quarta-feira, janeiro 30, 2013

Privatize Já


João Luiz Mauad, Revista Banco de Ideias - Instituto Liberal

“A verdade, deplorável verdade, é que o gosto pelas funções públicas e o desejo de viver à custa dos impostos não são, entre nós, uma doença particular de um partido: é a grande e permanente enfermidade democrática de nossa sociedade civil e da centralização excessiva de nosso governo; esse é o mal secreto que corroeu todos os antigos poderes e corroerá igualmente todos os novos.”  (Alexis de Tocqueville – Lembranças de 1848; As jornadas Revolucionárias  em Paris)

Aos 36 anos, o proficiente economista Rodrigo Constantino acaba de lançar o seu sétimo livro e, não por acaso, mais uma obra cujo pano de fundo é a incansável defesa da liberdade.  “Privatize Já” -  Editora Leya, 2012, 399 páginas - é o resultado de uma extensa pesquisa sobre o tema das privatizações, não só no Brasil, como no mundo inteiro.  Embora repleto de dados empíricos que comprovam o sucesso das políticas privativistas, onde quer que elas tenham sido implementadas, o livro está longe de ser uma leitura monótona.  Pelo contrário:  dividido em 5 partes e 30 capítulos, o livro explica, de forma instigante, as vantagens da privatização e como a sua implementação, durante o Governo FHC, melhorou o Brasil e como ainda poderia melhorar muito mais, caso a ideologia estatizante, a mesma de que falava Tocqueville, já no Século XIX, possa ser derrubada.

“Privatize Já” é justamente um libelo contra essa ideologia estatizante que vem corroendo as entranhas da sociedade brasileira.  De acordo com o prórpio Constantino, “uma pesquisa de 2007 feita pelo Instituto Ipsos e encomendada pelo jornal O Estado de São Paulo mostrou que mais de 60% dos entrevistados são contra a privatização de serviços públicos”.  Além disso, mais da metade da população condenaria uma hipotética venda do Banco do Brasil, da Caixa Econômica ou da Petrobrás.  Tal ideologia majoritária é alimentada, segundo Constantino, por uma série de falácias, disseminadas de forma sistemática por aqueles que têm interesse na manutenção do “status quo”.

Editado no mesmo padrão bem sucedido em outros livros da Editora Leya, “Privatize Já” intercala capítulos longos com pequenas inserções que contam histórias interessantes sobre o tema.  Neste caso, Constantino utilizou de forma magistral as chamadas “páginas de fundo preto” para demonstrar como a propriedade privada é muito mais eficiente, não apenas em termos econômicos e sociais, mas até mesmo ecologicamente.  Nessas páginas, Constantino explica, por exemplo, porque as baleias correm sérios riscos de extinção, enquanto as vacas são imunes a eles.  Ou como a propriedade privada fez disparar o número de elefantes no Zimbábue, enquanto a propriedade pública os dizimava no Quênia.  Há ainda histórias impagáveis, como a do fabricante soviético que produzia somente um tamanho  de sapatos.

Constantino reserva a última parte do livro para denunciar aquilo que ele, muito apropriadamente, chama de “privataria petista”, ou a submissão do Estado aos interesses do partido no poder.  Essa “privataria” vai desde a profusão de cargos concedidos aos apadrinhados do partido em empresas estatais, passa pela chamada orgia das ONG’s, que de não governamentais só têm mesmo o nome, já que vivem basicamente do dinheiro público, normalmente destinado àquelas entidades cuja simbiose política e ideológica com o partido é latente, passa também pela concessão de volumosas verbas publicitárias para empresas de mídia “chapas-brancas”, até chegar ao loteamento das agências reguladoras, transformadas em verdadeiros balcões de negócios.  Sem esquecer, é claro, do mecanismo facistóide de troca de favores com o empresariado bem comportado, que tem no BNDES seu braço mais importante.

Enfim, como muito bem resumiu Constantino, “está na hora ... de debater o tema da privatização sem deixar as paixões cegarem a razão.  O estado pode ter um importante papel como regulador, mas inevitavelmente fracassa como empresário.  Não se trata de má sorte, e sim da sua própria natureza.  Se cada um souber o seu lugar adequado, então nós, brasileiros, só teremos a ganhar com isso”.

terça-feira, janeiro 29, 2013

Santa Maria e a Guerra do Vietnã


Milton Pires

Em 1967 a Guerra do Vietnam envolvia um contingente cada vez maior de soldados americanos. A necessidade de atendimento aos feridos graves, entre eles as vítimas de queimadura e intoxicação, demandavam recursos materiais e humanos cada vez mais complexos. Os EUA construíram, na cidade litorânea de Da Nang, um hospital militar com o objetivo de atender suas tropas. Nesta época não existia propriamente a especialidade hoje conhecida como Terapia Intensiva. Foi com espanto que os médicos militares começaram a atender um número cada vez maior de pacientes vítimas de intoxicação em função do chamado “agente laranja” e outras substâncias químicas utilizadas para desfolhamento de florestas e localização dos esconderijos inimigos. As pessoas apresentavam como quadro clínico uma síndrome que envolvia, entre outros sinais e sintomas, acúmulo de líquidos nos pulmões e diminuição da capacidade de oxigenação do sangue.
Essa nova doença ficou conhecida como “Pulmão de Da Nang” e hoje, nós intensivistas, a chamamos de SARA – Síndrome de Angústia Respiratória do Adulto.
Fiz esta breve introdução para dizer que é isto que pode acontecer com os sobreviventes do incêndio de Santa Maria. Mais; gostaria que ficasse muito claro a todos que este tipo de “coisa” não pode ser atendido (numa situação que envolve um número de pacientes tão grandes) com segurança em nenhuma capital brasileira. Isto ocorre porque simplesmente não há unidades de terapia intensiva em número suficiente nem respiradores artificiais para atender tanta gente.
Em meio a tanto desespero não há um só político ou autoridade da saúde com honestidade suficiente para dizer aquilo que escrevi acima. Há pelo menos quatro décadas assistimos gerações e mais gerações de secretários e ministros da saúde insistindo na ideia de medicina comunitária e prevenção. Pois bem, pergunto agora: o que nós, médicos intensivistas, devemos fazer com as pessoas que sobreviveram ao incêndio de Santa Maria? Encaminhá-las para postos de saúde? Não se constrói um hospital público em Porto Alegre desde 1970! Pelo contrário; vários foram à falência e fecharam!
Que o Brasil inteiro saiba que é MENTIRA a afirmação das autoridades de que Porto Alegre tem leitos de UTI suficientes para atender toda essa gente! A secretaria estadual da saúde pode, se necessário, comprar leitos na rede privada mas mesmo assim é muita sorte haver algum disponível. Com relação aos responsáveis por esta tragédia, deixo aqui a minha opinião – foi o poder público corrupto, negligente e incompetente, quem MATOU todos estes jovens!
É esse tipo de gente que quer entupir o  o Brasil com médicos de Cuba e do Paraguai, que manda médicos para o Haiti e que insiste em saúde “comunitária”, que agora aparece na televisão chorando e abraçando os pais das pessoas que morreram.
Termino aqui; como em toda situação de guerra, a primeira vítima de Santa Maria, assim como em Da Nang, foi a verdade – jamais esqueçam isto !

