sábado, abril 22, 2006

A Destruição do Ego

Rodrigo Constantino


"Não se dê aos outros a ponto de não poder mais se dar a si mesmo." (Baltasar Gracián)


Não há nada mais valioso num indivíduo que o seu ego, seu "eu". A integridade humana exige uma mente independente, que utiliza a razão como instrumento epistemológico maior, e considera sua felicidade própria como o mais elevado objetivo a ser atingido. Negar seu ego é negar sua existência. Viver para os outros é ser um escravo. Abdicar da razão é viver como um animal irracional, reagindo por instinto. Enfim, é não ser homem!


Muitos tentam combater isso, seja por desejo de poder sobre os outros, seja por um patológico ódio ao homem, à vida e à liberdade. Existem diversas maneiras de destruir esse ego, esse individualismo que nasce com os homens. Estar ciente desses métodos utilizados por todos os inimigos do ego é crucial para o combate desta praga que é a anulação do indivíduo como um fim em si mesmo.


Uma das formas de destruir o indivíduo é fazê-lo sentir-se pequeno, incutir culpa nele, matar suas aspirações e sua integridade. Fazem isso pregando a abnegação, afirmando que o homem deve viver para o bem dos outros, não o seu próprio. Afirmam que o altruísmo é o ideal, ou seja, o sacrifício de seus próprios interesses em prol do "bem geral". Ninguém consegue chegar lá, viver desta forma. A natureza humana clama contra isso. O homem percebe ser incapaz de atender aquilo que aceitou como a mais nobre das virtudes, passando a sentir-se culpado. Ele se vê como um pecador, um inútil. Estando o ideal supremo acima de seu alcance, ele acaba desistindo de seus ideais, de suas aspirações. Seu valor pessoal entra em colapso. Sente-se obrigado a pregar como certo o que não consegue praticar. Sua honestidade, seu senso de integridade, desaparece. Isso faz com que o homem perca a confiança em si, sentindo-se inseguro, sujo. Torna-se assim uma presa fácil, pronto para obedecer aquele que preencher este vácuo.


Outra forma é acabar com a noção de valores do homem, matando sua capacidade de reconhecer a grandeza ou de alcançá-la. A mediocridade é colocada num altar, tudo que é "lugar-comum" passa a ser enaltecido, e desta maneira os templos estarão demolidos. Como no filme Os Incríveis, quando o filho com super poderes protesta que dizer que todos são especiais é o mesmo que dizer que ninguém o é. Acabando com a reverência, matam o heróico no homem.


Um outro mecanismo usado para o assassínio do ego é não deixar o homem ser feliz. Homens felizes não têm tempo nem interesse em servir. São livres. Por isso, os inimigos do ego não permitem a felicidade, não deixam os indivíduos terem o que querem. Fazem com que as pessoas sintam que os desejos pessoais são um mal, um pecado. As vítimas irão em busca de consolo, apoio, fuga. Os sistemas éticos estabelecidos ao longo de séculos pregam que o sacrifício está acima do prazer individual. A renúncia dos interesses particulares é colocada acima da busca individual da felicidade. A felicidade é atrelada à culpa. Jogar o primogênito no fogo é prova de amor a deus, é nobre. Deitar numa cama de pregos é nobre. Ir para um deserto, mortificar a carne, tudo que é sacrifício passa a ser visto como a meta da vida, o leitmotiv da existência humana. Porém, onde há sacrifício, existe sempre alguém recebendo as oferendas. Onde há servidão, existe um mestre. Por trás dessa pregação toda, enaltecendo o sacrifício humano, está um desejo de poder, de controlar os outros. Aceitar tais valores como nobres é o caminho da desgraça individual.


Como a razão é a maior arma contra tudo isso, claro que anular o seu valor passa a ser outro método utilizado pelos que querem destruir o ego. Assim, fazem com que a razão perca força entre os demais instrumentos cognitivos. Afirmam que ela é limitada, que há sempre algo acima dela. Que o importante não é pensar, mas "sentir". Que ninguém é dono da verdade, logo qualquer teoria é igualmente válida. As vítimas disso sequer notam que para concluírem que a razão não importa tanto, faz-se preciso usar dela.


