzido com a inserção social, o fortalecimento das
instituições, a redução das desigualdades e a superação dos constrangimentos
externos que sempre prejudicaram o nosso desenvolvimento”.
Como
é que é?! Em que mundo esse senhor vive? Teria Delfim ficado gagá de vez, ou recebeu
algum tipo de incentivo forte o suficiente para reproduzir tanta falsidade? Em
primeiro lugar, mesmo que o legado
econômico-social fosse positivo, isso em hipótese alguma seria salvo-conduto
para crimes e corrupção. Os fins não justificam os meios. Até hoje há quem
defenda a mais longa e cruel ditadura do continente com base nesse argumento de
“avanço social”, que nem verdade é.
Mas
para piorar, o que Lula fez foi apenas surfar a onda chinesa com uma sorte
ímpar. O vento positivo veio de fora! E somente um louco (ou um vendido) diria
que Lula ajudou a fortalecer nossas instituições. Ele quase as destruiu por
completo! O aparelhamento foi enorme, e Lula jamais soube diferenciar partido
de governo e este de estado.
Parece
que Delfim deixou passar o momento de sua aposentadoria mesmo. Não bastasse
culpar o chuchu pela inflação e tantas baboseiras econômicas defendidas há
décadas, o nosso Sarney da economia não se emenda: continua um eterno bajulador
dos poderosos, tudo em nome do “puder”. Que lixo!
terça-feira, setembro 25, 2012
Sacrificando os Consumidores
Rodrigo
Constantino (2006)
“Quando um produto
chega até nós a partir do estrangeiro, e quando podemos adquiri-lo por menos
trabalho do que se produzíssemos nós mesmos, a diferença é um presente gratuito
que é conferido a nós.” (Bastiat)
Em Economic Sophisms, o francês Frédéric Bastiat (1801-1850)
expõe as incoerências do protecionismo comercial. As barreiras protecionistas
sempre representam um privilégio a poucos produtores à custa dos consumidores.
Selecionei três casos analisdos pelo economista.
No primeiro caso, Bastiat simula uma petição dos
fabricantes de velas, lanternas e lâmpadas, assim como dos produtores de
petróleo, resina e álcool, em defesa do protecionismo de seus mercados. Eles
alegam que estão sofrendo uma competição injusta, já que seu rival pode
trabalhar sob circunstâncias bem superiores que as deles, inundando assim o
mercado doméstico com um produto concorrente de preço inacreditavelmente mais
baixo.
O rival estrangeiro é o sol, que declarou guerra sem
misericórdia aos fabricantes domésticos de substitutos de iluminação natural. A
petição pede que o governo bloqueie o máximo possível o acesso à luz natural,
criando uma necessidade por iluminação artificial, estimulando a indústria
doméstica.
Ora, a justificativa para não seguir tal pedido seria o custo que os
consumidores teriam que arcar? Mas sempre que o governo cria barreiras que
dificultam o acesso aos bens importados mais baratos, não ocorre o mesmo tipo
de sacrifício dos consumidores, para beneficiar alguns poucos produtores? A
desculpa de que o protecionismo visa ao encorajamento da indústria nacional e
aumento do emprego não se aplica da mesma forma nesse caso? Não alegam que o
consumidor e o produtor são a mesma pessoa, e que se um fabricante local lucra com
o protecionismo, isso terá uma contrapartida no consumo maior de outros
produtos, beneficiando os demais setores? E o mesmo “argumento” não é válido no
caso da iluminação artificial?
Não condenam a competição como injusta quando recursos naturais favorecem
os produtores estrangeiros, justificando assim a proteção? E qual seria a
diferença de parte do custo de proteção do importado ser de graça devido a
natureza, e seu custo total ser nulo, como no caso do sol? Como pode fazer
sentido proteger produtores domésticos quando uma parte dos custos dos
importados tem vantagem natural, e não proteger quando sua totalidade possui
esta vantagem?
No segundo caso, Bastiat diz ter chegado a uma imensa descoberta, de
como reduzir a diferença entre o preço dos produtos nos locais onde são
produzidos e onde são consumidos. Apesar de empresários quebrarem a cabeça
pensando nisso, buscando a redução dos custos de transporte, principal barreira
natural para a importação ao mesmo preço, o governo, em contrapartida, cria barreiras
artificiais do outro lado, muitas vezes anulando o efeito das inovações no
transporte.
