Idéias de um livre pensador sem medo da polêmica ou da patrulha dos "politicamente corretos".
quarta-feira, fevereiro 29, 2012
Corecon: a privataria dos conselhos regionais
Vídeo onde desabafo sobre o absurdo de ter que pagar mais de R$ 300 por ano para sustentar o Corecon, Conselho Regional de Economia, que serve apenas para fazer proselitismo escancarado.
Correa não bate no lombo dos equatorianos
Mario Guerreiro *
Como sabemos, na América do Sul candidatos costumam ser eleitos mediante um processo de tentativas e erros na esperança de um dia acertar.
Neste processo, de vez em quando, como candidatos de má aparência são eleitos e mostram-se decepcionantes, a sabedoria popular elege chicos muy guapos só para ver no que dá.
No passado, assim foram eleitos Alan Garcia no Peru e Fernando Collor no Brasil. E no presente, assim foi eleito Rafael Correa Dura no Equador.
No entanto, após eleitos, esses príncipes de contos-de-fada transformam-se em repelentes sapos.
Mas não podemos dizer que o povo não aprende com seus erros. Na próxima eleição, eles certamente votarão num asqueroso batráquio tendo a esperança de que ele se transforme num belo príncipe.
Como dizem os mais velhos e mais sábios: “Quem vê cara não vê coração”. “Por fora bela viola, por dentro pão bolorento”.
Desde que foi eleito graças a um desvairado populismo - páreo duro para Lulinha-Paz-e-Amor, Primevo Inmorales e Evita III – Correa Dura tem enfrentado duras críticas da mídia equatoriana.
Ele só recebe rasgados elogios de seu guru, Hugorila Chávez, El Coma Andante de Caracos, por ser um fiel seguidor do socialismo bolivariano, que é el socialismo del siglo veinteuno. Pátria o muerte, venceremos!
Nos últimos tempos, as críticas feitas pela mídia equatoriana têm se tornado insuportáveis para Correa Dura.
Dois autores escreveram um livro intitulado El Grande Hermano, mas não era sobre o Big Brother de George Orwell nem sobre o Big Brother Brasil (BBB) da TV Globo, sob o empolgante comando de Pedro Bial.
Tratava-se do irmão de Correa Dura, que se tornou grande graças ao enriquecimento ilícito, embora não tivesse se transformado de funcionário do Jardim Zoológico em rico fazendeiro criador de gado Nelore, como o filho de um governante de um país da América do Sul...
[Fiz uma boa carapuça, quem quiser que a ponha].
Esses autores ousados e indiscretos foram condenados pela Justiça equatoriana a pagar uma indenização de US$ 2.000.000 (dois milhões de dólares)!!!
Como se vê, denunciar Correa Dura, ainda que com base em fortes suspeitas, custa muito caro.
E é escusado dizer que “o bolso é o órgão mais sensível do homem”, como dizia J.M. Keynes.
Contudo, se aplicarmos aqui a análise das desvantagens comparativas, veremos facilmente que não foi tão caro assim...
Três diretores e um editor do jornal El Universo, por publicarem um artigo virulento em que chamavam Correa Dura de “ditador” foram condenados pela Justiça a três anos de prisão e uma multa de US$ 40.000.000 (Quarenta milhões de dólares)!!!
Se o referido jornal tivesse que pagar uma multa tão salgada, este seria o fim de El Universo, de acordo com a segunda lei da termodinâmica.
Mas, apesar da mão pesada da Justiça equatoriana, o Presidente tem um corpo de Rambo, mas um coração de Madre Teresa de Calcutá...
Num programa em rede nacional de TV, concedeu anistia a todos esses delinqüentes condenados por injúrias.
Mas não sem proferir uma sentença profunda e retumbante: “Há perdão, mas não há esquecimento!”
Desde criança que Rafaelito já mostrava sua grande vocação para a política. Com esse gesto magnânimo, ele deu dois recados:
Para o público externo, mostrou que a verdadeira Justiça equatoriana era a dele, liberal e tolerante, aceitando críticas e respeitando a liberdade de expressão.
Mas para o público interno é como se tivesse dito: “Desta vez, passa. Mas da próxima vez , passo. Passo o ferro nos meus contestadores!
Conclusão anticlimática: toda a esperança de liberdade de expressão e democracia na América do Sul está no Chile.
* Filósofo
Como sabemos, na América do Sul candidatos costumam ser eleitos mediante um processo de tentativas e erros na esperança de um dia acertar.
Neste processo, de vez em quando, como candidatos de má aparência são eleitos e mostram-se decepcionantes, a sabedoria popular elege chicos muy guapos só para ver no que dá.
No passado, assim foram eleitos Alan Garcia no Peru e Fernando Collor no Brasil. E no presente, assim foi eleito Rafael Correa Dura no Equador.
No entanto, após eleitos, esses príncipes de contos-de-fada transformam-se em repelentes sapos.
Mas não podemos dizer que o povo não aprende com seus erros. Na próxima eleição, eles certamente votarão num asqueroso batráquio tendo a esperança de que ele se transforme num belo príncipe.
Como dizem os mais velhos e mais sábios: “Quem vê cara não vê coração”. “Por fora bela viola, por dentro pão bolorento”.
Desde que foi eleito graças a um desvairado populismo - páreo duro para Lulinha-Paz-e-Amor, Primevo Inmorales e Evita III – Correa Dura tem enfrentado duras críticas da mídia equatoriana.
Ele só recebe rasgados elogios de seu guru, Hugorila Chávez, El Coma Andante de Caracos, por ser um fiel seguidor do socialismo bolivariano, que é el socialismo del siglo veinteuno. Pátria o muerte, venceremos!
Nos últimos tempos, as críticas feitas pela mídia equatoriana têm se tornado insuportáveis para Correa Dura.
Dois autores escreveram um livro intitulado El Grande Hermano, mas não era sobre o Big Brother de George Orwell nem sobre o Big Brother Brasil (BBB) da TV Globo, sob o empolgante comando de Pedro Bial.
Tratava-se do irmão de Correa Dura, que se tornou grande graças ao enriquecimento ilícito, embora não tivesse se transformado de funcionário do Jardim Zoológico em rico fazendeiro criador de gado Nelore, como o filho de um governante de um país da América do Sul...
[Fiz uma boa carapuça, quem quiser que a ponha].
Esses autores ousados e indiscretos foram condenados pela Justiça equatoriana a pagar uma indenização de US$ 2.000.000 (dois milhões de dólares)!!!
Como se vê, denunciar Correa Dura, ainda que com base em fortes suspeitas, custa muito caro.
E é escusado dizer que “o bolso é o órgão mais sensível do homem”, como dizia J.M. Keynes.
Contudo, se aplicarmos aqui a análise das desvantagens comparativas, veremos facilmente que não foi tão caro assim...
Três diretores e um editor do jornal El Universo, por publicarem um artigo virulento em que chamavam Correa Dura de “ditador” foram condenados pela Justiça a três anos de prisão e uma multa de US$ 40.000.000 (Quarenta milhões de dólares)!!!
Se o referido jornal tivesse que pagar uma multa tão salgada, este seria o fim de El Universo, de acordo com a segunda lei da termodinâmica.
Mas, apesar da mão pesada da Justiça equatoriana, o Presidente tem um corpo de Rambo, mas um coração de Madre Teresa de Calcutá...
Num programa em rede nacional de TV, concedeu anistia a todos esses delinqüentes condenados por injúrias.
Mas não sem proferir uma sentença profunda e retumbante: “Há perdão, mas não há esquecimento!”
Desde criança que Rafaelito já mostrava sua grande vocação para a política. Com esse gesto magnânimo, ele deu dois recados:
Para o público externo, mostrou que a verdadeira Justiça equatoriana era a dele, liberal e tolerante, aceitando críticas e respeitando a liberdade de expressão.
Mas para o público interno é como se tivesse dito: “Desta vez, passa. Mas da próxima vez , passo. Passo o ferro nos meus contestadores!
Conclusão anticlimática: toda a esperança de liberdade de expressão e democracia na América do Sul está no Chile.
* Filósofo
Desejo de sucesso!
Doutor José Nazar *
Você quer o sucesso? Pergunte-se, então, até que ponto está disposto a se sacrificar por ele. Trata-se de um querer verdadeiro, decidido? Pode ser que sim, pode ser que não. Pois você pode dizer a si mesmo que o deseja, mas não se dispõe a pagar por ele, pagar o preço justo de uma possível conquista.
O sucesso requer de cada um disciplina e esforços. Fundamentalmente, exige de você constantes questionamentos. São muitas renúncias que se interpõem no meio do caminho. Como construir o edifício do sucesso, como mantê-lo sem se atrapalhar com ele? Mesmo porque, o caminho em direção ao sucesso, é o de uma obra que carrega consigo o estilo particular de cada um. Não se trata de ganhar dinheiro ou ficar rico. Isso pode ser uma consequência. O que importa é o seu nome atrelado à uma realização que produz uma marca diferencial.
O sucesso em sua vida depende de um desejo. Que lugar você ocupou no desejo de seus pais, de seus antepassados? De quê maneira você vai lidar com o que herdou? Como você vai responder com dignidade ao desejo que o habita? Isso não é qualquer coisa, pois requer um movimento vivo de uma insistência tenaz, específica. O pai ou a mãe podem ter faltado como presença física, mas o lugar do desejo já estava colocado em sua origem. Bem como um outro pode ter dado algum suporte para que ele vigorasse. Muitos reagem mal diante de uma falta, gozam de pobres coitados, tornam-se vítimas eternas, necessitando de ajuda. Outros, reagem de uma maneira distinta, tomam a falta como causa de seu desejo, insistem num movimento de progresso e respondem dizendo não à posição de vitimização. O vazio da falta, o som mudo de uma perda servem de fonte de ensinamentos. A vida é uma eterna escola para aqueles que desejam sucesso! Deixe de lado o orgulho e a arrogância, abandone a posição de querer ser amado, seja desejante.
Em outras situações, pode ser que você não se lembre de um desejo específico de seu pai ou de sua mãe, querendo que você fosse bem sucedido, nisto ou naquilo. Por exemplo, que você fosse um grande médico, que se tornasse um engenheiro magistral, que se realizasse como um famoso homem público, etc.. Ou seja, alguém bem realizado na vida.
Hoje, mais do que nunca, pais querem filhos vitoriosos. Eles educam seus filhos com muito sacrifício, tendo como meta o sucesso. Os pais se tornaram reféns do futuro de seus rebentos. Os pais não gozam de tranquilidade, pois não deixam muito espaço para que seus filhos cumpram sua parte nessa empreitada que, diga-se, não é nada fácil. Os pais estão sempre de prontidão. Eles se antecipam quanto aos passos dos filhos rumo a um possível sucesso, muito mais no âmbito profissional, que na vida amorosa. Por isso mesmo, a distância entre o sucesso e o fracasso tem estado cada vez menor, são vizinhos, separados por uma tênue linha onde reside o perigo. Exigências excessivas, fracassos iminentes!
O sucesso pleno é muito difícil. Talvez ele não exista. Quase sempre perde-se alguma coisa. Você pode ser muito bom naquilo que faz mas, e sua vida amorosa, sexual? Tem sobrado tempo para ser um bom amante?
Uma coisa é importante. Devemos ter clareza sobre o desejo que habita cada um de nós. Você deve mergulhar fundo em si mesmo e arrancar as letras deste desejo que o constituiu. O desejo carrega as marcas da historicidade de um passado que determinará nossos rumos na vida. O melhor e o pior, os acertos e os erros, os sucessos e os fracassos. Pode ser que você não se dê conta de que o encaminhamento de sua vida é sediada por medos e preocupações. Isso pode acarretar impedimentos em direção a um possível sucesso.
Desejo é algo carnal que sustenta uma vida em todas as direções. Até mesmo em direção ao fracasso, à morte. Portanto, meu caro, não existe nenhum modelo prévio , cartilha, ou código de rota para o sucesso.
Com frequência, encontramos pessoas que dizem não querer repetir a história de seu pai ou sua mãe. Procuram tomar rumos distintos e quando se dão conta, estão repetindo os mesmos erros, os mesmos fracassos. Há variações de desejos, apostas e desistências! De toda maneira, temos desejos contrariados. Como retificá-los? Pensar, sempre pensar, este ainda é o caminho.
É difícil, mas não é impossível, você delinear um caminho próprio que torne possível a construção sucessiva de boas realizações. Acredite, insista, realize diálogos com os mais velhos, os mais experientes. Até mesmo um livro, pode ser um bom interlocutor. Insista, ainda é possível.
* Escola Lacaniana de Psicanálise - RJ
Você quer o sucesso? Pergunte-se, então, até que ponto está disposto a se sacrificar por ele. Trata-se de um querer verdadeiro, decidido? Pode ser que sim, pode ser que não. Pois você pode dizer a si mesmo que o deseja, mas não se dispõe a pagar por ele, pagar o preço justo de uma possível conquista.
O sucesso requer de cada um disciplina e esforços. Fundamentalmente, exige de você constantes questionamentos. São muitas renúncias que se interpõem no meio do caminho. Como construir o edifício do sucesso, como mantê-lo sem se atrapalhar com ele? Mesmo porque, o caminho em direção ao sucesso, é o de uma obra que carrega consigo o estilo particular de cada um. Não se trata de ganhar dinheiro ou ficar rico. Isso pode ser uma consequência. O que importa é o seu nome atrelado à uma realização que produz uma marca diferencial.
O sucesso em sua vida depende de um desejo. Que lugar você ocupou no desejo de seus pais, de seus antepassados? De quê maneira você vai lidar com o que herdou? Como você vai responder com dignidade ao desejo que o habita? Isso não é qualquer coisa, pois requer um movimento vivo de uma insistência tenaz, específica. O pai ou a mãe podem ter faltado como presença física, mas o lugar do desejo já estava colocado em sua origem. Bem como um outro pode ter dado algum suporte para que ele vigorasse. Muitos reagem mal diante de uma falta, gozam de pobres coitados, tornam-se vítimas eternas, necessitando de ajuda. Outros, reagem de uma maneira distinta, tomam a falta como causa de seu desejo, insistem num movimento de progresso e respondem dizendo não à posição de vitimização. O vazio da falta, o som mudo de uma perda servem de fonte de ensinamentos. A vida é uma eterna escola para aqueles que desejam sucesso! Deixe de lado o orgulho e a arrogância, abandone a posição de querer ser amado, seja desejante.
Em outras situações, pode ser que você não se lembre de um desejo específico de seu pai ou de sua mãe, querendo que você fosse bem sucedido, nisto ou naquilo. Por exemplo, que você fosse um grande médico, que se tornasse um engenheiro magistral, que se realizasse como um famoso homem público, etc.. Ou seja, alguém bem realizado na vida.
Hoje, mais do que nunca, pais querem filhos vitoriosos. Eles educam seus filhos com muito sacrifício, tendo como meta o sucesso. Os pais se tornaram reféns do futuro de seus rebentos. Os pais não gozam de tranquilidade, pois não deixam muito espaço para que seus filhos cumpram sua parte nessa empreitada que, diga-se, não é nada fácil. Os pais estão sempre de prontidão. Eles se antecipam quanto aos passos dos filhos rumo a um possível sucesso, muito mais no âmbito profissional, que na vida amorosa. Por isso mesmo, a distância entre o sucesso e o fracasso tem estado cada vez menor, são vizinhos, separados por uma tênue linha onde reside o perigo. Exigências excessivas, fracassos iminentes!
O sucesso pleno é muito difícil. Talvez ele não exista. Quase sempre perde-se alguma coisa. Você pode ser muito bom naquilo que faz mas, e sua vida amorosa, sexual? Tem sobrado tempo para ser um bom amante?
Uma coisa é importante. Devemos ter clareza sobre o desejo que habita cada um de nós. Você deve mergulhar fundo em si mesmo e arrancar as letras deste desejo que o constituiu. O desejo carrega as marcas da historicidade de um passado que determinará nossos rumos na vida. O melhor e o pior, os acertos e os erros, os sucessos e os fracassos. Pode ser que você não se dê conta de que o encaminhamento de sua vida é sediada por medos e preocupações. Isso pode acarretar impedimentos em direção a um possível sucesso.
Desejo é algo carnal que sustenta uma vida em todas as direções. Até mesmo em direção ao fracasso, à morte. Portanto, meu caro, não existe nenhum modelo prévio , cartilha, ou código de rota para o sucesso.
Com frequência, encontramos pessoas que dizem não querer repetir a história de seu pai ou sua mãe. Procuram tomar rumos distintos e quando se dão conta, estão repetindo os mesmos erros, os mesmos fracassos. Há variações de desejos, apostas e desistências! De toda maneira, temos desejos contrariados. Como retificá-los? Pensar, sempre pensar, este ainda é o caminho.
É difícil, mas não é impossível, você delinear um caminho próprio que torne possível a construção sucessiva de boas realizações. Acredite, insista, realize diálogos com os mais velhos, os mais experientes. Até mesmo um livro, pode ser um bom interlocutor. Insista, ainda é possível.
* Escola Lacaniana de Psicanálise - RJ
Libertem a moeda!
Engole essa, Bernanke! Ron Paul vai direto ao ponto neste discurso feito hoje. Ouro e prata não deveriam ser vistos como um ATIVO pelo governo, e portanto taxados por ganho de capital. É hora de repelir o Legal Tender do Fiat Money e permitir que cada cidadão tenha, como MOEDA, ouro e prata em bancos, assim como referência em contratos privados. Hayek, Nobel de Economia, tem um livro sobre a desestatização da moeda que vale a pena ser lido. Segue uma pequena resenha que fiz.
PS: Se Ron Paul deixasse sua visão ingênua de política externa de lado, ele seria "o cara" mesmo!
PS: Se Ron Paul deixasse sua visão ingênua de política externa de lado, ele seria "o cara" mesmo!
O legado de Thatcher
Aproveitando o momento de destaque, com o Oscar de melhor atriz (merecido) para Meryl Streep no filme sobre sua pessoa, segue um curto vídeo em homenagem ao legado desta grande estadista que foi Lady Thatcher, produzido pelo The Heritage Foundation. Fica aqui registrada a minha profunda admiração por esta grande mulher.
A carga tributária sobre o cidadão
Editorial de O Globo
Esta época do ano, em que as pessoas físicas acertam as contas com a Receita Federal, bem simbolizada na antiga propaganda oficial pela figura imponente e temida de um leão, costuma ser tempo de mau humor. Não é preciso entender de tributos para perceber - ou melhor, sentir no bolso - o aperto do torniquete tributário, sempre mais doloroso para assalariados que recolhem na fonte e com poucas ou nenhuma possibilidade de dedução do imposto já pago.
É conhecido o processo de aumento avassalador da carga de tributos ocorrida nos últimos 17 anos, período em que tucanos e petistas compartilharam o poder em Brasília. Em grande números, foram expropriados da sociedade, em impostos, dez pontos percentuais de PIB adicionais. E assim a carga está hoje na faixa de 36% do PIB, bastante acima da taxa de países desenvolvidos (Estados Unidos e Japão, por exemplo), bem como de economias emergentes equiparáveis ao Brasil.
Estudo da consultoria Ernst & Young Terco, feito sob encomenda do GLOBO, chegou aos números do desconforto sentido por parte da população brasileira, obrigada a trabalhar quatro meses apenas para alimentar o Leão. O levantamento considerou os dados oficiais sobre o imposto de renda retido na fonte e o IR da pessoa física, de 2002 a 2011. Incluem-se no levantamento rendimentos do trabalho e o produto da venda de imóveis e veículos.
Nestes dez anos, enquanto o volume de dinheiro arrecadado junto às pessoas físicas dobrou - de R$ 44,9 bilhões para R$ 90,7 bilhões -, o total coletado pela Receita nos demais contribuintes aumentou 72,2%. Ou seja, o peso dos impostos ficou maior sobre as pessoas físicas do que em geral. E, com isso, o que saiu da renda do cidadão para o Tesouro aumentou a participação relativa sobre o bolo total da arrecadação: passou de 11% para 13%.
