Rodrigo Constantino, para o Instituto Liberal
O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) aprovou ontem nova regra liberando a candidatura dos “contas-sujas”. A mudança se deu no julgamento de um recurso apresentado pelo PT. O ministro Dias Toffoli, o mais próximo ao partido, desempatou a votação. É o partido de Lula ajudando a sujar a democracia brasileira, seu “esporte” preferido.
Mas como nem tudo é notícia ruim, o embaixador Samuel Pinheiro Guimarães decidiu renunciar ao cargo de alto representante-geral do Mercosul. Ele alegou falta de apoio político para tal decisão. Se for isso mesmo, trata-se de um ótimo sinal. Afinal de contas, Pinheiro Guimarães é o grande ideólogo “bolivariano” infiltrado no bloco, representando o “chavismo” no lado brasileiro.
A postura do Itamaraty na questão paraguaia foi vergonhosa, e espera-se que os interesses da nação fiquem acima dos interesses ideológicos da turma alinhada ao Chávez. O Barão do Rio Branco, ao assumir em 1902 o ministério das Relações Exteriores, declarou: "Não venho servir a um partido político: venho servir ao Brasil, que todos desejam ver unido íntegro, forte e respeitado". Que falta faz um Barão do Rio Branco na diplomacia brasileira!
De volta às notícias ruins, o “Obamacare” foi considerado constitucional ontem pela Suprema Corte. O governo poderá obrigar o cidadão a comprar seguro de saúde. Isso foi aprovado porque os juízes encararam tal seguro como um imposto. Logo, trata-se de uma vitória de Pirro para Obama. Ele consegue manter sua reforma no setor de saúde, mas somente evidenciando que o seguro representa um novo imposto para a classe média, algo que o presidente negava veementemente.
Foi Thomas Sowell quem resumiu de forma brilhante a mentalidade esquerdista no caso: “É incrível como algumas pessoas acham que nós não podemos pagar médicos, hospitais e medicamentos, mas pensam que nós podemos pagar por médicos, hospitais, medicamentos e toda a burocracia governamental para administrar isso”. Se a saúde já é cara, espere até ela ficar “gratuita”!
Para fechar esta rodada de notícias de sexta-feira, nada como comparar FHC e Lula. FHC disse que vota em Serra, mas não faz campanha. Ele argumentou que pedir votos é um papel “indevido” a um ex-mandatário. E ainda alfinetou Lula: “Eu não sei morder canela. Não acho que seja apropriado ao ser humano”. Já Lula foi multado por fazer campanha antecipada para Fernando Haddad. Que abismo que separa a postura de FHC da de Lula!
Idéias de um livre pensador sem medo da polêmica ou da patrulha dos "politicamente corretos".
sexta-feira, junho 29, 2012
quinta-feira, junho 28, 2012
Três séculos de Rousseau
Hoje faz 300 anos que nasceu Rousseau, o pai do totalitarismo moderno. Em homenagem a data, e devido ao fato de que milhões de filhotes de Rousseau pululam por aí, seguem os links de alguns artigos sobre este "selvagem" nada bom:
O coletivismo de Rousseau
O bom selvagem
O fanatismo de Rousseau
Pondé sobre Rousseau (vídeo)
O coletivismo de Rousseau
O bom selvagem
O fanatismo de Rousseau
Pondé sobre Rousseau (vídeo)
Sorria!
Contardo Calligaris, Folha de SP
Na frente da câmara fotográfica, ninguém precisa nos dizer "Sorria!"; espontaneamente, simulamos grandes alegrias, sorrindo de boca aberta. Em regra, hoje, os retratos são propaganda de pasta de dentes -se você não acredita, passeie pelo Facebook, onde muitos compartilham seus álbuns, rivalizando para ver quem parece melhor aproveitar a vida.
O hábito de sorrir nos retratos é muito recente. Angus Trumble, autor de "A Brief History of the Smile" (uma breve história do sorriso, Basic Books), assinala que esse costume não poderia ter se formado antes que os dentistas tornassem nossos dentes apresentáveis.
Além disso, os retratos pintados pediam poses longas e repetidas, para as quais era mais fácil adotar uma expressão "natural". O mesmo vale para os daguerreótipos e as primeiras fotos: os tempos de exposição eram longos demais. Já pensou manter um sorriso por minutos?
Outra explicação é que o retrato, até a terceira década do século 20, era uma ocasião rara e, por isso, um pouco solene.
Mas resta que nossos antepassados recentes, na hora de serem imortalizados, queriam deixar à posteridade uma imagem de seriedade e compostura; enquanto nós, na mesma hora, sentimos a necessidade de sorrir -e nada do sorriso enigmático do Buda ou de Mona Lisa: sorrimos escancaradamente.
Certo, o hábito de sorrir na foto se estabeleceu quando as câmaras fotográficas portáteis banalizaram o retrato. Mas é duvidoso que nossos sorrisos tenham sido inventados para essas câmaras. É mais provável que as câmaras tenham surgido para satisfazer a dupla necessidade de registrar (e mostrar aos outros) nossa suposta "felicidade" em duas circunstâncias que eram novas ou quase: a vida da família nuclear e o tempo de férias.
De fato, o álbum de fotos das crianças e o das férias são os grandes repertórios do sorriso. No primeiro, ao risco de parecerem idiotas de tanto sorrir, as crianças devem mostrar a nós e ao mundo que elas preenchem sua missão: a de realizar (ou parecer realizar) nossos sonhos frustrados de felicidade. Nas fotos das férias, trata-se de provar que nós também (além das crianças) sabemos ser "felizes".
Em suma, estampado na cara das crianças ou na nossa, o sorriso é, hoje, o grande sinal exterior da capacidade de aproveitar a vida. É ele que deveria nos valer a admiração (e a inveja) dos outros.
De uma longa época em que nossa maneira e talvez nossa capacidade de enfrentar a vida eram resumidas por uma espécie de seriedade intensa, passamos a uma época em que saber viver coincidiria com saber sorrir e rir. Nessa passagem, não há só uma mudança de expressão: o passado parece valorizar uma atenção focada e reflexiva, enquanto nós parecemos valorizar a diversão. Ou seja, no passado, saber viver era focar na vida; hoje, saber viver é se distrair dela.
Ao longo do século 19, antes que o sorriso deturpasse os retratos, a "felicidade" e a alegria excessivas eram, aliás, sinais de que o retratado estava dilapidando seu tempo, incapaz de encarar a complexidade e a finitude da vida.
Alguém dirá que tudo isso seria uma nostalgia sem relevância, se, valorizando o sorriso e o riso, conseguíssemos tornar a dita felicidade prioritária em nossas vidas. Se o bom humor da diversão afastasse as dores do dia a dia, quem se queixaria disso?
Pois é, acabo de ler uma pesquisa de Iris Mauss e outros, "Can Seeking Happiness Make People Happy? Paradoxical Effects of Valuing Happiness", em Emotion on-line, em abril de 2011 (http://migre.me/9CT8e).
Em tese, a valorização ajuda a alcançar o que é valorizado -por exemplo, se valorizo as boas notas, estudo mais etc. Mas eis que duas experiências complementares mostram que, no caso da felicidade (mesmo que ninguém saiba o que ela é exatamente -ou talvez por isso), acontece o contrário: valorizar a felicidade produz insatisfação e mesmo depressão. De que se trata? Decepção? Sentimento de inadequação?
Um pouco disso tudo e, mais radicalmente, trata-se da sensação de que a gente não tem competência para viver -apenas para se divertir ou, pior ainda, para fazer de conta. Como chegamos a isso?
Pouco tempo atrás, na minha frente, uma mãe conversava pelo telefone com o filho (que a preocupa um pouco pelo excesso de atividade e pela dispersão). O menino estava passando um dia agitado, brincando com amigos; a mãe quis saber se estava tudo bem e perguntou: "Filho, está se divertindo bem?".
Na frente da câmara fotográfica, ninguém precisa nos dizer "Sorria!"; espontaneamente, simulamos grandes alegrias, sorrindo de boca aberta. Em regra, hoje, os retratos são propaganda de pasta de dentes -se você não acredita, passeie pelo Facebook, onde muitos compartilham seus álbuns, rivalizando para ver quem parece melhor aproveitar a vida.
O hábito de sorrir nos retratos é muito recente. Angus Trumble, autor de "A Brief History of the Smile" (uma breve história do sorriso, Basic Books), assinala que esse costume não poderia ter se formado antes que os dentistas tornassem nossos dentes apresentáveis.
Além disso, os retratos pintados pediam poses longas e repetidas, para as quais era mais fácil adotar uma expressão "natural". O mesmo vale para os daguerreótipos e as primeiras fotos: os tempos de exposição eram longos demais. Já pensou manter um sorriso por minutos?
Outra explicação é que o retrato, até a terceira década do século 20, era uma ocasião rara e, por isso, um pouco solene.