A solução “mágica” de Bastiat: redução das tarifas! O economista
questiona como pode ter sido possível pensarem em algo tão fantástico como se
gastar milhões com o propósito de remoção dos obstáculos naturais entre os
países, como a construção de pontes e ferrovias, ao mesmo tempo que se gasta
outros tantos milhões com o propósito de substituição dos obstáculos
artificiais que possuem exatamente o mesmo efeito. O resultado é que o
obstáculo criado – as tarifas protecionistas – neutraliza o obstáculo removido,
e as coisas continuam como antes, sendo a única diferença uma despesa dobrada
pela operação toda.
O terceiro e último caso trata da reciprocidade. Muitos alegam que o
livre comércio tem que ser recíproco para ser benéfico. Bastiat afirma que
pessoas com tal mentalidade são protecionistas em princípio, mesmo que não
reconheçam, e são apenas mais inconsistentes que os protecionistas puros, que
são por sua vez mais inconsistentes que os defensores da abolição completa de
produtos estrangeiros.
Para provar seu argumento, ele utiliza uma fábula de duas cidades,
Stulta e Puera, que construíram uma grande estrada as conectando. Após o
término da construção, Stulta teria reclamado que os produtos de Puera estavam
inundando o seu mercado, e criou o cargo assalariado de encarregados pela
obstrução do tráfego dos importados. Logo em seguida, Puera fez o mesmo, e o
resultado era mutuamente perverso.
Até que um homem velho de Puera, suspeito até de receber pagamento
secreto de Stulta, disse que os obstáculos criados por Stulta eram maléficos a
Puera, o que era uma pena. E que os obstáculos criados pela própria Puera
também eram maléficos, novamente uma pena. Completou que não havia nada que
pudessem fazer quanto ao primeiro problema, mas que poderiam solucionar a outra
parte, criada por eles mesmos.
Logo houve forte reação, e o acusaram de sonhador, utópico e até
“entreguista”. Alegaram que seria mais difícil ir que vir pela estrada, ou
seja, exportar que importar. Isso colocaria Puera em desvantagem em relação à
Stulta, como as cidades na beira dos rios estão em desvantagem frente às
montanhosas, já que é mais complicado subir que descer. Só que uma voz disse
que as cidades na beira dos rios prosperaram mais que as montanhosas, causando
alvoroço.
No entanto, era um fato! Infelizmente para o povo de Puera, decidiram
que tais cidades tinham prosperado contra as regras, e optaram pela manutenção
dos obstáculos, em nome da “independência nacional”, da honra, da proteção da
indústria doméstica contra a competição selvagem, etc. E os consumidores
continuaram sendo sacrificados para o benefício de alguns produtores
privilegiados, como sempre ocorre nas medidas protecionistas.
As democracias midiáticas
João Pereira Coutinho, Folha de SP
O BRASIL não existe para o jornalismo português. Exceto quando nasce um fenômeno midiático.
Se perguntarem a um português anônimo quem foi Fernando Henrique Cardoso (que passou recentemente por Lisboa, com pompa e circunstância) ou o que significa o julgamento do mensalão, o lusitano terá dificuldades sérias em juntar duas ideias sérias a respeito. "Lula", sim, acende umas luzes, e não apenas gastronômicas. "Dilma", coitada, volta a apagá-las.
Mas se falarem do palhaço Tiririca, o português anônimo rasga um sorriso de orelha a orelha e completa: "Pior do que está, não fica". Tiririca foi o último grande estadista brasileiro a cruzar o Atlântico.
Celso Russomanno pode ser o próximo. Leio jornais lusos. Assisto a reportagens da TV nativa. Russomanno está em todo lado, distribuindo beijos e abraços na corrida para a prefeitura de São Paulo. Há um padrão aqui: Tiririca e Russomanno são produtos de fácil exportação porque ambos são produtos da televisão.