No objetivo pérfido dessa gente, vale tudo. A meta é uma só: matar o indivíduo e chegar ao poder. A defesa é utilizar justamente a capacidade humana que tanto nos distingue dos demais animais: a razão. Somente ela pode salvar o ego, colocar o homem no seu devido lugar. Não como algo sacrificável para outros fins. Não como uma insignificante parte de um coletivismo qualquer. Não como apenas uma casca para uma outra vida imaginária. Mas como uma finalidade em si, com total direito da busca pela sua felicidade.

14 comentários:

Rodrigo Braga Alonso disse...

Uma coisa que sempre me surpreende em Randianos é o quanto eles apóiam uma instituição de certo grau coletivista como o mercado e então dizem basear as coisas no ego. (certo grau, não estou nem de longe comparando o mercado com uma colônia socialista ou qualquer coisa que completamente anule o ser humano)
E vocês defendem o egoísmo de tal forma e depois se surpreendem quando usam o Estado para ferir os "seus" direitos a vida, propriedade e busca pela felicidade.
Agora, eu pergunto, do ponto de vista do egoísmo, que motivo eu tenho para respeitar sua propriedade tendo certeza que eu posso me safar disso?
Porque eu não me juntaria ao PT e criaria o "ministério dos desejos egoístas do Rodrigo" tendo a certeza que nada vai me impedir de cobrar os impostos que eu quiser para tal projeto?
Acho que um dos maiores erros do liberalismo é dar atenção a classica frase da Ayn Rand que diz que "o capitalismo é bom porque é o único sistema compatível com seres racionais, não porque traz o bem comum" e então tratam "o bem comum" como se fosse um detalhe agradavel, mas que pode ser dispensavel, isso é um erro, porque o coletivo é, em termos de força bruta, mais forte do que o individuo, então se não houver bem comum, o individuo será suprimido e deve ser mesmo, pois o egoísmo das massas falará mais alto.
Quando você critica o "desejo de poder", você está criticando o egoísmo das pessoas em pensarem por si próprias e não deixarem os outros viver em liberdade e aí está, na minha opinião, uma das contradições básicas da Ayn Rand.
Porque um coletivo de pobres seriam altruistas a ponto de permitir que o individuo rico tenha uma vida melhor que a deles, sendo que eles podem se beneficiar do ato de invadir a casa de tal pessoa, assassinar seus filhos e fazê-lo sofrer até revelar a localização do cofre?
Mesmo supondo que o homem rico tenha ficado rico através do mercado e que ele seja uma boa pessoa, pois satisfez a necessidade de muitos consumidores; porque o coletivo de individuos egoístas pobres deveriam respeitar o egoísmo do individuo rico se isso os mantém esfomeados?
Claro, você pode dizer que "então é por isso que precisamos de uma policia eficiente baseada em direito liberal", mas aí então você não está atacando o coletivismo, você está simplesmente colocando uma coletivista entidade violenta para impedir que o ego dos mais pobres se manifeste de uma forma que desagrada o seu ego.
Eu vejo individualismo como consequência natural que um individuo tem da sociedade. O mercado garante essa independência, no sentido em que, sim, eu preciso agradar os outros para ter coisas, mas eles não são meus mestres e nem servos, porém, sem uma bem estar social, o coletivo de individuos sofredores não permitirão que o individualismo se desenvolva, afinal, a falta de comida ou brinquedos no natal os faz ainda dependentes da sociedade e eles apóiam portanto, governos que encarem essa dependência como algo justo e rejeitam governos que encarem essa dependência como "parasitismo".
Permitir o individualismo é um ato altruista que a sociedade concede ao individuo, então não é de espantar que os individualistas não estejam conseguindo nada, pois ao invés de colaborar para que os outros consigam sua independência, estão preocupados demais com o quão injusto é que esses egoístas não permitam o egoísmo.

Anônimo disse...

Ualll...!!!
O Mercado é instituição coletoivista??????? ...oh! raios!
Imagino que se esteja entendendo o mercado como um local cheio de gente ...hehehe! ...o dito mercado é só um ambiente onde as pessoas se relacionam e não um local cheio de gente. Ademais coletivismo não é amontoado de gente interagindo num "supermercado" ...hehehe! e sim uma doutrina que estabelece que o "interesse coletivo" precede o individual (claro que o "IC" é estabelecido segundo os interesses dos coletivistas); é quantitativa.
Egoísmo é "pensar em si mesmo", egocentrismo é que é sobrepor-se aos demais acreditando que devam eles também pensar em mim primeiro.
O egoísmo não leva ao banditismo, mas sim o egocentrismo.