Milton Pires
Médico Intensivista
Porto Alegre – RS.

domingo, janeiro 27, 2013

Para além do belo e do feio - A morte da arte no Brasil

Milton Simon Pires

Uma das frases que mais  encanta  os brasileiros é “gosto não se discute”. Parece que toda vez que alguém a pronuncia faz na verdade uma profissão de fé. Demonstra, não importa como, que se diferencia de uma verdadeira “legião de fanáticos”: pessoas retrógradas e de “direita” que  sustentam que a música, a pintura, o cinema e a  literatura (só para citar alguns exemplos) tem regras próprias cujo domínio exige por parte do artista uma atividade disciplinada e, em certo aspecto, racional. Proclama-se orgulhosamente que a chamada “inspiração” não tem regras, coisa que me faz recordar gente que, substituindo turismo por estudo, julga-se grande conhecedora de países estrangeiros. É cômico (para não dizer  triste) observar aqueles que,transformando ateliers  e estúdios de gravação em consultórios de psicanálise, misturam os conceitos de beleza e democracia de uma forma tão desonesta.

O objetivo deste pequeno texto é uma ligeira reflexão sob o conceito de beleza e da própria arte no Brasil dos dias de hoje. Antes de começar; algumas rápidas observações. Estética é um campo próprio da filosofia. Seu domínio está muito além da capacidade de alguém que aborda o assunto como amador porque encontrou na Medicina uma profissão e na Filosofia um hobby. Decorre daí a necessidade de um aviso – que ninguém perca tempo achando que vai aqui uma definição clara daquilo que é ou não é “arte verdadeira”. O enfoque é muito mais modesto. Trata-se de apresentar a confusão existente entre os conceitos de beleza e justiça e sustentar que, uma vez proprietária do discurso que diz o que é a verdade na História, uma “elite cultural” passou também a definir o que é ou não a verdadeira Arte. 

Foi na década de 1960 que isto ocorreu. Na filosofia imperava a desconstrução. Derrida, Deleuze, Foucault, entre outros questionando a própria linguagem, reduziram aquilo que havia de racional na comunicação a  uma simples manifestação de uma verdade maior – uma verdade simbólica incapaz de ser alcançada tanto pelo homem comum quanto pelo intelectual “não engajado”. Só era considerada arte aquela manifestação capaz de promover “transformação social”. Foi dessa linha de pensamento que surgiram as condições necessárias para que  Sabiá, em 1968 fosse vaiada por uma plateia que preferiu um hino maoísta, Para não dizer que não falei de Flores, como vencedor do Terceiro Festival Internacional da Canção. Esse foi, na minha opinião, um momento crucial na história da arte brasileira. Ao vaiar a obra-prima de Tom Jobim, o público brasileiro fazia uma profecia – dali em diante poderia se esperar de tudo: desde Valesca Popozuda até o Bonde do Tigrão abriu-se a lata de lixo da MPB. Ao mesmo tempo agonizavam o cinema, o teatro e as artes plásticas. A geração de 1968 conseguiu acabar com toda necessidade de recolhimento e do esforço de um verdadeiro artista quando pretende alcançar o belo e desde aquela época até hoje o que se assiste num país com a riqueza cultural do Brasil é um festival de obscenidades e uma mediocridade incrível que prima por chocar e agredir. 

Essa “nova geração”, sendo incapaz de saber o que o belo, define de forma magistral o que é o feio. Ex-prostitutas, assaltantes e traficantes lotam estádios inteiros com o charme de pertencerem “a comunidade”, “ao mundo real”, e de cantarem e atuarem “sem preconceitos” porque são “gente do povo” - como se isso fosse pré-requisito mínimo para “ser artista”. Cantam, não as ruas, mas o lixo delas nas grandes cidades porque fazem a apologia da maconha, do crack e da iniciação sexual precoce da mulher brasileira. 

Nossa literatura toda prima pela pornografia e desabafos de escritoras que fracassaram no casamento e na criação dos filhos. Nossos “grandes escritores” são uma vergonha num país que deu ao mundo gente como Machado de Assis, Érico Veríssimo e Mário Quintana, além de pensadores como Gilberto Freire ou Mário Ferreira dos Santos. Seu único dado de currículo é  literalmente terem sobrevivido  ao uso fanático de drogas e as tais “experiências místicas” dos anos 60.  Nossos artistas plásticos flertam com a esquizofrenia a ponto de, ao entrarmos em uma exposição, não sabermos o que é a “obra” e o que pertence a parte do ambiente onde não passou o serviço de limpeza. Na mesma linha, o cinema nacional leva as telas a vida de uma prostituta viciada em cocaína como alguém que “venceu na vida”. 

Tudo lixo...tudo mentira..e pior financiado por um Governo Federal corrupto que insiste em promover esse tipo de gente sempre, é claro, roubando tudo que pode,  inaugurando todo tipo de obra com cantoras nordestinas de minissaias tão curtas quanto suas ideias e bobalhões com cabelo moicano cheio de gel cantando com sotaque de Ribeirão Preto.