Uma virtude? Longe disso. E os lusitanos deveriam saber, até por experiência própria, que a crise de Portugal também se explica por esse padrão: durante anos, os portugueses não votaram necessariamente nos melhores candidatos. Apenas nos candidatos que tinham maior sucesso midiático. Deu no que deu.
Esse, aliás, é o problema principal das democracias atuais. A democracia é o pior regime que existe, com a exceção de todos os outros?
Sem dúvida. Mas existe um outro pensamento de Churchill sobre o assunto que também merece atenção: dizia ele, com típica bonomia, que o melhor argumento contra a democracia estava em falar durante dois minutos com um eleitor regular.
De fato. Uma cabeça, um voto. Em teoria, essa contabilidade pode ser um bálsamo para a nossa "paixão pela igualdade", para usar a expressão clássica de Alexis de
Tocqueville (1805-1859). Mas o que sucede quando a maioria escolhe barbaramente mal? Ou, pior ainda, quando escolhe o candidato errado pelos motivos errados?
O referido Tocqueville, cem anos antes de Churchill, já tinha alertado para o problema na obra "Da Democracia na América". A "era democrática", escrevia ele em 1835, seria imparável nas sociedades cristãs do Ocidente (sintomaticamente, Tocqueville era omisso sobre outras regiões do globo; um aviso sério para os poetas da Primavera Árabe que babam de lirismo por aí).
Mas a "era democrática", capaz de conceder a cada indivíduo iguais direitos e deveres, não apresentava apenas virtudes. Tinha perigos óbvios e o maior deles estava precisamente na ideia de que quantidade é qualidade.
Ou, como escreveu o autor, na crença infantil de que existe "mais inteligência e sabedoria em um certo número de homens unidos do que em um único indivíduo".
Com notável presciência, Tocqueville alertava para as "tiranias da maioria" e aconselhava alguns freios para evitar os seus excessos -descentralização política, liberdade de imprensa, reforço do associativismo, separação de poderes etc.
O que Tocqueville não poderia antever no século 19 era a emergência de um novo tipo de regime democrático no século 21: a democracia midiática, esse sistema que premia os talentos superficiais de um indivíduo (imagem de plástico, discurso populista, sentimentalismo postiço) e ignora as qualidades fundamentais de um líder (coragem, experiência, competência, temperança).
Eis a suprema ironia: a mídia assume-se como o "quarto poder", destinado a vigiar e a denunciar os abusos de todos os outros. Mas a própria mídia serve de instrumento, voluntário ou involuntário, para dar luz e palco a personagens que jamais seriam eleitas por suas exclusivas habilitações.
O resultado dessa perversidade é que cresce cada vez mais o abismo entre políticos que merecem ganhar eleições (independentemente da imagem) e políticos que podem ganhar eleições (independentemente da competência). A democracia midiática premia os segundos e ignora os primeiros.
Hoje, o obeso Churchill e o paralítico Roosevelt seriam ofuscados por um palhaço qualquer. Azar o deles?
Não. Azar o nosso, leitor. Quem elege palhaços, acaba vivendo num circo.
O perigo silencioso
Miriam Leitão, O GLOBO
A gestão do ministro Guido Mantega no Ministério da Fazenda está destruindo o patrimônio fiscal que levou uma década e meia para ser construído. Dentro dessa categoria, de demolição da ordem fiscal duramente edificada, encaixa-se a decisão de o Tesouro se endividar em R$ 21 bilhões para a Caixa Econômica e o Banco do Brasil aumentarem a oferta de empréstimos.
Por 15 anos, entre o fim da ditadura militar e o ano 2000, o país executou uma enorme tarefa para acabar com os orçamentos paralelos, a conta movimento, os ralos e as fantasias contábeis até chegar à aprovação da Lei de Responsabilidade Fiscal.
É esse arsenal que tem sido furtivamente recriado. A operação autorizada por Medida Provisória na sexta-feira é parecida com as que foram feitas para o BNDES. A dívida aumentará, porque o Tesouro tem que lançar papéis no mercado, mas a operação é mascarada como empréstimo a esses bancos. Não se sabe quando eles pagarão a dívida, por isso é impossível calcular o custo disso para os cofres públicos.
