terça-feira, abril 30, 2013

O brioche estragado

Carta Mensal da MP Advisors


"Se me perguntarem qual a fatalidade de nossa época, responderia que são as esquerdas.”

Nelson Rodrigues

Após a derrocada da URSS, Coréia do Norte, Leste Europeu e Cuba, alguns ainda persistem no erro.  O ser humano continua apostando num modelo que deu errado, a despeito de Darwin. Nesta carta, beberemos um pouco das águas da consultoria Gavekal para falar sobre o momento atual da França, que parece rumar para uma segunda recessão pós-crise de 2008. Faremos também um paralelo dos problemas do modelo econômico francês com o modelo para o qual o governo brasileiro caminha a cada dia que passa.

Vamos ser claros: a França de François Hollande está no meio de uma paralisia política, moral e econômica.  O desemprego alcança novas máximas, a confiança no governo entre os empresários se deteriora, a produção industrial afunda, bem como o consumo privado, que já cai para os patamares de pós-crise 2008.

O desenho rígido do sistema do euro indica que países como a França irão experimentar um brutal ajuste cíclico como nos tempos do padrão ouro (onde não se podia imprimir ou desvalorizar a moeda). Os compatriotas de Asterix chegaram longe no experimento coletivista de bem estar social e agora rumam impávidos para o abismo.

As crises daquela época (padrão ouro) seguiam um padrão bem estabelecido: começavam com investidores animados com os bons retornos aumentando cada vez mais as suas apostas, bancos afrouxando os seus padrões de crédito, dificuldade de distinguir os reais empreendedores dos charlatões e analistas comentando que 'desta vez é diferente'. Isso ocorreu entre 1995 e 2007.

Depois vinha o pânico, com alguns investidores realizando que o retorno esperado não era mais aquele e vendendo suas posições, causando medo e movimentos súbitos no mercado Fase de algumas falências.  Isso foi o que houve no biênio 2007-2008.



Na sequência, a fase de alívio com taxas de juros baixas, ajudas do governo e preços dos ativos retornando ao que eram antes da crise anterior. Então, as pessoas, erroneamente, concluem que a vida voltou ao normal. Isso foi vivido entre 2008 e 2012.

A fase que vem a seguir, em especial na França, é de depressão secundária, quando os investidores realizam que afinal o retorno dos investimentos continua bem baixo e, portanto vendem seus ativos.  Os estudiosos da época do padrão ouro falam que essa fase pode durar entre três e cinco anos.  A desvalorização da moeda, a única saída viável, está fora de cogitação pela estrutura do euro. 

Mas se o problema é de desenho do euro, porque afinal a França é que vai primeiro para o abismo?  Boa pergunta e começamos respondendo com o adágio popular (para os europeus) de que "muitas casas na Espanha, muitas fábricas na Alemanha e muitos funcionários públicos na França". O gasto público na terra de Amélie Poulain representa 57% do PIB.  Você não leu errado, é isso mesmo! Quase 2/3 do PIB vem do setor público.

É muita gente sendo sustentada por poucos. Como se sabe, o 'estado' não cria riqueza e nada produz, ele apenas redistribui (com extrema corrupção e ineficiência) uma parte de quem produz para aqueles que não produzem (por incapacidade, doença ou por preguiça mesmo). Na França, há uma relação de dois 'malandros' sendo sustentados por um 'trabalhador'. Não tem como dar certo, não é verdade?

O ciclo vicioso funciona assim: uma 'elite' captura o estado e cresce cada vez mais. Para sustentar a farra, novos impostos são criados, reduzindo a capacidade de investimento dos empreendedores, que, por sua vez, têm lucros menores e naturalmente pagam menos impostos.  Com a arrecadação em queda o que fazem os 'saqueadores' que tomaram conta do estado?  Aumentam mais os impostos e contraem mais dívida (pública) para financiar o rombo.

Chega ao ponto em que até o mais pacífico dos servos protesta, como foi o caso de Gérard Depardieu que recentemente se naturalizou russo para não ter que pagar 75% de imposto de renda.  E veja que ele foi duramente criticado por não ser 'patriota' e 'fraterno'.  Trata-se do parasita se revoltando contra o hospedeiro que resolve tomar um vermífugo. No gráfico anexo, a lenta agonia do empreendedor na França.

O irônico desse desenho político, é que na medida em que você aumenta o número de 'beneficiados', mais fácil fica de se perpetuar no poder através do voto da maioria.  Funcionários públicos, bolsistas, cotistas e alguns empresários que gostam da letra 'X', naturalmente tendem a perpetuar o sistema que lhes permite ganhar a vida sem muito esforço.  Por hora, o que há é um sistema onde o setor público saqueia continuamente o setor privado.  Esse assalto institucionalizado naturalmente cria um ciclo de queda econômica sem fim. O resultado disso será o sucateamento da indústria, fuga de cérebros para o exterior, recessão, inflação e desemprego nas alturas.

Esse avanço do estado francês sobre os empreendedores ocorre tanto em governos de 'esquerda' quanto de 'direita'.  Sarkozy, a despeito de ter um senso estético melhor do que o de Hollande, na prática tocou a mesma música. O problema é cultural, ou indo mais fundo: trata-se da falência moral de uma sociedade. As elites francesas de fato acreditam que a tecnocracia comunista é melhor do que o capitalismo, e essa crença é aceita por grande parte da população.  A música vai tocar até que o financiador dessa dívida continue aceitando isso e também até que o último empreendedor francês arrume as suas malas para Palo Alto, Nova York ou Cingapura. Um dia a farra termina.

E o que isso tem a ver com o Brasil?  Acho que não precisa ter muita imaginação para traçarmos um paralelo com os charmosos franceses.  Temos muito do que eles tem.  Um 'estado' voraz e saqueador do setor privado, baixo crescimento, inflação, uma cultura 'esquerdizante', uma dívida pública que só cresce, uma indústria decadente, muitos 'direitos', poucos 'deveres' e uma demografia que daqui para frente teremos cada vez mais menos gente trabalhando e mais gente aposentada.  Além disso, ainda temos corrupção endêmica e um nível educacional péssimo. 

De positivo o Brasil tem uma capacidade (espero, ainda) de corrigir suas rotas e seus descaminhos.  Caso não mudemos o nosso passo, seguiremos para o abismo, só quem sem a educação, charme, vinho e o TGV dos franceses.

O risco bolivariano

Meu artigo de hoje no GLOBO fala sobre o risco bolivariano constante no Brasil. Os petistas não desistem da tentativa de golpe contra a Constituição. 

Não existem mais valores objetivos, ninguém pode julgar nada, vale tudo, e quem discorda sofre de preconceito e é moralista. Com essa agenda politicamente correta, os socialistas modernos vão impondo uma mentalidade fascista que, em nome da “tolerância” e da “diversidade”, não tolera divergência alguma.

Leia o artigo na íntegra aqui, e divulgue se concordar com o alerta.


Pode um intelectual gostar da Disney?

Rodrigo Constantino

Janer Cristaldo transformou nosso pequeno debate de Facebook em artigo, tendo, claro, a palavra final. É justo. Ele afirma, logo no título, que não se fazem mais intelectuais como antigamente. E eu respeito sua opinião. Pode até ser verdade. Afinal, de certa forma somos todos filhos de nosso tempo, em parte. Gostaria apenas de dizer duas coisas: 

1) não respondo pelos meus seguidores, e não aprovo chamarem o outro de "senil" apenas por discordar de sua opinião;

2) mantenho minha visão de que é possível, sim, ter angústias profundas, mergulhar em pensamentos rebuscados, ler ótimos livros e escutar música de primeira, e depois trocar o chapéu, vestir a roupa de "homem comum" e se divertir com a última baboseira high tech de Hollywood ou na montanha-russa da Disney com a filha. 

