quarta-feira, dezembro 26, 2012

Presente de Natal


Rodrigo Constantino, O GLOBO

Prezado Papai Noel, começo pedindo desculpas, pois essa carta não chegará a tempo. É que os Correios aqui no Brasil ainda são administrados pelo governo, e sabemos como as estatais costumam ser ineficientes.
Gostaria de dizer que me comportei bem este ano. Não pratiquei nenhum “malfeito”, não usei “amizades íntimas” para conseguir privilégios, enfim, fiz tudo diferente da cúpula petista. Sei que isso é pouco para seus rigorosos critérios de julgamento, mas creio que já mereço algum presente por isso, não?
É que meus vizinhos estão cada vez mais flexíveis na ética, pois o exemplo que vem de cima não é dos melhores. Caso o senhor não tenha visto, a última pesquisa mostra elevada aprovação ao governo Dilma. Parece que a turma por aqui não liga para a quantidade infindável de escândalos de corrupção envolvendo gente importante do governo. Você acredita que ainda tem quem veja a presidente como uma “faxineira” da ética?
Se há emprego e renda, ninguém quer saber detalhes da Operação Porto Seguro. Alguns acreditam até se tratar de um esquema de compra de abadás para o carnaval. O ex-presidente Lula virou um mito intocável. Isso aqui é uma festa, Papai Noel. Deve ser o clima tropical. Será que você poderia fazer nevar por aqui?
O pior é que até mesmo quando o assunto é economia os dados jogam contra o governo, mas ninguém acusou o golpe ainda. Lembra o ministro Mantega, que prometeu crescimento de 4,5% este ano? Pois é, se chegar a 1% é muito. E isso com a inflação perto de 6%. Combinação terrível essa de baixo crescimento com inflação alta. Quem pode ficar surpreso com a revista “The Economist” pedindo a cabeça dele?
Mas o governo coloca a culpa no resto do mundo, como sempre, ignorando que os demais países latino-americanos crescem muito mais que a gente, sem falar dos asiáticos. E não é que o povo acredita? Será que você mandaria alguns milhões de óculos para cá? Deve ser algum problema de visão dos meus compatriotas.
Aproveito para reclamar contigo do excesso de chatice politicamente correta por aqui. Está ficando insuportável isso. Uma turma fascista pensa lutar pelo nosso bem, e não enxerga limites para invadir nossas liberdades de escolha. Querem controlar tudo em nome da saúde perfeita.
Você acredita que a Anvisa proíbe até bronzeamento artificial? Não ria, bom velhinho, pois é sério. É questão de tempo até o Dráuzio Varella, esbanjando saúde, te usar como mau exemplo em alguma campanha. Essa sua pança não é nada politicamente correta, e as crianças podem ter uma influência negativa. Olha o nível da situação!
Papai Noel, agora eu preciso ser sincero e te fazer uma crítica. Desde muito desconfio que você seja marxista. Não é apenas pela cor vermelha de sua roupa ou essa barba comprida. É algo muito pior. Você distribui todos os presentes, fica com a fama de legal, mas quem paga a conta mesmo são os pais das crianças!
Essa é exatamente a postura dos esquerdistas em geral. Eles querem fazer caridade com o esforço alheio. Eles gostam de posar de altruístas jogando a fatura para os outros. Que vergonha você agir conforme essa turma. Eu confesso que esperava mais do senhor...
Bom, estou chegando ao fim da carta, e gostaria de fazer meus últimos pedidos. Espero que em 2013 a ficha possa cair no Palácio do Planalto, pois ela já caiu para todos os economistas sérios: os rumos da economia precisam mudar. Não é mais possível estimular consumo com base em crédito público. Isso vai acabar produzindo uma bolha por aqui.
O governo também precisa parar com essa mania de intervir o tempo todo na economia de forma arbitrária. O que permite crescimento sustentável é um arcabouço institucional simples e claro, que garanta a propriedade privada e ampla liberdade econômica. Empresários gostam de segurança nas regras do jogo.
Os gastos públicos precisam ser drasticamente cortados também, para permitir a redução dos impostos. Mas com esses “desenvolvimentistas” no poder fica difícil sonhar com isso.
A “oposição” precisa acordar. Ela está hibernando há tempo demais. Sei como deve ser difícil para os tucanos, de esquerda, criticarem de forma mais dura o modelo econômico do PT. Por isso precisamos urgentemente de uma opção liberal, sem medo de defender uma alternativa a essa social-democracia engessada.
Por fim, um último pedido. Que o livro “Privatize Já” seja distribuído entre a população. Quem sabe assim o pessoal acorda e deixa de cair nessa ladainha de slogans eleitoreiros, tal como “o petróleo é nosso” e outras besteiras do tipo.
Atenciosamente, R.C.

segunda-feira, dezembro 24, 2012

Sejamos pragmáticos


João Luiz Mauad, O GLOBO

Tão logo surgiram as primeiras notícias do mais recente massacre de crianças nos
Estados Unidos, começaram as pressões para a revisão da lei de controle de armas.
O presidente Obama, por exemplo, em discurso emocionado, disse que algo precisava
ser feito com urgência para evitar futuros episódios semelhantes e conclamou o
Congresso a discutir a questão “sem ideologias”. Portanto, sejamos pragmáticos.

Quem quer que pretenda analisar os fatos e as possíveis soluções de forma racional
e objetiva precisa, antes de mais nada, colocá-los em perspectiva. Muito embora
massacres como aquele sejam cruéis e chocantes, é necessário relativizá-los
para saber até que ponto uma ação política restritiva das liberdades individuais,
francamente conflitante com alguns princípios constitucionais fundamentais da nação
americana, seria realmente necessária, urgente e efetiva.

Vejamos então alguns dados empíricos relevantes. No livro "Risco: a Ciência e a
Política do Medo", o jornalista canadense Dan Gardner calculou que a probabilidade
de um estudante americano ser assassinado na escola era praticamente irrisória
- menos de 1 em 1,5 milhão. Muitos sequer imaginam, mas nos últimos 30 anos
morreram, em média, três vezes mais pessoas atingidas por raios nos EUA do que
vítimas de atiradores possessos – 51 a 18 por ano.

Diante desses números, a pergunta lógica é: vale à pena fazer alguma coisa para
tentar reduzir ainda mais as chances desses massacres, tendo em vista os eventuais
efeitos colaterais indesejáveis dessas medidas? Em outras palavras, será que o
tratamento não seria pior que a doença?