O assalariado que recolhe imposto na fonte passou a ser um refém de fácil ordenha por uma Receita Federal cada vez mais automatizada, capaz, dizem, de bisbilhotar despesas registradas no mundo digital. Até a distribuição de alíquotas, no Brasil, tem graves distorções. A mais elevada, de 27,5%, por exemplo, incide sobre renda mais baixa do que ocorre nos Estados Unidos, Inglaterra, Chile, Argentina, China e Colômbia.
Uma das marcas do sistema tributário brasileiro, entre várias distorções, é a injustiça social, porque, via impostos indiretos, pessoas com renda baixa recolhem proporcionalmente mais que extratos de renda mais elevada. A constatação costuma levar a conclusões equivocadas, como a de que é preciso, então, aumentar o imposto sobre os rendimentos mais altos.
Como a carga tributária está elevada para todos, seriam criadas mais distorções. O caminho indicado é aproveitar a fase de crescimento do bolo da arrecadação para calibrar para baixo a carga tributária e tratar de ampliar a base de contribuintes - mais gente pagando, paga-se menos.
Porém, como a visão ideológica em vigor é que cabe ao Estado ser o grande repartidor das rendas da sociedade, o céu passa a ser o limite para a coleta de impostos. Claro que, deste ponto de vista, não estão em questão os serviços de má qualidade que o poder público dá em troca da extorsão tributária.
Esta época do ano, em que as pessoas físicas acertam as contas com a Receita Federal, bem simbolizada na antiga propaganda oficial pela figura imponente e temida de um leão, costuma ser tempo de mau humor. Não é preciso entender de tributos para perceber - ou melhor, sentir no bolso - o aperto do torniquete tributário, sempre mais doloroso para assalariados que recolhem na fonte e com poucas ou nenhuma possibilidade de dedução do imposto já pago.
É conhecido o processo de aumento avassalador da carga de tributos ocorrida nos últimos 17 anos, período em que tucanos e petistas compartilharam o poder em Brasília. Em grande números, foram expropriados da sociedade, em impostos, dez pontos percentuais de PIB adicionais. E assim a carga está hoje na faixa de 36% do PIB, bastante acima da taxa de países desenvolvidos (Estados Unidos e Japão, por exemplo), bem como de economias emergentes equiparáveis ao Brasil.
Estudo da consultoria Ernst & Young Terco, feito sob encomenda do GLOBO, chegou aos números do desconforto sentido por parte da população brasileira, obrigada a trabalhar quatro meses apenas para alimentar o Leão. O levantamento considerou os dados oficiais sobre o imposto de renda retido na fonte e o IR da pessoa física, de 2002 a 2011. Incluem-se no levantamento rendimentos do trabalho e o produto da venda de imóveis e veículos.
Nestes dez anos, enquanto o volume de dinheiro arrecadado junto às pessoas físicas dobrou - de R$ 44,9 bilhões para R$ 90,7 bilhões -, o total coletado pela Receita nos demais contribuintes aumentou 72,2%. Ou seja, o peso dos impostos ficou maior sobre as pessoas físicas do que em geral. E, com isso, o que saiu da renda do cidadão para o Tesouro aumentou a participação relativa sobre o bolo total da arrecadação: passou de 11% para 13%.
O assalariado que recolhe imposto na fonte passou a ser um refém de fácil ordenha por uma Receita Federal cada vez mais automatizada, capaz, dizem, de bisbilhotar despesas registradas no mundo digital. Até a distribuição de alíquotas, no Brasil, tem graves distorções. A mais elevada, de 27,5%, por exemplo, incide sobre renda mais baixa do que ocorre nos Estados Unidos, Inglaterra, Chile, Argentina, China e Colômbia.
Uma das marcas do sistema tributário brasileiro, entre várias distorções, é a injustiça social, porque, via impostos indiretos, pessoas com renda baixa recolhem proporcionalmente mais que extratos de renda mais elevada. A constatação costuma levar a conclusões equivocadas, como a de que é preciso, então, aumentar o imposto sobre os rendimentos mais altos.
Como a carga tributária está elevada para todos, seriam criadas mais distorções. O caminho indicado é aproveitar a fase de crescimento do bolo da arrecadação para calibrar para baixo a carga tributária e tratar de ampliar a base de contribuintes - mais gente pagando, paga-se menos.
Porém, como a visão ideológica em vigor é que cabe ao Estado ser o grande repartidor das rendas da sociedade, o céu passa a ser o limite para a coleta de impostos. Claro que, deste ponto de vista, não estão em questão os serviços de má qualidade que o poder público dá em troca da extorsão tributária.
terça-feira, fevereiro 28, 2012
Veja vê vantagens na leitura de lixo
Janer Cristaldo
Quem acredita em tudo que lê, melhor não tivesse aprendido a ler, diz um provérbio oriental. Vou mais longe. Quem se nutre de best-sellers, nem devia ter aprendido a ler. Ainda há pouco, eu afirmava que fora da leitura não há salvação. Em meus dias de universidade, uma aluna me perguntava. Professor, é verdade que a leitura pode transformar a gente? Ora, é uma das poucas coisas que realmente transformam, eu diria. Pessoas, viagens, encontros, doenças, adversidades sempre mexem com nossas vidas. Mas a leitura continua sendo o método mais eficaz de mutação.
Mas há leituras e leituras. Uma coisa é ler Harry Potter e outra é ler Crime e Castigo. Conheço inclusive leitores contumazes – e os conheço de perto - que lêem talvez até mais do que eu leio, mas não fazem distinção alguma entre Rowling e Dostoievski. Crime e Castigo? Ah, sim a história daquele estudante que matou uma velhota? E estamos conversados. Como se fosse entrecho da novela das oito. As reflexões do russo sobre a vida e a morte, sobre o homem, Deus e a sociedade, escorrem como água entre os dedos. Ou seja, ler nem sempre é sinônimo de aquisição de cultura.
A revista Veja desta semana dá capa ao último best-seller tupiniquim, o padre Marcelo Rossi, com o título “O milagre da leitura”, enfocando Ágape, livro que já vendeu 7,5 milhões de exemplares. Em editorial, a revista saúda “os resultados auspiciosos do censo encomendado ao Upea pela Câmara Brasileira do Livro. Os dados mostram que, de 2009 para 2010, o número de exemplares impressos no Brasil bateu em quase 500 milhões, com um crescimento de 23%.”
Desse montante, 230 milhões pertencem ao que chamo de indústria textil – assim mesmo, sem acento, a indústria do texto. 144 milhões são comprados pelo governo e distribuídos gratuitamente às escolas, o que explica em boa parte a perenidade de autores que há muito estão mortos e bem mortos. E explica também a ojeriza dos jovens à leitura.
Muito bem. Mas que está lendo o brasileiro? Para começar, o tal de Ágape, do padre Marcelo Rossi. Ladeado por Zíbia Gasparetto, escritora espírita cujos livros são ditados por entidades de luz e já venderam 16 milhões de exemplares. Mais Jô Soares, que mistura o imperador D. Pedro II com Sarah Bernhardt e Sherlock Holmes, mais um violino Stradivarius. Mais outros ilustres nomes das letras pátrias, dos quais jamais ouvi falar: Thalita Rodrigues, crônica do cotidiano dos jovens; Ana Beatriz da Silva, série sobre as angústias da mente; Roberto Shinyashiki, o guru corporativo que fala sobre felicidade. Jô à parte, tudo auto-ajuda, esse gênero abominável da literatura, que vende falsas esperanças para os pobres de espírito.
Isso que Paulo Coelho não foi arrolado na reportagem, por não ter publicado título novo desde 2010. E sem falar em Gabriel Chalita, autor polímata que em seus 43 anos escreveu mais de 60 livros. Dos quais ninguém lembra título algum.
O Brasil está cheio de escritores que vendem milhões de livros e dos quais jamais ouvimos falar. Alguém conhece algum título – ou pelo menos ouviu falar – do padre Lauro Trevisan, de Santa Maria? Pois o homem – leio na Wikipédia – é autor de mais de 40 livros, todos eles best-sellers a nível internacional, com mais de dois milhões de exemplares vendidos. Em Portugal, as suas obras Apresse o Passo Que o Mundo Está a Mudar (2001), Como Usar o Seu Poder para Qualquer Coisa (2002),Conhece-te e Conhecerás o Teu Poder (2002), Regressão de Idade para a Libertação Total (2001) e Relax com Programação Positiva (2001) estão publicadas pela Editora Pergaminho. Os gaúchos têm uma celebridade em seus pagos e a desconhecem. Estes livros, você não os vê nem em livrarias. Exceto, é claro, na livraria que o padre administra em Santa Maria. São vendidos a partir de conferências e cursos de auto-ajuda.
Quem me acompanha, sabe de minha ojeriza aos best-sellers. Se um livro vendeu de repente um milhão de exemplares, este é um de meus critérios para não comprá-lo. Não existe tanta gente inteligente no mundo. Não existe um único best-seller em minha biblioteca. Aliás, quando saio atrás de um título, tenho de trotar entre uma livraria e outra, pois trata-se de livro geralmente pouco divulgado.
Os brasileiros estão lendo mais, diz Veja. Ora, de que adianta ler mais, quando o que se lê é isso? “O intelecto só precisa de uma faísca, mesmo que fraca, para acender o fogo da curiosidade e abrir uma clareira acolhedora que dará início ao interminável processo de enriquecimento do mundo interior. Qualquer livro pode ser essa faísca”. A frase soa a texto de auto-ajuda. Pelo jeito, o redator se deixou contaminar ao lidar com tanto lixo.
Paulo Coelho ou padre Marcelo, Zíbia ou Trevisan, Thalita ou Chalita não produzem faísca alguma, não acendem fogo algum nem abrem clareira alguma. Quem lê essa gente jamais vai chegar a Poe ou Pessoa, a Dostoievski ou Orwell, a Cervantes ou Nietzsche.
Não vejo vantagem alguma neste maior número de brasileiros que lêem, quando o que se lê é lixo.
Quem acredita em tudo que lê, melhor não tivesse aprendido a ler, diz um provérbio oriental. Vou mais longe. Quem se nutre de best-sellers, nem devia ter aprendido a ler. Ainda há pouco, eu afirmava que fora da leitura não há salvação. Em meus dias de universidade, uma aluna me perguntava. Professor, é verdade que a leitura pode transformar a gente? Ora, é uma das poucas coisas que realmente transformam, eu diria. Pessoas, viagens, encontros, doenças, adversidades sempre mexem com nossas vidas. Mas a leitura continua sendo o método mais eficaz de mutação.
Mas há leituras e leituras. Uma coisa é ler Harry Potter e outra é ler Crime e Castigo. Conheço inclusive leitores contumazes – e os conheço de perto - que lêem talvez até mais do que eu leio, mas não fazem distinção alguma entre Rowling e Dostoievski. Crime e Castigo? Ah, sim a história daquele estudante que matou uma velhota? E estamos conversados. Como se fosse entrecho da novela das oito. As reflexões do russo sobre a vida e a morte, sobre o homem, Deus e a sociedade, escorrem como água entre os dedos. Ou seja, ler nem sempre é sinônimo de aquisição de cultura.
A revista Veja desta semana dá capa ao último best-seller tupiniquim, o padre Marcelo Rossi, com o título “O milagre da leitura”, enfocando Ágape, livro que já vendeu 7,5 milhões de exemplares. Em editorial, a revista saúda “os resultados auspiciosos do censo encomendado ao Upea pela Câmara Brasileira do Livro. Os dados mostram que, de 2009 para 2010, o número de exemplares impressos no Brasil bateu em quase 500 milhões, com um crescimento de 23%.”
Desse montante, 230 milhões pertencem ao que chamo de indústria textil – assim mesmo, sem acento, a indústria do texto. 144 milhões são comprados pelo governo e distribuídos gratuitamente às escolas, o que explica em boa parte a perenidade de autores que há muito estão mortos e bem mortos. E explica também a ojeriza dos jovens à leitura.
Muito bem. Mas que está lendo o brasileiro? Para começar, o tal de Ágape, do padre Marcelo Rossi. Ladeado por Zíbia Gasparetto, escritora espírita cujos livros são ditados por entidades de luz e já venderam 16 milhões de exemplares. Mais Jô Soares, que mistura o imperador D. Pedro II com Sarah Bernhardt e Sherlock Holmes, mais um violino Stradivarius. Mais outros ilustres nomes das letras pátrias, dos quais jamais ouvi falar: Thalita Rodrigues, crônica do cotidiano dos jovens; Ana Beatriz da Silva, série sobre as angústias da mente; Roberto Shinyashiki, o guru corporativo que fala sobre felicidade. Jô à parte, tudo auto-ajuda, esse gênero abominável da literatura, que vende falsas esperanças para os pobres de espírito.
Isso que Paulo Coelho não foi arrolado na reportagem, por não ter publicado título novo desde 2010. E sem falar em Gabriel Chalita, autor polímata que em seus 43 anos escreveu mais de 60 livros. Dos quais ninguém lembra título algum.
O Brasil está cheio de escritores que vendem milhões de livros e dos quais jamais ouvimos falar. Alguém conhece algum título – ou pelo menos ouviu falar – do padre Lauro Trevisan, de Santa Maria? Pois o homem – leio na Wikipédia – é autor de mais de 40 livros, todos eles best-sellers a nível internacional, com mais de dois milhões de exemplares vendidos. Em Portugal, as suas obras Apresse o Passo Que o Mundo Está a Mudar (2001), Como Usar o Seu Poder para Qualquer Coisa (2002),Conhece-te e Conhecerás o Teu Poder (2002), Regressão de Idade para a Libertação Total (2001) e Relax com Programação Positiva (2001) estão publicadas pela Editora Pergaminho. Os gaúchos têm uma celebridade em seus pagos e a desconhecem. Estes livros, você não os vê nem em livrarias. Exceto, é claro, na livraria que o padre administra em Santa Maria. São vendidos a partir de conferências e cursos de auto-ajuda.
Quem me acompanha, sabe de minha ojeriza aos best-sellers. Se um livro vendeu de repente um milhão de exemplares, este é um de meus critérios para não comprá-lo. Não existe tanta gente inteligente no mundo. Não existe um único best-seller em minha biblioteca. Aliás, quando saio atrás de um título, tenho de trotar entre uma livraria e outra, pois trata-se de livro geralmente pouco divulgado.
Os brasileiros estão lendo mais, diz Veja. Ora, de que adianta ler mais, quando o que se lê é isso? “O intelecto só precisa de uma faísca, mesmo que fraca, para acender o fogo da curiosidade e abrir uma clareira acolhedora que dará início ao interminável processo de enriquecimento do mundo interior. Qualquer livro pode ser essa faísca”. A frase soa a texto de auto-ajuda. Pelo jeito, o redator se deixou contaminar ao lidar com tanto lixo.
Paulo Coelho ou padre Marcelo, Zíbia ou Trevisan, Thalita ou Chalita não produzem faísca alguma, não acendem fogo algum nem abrem clareira alguma. Quem lê essa gente jamais vai chegar a Poe ou Pessoa, a Dostoievski ou Orwell, a Cervantes ou Nietzsche.
Não vejo vantagem alguma neste maior número de brasileiros que lêem, quando o que se lê é lixo.
segunda-feira, fevereiro 27, 2012
A prisão do futuro
Veja o Ministro da Justiça, Cesare Battisti, em 2030 explicando ao novo presidente do Gabão como o PT fez para ficar 27 anos no poder. Meu novo artigo para o OrdemLivre.
For the Fed, There's No Easy Exit
By GEORGE MELLOAN, WSJ
The crash of Zero Mostel's quasi-Ponzi scheme in 1968's "The Producers" left his partner Gene Wilder muttering, "No way out. No way out." Federal Reserve Chairman Ben Bernanke is in a somewhat similar position. Keynesian monetary "stimulus" has failed to revive the housing market, the federal deficit remains at a three-year flood tide, and the recovery is moving at ant-like speed. Americans enjoyed "The Producers." They're not enjoying this.
Presidential candidate Ron Paul's call to scuttle the Fed and return to a gold standard is getting surprising resonance with Republicans, judging from his strong showing in the Maine and Minnesota caucuses. Despite a rising chorus of complaints from seniors, pension funds and frugal savers about scanty returns on investments, the Fed has committed itself to nearly three more years of zero interest rates.
Mr. Bernanke defends that commitment on grounds that low interest rates will continue to make mortgages cheap and help the housing industry recover. But the housing market can't clear until the inventory of distressed housing is worked off. And that process is being inhibited by federal policies to forestall mortgage foreclosures, including a $25 billion shakedown of five big banks as a penalty for alleged foreclosure abuses.
There is no end in sight to the pressure on the Fed's balance sheet. The Fed has acquired over a half trillion dollars (net) of Treasury securities over the last 12 months. Its holdings are up to $1.665 trillion and it is financing some 40% of the deficit—which is now running at a $1.3 trillion annual rate and heading for another collision with the debt ceiling, possibly late this year.
The Fed still holds $836 billion of suspect mortgage-backed securities on its books, bought mainly to bail out Fannie Mae, Freddie Mac and AIG. The Fed lists them at par (the remaining principal value of the underlying mortgages). But sales from the AIG tranche over the last year have shown their market worth to be somewhere around 50 cents on the dollar.
The Fed nonetheless booked a surplus of $79.9 billion for 2011, mainly from the interest on its government securities. But by law that goes back to the Treasury. So in effect the Fed earns expenses and little else on its holdings, meanwhile taking a big risk. It is subject to a huge capital loss on its portfolio if interest rates rise and the market price of Treasurys goes down. That gives it one more incentive to hold interest rates as low as possible, despite the rising public clamor for higher returns on investment.
But as the U.S. economy continues its feeble recovery, banks are getting greater demand for more-lucrative industrial and commercial loans, which pay a much higher return than the quarter of a percent the Fed pays banks on its borrowings from the $1.5 trillion in reserves they hold in excess of their legal requirements. It uses those borrowings to buy government debt. The Fed could use its considerable muscle with the banks to hold on to those reserves, but denying lending to the private sector hardly furthers its professed goal of stimulating the economy.
Nonetheless, the Fed is indeed using its muscle to conscript banks into helping it shoulder the federal deficit. The "Volcker Rule" drafted by the Fed and other agencies that regulate banks is a product of the Dodd-Frank Act intended to prevent depository institutions from trading for their own account. But guess what? There's no restriction on trading in Treasurys. Thus the draft regulation joins Basel II regulations, which gives Treasurys a zero-risk rating in the risk-based capital requirements for banks, in tilting bank lending away from the private sector and toward supporting the federal government.
Former FDIC director Sheila Bair has called the Fed's Volcker Rule draft a 300-page "Rube Goldberg contraption," and even Paul Volcker has criticized it. A recent Journal article reported that foreign central bankers are furious that the U.S. Treasury escapes a ban that will apply to trading in their securities.
Bankers are up in arms as well, none of which helps Mr. Bernanke's relationship with the constituency he once represented before the Fed decided to become the handmaiden of the White House and Congress. But he has bigger troubles than that. The Treasury will keep rolling out tons of low-interest debt and someone has to buy it. Mr. Bernanke has been lucky that Japan and China continue to buy Treasurys and that European debt has been in bad odor, thus sending investors to U.S. bonds as a haven of last resort.
But how long can that last? Chinese and Japanese demand is slipping and there are at least some signs of light in Europe. All of the available signals point to the likelihood that the Fed will have to turn to more vigorous creation of new money (inflation) at some point—or face the possibility of rising market rates on government securities that sharply raise the Treasury's borrowing costs and devalue the Fed's enormous balance sheet.
No way out. No way out.
Mr. Melloan, a former columnist and deputy editor of the Journal editorial page, is the author of "The Great Money Binge: Spending Our Way to Socialism" (Simon & Schuster, 2009).
O fio de cabelo de uma mulher
Luiz Felipe Pondé, Folha de SP
Dias atrás escrevi que não me preocupo com a África nem com as baleias nem com você. Pânico na bancada da classe média...
Muita gente pergunta o que eu queria dizer com isso. Uma pessoa se indignou porque eu tive a ousadia de dizer que ele não era objeto de minha preocupação.
Se ele me lê, pensa ele, devo me preocupar com ele. Ele, ele, ele. Não. Sou indiferente a sua necessidade de autoestima.