Eu não acho que para ser um intelectual é preciso ser carrancudo e ranzinza, ainda que concorde que não dá para ser o oposto, aquela "happy people", alguém que SÓ quer saber de distrações vazias, de futebol, carnaval e novelas. São coisas diferentes.

Não sei se o Janer tem filhos, mas esse debate me remeteu ao grande historiador Paul Johnson, que define intelectual como alguém que ama as idéias mais do que as pessoas. Quando estou dando um lupin na montanha-russa do Hulk e vendo o sorriso de felicidade estampado no rosto de minha filha, isso é algo muito bom, que não pode ser comparado ao prazer de ler um angustiante Camus ou Kafka. São coisas bem diferentes, e lamento que, para alguns, uma coisa impeça a outra. 

Enfim, respeito a opinião de Janer, mas ainda acho que poderíamos, eu e ele, trocar dois dedos de prosa profunda sobre o impacto da igreja nas instituições moralizantes da humanidade, e fazer isso logo depois de ver o último filme do Batman. Por que não? 

PS: Dando o benefício da dúvida ao Janer, eu confesso ter dificuldade de imaginar Luiz Felipe Pondé, um filósofo que eu admiro, ao lado do Mickey. Acho que ele vomitaria em cima do Pateta (rs). Mas, como concluiu o próprio Janer, você não pode fugir de quem você é, e minha personalidade, meu estilo, minha visão de mundo, são diferentes. Neles, o humor banal encontra algum espaço, até para suavizar o peso da angústia com as coisas mais sérias. Mas, cada um é cada um. E viva as divergências saudáveis!

segunda-feira, abril 29, 2013

Visão da Semana


Teórica Investimentos

Visão da Semana (de 22 de abril a 29 de abril).

Economia global segue seu lento processo de cicatrização. Conforme nossa principal tese de investimento, as principais economias do mundo atravessam período de reequilíbrio, ajustando internamente seus desequilíbrios fiscais, monetários e, em alguns casos, sociais, para, a partir de então, poderem entrar novamente em um ciclo de crescimento sustentado de longo prazo. Inegavelmente, a digestão dos excessos está acontecendo. Essa reorganização do organismo econômico não acontece numa linha reta e, por isso, ainda teremos sustos ao longo desse tortuoso caminho de recuperação.

Segundo os dados divulgados na semana passada, a economia dos EUA cresceu 2,5% no primeiro trimestre de 2013, abaixo do esperado, em parte explicado pelos efeitos dos cortes de gastos iniciados no ano passado. Os gastos do governo caíram cerca de 15% se comparado com o mesmo período de 2012. O destaque positivo foi o consumo das famílias, que aumentou 3,2%, mais do que se antecipava. Existem dúvidas, porém, se o desempenho do consumo permanecerá positivo nos próximos meses. Aparentemente, tudo indica que o ritmo médio de crescimento da economia americana nos próximos trimestres permanecerá em 2%, o mesmo observado desde 2009. É um crescimento baixo, se comparado à média histórica, mas, levando em consideração nosso pano de fundo de um processo de desalavancagem global e o crescimento Europeu, essa expansão não parece tão ruim. O destaque na Europa, que segue ajustando mais rapidamente e, por isso, paga o preço de uma desaceleração mais aguda, foi o acordo político na Itália. A eleição do novo primeiro ministro e a posse de um governo de coalizão acaba com o impasse político e abre espaço para uma potencial agenda de importantes e necessárias reformas econômicas e políticas.  

Do lado doméstico, o BC divulgou a ata do Copom. Apesar de condizente com o comunicado após a decisão de elevar a Selic em 25 pontos base em abril, a ata mostrou um tom cauteloso com o cenário externo, porém também explicitou uma clara preocupação com o ambiente inflacionário.  A autoridade monetária tem tido dificuldades em coordenar as expectativas de mercado e, com isso, gera mais incertezas para o cenário prospectivo de juros e inflação.

O ambiente de liquidez global abundante, efetivado pelos principais bancos centrais do mundo, evita eventos de cauda, porém é insuficiente para gerar crescimento sustentado de longo prazo. Uma expansão fundamentada somente ocorre através de reformas e ajustes estruturais, que precisam de tempo e consenso político. A liquidez é a ponte para se chegar no acordo político e nas reformas. Porém, sem os ajuste necessários, será uma ponte para lugar nenhum e voltaremos ao ambiente de crises e incertezas.   

sexta-feira, abril 26, 2013

Torre de Babel


Rodrigo Constantino, para a revista Banco de Ideias do Instituto Liberal

A Organização das Nações Unidas, herdeira da falecida Liga das Nações, foi criada com a melhor das intenções: servir como um instrumento em busca da paz mundial após a Segunda Guerra. Será que ela atendeu aos anseios originais de seus criadores? Será que o legado da ONU tem sido positivo?

A resposta do israelense Dore Gold, que atuou em diversas funções diplomáticas, é um retumbante “não”. Em seu livro Towerof Babble, ele argumenta que a ONU foi completamente desvirtuada, e acabou contribuindo para instigar o caos global. O histórico da ONU, especialmente o mais recente, após o término da Guerra Fria, é uma sucessão de fiascos: Bósnia, Ruanda, Somália. Por quê?

De forma bastante resumida, o fracasso da ONU se deve à perda de sua claridade moral, presente na sua origem. Em um mundo dicotômico, com os aliados de um lado e os fascistas do outro, era mais fácil defender o certo e o errado de forma objetiva. Tal clareza foi substituída, com o tempo, pelo atual relativismo moral exacerbado, onde, em nome da “imparcialidade”, ninguém mais deve tomar partido.

Agressor e agredido viraram conceitos muito elásticos, confusos, e o cinza absorveu qualquer chance de divisão entre preto e branco. A ONU adotou um discurso acovardado, politicamente correto, incapaz de julgar evidentes agressores. Ela não se mostrou à altura do desafio de combater o terrorismo islâmico, por exemplo, pois lhe falta convicção sobre a própria existência do inimigo.

A democracia direta em nível global seria, hoje, transferir poder dos americanos para chineses e indianos. Sem sólidos pilares institucionais e culturais, a simples escolha da maioria pode representar a tirania sobre a minoria numérica. Em parte, foi justamente isso que aconteceu com a ONU. Ela foi capturada por países do Terceiro Mundo, e os Estados Unidos foram perdendo poder dentro da instituição.

É por isso que países sob regimes autoritários ocuparam o Conselho de Direitos Humanos da ONU, esvaziando-o de qualquer sentido. É por isso também que o pequeno Israel tem sido alvo da maioria das resoluções da ONU, recebendo críticas absurdamente desproporcionais. Tiranos massacram seus povos, rasgam qualquer acordo de direitos humanos, mas é Israel que sofre condenações constantes da ONU. Não Cuba, não o Irã, tampouco a China, mas Israel, a grande ameaça à paz mundial, segundo uma desmoralizada ONU.

Palco para muitos discursos inflamados e poucas ações efetivas, a ONU se tornou o paraíso dos burocratas e políticos populistas. Uma espécie de “governo mundial” sem responsabilidade, sem eleições populares. O poder sem rosto. Para piorar, a inoperância não tem sido punida, mas premiada! Vide a própria trajetória de Koffi Annan. Com tal mecanismo de incentivos, a escalada da corrupção dentro do organismo foi inevitável.