Calcula-se que existam na América 310 milhões de armas não militares nas mãos dos
cidadãos (mais de uma arma por cabeça), enquanto o índice de homicídios praticados
por tais armas é de cerca de 4 para cada 100.000 pessoas, com tendência fortemente
declinante nas últimas décadas. Não se sabe quantos crimes são evitados, todos os
dias, por conta do farto arsenal mantido pela população ordeira, mas a lógica nos
induz a pensar que tirar do cidadão a prerrogativa de legítima defesa só dará mais
vantagem e confiança aos bandidos. Senão, vejamos:

No Brasil, o acesso a uma arma, pelo menos legalmente, é muito difícil, quase
impossível. Apesar disso, o índice de homicídios por armas de fogo está na casa
dos 20 para cada 100.000 habitantes ou 5 vezes o padrão americano. Chacinas por
aqui também não faltam, vide São Paulo nos últimos meses. A experiência brasileira
demonstra, portanto, que dificultar a aquisição legal de armas não é sinônimo de
segurança, muito pelo contrário.

Sejamos pragmáticos: alterar a constituição de um país, em vigor de forma eficaz
há mais de 2 séculos, por conta de alguns casos isolados, ainda que chocantes,
não é uma decisão sensata. Políticas públicas não devem ser ditadas no calor
das emoções, simplesmente para apaziguar os ânimos mais exaltados, até porque
boa parte das pessoas não conhece as estatísticas ou vislumbra os possíveis
efeitos colaterais de certas políticas. O clamor público, quase sempre irracional ou
manipulado ideologicamente, nunca foi bom conselheiro.

sexta-feira, dezembro 21, 2012

A saída para o Brasil


Rodrigo Constantino, para o Instituto Liberal

O mundo não acabou. Nada como começar esse comentário em uma sexta-feira com essa boa notícia. Para ficar ainda melhor, lembro que o Natal está chegando e que, com sorte, você pode ganhar um exemplar de “Privatize Já” de presente.

Há ainda boas notícias na área econômica. O governo, finalmente, resolveu privatizar o Galeão em 2013. Ninguém agüenta mais tanta incompetência estatal. O Santos Dumont, por exemplo, virou uma estufa, só que de seres humanos em vez de plantas. Ao calor de 40º do Rio, o aeroporto segue sem ar condicionado há quase uma semana. Ninguém que dependesse do lucro para sobreviver poderia ter tanto desprezo pelo consumidor!

Claro que existem obstáculos ainda, a começar pelo ideológico, pois esse governo acredita tanto no livre mercado quanto eu na Mula sem cabeça. Mas não deixa de ser alvissareira a decisão de retirar da estatal a administração do nosso aeroporto internacional.

Como tudo que é bom dura pouco, eis que o governo, ao anunciar a privatização com uma mão, resolve criar uma nova estatal com a outra. Trata-se da Infraero Serviços. Miriam Leitão escreveu em sua coluna de hoje sobre o assunto. São as “Criaturas do Estado”, que se proliferam como Gremlins e custam caro aos nossos bolsos.

No meu livro, falo dessas estatais bizarras e de como o PT ainda é prisioneiro de seu ranço ideológico. Sim, pressionado pelas leis do mercado, especialmente com Copa do Mundo e Olimpíadas chegando, até o partido que faz terrorismo eleitoral contra as privatizações se viu obrigado a privatizar. Mas pau que nasce torto nunca se endireita. E sabemos que o PT tem inclinação natural forte para o lado esquerdo.

Roberto Campos dizia que as únicas saídas para o Brasil são o Galeão, Cumbica e o liberalismo. O problema é que, sem este, aqueles ficam cada vez mais infernais. Não tem outro jeito: Privatize Já! 

terça-feira, dezembro 18, 2012

As lamentações do dinossauro


João Pereira Coutinho, Folha de SP

Terminei a leitura do último livro de Mario Vargas Llosa ("A Civilização do Espetáculo", editora Quetzal, 219 págs.) exatamente como gosto de terminar um livro: com notas extensas de concórdias e discórdias, escritas pelo meu punho, ao longo de todo o livro.
Mas, primeiro, as apresentações: Vargas Llosa apresenta-se como "um dinossauro em tempos difíceis". O que significa este jurássico autorretrato?
Significa uma confissão: Vargas Llosa olha em volta e vê frivolidade, aparência --numa palavra, "espetáculo". E vê o desaparecimento da cultura como experiência ética e estética que nos permite compreender os problemas do mundo.
Hoje, esta "civilização do espetáculo", que se desdobra em livros "light", filmes "light", arte "light", religiões "light" e até relacionamentos pessoais "light", serve apenas para fugirmos dos problemas do mundo. Numa palavra, serve para nos "alienarmos".
O termo não é inocente, e Vargas Llosa sabe disso: como diria Marx e os seus discípulos, sobretudo o "situacionista" Guy Debord, existe na civilização de hoje, como existia na civilização dos séculos 19 e 20, uma vontade desesperada de remeter o pensamento e a cultura para as margens da sociedade capitalista. E aqui reside a minha pergunta primeira: não terá sido sempre assim?
Platão, na sua "República", não era particularmente entusiasta dos poetas da sua época. Shakespeare, tido agora como parte fundamental do "cânone ocidental", era considerado um dramaturgo "popular" pela "intelligentsia" da Inglaterra isabelina.
Não estaremos nós também a ver superficialidade em toda a parte e a cometer o mesmo erro dos nossos antepassados, que sempre se consideraram testemunhas de um mundo em decadência?
Woody Allen, de quem Vargas Llosa manifestamente não gosta, glosou sobre o assunto em "Meia-Noite em Paris": há nos contemporâneos de todas as eras um descontentamento com o presente que os leva a romantizar eras passadas.
Assim acontecia com o personagem do filme, o roteirista Gil (um notável Owen Wilson), que suspirava no século 21 pela Paris da década de 20. Até viajar a esse passado de "festa móvel", como lhe chamou Hemingway, e descobrir que os contemporâneos da década de 20 suspiravam pela Belle Époque; e os contemporâneos da Belle Época, pelo Renascimento italiano; e etc. etc., sempre em regressão nostálgica.
Não quero com isso dizer --Deus me livre e guarde!-- que um dia olharemos para as brincadeiras conceituais de um Damien Hirst da mesma forma que olhamos para um Cézanne ou para um Matisse. Nessa matéria, o vaso sanitário de Marcel Duchamp já encerrou há muito o capítulo dos "happenings" circenses.
Mas será preciso reproduzir aqui o que os críticos coevos de Cézanne e Matisse escreveram à época sobre os quadros desses dois reputados mestres?
Ponto de ordem. Concordo com Vargas Llosa sobre a "civilização do espetáculo" que se espalhou em volta. Concordo que a sensibilidade cultural do nosso tempo torna mais difícil o aparecimento de um James Joyce porque escasseia o público exigente e paciente para o ler. Concordo que o "eclipse" do intelectual se deve ao papel abjeto que ele teve, sobretudo no século 20, ao emprestar o seu nome e prestígio a regimes totalitários.
E concordo, de alma e coração, que o relativismo larvar que contaminou a "crítica" e as "humanidades" faz com que hoje uma ópera de Verdi ou um concerto dos Rolling Stones sejam colocados no mesmo patamar valorativo.
Mas introduzo aqui uma ligeira variação ao argumento central de Vargas Llosa: vivemos hoje uma "civilização do espetáculo" porque o nosso tempo globalizado criou os mecanismos de difusão que nos permitem assistir a esse excesso de espetáculo.
Assistimos a tudo: ao lixo cultural, mas também a raras preciosidades. Assistimos aos tubarões em formol de Damien Hirst, mas também aos retratos de Lucien Freud. Assistimos à mediocridade pirotécnica de Hollywood, mas também ao cinema de Michael Haneke. Lemos Dan Brown, mas também os romances do próprio Vargas Llosa.
Perante esta selva estética e ética, o caminho não está em jogar a toalha e decretar o fim de uma "civilização". Está, pelo contrário, em ser "um dinossauro com calças e gravata", disposto a resgatar do caos o que merece ser celebrado como nunca.