"Egoísta é aquele que pensa primeiro em si mesmo e depois em mim" ...quem condena o egoísmo é egocentrico!

Misturar egoísmo com safadeza, como necessáriamente uma agressão aos demais é um desavergonhado sofisma.
O fato de alguém entender que não tem obrigação de tirar de si para doar a outro, prejudicar seu interesse para beneficiar outro, não significa que entende que o outro deve ser sacrificado a si. Esse tipo de deturpação é safadeza. Ademais um altruísta só será altruista se sua prática lhe causa bem estar. Ouseja, se pratica o "altruísmo" por obrigação moral, visando apenas obter a recompensa do meio moral, o está praticando por um outro interesse que não o bem alheio. Ou seja, para ser realmente altruísta, há que ser egoísta. Egoísta que se sente bem em ajudar os demais, e por tal pratica o altruísmo por puro egoísmo. Praticar o altruísmo para "ficar bem na fita" ou para poder cobra-lo dos demais em próprio benefício é algo repugnante.
Não só se é "altruísta" para beneficiar outros, mas também como meio de exigir que outros se prejudique. Muitos são os que sentem prazer no mal alheio, que também [pode ser um bem para si, mesmo que na aparência não o seja: o invejoso sente-se bem com o mal, ou prejuízo, daqueles que inveja, e exigir-lhes o "altruísmo" é um meio de tentar causar-lhes danos, tanto quanto um meio de exibir-se "valioso" ...algo envaidecedor ...hehehe! (segundo a moral estabelecida ideologicamente).
Um egoísta orgulhoso (coisas condenadas por ideologias safadas) será honesto.
...E coletivismo é uma doutrina e não um amontoadao de gente se relacionando ...pô!
Abraços
C. Mouro

Anônimo disse...

Bem, para começar, eu sou tão egoísta, mas tão egoísta, que me obrigo a não prejudicar ninguém, para não justificar que alguém possa me prejudicar.
Há o certo e o errado, concluídos por análise lógica ou por arbítrio “vindo do além”. Um sujeito egoísta não que sentir vergonha de si, mas sim o prazer do orgulho sincero, e agir contrario ao que considera certo o deprecia ante si mesmo; e sendo egoísta não o admite, seria um mal a si. Todos julgam optando por mal menor ou bem maior. Para quem não é egoísta (nem orgulhoso), a pratica de canalhices não causa desconforto interno, visando apenas as consequências externas. Daí que quem não é egoísta se permite tudo praticar, desde que ninguém o saiba para puni-lo. Já os egoístas orgulhosos entendem que sempre eles mesmos saberão, e isso é suficiente para seu desconforto.
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Ora, é justamente por defender o egoísmo que se condena o uso do Estado para tirar de uns e dar a outros. O coletivismo anui com isso, o individualismo egoísta não.
O pretenso altruísmo, moral-ideológico, é que foca no benefício alheio em desprezo pelo indivíduo, defendendo que cada indivíduo deve sacrificar seus interesses em benefício dos demais. E tal é em si uma contradição, como tudo que é fraudulento, tendencioso. Pois se cada um desprezar a si pelo bem alheio, não poderá jamais concordar que alguém se prejudique para beneficia-lo. E então teremos O TAL “ALTRUÍSMO” DEFENDENDO QUE UNS SEJAM ALTRUÍSTAS E OUTROS SEJAM EGOÍSTAS; ...hehehe! ...UMA ABERRAÇÃO LÓGICA! que põe a nú tal embuste moral-ideológico. Obrigando a um abandono da lógica ética para se apoiar no relativismo do mais desavergonhado arbítrio desconexo. Ou seja, arbitra-se que “tudo depende” e, assim, o tal “altruísmo” não seria colocar o interesse alheio em primeiro lugar, mas sim arbitra-se uma hierarquia de necessidades e “danos”. Tipo atender necessidades alheias sem que tal cause dano grave ao “altruísta”, segundo o que se arbitra por dano (mas se ele se prejudicar será será uma “grande alma altruísta”): uma milonga ideológica! embuste!
Assim, facilmente se pode chegar a que o altruísmo leva a uma defesa da pretensa igualdade material (impossível), onde tudo se divide; e até ao “comunismo” na forma de se produzir sem interesse próprio, mas sobretudo para o bem alheio, SEM JULGAR O MÉRITO ALHEIO e sem considerar ímpetos subjetivos. Ou seja, na verdade o “altruísmo ideológico” é nitidamente contrário a meritocracia e à subjetividade, ele despreza o mérito e conseqüentemente despreza a justiça (o que é justo), atendo-se unicamente na “práxis” realizadora (coisa para zumbis). O altruísmo ideológico é um embuste coletivista.
Curiosidade:
Se alguém ajuda gratuitamente é “altruísta” mas se ajuda exigindo uma contrapartida beneficiadora entende-se que não o é: quem faz caridade é bom; quem vende/comercializa é mau (doação x remuneração). Ou seja, o que está em jogo nesta porca moral ideológica não é o benefício alheio, mas sim o dano de quem o pratica. ...a inveja exige o dano do invejado e ao mesmo tempo envaidece o traste por tal exigência. ...uma lastima! O valor moral da caridade opondo-se à troca, é um alento para muitos.
Quanto ao “desejo de poder”, que não é o “desejo de potência” de Nietzsche, isso não é egoísmo, é egocentrismo de quem almeja comandar a vida alheia segundo suas preferências e opções ideológicas. É um desejo característico daqueles que seguem ideologias “salvadoras” que possuem a “receita do bem comum”, ou da salvação. ...coisa de “altruístas”.
Abraços
C. Mouro
Obs.: Não li Rand, mas creio que concordaria bastante.