São vários escândalos, como aquele do programa “Petróleo por Comida”, que teria desviado US$ 10 bilhões dos petrodólares iraquianos de Saddam Hussein e envolvia gente importante da Rússia e da França (talvez isso explique a reação de ambos à guerra que derrubou o ditador). Há ainda casos de participação dos funcionários da ONU em uma rede mundial de tráfico sexual, como retratado no filme A Informante, com Rachel Weisz.

Com essa postura de “equivalência moral” entre agressores e agredidos, tomada pela maioria numérica de países antiamericanos e antissemitas, e envolta em escândalos de corrupção, como encarar a ONU como uma esperança pela paz? E, sabendo disso tudo, como condenar países como Estados Unidos, Israel e Inglaterra, que precisam, muitas vezes, ignorar a ONU para sobreviver?     

Dore Gold está certo: aquilo virou uma Torre de Babel, uma cacofonia onde acaba sobressaindo o viés antiamericano acima de tudo. A ONU fracassou em sua missão.

Jacobinos




Rodrigo Constantino, para o Instituto Liberal

Por mais que hoje seja uma sexta-feira ensolarada no Rio, não posso fugir do tema sombrio desse comentário diário: o avanço sobre o STF, instituição fundamental para proteger a Constituição. Os inimigos da democracia republicana não descansam, e todo cuidado é pouco. Vide a Argentina, onde os “chavistas” acabam de obter essa mesma vitória sobre a Suprema Corte, dando mais um importante passo rumo ao socialismo.

A reação dos principais ministros do STF foi imediata. Gilmar Mendes disse que rasgaram a Carta e que, se a emenda realmente passar, “é melhor que se feche o Supremo”. Já o presidente do STF, Joaquim Barbosa, desabafou: "A aprovação dessa proposta pela Comissão de Constituição e Justiça da Câmara representa uma ameaça à democracia". Enquanto todos protestavam contra o pastor Feliciano, eis que os “mensaleiros” tramavam esse golpe à surdina.

O mais importante, nesse momento, é constatar o real objetivo desses jacobinos, e ignorar aqueles que tentam suavizar os riscos. Um exemplo é o ministro José Antônio Dias Toffoli, que mais parece um petista infiltrado no STF. Ele disse: "Não há que se falar em crise, não há o que se falar em retaliação. Isso não procede. O que temos é uma democracia muito ativa. Quem quer ver crise nisso, quer criar crise porque não há". Sei...

Mas quem ainda não está convencido do desejo revolucionário desses bolivarianos, ninguém melhor do que o ícone da turma nas redes sociais para expor, sem rodeios, a verdadeira meta deles. Paulo Henrique Amorim, aquele da “conversa fiada” paga pelos nossos impostos, com milhares de reais transferidos pelas estatais para o bolso do “jornalista”, soltou em seu canal de Twitter o grito revolucionário: “A Queda d(o STF)a Bastilha é próxima!”

Se depender dos jacobinos tupiniquins, em breve teremos guilhotinas em praças públicas para eliminar os dissidentes e dar uma lição à “imprensa golpista” e aos defensores do STF como órgão independente. Precisamos reagir contra essa tentativa de golpe. Não acreditem naqueles que minimizam a ameaça... 

segunda-feira, abril 22, 2013

Visão da semana


Teórica Investimentos

Visão da Semana (de 15 de abril a 22 de abril).

Reunião do G20 e do Fundo Monetário Internacional no final de semana convergiram sobre a necessidade de ações pró crescimento, porém sem consenso sobre quais as ferramentas utilizar, nem um padrão de políticas monetária e fiscal. Importante frisar também que não houve críticas oficiais às políticas recentemente implementadas pelo Banco Central do Japão, que desvalorizou relevantemente a moeda japonesa e vem causando um maciço fluxo de capitais para o sistema financeiro global.

Consenso de mercado e, consequentemente, os preços dos ativos já embutem relevante desaceleração da economia dos EUA, continuidade da recessão na Europa, crescimento ao redor de 7,5% a.a. na China e mundo emergente mantendo vigor, mas nada de maravilhoso. Em resumo, o processo de desalavancagem, que tanto repetimos aqui nesse semanal, com baixo crescimento até que os excessos sejam digeridos, segue ocorrendo, como esperávamos. Importante repetir que ele está acontecendo. Porém, muito melhor seria se os governos conseguissem implementar reformas, que tornariam os organismos econômico e financeiro mais rejuvenescidos, mais dinâmicos e mais capazes para entrar num novo ciclo de crescimento. O papel dos bancos centrais têm sido importante para proporcionar um ambiente de estabilidade para que os políticos consigam montar consenso para fazer as reformas, mas a velocidade da efetivação de tais reformas têm decepcionado. Nesse sentido, esse ambiente de estabilidade, evitando rupturas, que os BCs têm mantido através de fortes injeções de liquidez e monetização da divida pública, sem as reformas acabará se transformando em inflação elevada e instabilidade ao sistema.

Conforme citado, os dados recentes vem mostrando alguma desaceleração da economia norte-americana, em parte explicada pelo ajuste fiscal realizado no início do ano. Na Europa, lugar onde as reformas tem sido implementadas mais rapidamente, os dados seguem bastante fracos, porém sinalizam alguma estabilidade. Na economia chinesa, acreditamos que uma desaceleração, em função da mudança de perfil de crescimento, seja saudável para o crescimento de longo prazo e evita possíveis bolhas no curto prazo. Vemos de forma positiva esse ajuste para a economia mundial, mesmo que isso ocasione algum susto e alguma volatilidade no curto prazo. Do lado doméstico, já ficou repetitivo falar mal das políticas do governo e das interferências no banco central. A economia real, o investimento, o crescimento e a inflação já sofrem pela baixíssima qualidade das ações do governo. É impressionante a falta de conhecimento dos fundamentos mínimos da economia e a arrogância em reconhecer decisões erradas. Diversos avanços feitos em governos anteriores estão sendo revertidos e, por consequência, o ambiente de investimento tem se tornado mais complexo e mais difícil. Uma revisão de medidas intervencionistas ou até mesmo mudança de parte da equipe econômica traria efeito muito positivo para a percepção do mercado.                        

Seguimos acreditando que o ativismo excessivo dos governos e bancos centrais atrapalham o processo natural de cicatrização e de desenvolvimento das economias. O papel dos bancos centrais injetando liquidez tem um beneficio de evitar um congelamento do sistema ou a ruína rápida de um banco, mas não tem a capacidade de criar crescimento econômico. Para tanto, reformas estruturantes são necessárias.  Tanto a economia brasileira quanto a mundial seguem processo de ajustes. 

sexta-feira, abril 19, 2013

O último pilar


Rodrigo Constantino, para o Instituto Liberal

O governo petista vem derrubando cada pilar importante que herdou da gestão FHC. Praticamente não temos mais câmbio flutuante, a meta de inflação perseguida com razoável autonomia do Banco Central foi deixada de lado, as privatizações deram lugar à criação de novas estatais e mais intervencionismo na economia, e agora até a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) está ameaçada.

Uma grande reportagem no jornal O Globo hoje, mostra como o descontrole de gastos ameaça os estados. O principal item fora de controle tem sido o gasto com pessoal. Ou seja, uma vez mais o inchaço da máquina estatal coloca em risco as finanças públicas do país. O mau exemplo vem do próprio governo federal, que não só vem expandindo seus gastos, sob a desculpa esfarrapada de ação anticíclica contra crises, como tem sido negligente com os estados que abusam da lei.