segunda-feira, dezembro 17, 2012

Branca de Neve azeda


Luiz Felipe Pondé, Folha de SP

Fazer a cabeça das crianças sempre foi um dos pratos prediletos do fascismo. Agora, nem a Branca de Neve escapa, coitada, do ódio dos fascistas. O conjunto de "estudos" que se dedica a fazer a cabeça das crianças é parte do que podemos chamar de "oppression studies". Você não sabe o que é?
"Oppression studies" é uma expressão usada pelo jornalista americano Billy O'Reilly, da Fox News, para se referir às "ciências humanas engajadas no controle das mentes". Explico.
Reprovou um aluno? Opressão. É preguiçoso? Não, a sociedade te oprimiu e fez você ficar assim. Um ladrão te assaltou? Ele é o oprimido, você o opressor. Aliás, sobre isso, vale dizer que, com a violência em São Paulo, devemos reescrever a famosa frase do Che: "Hay que enfiar la faca em la cavera, pero sin perder la ternura jamás".
A frase dele, assinatura de camisetas revolucionárias, é: "Hay que endurecerse, pero sin perder la ternura jamás". Essa camiseta é a verdadeira arma contra gente como ele. Os americanos deveriam afogar o Irã em Coca-Colas, Big Macs e pílulas anticoncepcionais para as iranianas transarem adoidado com seus amantes.
Convidou uma colega de trabalho para jantar? Opressão! Você é um opressor por excelência, deveria ter vergonha disso. Não é um amante espiritual do Obama? Opressor! Come picanha? Opressor! Não acha que a África é pobre por culpa sua? Opressor! Suspeita de que o sistema de cotas vai destruir a universidade pública criando um novo espaço de corrupção via reserva tribal de mercado e compra de diplomas de escolas públicas? Se você suspeita disso, é um opressor! Acha que uma pessoa deve ser julgada pelos seus méritos e não pelo que o tataravô do vizinho fez? Opressor! Anda de carro? Opressor! Ganhou dinheiro porque trabalha mais do que os outros? Opressor!
Os "oppression studies" sonham em fazer leis. Por exemplo, recentemente, um comitê de gênero (isto é, o povo que diz que sexo não existe e que tudo é uma "construção social", claro, opressora) desses países em que o "mundo é perfeito" teve uma nova ideia. Esses caras (ou seriam car@s?) querem proibir qualquer propaganda ou programação infantil que reproduza imagens de mulher sendo mulher e homem sendo homem. Não entendeu? É meio confuso mesmo. Vamos lá.
Imagine uma propaganda na qual existe uma família. Segundo os especialistas em "oppression studies", para a marca não ser opressora, a família não pode ser heterossexual, porque se assim o for, o "espelho social" (a imagem que a mídia reproduz de algo) fará os não heterossexuais se sentirem oprimidos.
O problema aqui não é que as pessoas devem ser isso ou aquilo (melhor esclarecer, se não eu viro objeto de estudo dos "oppression studies"), mas sim por qual razão esses cem car@s (não são muito mais do que isso), que não têm o que fazer na vida a não ser se meter na vida, na família e na escola dos outros, têm o direito de dizer o que meus filhos ou os seus devem ver na TV? Até quando vamos aturar essa invasão da vida alheia em nome dos "oppression studies"?
Contos de fadas como Branca de Neve, Cinderela e Gata Borralheira são grandes objetos de atenção dos "oppression studies". Claro, as três são oprimidas, por isso gostam dos príncipes. Se fossem livres, a Branca de Neve pegaria a Cinderela. Humm... não seria uma má ideia....
Veja o lixo que ficou a releitura da Branca de Neve no filme que tem a atriz da série "Crepúsculo", a bela Kristen Stewart, como a Branca de Neve. Coitada...
A coitada tem que terminar sozinha para sustentar sua posição de rainha "empoderada", apesar de amar o caçador (passo essencial para libertar nossa heroína da opressão de amar alguém da nobreza, o que seria ainda mais opressor).
Os "oppression studies", na sua face feminista, revelam aqui o ridículo de sua intenção: fazer de toda mulher uma mulher sem homem porque ela mesma é o homem. Todo mundo sabe que isto é a prova mais banal da chamada inveja do falo da qual falam os freudianos. Fizeram da pobre Branca de Neve uma futura rainha velha e sem homem. Ficará azeda como todas que envelhecem assim.

sexta-feira, dezembro 14, 2012

Lançamento em BH - fotos

Seguem algumas fotos do lançamento de Privatize Já em Belo Horizonte.