Rodrigo Braga Alonso disse...

No mercado se é mais recompensado por agradar mais pessoas, os mais bem sucedidos no mercado são os que mais obedecem as massas, se isso não é um incentivo ao coletivismo, sorry, não sei o que é.

Sem contar que sua tentativa de substituir "egoísmo" (que significa que você é um fim em si próprio) por "egocentrismo" (que significa que você é um fim em si próprio) é bem fraca.
Uma pergunta simples:
Se eu posso te matar, roubar todo seu dinheiro e nunca ser pego, porque eu não faria?
Eu sou um fim em mim próprio, seus direitos e sua vida tem uma importância nula pra mim.
Eu não estou advogando o altruismo socialista, que de fato é fazer caridade com o dinheiro dos outros, eu estou dizendo me baseando no que Ortega Y Gasset disse, que o liberalismo é "a forma suprema de generosidade: é o direito, assegurado pelas maiorias às minorias e, portanto, o apelo mais nobre que já ressoou no planeta."

Então, repetindo-o
"O direito, assegurado pelas maiorias às minorias", só que nesse seu egoísmo, você não dá nenhum motivo as maiorias para assegurar seu direito ao liberalismo.
Você pede que as pessoas passem necessidade simplesmente porque você diz que é certo.
Você almeja "almeja comandar a vida alheia segundo suas preferências e opções ideológicas" dizendo que elas não podem te matar. Oras, porque elas não podem te matar? Porque você é racional? É sagrado? É um fim em si? O que isso importa?

Ou os liberais saem do seu sagrado trono onde todos não passam de parasitas burros tentando tirar uma casquinha do Estado e passam a de fato trabalhar pela liberdade e autonomia das massas (ou seja, dando motivo a elas protegerem o liberalismo) ou vão ficar pra sempre em blogs choramingando que esses favelados são uns egocêntricos.

Anônimo disse...