O especialista em finanças públicas, José Roberto Afonso, entrevistado pelo jornal, atribuiu o crescimento dos gastos com folha de pagamento a um “afrouxamento” da política fiscal endossado pelo Tesouro Nacional que, segundo ele, “começou a liberar crédito sem garantias de aumento de investimento por parte dos estados como contrapartida”. É o PT pensando apenas nas próximas eleições, e nunca nas próximas gerações.

Nada disso deveria surpreender tanto, quando lembramos o passado do PT. O partido foi contra todas as reformas importantes da era FHC. Ele está apenas seguindo aquilo que sempre defendeu, deixando claro que a carta ao povo brasileiro era um engodo, uma concessão temporária para chegar ao poder, uma armadilha. A LRF representa, possivelmente, o último pilar que restava ser derrubado para que as conquistas do governo FHC sejam apagadas, dando lugar ao verdadeiro projeto petista. 

quinta-feira, abril 18, 2013

Os Alertas de Weidmann


O presidente do Bundesbank deu uma entrevista para o WSJ, traduzida em parte hoje pelo Valor, onde faz importantes alertas. Seguem alguns deles:

"A superação da crise e os seus efeitos continuarão sendo um desafio ao longo da próxima década"

"a calma que estamos vendo atualmente pode ser traiçoeira"

"Todo mundo está perguntando o que mais o banco central pode fazer em vez de perguntar de que forma os outros formuladores de políticas podem contribuir"

"Para mim, não foi uma surpresa os mercados se acalmarem [...], isso não significa necessariamente que a decisão tenha sido boa do ponto de vista político"

"além disso, não é uma questão de não fazer nada, mas de quem está democraticamente legitimado a agir e a preservar a união monetária como uma união de estabilidade."

"O caso cipriota mostrou que é possível fechar bancos. Em princípio, isso é uma coisa boa porque significa que os contribuintes não têm sempre que bancar o resgate dos bancos"

"Um ponto que eu acho importante destacar - talvez menos aos meus colegas de outros bancos centrais do que aos ministros das Finanças - é que o remédio administrado pelos elaboradores da política monetária só cura os sintomas e que ele tem riscos e efeitos colaterais"

"O BCE não pode fazer tudo para todo mundo o tempo todo"

"Às vezes, você tem que ver o abismo para agir" 

"Nós temos que ter certeza de que nós não estamos retirando a pressão para agir sobre os que, na verdade, são os responsáveis por resolver a crise."

ESSE SIM, é um banqueiro central. Sem mais.

quarta-feira, abril 17, 2013

Entrevista sobre corrupção

Segua uma entrevista que concedi ao Movimento Contra a Corrupção.

terça-feira, abril 16, 2013

Eu tive um sonho

Sonhei que o espírito de Margaret Thatcher havia reencarnado na presidente Dilma. Veja no GLOBO o resultado disso.

Desmascarando um esquerdista

Rodrigo Constantino

Reconheço um esquerdista de longe. Não posso dizer que é pelo cheiro, pois identifico os virtuais também. É pelo estilo.

E eis que recebi mensagem hoje de um típico ícone dessa esquerda mascarada, criticando meu artigo do GLOBO sobre meu sonho com Thatcher. Abaixo, a troca de emails, pois considero essa conversa útil para que meus leitores aprendam a identificar, também, essa turma que chega devagar, mas carrega um ranço estatizante enorme. Ele está em vermelho, eu em azul (por motivos óbvios).


Prezado Rodrigo,
Li seu artigo em O GLOBO,de 16-4-2013, "Eu tive um sonho".
Folgo em saber que seu sonho acabou bem, apesar da interferência da Dilma nele. Poderia ser realmente trágico, se em vez da Dilma entrasse no seu sonho o Obama, injetando bilhões de dólares na GM e centenas de bilhões nos bancos privados, se entrasse o Tony Blair, doando bilhões de libras para os bancos e industriais ingleses, sem falar no Sarkozy, que entraria em seu sonho sozinho, sem a Carla Bruni, mas doando dinheiro de impostos dos franceses para os empresários franceses.
Sorte sua, cuidado com os sonhos.
Um onírico abraço,
Joaquim Melo

De fato, esses todos são bem intervencionistas e merecem duras críticas por isso.
Mas nada se compara ao nosso governo Dilma. Talvez a Argentina e a Venezuela, mas nesse caso seria um pesadelo tão assustador que eu estaria até agora em choque.

agradeço a resposta, mas ... você sabe a diferença de economia real para economia ideal?

Sei sim. Economia real, quando se trata de esquerda, é aquela que tem inflação fora de controle, partidos populistas se perpetuando no poder por meio de compra de votos, grupos empresariais se beneficiando de esquemas com governo etc.
Economia real, quando temos um modelo mais liberal, é aquela que tira milhões da pobreza, que gera prosperidade e, sobretudo, com liberdade preservada.

Rodrigo, sem ideologias ...
Na economia real, o Estado TEM que intervir várias vezes para acertar os rumos, sendo que este rumo pode ser direitista, liberal ou esquerdista!
Você não pode ignorar a realidade, um exemplo básico, imagine uma hipotética economia liberal, a mais liberal do mundo(feita à sua escolha), onde uma seca destruiu toda a agricultura do país.
Se o Estado não intervier, os produtores de alimento vão falir e desistir do negócio de produção de alimentos e a partir deste momento todos, inclusive os economistas liberais, vão morrer de fome, mesmo que escrevam um monte de teses de pós-doutorado. Neste caso, o Estado garante o negócio dos agricultores para que as pessoas possam continuar vivendo bem em um ambiente liberal.
abç.
Jm

Curiosamente, os que alegam não ter ideologia sempre são os mais idelógicos de todos, e sempre em defesa de mais intervenção.
Por que vc acha que o mercado não faria hedge ou seguro? Por que vc acha que o burocrata interventor é mais clarividente que o empresário, ou melhor intencionado? Por que vc acha que as falhas de mercado são "curadas" pelo governo, sem levar em conta as enormes falhas de governo?
Safras quebram o tempo todo. Não, as pessoas não vão morrer de fome por isso. O capitalismo liberal tira as pessoas da fome. Quem as coloca lá é o intervencionismo. Vide URSS, Índia, China, Coreia do Norte, Camboja...

TODOS os governos (países) do mundo protegem a sua própria agricultura.
Posso concluir que todos são ideológicos e intervencionistas.
Está na hora do almoço. Hoje vou comer hedge com molho de seguro.
abç.

Sim, os que mais protegem menos eficiência têm.
Protegem os PRODUTORES, não os consumidores. Lobby é coisa séria: concentra privilégios, dispersa custos. Nunca aprendeu isso?
Não quer dizer que é POSITIVO para a economia. O CAP ferrou a agricultura francesa. Excesso de proteção. Na Nova Zelândia foi a mesma coisa. Só quando RETIRARAM o protecionismo excessivo, ela deslanchou.
Os fatos... esses ingratos!
Bom almoço.
Ah sim: cuidado com a indigestão! Eu não comeria um produto muito "protegido" pelo governo, pois é a garantia de má qualidade...

Rodrigo, a economia real só existe porque os estados atuam nela. Há a natureza humana, que desvirtuaria todos os principios da economia ideal, controlada pelo mercado. Só que o mercado é controlado por algumas pessoas, contáveis, então a economia liberal é controlada por essas pessoas. No mundo real existe uma escolha que deve ser feita, ou a economia é controlada por uns poucos (pode ser a minha preferência, desde que eu seja um desses poucos) ou é controlada por um ente que representaria todos. Mas sempre é imperfeito. Não existe a perfeição que você apregoa, você conhece muitos exemplos dos desastres que um mercado financeiro liberal desregulado pode fazer na economia.
Reconheço que estas idéias são boas para escrever artigos, sem qualquer preocupação ou responsabilidade com os fatos.
O almoço foi bom.