Só levo a sério um argumento como este (quem me lê deve ser objeto de minha atenção) se nele estiver em jogo as leis de mercado e olhe lá. Mas pessoas indignadas normalmente acham que seus sentimentos morais são infinitamente mais caros do que as leis de mercado. Eu, de minha parte, sei que minha fisiologia é parte das leis de mercado.
Assim como a prostituta é a primeira e a mais sublime vocação de toda mulher, afirmo: sou lido, logo existo. Saber que eu tenho um preço é uma das formas mais belas de libertação que conheço.
Mas a queixa de nosso mal-amado está longe disso. É a queixa de um indignado com a maturidade.
Se Freud já dizia que pessoas adultas são uma raridade, hoje ficaria chocado com o fato de que infantilidade se tornou um direito de todo cidadão.
A maior desgraça da democracia, dizia Nelson Rodrigues, é que ela traz à tona a força numérica dos idiotas, que são a maioria da humanidade. Aceitar a idade adulta hoje em dia é tão raro como a virtude de uma mulher que bebeu vinho demais no jantar.
Aliás, devo pedir perdão às mulheres "fáceis", por compará-las a tão miserável condição: a recusa da maturidade.
Ainda bem que nem todo mundo que me lê ou me conhece depende de mim para se sentir amado, porque, antes de tudo, amo muito pouco. E, com os anos, menos ainda. O deserto pode ser uma graça.
Dou hoje uma indicação para os adultos que me leem. "Adulto" aqui, como sempre, não tem a ver com a data de nascimento no RG. Já vi pessoas muito jovens serem capazes de suportar "a hostilidade primitiva do mundo" ("Mito de Sísifo", outro livro de Camus) sem reclamar da gloriosa indiferença do Sol.
Assista à bela e econômica montagem do "O Estrangeiro", uma adaptação feita pelo dinamarquês Morten Kirkskov do livro com o mesmo nome do francês Albert Camus. Ela está em cartaz, até 4/3, no Teatro Cacilda Becker, com Guilherme Leme e direção de Vera Holtz. Uma pérola discreta, como deve ser tudo o que tem valor.
O estrangeiro da história, Meursault, vive em Argel, Argélia (país de Camus). Ele mata um árabe e é preso. Dias antes, sua mãe morrera. Ele não chorou no enterro.
Para muita gente, assim como para o promotor que condena Meursault, não chorar na morte da mãe é prova cabal de "ter o crime no coração" (antes mesmo de ele matar um "homem qualquer"), e é, portanto, o ato de um niilista.
Por isso, o promotor diz que Meursault tornou possível o parricídio ao ser julgado no dia seguinte, e, por isso mesmo, deveria ser julgado por ambos os crimes. Para o promotor, não chorar a morte da mãe é abrir as portas para o parricídio.
O fato de, no dia seguinte à morte da sua mãe, ele ter se deliciado, na praia, nos braços de uma mulher, Marie, cheia de amor para dar, era evidência de sua desumanidade. Pior: fora ao cinema com ela para ver uma comédia.
Vê-se que Camus era um apreciador do sexo frágil (coisa cada vez mais rara) na forma como descreve Marie, linda, cozinhando sua comida, de vestido solto e listrado, enchendo sua vida de desejo, com os cabelos caindo nos ombros. Marie usava aquele tipo de vestido de verão solto, que permitia Meursault tocar, como se fora seu dono, o calor úmido entre suas pernas.
Mas o promotor está enganado. Chorar no enterro da mãe pode ser tão falso como as indignações de hoje em dia.
Como diz Meursault ao padre: "Sua religião não vale um fio de cabelo de uma mulher". Em meio à "doce indiferença do mundo", o desejo por uma mulher pode ser mais difícil do que chorar a morte de uma mãe "distante".
Concluo, com uma ponta de dor, que sou da raça de Meursault.
Prefiro a hostilidade primitiva do mundo e mulheres fáceis com vestidos de verão.
Dias atrás escrevi que não me preocupo com a África nem com as baleias nem com você. Pânico na bancada da classe média...
Muita gente pergunta o que eu queria dizer com isso. Uma pessoa se indignou porque eu tive a ousadia de dizer que ele não era objeto de minha preocupação.
Se ele me lê, pensa ele, devo me preocupar com ele. Ele, ele, ele. Não. Sou indiferente a sua necessidade de autoestima.
Só levo a sério um argumento como este (quem me lê deve ser objeto de minha atenção) se nele estiver em jogo as leis de mercado e olhe lá. Mas pessoas indignadas normalmente acham que seus sentimentos morais são infinitamente mais caros do que as leis de mercado. Eu, de minha parte, sei que minha fisiologia é parte das leis de mercado.
Assim como a prostituta é a primeira e a mais sublime vocação de toda mulher, afirmo: sou lido, logo existo. Saber que eu tenho um preço é uma das formas mais belas de libertação que conheço.
Mas a queixa de nosso mal-amado está longe disso. É a queixa de um indignado com a maturidade.
Se Freud já dizia que pessoas adultas são uma raridade, hoje ficaria chocado com o fato de que infantilidade se tornou um direito de todo cidadão.
A maior desgraça da democracia, dizia Nelson Rodrigues, é que ela traz à tona a força numérica dos idiotas, que são a maioria da humanidade. Aceitar a idade adulta hoje em dia é tão raro como a virtude de uma mulher que bebeu vinho demais no jantar.
Aliás, devo pedir perdão às mulheres "fáceis", por compará-las a tão miserável condição: a recusa da maturidade.
Ainda bem que nem todo mundo que me lê ou me conhece depende de mim para se sentir amado, porque, antes de tudo, amo muito pouco. E, com os anos, menos ainda. O deserto pode ser uma graça.
Dou hoje uma indicação para os adultos que me leem. "Adulto" aqui, como sempre, não tem a ver com a data de nascimento no RG. Já vi pessoas muito jovens serem capazes de suportar "a hostilidade primitiva do mundo" ("Mito de Sísifo", outro livro de Camus) sem reclamar da gloriosa indiferença do Sol.
Assista à bela e econômica montagem do "O Estrangeiro", uma adaptação feita pelo dinamarquês Morten Kirkskov do livro com o mesmo nome do francês Albert Camus. Ela está em cartaz, até 4/3, no Teatro Cacilda Becker, com Guilherme Leme e direção de Vera Holtz. Uma pérola discreta, como deve ser tudo o que tem valor.
O estrangeiro da história, Meursault, vive em Argel, Argélia (país de Camus). Ele mata um árabe e é preso. Dias antes, sua mãe morrera. Ele não chorou no enterro.
Para muita gente, assim como para o promotor que condena Meursault, não chorar na morte da mãe é prova cabal de "ter o crime no coração" (antes mesmo de ele matar um "homem qualquer"), e é, portanto, o ato de um niilista.
Por isso, o promotor diz que Meursault tornou possível o parricídio ao ser julgado no dia seguinte, e, por isso mesmo, deveria ser julgado por ambos os crimes. Para o promotor, não chorar a morte da mãe é abrir as portas para o parricídio.
O fato de, no dia seguinte à morte da sua mãe, ele ter se deliciado, na praia, nos braços de uma mulher, Marie, cheia de amor para dar, era evidência de sua desumanidade. Pior: fora ao cinema com ela para ver uma comédia.
Vê-se que Camus era um apreciador do sexo frágil (coisa cada vez mais rara) na forma como descreve Marie, linda, cozinhando sua comida, de vestido solto e listrado, enchendo sua vida de desejo, com os cabelos caindo nos ombros. Marie usava aquele tipo de vestido de verão solto, que permitia Meursault tocar, como se fora seu dono, o calor úmido entre suas pernas.
Mas o promotor está enganado. Chorar no enterro da mãe pode ser tão falso como as indignações de hoje em dia.
Como diz Meursault ao padre: "Sua religião não vale um fio de cabelo de uma mulher". Em meio à "doce indiferença do mundo", o desejo por uma mulher pode ser mais difícil do que chorar a morte de uma mãe "distante".
Concluo, com uma ponta de dor, que sou da raça de Meursault.
Prefiro a hostilidade primitiva do mundo e mulheres fáceis com vestidos de verão.
quinta-feira, fevereiro 23, 2012
Sinais
Rodrigo Constantino
(O texto abaixo é o primeiro conto que o autor deste blog resolveu escrever, navegando por mares até então desconhecidos. Não se sabe se outros virão após esta estréia)
Ricardo abriu os olhos de repente. Ver ou não ver o relógio, eis a questão! Tomado por um intenso receio, ele já sabia não ter mais alternativa. Esticou a mão em meio à escuridão e puxou o relógio, colocando-o bem em frente aos seus olhos arregalados. 3:00. Não era 2:59, tampouco 3:01, mas sim 3:00, com uma precisão suíça. Tudo o que ele não desejava, ou achava que não desejava.
Subitamente, um forte calafrio tomou conta de seu corpo, da ponta dos pés até o último fio de cabelo. Estava suando frio. Ele não podia acreditar no que via. Em nítido desespero, cutucou com a delicadeza de um ogro sua mulher, Alissa, que dormia profundamente. Com brados apavorados, disse em sua voz rouca e trêmula:
- Acorda, Alissa! Acorda! Veja! São três em ponto! O que isso quer dizer? Será Ele? Caramba! Uma vida inteira de crenças puramente racionais colocada abaixo em um segundo! Não pode ser. Meu Deus!
- Calma, Ricardo! Você é muito bobo... fica calmo! Isso não é nada. Acontece. É pura coincidência. Seu relógio biológico foi programado para te despertar nesta hora. Deixa eu dormir que amanhã tenho que acordar cedo para trabalhar.
Mas a adrenalina já tinha consumido cada milímetro do corpo de Ricardo, totalmente retesado. Antes de ir dormir, na noite anterior, ele ainda tinha dito para Alissa, com ar jocoso:
- E se eu acordar às três horas em ponto? Isso vai ser claramente um sinal, um aviso.
Alissa bem que tinha alertado, com um toque de clarividência, que se isso acontecesse mesmo, tudo que ela queria era ser deixada em paz, dormindo. Mas isso já era pedir demais. Naquele momento, Ricardo soube a definição de medo, de uma forma que palavras não podem explicar.
Também, pudera: tudo conspirou contra o pobre coitado naquela noite! Parecia que os deuses tinham apenas sua existência em mente. Ele queria ler um livro leve, algum conto de humor de Tchékhov, algo que o fizesse relaxar para dormir melhor. Mas na minúscula travessia do escritório ao quarto, ele deparou com sua mulher e um filme instigante. Tratava-se de “O Exorcismo de Emily Rose”. Tinha que ser justo naquela noite! Com isso ele não contava.
De forma quase automática, sentou-se ao lado de Alissa e começou a acompanhar com interesse o filme. Ali, possivelmente, ele já sabia ter cometido um erro. Ou não seria um erro? Mas o fato é que não desgrudou mais os olhos da tela. E uma das partes que mais lhe chamou a atenção foi justamente quando o padre explicou o significado bíblico daquele horário, três horas da madrugada, que a sua advogada havia acordado ao som da gravação de uma suposta possessão de Emily. Era nada menos que a hora dos demônios, o inverso das três horas da tarde, um horário divino, quando Jesus teria sido morto. Neste horário, 3:00, os gatos costumam miar pois vêem os espíritos malignos.
Em qualquer outro dia, em qualquer outra hora, isso tudo teria sido motivo de piada para Ricardo. Ele sabia melhor! Já tinha lido Hume sobre as origens naturais das religiões, sabia com Popper que buscamos sempre confirmar nossas teorias em vez de refutá-las, conhecia com Nietzsche as motivações humanas, demasiado humanas por trás dos misticismos. Ou não sabia? Era justamente esta dúvida, novidade trazida bruscamente pela curiosa rede de coincidências daquela noite, que tanto o assustara. Pois tinha um detalhe extra: era noite de fortes ventos uivantes, prenúncio da tempestade que se aproximava. As portas de sua casa batiam como se uma mão invisível quisesse deliberadamente zombar de seu pavor. O assobio do vento forte remetia diretamente aos filmes de terror de sua infância. E justo naquela madrugada! Era acaso demais até para um ateu racional feito Ricardo!
Naquela madrugada, Ricardo foi salvo pelo Valium de sua mulher. A medicina poderia, uma vez mais, conter os arroubos místicos do ser humano. Mas a semente da dúvida já havia sido plantada na mente cética de Ricardo. Suas certezas davam lugar à angústia. E se aquilo foi um aviso? E se foi uma mensagem? Afinal, a racionalização serve justamente para encaixar os fatos em nossas teorias, mas nada pode mudar a imagem que os olhos remelentos de Ricardo captaram naquela madrugada: 3:00. Se ao menos fosse 2:59! Por que não 3:01? Mas não! Tinha que ser exatamente 3:00. Que baita relógio biológico esse, sendo que Ricardo sequer sabia que horas tinha se deitado para dormir. Um legítimo Hublot natural, só se for!
Desde então, quando Ricardo acorda no meio da madrugada, sente-se tentado a olhar o relógio, talvez em busca de um novo “sinal”, talvez para se convencer de que coincidências, por maiores que sejam, de fato existem. Mas na maioria das vezes, ele prefere simplesmente ignorar o relógio e tentar retomar o sono, pensando em outra coisa qualquer – quando isso é possível. Vai que ele olhe aquele maldito 3:00 novamente! Para que produzir “prova” contra si mesmo? Para que desafiar os demônios que hibernam em um canto esquecido de sua mente? Quem procura, acha! Afinal, já diz o famoso ditado: “No creo en las brujas, pero que las hay las hay”. Ainda que seja uma bruxa criada das profundezas de uma mente perturbada. Quem poderia realmente dizer?
O fato é que um ano depois desta fatídica noite, Ricardo vai dormir novamente com esta história na cabeça. Ele havia conversado sobre religião durante o dia, defendendo seu ateísmo publicamente e ridicularizando o poder das orações. Nada como o tempo para apagar aquelas lembranças do medo, do verdadeiro pavor que sentira naquela madrugada, desafiado pelo Desconhecido em suas mais sólidas crenças. Antes de dormir, ele pensa no horário mágico, e questiona qual seria sua reação se acordasse uma vez mais às três horas em ponto. Sorri e vai para a cama, razoavelmente relaxado.
Na madrugada, sua cadela de estimação, que sempre dorme no quarto do casal, começa a andar de um lado para o outro, fazendo um barulho irritante com suas patinhas sobre o piso de madeira, extremamente agitada. Ricardo acorda, abre os olhos e pensa se olha ou não a maldita hora. Afinal, seu suposto relógio biológico não pode controlar também as vontades de sua cachorrinha, pode? Olhar ou não olhar a hora, eis a questão! Há escolha? Ricardo tateia com a mão sua cabeceira, acha seu telefone, e clica no botão para ver o horário digital e luminoso. Lá estava estampado, bem diante de seus olhos incrédulos: 3:00.
(O texto abaixo é o primeiro conto que o autor deste blog resolveu escrever, navegando por mares até então desconhecidos. Não se sabe se outros virão após esta estréia)
Ricardo abriu os olhos de repente. Ver ou não ver o relógio, eis a questão! Tomado por um intenso receio, ele já sabia não ter mais alternativa. Esticou a mão em meio à escuridão e puxou o relógio, colocando-o bem em frente aos seus olhos arregalados. 3:00. Não era 2:59, tampouco 3:01, mas sim 3:00, com uma precisão suíça. Tudo o que ele não desejava, ou achava que não desejava.
Subitamente, um forte calafrio tomou conta de seu corpo, da ponta dos pés até o último fio de cabelo. Estava suando frio. Ele não podia acreditar no que via. Em nítido desespero, cutucou com a delicadeza de um ogro sua mulher, Alissa, que dormia profundamente. Com brados apavorados, disse em sua voz rouca e trêmula:
- Acorda, Alissa! Acorda! Veja! São três em ponto! O que isso quer dizer? Será Ele? Caramba! Uma vida inteira de crenças puramente racionais colocada abaixo em um segundo! Não pode ser. Meu Deus!
- Calma, Ricardo! Você é muito bobo... fica calmo! Isso não é nada. Acontece. É pura coincidência. Seu relógio biológico foi programado para te despertar nesta hora. Deixa eu dormir que amanhã tenho que acordar cedo para trabalhar.
Mas a adrenalina já tinha consumido cada milímetro do corpo de Ricardo, totalmente retesado. Antes de ir dormir, na noite anterior, ele ainda tinha dito para Alissa, com ar jocoso:
- E se eu acordar às três horas em ponto? Isso vai ser claramente um sinal, um aviso.
Alissa bem que tinha alertado, com um toque de clarividência, que se isso acontecesse mesmo, tudo que ela queria era ser deixada em paz, dormindo. Mas isso já era pedir demais. Naquele momento, Ricardo soube a definição de medo, de uma forma que palavras não podem explicar.
Também, pudera: tudo conspirou contra o pobre coitado naquela noite! Parecia que os deuses tinham apenas sua existência em mente. Ele queria ler um livro leve, algum conto de humor de Tchékhov, algo que o fizesse relaxar para dormir melhor. Mas na minúscula travessia do escritório ao quarto, ele deparou com sua mulher e um filme instigante. Tratava-se de “O Exorcismo de Emily Rose”. Tinha que ser justo naquela noite! Com isso ele não contava.
De forma quase automática, sentou-se ao lado de Alissa e começou a acompanhar com interesse o filme. Ali, possivelmente, ele já sabia ter cometido um erro. Ou não seria um erro? Mas o fato é que não desgrudou mais os olhos da tela. E uma das partes que mais lhe chamou a atenção foi justamente quando o padre explicou o significado bíblico daquele horário, três horas da madrugada, que a sua advogada havia acordado ao som da gravação de uma suposta possessão de Emily. Era nada menos que a hora dos demônios, o inverso das três horas da tarde, um horário divino, quando Jesus teria sido morto. Neste horário, 3:00, os gatos costumam miar pois vêem os espíritos malignos.
Em qualquer outro dia, em qualquer outra hora, isso tudo teria sido motivo de piada para Ricardo. Ele sabia melhor! Já tinha lido Hume sobre as origens naturais das religiões, sabia com Popper que buscamos sempre confirmar nossas teorias em vez de refutá-las, conhecia com Nietzsche as motivações humanas, demasiado humanas por trás dos misticismos. Ou não sabia? Era justamente esta dúvida, novidade trazida bruscamente pela curiosa rede de coincidências daquela noite, que tanto o assustara. Pois tinha um detalhe extra: era noite de fortes ventos uivantes, prenúncio da tempestade que se aproximava. As portas de sua casa batiam como se uma mão invisível quisesse deliberadamente zombar de seu pavor. O assobio do vento forte remetia diretamente aos filmes de terror de sua infância. E justo naquela madrugada! Era acaso demais até para um ateu racional feito Ricardo!
Naquela madrugada, Ricardo foi salvo pelo Valium de sua mulher. A medicina poderia, uma vez mais, conter os arroubos místicos do ser humano. Mas a semente da dúvida já havia sido plantada na mente cética de Ricardo. Suas certezas davam lugar à angústia. E se aquilo foi um aviso? E se foi uma mensagem? Afinal, a racionalização serve justamente para encaixar os fatos em nossas teorias, mas nada pode mudar a imagem que os olhos remelentos de Ricardo captaram naquela madrugada: 3:00. Se ao menos fosse 2:59! Por que não 3:01? Mas não! Tinha que ser exatamente 3:00. Que baita relógio biológico esse, sendo que Ricardo sequer sabia que horas tinha se deitado para dormir. Um legítimo Hublot natural, só se for!
Desde então, quando Ricardo acorda no meio da madrugada, sente-se tentado a olhar o relógio, talvez em busca de um novo “sinal”, talvez para se convencer de que coincidências, por maiores que sejam, de fato existem. Mas na maioria das vezes, ele prefere simplesmente ignorar o relógio e tentar retomar o sono, pensando em outra coisa qualquer – quando isso é possível. Vai que ele olhe aquele maldito 3:00 novamente! Para que produzir “prova” contra si mesmo? Para que desafiar os demônios que hibernam em um canto esquecido de sua mente? Quem procura, acha! Afinal, já diz o famoso ditado: “No creo en las brujas, pero que las hay las hay”. Ainda que seja uma bruxa criada das profundezas de uma mente perturbada. Quem poderia realmente dizer?