O custo médio de financiamento da dívida pública interna este ano está em 11,85%. A Selic está em 7,5%, mas o custo real é impactado pelos juros que incidem sobre títulos antigos. O Tesouro receberá do Banco do Brasil os 5,5% da TJLP nos R$ 8,1 bilhões que irão para a instituição. Haverá custo para o governo, mas ele não estará no Orçamento. Criar despesas de forma disfarçada e não registrá-la no Orçamento é contornar a obrigatoriedade de que não se criem despesas sem a definição de receitas.
A conta movimento parecia um gasto sem ônus e sem limite. O Banco do Brasil sacava no Banco Central para cobrir seu balanço. Agora, os bancos públicos têm recebido recursos de uma forma semelhante.
O objetivo da operação, segundo a nota do Ministério da Fazenda, é "manter a capacidade de expansão da carteira de crédito, garantir a continuidade do aumento da participação no mercado".
Há sinais fortes de que o ciclo de empurrar as famílias para o endividamento está se esgotando. O crédito nos bancos públicos cresceu 27%, e a inadimplência subiu 22%, em 12 meses até julho.
Se o BB e a Caixa crescerem no mercado via competição normal com bancos privados, isso é saudável. O erro é o governo estabelecer como objetivo de política pública que eles tomem mercado à custa de subsídio público, ainda mais porque um dos bancos, o Banco do Brasil, tem sócios privados.
Se esse crescimento der lucro, será transferência de recursos públicos para particulares; se der errado, o acionista do BB pagará a conta em forma de queda de redução de dividendos. Se for capitalização, vai diluir o capital do minoritário, e isso tem que ser comunicado previamente à CVM.
O Tesouro se comporta como se tivesse descoberto a fórmula mágica da multiplicação dos recursos sem ônus. Lança títulos ao mercado e transfere o dinheiro para os bancos públicos, e eles, por sua vez, pagarão com juros baixos e no prazo que quiserem. Se é que pagarão. Há gasto público embutido aí, mas não há registro como despesa em lugar algum, e por isso o impacto fiscal é escondido. Já foram emprestados assim mais de R$ 300 bilhões ao BNDES. Agora, o mesmo acontecerá com o Banco do Brasil e a Caixa Econômica.
Equívocos na política econômica pesam muito tempo sobre o país. Durante anos pagamos o preço dos erros da bagunça fiscal do governo militar, em forma de inflação. São esses mecanismos, aparentemente engenhosos, que estão silenciosamente voltando a ser criados. Parece que os economistas do governo não aprenderam a lição número um: a de que não existe almoço grátis.
A gestão do ministro Guido Mantega no Ministério da Fazenda está destruindo o patrimônio fiscal que levou uma década e meia para ser construído. Dentro dessa categoria, de demolição da ordem fiscal duramente edificada, encaixa-se a decisão de o Tesouro se endividar em R$ 21 bilhões para a Caixa Econômica e o Banco do Brasil aumentarem a oferta de empréstimos.
Por 15 anos, entre o fim da ditadura militar e o ano 2000, o país executou uma enorme tarefa para acabar com os orçamentos paralelos, a conta movimento, os ralos e as fantasias contábeis até chegar à aprovação da Lei de Responsabilidade Fiscal.
É esse arsenal que tem sido furtivamente recriado. A operação autorizada por Medida Provisória na sexta-feira é parecida com as que foram feitas para o BNDES. A dívida aumentará, porque o Tesouro tem que lançar papéis no mercado, mas a operação é mascarada como empréstimo a esses bancos. Não se sabe quando eles pagarão a dívida, por isso é impossível calcular o custo disso para os cofres públicos.
O custo médio de financiamento da dívida pública interna este ano está em 11,85%. A Selic está em 7,5%, mas o custo real é impactado pelos juros que incidem sobre títulos antigos. O Tesouro receberá do Banco do Brasil os 5,5% da TJLP nos R$ 8,1 bilhões que irão para a instituição. Haverá custo para o governo, mas ele não estará no Orçamento. Criar despesas de forma disfarçada e não registrá-la no Orçamento é contornar a obrigatoriedade de que não se criem despesas sem a definição de receitas.