Mas resta que nossos antepassados recentes, na hora de serem imortalizados, queriam deixar à posteridade uma imagem de seriedade e compostura; enquanto nós, na mesma hora, sentimos a necessidade de sorrir -e nada do sorriso enigmático do Buda ou de Mona Lisa: sorrimos escancaradamente.
Certo, o hábito de sorrir na foto se estabeleceu quando as câmaras fotográficas portáteis banalizaram o retrato. Mas é duvidoso que nossos sorrisos tenham sido inventados para essas câmaras. É mais provável que as câmaras tenham surgido para satisfazer a dupla necessidade de registrar (e mostrar aos outros) nossa suposta "felicidade" em duas circunstâncias que eram novas ou quase: a vida da família nuclear e o tempo de férias.
De fato, o álbum de fotos das crianças e o das férias são os grandes repertórios do sorriso. No primeiro, ao risco de parecerem idiotas de tanto sorrir, as crianças devem mostrar a nós e ao mundo que elas preenchem sua missão: a de realizar (ou parecer realizar) nossos sonhos frustrados de felicidade. Nas fotos das férias, trata-se de provar que nós também (além das crianças) sabemos ser "felizes".
Em suma, estampado na cara das crianças ou na nossa, o sorriso é, hoje, o grande sinal exterior da capacidade de aproveitar a vida. É ele que deveria nos valer a admiração (e a inveja) dos outros.
De uma longa época em que nossa maneira e talvez nossa capacidade de enfrentar a vida eram resumidas por uma espécie de seriedade intensa, passamos a uma época em que saber viver coincidiria com saber sorrir e rir. Nessa passagem, não há só uma mudança de expressão: o passado parece valorizar uma atenção focada e reflexiva, enquanto nós parecemos valorizar a diversão. Ou seja, no passado, saber viver era focar na vida; hoje, saber viver é se distrair dela.
Ao longo do século 19, antes que o sorriso deturpasse os retratos, a "felicidade" e a alegria excessivas eram, aliás, sinais de que o retratado estava dilapidando seu tempo, incapaz de encarar a complexidade e a finitude da vida.
Alguém dirá que tudo isso seria uma nostalgia sem relevância, se, valorizando o sorriso e o riso, conseguíssemos tornar a dita felicidade prioritária em nossas vidas. Se o bom humor da diversão afastasse as dores do dia a dia, quem se queixaria disso?
Pois é, acabo de ler uma pesquisa de Iris Mauss e outros, "Can Seeking Happiness Make People Happy? Paradoxical Effects of Valuing Happiness", em Emotion on-line, em abril de 2011 (http://migre.me/9CT8e).
Em tese, a valorização ajuda a alcançar o que é valorizado -por exemplo, se valorizo as boas notas, estudo mais etc. Mas eis que duas experiências complementares mostram que, no caso da felicidade (mesmo que ninguém saiba o que ela é exatamente -ou talvez por isso), acontece o contrário: valorizar a felicidade produz insatisfação e mesmo depressão. De que se trata? Decepção? Sentimento de inadequação?
Um pouco disso tudo e, mais radicalmente, trata-se da sensação de que a gente não tem competência para viver -apenas para se divertir ou, pior ainda, para fazer de conta. Como chegamos a isso?
Pouco tempo atrás, na minha frente, uma mãe conversava pelo telefone com o filho (que a preocupa um pouco pelo excesso de atividade e pela dispersão). O menino estava passando um dia agitado, brincando com amigos; a mãe quis saber se estava tudo bem e perguntou: "Filho, está se divertindo bem?".
quarta-feira, junho 27, 2012
O país do sofá
Rodrigo Constantino
Povo engraçado é o nosso brasileiro
Que não faz elo entre causa e efeito
Deve ser na fabricação algum defeito
Falta razão pra tornar parte em inteiro
Se há algum doente muito febril
Quebra o termômetro e a febre se vai
Toma-se o sintoma pela causa, ai!
Povo sem lógica é povo servil
Se a inflação galopante corrói o salário
A culpa só pode ser do pulha empresário
Cuja ganância é maior do que o mar
Se a esposa foi pega em pleno adultério
Repete-se sempre o mesmo critério
Basta jogar fora o maldito sofá!
Que não faz elo entre causa e efeito
Deve ser na fabricação algum defeito
Falta razão pra tornar parte em inteiro
Se há algum doente muito febril
Quebra o termômetro e a febre se vai
Toma-se o sintoma pela causa, ai!
Povo sem lógica é povo servil
Se a inflação galopante corrói o salário
A culpa só pode ser do pulha empresário
Cuja ganância é maior do que o mar
Se a esposa foi pega em pleno adultério
Repete-se sempre o mesmo critério
Basta jogar fora o maldito sofá!
Ceticismo saudável
Rodrigo Constantino, para a revista Banco de Ideias do IL
Rótulos como “direita” e “esquerda” são sempre limitados e perigosos. Não é possível enquadrar todo o arcabouço de idéias políticas, sociais e econômicas em um único termo. Feita esta ressalva, há uma direita que eu considero digna de todo meu apreço e respeito. Ela está (muito bem) representada por pensadores como João Pereira Coutinho, Luiz Felipe Pondé e Denis Rosenfield.
Por isso recomendo a leitura do novo livro que os três lançaram em conjunto, explicando em curtos ensaios porque viraram à direita. A marca característica desta direita seria o ceticismo diante de toda utopia racionalista, de todo projeto revolucionário que oferece “um mundo melhor”, um sistema “justo” e acabado. Ser conservador, para eles, significa adotar postura cautelosa frente a esta arrogância.
Rousseau seria o pai do totalitarismo moderno de esquerda, ao adotar postura canalha e sentimentalista que falsifica a realidade. Incapaz de amar o próximo, incluindo seus filhos que foram abandonados, Rousseau se declarou um amante da Humanidade, abstração que não nos obriga a encarar as imperfeições e desencontros em qualquer relacionamento com outro ser humano de carne e osso. Com base nesta farsa, Rousseau passou a pregar um estado totalitário, retirando a responsabilidade dos indivíduos.
Coutinho lembra que há direitas e direitas, ou seja, uma ala da dita direita pretende igualmente desqualificar o presente imperfeito em prol de um passado idealizado. Conservador, para ele, não pode ser o mesmo que reacionário. Se este quer fugir da realidade, aquele aceita o mundo como ele é, de forma realista frente a toda complexidade que o define. Mentalidades radicais, de direita ou esquerda, preferem modelos simplistas e dogmáticos como rota de fuga.
A linhagem de céticos vem de longa data, com pensadores como Edmund Burke, David Hume, Michael Oakeshott, Isaiah Berlin, entre outros. O principal alerta deles seria contra modelos que pretendem redesenhar o mundo de uma hora para outra. Normalmente paridos em torres de marfim acadêmicas, tais modelos ignoram toda a complexidade da realidade, mascaram a natureza humana e depositam fé onipotente na razão.
Já os conservadores preferiam o caminho da cautela, do respeito às tradições sobreviventes por tentativa e erro em um processo muito maior do que cada um de nós pode compreender com sua limitada inteligência. Criticar os hábitos e costumes dos antigos que chegaram até nós, sim, mas com humildade, com ímpeto reformista e não revolucionário.
A vida em sociedade pressupõe limites, um convívio civilizado com pessoas que possuem valores diferentes dos nossos, muitas vezes incomensuráveis. Há que se ter o cuidado de não cair no extremo oposto, qual seja, o relativismo moral e cultural exacerbado, incapaz de julgar com qualquer objetividade os costumes de um povo. A esquerda que faz vista grossa aos atos bárbaros de regimes totalitários islâmicos cai nesta armadilha, por exemplo.
Mas adotar postura de tolerância diante da pluralidade de valores, eis uma bandeira conservadora respeitável. O ser humano é frágil perante um mundo muitas vezes sem sentido, e esta visão trágica da vida, presente em Pondé, por exemplo, faz com que devamos ficar alertas contra utopias que nada mais são do que máscaras para nossa vaidade e nosso orgulho.
Denis Rosenfield resgata sua experiência com o PT em Porto Alegre, para nos lembrar como estes impulsos totalitários podem vir embalados por nomes nobres e mentirosos. Quando o estado se torna o ente que vai realizar a busca desta perfeição terrena, o indivíduo sempre acaba sacrificado no altar da causa impossível.
O livrinho, que tem 110 páginas apenas, merece ser lido por todos. O investimento de alguns minutos será altamente recompensado.
terça-feira, junho 26, 2012
Crime contra São Paulo
João Pereira Coutinho, Folha de SP
Viajo para São Paulo em breve. Mas hoje, domingo, dia em que escrevo essas linhas, já recebi da minha tia paulistana o conselho habitual: "Meu querido, se eles pedirem, você dá tudo".
Abençoada tia. Quando a viagem é para Roma ou Paris, há sempre a sugestão de um restaurante, de um museu, de uma loja ou de um parque. São Paulo é outra história: se "eles" pedem, eu dou tudo.