O fato é que um ano depois desta fatídica noite, Ricardo vai dormir novamente com esta história na cabeça. Ele havia conversado sobre religião durante o dia, defendendo seu ateísmo publicamente e ridicularizando o poder das orações. Nada como o tempo para apagar aquelas lembranças do medo, do verdadeiro pavor que sentira naquela madrugada, desafiado pelo Desconhecido em suas mais sólidas crenças. Antes de dormir, ele pensa no horário mágico, e questiona qual seria sua reação se acordasse uma vez mais às três horas em ponto. Sorri e vai para a cama, razoavelmente relaxado.
Na madrugada, sua cadela de estimação, que sempre dorme no quarto do casal, começa a andar de um lado para o outro, fazendo um barulho irritante com suas patinhas sobre o piso de madeira, extremamente agitada. Ricardo acorda, abre os olhos e pensa se olha ou não a maldita hora. Afinal, seu suposto relógio biológico não pode controlar também as vontades de sua cachorrinha, pode? Olhar ou não olhar a hora, eis a questão! Há escolha? Ricardo tateia com a mão sua cabeceira, acha seu telefone, e clica no botão para ver o horário digital e luminoso. Lá estava estampado, bem diante de seus olhos incrédulos: 3:00.
quarta-feira, fevereiro 22, 2012
The Tragic Greek Sideshow
Editorial do WSJ
The good news about the latest Greek bailout is that it is much less consequential to Europe or the global economy than the first bailout two years ago. The tragedy is that the cost will be the crushing of the Greek economy and the diminishing of democracy—in its Athens birthplace, no less.
More than saving Greece, the last two years have been mainly about insulating the rest of Europe from Greece. This Europe has gradually done. Tuesday's bailout takes another such step by protecting the European Central Bank from taking losses on its Greek bonds, while forcing private bondholders to take losses of as much as 70% in net present value.
This is a far better deal than they arguably deserve, given that Greek debt will remain above a crippling 120% of GDP even under the most optimistic scenarios. A better outcome would have been a steeper haircut and greater debt reduction, but that would have hurt the European banks that lent so much money to Greece. It also might have made the banks less eager to lend to other European countries.
But if Greece is now a sideshow, it is a tragic one. Under the burden of debt and austerity policies, the Greek economy won't recover for years. Some of the reforms imposed on Athens by the rest of Europe will force spending cuts that were inevitable and will be beneficial in the long term, such as the job cuts in Greece's bloated government. But what Greece really needs are supply-side reforms that will make it easier to form new businesses, attract new investment, and keep Greek young people from fleeing the country.
Most striking in this deal is the damage to Greek self-government. The EU's price for this bailout were assurances from Greece's two biggest parties—Pasok on the center-left and New Democracy on the center-right—that they maintain current policies after elections this spring. Party leaders swallowed that pill to get the bailout, but Greek voters are understandably dismayed.
This tension—between democracy and sovereignty on the one hand and technocracy and "solidarity" on the other—has long been at the heart of Europe's unity project. Europe's solution for Greece has been to lurch even further in the direction of central control at the expense of local democracy. As so often is true in Europe, what goes by the name solidarity is really the self-interest of the strongest countries.
It would have been far better had Europe let Greece default two years ago, reducing its debt to manageable levels and confronting the economic pain of reform earlier. The rest of Europe may congratulate itself this week on one more example of its "solidarity." But two years later, everything is worse for Greece. This is not the glory that the founders of the euro project imagined.
The good news about the latest Greek bailout is that it is much less consequential to Europe or the global economy than the first bailout two years ago. The tragedy is that the cost will be the crushing of the Greek economy and the diminishing of democracy—in its Athens birthplace, no less.
More than saving Greece, the last two years have been mainly about insulating the rest of Europe from Greece. This Europe has gradually done. Tuesday's bailout takes another such step by protecting the European Central Bank from taking losses on its Greek bonds, while forcing private bondholders to take losses of as much as 70% in net present value.
This is a far better deal than they arguably deserve, given that Greek debt will remain above a crippling 120% of GDP even under the most optimistic scenarios. A better outcome would have been a steeper haircut and greater debt reduction, but that would have hurt the European banks that lent so much money to Greece. It also might have made the banks less eager to lend to other European countries.
But if Greece is now a sideshow, it is a tragic one. Under the burden of debt and austerity policies, the Greek economy won't recover for years. Some of the reforms imposed on Athens by the rest of Europe will force spending cuts that were inevitable and will be beneficial in the long term, such as the job cuts in Greece's bloated government. But what Greece really needs are supply-side reforms that will make it easier to form new businesses, attract new investment, and keep Greek young people from fleeing the country.
Most striking in this deal is the damage to Greek self-government. The EU's price for this bailout were assurances from Greece's two biggest parties—Pasok on the center-left and New Democracy on the center-right—that they maintain current policies after elections this spring. Party leaders swallowed that pill to get the bailout, but Greek voters are understandably dismayed.
This tension—between democracy and sovereignty on the one hand and technocracy and "solidarity" on the other—has long been at the heart of Europe's unity project. Europe's solution for Greece has been to lurch even further in the direction of central control at the expense of local democracy. As so often is true in Europe, what goes by the name solidarity is really the self-interest of the strongest countries.
It would have been far better had Europe let Greece default two years ago, reducing its debt to manageable levels and confronting the economic pain of reform earlier. The rest of Europe may congratulate itself this week on one more example of its "solidarity." But two years later, everything is worse for Greece. This is not the glory that the founders of the euro project imagined.
Why We Can't Believe the Fed
By BENN STEIL, WSJ
The bank's predictions of its own behavior are only as good as its predictions of the economy. It has a poor track record.
The Federal Reserve's interest rate-setting Open Market Committee recently broke new ground in Chairman Ben Bernanke's transparency campaign by proffering predictions of its own behavior over the next three years. This is a huge innovation for the Fed, which has never predicted economic data it directly controls.
The idea was first to anchor market expectations that short-term rates will stay at historic lows, thereby encouraging investors and companies to move more aggressively into longer-term, riskier assets with higher expected returns—which the Fed hopes will fuel economic growth. But the Fed also set for itself a formal, long-run inflation target of 2%.
Consumer Price Index (CPI) inflation is currently running at 2.9%; so-called core inflation, excluding energy and food prices, at 2.3%. The 2% target was meant to reassure the market that the Fed's expectation of continued low rates does not imply a reduced commitment to price stability.
If the Fed has a good handle on where the economy is heading over the next several years, then its pledges of extended low rates and a 2% inflation target imply little risk of its needing to change course and jar the markets. But how good is the Fed's actual track record on predicting the economy?
The Fed studied its own staff's forecasting performance over the period 1986 to 2006. It found that the average root mean squared error—or the deviation from the actual result—for the staff's next-year gross domestic product (GDP) forecasts was 1.34, compared with 1.29 by what the Fed describes as a "large group" of private forecasters. That is, the Fed's predicting performance was worse than that of market-watchers outside the Fed. For next-year CPI forecasts, the error term was 1.03 for Fed staff, and only 0.93 for private forecasters. The Fed's conclusion? In its own words, its "historical forecast errors are large in economic terms."
How about the Fed's longer-term predictions? The Fed started publishing the Board of Governors' and Reserve Banks' three-year forecasts in October 2007. At that time, the GDP growth forecasts among this group of 17 ranged from 2.2% to 2.7%. Actual 2010 GDP growth was 3%, outside the Fed's range.
The Fed forecasters told us that unemployment in 2010 would be in a range between 4.6% and 5%. In fact, it averaged about twice that, or 9.6%. The forecasters further predicted that both Personal Consumption Expenditures inflation (PCE, similar to CPI) and core PCE inflation would be in a range from 1.5% and 2%. The former came in at 1.3% and the latter at 1%, again outside the Fed's range. The Fed's scorecard on its 2007 three-year forecasts: 0 for 4.
In short, the Fed's premise that it can speak with authority about the future is flawed. During the two decades to 2006, its own experts were worse than outside ones in predicting one-year economic data. Since the start of the crisis in 2007, its three-year predictions have been worthless.
This means Mr. Bernanke's new transparency campaign actually injects significant new risks into the business of Fed-watching. Earlier Open Market Committee statements carried a warning that "future policy adjustments will depend on the evolution of the outlook for both inflation and economic growth, as implied by incoming information." The Fed is now saying something entirely different: that it is confident that incoming information will not materially change the Fed's current expectations—which justifies keeping policy constant over the next three years.
Yet since history flatly contradicts the notion that the Fed can safely pledge interest rates three years out, there is a significant likelihood that the credibility of the Fed's new inflation target will crumble, as it keeps interest rates down despite rising prices, or that its effort to persuade the market that rates will stay near zero will end in shambles.
Lurking uncomfortably in the background is the fact that six of the 17 Fed officials whom the Fed asked for predictions actually think that interest rates will need to rise by 2013, and three of those six believe the rise should actually come this year. Philadelphia Federal Reserve Bank President Charles Plosser drew attention to the growing split in the committee on Jan. 30 by insisting that the Open Market Committee rate statement was "not a commitment" and was "contingent on the evolution of the economy"—which is precisely the old Fed mantra.
There is a sense that what Mr. Bernanke is calling transparency is in fact an ill-conceived effort to bind dissidents on the committee closer to his own views. I suspect the result of the effort will be very different: to increase the level of distrust in the markets surrounding official Fed targets and expectations.
Mr. Steil is director of international economics at the Council on Foreign Relations and a co-winner of the 2010 Hayek Book Prize.
The bank's predictions of its own behavior are only as good as its predictions of the economy. It has a poor track record.
The Federal Reserve's interest rate-setting Open Market Committee recently broke new ground in Chairman Ben Bernanke's transparency campaign by proffering predictions of its own behavior over the next three years. This is a huge innovation for the Fed, which has never predicted economic data it directly controls.
The idea was first to anchor market expectations that short-term rates will stay at historic lows, thereby encouraging investors and companies to move more aggressively into longer-term, riskier assets with higher expected returns—which the Fed hopes will fuel economic growth. But the Fed also set for itself a formal, long-run inflation target of 2%.
Consumer Price Index (CPI) inflation is currently running at 2.9%; so-called core inflation, excluding energy and food prices, at 2.3%. The 2% target was meant to reassure the market that the Fed's expectation of continued low rates does not imply a reduced commitment to price stability.
If the Fed has a good handle on where the economy is heading over the next several years, then its pledges of extended low rates and a 2% inflation target imply little risk of its needing to change course and jar the markets. But how good is the Fed's actual track record on predicting the economy?
The Fed studied its own staff's forecasting performance over the period 1986 to 2006. It found that the average root mean squared error—or the deviation from the actual result—for the staff's next-year gross domestic product (GDP) forecasts was 1.34, compared with 1.29 by what the Fed describes as a "large group" of private forecasters. That is, the Fed's predicting performance was worse than that of market-watchers outside the Fed. For next-year CPI forecasts, the error term was 1.03 for Fed staff, and only 0.93 for private forecasters. The Fed's conclusion? In its own words, its "historical forecast errors are large in economic terms."
How about the Fed's longer-term predictions? The Fed started publishing the Board of Governors' and Reserve Banks' three-year forecasts in October 2007. At that time, the GDP growth forecasts among this group of 17 ranged from 2.2% to 2.7%. Actual 2010 GDP growth was 3%, outside the Fed's range.
The Fed forecasters told us that unemployment in 2010 would be in a range between 4.6% and 5%. In fact, it averaged about twice that, or 9.6%. The forecasters further predicted that both Personal Consumption Expenditures inflation (PCE, similar to CPI) and core PCE inflation would be in a range from 1.5% and 2%. The former came in at 1.3% and the latter at 1%, again outside the Fed's range. The Fed's scorecard on its 2007 three-year forecasts: 0 for 4.
In short, the Fed's premise that it can speak with authority about the future is flawed. During the two decades to 2006, its own experts were worse than outside ones in predicting one-year economic data. Since the start of the crisis in 2007, its three-year predictions have been worthless.
This means Mr. Bernanke's new transparency campaign actually injects significant new risks into the business of Fed-watching. Earlier Open Market Committee statements carried a warning that "future policy adjustments will depend on the evolution of the outlook for both inflation and economic growth, as implied by incoming information." The Fed is now saying something entirely different: that it is confident that incoming information will not materially change the Fed's current expectations—which justifies keeping policy constant over the next three years.
Yet since history flatly contradicts the notion that the Fed can safely pledge interest rates three years out, there is a significant likelihood that the credibility of the Fed's new inflation target will crumble, as it keeps interest rates down despite rising prices, or that its effort to persuade the market that rates will stay near zero will end in shambles.
Lurking uncomfortably in the background is the fact that six of the 17 Fed officials whom the Fed asked for predictions actually think that interest rates will need to rise by 2013, and three of those six believe the rise should actually come this year. Philadelphia Federal Reserve Bank President Charles Plosser drew attention to the growing split in the committee on Jan. 30 by insisting that the Open Market Committee rate statement was "not a commitment" and was "contingent on the evolution of the economy"—which is precisely the old Fed mantra.
There is a sense that what Mr. Bernanke is calling transparency is in fact an ill-conceived effort to bind dissidents on the committee closer to his own views. I suspect the result of the effort will be very different: to increase the level of distrust in the markets surrounding official Fed targets and expectations.
Mr. Steil is director of international economics at the Council on Foreign Relations and a co-winner of the 2010 Hayek Book Prize.
Gambler? No, I am a compulsive capitalist
By Luke Johnson, Financial Times
Are entrepreneurs really just gamblers at heart? I don’t believe so, but that view reflects my own prejudices. I have never enjoyed playing games of chance for money; when I gamble I prefer to be the house. So rather than bet as a punter, I have owned bookmakers, bingo halls, greyhound tracks and suchlike.
My attitude is partly influenced by my undergraduate degree, which included a course in statistics. That involved studying the laws of probability. Ever since, I have avoided financial transactions where the likelihood of losing appears high.
Yet some entrepreneurs undertake ventures at long odds. They back high-risk business ideas either because they are in denial about the hazards or because they are emotionally committed to the project. Gamblers wager because they feel lucky, for escapism, for entertainment, or because they lack the power to stop. The motivations are rather different.
I recently became chairman of a charity called Action on Addiction that deals mainly with substance abuse; but many experts also consider behavioural problems like pathological gambling to be an addiction too. And even though I don’t consider entrepreneurial speculation to be gambling, I do suspect that I am a compulsive capitalist – I cannot resist business opportunities. Plenty of serial entrepreneurs possess the same weakness.
Why do we do it? Boredom perhaps, a craving for stimulation, unslaked ambition, a new challenge, curiosity or simply habit – who knows? I suppose, like the parable of the scorpion who cannot resist stinging the frog carrying him across the river, it is just what we do.
My friends and wife sometimes despair: why yet another venture? Surely enough is enough. But it never is. And that might be why entrepreneurs who have already made it insist upon rolling the dice again – even when renewed perils cannot be rationalised. How else does one explain why Adolf Merckle, reputed to be worth $9bn, brought his industrial empire to the edge of ruin by losing huge sums in a misguided bet on the shares of Volkswagen? Tragically he committed suicide when the investment went wrong.
I like to think that the fundamental distinction between gambling and the sort of business investments I make is about a degree of influence over the outcome. Taking a flyer by buying a lottery ticket is something over which one has no control. By contrast, staking money on the success of a start-up is a matter of judgment and work – you can influence the result.
The appeal of gambling is the uncertain outcome; entrepreneurship is about eliminating uncertainties. Astute entrepreneurs are constantly trying to reduce their downside and improve their chances of winning. Moreover part of the lure of gambling is that it seems to be easy money. Whereas founding a business takes effort. I don’t condemn gambling as an immoral activity,
but I do believe taking business
risks in starting or buying an enterprise adds a great deal more value to society.
Unfortunately those who attack capitalism and don’t understand entrepreneurs tend to see gambling, speculation, equity investing, venture capital and so on as the same thing. But the critical difference is that gambling is a zero-sum proposition – players trading stakes, less the house cut. Investing, on the other hand, generates positive returns to society – in the form of inventions, products, resources and jobs.
This is why comparing the stock market to a casino is childish. At its heart the former is a device to raise finance for industry. Meanwhile the latter is an amusement centre for people to play games for cash. Issues like this are about more than semantics, they reflect bias against commerce. The stock market should fulfil its intended function and fuel the creation of wealth and jobs. Perhaps financial engineering like hedge funds and derivatives trading are rather closer to gambling than real business, and their growth has helped crowd out the proper purpose of capital markets. Too often, unfortunately, the truth about business is obscured and distorted by a bloated financial sector.
The writer runs Risk Capital Partners, a private equity firm, and is chairman of the Royal Society of Arts
Are entrepreneurs really just gamblers at heart? I don’t believe so, but that view reflects my own prejudices. I have never enjoyed playing games of chance for money; when I gamble I prefer to be the house. So rather than bet as a punter, I have owned bookmakers, bingo halls, greyhound tracks and suchlike.
My attitude is partly influenced by my undergraduate degree, which included a course in statistics. That involved studying the laws of probability. Ever since, I have avoided financial transactions where the likelihood of losing appears high.
Yet some entrepreneurs undertake ventures at long odds. They back high-risk business ideas either because they are in denial about the hazards or because they are emotionally committed to the project. Gamblers wager because they feel lucky, for escapism, for entertainment, or because they lack the power to stop. The motivations are rather different.
I recently became chairman of a charity called Action on Addiction that deals mainly with substance abuse; but many experts also consider behavioural problems like pathological gambling to be an addiction too. And even though I don’t consider entrepreneurial speculation to be gambling, I do suspect that I am a compulsive capitalist – I cannot resist business opportunities. Plenty of serial entrepreneurs possess the same weakness.
Why do we do it? Boredom perhaps, a craving for stimulation, unslaked ambition, a new challenge, curiosity or simply habit – who knows? I suppose, like the parable of the scorpion who cannot resist stinging the frog carrying him across the river, it is just what we do.
My friends and wife sometimes despair: why yet another venture? Surely enough is enough. But it never is. And that might be why entrepreneurs who have already made it insist upon rolling the dice again – even when renewed perils cannot be rationalised. How else does one explain why Adolf Merckle, reputed to be worth $9bn, brought his industrial empire to the edge of ruin by losing huge sums in a misguided bet on the shares of Volkswagen? Tragically he committed suicide when the investment went wrong.
I like to think that the fundamental distinction between gambling and the sort of business investments I make is about a degree of influence over the outcome. Taking a flyer by buying a lottery ticket is something over which one has no control. By contrast, staking money on the success of a start-up is a matter of judgment and work – you can influence the result.
The appeal of gambling is the uncertain outcome; entrepreneurship is about eliminating uncertainties. Astute entrepreneurs are constantly trying to reduce their downside and improve their chances of winning. Moreover part of the lure of gambling is that it seems to be easy money. Whereas founding a business takes effort. I don’t condemn gambling as an immoral activity,
but I do believe taking business
risks in starting or buying an enterprise adds a great deal more value to society.
Unfortunately those who attack capitalism and don’t understand entrepreneurs tend to see gambling, speculation, equity investing, venture capital and so on as the same thing. But the critical difference is that gambling is a zero-sum proposition – players trading stakes, less the house cut. Investing, on the other hand, generates positive returns to society – in the form of inventions, products, resources and jobs.
This is why comparing the stock market to a casino is childish. At its heart the former is a device to raise finance for industry. Meanwhile the latter is an amusement centre for people to play games for cash. Issues like this are about more than semantics, they reflect bias against commerce. The stock market should fulfil its intended function and fuel the creation of wealth and jobs. Perhaps financial engineering like hedge funds and derivatives trading are rather closer to gambling than real business, and their growth has helped crowd out the proper purpose of capital markets. Too often, unfortunately, the truth about business is obscured and distorted by a bloated financial sector.