O autor com o logo do IFL ao fundo

Com Paulo Bressane, grande articulista liberal de BH

Com a diretoria do IFL

Com Luciana Braga e Juliano Torres

Com Diogo Costa

Apologia da flexibilidade


João Pereira Coutinho, Folha de SP

É sem dúvidas uma lamentável tragédia: Jacintha Saldanha era enfermeira em um hospital de Londres. Recebeu uma ligação de dois radialistas australianos que se fizeram passar pela rainha Elizabeth 2ª e seu filho, o príncipe Charles.
A intenção dos radialistas era obter informações sobre a gravidez de Kate Middleton. Jacintha acreditou na pegadinha, passou a ligação a uma colega do hospital. Que revelou o estado de saúde da duquesa com pormenores.
Ninguém sabe o que se passou nas horas seguintes. Exceto que Jacintha Saldanha lidou mal com a brincadeira e apareceu morta. A polícia suspeita de suicídio.
Existem duas formas de olhar para o caso. A primeira é seguir o coro dos indignados, denunciar a cultura pop pela sua vulgaridade mendaz e até pedir a cabeça dos dois radialistas.
Mas existe uma segunda forma de olhar para o mesmo caso. De preferência, lendo um pequeno grande livro que até a circunspecta revista "The Economist" elegeu como um dos melhores do ano.
Foi escrito pela psicanalista Philippa Perry e o título diz tudo: "How to Stay Sane" (como se manter são, Macmillan, 160 págs.).
Primeiras conclusões: a "sanidade" não pode ser confundida com noções pedestres de "felicidade individual", vendidas por analfabetos infelizes em manuais de autoajuda.
Muito menos se confunde com variações mais modestas de "normalidade": a pretensão de definir o que é a "normalidade" não passa de um sintoma de anormalidade.
Para Philippa Perry, que escreve o ensaio com um pé na neurologia, outro na psicanálise, sem esquecer os ensinamentos imperecíveis dos Clássicos, "sanidade" pressupõe equilíbrio entre a rigidez dos nossos princípios e o caos da vida como ela é.
Ou, em linguagem platônica, "sanidade" é saber usar a razão para que nenhum dos dois cavalos que puxam a quadriga da alma -o cavalo do Espírito e o cavalo do Apetite- possam tomar, por si só, as rédeas da marcha.
Claro que os genes e a constituição orgânica do indivíduo têm uma importância decisiva nesse grau de sanidade.
A esse respeito, relembro um texto lido há uns anos, num tratado sobre a história da loucura, e escrito por um médico do hospício inglês de Bedlam em 1816 que nunca mais esqueci. Cito de cor: os pensamentos desarranjados, escrevia o doutor William Lawrence, têm a mesma relação para o cérebro que os vômitos para o estômago, a asma para os pulmões e qualquer outra maleita para o seu órgão correspondente.
Quando li essa passagem, sublinhei-a com um ponto de exclamação. Ou talvez com um ponto de lamentação: quantas vidas não teriam sido poupadas à culpabilização, à vergonha e ao sofrimento se as neurociências, pateticamente entretidas a aplicar "mitos gregos às partes íntimas" (obrigado, Nabokov), tivessem olhado mais cedo para o seu órgão correspondente?
Divago. Ou talvez não: porque se os genes têm importância para certas maleitas, não terão para todas.
E, por vezes, somos nós, seres racionais, que devemos procurar a palavra mais importante na gramática da sanidade. "Flexibilidade", escreve Philippa Perry.
Que o mesmo é dizer: olhar para os nossos princípios com uma boa dose de ceticismo e ironia. Não nos levarmos demasiado a sério. E, sobretudo, não levar a vida -frágil, fugaz e nem sempre rósea- demasiado a sério.
Na triste história de Jacintha Saldanha, é fácil criminalizar os dois radialistas. É fácil criminalizar uma brincadeira. É fácil acreditar que, sem uma pegadinha daquelas, a vida de Jacintha continuaria harmoniosa e feliz.
Duvido. Muito. E a única coisa que lamento é não ter existido ninguém -um colega de hospital, um amigo, um familiar, até um doente - que não tenha conferido a uma mera brincadeira a sua real dimensão.
E que, mesmo respeitando os princípios de verdade e honradez que faziam parte do código da enfermeira, não a tenha levado a rir de uma simples pegadinha. Porque nenhuma pegadinha daquelas justifica um suicídio.
No fundo, talvez seja essa a única moral da história: quando não temos a flexibilidade necessária para nos rirmos da vida, é a morte que acaba por se rir de nós.