E eu já dei: anos atrás, no lobby de um hotel a dois passos da avenida Paulista, fui assaltado à mão armada. "É só o laptop", disse-me o rapaz, uma cara amedrontada e imberbe que tremia com a pistola na mão. Nesse milésimo de segundo, lembrei da minha tia e virei o cachorro de Pavlov: ele pediu, eu dei o laptop. Sem pestanejar. Prejuízos?
Nenhuns: nem físicos, nem psicológicos. O hotel pagou um novo laptop e eu ainda ganhei uma história para contar. Nos dias seguintes, em conversas com amigos, relatava o episódio com a estupefação própria de um europeu.
Eles também estavam espantados: não pelo roubo, uma das atrações turísticas da cidade; mas pela ousadia do assaltante, que arriscou a vida para entrar no hotel. Raciocínio dos meus amigos: se o roubo fosse no carro ou na rua, tudo bem. Mas no hotel? Onde podem existir seguranças?
Relembro hoje as minhas aventuras passadas. Não apenas porque retornarei a São Paulo na próxima semana, mas porque os assaltos em estabelecimentos deixaram de ser privilégio meu.
Todos os dias leio na imprensa que um restaurante ou um bar sofreram mais um arrastão. O "modus operandi" é sempre o mesmo: entra o bando, alguém armado ameaça os presentes e depois é só fazer a limpeza. E a polícia?
Segundo o site da revista "Veja", nos primeiros 20 dias de junho houve 26 casos registrados. E a polícia não parece estar demasiado preocupada com "acontecimentos menores", sem a grandeza de matanças ou sequestros.
"Acontecimentos menores"? Lamento. Se a história do crime ensina alguma coisa é que "acontecimentos menores" são terreno fértil para "acontecimentos maiores".
Que o digam James Q. Wilson e George Kelling, que há precisamente 30 anos escreveram sobre o assunto na revista "The Atlantic Monthly". O ensaio, intitulado "Broken Windows" ("janelas quebradas", março de 1982), virou um clássico da criminologia e influenciou profundamente a luta contra o crime em Nova York nos anos 1990.
Durante as duas décadas anteriores, a "Big Apple" era considerada um caso perdido -em homicídios, estupros, assaltos e tráfico de droga. Como, então, se inverteu esse cenário?
O prefeito Rudolph Giuliani e o comissário da polícia William Bratton apostaram em estratégias pesadas -mais policiais nas ruas, responsabilização direta das chefias por incidentes ou delitos em suas áreas urbanas.
Mas Giuliani e Bratton aprenderam algo de mais sutil com o ensaio de Wilson e Kelling: condições de desordem só geram mais desordem. Exemplo: um bairro onde os edifícios estão degradados; as janelas quebradas; os muros cobertos de pichação são ninhos potenciais de marginalidade e crime.
A primeira coisa a fazer é consertar o bairro; é não tolerar que ele seja vandalizado novamente; é punir a pequena delinquência para evitar que ela se transforme em grande delinquência.
O ensaio de Wilson e Kelling, e a ação posterior de Giuliani e Bratton, revolucionou o combate ao crime. Não apenas em Nova York, mas em todas as cidades americanas onde a estratégia foi seguida.
Mais: a experiência da "tolerância zero" não se limitou a cidades americanas. Na Europa, essa intransigência com os pequenos delitos acabou por ser recompensada na Holanda, na Inglaterra, na Itália. O pequeno crime e o grande crime são disruptores da vida social. E o primeiro é a antecâmara do segundo.
Se as autoridades paulistanas consideram os arrastões em bares ou restaurantes "acontecimentos menores", elas deveriam ler James Wilson e George Kelling.
Sobretudo estas palavras: "As estatísticas do crime medem perdas individuais, mas não medem as perdas comunitárias". E as perdas comunitárias, acrescento eu, são mais difíceis de regenerar.
Moral da história? Eu até posso dar tudo quando "eles" pedem. Mas esse crime sobre mim é, na verdade, um crime contra São Paulo.
Viajo para São Paulo em breve. Mas hoje, domingo, dia em que escrevo essas linhas, já recebi da minha tia paulistana o conselho habitual: "Meu querido, se eles pedirem, você dá tudo".
Abençoada tia. Quando a viagem é para Roma ou Paris, há sempre a sugestão de um restaurante, de um museu, de uma loja ou de um parque. São Paulo é outra história: se "eles" pedem, eu dou tudo.
E eu já dei: anos atrás, no lobby de um hotel a dois passos da avenida Paulista, fui assaltado à mão armada. "É só o laptop", disse-me o rapaz, uma cara amedrontada e imberbe que tremia com a pistola na mão. Nesse milésimo de segundo, lembrei da minha tia e virei o cachorro de Pavlov: ele pediu, eu dei o laptop. Sem pestanejar. Prejuízos?
Nenhuns: nem físicos, nem psicológicos. O hotel pagou um novo laptop e eu ainda ganhei uma história para contar. Nos dias seguintes, em conversas com amigos, relatava o episódio com a estupefação própria de um europeu.
Eles também estavam espantados: não pelo roubo, uma das atrações turísticas da cidade; mas pela ousadia do assaltante, que arriscou a vida para entrar no hotel. Raciocínio dos meus amigos: se o roubo fosse no carro ou na rua, tudo bem. Mas no hotel? Onde podem existir seguranças?
Relembro hoje as minhas aventuras passadas. Não apenas porque retornarei a São Paulo na próxima semana, mas porque os assaltos em estabelecimentos deixaram de ser privilégio meu.
Todos os dias leio na imprensa que um restaurante ou um bar sofreram mais um arrastão. O "modus operandi" é sempre o mesmo: entra o bando, alguém armado ameaça os presentes e depois é só fazer a limpeza. E a polícia?
Segundo o site da revista "Veja", nos primeiros 20 dias de junho houve 26 casos registrados. E a polícia não parece estar demasiado preocupada com "acontecimentos menores", sem a grandeza de matanças ou sequestros.
"Acontecimentos menores"? Lamento. Se a história do crime ensina alguma coisa é que "acontecimentos menores" são terreno fértil para "acontecimentos maiores".
Que o digam James Q. Wilson e George Kelling, que há precisamente 30 anos escreveram sobre o assunto na revista "The Atlantic Monthly". O ensaio, intitulado "Broken Windows" ("janelas quebradas", março de 1982), virou um clássico da criminologia e influenciou profundamente a luta contra o crime em Nova York nos anos 1990.
Durante as duas décadas anteriores, a "Big Apple" era considerada um caso perdido -em homicídios, estupros, assaltos e tráfico de droga. Como, então, se inverteu esse cenário?
O prefeito Rudolph Giuliani e o comissário da polícia William Bratton apostaram em estratégias pesadas -mais policiais nas ruas, responsabilização direta das chefias por incidentes ou delitos em suas áreas urbanas.
Mas Giuliani e Bratton aprenderam algo de mais sutil com o ensaio de Wilson e Kelling: condições de desordem só geram mais desordem. Exemplo: um bairro onde os edifícios estão degradados; as janelas quebradas; os muros cobertos de pichação são ninhos potenciais de marginalidade e crime.
A primeira coisa a fazer é consertar o bairro; é não tolerar que ele seja vandalizado novamente; é punir a pequena delinquência para evitar que ela se transforme em grande delinquência.
O ensaio de Wilson e Kelling, e a ação posterior de Giuliani e Bratton, revolucionou o combate ao crime. Não apenas em Nova York, mas em todas as cidades americanas onde a estratégia foi seguida.
Mais: a experiência da "tolerância zero" não se limitou a cidades americanas. Na Europa, essa intransigência com os pequenos delitos acabou por ser recompensada na Holanda, na Inglaterra, na Itália. O pequeno crime e o grande crime são disruptores da vida social. E o primeiro é a antecâmara do segundo.
Se as autoridades paulistanas consideram os arrastões em bares ou restaurantes "acontecimentos menores", elas deveriam ler James Wilson e George Kelling.
Sobretudo estas palavras: "As estatísticas do crime medem perdas individuais, mas não medem as perdas comunitárias". E as perdas comunitárias, acrescento eu, são mais difíceis de regenerar.
Moral da história? Eu até posso dar tudo quando "eles" pedem. Mas esse crime sobre mim é, na verdade, um crime contra São Paulo.
Uma nova política
Rodrigo Constantino, O GLOBO
Eu queria escrever sobre Rousseau. Nesta quinta completam-se três séculos de seu nascimento. Atacaria o coletivismo do filósofo, que jurava falar em nome da “vontade geral”, na prática, a tirania de poucos. Condenaria ainda o seu romantismo ingênuo, com a visão idílica do “bom selvagem”, que transforma em vítima a escória da humanidade.
Mas os acontecimentos da política nacional atropelaram minha intenção. As novas peripécias de Lula, melhor dizendo. Aquela foto do ex-presidente sorrindo enquanto aperta a mão de Paulo Maluf é tão sintomática que não pode passar em branco. Rousseau pode esperar.