Encerro aqui meus amigos. Que vergonha ser brasileiro nessa hora! Nietzsche achava que deveríamos buscar uma vida além do bem e do mal. Ele jamais conseguiu e morreu louco por causa disso mas o Brasil alcançou algo impressionante – uma arte além do belo e do feio, uma imundície tão grande que não representa nada mais do que a morte da própria arte. 

Milton Pires é médico em Porto Alegre - RS

sexta-feira, janeiro 25, 2013

Tudo errado


Rodrigo Constantino, para o Instituto Liberal

As medidas adotadas pela presidente Dilma no setor elétrico estão todas erradas. Elas denotam a visão míope desse governo, que parece abraçar como poucos a máxima de Keynes: “No longo prazo estaremos todos mortos”. Um estadista, conforme sabia Churchill, preocupa-se com as próximas gerações, enquanto um populista só pensa nas próximas eleições. Dilma fez claramente sua escolha.

O desconto na conta de luz ignora os riscos que isso acarreta para o futuro do setor. Faltarão recursos para investimento em geração. A conta será paga pelas estatais, que desabaram na bolsa. Até o BNDES, sempre ele!, deve assumir parte da fatura, comprando crédito de recebível de Itaipu. É o futuro sendo hipotecado no afã de estimular um pouco mais a capenga economia no curto prazo.

A forma que a presidente escolheu para o anúncio das medidas comprova seu total viés eleitoreiro. Confundindo governo com nação e estado com partido, Dilma adotou um tom extremamente político em cadeia nacional de rádio e televisão, usando o governo para fazer campanha eleitoral. Ainda prometeu o que não tem como cumprir, uma vez que há sim risco de racionamento se não chover. E Dilma controla muitas coisas, mas não o clima.

A Fiesp pode celebrar, assim como alguns consumidores leigos em economia ou igualmente míopes. Mas aqueles com maior esclarecimento sabem que empurrar custos para frente pode ser como jogar uma bola de neve morro abaixo: o risco de avalanche não é nada desprezível.


terça-feira, janeiro 22, 2013

Uma sociedade adolescente


Rodrigo Constantino, O GLOBO

Em meu último artigo tratei do lado moral da crise que os países desenvolvidos enfrentam. Algumas pessoas podem estranhar o foco, pois sou economista. Gostaria de lembrar que Adam Smith, antes de escrever sobre a riqueza das nações, escreveu "Teoria dos Sentimentos Morais". Debater o crescimento de 1% ou 2% do PIB pode ter sua relevância; mas economia é muito mais que isso.
Eis porque retorno ao tema da crise de valores, desta vez priorizando o caso latino-americano. Se Japão, Estados Unidos e Europa passam por um declínio moral, parece que a América Latina, em especial o "eixo do mal" bolivariano, sequer experimentou uma fase de maturidade. Estamos estagnados na era do infantilismo.
É por isso que recomendo a leitura de "A sociedade que não quer crescer", do argentino Sergio Sinay. O livro disseca os perigos do fenômeno que podemos observar facilmente no Brasil também: adultos que se negam a ser adultos. São os "adultescentes".
Como a Argentina parece estar em estágio mais avançado da patologia, os alertas de Sinay tornam-se ainda mais importantes. A Argentina pode ser o Brasil amanhã, o que é uma visão assustadora. Não só porque a presidente exagera no botox, mas porque a volta ao passado populista se dá a passos largos.
O autor faz a ligação entre essa postura infantil de boa parte da população e a anomia em que vive seu país, cada vez mais bagunçado e autoritário. É o que acontece quando os adultos preferem agir como adolescentes, no afã de postergar ao máximo a velhice.
Maturidade exige renúncia, sacrifício, responsabilidade e compromisso. Tudo aquilo que muitos adultos modernos fogem como o diabo foge da cruz. Talvez para aplacar sua angústia existencial, esses adultos desejam permanecer jovens para sempre, e agem como tal. São colegas de seus filhos, e delegam a responsabilidade de educá-los a terceiros. Confundem seus caprichos com direitos. Nas palavras do autor:
"Uma sociedade empenhada em permanecer adolescente vive no imediatismo, na fugacidade, nas rebeliões arbitrárias que a nada conduzem, na confrontação com as regras – com qualquer regra, pelo simples fato de existirem – no risco absurdo e inconsciente, na fuga das responsabilidades, na ilusão de ideais tão imprevistos como insustentáveis, na absurda luta contra as leis da realidade que obstruem seus desejos volúveis e ilusórios, na rejeição ao compromisso e ao esforço fecundo, na busca do prazer imediato, ainda que se tenha que chegar a ele através de atalhos, na confusão intelectual, na criação e adoração de ídolos vaidosos colocados sobre pedestais sem alicerces".
Impossível não pensar em Chávez, Morales, Corrêa, Kirchner e Lula. Ou ainda nos artistas e atletas famosos que levam vidas altamente questionáveis do ponto de vista ético, mas ainda assim viram heróis nacionais. Eis o exemplo que Sinay usa do lado argentino:
"Uma sociedade é adolescente quando carece de critérios para distinguir entre as habilidades futebolísticas de seu maior ídolo esportivo, Diego Maradona, e suas condutas irresponsáveis, sua ética duvidosa, seus valores acomodatícios; quando acredita que aquelas habilidades justificam tais ‘desvalores’ e quando, assim como um adolescente, os vê como um tributo invejável".
Não podemos ridicularizar nossos "hermanos" nesse ponto. Basta pensar nos nossos próprios heróis. Para sair do futebol, que tal Oscar Niemeyer? Os brasileiros não souberam separar seu talento artístico do restante, e criaram a imagem de um grande humanista abnegado. Um humanista que, como já abordei nesse espaço, adorava o maior assassino de todos os tempos: Joseph Stalin.
Mas a simples constatação de que não se pode ser um grande humanista e um defensor de Stalin ou Fidel Castro ao mesmo tempo, bastou para gerar reações histéricas: "Quem você pensa que é para falar do grande mestre?"
O colunista Zuenir Ventura também reagiu: "Algumas críticas ideológicas a Oscar Niemeyer depois de morto revelam, de tão iradas, que no Brasil foi fácil acabar com o comunismo. O difícil é acabar com o anticomunismo". Resta perguntar: e devemos acabar com a oposição a esta utopia que trucidou dezenas de milhões de inocentes?
O comunismo foi o sonho adolescente de intelectuais que pariu o pesadelo real de milhões de pessoas. Combatê-lo é um dever moral. Hoje ele se adaptou, mudou, mas ainda sobrevive como "socialismo bolivariano", com que muitos brasileiros flertam.
Até quando vamos viver em uma sociedade adolescente, que se recusa a amadurecer e deposita no "papai" governo uma fé messiânica?