E os políticos e burocratas são de Marte, por acaso?
Não obstante o profundo desconhecimento sobre o funcionamento do mercado, resta perguntar: para onde foi aquela falta de ideologia mesmo? hehe
Como os socialistas se entregam rápido...
Onde eu preguei perfeição mesmo? Não lembro... Ah, vc aponta falhas de mercado e prega uma solução mágica por políticos, mas EU é que apontei alguma perfeição? Não passa pela sua cabeça que tal intervenção costuma PIORAR as falhas?
Quer falar da crise de 2008? Sério? Se vc estudar, verá que não foi culpa do livre mercado, mas sim do excesso de intervenção... estatal. A começar pela pressão da Casa Branca para que Fannie e Freddie emprestassem para gente de classe baixa que não podia pagar, e pela taxa de juros artificialmente baixa do Fed (BC). Soa familiar ao Brasil de hoje? Pois é...

Rodrigo, não sou esquerdista, aliás acho estes conceitos antigos, mas se voce divide o mundo em esquerdistas e direitistas, me coloco no segundo grupo (haaarggg!).
Sei que está difícil me fazer entender, vou tentar novamente: Todo sistema econômico é imperfeito e o sistema da economia totalmente livre é o mais imperfeito de todos. Depois de pouco tempo, os pobres ficarão mais pobres e os ricos também ficarão mais pobres, exceto umas poucas pessoas que controlarão o mundo.
Ou você concorda com isso ou ainda não percebeu isso.

Tenho uma tática infalível: quem diz que esquerda e direita são conceitos do passado é de esquerda! Não falha nunca.
É mesmo? E quais casos vc tem para mostrar? Pois o que EU tenho para mostrar é o Índice de Liberdade Econômica, tanto do Fraser Institute como do The Heritage Foundation, mostrando que quanto mais livre for a economia do país, mais prosperidade há. E isso, diga-se de passagem, é altamente embasado pela boa teoria econômica (e da natureza humana).
Veja que coisa: a maior renda per capita no Brasil intervencionista é... de Brasília! É que a turma que vai nos proteger dos capitalistas malvados gosta de acumular poder e recursos, cobrando um "pequeno" pedágio para tanto altruísmo.
Mas vc deve morrer de medo de Gates, Dell, do falecido Jobs e do Buffett. Ainda bem que a Venezuela tem o Maduro para protegê-los desses capitalistas malvados...
Passar bem, câmbio final, desligo.
PS: Só dediquei esse tempo todo a rebater suas falácias pois conheço seu estilo de longe, sei quando estou diante de um esquerdista que finge ser moderado e ataca os pilares do liberalismo com ironias de quinta e clichês ridículos, e agora já posso postar no meu blog, para efeito pedagógico, nossa troca de mensagens.




Visão da Semana - Teórica


Visão semanal da Teórica Investimentos, que agora estará disponibilizada no meu blog toda semana.

Visão da Semana (de 8 de abril a 15 de abril).

O pano de fundo do cenário de investimento global segue de desalavancagem dos excessos cometidos nas ultimas décadas. Algumas regiões/governos estão fazendo o dever de casa e arrumando a casa para, assim, poder entrar num novo período do ciclo de crescimento sustentado de longo prazo. Essa arrumação passa por reformas internas, que, com frequência, geram descontentamento e desaceleração econômica de curto prazo. Outros governos, no entanto, preferem parcelar os ajustes para não pagar a conta sozinho dos custos de curto prazo. Porém, suas economias tendem a atravessar período muito mais longo tendo que digerir os excessos e, por isso, demoram a estar aptas para entrar num novo ciclo de crescimento sustentado. Resumindo, existe um caminho, aparentemente mais penoso no curto prazo, onde o ajuste é feito e a economia passa por uma desaceleração rápida, mas no longo prazo o organismo econômico resurge mais capacitado e revigorado para um novo ciclo de crescimento num novo ambiente socioeconômico. No outro caminho, o ajuste é dividido por algumas gerações e vários governos, assim a economia não paga os custos pelos excessos todos de uma só vez, não atravessando, assim, uma rápida desaceleração. O ajuste é parcelado, com o custo de um crescimento baixo e inflação mais alta por um longo período.               

Atualmente temos três blocos distintos dentro da economia mundial executando receituários de ajustes diferentes. Estados Unidos foi pelo caminho de fazer o ajuste parcelado, deixando parte da dívida para as próximas gerações. A Europa, liderado nessa escolha pela Alemanha, preferiu pagar à vista, arcando com o pesado custo político das reformas, com desemprego elevado e recessão. E a China, aparentemente, vai pelo meio do caminho, fazendo algumas das reformas necessárias, mas não todas, passando por alguma desaceleração econômica no curto prazo.

Indo para os dados recentes, na China, o PIB do 1º trimestre desacelerou de 7.8% ano/ano para 7.7%, abaixo do esperado pelo mercado de 8.0% ano/ano. O crescimento da produção industrial de março foi de 8.9% ano/ano, também abaixo das expectativas de 10% ano/ano. Por outro lado, as vendas no varejo ficaram dentro das expectativas em 12.4% ano/ano. A série de dados confirma um quadro de desaceleração da economia chinesa, porém com um qualitativo de crescimento mais saudável. De alguma maneira, o ajuste está sendo feito e o perfil de crescimento está sendo mais equilibrado, com maior peso do consumo doméstico e menor de investimento. Nos Estado Unidos, os dados econômicos também decepcionaram, com vendas no varejo e confiança do consumidor abaixo do esperado.   

No mercado doméstico, mais uma semana de péssima coordenação das expectativas e de decisões de qualidade questionável da área econômica. Temos a visão que o governo e o Banco Central estão atrapalhando e criando dificuldades para o bom funcionamento da economia brasileira. Os fundamentos já não são mais tão sólidos quanto foram no passado, mas acreditamos que, de alguma maneira, a economia brasileira poderia estar melhor se o BC e o governo não atrapalhassem tanto. Tais instituições precisam voltar o foco da atuação para o fortalecimento do ambiente de investimento de longo prazo e parar de visar somente resultados de curto prazo. O momento global de taxas de juros baixas deveria estar sendo aproveitado de maneira muito mais forte, atraindo investimentos de longo prazo e capital para o mercado acionário.  

Seguimos acreditando que o ativismo excessivo dos governos e bancos centrais atrapalham o processo natural de cicatrização e de desenvolvimento das economias. O papel dos bancos centrais injetando liquidez tem um beneficio de evitar um congelamento do sistema ou a ruína rápida de um banco, mas não tem a capacidade de criar crescimento econômico. Tanto a economia brasileira quanto a mundial seguem processo de ajustes. No caso brasileiro, uma menor atuação traria benefícios imediatos. Na economia global, uma gradual retirada dos estímulos e ajustes fiscais com atento acompanhamento das autoridades também seria positivo no longo prazo.    

sexta-feira, abril 12, 2013

Pela redução da maioridade


Rodrigo Constantino, para o Instituto Liberal

O tema da maioridade penal voltou ao debate com mais um crime cruel perpetrado por um jovem de 17 anos, que matou a vítima, outro jovem, mesmo sem tentativa de reação. O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, assumiu a postura que defende endurecer as penas previstas no ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente). A mesma esquerda de sempre reage.