Ao contrário de alguns, eu não padeço de romantismo. Política é a “arte do possível”. Concessões serão inevitáveis. Quem almeja pureza moral deve se ater ao campo das idéias. Meter as mãos no jogo sujo da política e sair totalmente limpo é utopia.
Concordo com tudo isso. Mas não posso conceber que exista somente esta forma de se fazer política! Se é ingenuidade cobrar pureza dos políticos, também é abjeto pensar que todos estarão sempre dispostos a tudo pelo poder. É fundamental separar o joio do trigo. Não podemos aceitar bovinamente que tudo isso é parte inevitável da política, e ponto final.
O melhor argumento de defesa dos petistas é que seu partido é “apenas” tão ruim quanto os outros. Mesmo se isso fosse verdade, seria patético para quem já tentou monopolizar a bandeira da ética no passado. Mas é mentira: o PT é pior!
Nunca antes na história deste país vimos um partido com tanta sede pelo poder, disposto aos mais nefastos meios para tanto. Aloprados, “mensalão”, dinheiro na cueca, amizade com os piores ditadores, isso é o PT. Quem acompanhou sua trajetória não pode ficar surpreso com a aliança entre Lula e Maluf. Este já tinha até apoiado Marta Suplicy em 2008.
O único “princípio” de Lula é o vale-tudo pelo poder. Todos os seus velhos desafetos da política, antes atacados com virulência, tornaram-se aliados. Jader Barbalho teve direito até a um beija-mão, uma “aula” de política, segundo o próprio Lula. Sarney, o eterno, virou um dos mais fiéis aliados. Collor foi outro que mereceu a aproximação de Lula.
Podemos não esperar a moralidade plena na política. Mas Lula vai muito além: ele representa o que há de mais imoral na vida pública brasileira. Para conseguir mais um minuto de TV na campanha pela prefeitura paulista, sua obsessão do momento, Lula seria capaz até de beijar Carlinhos Cachoeira. Ou alguém duvida disso?
Quando se trata de Lula, não há limites morais, não há um freio que diz “basta”. Fosse ele somente mais um político na cena nacional, isso mereceria uma atenção menor. O problema é que Lula não é apenas mais um, e sim o ex-presidente da República, com grande popularidade. Sua conduta deplorável tem efeitos secundários em toda a política. O fato de ele ter sido reeleito mesmo com o “mensalão” representou um duro golpe nas frágeis instituições republicanas. Foi aberta a caixa de Pandora.
Uma das conseqüências disso é o desprezo cada vez maior pela política das pessoas decentes. O círculo vicioso vai tomando proporções assustadoras, e boa parte da população já aceita de forma negligente que as coisas são assim mesmo. Só que, como alertava Platão, a punição que os bons sofrem, quando se recusam a agir, é viver sob o governo dos maus.
Longe de mim responsabilizar um único indivíduo por toda a podridão em nossa política. O modelo é ruim, as instituições são capengas, a mentalidade predominante é autoritária e antiliberal, dezenas de partidos não passam de legendas de aluguel, e a enorme concentração de poder e recursos no governo federal cria incentivos para esta pouca vergonha.
Mas é inegável que a postura de Lula serve para piorar o que já era ruim, para jogar mais lenha na fogueira da imoralidade de nossa política. Para agravar o quadro, temos uma oposição medíocre, acovardada, sem um programa alternativo de governo.
Luiz Felipe D’Ávila, em “Os Virtuosos”, mostra como o nascimento de nossa República dependeu de estadistas, indivíduos que entraram na vida pública “por uma questão de princípio, por um senso de missão e por um sentimento de dever”. Será que ainda somos capazes de produzir estadistas como Prudente de Moraes? Ou estaria nossa política condenada a abrigar tipos como Lula e Maluf, este procurado pela Interpol?
Volto a Rousseau para fechar. Ele dizia amar a Humanidade, esta linda abstração, mas abandonou todos os cinco filhos no orfanato. Voltaire o considerava um “poço de vileza”. O que ele diria sobre Lula?
Eu queria escrever sobre Rousseau. Nesta quinta completam-se três séculos de seu nascimento. Atacaria o coletivismo do filósofo, que jurava falar em nome da “vontade geral”, na prática, a tirania de poucos. Condenaria ainda o seu romantismo ingênuo, com a visão idílica do “bom selvagem”, que transforma em vítima a escória da humanidade.
Mas os acontecimentos da política nacional atropelaram minha intenção. As novas peripécias de Lula, melhor dizendo. Aquela foto do ex-presidente sorrindo enquanto aperta a mão de Paulo Maluf é tão sintomática que não pode passar em branco. Rousseau pode esperar.
Ao contrário de alguns, eu não padeço de romantismo. Política é a “arte do possível”. Concessões serão inevitáveis. Quem almeja pureza moral deve se ater ao campo das idéias. Meter as mãos no jogo sujo da política e sair totalmente limpo é utopia.
Concordo com tudo isso. Mas não posso conceber que exista somente esta forma de se fazer política! Se é ingenuidade cobrar pureza dos políticos, também é abjeto pensar que todos estarão sempre dispostos a tudo pelo poder. É fundamental separar o joio do trigo. Não podemos aceitar bovinamente que tudo isso é parte inevitável da política, e ponto final.
O melhor argumento de defesa dos petistas é que seu partido é “apenas” tão ruim quanto os outros. Mesmo se isso fosse verdade, seria patético para quem já tentou monopolizar a bandeira da ética no passado. Mas é mentira: o PT é pior!
Nunca antes na história deste país vimos um partido com tanta sede pelo poder, disposto aos mais nefastos meios para tanto. Aloprados, “mensalão”, dinheiro na cueca, amizade com os piores ditadores, isso é o PT. Quem acompanhou sua trajetória não pode ficar surpreso com a aliança entre Lula e Maluf. Este já tinha até apoiado Marta Suplicy em 2008.
O único “princípio” de Lula é o vale-tudo pelo poder. Todos os seus velhos desafetos da política, antes atacados com virulência, tornaram-se aliados. Jader Barbalho teve direito até a um beija-mão, uma “aula” de política, segundo o próprio Lula. Sarney, o eterno, virou um dos mais fiéis aliados. Collor foi outro que mereceu a aproximação de Lula.
Podemos não esperar a moralidade plena na política. Mas Lula vai muito além: ele representa o que há de mais imoral na vida pública brasileira. Para conseguir mais um minuto de TV na campanha pela prefeitura paulista, sua obsessão do momento, Lula seria capaz até de beijar Carlinhos Cachoeira. Ou alguém duvida disso?
Quando se trata de Lula, não há limites morais, não há um freio que diz “basta”. Fosse ele somente mais um político na cena nacional, isso mereceria uma atenção menor. O problema é que Lula não é apenas mais um, e sim o ex-presidente da República, com grande popularidade. Sua conduta deplorável tem efeitos secundários em toda a política. O fato de ele ter sido reeleito mesmo com o “mensalão” representou um duro golpe nas frágeis instituições republicanas. Foi aberta a caixa de Pandora.
Uma das conseqüências disso é o desprezo cada vez maior pela política das pessoas decentes. O círculo vicioso vai tomando proporções assustadoras, e boa parte da população já aceita de forma negligente que as coisas são assim mesmo. Só que, como alertava Platão, a punição que os bons sofrem, quando se recusam a agir, é viver sob o governo dos maus.
Longe de mim responsabilizar um único indivíduo por toda a podridão em nossa política. O modelo é ruim, as instituições são capengas, a mentalidade predominante é autoritária e antiliberal, dezenas de partidos não passam de legendas de aluguel, e a enorme concentração de poder e recursos no governo federal cria incentivos para esta pouca vergonha.
Mas é inegável que a postura de Lula serve para piorar o que já era ruim, para jogar mais lenha na fogueira da imoralidade de nossa política. Para agravar o quadro, temos uma oposição medíocre, acovardada, sem um programa alternativo de governo.
Luiz Felipe D’Ávila, em “Os Virtuosos”, mostra como o nascimento de nossa República dependeu de estadistas, indivíduos que entraram na vida pública “por uma questão de princípio, por um senso de missão e por um sentimento de dever”. Será que ainda somos capazes de produzir estadistas como Prudente de Moraes? Ou estaria nossa política condenada a abrigar tipos como Lula e Maluf, este procurado pela Interpol?
Volto a Rousseau para fechar. Ele dizia amar a Humanidade, esta linda abstração, mas abandonou todos os cinco filhos no orfanato. Voltaire o considerava um “poço de vileza”. O que ele diria sobre Lula?
segunda-feira, junho 25, 2012
Dois blocos distintos
Rodrigo
Constantino, Revista Voto
A
América Latina caminha para ficar dividida em dois blocos muito distintos. De
um lado, o Mercosul, com Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai, sendo que a
Venezuela aguarda aprovação do Parlamento paraguaio. Do outro, a Aliança do
Pacífico, que foi assinada recentemente entre México, Colômbia, Peru e Chile,
com Costa Rica e Panamá na fila de espera.