O humanista que amava Stalin


Rodrigo Constantino, O GLOBO

Oscar Niemeyer era quase uma unanimidade. A reação à sua morte comprova isso. Mas será que tanta reverência se deve somente às suas qualidades artísticas? Muitos consideram que Niemeyer foi um gênio. Não sou da área, não me cabe julgar. Ainda assim, não creio que tanta idolatria seja fruto apenas de suas curvas.
Tenho dificuldade de entender por que o responsável pelo caríssimo projeto da construção de Brasília, o oásis dos políticos corruptos afastados do escrutínio popular, mereceria um prêmio em vez de um castigo. Por acaso as pirâmides do Faraó eram boas para o povo? Mas divago.
Eis a questão: por que Niemeyer foi praticamente canonizado? Minha tese é que ele representava o ícone perfeito da CHEC (Comunistas Hipócritas da Esquerda Caviar). No Brasil, você pode ser podre de rico, viver no maior conforto de frente para o mar, mamar nas tetas do governo, desde que adote a retórica socialista.
Falar em “justiça social” enquanto enche o bolso de dinheiro público, isso merece aplausos por aqui. Já o empresário que defende o capitalismo, produz bens demandados pelo povo e não depende do governo é visto como o vilão. Os discursos sensacionalistas valem mais do que as ações concretas. Imagem é tudo!
As curvas traçadas pelo “poeta do concreto”, que considerava o dinheiro algo “sórdido”, custavam caro. Quase sempre eram pagas pelos nossos impostos. Foram dezenas de milhões de reais só do governo federal. Muito adequado o velório ter sido no Palácio do Planalto, o maior cliente do arquiteto. Licitação e concorrência? Isso é coisa de liberal chato.
Niemeyer virou um ícone contra o excesso de razão nas construções, mas acabou com extrema escassez de razão em suas ideias políticas. Sempre esteve do lado errado, alimentado por um antiamericanismo patológico. Defendeu os terroristas das Farc, os invasores do MST e o execrável regime comunista, mesmo depois de cem milhões de vidas inocentes sacrificadas no altar dessa ideologia.
Ele admirava os tiranos assassinos Fidel Castro e Stalin, e chegou a justificar seus fuzilamentos. Até o fim de sua longa vida, usou sua fama para disseminar essa utopia perversa, envenenando a cabeça de jovens enquanto desfrutava do conforto capitalista.
No meu Aurélio, há uma palavra boa para definir pessoas assim, que curiosamente vem antes de “craque” e depois de “crânio”. Talvez Niemeyer fosse as três coisas ao mesmo tempo.
Roberto Campos certa vez disse: “No meu dicionário, ‘socialista’ é o cara que alardeia intenções e dispensa resultados, adora ser generoso com o dinheiro alheio, e prega igualdade social, mas se considera mais igual que os outros.” Bingo!
Para quem ainda não está convencido de que toda essa comoção tem ligação com sua pregação política, pergunto: seria a mesma coisa se ele defendesse com tanta paixão Pinochet em vez de Fidel Castro? A tolerância seria a mesma se, em vez de Stalin, fosse Hitler o seu guru?
E não me venham dizer que são coisas diferentes! Tanto Stalin como Hitler eram monstros, da mesma forma que o comunismo e o nacional-socialismo são igualmente nefastos. Que grande humanista foi esse homem que defendeu até seu último suspiro algo tão desumano assim?
Acho compreensível o respeito pela obra de Niemeyer, ainda que gosto seja algo subjetivo e que a simbiose com o governo mereça críticas. Entendo o complexo de vira-lata que faz o povo babar com os poucos brasileiros famosos mundialmente. Mas acho inaceitável misturarem as coisas e o colocarem como um ícone do humanismo. Não faz o menor sentido.
Seu brilhantismo como artista não lhe dá um salvo-conduto para a defesa de atrocidades. É preciso saber separar as coisas, o gênio artístico do homem e suas ideias. E tenho certeza de que não é apenas sua arquitetura que gera essa idolatria toda. Basta ver a reação quando questionamos a pessoa, não o arquiteto.
Sua neta Ana Lúcia deixou clara a confusão: “As ideias que ele tentou passar de humanismo, justiça social, isso é tão importante quanto as obras dele. Acho que a gente tem que preservar e difundir o pensamento dele.” Como assim?
Aproveito para avisar que sou sensível ao sofrimento das vítimas do comunismo, mas sou imune à patrulha ideológica da CHEC. A afetação seletiva da turma “humanista” não me sensibiliza. É até cômico ser rotulado de radical por stalinistas.
Por fim, espero que Niemeyer chame logo seu camarada Fidel Castro para um bate-papo onde ele estiver, e que lá seja tão “paradisíaco” como Cuba é para os cubanos comuns. Talvez isso o faça finalmente mudar de ideologia...

O erro da meia-entrada

Editorial do Estadão


Já está na Câmara, tramitando em regime de urgência depois de passar pelo Senado, o projeto de lei que regulamenta a concessão de 50% de desconto nos ingressos de eventos esportivos e culturais, a chamada meia-entrada. Sua aprovação, esperada para o primeiro semestre de 2013, institucionalizará definitivamente o absurdo, ao formalizar o poder do Estado de interferir numa relação estritamente particular, sem prever nenhuma compensação à parte que fornece o objeto do benefício. Ou seja: o poder público impõe o obséquio, mas quem o financia é tão somente o empreendedor privado.
O projeto em tramitação tem por objetivo colocar ordem na barafunda em que se transformou a concessão de meia-entrada no País. O texto estabelece uma cota de 40% de ingressos a serem vendidos com desconto para estudantes e pessoas com mais de 65 anos de idade.
Até agora, não havia teto para a comercialização das entradas. Já houve casos de espetáculos em que quase 100% dos ingressos tiveram de ser vendidos pela metade do preço. Em uma década, a meia-entrada nos teatros, por exemplo, saltou de 15% do total dos ingressos para 80%, indicando que a definição de "estudante" ficou bastante elástica - sem falar das fraudes na emissão das carteirinhas de identificação. A concessão ilimitada do desconto era um dos motivos pelos quais as entidades estudantis resistiam ao estabelecimento de uma cota. Originalmente, o projeto de lei previa teto de 30%, mas o porcentual foi elevado após longa negociação.
Para os estudantes, a falta de regulamentação do benefício criou o que eles chamam de "falsa meia-entrada" - isto é, diante da enorme demanda por desconto nos ingressos, os produtores de eventos majoram os bilhetes de tal modo que o benefício se torna simplesmente nulo. Os produtores, por seu lado, dizem que não sabem como calcular corretamente o quanto podem cobrar por suas atrações, porque não conseguem projetar a procura pelas entradas com desconto. Nesse aspecto, a cota é vista como um mal menor, porque fica claro qual é o limite do benefício. O resultado, em tese, é que se anularia parte dos argumentos oportunistas que ajudam a salgar os ingressos e a colocar os espetáculos no Brasil entre os mais caros do mundo.
Toda essa discussão, porém, camufla um fato óbvio: a não ser que estejamos vivendo uma experiência de economia planificada, manda a boa cartilha do livre mercado que quem determina o preço a cobrar pela mercadoria é o comerciante, e não uma autoridade reguladora. Espetáculos teatrais e produções cinematográficas, é bom lembrar, não são feitos por voluntários, mas por profissionais remunerados. A boa intenção de ajudar estudantes e idosos supostamente sem recursos a consumir cultura, sem lembrar que alguém deve pagar essa conta, acaba se tornando um atentado ao bom senso. Uma vez regulamentada a meia-entrada para cinema, teatro e shows, o próximo passo talvez seja aprovar leis que obriguem supermercados, dentistas e cabeleireiros a dar descontos para clientes munidos de suas privilegiadas carteirinhas. O céu é o limite.
Não bastasse isso, o projeto ainda restabelece o monopólio da emissão da carteirinha de estudante, colocando-o nas mãos da União Nacional dos Estudantes e de entidades congêneres, normalmente ligadas a grupos políticos que se financiam com a taxa paga para obter o documento. O circuito do absurdo se fecha: além de distribuir benefícios com recursos alheios, o Estado proporciona a determinadas agremiações, e exclusivamente a elas, uma renda nada desprezível.
Avizinha-se ainda um provável conflito jurídico resultante da interferência da nova lei federal nas áreas das leis estaduais e municipais já existentes sobre o assunto - há casos em que até doadores de sangue têm direito a meia-entrada. Para os especialistas em direito do consumidor, a confusão será inevitável e deverá alastrar-se pelo País todo, na forma de uma batalha de liminares.
Ante todas essas considerações, parece claro que a atitude correta a tomar não é regulamentar a meia-entrada, mas simplesmente acabar com ela, porque se trata de uma aberração.