A conta movimento parecia um gasto sem ônus e sem limite. O Banco do Brasil sacava no Banco Central para cobrir seu balanço. Agora, os bancos públicos têm recebido recursos de uma forma semelhante.
O objetivo da operação, segundo a nota do Ministério da Fazenda, é "manter a capacidade de expansão da carteira de crédito, garantir a continuidade do aumento da participação no mercado".
Há sinais fortes de que o ciclo de empurrar as famílias para o endividamento está se esgotando. O crédito nos bancos públicos cresceu 27%, e a inadimplência subiu 22%, em 12 meses até julho.
Se o BB e a Caixa crescerem no mercado via competição normal com bancos privados, isso é saudável. O erro é o governo estabelecer como objetivo de política pública que eles tomem mercado à custa de subsídio público, ainda mais porque um dos bancos, o Banco do Brasil, tem sócios privados.
Se esse crescimento der lucro, será transferência de recursos públicos para particulares; se der errado, o acionista do BB pagará a conta em forma de queda de redução de dividendos. Se for capitalização, vai diluir o capital do minoritário, e isso tem que ser comunicado previamente à CVM.
O Tesouro se comporta como se tivesse descoberto a fórmula mágica da multiplicação dos recursos sem ônus. Lança títulos ao mercado e transfere o dinheiro para os bancos públicos, e eles, por sua vez, pagarão com juros baixos e no prazo que quiserem. Se é que pagarão. Há gasto público embutido aí, mas não há registro como despesa em lugar algum, e por isso o impacto fiscal é escondido. Já foram emprestados assim mais de R$ 300 bilhões ao BNDES. Agora, o mesmo acontecerá com o Banco do Brasil e a Caixa Econômica.
Equívocos na política econômica pesam muito tempo sobre o país. Durante anos pagamos o preço dos erros da bagunça fiscal do governo militar, em forma de inflação. São esses mecanismos, aparentemente engenhosos, que estão silenciosamente voltando a ser criados. Parece que os economistas do governo não aprenderam a lição número um: a de que não existe almoço grátis.
Adeus, Lula
Marco Antonio Villa, O Globo
A presença constante no noticiário de Luís Inácio Lula da Silva impõe a discussão sobre o papel que deveriam desempenhar os ex-presidentes. A democracia brasileira é muito jovem. Ainda não sabemos o que fazer institucionalmente com um ex-presidente.
Dos quatros que estão vivos, somente um não tem participação política mais ativa. O ideal seria que após o mandato cada um fosse cuidar do seu legado. Também poderia fazer parte do Conselho da República, que foi criado pela Constituição de 1988, mas que foi abandonado pelos governos — e, por estranho que pareça, sem que ninguém reclamasse.
Exercer tão alto cargo é o ápice da carreira de qualquer brasileiro. Continuar na arena política diminui a sua importância histórica — mesmo sabendo que alguns têm estatura bem diminuta, como José Ribamar da Costa, vulgo José Sarney, ou Fernando Collor.
No caso de Lula, o que chama a atenção é que ele não deseja simplesmente estar participando da política, o que já seria ruim. Não. Ele quer ser o dirigente máximo, uma espécie de guia genial dos povos do século XXI. É um misto de Moisés e Stalin, sem que tenhamos nenhum Mar Vermelho para atravessar e muito menos vivamos sob um regime totalitário.
As reuniões nestes quase dois anos com a presidente Dilma Rousseff são, no mínimo, constrangedoras. Lula fez questão de publicizar ao máximo todos os encontros. É um claro sinal de interferência.
E Dilma? Aceita passivamente o jugo do seu criador. Os últimos acontecimentos envolvendo as eleições municipais e o julgamento do mensalão reforçam a tese de que o PT criou a presidência dupla: um, fica no Palácio do Planalto para despachar o expediente e cuidar da máquina administrativa, funções que Dilma já desempenhava quando era responsável pela Casa Civil; outro, permanece em São Bernardo do Campo, onde passa os dias dedicado ao que gosta, às articulações políticas, e agindo como se ainda estivesse no pleno gozo do cargo de presidente da República.
Lula ainda não percebeu que a presença constante no cotidiano político está, rapidamente, desgastando o seu capital político. Até seus aliados já estão cansados. Deve ser duro ter de achar graça das mesmas metáforas, das piadas chulas, dos exemplos grotescos, da fala desconexa.