The writer runs Risk Capital Partners, a private equity firm, and is chairman of the Royal Society of Arts
terça-feira, fevereiro 21, 2012
Dilma, não esquece o Galeão! - O Globo
Aproveitando o clima de carnaval, que coloca a Cidade Maravilhosa em evidência mundial, e também a quebra de mais um tabu ideológico dos petistas, gostaria de lançar aqui a campanha pela privatização do Galeão. Por que Garulhos, Brasília e Campinas, e não o nosso "querido" Galeão, por onde circulam quase 15 milhões de passageiros por ano? Com a expansão da classe média, turbinada pelo crescimento chinês e regada a crédito, a quantidade de passageiros que usam o Galeão cresceu 11% ao ano nos últimos cinco anos. A gestão da Infraero não foi capaz de acompanhar este ritmo. Qualquer viajante que precisa utilizar o Galeão com frequência sabe o martírio que é enfrentar tal desafio.
A privatização de aeroportos não é uma novidade, e tem ocorrido no mundo todo desde que Thatcher iniciou o processo em 1987. Nova Zelândia, Cingapura, Áustria, México, Malásia e Tailândia foram países que seguiram a mesma trilha, privatizando aeroportos que experimentaram expressivos ganhos de produtividade. Nos Estados Unidos também existem vários aeroportos privados.
Não é difícil compreender por que a gestão estatal acaba sendo ineficiente. O governo não é bom empresário, pois lhe faltam os mecanismos adequados de incentivo. A burocracia estatal busca a rotina, não a inovação. O uso de recursos da "viúva" faz com que não exista preocupação com a rentabilidade do negócio. Logo, satisfazer o cliente não é um foco relevante. A estabilidade dos empregados faz com que fique impossível punir a ineficiência e premiar a competência com base na meritocracia, típica do setor privado.
Nas estatais, os interesses políticos sobrepujam os interesses econômicos, fundamentais para se prestar bons serviços. Qualquer cidadão acostumado com a visita rotineira às repartições públicas sabe bem do que estou falando. Para piorar as coisas, no Brasil é crime o "desacato a funcionário público", com pena de até dois anos de detenção ou multa. Como desacato é algo um tanto arbitrário, se o cliente elevar o tom da voz já pode ser enquadrado na lei. Todo cuidado é pouco, viajante!
O ranço ideológico, especialmente do PT, sempre foi uma enorme barreira contra a privatização. O setor privado era visto com enorme desconfiança, o lucro era obra de algum pacto mefistofélico, e os interesses nacionais eram confundidos com a necessidade de controle estatal. Foi com esta mentalidade retrógrada que o governo brasileiro resolveu atuar como empresário em diversos setores.
Após décadas de serviços ruins, bilhões em prejuízos, muita corrupção e atraso tecnológico, teve início a era da desestatização. Justiça seja feita, os tucanos partiram para este caminho a contragosto, por necessidade e não por convicção (como faz falta um partido realmente liberal no Brasil). Tanto que nunca souberam defender abertamente o sucesso das privatizações. Quem esqueceu a cena patética de Alckmin em 2006 posando de outdoor ambulante das estatais, para negar a "acusação" de privatista?
O PT sempre fez de tudo para impedir esta etapa crucial para o progresso do país. Se dependesse dos petistas, a Embraer ainda faria sucatas voadoras, as ferrovias estariam abandonadas, a Telebrás estaria na era analógica e a Vale jamais seria o ícone de excelência que é hoje. Em toda eleição o partido apelava para o "terrorismo" ideológico, alegando que os adversários iriam cometer este terrível pecado que é a privatização.
Nada como o pragmatismo do poder. Com a Copa do Mundo e as Olimpíadas chegando, e a falta de recursos para investimentos (não sobra muito depois de tantos gastos assistencialistas e com pessoal), eis que o próprio PT resolveu privatizar aeroportos! Está certo que houve grande atraso por culpa do ex-presidente Lula. Está certo também que o modelo escolhido foi repleto de falhas, dependeu do BNDES (sempre ele) para garantir financiamento, e foi realizado às pressas.
Ainda assim, antes tarde do que nunca. Mesmo com a forte presença dos fundos de pensão nos grupos vencedores, o fato é que R$ 25 bilhões serão arrecadados pelo governo, e a gestão sairá da Infraero. Quanto valeria o Galeão em um leilão programado com calma, sob forte concorrência internacional?
Aproveitemos que o Brasil está na moda e que os investidores do mundo todo estão desesperados em busca de oportunidades. Nós nem nos importamos com a discussão semântica se é privatização ou não, desde que a gestão fique com a iniciativa privada, em busca de lucros. É a melhor garantia que os usuários têm para melhorias do serviço. Até porque pior do que está não fica!
Rodrigo Constantino
A privatização de aeroportos não é uma novidade, e tem ocorrido no mundo todo desde que Thatcher iniciou o processo em 1987. Nova Zelândia, Cingapura, Áustria, México, Malásia e Tailândia foram países que seguiram a mesma trilha, privatizando aeroportos que experimentaram expressivos ganhos de produtividade. Nos Estados Unidos também existem vários aeroportos privados.
Não é difícil compreender por que a gestão estatal acaba sendo ineficiente. O governo não é bom empresário, pois lhe faltam os mecanismos adequados de incentivo. A burocracia estatal busca a rotina, não a inovação. O uso de recursos da "viúva" faz com que não exista preocupação com a rentabilidade do negócio. Logo, satisfazer o cliente não é um foco relevante. A estabilidade dos empregados faz com que fique impossível punir a ineficiência e premiar a competência com base na meritocracia, típica do setor privado.
Nas estatais, os interesses políticos sobrepujam os interesses econômicos, fundamentais para se prestar bons serviços. Qualquer cidadão acostumado com a visita rotineira às repartições públicas sabe bem do que estou falando. Para piorar as coisas, no Brasil é crime o "desacato a funcionário público", com pena de até dois anos de detenção ou multa. Como desacato é algo um tanto arbitrário, se o cliente elevar o tom da voz já pode ser enquadrado na lei. Todo cuidado é pouco, viajante!
O ranço ideológico, especialmente do PT, sempre foi uma enorme barreira contra a privatização. O setor privado era visto com enorme desconfiança, o lucro era obra de algum pacto mefistofélico, e os interesses nacionais eram confundidos com a necessidade de controle estatal. Foi com esta mentalidade retrógrada que o governo brasileiro resolveu atuar como empresário em diversos setores.
Após décadas de serviços ruins, bilhões em prejuízos, muita corrupção e atraso tecnológico, teve início a era da desestatização. Justiça seja feita, os tucanos partiram para este caminho a contragosto, por necessidade e não por convicção (como faz falta um partido realmente liberal no Brasil). Tanto que nunca souberam defender abertamente o sucesso das privatizações. Quem esqueceu a cena patética de Alckmin em 2006 posando de outdoor ambulante das estatais, para negar a "acusação" de privatista?
O PT sempre fez de tudo para impedir esta etapa crucial para o progresso do país. Se dependesse dos petistas, a Embraer ainda faria sucatas voadoras, as ferrovias estariam abandonadas, a Telebrás estaria na era analógica e a Vale jamais seria o ícone de excelência que é hoje. Em toda eleição o partido apelava para o "terrorismo" ideológico, alegando que os adversários iriam cometer este terrível pecado que é a privatização.
Nada como o pragmatismo do poder. Com a Copa do Mundo e as Olimpíadas chegando, e a falta de recursos para investimentos (não sobra muito depois de tantos gastos assistencialistas e com pessoal), eis que o próprio PT resolveu privatizar aeroportos! Está certo que houve grande atraso por culpa do ex-presidente Lula. Está certo também que o modelo escolhido foi repleto de falhas, dependeu do BNDES (sempre ele) para garantir financiamento, e foi realizado às pressas.
Ainda assim, antes tarde do que nunca. Mesmo com a forte presença dos fundos de pensão nos grupos vencedores, o fato é que R$ 25 bilhões serão arrecadados pelo governo, e a gestão sairá da Infraero. Quanto valeria o Galeão em um leilão programado com calma, sob forte concorrência internacional?
Aproveitemos que o Brasil está na moda e que os investidores do mundo todo estão desesperados em busca de oportunidades. Nós nem nos importamos com a discussão semântica se é privatização ou não, desde que a gestão fique com a iniciativa privada, em busca de lucros. É a melhor garantia que os usuários têm para melhorias do serviço. Até porque pior do que está não fica!
Rodrigo Constantino
sábado, fevereiro 18, 2012
Em busca do Paraíso
Rodrigo Constantino
“Devemos buscar a perfeição na criação, na vocação, no amor, no prazer. Mas tudo isso no campo individual. No coletivo, não devemos tentar trazer a felicidade para toda a sociedade. O paraíso não é igual para todos.” (Mario Vargas Llosa)
Qualquer pessoa minimamente sensível ficaria estarrecida com a condição de vida da classe operária na França durante o século 19. Era o caso de Flora Tistán, feminista, socialista e autora do livro “A União Operária”. Ela dedicou os últimos anos de sua curta vida à luta pelo paraíso terrestre, por uma revolução pacifista que iria trazer dignidade aos trabalhadores e igualdade para as mulheres.
Flora era avó do pintor impressionista Paul Gauguin, que acabou seus dias isolado em uma ilha longínqua da Polinésia, consumido pela sífilis. Koke, como era conhecido entre os nativos maoris, fora para lugares exóticos em busca do paraíso terrestre, longe dos preconceitos burgueses de sua França. Avó e neto compartilhavam, além dos laços consangüíneos, este desejo incontrolável de partir em uma busca messiânica e utópica, contra a sociedade repressora e moralista de suas épocas. É este o enredo histórico romanceado por Mario Vargas Llosa em “O Paraíso na Outra Esquina”.
Com sua habilidade incomum para dar vida aos personagens históricos, Vargas Llosa faz o leitor mergulhar na consciência imaginária destas duas figuras complexas, com uma narrativa que prende do começo ao fim. O autor nos apresenta a hipótese de como o sonho de uma utopia terrena pode ser poderoso, conquistando a vítima de tal forma que ela não consegue mais controlar suas escolhas. Tudo aquilo que pareceria normal, racional perante o olhar da sociedade, acaba deixado de lado em troca de um chamado tão forte a ponto de ofuscar todo o resto.
O que leva um corretor de bolsa bem-sucedido, de 35 anos, casado e com cinco filhos, a abandonar tudo e partir para ilhas distantes em busca da obra-prima em sua recém-descoberta arte da pintura? Gauguin estava convencido de que precisava rejeitar os preconceitos burgueses de sua civilização e procurar estímulo nos bárbaros, nos selvagens que ainda não foram civilizados e, portanto, agiam por puro instinto. A Europa cristã, segundo o pintor, havia incutido angústias e remorsos, a sensação de culpa nas pessoas, especialmente em relação ao sexo. Era preciso sair à procura do instinto selvagem, livre de tais amarras moralistas.
Já a avó Flora, diante do machismo tosco de sua época, inclusive de seu marido asqueroso, e observando o sofrimento e a miséria dos pobres trabalhadores, sairia em busca de nada menos que a redenção humana. Um novo mundo de harmonia e paz seria possível, e ela recebera o chamado para liderar o processo de mudança, como uma messias. O lucro, veneno da sociedade, as armas e o Exército, tudo seria abolido neste novo mundo de paz. E quando os próprios operários não queriam saber de nada desta revolução, era porque não passavam de uns bárbaros estupidificados, dependentes da liderança de uma elite esclarecida.
Nada ficaria entre Flora e sua cruzada, nem mesmo seus filhos, que teriam de pagar um preço em nome do sacrifício da mãe. Os fins louváveis justificavam esta necessidade compreensível. O mesmo valia para seu neto, que, em nome do regresso ao selvagem, passou a defender o canibalismo e a praticar a pedofilia. Tudo era válido, pois qualquer freio não passava de um resquício do moralismo burguês e cristão, que mantinha este conceito ultrapassado de família e casamento. Junto ao então amigo Vincent van Gogh, o Holandês Louco, Gauguin iria criar a Casa do Prazer, um refúgio de liberdade plena neste mundo repleto de limitações impostas pelos valores sociais.
Se a religião de Flora era “o amor pela Humanidade” (lembrando o alerta de Nelson Rodrigues, de que amar a Humanidade é fácil, sendo o difícil amar o próximo), então a religião de seu neto pintor era a “pureza selvagem”. Ambos viveram com base nestas fortes crenças, passando por cima de tudo, confrontando todo o código de moral e religião da burguesia. O que conseguiram, na prática, nada se parecia com aquilo sonhado. Paul fora para o Panamá, para Martinica e para o Taiti, sempre querendo encontrar este índio puro, blindado contra a hipocrisia da civilização. Mas nunca achava aquilo que procurava.
O pai de Flora nascera em Arequipa, no Peru, a mesma cidade em que Vargas Llosa nasceu em 1936. O nome do livro é uma alusão a uma brincadeira peruana onde as crianças perguntavam: “O paraíso é aqui?”, e sempre escutavam a resposta: “Não, procure na outra esquina”. E assim iam sucessivamente, sem encontrar aquilo que procuravam. O jogo é uma metáfora perfeita para a vida destes dois personagens aparentados. Flora Tristán e Paul Gauguin, cada um à sua maneira, viveram em busca deste paraíso terreno, impondo enormes sacrifícios a suas vidas e a de seus familiares, sem jamais encontrá-lo.
O próprio Vargas Llosa sempre condenou utopias, e se considera um liberal pragmático. Mas reconhece, entretanto, que as artes em geral e a literatura em particular existem para nos oferecer esta fuga para o impossível, este recorte, ainda que temporário, para um mundo de imaginação sem os freios e limitações tradicionais da vida cotidiana. Não é preciso aderir a um sonho utópico para reconhecer os problemas da vida real, até mesmo do moralismo burguês e da culpa incutida pela religião. Mas é preciso ter muito cuidado com a alternativa sedutora, talvez um tanto infantil, de partir em busca da “liberdade plena”. Como alerta Vargas Llosa em uma passagem do livro, “nesta vida as coisas nunca saíam tão bem como nos sonhos”. Elas nunca sairão. Por isso sonhar é preciso, mas com os pés no chão.
sexta-feira, fevereiro 17, 2012
A linha do Equador
Rodrigo Constantino, para o Instituto Liberal
Agora é fato: o Equador vive sob um regime ditatorial, ainda que velado. O jornal “El Universo”, principal do país, foi condenado a pagar multa de US$ 40 milhões por um editorial escrito em 2010 no qual o presidente Rafael Correa era chamado de “ditador”. Além disso, os proprietários do jornal foram condenados a três anos de prisão.
Correa, camarada do ex-presidente Lula, comemorou a “vitória histórica”, e disse que isso vai mudar o país. Segundo ele, ficou demonstrado “que é possível julgar não só os palhacinhos, mas também os donos do circo”. Ironia das ironias, o presidente, acusado de ditador, resolveu punir os “caluniadores” provando que é mesmo um tirano, e que “injúria” contra sua pessoa, tolerante e democrática, será punida com o rigor de um típico ditador latino-americano. O circo está completo!
Fica assim combinado agora: se uma prostituta for acusada de ser prostituta, cadeia no acusador. Se um político corrupto for chamado de corrupto, cadeia no difamador. O povo não pode mais ter direito a opinião própria, e publicá-la. O acusado tampouco vai buscar, como em países mais normais, indenização razoável por difamação e calúnia. São dezenas de milhões de dólares de pena, para quebrar logo o ousado, e xilindró para os proprietários.
O recado está dado. Se um blogueiro, por exemplo, acusar Correa de “ditador”, mesmo agora que ele deu claros sinais de ser um, vai à falência e ver o sol nascer quadrado. O caso absurdo me remeteu a uma antiga piada sobre o Dops no Brasil, onde um agente perguntava ao outro: “O que você pensa do presidente?” Sem saber o que responder, o outro agente diz: “Ora, o mesmo que você”. O primeiro rebate na hora: “Então está preso!”
Com esta medida, o Equador atravessa uma perigosa linha, que a Venezuela já atravessou antes e que a Argentina já ameaça atravessar. Todos camaradas do ex-presidente Lula e idolatrados por boa parte dos petistas. Por precaução, melhor só distribuir elogios aos “grandes democratas” do PT. Abre o olho, Brasil.
quinta-feira, fevereiro 16, 2012
Um debate histórico
No blog do Merval, um texto sobre o antigo e renovado debate de Hayek vs Keynes sobre os ciclos econômicos, que conta com minha singela contribuição. Trecho abaixo:
O economista Rodrigo Constantino, fundador do Instituto Millenium e adepto fervoroso de Hayek, diz que Soros sem dúvida defende o lado keynesiano. “Ele quer mais estímulos, mais liquidez artificial, para evitar uma recessão com risco de espiral deflacionária. É um ponto de vista legítimo, ainda que eu discorde”.
Mas Constantino pergunta: quando os keynesianos defendem a austeridade então? “Na época da bonança, silêncio; na época das crises, mais estímulo para evitar recessões”. Sobre a crise atual, ele diz que a postura de Hayek (e dos “austríacos”) seria a de que inundar os mercados com mais liquidez não resolve nada, apenas potencializa os problemas no futuro.
O economista Rodrigo Constantino, fundador do Instituto Millenium e adepto fervoroso de Hayek, diz que Soros sem dúvida defende o lado keynesiano. “Ele quer mais estímulos, mais liquidez artificial, para evitar uma recessão com risco de espiral deflacionária. É um ponto de vista legítimo, ainda que eu discorde”.
Mas Constantino pergunta: quando os keynesianos defendem a austeridade então? “Na época da bonança, silêncio; na época das crises, mais estímulo para evitar recessões”. Sobre a crise atual, ele diz que a postura de Hayek (e dos “austríacos”) seria a de que inundar os mercados com mais liquidez não resolve nada, apenas potencializa os problemas no futuro.
A propriedade de Verissimo é sagrada?
Rodrigo Constantino
Luis Fernando Veríssimo, em seu artigo de hoje, ataca o caráter "sagrado" do direito de propriedade no caso de Pinheirinho, alegando que há um direito maior, da dignidade humana, daquela gente que havia invadido a propriedade particular. Fica aqui uma sugestão: aquela turma que ficou "homeless" em Pinheirinho pode invadir, desta vez, a confortável residência do próprio Veríssimo. Afinal, o direito de propriedade não pode ser tão "sagrado" a ponto de se colocar acima da dignidade humana. O que será que o simpático colunista vai achar desta idéia?
Para quem tiver interesse em artigos onde refuto as bobagens do querido colunista socialista:
A Caneta de Veríssimo
O Inferno de Veríssimo
A Perfídia de Veríssimo
Como podem ver, eu gosto muito do escritor, e lhe dedico bastante atenção. Só não escrevo mais artigos para expor as falácias do Toohey tupiniquim (leiam "A Nascente", de Ayn Rand) porque não faria outra coisa na vida se tivesse que rebater cada baboseira que ele diz quando foge do humor sobre a vida privada!
Luis Fernando Veríssimo, em seu artigo de hoje, ataca o caráter "sagrado" do direito de propriedade no caso de Pinheirinho, alegando que há um direito maior, da dignidade humana, daquela gente que havia invadido a propriedade particular. Fica aqui uma sugestão: aquela turma que ficou "homeless" em Pinheirinho pode invadir, desta vez, a confortável residência do próprio Veríssimo. Afinal, o direito de propriedade não pode ser tão "sagrado" a ponto de se colocar acima da dignidade humana. O que será que o simpático colunista vai achar desta idéia?
Para quem tiver interesse em artigos onde refuto as bobagens do querido colunista socialista:
A Caneta de Veríssimo
O Inferno de Veríssimo
A Perfídia de Veríssimo
Como podem ver, eu gosto muito do escritor, e lhe dedico bastante atenção. Só não escrevo mais artigos para expor as falácias do Toohey tupiniquim (leiam "A Nascente", de Ayn Rand) porque não faria outra coisa na vida se tivesse que rebater cada baboseira que ele diz quando foge do humor sobre a vida privada!
quarta-feira, fevereiro 15, 2012
Anvisa adia decisão
Anvisa adia decisão sobre proibir adição de sabores nos cigarros. A proibição do uso de aromatizantes será analisada no próximo mês. A agência alega que os sabores aumentam o consumo de cigarro no público jovem. De fato, eu mesmo dei minhas primeiras tragadas no Sampoerna mentolado. Um absurdo vender cigarro com sabor melhor! Pergunto-me apenas qual será o próximo passo desta agência que se preocupa tanto com nossa saúde. Vetar a adição de açúcar no chocolate? Vetar a adição de fritura na batata? Melhor nem dar idéia. Já estamos quase lá!