terça-feira, janeiro 15, 2013

Insanidade


Carta da MP Advisors (Dezembro, 2012)

"Insanidade é continuar fazendo sempre a mesma coisa e esperar resultados diferentes" 
Albert Einstein

Fim de ano é tempo de fechar o balanço do tempo que se encerra e planejar os movimentos para o ano que se abre. E isso se aplica também aos nossos investimentos.  Nesta carta, vamos dar uma atenção maior ao momento em que o Brasil vive e o que podemos esperar até o final do mandato Dilma, em especial para o próximo ano.

Primeiro, vamos começar definindo o que somos hoje para depois inferir para onde iremos. Hoje, somos um país que cresce pouco, cresce bem menos que outros países em desenvolvimento (em 2012 só não ficamos piores do que o Paraguai), com inflação persistente e maior do que de nossos pares.  Também somos um país não só corrupto, mas igualmente leniente com a corrupção.  Temos uma carga tributária europeia de 36% do PIB com serviços públicos de qualidade impublicável.  E o dramático é que não se pode culpar a "crise externa", já que estamos mal no absoluto e também no relativo (em termos de América Latina).  É claro que, quando comparamos os tempos atuais com, por exemplo, os anos "Sarney", estamos materialmente bem melhor, porém fica sempre aquela sensação de dois passos para frente e um passo para trás. Este é o ponto: quantas oportunidades perdidas estamos deixando para trás.

O crescimento baixo é algo que frustra a todos, começando pelo Ministro Mantega que começou 2012 bravateando um crescimento de mais de 4% e foi obrigado a comprar o seu peru de Natal murmurando um singelo 1% entre os dentes.  O que deu errado na estratégia do Governo?  Afinal, não faltaram medidas expansionistas como redução de impostos sobre o consumo e um corte jamais visto na taxa de juros real.  Se havia funcionado em 2009 porque não deu certo agora?  Há dois ou três suspeitos.  O primeiro é que a maioria já está de casa e garagem equipada e que há excesso de dívidas e juros a serem pagos.  O espaço livre nos orçamentos para novas prestações parece estar cada vez menor. O segundo, um item pouco observado, é o crescimento bem acima da inflação, nos últimos anos, dos gastos das empresas com mão-de-obra e aluguel resultando em menos dinheiro para investimentos. E o terceiro e último suspeito, mas não menos importante, a sanha intervencionista do governo que resolve se meter desde no fator de proteção solar dos bronzeadores até em quanto um operador do sistema elétrico deve ganhar.  A sensação é que diante de tantas mudanças (algumas parecidas com um cavalo-de-pau de 180 graus) o investidor grande e também o pequeno simplesmente pararam para ver onde tudo isso vai dar.

A economia não anda simplesmente porque meia dúzia de burocratas iluminados cria decretos em ritmo frenético. A economia é a soma das pequenas decisões de consumo e investimento de milhões e milhões de pessoas e empresas todos os dias.    Se estes agentes se sentem inseguros para colocar o seu suado dinheiro para trabalhar, eles simplesmente se retraem. E quem se sente seguro com regras que mudam todos os dias?

No que diz respeito à inflação, fechamos 2012 em 5,84% (e isso sangrando a Petrobrás para não aumentar o preço dos combustíveis), num ano no qual o PIB mal e mal saiu do lugar.  Imaginem a inflação num ambiente de crescimento como estaria?  Particularmente, achamos difícil que todo esse experimentalismo expansionista não se traduza em aumento dos preços na economia.  A título de curiosidade, a inflação pelo método antigo de cálculo teria estourado o teto de 6,5% em 2012.

Todo modelo calcado em dívida e consumo tem um limite, e parece que chegamos ao nosso.  O próprio governo aparenta ter esse entendimento  quando diz que se concentrará nos investimentos, ou seja, na expansão da
oferta.  Mas a insanidade (desespero) aparece quando eles soltam (no apagar das luzes de 2012) mais um pacote de estímulo ao consumo.  

Repetem as ações do passado esperando um resultado diferente no futuro.  Não tem como dar certo.  No que tange aos investimentos, divulgam novas
diretrizes para o setor elétrico que simplesmente quebram as empresas geradoras, dando como contrapartida uma renovação antecipada das concessões.  Ou é isso ou então perde-se a concessão que irá vencer.  Tudo de forma muito autoritária e sem o menor diálogo.  Caso tivesse 10 bilhões de dólares para investir, você assinaria o cheque neste ambiente?

Não se discute aqui o correto diagnóstico da necessidade de redução do custo Brasil, isso é tão claro quanto um dia de sol na praia.  O que se apresenta como "areia nas engrenagens" é a maneira de como a governanta (ou seria governante?) vem implementando as coisas.  Para 2013 a pergunta de ouro para a economia é como Dilma irá se comportar, como uma executiva pragmática que sabe corrigir os rumos errados, ou como uma dogmática e teimosa criatura dos anos 60?  Chile ou Argentina? São os dois caminhos que se apresentam diante de nós.

É neste cenário em deterioração (que pode ser revertido ainda) que falaremos agora das opções de investimento para 2013.

Na renda fixa podemos esperar um banco central que continuará dócil ao comando do governo central e, por isso mesmo, aumentos de taxas de juros não estão no radar.  Creio que é razoável trabalhar com o atual patamar de 7,25% para o ano.  O investidor tem sempre 03 opções na renda fixa, ficar pós-fixado, ficar pré-fixado ou ficar grudadinho nos ativos de inflação.  Na primeira (assumindo-se um IPCA de 6%) o juro real líquido é de apenas 0,15%. Na segunda opção os prêmios estão magros e somente em 2015 se verá algo projetando acima dos atuais 7,25% (mesmo assim 108% do CDI. se os juros não subirem até lá) e na última opção pode-se dizer que no caso das NTNB´s boa parte da gordura já foi consumida.  Para onde o investidor de renda fixa deve correr neste momento? 