A cada dia o seu auditório é menor. Os comícios de São Paulo, Salvador, São Bernardo e Santo André, somados, não reuniram mais que 6 mil pessoas. Foram demonstrações inequívocas de que ele não mais arrebata multidões. E, em especial, o comício de Salvador é bem ilustrativo.
Foram arrebanhadas — como gado — algumas centenas de espectadores para demonstrar apoio. Ninguém estava interessado em ouvi-lo. A indiferença era evidente. Os “militantes” estavam com fome, queriam comer o lanche que ganharam e receber os 25 reais de remuneração para assistir o ato — uma espécie de bolsa-comício, mais uma criação do PT. Foi patético.
O ex-presidente deveria parar de usar a coação para impor a sua vontade. É feio. Não faça isso. Veja que não pegou bem coagir:
1. Cinco partidos para assinar uma nota defendendo-o das acusações de Marcos Valério;
2. A presidente para que fizesse uma nota oficial somente para defendê-lo de um simples artigo de jornal;
3. Ministros do STF antes do início do julgamento do mensalão. Só porque os nomeou? O senhor não sabe que quem os nomeou não foi o senhor, mas o presidente da República? O senhor já leu a Constituição?
2. A presidente para que fizesse uma nota oficial somente para defendê-lo de um simples artigo de jornal;
3. Ministros do STF antes do início do julgamento do mensalão. Só porque os nomeou? O senhor não sabe que quem os nomeou não foi o senhor, mas o presidente da República? O senhor já leu a Constituição?
O ex-presidente não quer admitir que seu tempo já passou. Não reconhece que, como tudo na vida, o encanto acabou. O cansaço é geral. O que ele fala, não mais se realiza. Perdeu os poderes que acreditava serem mágicos e não produto de uma sociedade despolitizada, invertebrada e de um fugaz crescimento econômico.
Claro que, para uma pessoa como Lula, com um ego inflado durante décadas por pretensos intelectuais, que o transformaram no primeiro em tudo (primeiro autêntico líder operário, líder do primeiro partido de trabalhadores etc, etc), não deve ser nada fácil cair na real. Mas, como diria um velho locutor esportivo, “não adianta chorar”. Agora suas palavras são recebidas com desdém e um sorriso irônico.
Lula foi, recentemente, chamado de deus pela então senadora Marta Suplicy. Nem na ditadura do Estado Novo alguém teve a ousadia de dizer que Getúlio Vargas era um deus. É desta forma que agem os aduladores do ex-presidente.
E ele deve adorar, não? Reforça o desprezo que sempre nutriu pela política. Pois, se é deus, para que fazer política? Neste caso, com o perdão da ousadia, se ele é deus não poderia saber das frequentes reuniões, no quarto andar do Palácio do Planalto, entre José Dirceu e Marcos Valério?
Mas, falando sério, o tempo urge, ex-presidente. Note: “ex-presidente”. Dê um tempo. Volte para São Bernardo e cumpra o que tinha prometido fazer e não fez.
Lembra? O senhor disse que não via a hora de voltar para casa, descansar e organizar no domingo um churrasco reunindo os amigos. Faça isso. Deixe de se meter em questões que não são afeitas a um ex-presidente. Dê um bom exemplo.
Pense em cuidar do seu legado, que, infelizmente para o senhor, deverá ficar maculado para sempre pelo mensalão. E lá, do alto do seu apartamento de cobertura, na Avenida Prestes Maia, poderá observar a sede do Sindicato dos Metalúrgicos, onde sua história teve início.
E, se o senhor me permitir um conselho, comece a fazer um balanço sincero da sua vida política. Esqueça os bajuladores. Coloque de lado a empáfia, a soberba. Pense em um encontro com a verdade. Fará bem ao senhor e ao Brasil.
Marco Antonio Villa é historiador e professor da Universidade de São Carlos, em São Paulo
segunda-feira, setembro 24, 2012
Contra os comissários da ignorância
Luiz Felipe Pondé, Folha de SP
O que é conservadorismo? Tratar o pensamento político conservador ("liberal-conservative") como boçalidade da classe média é filosofia de gente que tem medo de debater ideias e gosta de séquitos babões, e não de alunos.