Para maiores informações, veja meu vídeo sobre a Anvisa fascista, ou meu artigo para a revista Voto sobre o assunto.
Para maiores informações, veja meu vídeo sobre a Anvisa fascista, ou meu artigo para a revista Voto sobre o assunto.
Concurso Público
Sintoma do país: empreendedores investindo em cursos para concurso público. É o empresário em busca de lucro adaptando-se à realidade brasileira, onde vários sonham com a estabilidade e tranquilidade do setor público. Uma decisão racional, diga-se de passagem, uma vez que o governo concentra inúmeros privilégios, enquanto cria diversos obstáculos para o setor privado. O problema é do sistema, que no longo prazo desmonta quando há quase tantos "parasitas" quanto hospedeiros. O Brasil precisa de menos burocracia e mais empreendedorismo!
Para mais informações, ver meu vídeo sobre a Geração Concurso Público.
terça-feira, fevereiro 14, 2012
Hobbes na Bahia
João Pereira Coutinho, Folha de SP
Sazonalmente, o Brasil arruína-me. Acontece quando a desordem se instala nas ruas do país e eu passo horas ao telefone a falar com amigos ou colegas sitiados em suas casas. Anos atrás, quando o Primeiro Comando da Capital tomou literalmente conta de São Paulo, minha conta de telefone furou a estratosfera.
O mesmo sucedeu agora com a greve policial na Bahia, que permitiu o velho cortejo de crimes e pilhagens que fazem parte do circo. Telefonei, confirmei. Todos os meus amigos estão bem, obrigado.
Eu é que não estou: primeiro, já pensei seriamente em enviar a conta do telefone para os grevistas do Estado. Eles que paguem a despesa dos meus cuidados.
E, depois, porque sou obrigado a concordar com Thomas Hobbes (1588-1679), um filósofo político inglês com quem mantinha uma relação de amor e ódio. Não mais.
O ódio era compreensível: sempre que lia "Leviatã" (1651), a minha costela libertária tremia um pouco. Não que tenha uma visão otimista sobre a natureza humana.
Deus me livre e guarde. Essa, curiosamente, é a minha principal discórdia com os libertários puros e duros: eles têm uma insensibilidade ao "problema do mal" que os remete para companhias ideológicas pouco recomendáveis.
Mas, apesar de tudo, a ideia hobbesiana de um poder soberano indivisível e indiscutível, que exige uma submissão quase total dos seus súditos, sempre me pareceu a receita perfeita para a tirania.
Como é evidente, leituras apressadas geram conclusões apressadas. É possível ler Hobbes com umas lentes ligeiramente mais "liberais".
Para começar, entender a vida de Hobbes é entender parte da sua filosofia política: nascido em Londres, ele testemunhou a Guerra Civil Inglesa que levou à execução do rei Charles 1º. Não admira que a paz, a segurança e a ordem tenham sido suas preocupações permanentes.
Aliás, não apenas dele: partindo da sua experiência pessoal -ou, melhor dizendo, das suas "sensações" pessoais-, Hobbes chegou rapidamente à conclusão de que a primeira paixão dos homens é a mais lúgubre de todas: temos medo da morte. O que significa que a preservação da vida deve ser a base de qualquer "contrato social".
No "estado de natureza", a vida é "solitária, pobre, sórdida, brutal e curta". Não porque exista uma malignidade metafísica na alma da raça; mas porque, muitas vezes, a minha paz exige um estado permanente de guerra. Eu mato para não ser morto. Eu roubo para não ser roubado. Etc.
O Estado é esse agente supremo que os indivíduos resolvem dar a si próprios para protegerem a sua vida e, nos casos em que a lei é omissa, a sua própria liberdade.
É o Estado -a força do Estado- que modera as vaidades, as ambições e os orgulhos dos homens; é ele quem garante esse mínimo de ordem sem o qual a liberdade natural dos indivíduos tem pouco ou nenhum valor substancial.
Hobbes está certo: quando olhamos para zonas de conflito no mundo, podemos debater as causas econômicas e sociais que explicam os morticínios; ou podemos, no caso brasileiro, discutir a duvidosa legalidade das greves policiais ou os falhanços da política nacional de segurança pública.
Mas existe uma discussão prévia que nos remete para Thomas Hobbes: poderá existir vida em sociedade sem que o Estado detenha o "monopólio da violência" (expressão do sociólogo Max Weber) de forma a impedir a metastização da violência pela sociedade?
Ou, pelo contrário, a ausência do Estado, esse velho sonho de anarquistas e libertários, pode jogar-nos de volta para uma selva de medo e abuso?
A resposta de Hobbes é clara: sem Estado, a selva é o nosso destino. E, se é verdade que o Estado foi, muitas vezes, um agente de violência ilegítima e desumana sobre os cidadãos, não era esse o Estado que Thomas Hobbes pretendia.
Lendo os seus textos, encontramos os instrumentos básicos para pensar um Estado democrático, legítimo, defensor da vida humana -e, pormenor fundamental, respeitador da intimidade dos indivíduos.
Desprezar Hobbes só é possível por deficit de conhecimento e excesso de segurança. Mea-culpa.
Sazonalmente, o Brasil arruína-me. Acontece quando a desordem se instala nas ruas do país e eu passo horas ao telefone a falar com amigos ou colegas sitiados em suas casas. Anos atrás, quando o Primeiro Comando da Capital tomou literalmente conta de São Paulo, minha conta de telefone furou a estratosfera.
O mesmo sucedeu agora com a greve policial na Bahia, que permitiu o velho cortejo de crimes e pilhagens que fazem parte do circo. Telefonei, confirmei. Todos os meus amigos estão bem, obrigado.
Eu é que não estou: primeiro, já pensei seriamente em enviar a conta do telefone para os grevistas do Estado. Eles que paguem a despesa dos meus cuidados.
E, depois, porque sou obrigado a concordar com Thomas Hobbes (1588-1679), um filósofo político inglês com quem mantinha uma relação de amor e ódio. Não mais.
O ódio era compreensível: sempre que lia "Leviatã" (1651), a minha costela libertária tremia um pouco. Não que tenha uma visão otimista sobre a natureza humana.
Deus me livre e guarde. Essa, curiosamente, é a minha principal discórdia com os libertários puros e duros: eles têm uma insensibilidade ao "problema do mal" que os remete para companhias ideológicas pouco recomendáveis.
Mas, apesar de tudo, a ideia hobbesiana de um poder soberano indivisível e indiscutível, que exige uma submissão quase total dos seus súditos, sempre me pareceu a receita perfeita para a tirania.
Como é evidente, leituras apressadas geram conclusões apressadas. É possível ler Hobbes com umas lentes ligeiramente mais "liberais".
Para começar, entender a vida de Hobbes é entender parte da sua filosofia política: nascido em Londres, ele testemunhou a Guerra Civil Inglesa que levou à execução do rei Charles 1º. Não admira que a paz, a segurança e a ordem tenham sido suas preocupações permanentes.
Aliás, não apenas dele: partindo da sua experiência pessoal -ou, melhor dizendo, das suas "sensações" pessoais-, Hobbes chegou rapidamente à conclusão de que a primeira paixão dos homens é a mais lúgubre de todas: temos medo da morte. O que significa que a preservação da vida deve ser a base de qualquer "contrato social".
No "estado de natureza", a vida é "solitária, pobre, sórdida, brutal e curta". Não porque exista uma malignidade metafísica na alma da raça; mas porque, muitas vezes, a minha paz exige um estado permanente de guerra. Eu mato para não ser morto. Eu roubo para não ser roubado. Etc.
O Estado é esse agente supremo que os indivíduos resolvem dar a si próprios para protegerem a sua vida e, nos casos em que a lei é omissa, a sua própria liberdade.
É o Estado -a força do Estado- que modera as vaidades, as ambições e os orgulhos dos homens; é ele quem garante esse mínimo de ordem sem o qual a liberdade natural dos indivíduos tem pouco ou nenhum valor substancial.
Hobbes está certo: quando olhamos para zonas de conflito no mundo, podemos debater as causas econômicas e sociais que explicam os morticínios; ou podemos, no caso brasileiro, discutir a duvidosa legalidade das greves policiais ou os falhanços da política nacional de segurança pública.
Mas existe uma discussão prévia que nos remete para Thomas Hobbes: poderá existir vida em sociedade sem que o Estado detenha o "monopólio da violência" (expressão do sociólogo Max Weber) de forma a impedir a metastização da violência pela sociedade?
Ou, pelo contrário, a ausência do Estado, esse velho sonho de anarquistas e libertários, pode jogar-nos de volta para uma selva de medo e abuso?
A resposta de Hobbes é clara: sem Estado, a selva é o nosso destino. E, se é verdade que o Estado foi, muitas vezes, um agente de violência ilegítima e desumana sobre os cidadãos, não era esse o Estado que Thomas Hobbes pretendia.
Lendo os seus textos, encontramos os instrumentos básicos para pensar um Estado democrático, legítimo, defensor da vida humana -e, pormenor fundamental, respeitador da intimidade dos indivíduos.
Desprezar Hobbes só é possível por deficit de conhecimento e excesso de segurança. Mea-culpa.
The Amazing Obama Budget
Editorial do WSJ
Federal budgets are by definition political documents, but even by that standard yesterday's White House proposal for fiscal year 2013 is a brilliant bit of misdirection. With the abracadabra of a tax increase on the wealthy and defense spending cuts that will never materialize, the White House asserts that in President Obama's second term revenues will soar, outlays will fall, and $1.3 trillion annual deficits will be cut in half like the lady in the box on stage.
All voters need to do is suspend disbelief for another nine months. And ignore the first four years.
The real news in Mr. Obama's budget proposal is the story of those four years, and what a tale they tell.
• Four years of spending of more than 24% of GDP, the four highest spending years since 1946. In the current fiscal year of 2012, despite talk of austerity, Mr. Obama predicts spending will increase by $193 billion to $3.8 trillion, or 24.3% of GDP.
• Another deficit of $1.327 trillion in 2012, also an increase from 2011, and making four years in a row above $1.29 trillion. The last time that happened? Never.
• Revenues at historic lows because of the mediocre recovery and temporary tax cuts that are deadweight revenue losses because they do so little for economic growth. The White House budget office estimates that for the fourth year in a row revenues won't reach 16% of GDP. The last time they were below 16% for any year was 1950.
• All of this has added as astonishing $5 trillion in debt in a single Presidential term. National debt held by the public—the kind you have to pay back—will hit 74.2% this year and keep rising to 77.4% next year.
Economists believe that when debt to GDP reaches 90% or so, the economic damage begins to rise. And this doesn't include the debt that future taxpayers owe current and future retirees through the IOUs in the Social Security "trust fund."
But, lo, says the White House, all of this will change in 2013 if Mr. Obama is re-elected. Next year, revenues will suddenly leap to 17.8% of GDP thanks to tax increases on the wealthy, which we are supposed to believe will have little impact on growth.
Meanwhile, spending will fall by one percentage point of GDP to 23.3%, thanks to the automatic cuts in last year's debt-ceiling bill. But more than half of those are scheduled to come out of defense, which even Mr. Obama's Defense Secretary says are unacceptable. They will be renegotiated next year no matter who wins in November.
The cuts also include an estimated $1 trillion in savings in domestic discretionary programs that also won't happen, especially because Mr. Obama's budget proposes to add $350 billion to these programs. His budget also proposes no meaningful reforms in entitlements, which are the fastest growing part of the budget and will grow even faster once ObamaCare really kicks in.
The only thing that you can be certain will become law in this budget if Mr. Obama is re-elected is the monumental tax increase. His plan would raise tax rates across the board on anyone or any business owners making more than $200,000 for individuals and $250,000 for couples. These are the 3% of taxpayers that Mr. Obama says aren't paying their fair share, though that 3% pays more in income tax than the rest of the other 97%.
A central contradiction of this plan is that the White House predicts accelerating real GDP growth of 3% in 2013 and 4.1% by 2015 even as the economy is whacked by these tax increases. The President's plan would also cancel the investment tax rate reductions that have been in place since 2003, impose a new investment income tax hike of 3.8%, and introduce the new "Buffett rule" on the rich.
Tax rates will rise as follows: capital gains to 30% from 15% today; dividends to 30% from 15%; the estate tax to 45% from 35%, and don't forget the end to the temporary payroll tax cut that Mr. Obama is making such an issue of now. He only wants it to last for another 10 months.
And there will be more. Yesterday, Mr. Obama's chief economic adviser, Gene Sperling, reported that the President wants a new "global minimum tax." Mr. Sperling said the new tax is necessary "so that people have the assurance that nobody is escaping doing their fair share as part of a race to the bottom or having our tax code actually subsidize and facilitate people moving their funds to tax havens." He didn't offer specifics but said the White House will be saying more, "perhaps not in gory detail, but in more detail," by the end of the month.
You would think amid all of its other tax increases that the White House wouldn't need another. But its problem is that other countries rudely compete for capital by keeping their tax rates low, so Mr. Obama wants to punish Americans who dare to take that advantage rather than cut the U.S. rate to 25% to make America more competitive.
Despite its tax increases, the White House still predicts that the annual budget deficit will be $901 billion in 2013 and never fall below $575 billion in any of the next 10 years. Democrats denounced George W. Bush for allowing so much red ink, but his deficits averaged only 3.5% of GDP if you don't count 2001 but do include the 10.1% of 2009. Mr. Obama's deficits have averaged 9.1% of GDP if you count 2009, as you should because his $800 billion stimulus passed that February.
The political reality of budgeting is that voters should only believe what they can see, which is what politicians are proposing now. Promises of future spending cuts are a mirage. Mr. Obama needs to point to the mirage because his fiscal record is the worst in modern American history.
segunda-feira, fevereiro 13, 2012
O PT e as privatizações
AÉCIO NEVES, FOLHA DE SP
Toda mudança para melhor deve ser saudada. Por isso, devemos reconhecer como positiva, ainda que com o atraso de uma década, a privatização dos aeroportos.
Porém, uma pergunta é inevitável: por que, afinal, esperamos tanto? O governo, por inércia, permitiu que se instalasse o caos nos aeroportos e só reagiu diante da aproximação da Copa, alimentando a ideia de que só age sob pressão e tem na improvisação uma de suas marcas.
Talvez isso explique terem privatizado sem exigir garantias mínimas compatíveis com operações desse porte. Pouco parece importar se há entre os vencedores crônicos inadimplentes em outros mercados ou mesmo quem não tivesse condições de conseguir financiamento junto ao mesmo BNDES, em operação de muito menor porte.
Privatizaram fingindo não privatizar e ignoraram a oportunidade de buscar contrapartidas óbvias que pudessem garantir, em um mesmo lote, a modernização de aeroportos mais e menos rentáveis. Prevaleceu a lógica do maior ágio e do interesse comercial dos grupos privados em detrimento das populações de regiões onde os investimentos serão menos atrativos.
Por tudo isso, é desleal o ataque histriônico do PT às privatizações do governo FHC. Desleal porque em nenhum momento o programa de concessões ou privatizações foi interrompido. São as leis brasileiras que obrigam o uso de concessões em determinados serviços e não a ideologia petista, como tentam fazer crer, em risível contorcionismo verbal, alguns líderes do partido.
No governo FHC também foram feitas concessões como na área de energia elétrica. Da mesma forma que nos aeroportos, ao final do prazo de outorga os ativos retornarão à União. Aliás, é exatamente o que se discute agora -a renovação ou não de outorgas concedidas naquele período.
O episódio da privatização dos aeroportos, no qual serão usados recursos públicos do BNDES e dos fundos de pensão, prática demonizada pelo PT, que neles via um mero instrumento de financiamento do lucro privado, traz à tona uma outra indagação cada vez mais comum entre os brasileiros: afinal, o que pensa e qual é o PT de verdade? O do discurso ou o da realidade? O que lutou contra a Lei de Responsabilidade Fiscal, o Proer e o Plano Real ou o que os elogia hoje?
O PT dos paladinos da ética ou o do recorde de ministros derrubados por desvios? O que ataca as privatizações ou o que as realiza? O que, na oposição, defende de forma indiscriminada todo tipo de greve ou o que, no governo, reage a elas?
No mais, vale registrar: a insistência do PT em comparar modelos de privatização é bem vinda. Até porque não deixa de ser divertido ouvir o PT discutir quem privatiza melhor.
Toda mudança para melhor deve ser saudada. Por isso, devemos reconhecer como positiva, ainda que com o atraso de uma década, a privatização dos aeroportos.
Porém, uma pergunta é inevitável: por que, afinal, esperamos tanto? O governo, por inércia, permitiu que se instalasse o caos nos aeroportos e só reagiu diante da aproximação da Copa, alimentando a ideia de que só age sob pressão e tem na improvisação uma de suas marcas.
Talvez isso explique terem privatizado sem exigir garantias mínimas compatíveis com operações desse porte. Pouco parece importar se há entre os vencedores crônicos inadimplentes em outros mercados ou mesmo quem não tivesse condições de conseguir financiamento junto ao mesmo BNDES, em operação de muito menor porte.
Privatizaram fingindo não privatizar e ignoraram a oportunidade de buscar contrapartidas óbvias que pudessem garantir, em um mesmo lote, a modernização de aeroportos mais e menos rentáveis. Prevaleceu a lógica do maior ágio e do interesse comercial dos grupos privados em detrimento das populações de regiões onde os investimentos serão menos atrativos.
Por tudo isso, é desleal o ataque histriônico do PT às privatizações do governo FHC. Desleal porque em nenhum momento o programa de concessões ou privatizações foi interrompido. São as leis brasileiras que obrigam o uso de concessões em determinados serviços e não a ideologia petista, como tentam fazer crer, em risível contorcionismo verbal, alguns líderes do partido.
No governo FHC também foram feitas concessões como na área de energia elétrica. Da mesma forma que nos aeroportos, ao final do prazo de outorga os ativos retornarão à União. Aliás, é exatamente o que se discute agora -a renovação ou não de outorgas concedidas naquele período.
O episódio da privatização dos aeroportos, no qual serão usados recursos públicos do BNDES e dos fundos de pensão, prática demonizada pelo PT, que neles via um mero instrumento de financiamento do lucro privado, traz à tona uma outra indagação cada vez mais comum entre os brasileiros: afinal, o que pensa e qual é o PT de verdade? O do discurso ou o da realidade? O que lutou contra a Lei de Responsabilidade Fiscal, o Proer e o Plano Real ou o que os elogia hoje?
O PT dos paladinos da ética ou o do recorde de ministros derrubados por desvios? O que ataca as privatizações ou o que as realiza? O que, na oposição, defende de forma indiscriminada todo tipo de greve ou o que, no governo, reage a elas?
No mais, vale registrar: a insistência do PT em comparar modelos de privatização é bem vinda. Até porque não deixa de ser divertido ouvir o PT discutir quem privatiza melhor.
A polícia indefesa
Luiz Felipe Ponde, Folha de SP
A POLÍCIA é uma das classes que sofrem maior injustiça por parte da sociedade. Lançamos sobre ela a suspeita de ser um parente próximo dos bandidos. Isso é tão errado quanto julgar negros inferiores pela cor ou gays doentes pela sua orientação sexual.
Não, não estou negando todo tipo de mazela que afeta a polícia nem fazendo apologia da repressão como pensará o caro inteligentinho de plantão. Aliás, proponho que hoje ele vá brincar no parque, leve preferivelmente um livro do fanático Foucault para a caixa de areia.
Partilho do mal-estar típico quando na presença de policiais devido ao monopólio legítimo da violência que eles possuem. Um sentimento de opressão marca nossa relação com a polícia. Mas aqui devemos ir além do senso comum.
Acompanhamos a agonia da Bahia e sua greve da Polícia Militar, que corre o risco de se alastrar por outros Estados. Sem dúvida, o governador da Bahia tem razão ao dizer que a liderança do movimento se excedeu. A polícia não pode agir dessa forma (fazer reféns, fechar o centro administrativo).