A sua pergunta já foi respondida acima. É bobagem repeti-la como se sem resposta.
Liberalismo, ou liberdade igual para todos, não é generosidade, é respeito pelos indivíduos, é justiça. É respeito aos direitos naturais dos indivíduos e não uma concessão benevolente. Generosidade é o que concedemos a quem não tem direito. Respeito é reconhecer o justo direito alheio. As “maiorias” devem respeitar o igual direito da “minoria” (cada indivíduo deve respeitar cada um outro). Nenhum indivíduo tem direito sobre outro que não o tenha concedido. Isso é racional, é julgar o certo e o errado logicamente. Agir conforme minha razão julga o certo me proporciona muito prazer, e até a generosidade me faz sentir bem. Se você nada sente ao agir honestamente e mesmo praticar atos generosos ...sorry! EU TENHO FARTOS MOTIVOS RACIONAIS PARA RESPEITAR O DIREITO ALHEIO. Sinto por você não os ter.
Eu não desejo comandar a vida alheia para que não me matem, eu digo que eles não têm esse direito, da mesma forma que eu não tenho direito sobre a vida deles. Comandar é recomendar ação, ou determinar obriga-ação, eu apenas proíbo-ação alheia sobre mim. Por favor tente entender o que é consciência ...ela existe, é razão. Só as máquinas não encontram razão para sua ação ou inércia.
AGORA, uma curiosidade: pode me dizer QUAL O MOTIVO QUE VOCÊ DÁ PARA AS MAIORIAS NÃO TRUCIDAREM AS MINORIAS? será interessante saber.
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Egoísmo significa que você é um fim em si próprio, e egocentrismo significa que os demais são meios para você mesmo. Assim, um necessitado que exige dos outros é um egocêntrico, que pretende submeter os demais a si.
Essa sua idéia de que pensar em si mesmo coloca os demais em submissão plena a seu interesse é desprezar completamente a idéia de certo e errado; é desprezar a lógica; é menos que animalizar o ser humano. Desconsiderando plenamente a razão como instrumento para julgar o certo e o errado. Fica evidente que você só não mata e rouba porque pode ser punido. No meu caso, mesmo que não houvesse punição eu não mataria um inocente para me beneficiar. Pois julgo isso errado/injusto; e agir contra minha razão me causaria a imensa dor do remorso (remorso é razão).
Se alguém que não se sente bem sendo justo e até “altruísta” pratica o bem aos demais, quais os motivos que o levam a tal “altruísmo”? Seria apenas a ambição de obter um “bem futuro” (“vida eterna” p/ex.) ou mecanicamente (sem nada julgar=zumbi) atenderia uma recomendação moral estabelecida? Qual o motivo de se praticar o bem e a justiça se não a razão que nos faz sentir bem?
O negócio é que defender o altruísmo é envaidecedor diante da moral estabelecida. Um bandido criminoso defende os “direitos humanos” porque isso o favorece, tanto que não os respeita nos demais. E vê-los em tal defesa dá a impressão de que são muito “justos” e até “altruístas”.
Condenar o egoísmo foi, e é, propagandeado como valorizador do indivíduo, é a moral estabelecida por interesses. O que seria dos “altruístas profissionais” se não induzissem a se crer na valorização que o “altruísmo” proporciona: atribuir valor aos servos os induz a serem servis, interessados egoisticamente neste valor, ou egoisticamente interessados no prazer de servir.
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No mercado livre se é recompensado por atender desejos e necessidades alheias (até subjetivamente). É troca espontânea!) ...sim! é isso mesmo! E isso nada tem com colocar o interesse “dos outros” na frente dos meus. Ao contrario, eu ofereço benefícios aos outros para alcançar o meu benefício de forma justa; ou seja, eu espero retribuição. Se minha expectativa não é atendida, eu não me conformo achando que tal seja certo. Na verdade estou pensando no meu bem estar de forma justa. Meu objetivo não é o de beneficiar os outros, ou a “coletividade”, mas sim o de me beneficiar. Já o coletivismo (é uma doutrina moral ...pô!) determina que o apregoado bem alheio deve preceder o meu benefício. Já escrevi um texto: “O coletivismo” que fala disso.
O mercado em si é um fato; o mercado livre é uma doutrina moral fundada em principio filosófico-ético que julga que todos devem ser igualmente livres (ausência de opressão), considerando isso “o certo”. Já o coletivismo é uma doutrina pretensamente fundada num fim: o “bem comum”. Considerando que o tal “bem comum é “o certo”, sem qualquer relação com o julgamento de méritos. Tipo: “todos merecem o bem”. E esse “bem comum” o é segundo a subjetividade de quem o enuncia: é arbitrado.
Como eu disse, há o que se julga certo e o que se julga errado. Isso não tem haveres com egoísmo e altruísmo, senão sob ponto de vista ideológico. Pois que uma ideologia pode estabelecer, p/ ex., que o “altruísmo” é o certo por sua prática proporcionar um “fim supremo” qualquer, como a “vida eterna”. Assim, atendemos a uma ideologia visando obter um fim benéfico. Mas há outra forma de se chegar a idéia de certo e errado, que é a lógica.
Muitos alegam que sem uma moral ditada por Deus tudo seria permitido. Ou seja, apenas almejam o “beneficio dado por deus” aos que o obedecerem. Já outros não se guiam por tal “benefício divino” e nem mesmo por qualquer outro beneficio ideológico, mas sim por análises lógicas que não admitem contradições ou aberrações. Ser egoísta não é agir contrario ao certo para beneficiar-se, pois o certo é o certo, aquilo que deve se realizar (visão filosófica). Já na visão ideológica o objetivo é o “benefício compensador”, levando a que “o certo” é aquilo determinado ideologicamente (muito dialético! ...hehehe!). Pois não podem explicar filosoficamente a justiça do “seu certo” senão mirando no “benefício futuro” ...coisa plenamente egoísta. ...hehehe! Vejamos: Deus estabelece “o certo” e premiará os que o obedecerem, e considera-se que a verdade vem de Deus (não se pode julgar deus, ele está sempre certo) e anuir com ele resulta em benefício. Fora isso é pior ainda, pois se considerará algo “certo” subjetivamente, sem qualquer raciocínio lógico: um mero arbítrio subjetivo ou em vista de um benefício terreno mesmo. ...isso é muito egoísmo. Pois o certo, o justo, é aquilo que deve se realizar, e deve ser imposto.
Se alguém disser que o certo e justo não deve ser imposto, estará concordando que o injusto deve se realizar.
Fazer caridade é algo benéfico aos que a recebem, e até agradável de praticar e presenciar: é benéfico e até desejável. Mas daí a dizer que é o certo e justo implica em tentar impô-lo. A menos que se concorde com o direito da injustiça, ou das coisas erradas, de existir. Há erros no sentido de não levarem aos fins almejados, mas há erros em sentido absoluto. P/ ex.: roubar é filosoficamente errado, ou injusto, independente de qualquer resultado do roubo. Mas se alguém concebe que uns roubando de outros leva a um resultado benéfico, se poderá dizer que “neste caso será certo/justo”? por meramente beneficiar a maioria ou mesmo apenas os muito pobres, em prejuízo dos ricos? ...o que dirá um “altruísta” sobre isso? ...e matar? será certo ou justo matar um inocente para beneficiar 5000? um egoísta dirá que não, mas um coletivista terá que concordar que a vida de um inocente vale menos que o bem de 5000. Afinal, para a idéia coletivista/altruísta o interesse coletivo precede ao individual. De onde sai tal absurda sentença? da quantidade? do benefício à maioria? do mero arbítrio subjetivo? um altruísta deve se oferecer em sacrifício ou exigir o sacrifício alheio por ser isso “o certo”? ..esmiuçar as questões é terrível.
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Rodrigo Constantino disse...