Proponho a leitura de "Conservative Reader" (uma antologia excelente de textos clássicos), organizada pelo filósofo Russel Kirk. Segundo Kirk, o termo começou a ser usado na França pós-revolucionária.
Edmund Burke, autor de "Reflexões sobre a Revolução na França" (ed. UnB, esgotado), no século 18, pai da tradição conservadora, nunca usou o termo. Tampouco outros três pensadores, também ancestrais da tradição, os escoceses David Hume e Adam Smith, ambos do século 18, e o francês Alexis de Tocqueville, do século 19.
Sobre este, vale elogiar o lançamento pela Record de sua biografia, "Alexis de Tocqueville: O Profeta da Democracia", de Hugh Brogan.
Ainda que correta a relação com a Revolução Francesa, a tradição "liberal-conservative" não é apenas reativa. Adam Smith, autor do colossal "Riqueza das Nações", fundou a ideia de "free market society", central na posição "liberal-conservative". Não existe liberdade individual e política sem liberdade de mercado na experiência histórica material.
A historiadora conservadora Gertrude Himmelfarb, no seu essencial "Os Caminhos para a Modernidade" (ed. É Realizações), dá outra descrição para a gênese da oposição "conservador x progressista" na modernidade.
Enquanto os britânicos se preocupavam em pensar uma "sociologia das virtudes" e os americanos, uma "política da liberdade", inaugurando a moderna ciência política de fato, os franceses deliravam com uma razão descolada da realidade e que pretendia "refazer" o mundo como ela achava que devia ser e, com isso, fundaram a falsa ciência política, a da esquerda. Segundo Himmelfarb, uma "ideologia da razão".
O pensamento conservador se caracteriza pela dúvida cética com relação às engenharias político-sociais herdeiras de Jean-Jacques Rousseau (a "ideologia da razão").
Marx nada mais é do que o rebento mais famoso desta herança que costuma "amar a humanidade, mas detestar seu semelhante" (Burke).
O resultado prático desse "amor abstrato" é a maior engenharia de morte que o mundo conheceu: as revoluções marxistas que ainda são levadas a sério por nossos comissários da ignorância que discutem conservadorismo na cozinha de suas casas para sua própria torcida.
Outro traço desta tradição é criar "teorias de gabinete" (Burke), que se caracterizam pelo seguinte: nos termos de David Hume ("Investigações sobre o Entendimento Humano e sobre os Princípios da Moral", ed. Unesp), o racionalismo político é idêntico ao fanatismo calvinista, e nesta posição a razão política delira se fingindo de redentora do mundo. Mundo este que na realidade abomina na sua forma concreta.
A dúvida conservadora é filha da mais pura tradição empirista britânica, ao passo que os comissários da ignorância são filhos dos delírios de Rousseau e de seus fanáticos.
No século 20, proponho a leitura de I. Berlin e M. Oakeshott. No primeiro, "Estudos sobre a Humanidade" (Companhia das Letras), a liberdade negativa, gerada a partir do movimento autônomo das pessoas, é a única verdadeira. A outra, a liberdade positiva (abstrata), decretada por tecnocratas do governo, só destrói a liberdade concreta.
Em Oakeshott, "Rationalism in Politics" (racionalismo na política), os conceitos de Hume de hábito e afeto voltam à tona como matrizes de política e moral, contra delírios violentos dos fanáticos da razão.
No 21, Thomas Sowell (contra os que dizem que conservadores americanos são sempre brancos babões), "Os Intelectuais e a Sociedade" (É Realizações), uma brilhante descrição do que são os comissários da ignorância operando na vida intelectual pública.
Conservador não é gente que quer que pobre se ferre, é gente que acha que pobre só para de se ferrar quando vive numa sociedade de mercado que gera emprego. Não existe partido "liberal-conservative" no Brasil, só esquerda fanática e corruptos de esquerda e de direita.
domingo, setembro 23, 2012
A arte de nosso tempo
Ferreira Gullar, Folha de SP
Uma leitura possível da história das artes visuais --de que resultaram as manifestações contemporâneas-- identificará a invenção da fotografia como um fator decisivo desse processo.