Entrevista na Gazeta do Povo

Segue o link para minha entrevista na Gazeta do Povo, de Curitiba, sobre meu livro Privatize Já.

Energia no palanque

Aécio Neves, Folha de SP

Pouco antes das últimas eleições, a presidente Dilma Rousseff anunciou, em rede de rádio e TV, a decisão de reduzir em 20%, em média, a conta de luz dos brasileiros. Por mais que ficasse claro o viés eleitoral de uma medida a ser implementada apenas seis meses depois, ela mereceu aplauso de todo o país. A grande surpresa veio com a edição da medida provisória 579, que altera radicalmente o marco regulatório do sistema elétrico nacional.

Graves equívocos permeiam a proposta. A começar por reduzir a poucos gabinetes a responsabilidade por mudanças tão profundas, ignorando o Congresso, as empresas do setor, especialistas e vozes qualificadas do seu próprio partido e do governo, alijadas do processo.

A retórica não conseguiu esconder o alto risco que as mudanças carregam. Entre os que se levantam para alertar o governo está a voz corajosa do professor Luiz Pinguelli Rosa, ex-presidente da Eletrobras no governo Lula. Ele, como todos nós, concorda com a necessidade de redução do custo da energia, mas alerta que as medidas anunciadas não conseguirão alcançar esse objetivo; que a capacidade de investimento das empresas (leia-se ampliação da oferta, qualidade e segurança dos serviços) ficará comprometida, havendo o risco de desemprego no setor. Ou seja, no fim, quem vai pagar a conta -alta- é a população. A energia mais cara é aquela que o país não tem.

Com dificuldades de enfrentar críticas e o debate à luz do dia, o PT optou, mais uma vez, pela conveniência de torcer a realidade para que ela ganhe os contornos que lhe interessam. Sem argumentos, preferiu estimular a desinformação criando um mantra a ser repetido com ferocidade pela claque Brasil afora: "O PT quer baixar a conta de luz e o PSDB não deixa!"

Mentem. Na velha tese de que os fins (a permanência do partido no poder) justificam os meios, legitimam a mentira como arma do embate político e desrespeitam os brasileiros, em nome de quem dizem agir.

Pouco importa a desconfortável constatação de que governos do PSDB, como São Paulo, Paraná e Minas Gerais, pratiquem a isenção de impostos nesta área em patamares superiores à de governos do PT. Em Minas, metade das famílias não paga ICMS nas contas de luz. Tampouco que as oposições venham há muito cobrando redução dos cerca de dez tributos federais incidentes sobre a conta de luz.

É o velho PT agindo como sempre fez. Em época de crise, invente um inimigo e desvie a atenção dos seus problemas. Aí está, de novo, o discurso do nós -os bons- contra eles -os maus. O governo começou a tratar esta questão, tão séria e complexa, em cima de um palanque e, infelizmente, ainda não desceu dele. O país não merece isso.

Sem palavras


Vinícius Mota, Folha de SP
    
A presidente Dilma Rousseff atolou na resposta ao semanário britânico "The Economist", que na última edição pediu a cabeça do ministro da Fazenda, Guido Mantega. Revista estrangeira não influencia o governo eleito pela população brasileira, parece ter dito a mandatária, em fraseado confuso.
Além de ter mobilizado o velho repertório do nacionalismo bravateiro para contrapor-se a uma simples opinião, Dilma tentou atingir a revista criticando o desempenho da economia na Europa. Como se a "Economist" fosse o órgão central de propaganda da União Europeia.
Esse pequeno vexame foi manifestação eloquente da falta de traquejo com o contraditório por parte da presidente da quarta maior democracia mundial. Como se diz popularmente, o uso prolongado do cachimbo entorta a boca.
Na primeira metade do mandato, Dilma Rousseff expôs-se pouquíssimas vezes a entrevistas com a imprensa, quer individuais, quer coletivas. Sob a batuta dos marqueteiros que administram a imagem presidencial, permanece tempo demais cercada de bajuladores e de gente incapaz de questionar suas decisões.
Daí o despreparo para enfrentar a crítica --e para entender que ela é da natureza do jogo democrático.
O hiperpresidencialismo brasileiro do século 21 avança pouco, para não dizer que retrocede, nesse aspecto. A palavra do chefe de Estado surge quase como uma graça a ser oferecida com parcimônia e benevolência aos súditos --de preferência em ambientes controlados, onde o presidente discursa, mas não dialoga.
Era de esperar o contrário. Prestar contas é uma obrigação do governante, a quem foi concedido o mandato popular, e um direito da sociedade, que o concedeu. Parte dessa prestação de contas precisa ser feita no entrechoque com perguntas críticas às decisões, aos resultados e aos rumos do governo. Do contrário, será mera propaganda.