A
intenção da Aliança do Pacífico é criar uma zona de livre circulação de bens,
serviços, capitais e pessoas. Os quatro países membros representam 40% do PIB
da América Latina e 55% das exportações da região ao resto do mundo. O bloco
pretende buscar formas mais rápidas e pragmáticas de avançar nos temas
comerciais e de integração, sem impedimentos ideológicos.
Se
o Mercosul sofre cada vez mais influência do “socialismo bolivariano”,
encabeçado por Hugo Chávez, a Aliança do Pacífico promete ser uma alternativa
bem mais interessante. O Chile, afinal, representa o país latino-americano mais
desenvolvido em termos econômicos e políticos, com uma renda per capita bem
acima da média e a primeira colocação no ranking de IDH na vizinhança.
O
grupo que o Brasil faz parte aponta para Cuba com crescente admiração. O grupo
do Chile prefere apontar na direção do livre comércio, incluindo acordo
bilateral com o próprio “Satã”, os Estados Unidos. A Argentina tem ignorado
inúmeras cláusulas comerciais. Até mesmo confiscar propriedade estrangeira o
governo Kirchner fez recentemente. O Brasil é um dos países que mais tem
apelado para medidas protecionistas nos últimos meses.
Se
a Venezuela finalmente entrar no Mercosul, isso será sua pá de cal definitiva,
rasgando a cláusula que exige instituições democráticas para ser membro.
Brasil, Argentina e Uruguai já ratificaram a adesão, restando apenas a
aprovação final do Paraguai. Talvez isso explique a reação dos líderes da
Unasul e Mercosul, sob a liderança de Hugo Chávez, ao impeachment do presidente
Fernando Lugo nos últimos dias.
Não
resta dúvida de que o processo foi acelerado demais, mas tudo leva a crer que
foi feito dentro das regras constitucionais. Ou seja, não faz sentido falar em
golpe. Além disso, a forma com a qual o presidente Lugo lidou com a questão
agrária mostrou extrema incompetência, para dizer o mínimo. Há claros indícios
de que ele foi até conivente com o bando de criminosos invasores de terra, que
matou seis policiais em confronto sangrento.
Sempre
que figuras como Chávez, Evo Morales e Rafael Correa falam em democracia, pode
estar certo de que planejam alguma ação autoritária. É lamentável ver o Brasil
liderando este tipo de movimento. O Paraguai foi suspenso do Mercosul, o que
acende sinais de alerta quanto ao respeito do bloco às leis internas dos
países-membros.
A
postura do Itamaraty desde o governo Lula tem se mostrado invariavelmente
incorreta, sempre mergulhada em ranço ideológico. A subserviência ao ditador
iraniano é prova disso, assim como a negligência no caso da Síria. A
aproximação aos ditadores africanos foi outra bola fora, sempre com a meta de
conseguir o assento permanente no Conselho de Segurança da ONU. O então
presidente Lula até chegou a perdoar a dívida destes países em busca deste
objetivo, sacrificando os pagadores de impostos brasileiros.
Um
estudo feito pelo Instituto Acende Brasil, examinando 11 incidentes em que
intervenções ou pleitos de nossos parceiros alteraram as condições
originalmente pactuadas em contratos ou tratados, calculou em R$ 6,7 bilhões as
perdas para o Brasil só no setor energético. Olhando para o futuro, as
intervenções já realizadas poderiam elevar esta cifra para mais de R$ 21
bilhões.
Bolívia,
Argentina, Venezuela e Paraguai, todos com governantes aliados ideologicamente
ao PT, tomaram decisões unilaterais que representaram, de alguma forma, quebra
de contrato com empresas brasileiras do setor de energia. Conforme diz o
relatório do instituto:
“O
Brasil tem sistematicamente ignorado ou menosprezado – com base numa postura de
baixa transparência – os prejuízos ocasionados pelos seus acordos para os
próprios brasileiros. Tais prejuízos têm sido causados pelo rompimento ou
alteração de contratos por ações voluntaristas de governos.”
Traduzindo:
o populismo dos camaradas tem sido pago pelos brasileiros. O ex-presidente Lula
expressou a mentalidade por trás desta atitude passiva e negligente: “O Brasil
é a maior economia e tem que ser generoso, aquele que ajuda o avanço dos
outros”. É o PT usando o governo, ou seja, o dinheiro da “viúva”, para fazer
“caridade” aos companheiros de ideologia.
Ao
julgar pela tendência até aqui, a América Latina acabará dividida em dois
blocos muito diferentes. Um deles será pragmático e deverá contribuir para o
progresso de seus membros. O outro acabará como um palco para discursos
populistas e demagógicos dos governantes mais autoritários da região. É uma
pena que o governo brasileiro, sob a liderança do PT, tenha optado pelo lado
fracassado.
A ciência triste
Luiz Felipe Pondé, Folha de SP
Proponho que a próxima conferência para economia sustentável seja em alguma reserva dos povos da floresta. Deixem que eles organizem o evento e paguem por ele, já que são sacerdotes da sustentabilidade.
Todos os chefes de Estado dormindo em tendas, comendo comida da floresta, logo, muito mais sagrada e saudável. Além do fato que esses povos são imaculados e não desejam em hipótese alguma ganhar dinheiro com sua condição de "vítima social", por isso podemos confiar neles mais do que na Hillary Clinton.
Os que mais atrapalham são os gurus da ecologia profunda ou contracultura verde. Gente que afirma que o que precisamos é de uma "inovação social e psicológica" e não apenas de uma economia que assimile o fato de que os recursos naturais são limitados e que as demandas humanas de bem-estar e conforto são infinitas.
Não levar essa contradição estrutural a sério cria a insustentabilidade a médio e longo prazo.
Essa gente acha que o mundo inteiro pode ser a Dinamarca e seus mil habitantes. Eu concordo mais com os setores que buscam soluções tecnológicas e de mercado para enfrentar esta contradição entre demanda humana infinita e recursos naturais finitos.
Claro que isso implica educação e um trabalho gigantesco, mas nada disso virá de mudarmos nosso estilo de vida para o paradigma dos povos da floresta que viviam até ontem no neolítico. Ou reprimir o consumo via um estilo misto de "gestão" entre Stálin e hippies velhos.
Gente assim, os defensores de "inovações sociais", crê em "soluções" como as elencadas no relatório da UNEP 2011 da ONU "Visions for Change - Recommandations for Effective Policies on Sustainable Lifestyles".
Soluções no mínimo complicadas se pensarmos em sociedades complexas como as nossas com populações crescentes. Imagine nós vivermos num mundo em que cultivássemos nossa horta e criássemos nossas cabeças de gado (comer carne já é uma concessão ao "pecado da carne dos carnívoros", gente que deve desaparecer ao longo do tempo)... Se você quiser uma geladeira ou um iPad, faça em casa...
É fácil pensar na Noruega assim (estou exagerando...), mas e a Somália? Claro, estes já vivem no neolítico mesmo...
Outra marca da ecologia profunda que atrapalha a discussão séria sobre a contradição de nossa condição insustentável é a mistura entre sustentabilidade e demanda por erradicação da pobreza e justiça social (seja lá o que isso queira dizer...) como parte de uma economia sustentável.
O problema é que a ideia da erradicação da pobreza é em si insustentável, se pensarmos para além do horizonte intelectual "teenager". Isso pode ser triste, mas é por isso que a economia é conhecida por ser uma ciência triste ("dismal science", como dizia o historiador britânico do século 19 Thomas Carlyle).
Vejamos. Para erradicar a pobreza numa população crescente e ansiosa por uma vida confortável deve-se produzir riqueza contínua. Para isso, deve-se explorar recursos continuamente (o que é chamado de economia não sustentável) e aumentar o consumo, porque se as pessoas param de comprar o dinheiro para de circular.
Mas os gurus da economia "teenager" falam de diminuir o consumo como quem fala "as pessoas deveriam ser mais generosas", quando eles mesmos estão prontos a brigar com os irmãos por um apê minúsculo na Praia Grande.
A única solução para esses gurus (mas eles não confessam porque ficariam mal na fita) seria um regime totalitário global, o que chamo de fascismo verde, criar economias planejadas à la Lênin. O óbvio é que isso geraria pobreza em larga escala, como gerou antes.
Outra solução é erradicar o crescimento populacional matando 2/3 da população ou proibir a reprodução por alguns séculos. Ou matar idosos. Puro horror, não?
Enfim, problemas reais existem, mas as soluções não existem à mão de uma "cúpula dos povos".
Por isso, a angústia ambiental resvala na espiritualidade verde, sempre infantil e autoritária, que acha que comendo comida orgânica os seres humanos deixarão de ser o que são: seres que buscam diminuir a dor e otimizar o bem-estar a qualquer custo.
Proponho que a próxima conferência para economia sustentável seja em alguma reserva dos povos da floresta. Deixem que eles organizem o evento e paguem por ele, já que são sacerdotes da sustentabilidade.