"Guardar ressentimento é como tomar veneno e esperar que a outra pessoa morra." (William Shakespeare)

Até o perdão é egoísta!

Buda teria dito algo muito similar a Shakespeare, quando nos lembrou que guardar raiva é como segurar um recipiente quente para lançar em alguém, queimando a nós mesmos. Ou mesmo Jesus, ao pregar que não devemos fazer com os outros o que não gostaríamos que fizessem conosco, está dando clara ênfase ao foco individualista. Uns cem anos antes dele, Publilius Syrus foi na mesma linha, preparando os homens para serem tratados pelos outros como os tinham tratado.

Anônimo disse...

Caro Rodrigo,

parabéns por este post. Suas idéias são lúcidas e verdadeiras. Saudações.

Alexandre, The Great disse...

Perfeito o artigo, Rodrigo.
O exemplo mais notório da morte do ego na História são os campos de extermínio alemães.

"É isto um homem?" de Primo Levi retrata com clareza essa lógica do aniquilamento sucessivo da resistência ao sofrimento humano: nada é tão ruim que não possa se tornar pior.

Por acaso está sugerindo um paralelismo?

Anônimo disse...

Gosto de todos os seus posts, mas esse achei meio confuso. Vc apresentou algumas formas de "assassínio" do ego, um pouco egoístas, se me permite o pleonasmo.

"Uma das formas de destruir o indivíduo é fazê-lo sentir-se pequeno, incutir culpa nele, matar suas aspirações e sua integridade."