Quais são os seus argumentos? O comentarista Kennedy Alencar, na rádio CBN, expôs hoje um resumo do que eles pensam. Kennedy enxerga os bandidos como “vítimas da pobreza”, e acredita que a principal função da punição é “ressocializar” esses marginais. Por isso devemos ter cuidado com o “oportunismo” gerado no “calor das emoções”. Ele está satisfeito com o ECA e não quer reduzir a maioridade penal (que é muito menor nos principais países desenvolvidos).

Segundo sua lógica, tal redução faria apenas com que os bandidos aliciassem pessoas cada vez mais jovens, de 14 ou 15 anos. Brilhante! Logo, posso concluir que Kennedy seria favorável até mesmo ao aumento da maioridade, para 21 ou quiçá 25 anos. Afinal, isso iria “proteger” os jovens, pela ótica dele. Como as prisões são “pós-graduação” no crime, mandá-los para lá só piora as coisas. Viva a impunidade!

O “calor das emoções”, no fundo, já passou para vários outros crimes semelhantes, e os familiares das vítimas continuam aguardando punição mais severa para os cruéis e frios assassinos de seus parentes. Ao tratar marmanjos assassinos de 17 anos como seres inimputáveis ou vítimas da sociedade, a esquerda acaba estimulando a criminalidade.

Curiosamente, a mesma esquerda pensa que tais “crianças” se tornam “adultos responsáveis” na hora das eleições, permitindo o voto a partir de 16 anos. É mais fácil vender utopia socialista para a garotada. Portanto, votar aos 16 anos pode; ir para a cadeia por estourar os miolos de um rapaz inocente, não!


quarta-feira, abril 10, 2013

A entrevista daquele que já deveria estar preso

Rodrigo Constantino

José Dirceu, o "chefe de quadrilha" julgado e condenado e que já deveria estar preso, deu uma entrevista para a Folha, como muitos sabem. Nela, ele acusa (novamente) o ministro Fux de ter garantido que lhe absolveria no processo do mensalão. Como Dirceu é esperto, mas não é burro, ele disse que isso NÃO influenciou na escolha de Fux pela presidente Dilma. Seria escandaloso demais. 

E é! É um absurdo! Coisa de república de banana! Ora, se a suposta promessa de Fux não teve peso na escolha, então por que Dirceu traz isso à tona? Ou ele falava da boca para fora com um "zé ninguém" sem influência na escolha, ou Dirceu está confessando que a presidente Dilma apontou um ministro porque ele ofereceu em troca a sua absolvição. E tudo para avacalhar o julgamento do STF. 

Nós, que tampouco somos burros, sabemos a versão verdadeira. E isso apenas comprova que lugar de petralha mensaleiro é na cadeia, pois eles tentaram (e ainda tentam) destruir as principais instituições republicanas desse Brasil. Se Fux fez mesmo essa promessa, só podemos celebrar sua traição. E que a presidente Dilma não escolha mais um ministro com base em tais critérios, digamos, cubanos.

Quanto a Dirceu não se considerar culpado, mas sim um "perseguido político", isso já valia para a época em que ele sonhava em adotar uma ditadura nos moldes cubanos por aqui, na década de 60, achando (uma vez mais) que seus "nobres" fins justificavam os mais nefastos meios. Não tem jeito: pessoas com tal mentalidade e dispostas a partir para a ação merecem o único lugar adequado como destino: o xilindró. 

Aliás, o que as autoridades estão esperando para encaminhar de uma vez esse réu julgado e condenado ao lugar que ele merece? 

sexta-feira, abril 05, 2013

Sua reputação não lhe pertence


Rodrigo Constantino, para o Instituto Liberal

Sexta-feira, dia de buscar notícias boas para esse comentário. Eu poderia falar da entrevista do ministro Guido Mantega na Globo News, com Miriam Leitão, mas isso seria depressivo demais. Vimos um ministro com voz embargada, na defensiva, mentindo descaradamente, jogando a culpa de seus fracassos para bodes expiatórios, e negando os problemas existentes na economia. Não! Vamos falar de coisa boa!

O Congresso aprovou, finalmente, a lei que permite biografias não autorizadas no Brasil. Ainda falta tramitar pelo Senado e ser sancionada, mas é um ótimo começo. É absolutamente ridículo vetar o direito do escritor de escrever sobre alguma figura pública sem a sua autorização. Até porque biografia autorizada não é biografia; é propaganda. Biografia que se preza é sempre não autorizada, para ser o mais imparcial possível.

Nelson Motta escreveu em sua coluna de hoje no jornal O Globo sobre o assunto, relatando que já sofreu na pele com essa lei absurda. Como ele diz, seguindo essa lógica tosca, “não teríamos biografias nem de Hitler, bastaria seus herdeiros reivindicarem seus direitos no Fórum do Rio de Janeiro”.

Como disse Walter Block em seu provocativo e excelente livro Defendendo o Indefensável: “É fácil ser um defensor da liberdade de expressão quando isso se aplica aos direitos daqueles com quem estamos de acordo”. As pessoas, especialmente aquelas que são figuras públicas, precisam entender que seus atos lhes pertencem, mas não a opinião que os outros têm desses atos. A nossa reputação pertence aos demais, ao público.

Aquilo que for difamatório e mentiroso deve ser julgado, punido se for o caso, e suspenso. O ônus da prova cabe a quem acusa. Mas para isso já existem leis. O que é absurdo é proibir alguém de emitir opiniões ou relatar fatos comprovados sobre pessoas famosas. Isso é patético.

Viviane Mosé, no programa “Liberdade de Expressão” da CBN, defendeu a lei atual, pois cada um deveria ter o direito de contar sua própria história. Falso! Cada um que conte a sua versão, mas que outros gozem da mesma liberdade. A fama é uma faca de dois gumes. Não dá para ter apenas o bônus. Entrou na chuva é para se molhar.

Temos o direito de ler opiniões críticas e relatos não autorizados sobre a vida das celebridades, dos políticos, das pessoas famosas. Nos Estados Unidos isso é a coisa mais comum do mundo. Celebremos esse avanço, que já vem muito tarde, aqui no Brasil. Quem não deve, não teme.

Para finalizar, cito Thomas Sowell: “Você não pode impedir que as pessoas digam coisas ruins sobre você; tudo que você pode fazer é transformá-los em mentirosos”. Não é mesmo, Luis Nassif? Não é verdade, Paulo Henrique Amorim?

A cara de pau de Nassif

Rodrigo Constantino

Meu artigo de ontem no GLOBO realmente incomodou muita gente. E isso é ótimo sinal! Afinal, incomodou as pessoas que menos respeito merecem, pois são defensoras, por ideologia ou bolso, do que há de pior na política nacional: a ala podre do PT (talvez o certo seria falar em ala mais podre, pois desconheço ala decente ali). 

Uma dessas pessoas foi Luis Nassif. Ele escreveu um comentário onde sobram ofensas pessoais, mas faltam argumentos. Aliás, como de praxe na esquerda jurássica. Alguns acham que não vale a pena rebater gente como o Nassif, pois sua "opinião" seria diretamente atrelada ao interesse de quem paga sua conta. Pode ser. Mas acho que vale, sim, mostrar o modus operandi dessa turma. Afinal, a turma está no poder!

Nassif começa tentando manchar a imprensa pela escolha do meu nome como um dos tantos colunistas. Ele diz: "Por mais que tente, não consigo atinar com a lógica da partidarização da imprensa e os critérios de escolha de seus legionários". Como se ele não tivesse partido, e como se ninguém soubesse qual é! E como se os critérios de escolha fossem únicos e partidários...