Todos os chefes de Estado dormindo em tendas, comendo comida da floresta, logo, muito mais sagrada e saudável. Além do fato que esses povos são imaculados e não desejam em hipótese alguma ganhar dinheiro com sua condição de "vítima social", por isso podemos confiar neles mais do que na Hillary Clinton.
Os que mais atrapalham são os gurus da ecologia profunda ou contracultura verde. Gente que afirma que o que precisamos é de uma "inovação social e psicológica" e não apenas de uma economia que assimile o fato de que os recursos naturais são limitados e que as demandas humanas de bem-estar e conforto são infinitas.
Não levar essa contradição estrutural a sério cria a insustentabilidade a médio e longo prazo.
Essa gente acha que o mundo inteiro pode ser a Dinamarca e seus mil habitantes. Eu concordo mais com os setores que buscam soluções tecnológicas e de mercado para enfrentar esta contradição entre demanda humana infinita e recursos naturais finitos.
Claro que isso implica educação e um trabalho gigantesco, mas nada disso virá de mudarmos nosso estilo de vida para o paradigma dos povos da floresta que viviam até ontem no neolítico. Ou reprimir o consumo via um estilo misto de "gestão" entre Stálin e hippies velhos.
Gente assim, os defensores de "inovações sociais", crê em "soluções" como as elencadas no relatório da UNEP 2011 da ONU "Visions for Change - Recommandations for Effective Policies on Sustainable Lifestyles".
Soluções no mínimo complicadas se pensarmos em sociedades complexas como as nossas com populações crescentes. Imagine nós vivermos num mundo em que cultivássemos nossa horta e criássemos nossas cabeças de gado (comer carne já é uma concessão ao "pecado da carne dos carnívoros", gente que deve desaparecer ao longo do tempo)... Se você quiser uma geladeira ou um iPad, faça em casa...
É fácil pensar na Noruega assim (estou exagerando...), mas e a Somália? Claro, estes já vivem no neolítico mesmo...
Outra marca da ecologia profunda que atrapalha a discussão séria sobre a contradição de nossa condição insustentável é a mistura entre sustentabilidade e demanda por erradicação da pobreza e justiça social (seja lá o que isso queira dizer...) como parte de uma economia sustentável.
O problema é que a ideia da erradicação da pobreza é em si insustentável, se pensarmos para além do horizonte intelectual "teenager". Isso pode ser triste, mas é por isso que a economia é conhecida por ser uma ciência triste ("dismal science", como dizia o historiador britânico do século 19 Thomas Carlyle).
Vejamos. Para erradicar a pobreza numa população crescente e ansiosa por uma vida confortável deve-se produzir riqueza contínua. Para isso, deve-se explorar recursos continuamente (o que é chamado de economia não sustentável) e aumentar o consumo, porque se as pessoas param de comprar o dinheiro para de circular.
Mas os gurus da economia "teenager" falam de diminuir o consumo como quem fala "as pessoas deveriam ser mais generosas", quando eles mesmos estão prontos a brigar com os irmãos por um apê minúsculo na Praia Grande.
A única solução para esses gurus (mas eles não confessam porque ficariam mal na fita) seria um regime totalitário global, o que chamo de fascismo verde, criar economias planejadas à la Lênin. O óbvio é que isso geraria pobreza em larga escala, como gerou antes.
Outra solução é erradicar o crescimento populacional matando 2/3 da população ou proibir a reprodução por alguns séculos. Ou matar idosos. Puro horror, não?
Enfim, problemas reais existem, mas as soluções não existem à mão de uma "cúpula dos povos".
Por isso, a angústia ambiental resvala na espiritualidade verde, sempre infantil e autoritária, que acha que comendo comida orgânica os seres humanos deixarão de ser o que são: seres que buscam diminuir a dor e otimizar o bem-estar a qualquer custo.
sábado, junho 23, 2012
Arcaicas, ideias de Safatle deveriam estar em um museu
João Pereira Coutinho, Folha de SP
Vladimir Safatle deveria estar num museu. Digo isso com todo o respeito.
Lendo "A Esquerda que Não Teme Dizer Seu Nome", lembrei de imediato a peça "O Percevejo", de Maiakóvski, história de um antigo bolchevique, Prissípkin, que, depois de um acidente, acorda para o mundo futuro vindo diretamente de um passado irreconhecível.
Safatle é uma espécie de Prissípkin intelectual: o século 20 pode ter sido o grande cemitério de cada uma das suas ideias coletivistas. Mas Safatle, como o anti-herói de Maiakóvski, esteve mergulhado numa tina de água gelada em hibernação ideológica. Não viu nada, não aprendeu nada. E não esqueceu nada.
Ser de esquerda é, para Safatle, estar com aqueles que mais sofrem. É o primeiro clichê. Mas depois vêm outros: a defesa radical do igualitarismo é um valor inegociável para os camaradas.
Infelizmente, ele não explica em que consiste esse igualitarismo, para além das piedades habituais sobre a importância de redistribuir riqueza. Nenhuma palavra sobre a necessidade de a criar.
Criar? Para Safatle, o mundo divide-se em ricos e pobres; os ricos roubam os pobres; a função do Estado é roubar os ricos. "The end".
Igualitarismo é parte da história. Mas a esquerda que não teme dizer seu nome também é, para Vladimir Safatle, "indiferente às diferenças". Não sei se isso significa que o autor, com apreciável coragem intelectual, se opõe às cotas raciais instituídas por universidades brasileiras.
Sei apenas que, para Safatle, cultivar as diferenças (e, por arrastamento, demonizar o outro) é vício judaico-cristão, praticado pela Europa branca e xenófoba.
Curiosamente, não passa pela cabeça do filósofo que esse "culto da diferença" é também prerrogativa de comunidades imigrantes, leia-se "muçulmanas", que habitam a Europa, mas repudiam os seus valores multiculturais e resistem a integrar-se.
SOBERANIA POPULAR
De resto, as melhores páginas deste curto ensaio estão na apaixonada defesa do conceito arcaico de "soberania popular".
Na minha inocência, eu julgava que esta herança rousseauniana, uma metáfora para a total rendição do indivíduo aos ditames da comunidade, tinha ficado enterrada com as "democracias populares" do século 20.
Ilusão minha: as utopias revolucionárias da última centúria foram apenas uma ideia que não deu certo, diz Vladimir Safatle.
E acrescenta: "quantas vezes uma ideia precisa fracassar para poder se realizar?".
Não é fácil ler a pergunta e imaginar os 100 milhões de seres humanos (estimativa conservadora) que o comunismo destruiu nas suas "experiências" de criação do "homem novo".
E volto a Maiakósvki, porque são dele as palavras que abrem o livro de Safatle: "Melhor morrer de vodca que de tédio". Admito que sim.
Mas alguém deveria informar Safatle de que não foi a vodca (nem o tédio) que matou o seu herói. Ironicamente, foi o clima de repressão e intolerância do regime soviético que o conduziu à aniquilação pessoal.
Vladimir Safatle deveria estar num museu. Digo isso com todo o respeito.
Lendo "A Esquerda que Não Teme Dizer Seu Nome", lembrei de imediato a peça "O Percevejo", de Maiakóvski, história de um antigo bolchevique, Prissípkin, que, depois de um acidente, acorda para o mundo futuro vindo diretamente de um passado irreconhecível.
Safatle é uma espécie de Prissípkin intelectual: o século 20 pode ter sido o grande cemitério de cada uma das suas ideias coletivistas. Mas Safatle, como o anti-herói de Maiakóvski, esteve mergulhado numa tina de água gelada em hibernação ideológica. Não viu nada, não aprendeu nada. E não esqueceu nada.
Ser de esquerda é, para Safatle, estar com aqueles que mais sofrem. É o primeiro clichê. Mas depois vêm outros: a defesa radical do igualitarismo é um valor inegociável para os camaradas.
Infelizmente, ele não explica em que consiste esse igualitarismo, para além das piedades habituais sobre a importância de redistribuir riqueza. Nenhuma palavra sobre a necessidade de a criar.
Criar? Para Safatle, o mundo divide-se em ricos e pobres; os ricos roubam os pobres; a função do Estado é roubar os ricos. "The end".
Igualitarismo é parte da história. Mas a esquerda que não teme dizer seu nome também é, para Vladimir Safatle, "indiferente às diferenças". Não sei se isso significa que o autor, com apreciável coragem intelectual, se opõe às cotas raciais instituídas por universidades brasileiras.
Sei apenas que, para Safatle, cultivar as diferenças (e, por arrastamento, demonizar o outro) é vício judaico-cristão, praticado pela Europa branca e xenófoba.
Curiosamente, não passa pela cabeça do filósofo que esse "culto da diferença" é também prerrogativa de comunidades imigrantes, leia-se "muçulmanas", que habitam a Europa, mas repudiam os seus valores multiculturais e resistem a integrar-se.
SOBERANIA POPULAR
De resto, as melhores páginas deste curto ensaio estão na apaixonada defesa do conceito arcaico de "soberania popular".