A lei diz que a PM é serviço público militar e, por isso, não pode fazer greve. O que está corretíssimo. Mas não vejo ninguém da "inteligência" ou dos setores organizados da sociedade civil se perguntar por que se reclama tanto dos maus salários dos professores (o que também é verdade) e não se reclama da mesma forma veemente dos maus salários da polícia. É como se tacitamente considerássemos a polícia menos "cidadã" do que nós outros.
Quando tem algum problema como esse da greve na Bahia, fala-se "mas o problema é que a polícia ganha mal", mas não vejo nenhum movimento de "repúdio" ao descaso com o qual se trata a classe policial entre nós. Sempre tem alguém para defender drogados, bandidos e invasores da terra alheia, mas não aparece ninguém (nem os artistas da Bahia tampouco) para defender a polícia dos maus-tratos que recebe da sociedade.
A polícia é uma função tão nobre quanto médico e professor. Policial tem mulher, marido, filho, adoece como você e eu.
Não há sociedade civilizada sem a polícia. Ela guarda o sono, mantém a liberdade, assegura a Justiça dentro da lei, sustenta a democracia. Ignorante é todo aquele que pensa que a polícia seja inimiga da democracia.
Na realidade, ela pode ser mais amiga da democracia do que muita gente que diz amar a democracia, mas adora uma quebradeira e uma violência demagógica.
Sei bem que os inteligentinhos que não foram brincar no parque (são uns desobedientes) vão dizer que estou fazendo uma imagem idealizada da polícia.
Não estou. Estou apenas dando uma explicação da função social da polícia na manutenção da democracia e da civilização.
Pena que as ciências humanas não se ocupem da polícia como objeto do "bem". Pelo contrário, reafirmam a ignorância e o preconceito que temos contra os policiais relacionando-a apenas com "aparelhos repressivos" e não com "aparelhos constitutivos" do convívio civilizado socialmente sustentável.
Há sim corrupção, mas a corrupção, além de ser um dado da natureza humana, é também fruto dos maus salários e do descaso social com relação à polícia, além da proximidade física e psicológica com o crime.
Se a polícia se corrompe (privatiza sua função de manutenção da ordem via "caixinhas") e professores, não, não é porque professores são incorruptíveis, mas simplesmente porque o "produto" que a polícia entrega para a sociedade é mais concretamente e imediatamente urgente do que a educação.
Com isso não estou dizendo que a educação, minha área primeira de atuação, não seja urgente, mas a falta dela demora mais a ser sentida do que a da polícia, daí "paga-se caixinha para o policial", do contrário roubam sua padaria, sua loja, sua casa, sua escola, seu filho, sua mulher, sua vida.
Qual o "produto" da polícia? De novo: liberdade dentro da lei, segurança, a possibilidade de você andar na rua, trabalhar, ir ao cinema, jantar fora, dormir, não ser morto, viver em democracia, enfim, a civilização.
Defendem-se drogado, bandido, criminoso. É hora de cuidarmos da nossa polícia.
A POLÍCIA é uma das classes que sofrem maior injustiça por parte da sociedade. Lançamos sobre ela a suspeita de ser um parente próximo dos bandidos. Isso é tão errado quanto julgar negros inferiores pela cor ou gays doentes pela sua orientação sexual.
Não, não estou negando todo tipo de mazela que afeta a polícia nem fazendo apologia da repressão como pensará o caro inteligentinho de plantão. Aliás, proponho que hoje ele vá brincar no parque, leve preferivelmente um livro do fanático Foucault para a caixa de areia.
Partilho do mal-estar típico quando na presença de policiais devido ao monopólio legítimo da violência que eles possuem. Um sentimento de opressão marca nossa relação com a polícia. Mas aqui devemos ir além do senso comum.
Acompanhamos a agonia da Bahia e sua greve da Polícia Militar, que corre o risco de se alastrar por outros Estados. Sem dúvida, o governador da Bahia tem razão ao dizer que a liderança do movimento se excedeu. A polícia não pode agir dessa forma (fazer reféns, fechar o centro administrativo).
A lei diz que a PM é serviço público militar e, por isso, não pode fazer greve. O que está corretíssimo. Mas não vejo ninguém da "inteligência" ou dos setores organizados da sociedade civil se perguntar por que se reclama tanto dos maus salários dos professores (o que também é verdade) e não se reclama da mesma forma veemente dos maus salários da polícia. É como se tacitamente considerássemos a polícia menos "cidadã" do que nós outros.
Quando tem algum problema como esse da greve na Bahia, fala-se "mas o problema é que a polícia ganha mal", mas não vejo nenhum movimento de "repúdio" ao descaso com o qual se trata a classe policial entre nós. Sempre tem alguém para defender drogados, bandidos e invasores da terra alheia, mas não aparece ninguém (nem os artistas da Bahia tampouco) para defender a polícia dos maus-tratos que recebe da sociedade.
A polícia é uma função tão nobre quanto médico e professor. Policial tem mulher, marido, filho, adoece como você e eu.
Não há sociedade civilizada sem a polícia. Ela guarda o sono, mantém a liberdade, assegura a Justiça dentro da lei, sustenta a democracia. Ignorante é todo aquele que pensa que a polícia seja inimiga da democracia.
Na realidade, ela pode ser mais amiga da democracia do que muita gente que diz amar a democracia, mas adora uma quebradeira e uma violência demagógica.
Sei bem que os inteligentinhos que não foram brincar no parque (são uns desobedientes) vão dizer que estou fazendo uma imagem idealizada da polícia.
Não estou. Estou apenas dando uma explicação da função social da polícia na manutenção da democracia e da civilização.
Pena que as ciências humanas não se ocupem da polícia como objeto do "bem". Pelo contrário, reafirmam a ignorância e o preconceito que temos contra os policiais relacionando-a apenas com "aparelhos repressivos" e não com "aparelhos constitutivos" do convívio civilizado socialmente sustentável.
Há sim corrupção, mas a corrupção, além de ser um dado da natureza humana, é também fruto dos maus salários e do descaso social com relação à polícia, além da proximidade física e psicológica com o crime.
Se a polícia se corrompe (privatiza sua função de manutenção da ordem via "caixinhas") e professores, não, não é porque professores são incorruptíveis, mas simplesmente porque o "produto" que a polícia entrega para a sociedade é mais concretamente e imediatamente urgente do que a educação.
Com isso não estou dizendo que a educação, minha área primeira de atuação, não seja urgente, mas a falta dela demora mais a ser sentida do que a da polícia, daí "paga-se caixinha para o policial", do contrário roubam sua padaria, sua loja, sua casa, sua escola, seu filho, sua mulher, sua vida.
Qual o "produto" da polícia? De novo: liberdade dentro da lei, segurança, a possibilidade de você andar na rua, trabalhar, ir ao cinema, jantar fora, dormir, não ser morto, viver em democracia, enfim, a civilização.
Defendem-se drogado, bandido, criminoso. É hora de cuidarmos da nossa polícia.
domingo, fevereiro 12, 2012
Um sonho que acabou
FERREIRA GULLAR, FOLHA DE SP
É com enorme dificuldade que abordo este assunto: mais uma vez -a 19ª- o governo cubano nega permissão a que Yoani Sánchez saia do país. A dificuldade advém da relação afetiva e ideológica que me prende à Revolução Cubana, desde sua origem em 1959.
Para todos nós, então jovens e idealistas, convencidos de que o marxismo era o caminho para a sociedade fraterna e justa, a Revolução Cubana dava início a uma grande transformação social da América Latina. Essa certeza incendiava nossa imaginação e nos impelia ao trabalho revolucionário.
Nos primeiros dias de novo regime, muitos foram fuzilados no célebre "paredón", em Havana. Não nos perguntamos se eram inocentes, se haviam sido submetidos a um processo justo, com direito de defesa. Para nós, a justiça revolucionária não podia ser questionada: se os condenara, eles eram culpados.
E nossas certezas ganharam ainda maior consistência, em face das medidas que favoreciam aos mais pobres, dando-lhes enfim o direito a estudar, a se alimentar e a ter atendimento médico de qualidade. É verdade que muitos haviam fugido para Miami, mas era certamente gente reacionária, em geral cheia da grana, que não gozaria mais dos mesmos privilégios na nova Cuba revolucionária.
Sabíamos todos que, além do açúcar e do tabaco, o país não dispunha de muitos outros recursos para construir uma sociedade em que todos tivessem suas necessidades plenamente atendidas. Mas ali estava a União Soviética para ajudá-lo e isso nos parecia mais que natural, mesmo quando pôs na ilha foguetes capazes de portar bombas atômicas e jogá-las sobre Washington e Nova York. A crise provocada por esses foguetes pôs o mundo à beira de uma catástrofe nuclear.
Mas nós culpávamos os norte-americanos, porque eles encarnavam o Mal, e os soviéticos, o Bem. Só me dei conta de que havia algo de errado em tudo isso quando visitei Cuba, muitos anos depois, e levei um susto: Havana me pareceu decadente, com gente malvestida, ônibus e automóveis obsoletos.
Comentei isso com um companheiro que me respondeu, quase irritado: "O importante é que aqui ninguém passa fome e o índice de analfabetismo é zero". Claro, concordei eu, muito embora aquela imagem de país decadente não me saísse da cabeça.
Impressão semelhante -ainda que em menor grau- causaram-me alguns aspectos da vida soviética, durante o tempo que morei em Moscou. O alto progresso tecnológico militar contrastava com a má qualidade dos objetos de uso. O que importava era derrotar o capitalismo e não o bem-estar e o conforto das pessoas. Mas os dirigentes do partido usavam objetos importados e viam os filmes ocidentais a que o povo não tinha acesso.
Se a situação econômica de Cuba era precária, mesmo quando contava com a ajuda da URSS, muito pior ficou depois que o socialismo real desmoronou. É isso que explica as mudanças determinadas agora por Raúl Castro.
Mas, antes delas, já o regime permitira a entrada de capital norte-americano para construir hotéis, que hoje hospedam turistas ianques, outrora acusados de transformar o país num bordel. Agora, o governo estimula o surgimento de empresas capitalistas, como o faz a China. Está certo desde que permita preservar o que foi conquistado, já que a alternativa é o colapso econômico.
Tudo isso está à mostra para todo mundo ver, exceto alguns poucos sectários que se negam a admitir ter sido o comunismo um sonho que acabou. Mas há também os que se negam a admiti-lo por impostura ou conveniência política.
Do contrário, como entender a atitude da presidente Dilma Rousseff que, em recente visita a Cuba, forçada a pronunciar-se sobre a violação dos direitos humanos, preferiu criticar a manutenção pelos americanos de prisioneiros na base aérea de Guantánamo, o que me fez lembrar o seguinte: um norte-americano, em visita ao metrô de Moscou, que, segundo os soviéticos, não atrasava nunca nem um segundo sequer, observou que o trem estava atrasado mais de três minutos. O guia retrucou: "E vocês, que perseguem os negros!".
A verdade é que nem eu nem a Dilma nem nenhum defensor do regime cubano desejaria viver num país de onde não se pode sair sem a permissão do governo.
É com enorme dificuldade que abordo este assunto: mais uma vez -a 19ª- o governo cubano nega permissão a que Yoani Sánchez saia do país. A dificuldade advém da relação afetiva e ideológica que me prende à Revolução Cubana, desde sua origem em 1959.
Para todos nós, então jovens e idealistas, convencidos de que o marxismo era o caminho para a sociedade fraterna e justa, a Revolução Cubana dava início a uma grande transformação social da América Latina. Essa certeza incendiava nossa imaginação e nos impelia ao trabalho revolucionário.
Nos primeiros dias de novo regime, muitos foram fuzilados no célebre "paredón", em Havana. Não nos perguntamos se eram inocentes, se haviam sido submetidos a um processo justo, com direito de defesa. Para nós, a justiça revolucionária não podia ser questionada: se os condenara, eles eram culpados.
E nossas certezas ganharam ainda maior consistência, em face das medidas que favoreciam aos mais pobres, dando-lhes enfim o direito a estudar, a se alimentar e a ter atendimento médico de qualidade. É verdade que muitos haviam fugido para Miami, mas era certamente gente reacionária, em geral cheia da grana, que não gozaria mais dos mesmos privilégios na nova Cuba revolucionária.
Sabíamos todos que, além do açúcar e do tabaco, o país não dispunha de muitos outros recursos para construir uma sociedade em que todos tivessem suas necessidades plenamente atendidas. Mas ali estava a União Soviética para ajudá-lo e isso nos parecia mais que natural, mesmo quando pôs na ilha foguetes capazes de portar bombas atômicas e jogá-las sobre Washington e Nova York. A crise provocada por esses foguetes pôs o mundo à beira de uma catástrofe nuclear.
Mas nós culpávamos os norte-americanos, porque eles encarnavam o Mal, e os soviéticos, o Bem. Só me dei conta de que havia algo de errado em tudo isso quando visitei Cuba, muitos anos depois, e levei um susto: Havana me pareceu decadente, com gente malvestida, ônibus e automóveis obsoletos.
Comentei isso com um companheiro que me respondeu, quase irritado: "O importante é que aqui ninguém passa fome e o índice de analfabetismo é zero". Claro, concordei eu, muito embora aquela imagem de país decadente não me saísse da cabeça.
Impressão semelhante -ainda que em menor grau- causaram-me alguns aspectos da vida soviética, durante o tempo que morei em Moscou. O alto progresso tecnológico militar contrastava com a má qualidade dos objetos de uso. O que importava era derrotar o capitalismo e não o bem-estar e o conforto das pessoas. Mas os dirigentes do partido usavam objetos importados e viam os filmes ocidentais a que o povo não tinha acesso.
Se a situação econômica de Cuba era precária, mesmo quando contava com a ajuda da URSS, muito pior ficou depois que o socialismo real desmoronou. É isso que explica as mudanças determinadas agora por Raúl Castro.
Mas, antes delas, já o regime permitira a entrada de capital norte-americano para construir hotéis, que hoje hospedam turistas ianques, outrora acusados de transformar o país num bordel. Agora, o governo estimula o surgimento de empresas capitalistas, como o faz a China. Está certo desde que permita preservar o que foi conquistado, já que a alternativa é o colapso econômico.
Tudo isso está à mostra para todo mundo ver, exceto alguns poucos sectários que se negam a admitir ter sido o comunismo um sonho que acabou. Mas há também os que se negam a admiti-lo por impostura ou conveniência política.
Do contrário, como entender a atitude da presidente Dilma Rousseff que, em recente visita a Cuba, forçada a pronunciar-se sobre a violação dos direitos humanos, preferiu criticar a manutenção pelos americanos de prisioneiros na base aérea de Guantánamo, o que me fez lembrar o seguinte: um norte-americano, em visita ao metrô de Moscou, que, segundo os soviéticos, não atrasava nunca nem um segundo sequer, observou que o trem estava atrasado mais de três minutos. O guia retrucou: "E vocês, que perseguem os negros!".
A verdade é que nem eu nem a Dilma nem nenhum defensor do regime cubano desejaria viver num país de onde não se pode sair sem a permissão do governo.
Capitalismo com face humana
Vídeo onde comento a crise atual, que não é do capitalismo liberal, e falo sobre a euforia dos eternos socialistas, que aproveitam a deixa para pregar o "capitalismo com face humana".
sábado, fevereiro 11, 2012
Privatização, ainda que tardia
Ricardo Salles, Folha de SP
A privatização é uma boa solução para os aeroportos brasileiros?
SIM
Para o consumidor brasileiro, usuário dos serviços aeroportuários, pouco importa se eles serão prestados pela iniciativa privada ou pelo poder público, desde que eles sejam de boa qualidade e que os preços sejam baixos.
A experiência brasileira dos últimos 20 anos comprova que os serviços privatizados são, em regra, melhores e mais baratos do que aqueles anteriormente prestados pelo Estado.
Provas desse sucesso não faltam: a telefonia privatizada expandiu brutalmente a quantidade de linhas e a qualidade do sistema, mediante preços muito mais acessíveis ao consumidor; a Vale saltou de 11 mil para cerca de 55 mil empregos; a Embraer passou a produzir aviões de qualidade, trazendo divisas de exportação e conhecimento tecnológico; as estradas ficaram melhores e mais bem conservadas. Enfim, os tantos exemplos falam por si.
O binômio eficiência e lucro, a ser perseguido em um ambiente com competição, regulação e fiscalização efetivas, é a única saída para o estado calamitoso de nossos aeroportos, especialmente nas questões de capacidade e infraestrutura.
Ao contrário de outros setores já privatizados, é quase impossível imaginar que existirão outros aeroportos nas mesmas regiões competindo com os privatizados. Assim, para que tenhamos serviços de qualidade a preços baixos, é fundamental impor aos aeroportos privatizados um rígido regime de regulação, com metas, indicadores e sanções.
Defender a tese contrária seria ignorar o amplo histórico de desserviço público prestado pela Infraero, frequentemente envolvida em escândalos de corrupção e incapaz de atender às demandas da sociedade.
É bem verdade que a venda dos aeroportos de Cumbica, Viracopos e Brasília não pode ser considerada um caso típico de privatização, dada a indesejada participação dos fundos de pensão estatais e do BNDES. Eles, mais uma vez, colocam recursos do contribuinte onde deveria existir apenas participação privada -isso sem falar na participação da própria Infraero na composição dos consórcios.
Ou seja, deixamos o lobo tomando conta do galinheiro. No fundo, o governo tirou de um bolso para por no outro, mas isso não diminui a importância desse divisor de águas na histórica postura demagógica até então adotada pelo PT sobre as privatizações.
A sociedade brasileira só tem a ganhar com a diminuição do tamanho do Estado, sempre tão incompetente, perdulário e arrogante no trato com os cidadãos e os seus impostos.
Quanto menos empresas e cargos públicos existirem, menor a chance de captura e aparelhamento do Estado por quem estiver no poder, diminuindo o espaço para a corrupção e o desperdício de dinheiro público.
Se prevalecer o modelo de privatizações e gestão privada dos serviços até então prestados pelo poder público, maiores serão as chances da sociedade finalmente receber qualidade a preços satisfatórios.
Perdem com as privatizações apenas os grupos de lobby e de apadrinhados políticos, pois elas reduzem o espaço para as suas nomeações desprovidas de qualificação. No final, a incompetência e a má gestão resultantes são sempre debitadas na conta do contribuinte.
Que venham mais privatizações, em todas as áreas. E que elas sejam, nos próximos casos, para valer, sem participação do BNDES e dos fundos de pensão estatais, cujas negociações de bastidor estão vinculadas a muitos dos escândalos conhecidos nos últimos anos.
-
RICARDO SALLES, 36, mestre em direito público pela Universidade Yale, é advogado e presidente do Movimento Endireita Brasil
A privatização é uma boa solução para os aeroportos brasileiros?
SIM
Para o consumidor brasileiro, usuário dos serviços aeroportuários, pouco importa se eles serão prestados pela iniciativa privada ou pelo poder público, desde que eles sejam de boa qualidade e que os preços sejam baixos.
A experiência brasileira dos últimos 20 anos comprova que os serviços privatizados são, em regra, melhores e mais baratos do que aqueles anteriormente prestados pelo Estado.
Provas desse sucesso não faltam: a telefonia privatizada expandiu brutalmente a quantidade de linhas e a qualidade do sistema, mediante preços muito mais acessíveis ao consumidor; a Vale saltou de 11 mil para cerca de 55 mil empregos; a Embraer passou a produzir aviões de qualidade, trazendo divisas de exportação e conhecimento tecnológico; as estradas ficaram melhores e mais bem conservadas. Enfim, os tantos exemplos falam por si.
O binômio eficiência e lucro, a ser perseguido em um ambiente com competição, regulação e fiscalização efetivas, é a única saída para o estado calamitoso de nossos aeroportos, especialmente nas questões de capacidade e infraestrutura.
Ao contrário de outros setores já privatizados, é quase impossível imaginar que existirão outros aeroportos nas mesmas regiões competindo com os privatizados. Assim, para que tenhamos serviços de qualidade a preços baixos, é fundamental impor aos aeroportos privatizados um rígido regime de regulação, com metas, indicadores e sanções.