Resta Nassif explicar, então, porque no mesmo jornal O Globo escrevem liberais como Paulo Guedes e eu próprio, e socialistas declarados como Verissimo, fora tantos outros colunistas ou convidados com forte viés de esquerda. A acusação de "partidarismo", como se vê, vem à tona apenas quando um dos lados se manifesta com firmeza, de forma direta: o lado liberal. Ser partidário do PT pode, segundo Nassif. Haja cara-de-pau!

Em seguida, Nassif parece sentir saudades de um tempo em que a inteligência estava com a esquerda. Sério? Quando foi isso? Ele diz: nos anos 70 e 80. Ou seja, quando muitos ainda defendiam o nefasto regime socialista, aquele que ceifou a vida de 100 milhões de inocentes, e espalhou muita miséria e escravidão pelo planeta. Se isso é inteligência, eu nem quero saber o que é burrice! Talvez pensar que não há gente inteligente no público para detectar as próprias burrices, não é mesmo?

Depois, Nassif tenta me desqualificar como ícone do liberalismo, citando nomes como os de Roberto Campos, Paulo Guedes e Eduardo Giannetti da Fonseca. Ora bolas, são todos admirados e respeitados por mim, mas não por eles, os petralhas! Roberto Campos era chamado de "Bob Fields" pela canalha, e era alvo de ataques virulentos, os mesmos que fazem direcionados a mim agora (aliás, não parem, pois vejo a gritaria da corja como combustível para minha batalha por mais liberdade).

À frente, Nassif acusa os liberais de anticomunistas caricatos, e de beligerantes, citando Serra como exemplo. Oh God! Entenderam? Beligerantes não são os petistas que Nassif puxa o saco. Imagina! Sabem aqueles discursos verborrágicos e raivosos do Lula, que tenta segregar o povo, dividir para conquistar? Nada beligerante. Agressivos são os liberais! E de uma vez por todas, Nassif e demais petralhas, parem de incluir José Serra no rol dos liberais! Ele não é, nunca foi, e pelo visto jamais será um de nós. Ele é um esquerdista de alma e corpo. Pergunte a ele!

Em momento de auge da cara-de-pau, ainda tentando me desqualificar como porta-voz do liberalismo, Nassif diz: "Há inúmeras teses legitimadoras do liberalismo: o empreendedorismo, a governança no mercado de capitais, a liberdade individual, a iniciativa, o combate às burocracias". Sério mesmo? E Nassif não sabe que essas são bandeiras que eu defendo, contra justamente os petistas que ele defende? A quem você quer enganar? Esse discurso "legítimo" do liberalismo, segundo você mesmo, é execrado pelos seus "patrões". Menos, Nassif...

Por fim, teve gente acusando o artigo de "homofóbico", por causa do parágrafo sobre a hipotética (ou seria profética?) Lei Jean Wyllys, que prenderia alguém por externar sua preferência por um filho heterossexual. Os que pensam assim ignoram que passaram recibo, que concordam que é "homofobia" simplesmente preferir um filho hetero. Viram só como estou no caminho certo em minha distopia? 

Se depender dessa gente, amanhã será crime você não ser indiferente quanto à escolha sexual de seu filho. Não é mais preciso odiar, desrespeitar, agredir um gay para ser homofóbico. Para ser "homofóbico", você precisa apenas pensar e dizer que não é indiferente ao fato de o filho ser macho ou gay. Quando vemos isso, conseguimos expressar até mesmo um pinguinho de simpatia pelo pastor Feliciano, não é mesmo? Olha o que gente como o Nassif consegue fazer comigo!!!

terça-feira, abril 02, 2013

De volta do futuro


Rodrigo Constantino, O GLOBO

O ano é 2030. Cheguei aqui com minha DeLorean, na esperança de encontrar um país mais próspero e livre. Qual não foi minha surpresa quando dei logo de cara com uma enorme estátua de Lula!
Curioso, perguntei a um transeunte do que se tratava. Um tanto incrédulo com minha ignorância, o rapaz explicou que era a homenagem ao São Lula, ex-presidente e “pai dos pobres”. Havia uma estátua dessas em cada cidade grande do país. Afinal, tínhamos a obrigação de celebrar os 150 milhões de brasileiros incluídos no Bolsa Família.
Após o susto inicial, eu quis saber quem pagava por tanta esmola, e se isso não gerava uma nefasta dependência do Estado. O rapaz parece não ter compreendido minha pergunta. Disse que estava com pressa para entrar na fila do pão, e que seu cartão de racionamento ainda dava direito a uns bons cem gramas.
Em seguida, vi na televisão de uma loja um rosto conhecido, ainda que envelhecido. Era o ministro Guido Mantega! E pelo visto ele ainda era o ministro. Ele estava explicando o motivo pelo qual sua previsão de crescimento de 5% não se concretizou. A queda de 3% do PIB havia sido culpa da crise em Madagascar. Mas tudo iria melhorar no próximo ano.
Notei então o preço do aparelho de TV: 100 mil bolívares. Assustado, perguntei ao vendedor do que se tratava, explicando que eu era de fora. O homem disse que, em 2022, após a inflação chegar em 20% ao mês, o governo cortou três zeros da moeda. Pensei logo no bigodudo. Como isso não funcionou, o governo decidiu adotar o bolívar, moeda comum do Mercosul.
Descobri que os países “bolivarianos” chegaram a adotar o escambo, depois que suas respectivas moedas perderam quase todo o valor frente ao dólar. A moeda comum foi uma medida urgente, pois estava difícil efetuar as trocas. O criador de gado argentino precisava encontrar um produtor de soja brasileiro disposto a trocar o mesmo valor de gado por soja. Era um caos!
Levantei ainda alguns dados no jornal “Granma Brasil” (parece que o “controle democrático” da imprensa havia finalmente passado, e o governo se tornou o dono do único jornal no país). A inflação oficial era de “apenas” 30%, mas todos sabiam nas ruas que ela era ao menos o triplo disso. Um centenário Delfim Netto desqualificava os críticos do Banco Central como “ortodoxos fanáticos”.
Não havia mais miserável no Brasil, pois a linha de pobreza era calculada com base no mesmo valor nominal de 2010. Mas havia mendigos para todo lado. Um desses mendigos me pareceu familiar. Eu poderia jurar que era o Mr. X! Mas não poderia ser. Afinal, ele era um dos homens mais ricos do país, e tinha ótimo relacionamento com o governo. O BNDES era um grande parceiro seu.
Foi quando decidi ver que fim tinha levado o banco estatal. Soube que, após o décimo aumento de capital na Petrobras (que agora importava toda a gasolina vendida), e vários calotes dos “campeões nacionais”, o BNDES tinha se unido ao Banco do Brasil e à Caixa, esta falida nos escombros do Minha Casa Minha Vida, para formar o Banco do Povo. O símbolo era uma estrela vermelha.
O Tesouro já tinha injetado mais de US$ 2 trilhões no banco, para tampar os rombos criados na época da farra creditícia. Especialistas gregos foram chamados para prestar consultoria.
Com fome, procurei um restaurante. Todos eram muito parecidos, e tinham a mesma estrela vermelha na entrada. Soube então que era o resultado de um decreto do governo Mercadante em 2018. Em nome da igualdade, todos os restaurantes teriam que fornecer o mesmo cardápio pelo mesmo preço. Frango era item de luxo, e custava muito caro. Continuei faminto.
Veio em minha direção uma multidão de mulheres desesperadas protestando. Quis saber o que era aquilo, e me explicaram que, em 2014, quase todas as empregadas domésticas perderam seus empregos por causa de mudanças nas leis. Havia ficado proibitivo contratá-las. Desde então, elas vagam pelas ruas protestando e mendigando, sem oportunidades de emprego. “O inferno está cheio de boas intenções”, pensei.
Um rebuliço começou perto de mim, e uma tropa de choque surgiu do nada e arrastou um sujeito até a cadeia. Descobri que ele foi acusado de homofobia e enquadrado na Lei Jean Willys, pegando 10 anos de prisão por ter dito abertamente que preferia um filho heterossexual a um filho gay. A pena foi acrescida de 2 anos pelo uso do termo gay, em vez de “homoafetivo”.
Desesperado com tudo, eu ajustei minha máquina de volta para 2013, decidido a fazer o que estivesse ao meu limitado alcance para impedir um futuro tão maldito do meu país.