A solução é alongar.  O almoço grátis de retorno com liquidez imediata acabou.  Hoje, há boas emissões de CRI´s com prazos médios dilatados, porém com juros reais (e isentos de IR) na casa de 4%-5% ao ano.  Neste ambiente, o papel do consultor financeiro é de suma importância, pois análise de crédito não é algo trivial. Outra opção cada vez mais popular são os fundos imobiliários. Trata-se de um produto relativamente novo no Brasil e que merece uma análise caso a caso.  Há bons e maus fundos imobiliários.  Conceitualmente falando, pode ser interessante sim pela isenção tributária e pelo potencial de proteção inflacionário, afinal trata-se de ativos reais.

Quando falamos de bolsa, é melhor usar o plural, afinal temos duas bolsas hoje no Brasil. Uma é a das empresas sob intervenção do governo, de pouca valorização e bem baratas (PL médio de apenas 9) e a outra é a das empresas que escapam (ainda) da sanha intervencionista do governo e por isso são caras (PL de 19) e valorizadas.  Continuamos crendo que com 500 empresas sendo negociadas em bolsa, o melhor é fazer uso de bons gestores especializados.  Entrar sozinho neste mar revolto é pedir para se afogar.

No universo vasto dos multimercados, cremos que 2013 não será tão viçoso quanto 2012, afinal a festança das NTNB´s já está perto do fim e a valorização da bolsa "sem intervenção" tem um limite.  O ano será desafiador e irá separar aqueles 10% que sempre se destacam do resto.

De um modo geral, 2013 será um ano decisivo em termos políticos, afinal mais um ano sem crescimento ( e talvez com desemprego em alta) esvaziará sobremaneira a candidatura Dilma e colocará novas cartas sobre a mesa. Tudo num ambiente externo ainda bastante desafiador. Sanidade, seletividade e sangue frio são as palavras para 2013!  

segunda-feira, janeiro 14, 2013

“Matamos e fomos comer jaca!”

Dr. José Nazar

“Matamos e fomos comer jaca”. Este foi o título da matéria de Wilton Junior, publicada no jornal A Tribuna, onde três adolescentes assassinaram uma criança de 11 anos idade – maltrataram o menino e depois o enterraram ainda vivo, ...“e fomos comer jaca”.

Esse é mais um drástico acontecimento que reforça, mais uma vez, a necessidade urgente de uma revisão da lei da maioridade penal. A virulência de um crime não pode ser medida a partir de uma idade cronológica.
Pelo teor do crime praticado, o cumprimento de uma pena em si, pode durar uma vida. A realização de um trabalho de ressocialização do autor do crime deve ser levado a sério no que diz respeito à gravidade de sua periculosidade.
Na Inglaterra, por exemplo, temos vários exemplos de crianças de 10 a 12 anos que sofreram penas de algumas décadas, por terem cometido assassinatos. Naquele país, a maioridade penal vale a partir dos 12 anos.
A realidade deve ser concebida como uma realidade. Se quisermos mudar alguma coisa em nosso país devemos deixar de lado os sentimentos e passarmos a lidar com crua realidade dos fatos. A estabilidade na vida será maior quando pais conseguirem adotar, verdadeiramente, os seus filhos.
Isso não é simples: filhos desejados, filhos não desejados. A sociedade, a partir das suas instituições competentes, deve adotar, como numa família, os menores que sinalizam, aqui ou ali, práticas desviantes. O bom trabalho de agentes públicos deve incluir o atrevimento de uma implicação que não se acomode nas regras dadas de antemão.
Uma intervenção somente promove mudanças significativas se ela mesma opera nas bordas e nos limites impostos pela ordem estabelecida.
Se a sociedade se isenta de sua responsabilidade pelos atos desviantes desses jovens estes, cada vez mais, serão colocados à margem do convívio pelo caminho da violência.
Insisto, a lei da maioridade penal, ainda vigente em nosso País, tornou-se uma lei perversa. Uma lei que não mais preconiza os limites necessários – o que legitima uma lei como lei é o seu caráter de necessidade –, estimula o jovem em violência a um desvio de seu itinerário, levando-o facilmente ao mundo da criminalidade.
Ministros, desembargadores, políticos, juízes, promotores, delegados, policiais, advogados, estudantes de Direito, famílias: onde estão que não se pronunciam? Nada dizem, nada fazem, tudo permanece como está! Vivemos uma vida emudecida.
As famílias vivem em seus isolamentos, voltadas a uma individualidade insensata, narcísica, sem caminhar rumo a uma conquista social.
Numa família os pais precisam punir seus filhos para que aceitem os limites da lei impostos a seus atos, o mesmo deve se repetir em sociedade quando jovens têm dificuldade em reconhecer que todo ato gera consequências que esbarram nos limites da mesma lei civilizatória.
Não se educa, não se ensina responsabilidade, isentando crianças e adolescentes das consequências de seus atos. Adolescentes que se tornam violentos, frequentando os territórios de uma marginalidade, carregam na cabeça a fantasia de que não foram desejados pelos pais, que teria sido melhor não tivessem nascidos, já que não encontram um lugar na sua própria existência.
Por isso mesmo, muitas vezes os cuidados vindos da sociedade não encontram uma resposta que corresponda aos investimentos amorosos. São sujeitos que carregam uma desesperança tão assustadora que a vida em si não tem valor.
O que dizer quando um filho torna-se a resposta impensada de uma gravidez inconsequente?
O que é fundamental é que tenha havido desejo na união de um homem e de uma mulher, para que possam ocupar a função de pai e de mãe.

José Nazar é psiquiatra e psicanalista.