Na minha inocência, eu julgava que esta herança rousseauniana, uma metáfora para a total rendição do indivíduo aos ditames da comunidade, tinha ficado enterrada com as "democracias populares" do século 20.
Ilusão minha: as utopias revolucionárias da última centúria foram apenas uma ideia que não deu certo, diz Vladimir Safatle.
E acrescenta: "quantas vezes uma ideia precisa fracassar para poder se realizar?".
Não é fácil ler a pergunta e imaginar os 100 milhões de seres humanos (estimativa conservadora) que o comunismo destruiu nas suas "experiências" de criação do "homem novo".
E volto a Maiakósvki, porque são dele as palavras que abrem o livro de Safatle: "Melhor morrer de vodca que de tédio". Admito que sim.
Mas alguém deveria informar Safatle de que não foi a vodca (nem o tédio) que matou o seu herói. Ironicamente, foi o clima de repressão e intolerância do regime soviético que o conduziu à aniquilação pessoal.
sexta-feira, junho 22, 2012
Teto elástico
Rodrigo Constantino, para o Instituto Liberal
O escárnio parece não ter fim. Esta semana, uma comissão especial da Câmara dos Deputados aprovou uma proposta de emenda constitucional (PEC) que, na prática, acaba com o teto salarial para o funcionalismo, que hoje está em R$ 26.700 mensais (em um país com renda per capita na casa dos R$ 2 mil mensais). A PEC ainda precisa ser aprovada no plenário da Câmara e no Senado.
Para Raul Velloso, essa proposta “tem um efeito semelhante ao de abrir uma tampa de uma chaleira, que está prestes a explodir”. Os marajás de Brasília nunca descansam quando o assunto é a expansão do butim da coisa pública. Isso sem falar que cerca de quatro mil servidores, políticos e magistrados dos três Poderes já ganham acima do teto, segundo o site Congresso em Foco. Subterfúgios como verbas extras fora do cálculo do teto explicam este absurdo.
O abuso da classe parasitária é tão escancarado no Brasil que seria compreensível a defesa da desobediência civil por parte dos hospedeiros explorados. Pagar todos os impostos nesse país é financiar esta pouca vergonha, e os políticos e seus apaniguados não demonstram um pingo de semancol. O teto salarial dos burocratas e governantes é tão elástico que mais parece uma lona de circo. O problema é que os palhaços somos nós, os pagadores de impostos obrigados a bancar a farra.
***
O escárnio parece não ter fim. Esta semana, uma comissão especial da Câmara dos Deputados aprovou uma proposta de emenda constitucional (PEC) que, na prática, acaba com o teto salarial para o funcionalismo, que hoje está em R$ 26.700 mensais (em um país com renda per capita na casa dos R$ 2 mil mensais). A PEC ainda precisa ser aprovada no plenário da Câmara e no Senado.
Para Raul Velloso, essa proposta “tem um efeito semelhante ao de abrir uma tampa de uma chaleira, que está prestes a explodir”. Os marajás de Brasília nunca descansam quando o assunto é a expansão do butim da coisa pública. Isso sem falar que cerca de quatro mil servidores, políticos e magistrados dos três Poderes já ganham acima do teto, segundo o site Congresso em Foco. Subterfúgios como verbas extras fora do cálculo do teto explicam este absurdo.
O abuso da classe parasitária é tão escancarado no Brasil que seria compreensível a defesa da desobediência civil por parte dos hospedeiros explorados. Pagar todos os impostos nesse país é financiar esta pouca vergonha, e os políticos e seus apaniguados não demonstram um pingo de semancol. O teto salarial dos burocratas e governantes é tão elástico que mais parece uma lona de circo. O problema é que os palhaços somos nós, os pagadores de impostos obrigados a bancar a farra.
***
Morreu ontem Anna Schwartz, a co-autora do clássico sobre a história monetária dos Estados Unidos com o Prêmio Nobel Milton Friedman. Apesar de Ben Bernanke, o presidente do Fed, enaltecer as lições sobre a Crise de 29 extraídas da obra, Anna Schwartz foi uma crítica das medidas do Fed nos últimos anos, pelo excesso de afrouxamento monetário. Ela morreu com 96 anos. Que descanse em paz.
quinta-feira, junho 21, 2012
Segurança ou incompetência?
Carlos Alberto Sardenberg, O GLOBO
James Bond já surfou ondas de três metros para alcançar praias inimigas. Assim, por que um terrorista não poderia voar de asa-delta da Pedra da Gávea até o Riocentro, descer lá armado de bazucas e eliminar meia dúzia de chefes de estado?
Vai daí, o Exército proibiu voos de asa-delta em todo o espaço aéreo da cidade durante a Rio+20.
Com segurança não se brinca, dizem.
Reparem, porém: o sujeito teria que trazer a arma de algum lugar, circular pela cidade, carregar a coisa até a Pedra, voar e descer no Riocentro, tudo isso sem ser percebido e interceptado. Ninguém desconfiaria. E com todos aqueles soldados e policiais, brasileiros e estrangeiros, que estão na cidade e, concentrados, no local da conferência? Só se fossem muito incompetentes, não é mesmo?
Mas proibindo todos os voos, em todo o Rio, qualquer um que passar de asa-delta torna-se suspeito. Fica fácil para a segurança. E atrapalha a vida de quem gosta de asa-delta.
Dirão que esse é um aspecto menor e que, afinal, o pessoal pode ficar uns dias sem voar, em nome da segurança que garanta um bom evento no Rio.
O problema é que esse tipo de comportamento se aplica a todo o evento. Não há qualquer esforço ou qualquer planejamento para garantir a segurança e, ao mesmo tempo, causar o menor dano possível aos moradores e visitantes.
Não está vetada apenas a asa-delta. O espaço aéreo foi fechado. Até os inocentes voos da Ponte Aérea sofrem restrição. Será que não conseguem detectar uma aeronave suspeita, voando fora das rotas?
Só para lembrar: todo mês de setembro tem a assembleia geral da ONU em Nova York, para onde se dirigem mais de 100 chefes de estado. Sabem o que acontece com o tráfego aéreo? Nada. Continua tudo normal nos três aeroportos.
Dirão: lá tem mais aeroportos e mais pistas, de modo que fica mais fácil. Falso. Lá também há muito mais voos por hora. A resposta é outra: mais equipamento, mais engenharia, mais eficiência e empenho de não torrar a paciência dos moradores.
Outra: as comitivas não podem ficar presas no trânsito carioca, claro. Saída simples: fecham-se vias ou pistas, que se tornam seletivas para os carros credenciados. Assim, o não credenciado fica horas e horas no trânsito, tendo ali ao lado pistas e vias vazias, apenas vez ou outra ocupadas por uma comitiva. Será que não existe engenharia melhor?
E, pensando bem, quem precisa mesmo de segurança extrema? Hilary Clinton certamente é um alvo, mas, com todo respeito, o chefe de estado de Tuvalu? Na verdade, nem precisa ser chefe de estado. Autoridades menores gostam do aparato de segurança. Polícia e Exército também gostam de exibir seu aparato.
Experimente passar um tempinho ali no Forte Copacabana, por exemplo, onde há exposição e reuniões. A autoridade vai deixar o local. Aparecem seguranças com terno preto, mesmo quando são mulheres, e soldados com metralhadora. Motos param o trânsito, fecham a rua, afastam as pessoas. Surgem os carrões, pelo menos três: um da segurança, o da autoridade, outro da segurança. Param abruptamente, abrem-se as portas, gritaria nos celulares. Chega o tal, sempre acompanhado, e todos vão entrando rapidamente nos veículos, como se estivessem fugindo. Então, o grande espetáculo: as portas batendo em sequência, as motos arrancam, os carros partem em velocidade. Todos os seguranças com expressão de que estão tirando alguém de um atentado.
E ali olhando, com expressão de paciência obrigada, um homem de bermuda tomando sorvete, a mulher ao lado de um carrinho de bebê, garotos esperando com pranchas, que, aliás, ainda não foram proibidas. Não devem ter visto o filme do James Bond.
Grandes eventos valorizam as cidades. Mas também exibem suas carências. Falta de equipamentos e de planejamento cobram um custo da cidade e, sobretudo, de seus moradores.
Sem contar as contradições: a Rio+20 provoca aumento de emissão de poluentes só com os enormes congestionamentos. E terem utilizado geradores a diesel no Riocentro é inacreditável. E o etanol?
Na Rio 92, o governo brasileiro encontrou a melhor maneira de fazer propaganda de uma energia renovável bem nacional: os carros oferecidos às autoridades eram todos movidos a etanol.
De lá para cá, a tecnologia do etanol só melhorou. A produção de cana tornou-se mais eficiente e sustentável, inclusive com a progressiva eliminação do penoso corte manual, as usinas são mais produtivas, o etanol gera mais energia, sendo, pois, mais econômico, e, ponto forte, o motor flex é um marco tecnológico. Também se começou a produzir energia a partir do bagaço da cana. Mas na Rio+20, nem a presidente Dilma vai de carro a álcool.