segunda-feira, abril 01, 2013

A Maré


Carta mensal da MP Advisors 

"O dinheiro compra até o amor verdadeiro."
Nelson Rodrigues

Não creio que os atuais presidentes dos bancos centrais dos Estados Unidos, Europa e Japão conheçam a obra de Nelson Rodrigues, eles porém concordam e usam a frase à exaustão. Até porque esse dinheiro não é deles e é muito fácil de imprimir.  Como diria Ben Bernanke, além de amor verdadeiro, o dinheiro compra também inflação de ativos.

Nesta carta mensal iremos falar um pouco lá de fora, afinal países periféricos como o Brasil nada mais são do que barquinhos que sobem e descem de acordo com a maré, representada pelos grandes blocos econômicos.  De vez em quando, nosso barquinho é acometido da síndrome de Netuno, que segundo a mitologia acalma e enfurece oceanos, mas logo depois o enfermeiro traz o seu remédio e ele se acalma.

Os dados estão aí: no governo FHC os preços das commodities caíram; no governo Lula subiram 180% e no governo Dilma já caem 15%. Analisando-se o desempenho da economia nacional nestes três governos, entendemos que parte não desprezível do crescimento (ou da falta do mesmo) advém justamente do que acontece no resto do mundo, a famosa maré.  Mesmo que recentemente a estagflação brasileira seja resultado das escolhas de Dilma, ainda assim vale olharmos como andam as coisas pelo mundo.

Em sua última reunião, o Federal Reserve manteve as taxas de juros perto de zero e nos informou que continuará a inundar o mercado de dinheiro, comprando USD 40 bilhões por mês de papéis hipotecários e USD 45 bilhões por mês de títulos governamentais mais longos.   Com isso, o FED irriga a economia (via mercado imobiliário) e mantém as taxas de juros de longo prazo artificialmente baixas.  Porém, Ben Bernanke e seus diretores avisam que o "open bar" tem data e hora para acabar.  Assim que a taxa de desemprego chegar em 6,5% (está em 7,7%) ou a inflação subir além de 2,5% (projeção de 1 ou 2 anos) eles irão começar o desmonte da festa.

Na Europa, as tensões financeiras que tinham acalmado desde o segundo semestre do ano passado, retornaram.  O Chipre, país pequeno e pouco importante, quebrou e teve de ser socorrido. Até aí nada demais se não fosse pela forma que isto está sendo conduzido.  Como contrapartida para uma ajuda de cerca de USD 10 bilhões, a ilhota deverá concordar em "taxar" os depósitos bancários acima de EUR 100 mil em algo como 30%.  É notório que o sistema bancário cipriota é uma máquina de lavar dinheiro ilegal, especialmente da Rússia, porém um confisco é sempre um confisco.  Fica complicado convencer um português, um espanhol, um grego ou um irlandês que ele deva deixar a sua poupança num banco local, após esse "plano collor" cipriota.   A população da zona do euro, criada na filosofia social-democrata,  não está vendo retorno para os ajustes fiscais e já começa a protestar na urnas.  A recente eleição italiana, onde um comediante (e um partido sem estrutura nenhuma) abocanhou 1/3 dos votos, é o maior reflexo disso. 










  


Na Ásia, o Japão cansou de apanhar sozinho na guerra cambial e entrou na farra da impressão de dinheiro. Com isso o yen caiu de 75 para 95 por dólar.  As exportações japonesas agradecem;  o movimento até demorou, tendo em vista que o ambiente era deflacionário desde a década de 90.  Porém sabemos que a guerra cambial, em termos de crescimento global, é um jogo de soma zero.  Agora foi a vez dos japoneses.  Na China, há o começo de um novo governo com metas claras e ambiciosas de crescimento estável em 7,5% ao ano e inflação não superior a 3,5%.  Tarefa particularmente complicada, pois a China está em fase de transição de crescimento via exportação (mão de obra muito barata) para crescimento via consumo interno.  Cabe ressaltar que a demografia chinesa está mudando muito rapidamente e isso terá impactos grandes no mundo.  A taxa de reposição chinesa é de 1,4 filhos por mulher,levando a um envelhecimento acelerado da população. Hoje há 116 milhões de pessoas entre 20 e 24 anos. Esse número deve cair para 94 milhões em 2020 e para apenas 67 milhões em 2030.  Enquanto isso, o time das pessoas acima de 60 anos já conta com 180 milhões, vai para 240 milhões em 2020 e 360 milhões em 2030.  Além do óbvio problema previdenciário, haverá cada vez menos jovens querendo ir para as fábricas, pelo menor número de jovens e por eles quererem fazer faculdade e não ir para uma linha de montagem.   

O modelo chinês, que tanto ajudou os emergentes produtores de commodities, está em franca transição e parece que isso  nem passa pela cabeça das nossas autoridades econômicas.  Aliás, a demografia é sempre vista como uma ciência de longo prazo, porém os efeitos já estão aí.  Parte do que a Europa/EUA vivem hoje (baixo crescimento, contas fiscais que não fecham) já é função de uma população declinante. A figura, no centro da página, ilustra essa desaceleração de longo prazo.

A baixa volatilidade que os ativos financeiros exibem já há quase um ano são um reflexo do fato que os blocos econômicos estão mais ou menos sincronizados em seu expansionismo monetário.  O bom senso indica que isso não deve durar, pois os EUA estão bem na frente do resto em todo processo.  Imaginem o que será um banco central americano recolhendo dinheiro enquanto os outros continuam na festa? Interessante não?  Por hora,  a festa sincronizada dos bancos centrais e a baixa volatilidade parecem continuar, mas não por muito tempo.  O fato é que o mundo está envelhecendo, as fontes de crescimento econômico estão se esgotando e a dívida de quase todo mundo está muito alta.  Como a conta fecha?  A resposta de médio e longo prazo é complicada, um pouco mais de inflação, um Chipre aqui e outro acolá, alguma revolução tecnológica?  Mente quem diz ter visibilidade nisso.

No curto prazo (até o fim deste semestre) a inflação global deve se manter comportada, e com isso a renda fixa (bonds) corporativa deve continuar atrativa (embora bem vulnerável ao fim da festa).  As ações de empresas americanas devem continuar a se valorizar, embora mais caras que seus pares europeus.  Falando em ações, a pobreza das ações brasileiras frente ao resto do mundo também deverá permanecer ( motivos aqui explicados anteriormente).  Gostamos particularmente (porém sempre selecionando) do setor imobiliário (fundos imobiliários e empresas do setor) nos Estados Unidos, que ainda oferece diversos ativos com boas chances de ganho.  Não vemos o ouro com valorização abrupta de curto prazo, porém achamos que as quedas devem ser aproveitadas para posições de médio e longo prazo contra a inflação global que tem boas chances de ocorrer.  Em resumo, a festa do dinheiro barato ainda deve demorar mais um pouco, mas o fim dela não deverá ser tranquilo não.