A crítica, de modo geral, há muito associa ao surgimento da fotografia a mudança da linguagem pictórica, de que resultou o movimento impressionista.
A crítica, de modo geral, há muito associa ao surgimento da fotografia a mudança da linguagem pictórica, de que resultou o movimento impressionista.
É uma observação pertinente, desde que se tenha o cuidado de não simplificar as coisas, ou seja, não desconhecer a existência de outros fatores que também influíram nessa mudança. Um desses fatores foi a descoberta da cor como resultante da vibração da luz sobre a superfície das coisas.
Noutras palavras, o surgimento do impressionismo --que constituiu uma ruptura radical com a concepção pictórica da época-- estava latente na pintura de alguns artistas de então, como, por exemplo, Eugène Delacroix e Édouard Manet, que já anunciavam a superação de certos valores estéticos em vigor. Não resta dúvida, no entanto, que a invenção da fotografia, por tornar possível a fixação da imagem real com total fidelidade, impunha o abandono do propósito de conceber a pintura como imitação da realidade.
Se tal fato não determinou, por si só, a revolução impressionista, sem dúvida alguma libertou a pintura da tendência a copiar as formas do mundo real e, assim, deixou o pintor livre para inventar o que pintava.
Pretendo dizer com isso que, se a cópia da realidade, pela pintura, se tornara sem propósito, isso não implicaria automaticamente em pintar como o fez Monet, ao realizar a tela "Impression, Soleil Levant", que deu origem ao impressionismo. Poderia ter seguido outro rumo.
Mas, se o que nasceu naquelas circunstâncias foi a pintura impressionista, houve razões para que isso ocorresse. E essas razões, tanto estavam implícitas na potencialidade da linguagem pictórica daquele momento, como no talento de Monet, na sua personalidade criadora. É que assim são as coisas, na vida como na arte: fruto das probabilidades que se tornam ou não necessárias.
A verdade, porém, é que, se não houvesse surgido uma maneira de captar as imagens do real de modo fiel e mecânico, o futuro da pintura (e das artes visuais em geral) teria sido outro. A pintura, então, livre da imitação da natureza, ganha autonomia: o pintor então podia usar de seus recursos expressivos para inventar o quadro conforme o desejasse e pudesse.
Como consequência disso, não muito depois, nasceram as vanguardas artísticas do século 20: o cubismo, o futurismo, o expressionismo, o dadaísmo, o surrealismo --todos eles descomprometidos com a imitação da realidade.
Mas essa desvinculação com o mundo objetivo terá consequências: a liberdade sem limites levará, de uma maneira ou de outra, à desintegração da linguagem artística, particularmente a da pintura.
Os dadaístas chegam a realizar quadros mais determinados pelo acaso do que por alguma qualquer intenção deliberada do autor. E se a arte podia ser fruto de tamanha gratuidade, não teria mais sentido pintar nem esculpir. O urinol de Marcel Duchamp é resultado disso. Por essa razão, ele afirmou: "Será arte tudo o que eu disser que é arte". Ou seja, tudo é arte. Ou seja, nada é arte.
Por outro lado, a fotografia, que nasceu como retrato do real, foi se afastando dessa condição e, como a pintura, passou também a inventá-lo. Por outro lado, ela ganhou movimento e se transformou em cinema, que tem como principal conquista a criação de uma linguagem própria, totalmente distinta da de todas as outras artes.
Cabe aqui uma observação: a pintura não apenas fazia o retrato das pessoas, como também mostrava cenas da vida, como as ceias, os encontros na alcova, as batalhas, os idílios etc. Quanto a isso, mais que a fotografia, o cinema criou, com sua linguagem narrativa, um mundo ficcional, que nenhuma outra arte --e tampouco a pintura-- é capaz de nos oferecer.
A meu ver, o cinema, superando o artesanato, é a grande arte tecnológica, que criou uma linguagem própria --condição essencial para que algo seja considerado arte--, geradora de um universo imaginário inconfundível, de possibilidades inesgotáveis, sofisticado e ao mesmo tempo popular. O cinema é, sem dúvida, a arte de nosso tempo.