Vc mesmo disse num post recente que isso é impossível sem a autorização do indivíduo. Eu só consigo te fazer pequeno com a sua autorização.

"A mediocridade é colocada num altar!"

Para não ser medíocre eu apenas sigo um velho ditado a risca: prefiro pecar por excesso do que por omissão. A grande maioria peca por omissão. Entre tentar fazer o gol ou não chutar, preferem nem chutar !!!

O grande problema da felicidade é que estamos sempre atrás dela. É uma merda !!! É o burrinho atrás de cenoura. Sempre! Eu me sinto assim várias vezes, mas estou tentando achar a felicidade dentro de mim e não no mundo exterior. Ou melhor, estou tentando ser a onda ao invés do surfista!

Eu acho que o seu post soou um pouco como culto ao egoísmo, e isso não é bom. Todos nós somos um pouco egoístas. As vezes até bastante egoístas. Isso já faz parte da natureza humana. Entretanto acredito que ao invés de esperar que o mundo nos sirva com prazeres, dinheiro, saúde, paz e essas coisas, devemos nos preocupar ainda mais em servir ao mundo. Só assim se alcança uma espirtualidade muito maior que qualquer religião de culto a um deus ou ao próprio ego.

Ekatierina Ivanovna disse...

Esse post é uma aula de estratégia defensiva relativa ao trabalho profícuo da auto-estima de cada ser. Uma arma contra a ausência da razão, refletida na ação humana prejudicial que nos torna enfraquecidos, maleáveis, presas fáceis aos lobos da planície, sejam estes no âmbito político ou social no qual estamos inseridos. É preciso se proteger em nome da racionalidade,do conhecimento,para não se submeter aos Destruidores do Ego, dito aqui, mantendo assim a nossa autonomia de ação, pois só conseguiremos atingir a felicidade plena quando o pensar e o fazer estiverem em perfeito acordo com a nossa consciência. Seguindo a prudência e a diminuição da margem de erro, é preciso combater dois excessos: excluir a razão e só admitir a razão. Eis a chave. Eis o código: o equilíbrio da rãzão. Deixo aqui o meu agradecimento pela arte da escrita desse autor, pelo trabalho perfeito realizado, pelo estilo conciso, sem excluir a poesia das idéias, inteligível a todos, demontrando a sua eloquente arte, ao se dizer muitas coisas com poucas palavras, por que cada palavra tem a sua importância.
Saudações,
Angel(Ekatierina Ivanovna)

O Direitista disse...

Acho que há uma confusão entre defesa do ego, ou, como eu preferiria dizer, da consciência individual, e negação de valores transcendentais, maiores que o homem e superiores a qualquer indivíduo.

Defender tais valores não é assassinar o ego. Isso é absurdo. O ego é justamente o que engrandece a obediência a tais valores. Se não houvesse ego e as pessoas fossem levadas a aderir, não seria admirável. É o livre-arbítrio, que necessita do ego, que torna grandiosa uma ação de suprimir interesses próprios em benefício de outro(s).

Da mesma forma, se o homem fosse apenas um ser voltado para uma busca vã da felicidade, não seria mais que um animal, que busca apenas sua satisfação imediata. A razão não deve ser apenas um instrumento dos desejos. Deve ser também superior à mera satisfação de desejos.

Assim, o indivíduo e estes valores transcendentais estão intimamente ligados e é a quebra desta ligação que ameaça a integridade do ego, não o contrário.

Anônimo disse...

Em relação ao texto "A Morte do Ego" , me parece que para o autor, a sociedade ideal é esta a que estamos atrelados atualmente, muito análoga aos mais primitivos ecossistemas compostos de predadores e presas, não é para isso que nascemos dotados de inteligência. É lamentável constatar a ação de neo-liberais empenhados em justificar a injustiça e o grau de desequilíbrio social em que vivemos como a " A supremacia do Ego" ou o "Triunfo do individual sobre o coletivo". São indivíduos assim, que no limiar de uma guerra civil ocasionada pela miséria de nossa sociedade, podem lançar mão de recursos para abandonar o país. Tudo em nome de seu "Precioso "Ego".

Anônimo disse...

qual dedo eu levanto?

Unknown disse...

Esta teoria de que é preciso sofrer pelos outros para ser nobre ,é tirado da biblia sagrada,que passa-se por gerações....