Artigo publicado no jornal A Tribuna em 13/01/13.

sexta-feira, janeiro 11, 2013

Dança da Chuva


Rodrigo Constantino, para o Instituto Liberal

Acordei no meio da noite, suando em bicas. Tivera um pesadelo daqueles. Sonhei que os ministros Edison Lobão e Guido Mantega formavam com a presidente Dilma e a médium Adelaide Scritori, criadora da Fundação Cacique Cobra Coral, um quarteto que dançava de mãos dadas ao batuque de tambores, clamando aos céus para que São Pedro derramasse chuvas torrenciais. What a nightmare!

O governo Dilma consegue errar em todas as áreas. A economia já vive em estagflação, com crescimento pífio e inflação elevada, com risco de perda de controle pelo Banco Central. E mesmo sem crescer, o país corre o risco de viver um racionamento de energia novamente. Responsabilidade direta da má gestão da “gerentona”, que não conseguiu administrar uma loja de R$ 1,99, mas pensa ser capaz de tocar toda a complexa economia nacional lá de Brasília.

Todos os pilares construídos na era FHC estão sendo destruídos. O câmbio não é mais livre, a meta de inflação é para inglês ver, e o superávit fiscal só é obtido com a ajuda de David Copperfield. Muitos celebraram a “nova era” do PT no poder, ignorando que o maná vinha de fora, especialmente do crescimento chinês, e que a farra chegou ao fim. Essas pessoas ainda vão sentir saudades do tucano. Como no poema de Millôr:

Ontem
O mundo de amanhã seria novo
Hoje,
O mundo de amanhã já constatado
E antes
Que novos amanhãs despontem
Há muitos que só pedem
O mundo de anteontem.

quarta-feira, janeiro 09, 2013

Fim da linha em Paris


Rodrigo Constantino, revista VOTO

A França é um país com enorme riqueza cultural, mas que sempre alimentou idéias políticas e econômicas esquisitas. À exceção de pensadores brilhantes como Voltaire, Frederic Bastiat, Alexis de Tocqueville, Jean-François Revel, Raymond Aron, Guy Sorman e alguns outros, o fato é que quase todas as ideologias estatizantes possuem um DNA francês. O Estado é adorado por lá. Escrevi no capítulo “Décadence avec élégance” do meu livro “Privatize Já” (editora LeYa):

Se tem um importante país europeu onde a mentalidade estatólatra é predominante, esse país é a França. Desde os tempos de Luís XIV, a quem é atribuída a frase L’État c’est moi (o estado sou eu), a França é palco de regimes concentradores de poder e recursos no estado. O ministro de Luís XIV, Colbert, daria inclusive nome a esse modelo mercantilista controlador. Seu oposto, o laissez-faire, teria surgido como um grito de desespero dos empresários frente a essa asfixia causada pelo “colbertismo”.

Isso tudo me veio à mente nesses dias, quando o ator Gerárd Depardieu decidiu abrir mão de sua cidadania francesa e passou a ser um cidadão russo. Quando alguém prefere abandonar a “cidade das luzes” em troca da gélida Rússia sob o comando de Vladimir Putin é porque a coisa está realmente feia na França. E de fato está!

Muitos resolveram criticar não o governo francês e sua sede insaciável por recursos, mas o ator, acusado de antipatriotismo. Depardieu rebateu com uma carta aberta, alegando que trabalha desde cedo e que já pagou, segundo seus cálculos, quase US$ 200 milhões em tributos ao longo de sua vida. Realmente, se alguém acha pouco, é porque perdeu completamente o juízo.

O presidente socialista François Hollande venceu com uma plataforma populista de taxar mais ainda os ricos. Ao subir para 75% o imposto daqueles que ganham mais de um milhão de euros por ano, o governo francês está declarando que os ricos são escravos. Ninguém em sã consciência pode considerar razoável uma pessoa trabalhar três quartos do ano apenas para sustentar a máquina estatal.

Claro que muitos ricos possuem inúmeros privilégios e esquemas para burlar parte desse fardo absurdo. A França, nesse e em outros aspectos, parece-se muito com certo país tupiniquim da América do Sul. Subsídios estatais, brechas legais, favorecimentos de todo tipo, enfim, os grandes grupos aliados do “rei” conseguem sobreviver nesse capitalismo de compadres. Mas um ator, um esportista, um profissional liberal que ganha muito dinheiro nem sempre desfruta das mesmas regalias.

Com suas medidas cada vez mais socializantes, a França acabou criando uma casta de privilegiados e uma reduzida mobilidade social. As mesmas grandes empresas existem há décadas. Não há casos de empresas inovadoras que nascem em garagens e ficam gigantes. Não há casos de gigantes que vão à falência, como deveria ocorrer em um sistema capitalista de livre mercado. Os vencedores de antes se protegem com as muletas estatais da concorrência, engessando a economia.

John Bagot Glubb, em seu livro de 1978 “The Fate of Empires and the Search for Survival”, tenta definir um padrão comum de ascensão e declínio de impérios. Seus estudos apontam para os seguintes estágios: 1. Era da explosão com os pioneiros; 2. Era das conquistas; 3. Era do comércio; 4. Era da abundância; 5. Era do intelecto; 6. Era da decadência; 7. Era do declínio e colapso.

Outros pesquisadores, como Will Durant, chegaram a conclusões semelhantes: o próprio sucesso planta as sementes do fracasso. Após uma era da abundância, intelectuais começam a colocar em xeque os valores que permitiram tais conquistas, e vendem ilusões, utopias, sistemas abstratos desligados da realidade. Uma decadência moral toma conta do império, os heróis deixam de ser os empreendedores, e passam a ser artistas e intelectuais cujas vidas são exemplos de imoralidade. Os bárbaros vêm de dentro!

O Estado de bem-estar social é criado com os frutos das velhas conquistas, e prepara o terreno para os escombros a seguir. A França não está sozinha nessa trajetória. Mas ela pode ser vista como seu grande ícone. Os Estados Unidos vêm atrás, com mais tempo para desperdiçar, mas seguindo o mesmo caminho fadado ao fracasso.

Em crise existencial, a Europa pós-moderna, liderada pela França, possui estudantes de 30 anos e aposentados de 50 anos, e ainda se questiona por que o pequeno grupo de trabalhadores entre eles não consegue fazer as contas fecharem.