Seis passos para felicidade

Luiz Felipe Pondé, Folha de SP


Recentemente soube que alguns países querem endurecer ainda mais as leis antifumo: não pode fumar no carro, para fumar tem que ter uma carteirinha, quem nasceu a partir do ano 2000 não pode comprar tabaco. Esperamos, com a boca escancarada e cheia de dentes, a morte chegar. Mas, bem saudáveis. Hoje em dia, Raul Seixas vomitaria na plateia.
A "qualidade de vida" é uma das novas formas de puritanismo, sendo o feminismo uma outra (o feminismo é a nova repressão da sexualidade).
A felicidade e o bem-estar são as chaves da vida contemporânea. Vale tudo para ser feliz.
Qualquer discussão moral é pura afetação ética. Uma época dominada pela felicidade é uma época boba. Mas não estou sozinho nesta sensação: Aldous Huxley, escritor inglês, pensava a mesma coisa.
Quando olhamos para a história da ética, vemos que o utilitarismo inglês é o modo dominante da vida contemporânea. Para mim, pessoa um tanto desconfiada de quem passa a vida querendo ser feliz, isso tudo parece "limpinho" como um hospital. Jeremy Bentham (1748-1832), pai do utilitarismo, chegou mesmo a pensar num cálculo utilitário para otimizar a felicidade.
O principio utilitário afirma que o homem foge da dor e busca o prazer (o bem-estar). Logo, devemos fazer uma sociedade que vise produzir em larga escala a felicidade, o prazer e o bem-estar. E chegamos ao nosso mundo de gente que sonha em ficar com a boca escancarada, cheia de dentes, esperando a morte chegar, mas com saúde. A vida e a sociedade dominadas pela busca do bem-estar parecem tornar o homem menos homem.
O cálculo utilitário tem seis passos: 1. Intensidade: o prazer dever ser o mais intenso possível. 2. Duração: o prazer deve durar o máximo de tempo possível. 3. Certeza: cuidado para não produzir um prazer que não é o que você deseja com aquele ato. 4. "Remoticidade" (remoteness): o prazer deve causar efeito imediato ou o mais rápido possível. 5. Fecundidade: o prazer A deve gerar o prazer A1, o A2 e assim por diante. 6. Pureza: cuidado para não gerar desprazer ao invés de prazer.
Será que você já não põe isso mais ou menos em prática do seu dia a dia? Mas, dirão alguns, Bentham era um controlador, porque ele sempre pensava em termos de um centro (expert) controlando a periferia (as pessoas comuns).
Bentham ficará conhecido como o utilitarista antidemocrático, sendo John Stuart Mill (1806-1873) o utilitarista democrático. De acordo com este, maior representante da segunda geração de utilitaristas, a sociedade (os indivíduos) deve livremente buscar esse prazer.
Mas o que percebemos é que, ainda que Mill falasse muito em liberdade e contra o abuso de poder (cara simpático para a moçada que gosta de falar coisa bonitinha, tipo Obama), não adianta acusar o "centro do poder" de controlador, porque são as próprias pessoas que querem os seis passos para a felicidade de Bentham.
Isso cria o efeito de esmagamento típico do puritanismo de massa em que vivemos: saúde e felicidade. Fizéssemos um plebiscito, quase todo mundo escolheria uma gaiola feliz.
"Comunidade, identidade, estabilidade." O bem é sempre para todos, a identidade é o que nos une, a vida deve ser estável. Slogan que venderia bem no mundo para o qual seguimos a passos largos com esse utilitarismo social em que vivemos, com um controle cada vez maior dos gestos, do pensamento e dos hábitos em nome da "comunidade, identidade, estabilidade".
Esse era o slogan do mundo perfeito que Huxley criticou em seu "Admirável Mundo Novo" (1932), mas podia ser o de qualquer um dos proponentes bonitinhos do controle político da vida em nome do bem.
Louis Pojman, professor de filosofia da Academia Militar de West Point (EUA), chama isso de "tragédia da liberdade".
Toda liberdade pressupõe riscos, e toda sociedade pautada pela felicidade social não suporta a liberdade. Estamos caminhando a passos largos para uma dessas.
Toda a cultura intelectual está infestada de amor à felicidade social e de ódio ao indivíduo. O pesadelo totalitário não passou. Agora ele vem sob o disfarce da opinião pública e da vontade coletiva.

domingo, dezembro 09, 2012

Os negros da Carta Capital

Rodrigo Constantino

Aos poucos, fui tomando coragem de fazer uma leitura dinâmica da grande matéria de capa da última Carta Capital, atacando a "direita" brasileira. Em certo momento, eis o que diz a revista:

Os "especialistas" [do Instituto Millenium] são todos, curiosamente, brancos. Talvez por conta da adesão furiosa da agremiação aos manifestantes anticotas raciais. 

Como um trecho tão curto pode conter tanto a essência da esquerda? Notem que em momento algum a questão das cotas em si foi debatida. Funciona assim: se você é branco, você condena as cotas raciais... porque é branco! Se um think tank tem maioria branca, então por isso condena as cotas raciais ou atrai aqueles que condenam.

O que a Carta Capital tem a dizer de Thomas Sowell, que é contra as cotas, um pensador liberal e muito respeitado por todos do Instituto Millenium? Aliás, eu votaria nele para presidente do instituto, quiçá do país! O que a revista diria disso? Que ele é um "traidor", porque é negro mas condena as cotas racistas, digo, raciais? 

Estamos diante da velha tática esquerdista de atacar pessoas, não idéias ou argumentos. O racismo está na Carta Capital, que julga pela cor da pele. É asqueroso, como todo o resto que vem dessa revista de quinta categoria, que só sobrevive graças às esmolas estatais.

Mas para finalizar, vamos fazer a pergunta: e quem são os "especialistas" da Carta Capital? Seriam eles negros? Será que o Mino Carta aplica o critério das cotas em sua própria revista? Vejamos:


Mino Carta

Luís Nassif
Leandro Fortes
Delfim Netto
Ildo Sauer
Cynara Menezes
Claudio Bernabucci

Como fica claro, esse time de "especialistas", a começar pelo próprio chefe, não representa exatamente aquilo que chamaríamos de "negão" por aqui. O mais escurinho da turma conseguiria passe para a Ku Klux Klan se quisesse. KKK, para quem não sabe, era aquele clã racista formado basicamente por democratas (esquerda) nos Estados Unidos, que hoje fingem ser os maiores combatentes do racismo. A esquerda é assim mesmo: adora apagar o passado.

Voltando à reportagem, o Instituto Millenium foi acusado por ter muitos brancos. Fica a pergunta: onde estão os negros da Carta Capital? Ai se a esquerda não tivesse sempre que apelar para padrões duplos de julgamento...

PS: Nem preciso dizer que como liberal não ligo para a cor da pele, algo que sequer escolhemos. O que une esse time aí de cima é outra coisa, algo que devemos julgar, ao contrário da "raça". E posso garantir que os "especialistas" da Carta Capital não passam no teste. Eles merecem escrever na Carta Capital mesmo...












sábado, dezembro 08, 2012

A encomenda

Rodrigo Constantino

A revista Carta Capital dessa semana ligou a metralhadora giratória contra a "direita". Não vou entrar no detalhe pois confesso que nem li a reportagem. Soube que é um verdadeiro lixo, como de praxe quando se trata dessa revista chapa-branca. Vou apenas comentar a acusação que a revista me faz: de que meu novo livro, Privatize Já, foi "encomendado" como resposta ao Privataria Tucana

Prezado Mino Carta, tenha a caridade de me dizer QUEM foi que encomendou meu livro, pois até agora nenhum centavo pingou em minha conta. Foi a CIA? A Mossad? Os tucanos que são criticados no livro (se ao menos os "jornalistas" da revista tivessem LIDO mais que o título)? Foi o Iluminatti? A Maçonaria? Gostaria muito de ter essa informação, para enviar a fatura.