Defender a tese contrária seria ignorar o amplo histórico de desserviço público prestado pela Infraero, frequentemente envolvida em escândalos de corrupção e incapaz de atender às demandas da sociedade.
É bem verdade que a venda dos aeroportos de Cumbica, Viracopos e Brasília não pode ser considerada um caso típico de privatização, dada a indesejada participação dos fundos de pensão estatais e do BNDES. Eles, mais uma vez, colocam recursos do contribuinte onde deveria existir apenas participação privada -isso sem falar na participação da própria Infraero na composição dos consórcios.
Ou seja, deixamos o lobo tomando conta do galinheiro. No fundo, o governo tirou de um bolso para por no outro, mas isso não diminui a importância desse divisor de águas na histórica postura demagógica até então adotada pelo PT sobre as privatizações.
A sociedade brasileira só tem a ganhar com a diminuição do tamanho do Estado, sempre tão incompetente, perdulário e arrogante no trato com os cidadãos e os seus impostos.
Quanto menos empresas e cargos públicos existirem, menor a chance de captura e aparelhamento do Estado por quem estiver no poder, diminuindo o espaço para a corrupção e o desperdício de dinheiro público.
Se prevalecer o modelo de privatizações e gestão privada dos serviços até então prestados pelo poder público, maiores serão as chances da sociedade finalmente receber qualidade a preços satisfatórios.
Perdem com as privatizações apenas os grupos de lobby e de apadrinhados políticos, pois elas reduzem o espaço para as suas nomeações desprovidas de qualificação. No final, a incompetência e a má gestão resultantes são sempre debitadas na conta do contribuinte.
Que venham mais privatizações, em todas as áreas. E que elas sejam, nos próximos casos, para valer, sem participação do BNDES e dos fundos de pensão estatais, cujas negociações de bastidor estão vinculadas a muitos dos escândalos conhecidos nos últimos anos.
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RICARDO SALLES, 36, mestre em direito público pela Universidade Yale, é advogado e presidente do Movimento Endireita Brasil
sexta-feira, fevereiro 10, 2012
O custo do uso político da Petrobras
Rodrigo Constantino
A Petrobras divulgou seu resultado do quarto trimestre de 2011 hoje. Suas ações caíram quase 8% na Bovespa. Ou seja, a empresa perdeu, em um só dia, mais de R$ 20 bilhões em valor de mercado. O que foi tão ruim assim no resultado para justificar esta queda abrupta? Eis o grande culpado: o setor de abastecimento.
Em 2010, a empresa tinha obtido um resultado líquido de R$ 3,7 bilhões nesta área. Em 2011, isso virou um prejuízo de R$ 10 bilhões! Por quê? Porque o preço do barril de petróleo subiu no mundo (uns 40% para o tipo Brent), enquanto a Petrobras decidiu não repassar este aumento para os preços finais dos derivados.
Em português ainda mais claro: a Petrobras foi usada como veículo político pelo governo, para segurar o índice de inflação. E isso custou aos acionistas da empresa bilhões de reais.
Existem outros fatores que explicam o mau humor dos investidores com a empresa, cujo programa de investimentos gigantescos assusta, pois dificilmente será criador de valor para o acionista. Mas este recorrente uso da estatal como veículo político tem custado caro aos seus sócios minoritários.
Nos últimos 24 meses, a Petrobras se desvalorizou quase 30% em relação ao Ibovespa (enquanto o petróleo subiu de preço). É a Petrossauro maltratando seus acionistas para colaborar com o “desenvolvimentismo” do governo petista.
Greve da PM, PT e ministérios
Rodrigo Constantino, para o Instituto Liberal
Lendo o jornal O Globo para decidir o tema deste comentário, passei por três matérias distintas, mas que podem muito bem ser interligadas. A primeira delas fala da greve da PM, das gravações que mostram políticos em busca de aproveitamento oportunista do caos para seus fins eleitoreiros. Uma deputada do PSOL incita a greve antes do carnaval, de olho das eleições. Um ato de terrorismo – colocar fogo em um ônibus – é ordenado pelo líder do motim na Bahia.
Não há muito mais o que falar sobre o assunto. A polícia não pode colocar a população como refém, e os líderes da greve devem ser punidos com rigor. E eis onde entra o PT na história. Hoje no poder, a postura dos petistas, inclusive da presidente Dilma, mudou. Quando era oposição, o PT adotava a postura que hoje pertence ao PSOL, de jogar lenha na fogueira, incitar o caos para colher os frutos eleitoreiros depois. Ainda hoje, onde é oposição, como no município de São Paulo, o PT adota esta prática nefasta.
O mesmo vale para as privatizações. O PT sempre se colocou contrário à venda de estatais ou concessão de serviço público para o setor privado. Mas agora realiza uma enorme venda de aeroportos. A esquizofrenia não é aleatória. Como aponta Merval Pereira, ela tem método, é parte de uma estratégia de tomada do poder. Uma reportagem do jornal carioca lembra que o PT completa 32 anos, cheio de contradições. Contradição é a marca registrada deste partido, cujo único objetivo é ficar eternamente no poder, como seu ídolo cubano. A obsessão por controlar a imprensa ainda está bem viva dentro do PT.
Logo abaixo desta matéria, há outra mostrando que o PSDB enviou ao Planalto proposta para acabar com sete ministérios e cortar 20% dos comissionados (são mais de 20 mil atualmente). Onde está a ligação? Como já disse o empresário Jorge Gerdau, é impossível governar o país com quase 40 ministérios. O governo gasta muito, e gasta muito mal. Sem destinar tantos recursos para ONGs engajadas, invasores do MST, programas racialistas, e uma cambada de parasitas pendurados nas tetas estatais, sem dúvida sobraria muito mais para policiais e bombeiros.
Em outras palavras, se o governo não fosse um Leviatã que se mete em tudo e incha seu quadro de pessoal, ele teria melhores condições de focar em suas funções precípuas, tais como Justiça e segurança. O problema é que reformar o estado desta maneira é tarefa hercúlea, pois existem inúmeros obstáculos, sendo o maior deles justamente esta postura demagógica que o PT, atualmente no governo, sempre soube explorar tão bem. Eis a ligação: a greve da PM tem tudo a ver com o modo petista de ser. Um atraso para o país!
Lendo o jornal O Globo para decidir o tema deste comentário, passei por três matérias distintas, mas que podem muito bem ser interligadas. A primeira delas fala da greve da PM, das gravações que mostram políticos em busca de aproveitamento oportunista do caos para seus fins eleitoreiros. Uma deputada do PSOL incita a greve antes do carnaval, de olho das eleições. Um ato de terrorismo – colocar fogo em um ônibus – é ordenado pelo líder do motim na Bahia.
Não há muito mais o que falar sobre o assunto. A polícia não pode colocar a população como refém, e os líderes da greve devem ser punidos com rigor. E eis onde entra o PT na história. Hoje no poder, a postura dos petistas, inclusive da presidente Dilma, mudou. Quando era oposição, o PT adotava a postura que hoje pertence ao PSOL, de jogar lenha na fogueira, incitar o caos para colher os frutos eleitoreiros depois. Ainda hoje, onde é oposição, como no município de São Paulo, o PT adota esta prática nefasta.
O mesmo vale para as privatizações. O PT sempre se colocou contrário à venda de estatais ou concessão de serviço público para o setor privado. Mas agora realiza uma enorme venda de aeroportos. A esquizofrenia não é aleatória. Como aponta Merval Pereira, ela tem método, é parte de uma estratégia de tomada do poder. Uma reportagem do jornal carioca lembra que o PT completa 32 anos, cheio de contradições. Contradição é a marca registrada deste partido, cujo único objetivo é ficar eternamente no poder, como seu ídolo cubano. A obsessão por controlar a imprensa ainda está bem viva dentro do PT.
Logo abaixo desta matéria, há outra mostrando que o PSDB enviou ao Planalto proposta para acabar com sete ministérios e cortar 20% dos comissionados (são mais de 20 mil atualmente). Onde está a ligação? Como já disse o empresário Jorge Gerdau, é impossível governar o país com quase 40 ministérios. O governo gasta muito, e gasta muito mal. Sem destinar tantos recursos para ONGs engajadas, invasores do MST, programas racialistas, e uma cambada de parasitas pendurados nas tetas estatais, sem dúvida sobraria muito mais para policiais e bombeiros.
Em outras palavras, se o governo não fosse um Leviatã que se mete em tudo e incha seu quadro de pessoal, ele teria melhores condições de focar em suas funções precípuas, tais como Justiça e segurança. O problema é que reformar o estado desta maneira é tarefa hercúlea, pois existem inúmeros obstáculos, sendo o maior deles justamente esta postura demagógica que o PT, atualmente no governo, sempre soube explorar tão bem. Eis a ligação: a greve da PM tem tudo a ver com o modo petista de ser. Um atraso para o país!
quinta-feira, fevereiro 09, 2012
Bomba previdenciária ameaça a Europa
Por Rebecca Christie e Peter Woodifield | Bloomberg (Publicado no Valor)
Mesmo antes da crise do euro, as pessoas já se preocupavam com a bomba previdenciária da Europa.
As obrigações previdenciárias de financiamento público em 19 países da União Europeia (UE) eram aproximadamente o quíntuplo de seu Produto Interno Bruto (PIB) combinado, de acordo com estudo encomendado pelo Banco Central Europeu (BCE). Esses países tinham quase € 30 trilhões em obrigações previstas para suas populações atuais, segundo o relatório, que foi compilado pelo Research Center for Generational Contracts, da Freiburg University, em 2009. A Alemanha tinha € 7,6 trilhões e a França, € 6,7 trilhões, segundo os autores do estudo, Christoph Mueller, Bernd Raffelhueschen e Olaf Weddige, informaram no documento.
"É uma situação totalmente insustentável que, muito claramente, precisa ser revertida", disse Jacob Funk Kirkegaard, pesquisador do Peterson Institute for International Economics.
A recessão que ameaça o segundo maior bloco econômico do mundo, juntamente com os esforços para reduzir as dívidas por toda a Europa, amplifica os riscos financeiros. Índices de nascimentos estabilizados ou em queda, somados ao aumento na expectativa de vida, aumentam a pressão. Projeta-se que a proporção da produção econômica destinada a cobrir os benefícios previdenciários subirá em 25%, para 14% em 2060, segundo o informe do BCE.
O aumento na idade mínima de aposentadoria e a redução dos benefícios precisam fazer parte de qualquer pacote que almeje manter os 17 países da zona do euro agrupados, segundo analistas como Fergal McGuinness, que trabalha em Zurique e é chefe da unidade de consultoria previdenciária na Europa Central e Leste Europeu da Mercer, que pertence à Marsh & McLennan.
A Europa tem uma proporção de pessoas com mais de 60 anos maior do que em qualquer outra região do mundo, e a relação deverá subir para quase 35% em 2050, em comparação com os 22% verificados em 2009, segundo a ONU. Para todo o mundo, a projeção é de aumento de 11% para 22%.
Nos chamados países desenvolvidos, a expectativa média de vida chegará a quase 83 anos em 2050, acima dos cerca de 75 anos, de 2009, segundo a ONU.
Governos e empresas deram passos para reduzir os custos futuros, sendo que autoridades políticas aumentaram a idade mínima para aposentadoria em países como França, Alemanha, Grécia, Itália e Reino Unido.
"Independentemente de você estar fora ou dentro do euro ou em qualquer outro lugar, aumentar as idades de aposentadoria é uma das reformas estruturais que toda a Europa precisa fazer", disse Kirkegaard. "A crise os obrigou a abordar isso. Na verdade, trata-se de algo positivo sob vários aspectos."
Em 2060, os benefícios médios previdenciários serão 48% do salário médio nacional na França, em comparação aos atuais 63%, segundo Stefan Moog, analista da Freiburg University (Alemanha).
Governos e gestores previdenciários dependem do crescimento econômico para proteger as promessas que fizeram. Se a região do euro não crescer o suficiente para sustentar os cofres públicos e privados, os planos de aposentadoria podem tornar-se insustentáveis, de acordo com McGuinness, da Mercer.
"O volume de dinheiro que alguns países vão gastar com seguridade social e assistência de longo prazo vai subir", disse McGuinness. "Os governos com sistemas de seguridade social mais generosos terão dificuldade de arcar com isso."
As obrigações previdenciárias públicas na França e Alemanha representam o triplo do tamanho de suas economias, de acordo com dados reunidos pela Mercer. É mais sustentável na França do que na Alemanha, porque o índice de natalidade francês é maior.
Em 2011, havia 4,2 pessoas em idade de trabalho para cada aposentado na França. O número cairá para 1,9 em 2050, segundo noticiou a revista "The Economist", em março. Na Alemanha, a proporção cairá de 4,1 para 1,6 no mesmo período.
"Isso vai colocar muita pressão sobre a capacidade da Alemanha de honrar suas promessas", disse McGuinness. "A maior probabilidade é a de que eles reduzam os benefícios. Os governos deparam-se com muitos riscos no que se refere à longevidade."
Os planos de pensão de países como Grécia ou Portugal poderiam beneficiar-se com o abandono do euro, já que os aumentos de juros que provavelmente acompanhariam o retorno às suas moedas nacionais reduziriam o custo do passivo, enquanto o valor dos ativos investidos no exterior quase certamente aumentaria, segundo a Mercer.
No Reino Unido, que não entrou na zona do euro, os fundos de pensão transferiram, ao longo dos últimos dez anos, o risco de garantir uma renda adequada de aposentadoria do empregador para o funcionário, como forma de reduzir os déficits previdenciários.
As obrigações previdenciárias não financiadas do setor público no Reino Unido, em 1,5 mil órgãos públicos, somavam 1 trilhão de libras esterlinas (US$ 1,57 trilhão) em março de 2010, segundo o Tesouro britânico informou em 29 de novembro, no primeiro lote de divulgação das contas auditadas do governo (WGA, na sigla em inglês). Isso se compara a um total de 808 bilhões de libras de bônus governamentais do Reino Unido a serem pagos e representa 90% de todo o passivo previdenciário do setor público.
A Royal Dutch Shell, maior petrolífera da Europa, pretende criar um fundo para novos funcionários em 2013 no qual eles serão responsáveis por assegurar que disporão do suficiente para viver a velhice. Os governos podem ter de seguir o mesmo caminho no tratamento de seus próprios funcionários, além de elevar a idade mínima de aposentadoria para, pelo menos, 70 anos e, possivelmente, 75 anos, para poder arcar com as pensões, escreveu Cowling em artigo divulgado em julho no site Public Service Europe.
Mesmo antes da crise do euro, as pessoas já se preocupavam com a bomba previdenciária da Europa.
As obrigações previdenciárias de financiamento público em 19 países da União Europeia (UE) eram aproximadamente o quíntuplo de seu Produto Interno Bruto (PIB) combinado, de acordo com estudo encomendado pelo Banco Central Europeu (BCE). Esses países tinham quase € 30 trilhões em obrigações previstas para suas populações atuais, segundo o relatório, que foi compilado pelo Research Center for Generational Contracts, da Freiburg University, em 2009. A Alemanha tinha € 7,6 trilhões e a França, € 6,7 trilhões, segundo os autores do estudo, Christoph Mueller, Bernd Raffelhueschen e Olaf Weddige, informaram no documento.
"É uma situação totalmente insustentável que, muito claramente, precisa ser revertida", disse Jacob Funk Kirkegaard, pesquisador do Peterson Institute for International Economics.
A recessão que ameaça o segundo maior bloco econômico do mundo, juntamente com os esforços para reduzir as dívidas por toda a Europa, amplifica os riscos financeiros. Índices de nascimentos estabilizados ou em queda, somados ao aumento na expectativa de vida, aumentam a pressão. Projeta-se que a proporção da produção econômica destinada a cobrir os benefícios previdenciários subirá em 25%, para 14% em 2060, segundo o informe do BCE.
O aumento na idade mínima de aposentadoria e a redução dos benefícios precisam fazer parte de qualquer pacote que almeje manter os 17 países da zona do euro agrupados, segundo analistas como Fergal McGuinness, que trabalha em Zurique e é chefe da unidade de consultoria previdenciária na Europa Central e Leste Europeu da Mercer, que pertence à Marsh & McLennan.
A Europa tem uma proporção de pessoas com mais de 60 anos maior do que em qualquer outra região do mundo, e a relação deverá subir para quase 35% em 2050, em comparação com os 22% verificados em 2009, segundo a ONU. Para todo o mundo, a projeção é de aumento de 11% para 22%.
Nos chamados países desenvolvidos, a expectativa média de vida chegará a quase 83 anos em 2050, acima dos cerca de 75 anos, de 2009, segundo a ONU.
Governos e empresas deram passos para reduzir os custos futuros, sendo que autoridades políticas aumentaram a idade mínima para aposentadoria em países como França, Alemanha, Grécia, Itália e Reino Unido.
"Independentemente de você estar fora ou dentro do euro ou em qualquer outro lugar, aumentar as idades de aposentadoria é uma das reformas estruturais que toda a Europa precisa fazer", disse Kirkegaard. "A crise os obrigou a abordar isso. Na verdade, trata-se de algo positivo sob vários aspectos."
Em 2060, os benefícios médios previdenciários serão 48% do salário médio nacional na França, em comparação aos atuais 63%, segundo Stefan Moog, analista da Freiburg University (Alemanha).
Governos e gestores previdenciários dependem do crescimento econômico para proteger as promessas que fizeram. Se a região do euro não crescer o suficiente para sustentar os cofres públicos e privados, os planos de aposentadoria podem tornar-se insustentáveis, de acordo com McGuinness, da Mercer.
"O volume de dinheiro que alguns países vão gastar com seguridade social e assistência de longo prazo vai subir", disse McGuinness. "Os governos com sistemas de seguridade social mais generosos terão dificuldade de arcar com isso."
As obrigações previdenciárias públicas na França e Alemanha representam o triplo do tamanho de suas economias, de acordo com dados reunidos pela Mercer. É mais sustentável na França do que na Alemanha, porque o índice de natalidade francês é maior.
Em 2011, havia 4,2 pessoas em idade de trabalho para cada aposentado na França. O número cairá para 1,9 em 2050, segundo noticiou a revista "The Economist", em março. Na Alemanha, a proporção cairá de 4,1 para 1,6 no mesmo período.
"Isso vai colocar muita pressão sobre a capacidade da Alemanha de honrar suas promessas", disse McGuinness. "A maior probabilidade é a de que eles reduzam os benefícios. Os governos deparam-se com muitos riscos no que se refere à longevidade."
Os planos de pensão de países como Grécia ou Portugal poderiam beneficiar-se com o abandono do euro, já que os aumentos de juros que provavelmente acompanhariam o retorno às suas moedas nacionais reduziriam o custo do passivo, enquanto o valor dos ativos investidos no exterior quase certamente aumentaria, segundo a Mercer.
No Reino Unido, que não entrou na zona do euro, os fundos de pensão transferiram, ao longo dos últimos dez anos, o risco de garantir uma renda adequada de aposentadoria do empregador para o funcionário, como forma de reduzir os déficits previdenciários.
As obrigações previdenciárias não financiadas do setor público no Reino Unido, em 1,5 mil órgãos públicos, somavam 1 trilhão de libras esterlinas (US$ 1,57 trilhão) em março de 2010, segundo o Tesouro britânico informou em 29 de novembro, no primeiro lote de divulgação das contas auditadas do governo (WGA, na sigla em inglês). Isso se compara a um total de 808 bilhões de libras de bônus governamentais do Reino Unido a serem pagos e representa 90% de todo o passivo previdenciário do setor público.
A Royal Dutch Shell, maior petrolífera da Europa, pretende criar um fundo para novos funcionários em 2013 no qual eles serão responsáveis por assegurar que disporão do suficiente para viver a velhice. Os governos podem ter de seguir o mesmo caminho no tratamento de seus próprios funcionários, além de elevar a idade mínima de aposentadoria para, pelo menos, 70 anos e, possivelmente, 75 anos, para poder arcar com as pensões, escreveu Cowling em artigo divulgado em julho no site Public Service Europe.