É triste ver a civilização ocidental, especialmente a França, representante de um incrível legado cultural, passar por isso. Mas estamos diante de uma profunda crise de valores, e enquanto estes não mudarem, o destino não parece nada promissor. A debandada de Gérard Depardieu é apenas um sintoma da doença. Se ela continuar sendo ignorada, a decadência será inevitável.

* * *

Esta é minha última coluna para a revista VOTO, após anos de colaboração. Não gostaria de me despedir do leitor de forma tão sombria, mas acredito que, ao deixar tal alerta, cumpro com minha obrigação moral de relatar o que enxergo, sem dourar a pílula. Tomara que eu esteja errado!       

terça-feira, janeiro 08, 2013

A crise é moral


Rodrigo Constantino, O GLOBO

            O Japão está em crise há décadas. A Europa está em grave crise. Os Estados Unidos cada vez se parecem mais com a Europa. Não seria exagero falar em uma grande crise das democracias modernas. O que pode explicar tal fenômeno?
            A esquerda vai apontar para os bodes expiatórios de sempre: o capitalismo, o liberalismo, o individualismo. E a esquerda vai errar o alvo, como sempre. Foi o capitalismo liberal com foco no indivíduo que tirou milhões da miséria e permitiu uma vida mais confortável a essa multidão. Quem está mais longe desse sistema, está em situação muito pior.
            O que explica as crises atuais então? Claro que um fenômeno complexo tem mais de uma causa. Mas eu arriscaria uma resposta por meio de um antigo provérbio conhecido: avô rico, filho nobre, neto pobre. Isso quer dizer, basicamente, que o próprio sucesso planta as sementes do fracasso, só que de outra geração.
            Somos os herdeiros de uma geração mimada, que colheu os frutos do árduo trabalho de seus pais, acostumados com vidas mais duras, com guerras, com diversas restrições. Essa geração, principalmente na década de 1960 e 70, pensou que bastava demandar, e todos os seus desejos seriam atendidos, sabe-se lá por quem.
            Acostumados com o conforto ocidental, essas pessoas passaram a crer que a opulência era o estado natural da humanidade, e não a miséria. Em vez de pesquisar as causas da riqueza das nações, como fez Adam Smith, eles acharam que bastava distribuir direitos e jogar a conta para o governo.
            O Estado se tornou, nas palavras de Bastiat, “a grande ficção pela qual todos tentam viver à custa de todos”. O conceito de escassez foi ignorado, e muitos passaram a acreditar na ilusão de que basta um decreto estatal para se obter crescimento e progresso. Vários olharam para esse deus da modernidade em busca de milagres.
            Foi assim que a impressão de moeda por bancos centrais passou a ser confundida com criação de riqueza. Ou que gastos públicos passaram a ser sinônimo de estímulo ao PIB, colocando o termo “austeridade” na lista dos inimigos mortais. O crédito sem lastro para consumo passou a ser visto como altamente desejável, e a poupança individual como algo prejudicial ao crescimento econômico.           
            Toda uma geração acreditou que era possível ter e comer o bolo ao mesmo tempo, esquecendo o alerta de Milton Friedman, de que não existe almoço grátis. Esmolas estatais foram distribuídas a vários grupos organizados, privilégios foram criados para várias “minorias” e o endividamento público explodiu.
O Estado de bem-estar social criou uma bomba relógio, mas ninguém quer pagar a fatura. Acredita-se que é possível jogá-la indefinidamente para frente. Os banqueiros centrais vão criar mais moeda ainda, os governos vão gastar mais e assumir novas dívidas, as famílias vão manter o patamar de consumo e tomar mais crédito, e todos serão felizes. E ai de quem alertar que isso não é possível: será um ultraconservador reacionário e radical.
A postura infantil se alastrou para outras áreas além da econômica. Os adultos agem como adolescentes e delegam ao governo a função de cuidar de seus filhos e de si próprios. O paternalismo estatal assume que indivíduos não são responsáveis, mas sim mentecaptos indefesos que necessitam de tutela.
Intelectuais de esquerda conseguiram convencer inúmeras pessoas de que elas não são responsáveis por suas vidas, e sim marionetes sob o controle de forças maiores e determinísticas. Roubou alguém? É vítima da sociedade desigual. É vagabundo? Culpa do sistema. Matou uma pessoa? A arma é a culpada, e a solução é desarmar os inocentes.
Notem que o mundo atual exime de responsabilidade o indivíduo de quase todas as atrocidades por ele cometidas. Sob a ditadura velada do politicamente correto, ninguém mais pode dar nome aos bois e colocar os pingos nos is. Os eufemismos são a regra, e a linguagem perdeu seu sentido. O criminoso vagabundo é a vítima, e sua vítima é o verdadeiro culpado: quem mandou ter mais bens?
Portanto, engana-se quem pensa que para sair dessa crise precisamos de mais do mesmo: mais crédito, mais dívida pública, mais gastos de governo, mais impostos sobre os ricos e mais impressão de moeda. Não! A receita proposta por Obama e companhia é o caminho da desgraça. Ela representa estender artificialmente a “dolce vita” dos filhos nobres (e mimados), como se o dia do pagamento nunca fosse chegar. Ele chega, inexoravelmente.
Os netos pobres seremos nós, ou nossos filhos, se essa trajetória não mudar logo. A crise não é apenas econômica; ela é moral.

sexta-feira, janeiro 04, 2013

Aprendendo a debater


Rodrigo Constantino, para o Instituto Liberal

Nelson Motta, em sua coluna do jornal O Globo de hoje, começa colocando o dedo na ferida: "A maneira mais estúpida, autoritária e desonesta de responder a alguma crítica é tentar desqualificar quem critica, porque revela a incapacidade de rebatê-la com argumentos e fatos, ideias e inteligência". Ou seja, muitos trocam argumentos por “coices e relinchos”, título de seu excelente artigo sobre a reação de muitos esquerdistas às críticas de Ferreira Gullar ao “mito” Lula.