Talvez quem encomendou o livro tenha feito algum depósito na Suíça ou em um paraíso fiscal e ainda não me avisou. Mino, caso você não conheça os meandros dessas contas secretas, será que poderia perguntar aos colegas do PT como isso funciona? Será que o Duda Mendonça faria a gentileza de me dar umas aulas sobre o assunto?

Sobre o livro do Amaury Ribeiro Jr., eu confesso que li. Na verdade, "tive" que ler, pois tinha uma PARTE do meu livro que fala da privataria petista, e eu queria saber se poderia aproveitar alguma coisa do livro dele. Doce ilusão! O livro não fala nada de privatização em si, e não passa de um ataque requentado ao José Serra (que eu, caso não saibam, jamais defendi - esquerdista demais). 

Portanto, o meu livro não tem absolutamente NADA a ver com o privataria tucana. Meu livro é uma compilação teórica e empírica que demonstra o sucesso da privatização, no Brasil e no mundo. E isso sem poupar críticas aos tucanos, que a revista insinua serem os responsáveis pela "encomenda".

Eis o fenômeno que estamos diante: o problema dos "jornalistas" da Carta Capital é que se projetam nos outros, ligam a metralhadora giratória na frente do espelho. Quando julgam o mundo pelo que enxergam neles mesmos, claro que só poderiam ver podridão, autores vendidos, safados, cafajestes. Tio Lênin ensinou para a turma: acusem seus inimigos daquilo que vocês são! Aprenderam direitinho...

Não é verdade, Mino?

Novas confissões

Rodrigo Constantino

Ainda chocado e desnorteado com as descobertas da revista Carta Capital, pretendo fazer novas confissões, antes que toda a verdade venha à tona.

Tive contatos com espiões da CIA sim, e parece que eles, junto com a Scotland Yard, planejam um golpe no Brasil para derrubar o governo popular (não populista!) do PT. É que nós, reacionários, não toleramos o fato de um metalúrgico ter chegado ao poder! Nossa revolta nada tem a ver com corrupção, aparelhamento da máquina estatal, tentativa de censura da mídia ou demais invenções que criamos na imprensa golpista.

Confesso que não sou parte da elite desse grupo tático, mas escutei algumas coisas aqui e acolá. Portanto, não chego a ser um espião da CIA, mas sei que a coisa é séria. Diria que até o 007 está envolvido no esquema, e a Carta Capital está em destaque entre nossos alvos mais perigosos. São muitos leitores, e muito poder de influência...

Tenho outras confissões a fazer. Meu cachorro se chama Bono, nome de esquerdista caviar, para disfarçar; mas na verdade ele é treinado pela CIA para atacar comunistas. Trata-se de um maltês ameaçador, e a ideia do Instituto Millenium é bancar um projeto de produção em série de cães desse tipo, para perseguir comunas. O projeto chama-se Pet McCarthy, e conta com fundos milionários levantados entre a comunidade judaica com anseio de conquistar o mundo.

Aproveito também para confessar que sou heterossexual. Sei que é uma coisa terrível de se dizer em público no século 21, mas estou passando tudo a limpo antes que a Carta Capital consiga me desmascarar ainda mais. O segredo é não dar chance ao inimigo, antecipando-se. Sim, eu gosto de mulher. Mea culpa! 

E aquele livro novo, Privatize Já, que a revista ainda não resenhou, foi sim encomendado pelos grandes conspiradores do capital. Recebi polpudas verbas para colocar aquelas mentiras todas no papel, manchando minha reputação. Onde eu estava com a cabeça para afirmar que a privatização da Telebras foi positiva para o povo? Ou para chamar de privataria petista o que, no fundo, não passa de um governo limpo e sem escândalos?

Sei que pessoas como Mino Carta e Luís Nassif não entendem esse tipo de atitude mesquinha, essa prostituição; mas sejam compreensivos: eu preciso colocar o leite das crianças em casa! Será que se vocês estivessem precisando, não aceitariam dinheiro para mentir um pouquinho? É, no caso de vocês talvez seja diferente, mas nós "reaças" nunca tivemos caráter mesmo...

Agora que a Carta Capital já sabe toda a verdade, espero ser deixado em paz. Não represento mais perigo para os planos democráticos de Dirceu e Mino Carta. 

Confissões

Rodrigo Constantino

Parece que a revista Carta Capital me descobriu. Não é mais possível esconder a verdade. Sim, eu sou um reacionário golpista! Meu intuito é dar um golpe na nossa democracia, impedindo que ela se aproxime do “excesso de democracia” venezuelana ou quiçá do paraíso social cubano. Mea culpa!

Sou tão reacionário, mas tão reacionário, que chego a preferir países capitalistas atrasados como Suíça, Austrália, Canadá e Nova Zelândia ao invés de lugares bem mais voltados para o social como Venezuela, Argentina, Equador e Bolívia, todos administrados pelos camaradas do PT. Preciso confessar essas baixarias.

A Carta Capital é uma revista tão boa nas investigações, que descobriu inclusive o papel do Instituto Millenium, que ajudei a fundar. Tudo não passa de uma conspiração dos barões da mídia. Creio até que a família Marinho e a família Civita chegaram a depositar milhões em alguma conta suíça para mim, mas ainda não soube dos detalhes.

Mas isso não é tudo! O que eu preciso confessar aqui, em público, é meu sonho de um dia ser um jornalista tão sério e isento como Mino Carta, um símbolo da honestidade e integridade no ramo, alguém que não se vende, que não aceita pautar suas matérias de acordo com as verbas que recebe. Quando eu crescer, quero ser como o Mino Carta! Como o Mino Carta!

É isso, minha gente. Não passo de um reacionário patético, um lacaio do capital, um golpista barato. Agora, se me dão licença, tenho que ir para uma reunião com a cúpula dos tubarões da imprensa golpista para acertar detalhes da nossa estratégia de reação a essa bomba que a Carta Capital, uma das revistas mais lidas e respeitadas do planeta, soltou em cima de nós. Até a próxima!