Foi-me impossível ler tais palavras e não pensar automaticamente na mensagem que havia recebido ontem de noite de um leitor crítico. As críticas são sempre bem-vindas, pois, como sabia o outro Nelson, o Rodrigues, “os admiradores corrompem”. O problema é quando o crítico não quer realmente debater, pois prefere se cercar de suas “certezas” obtidas não pelo raciocínio, mas pelas emoções.

E esse foi justamente o caso. O leitor inicia sua mensagem comparando meu currículo e minha idade com a sua experiência profissional. Nada mais patético do que começar fazendo um apelo à autoridade. Em seguida, ele liga uma metralhadora giratória de slogans e clichês esquerdistas, alegando que a Petrobras é um “orgulho nacional”, que eu devo ser um tucano, um “vendilhão da Pátria”, um lacaio do império americano, e devo receber dinheiro das multinacionais para defender a privatização da estatal.

Tudo isso entre um “prezado” e um “cordialmente”. Ou seja, ele pensa que educação está somente na forma, e não no conteúdo do que é dito. Deve ser influência da TV Senado, com aqueles xingamentos chulos entre um “vossa excelência” e outro.

Mas isso é o de menos. O mais triste mesmo é o sujeito demonstrar, na largada, que não quer debater de verdade, focando em argumentos. Infelizmente, essa é a regra por aqui: sobram coices e relinchos, e faltam bons argumentos!  

Coices e relinchos

Nelson Motta, O GLOBO

A maneira mais estúpida, autoritária e desonesta de responder a alguma crítica é tentar desqualificar quem critica, porque revela a incapacidade de rebatê-la com argumentos e fatos, ideias e inteligência. A prática dos coices e relinchos verbais serve para esconder sentimentos de inferioridade e mascarar erros e intenções, mas é uma das mais populares e nefastas na atual discussão politica no Brasil.

A outra é responder acusando o adversário de já ter feito o mesmo, ou pior, e ter ficado impune. São formas primitivas e grosseiras de expressão na luta pelo poder, nivelando pela baixaria, e vai perder tempo quem tentar impor alguma racionalidade e educação ao debate digital.

Nem nos mais passionais bate-bocas sobre futebol alguém apela para a desqualificação pessoal, por inutilidade. Ser conservador ou liberal, gay ou hetero, honesto ou ladrão, preto ou branco, petista ou tucano, não vai fazer o gol não ser em impedimento, ser ou não ser pênalti. Numa metáfora de sabor lulístico, a politica é que está virando um Fla x Flu movido pelos instintos mais primitivos.

Na semana passada, Ferreira Gullar, considerado quase unanimemente o maior poeta vivo do Brasil, publicou na “Folha de S.Paulo” uma crônica criticando o mito Lula com dureza e argumentos, mas sem ofensas nem mentiras. Reproduzida em um “site progressista”, com o habitual patrocínio estatal, a crônica foi escoiceada pela militância digital.

Ler os cento e poucos comentários, a maioria das mesmas pessoas, escondidas sob nomes diferentes, exigiria uma máscara contra gases e adicional de insalubridade, mas uma pequena parte basta para revelar o todo. Acusavam Gullar, ex-comunista, de ter se vendido, porque alguém só pode mudar de ideia se levar dinheiro, relinchavam sobre a sua idade, sua saúde, sua virilidade, sua aparência, sua inteligencia, e até a sua poesia. E ninguém respondia a um só de seus argumentos.

Mas quem os lê? Só eles mesmos e seus companheiros de seita. E eu, em missão de pesquisa antropológica. Coitados, esses pobres diabos vão morrer sem ter lido um só verso de Gullar, sem saber o que perderam.

quinta-feira, janeiro 03, 2013

Privatização da Petrobras


Segue troca de emails com um leitor crítico, pois considero sua postura representativa da esquerda brasileira.

Prezado Rodrigo Constantino,
 
Vi  pelo  seu  CV  que é formado em Economia pela PUC-RJ,  tem MBA de Finanças pelo IBMEC e trabalha no setor financeiro desde 1997. Eu sou formado em Engenharia Elétrica pela UFRGS, tenho um Mestrado em Sistemas de Gestão pela UFF e um MBA em Gestão de Projetos pela USP e trabalho como engenheiro desde 1975, portanto tenho mais experiência de vida e de trabalho que você.
 
Eu afirmo o que você fala sobre a privatização da Petrobras é uma tremenda asneira além de ser antipatriótico.
 
A privatização da Petrobras seria o maior desastre para o Brasil. A Petrobras chegou ao tamanho que é, realizou a exploração no pré-sal, e é uma das maiores responsáveis por desenvolver o mercado de biocombustíveis, graças a ser estatal. Além disso, as encomendas que faz na indústria brasileira gera empregos que proporcionam renda para o consumo dos próprios produtos que vende, e tem função macroeconômica no equilíbrio da balança cambial.
Fosse a empresa dada de bandeja para uma empresa estrangeira como a Chevron, como querem os tucanos e assemelhados vendilhões da pátria, a "mão invisível" do mercado poderia achar mais barato soltar bombas em países como a Líbia para comprar petróleo mais barato lá do que desenvolver a produção de poços de petróleo em águas ultra-profundas do pré-sal. Esse fenômeno aconteceu na Argentina, com a Repsol privatizada abandonando a exploração para importar petróleo, gerando rombos na balança comercial.
 
Cordialmente,

O.S.

Minha resposta:

Curioso vc começar seu email com um apelo à autoridade. Então se eu encontrar alguém com mais experiência que vc e um currículo mais extenso que defenda a privatização da Petrobras, vc se cala? Note o absurdo e a arrogância de sua mensagem, típica de quem não tem muitos argumentos.

Antipatriótico é manter uma estatal gigante dessas sob o controle de um partido, com interesses escusos e palco de muita corrupção.

Deve ser muito patriótico o Chavez! Mas eu prefiro o resultado dos EUA, Canadá, Inglaterra, ao da Arábia Saudita, Irã, Venezuela e Rússia.

Por favor, guarde a ladainha de seu discurso para um comício do PT e seus mensaleiros.

E não me chame de tucano, pois os tucanos são esquerdistas e não têm coragem de defender algo tão óbvio e desejável como a privatização da Petrossauro.

Cordialmente,

Rodrigo