PREÇO
Parece que um minuto e meio de televisão vale mais que uma Erundina.
James Bond já surfou ondas de três metros para alcançar praias inimigas. Assim, por que um terrorista não poderia voar de asa-delta da Pedra da Gávea até o Riocentro, descer lá armado de bazucas e eliminar meia dúzia de chefes de estado?
Vai daí, o Exército proibiu voos de asa-delta em todo o espaço aéreo da cidade durante a Rio+20.
Com segurança não se brinca, dizem.
Reparem, porém: o sujeito teria que trazer a arma de algum lugar, circular pela cidade, carregar a coisa até a Pedra, voar e descer no Riocentro, tudo isso sem ser percebido e interceptado. Ninguém desconfiaria. E com todos aqueles soldados e policiais, brasileiros e estrangeiros, que estão na cidade e, concentrados, no local da conferência? Só se fossem muito incompetentes, não é mesmo?
Mas proibindo todos os voos, em todo o Rio, qualquer um que passar de asa-delta torna-se suspeito. Fica fácil para a segurança. E atrapalha a vida de quem gosta de asa-delta.
Dirão que esse é um aspecto menor e que, afinal, o pessoal pode ficar uns dias sem voar, em nome da segurança que garanta um bom evento no Rio.
O problema é que esse tipo de comportamento se aplica a todo o evento. Não há qualquer esforço ou qualquer planejamento para garantir a segurança e, ao mesmo tempo, causar o menor dano possível aos moradores e visitantes.
Não está vetada apenas a asa-delta. O espaço aéreo foi fechado. Até os inocentes voos da Ponte Aérea sofrem restrição. Será que não conseguem detectar uma aeronave suspeita, voando fora das rotas?
Só para lembrar: todo mês de setembro tem a assembleia geral da ONU em Nova York, para onde se dirigem mais de 100 chefes de estado. Sabem o que acontece com o tráfego aéreo? Nada. Continua tudo normal nos três aeroportos.
Dirão: lá tem mais aeroportos e mais pistas, de modo que fica mais fácil. Falso. Lá também há muito mais voos por hora. A resposta é outra: mais equipamento, mais engenharia, mais eficiência e empenho de não torrar a paciência dos moradores.
Outra: as comitivas não podem ficar presas no trânsito carioca, claro. Saída simples: fecham-se vias ou pistas, que se tornam seletivas para os carros credenciados. Assim, o não credenciado fica horas e horas no trânsito, tendo ali ao lado pistas e vias vazias, apenas vez ou outra ocupadas por uma comitiva. Será que não existe engenharia melhor?
E, pensando bem, quem precisa mesmo de segurança extrema? Hilary Clinton certamente é um alvo, mas, com todo respeito, o chefe de estado de Tuvalu? Na verdade, nem precisa ser chefe de estado. Autoridades menores gostam do aparato de segurança. Polícia e Exército também gostam de exibir seu aparato.
Experimente passar um tempinho ali no Forte Copacabana, por exemplo, onde há exposição e reuniões. A autoridade vai deixar o local. Aparecem seguranças com terno preto, mesmo quando são mulheres, e soldados com metralhadora. Motos param o trânsito, fecham a rua, afastam as pessoas. Surgem os carrões, pelo menos três: um da segurança, o da autoridade, outro da segurança. Param abruptamente, abrem-se as portas, gritaria nos celulares. Chega o tal, sempre acompanhado, e todos vão entrando rapidamente nos veículos, como se estivessem fugindo. Então, o grande espetáculo: as portas batendo em sequência, as motos arrancam, os carros partem em velocidade. Todos os seguranças com expressão de que estão tirando alguém de um atentado.
E ali olhando, com expressão de paciência obrigada, um homem de bermuda tomando sorvete, a mulher ao lado de um carrinho de bebê, garotos esperando com pranchas, que, aliás, ainda não foram proibidas. Não devem ter visto o filme do James Bond.
Grandes eventos valorizam as cidades. Mas também exibem suas carências. Falta de equipamentos e de planejamento cobram um custo da cidade e, sobretudo, de seus moradores.
Sem contar as contradições: a Rio+20 provoca aumento de emissão de poluentes só com os enormes congestionamentos. E terem utilizado geradores a diesel no Riocentro é inacreditável. E o etanol?
Na Rio 92, o governo brasileiro encontrou a melhor maneira de fazer propaganda de uma energia renovável bem nacional: os carros oferecidos às autoridades eram todos movidos a etanol.
De lá para cá, a tecnologia do etanol só melhorou. A produção de cana tornou-se mais eficiente e sustentável, inclusive com a progressiva eliminação do penoso corte manual, as usinas são mais produtivas, o etanol gera mais energia, sendo, pois, mais econômico, e, ponto forte, o motor flex é um marco tecnológico. Também se começou a produzir energia a partir do bagaço da cana. Mas na Rio+20, nem a presidente Dilma vai de carro a álcool.
PREÇO
Parece que um minuto e meio de televisão vale mais que uma Erundina.
Entrevista com Luis Sthulberger
Segue a sessão de perguntas e respostas que eu fiz com Luis Sthulberger, o gestor do fundo Verde, o maior e melhor fundo de multimercado do Brasil, durante o evento Ideias em Movimento, organizado pelo IFL em SP.
Arrastões
Contardo Calligaris, Folha de SP
Um amigo, dono de um restaurante paulistano tradicional, não perde a piada. Ele me explicou por que sua categoria está preocupada com a recente onda de arrastões: é que pensávamos, ele me disse, que assaltar os clientes fosse prerrogativa exclusiva da gente.
Piada à parte, na semana passada, a TV Folha me entrevistou sobre os arrastões que estão acontecendo logo em São Paulo -onde sair para jantar é o programa convivial por excelência, e o restaurante é um lugar tão familiar quanto a casa da gente.
Mesmo sem considerar essa especificidade paulistana, o assalto à mesa é sempre perturbador. A oralidade é o prazer mais primitivo, cuja "lembrança" (digamos assim) permanece em nós como modelo de qualquer outro prazer (por isso, aliás, é difícil parar de fumar ou de comer: as tentações orais são as mais irresistíveis).
Consequência: a experiência de ser assaltado no meio de uma boa refeição é comparável à de um bebê que recebesse um cascudo bem na hora em que ele está mamando, de olhos fechados, perdidamente feliz.
Enfim, a reportagem suspeitou que os arrastões ganhassem espaço na mídia por serem contra restaurantes na moda. Será que as classes C e D são excluídas das pautas da mídia?
A questão me levou de volta aos anos 1980 e 90, quando quase todos os bem-pensantes pareciam concordar com a suposição de que a causa da apavorante criminalidade brasileira fosse a também apavorante diferença social. Essa ideia (desmentida por qualquer pesquisa séria) voltava, como um joão-bobo, a cada vez que se tratasse de explicar a insegurança nas nossas ruas.
Para proteger essa tese falida, a gente (eu mesmo cooperei) insistia na distinção entre diferença econômica e exclusão: a diferença, por maior que fosse, não seria causa de criminalidade, enquanto a exclusão social, ela sim, produziria criminalidade, pois, afinal, quem é ou se sente excluído não pertence à comunidade -e, se não pertenço à comunidade, por que eu respeitaria suas leis? Para o excluído, as ditas forças da ordem não teriam legitimidade, mas seriam uma espécie de exército estrangeiro de ocupação. Para ele, o crime seria, então, um ato de resistência? "Mamma mia."
Mesmo a ideia de uma relação entre criminalidade e exclusão mal resiste à prova dos fatos. Mas tanto faz: o que importa é que, hoje, no Brasil, é difícil invocar um aumento da diferença econômica ou da exclusão para explicar a volta da criminalidade.
De fato, sempre soubemos que a criminalidade não é um efeito da diferença econômica, nem da exclusão, mas adorávamos essa ideia porque ela satisfazia tanto nossas aspirações de clareza (temos uma criminalidade absurda, mas "sabemos" por quê) quanto nossos anseios de justiça (a criminalidade compensa a iniquidade social).
A criminalidade brasileira assim explicada não precisava de um plano de ação: a culpa era nossa, e, portanto, podíamos nos resignar a sermos "justamente" assaltados (ou quem sabe mortos) por sermos cúmplices de um sistema "injusto". Aguentaríamos a violência e a inexistência de um espaço público frequentável porque assim expiaríamos o pecado original da diferença social.
Você não acha que a violência dos anos 1980 e 90 fosse aceita como uma necessária penitência depois da confissão? Certo, havia outras razões por essa tolerância da criminalidade: uma delas é que as ditas elites econômicas eram tão estrangeiras ao país quanto os excluídos -não havia problema em entregar ruas e esquinas aos bandidos, contanto que a residência (real, psíquica ou sonhada) das elites fosse em Miami, Nova York ou Paris.
Seja como for, a prova dessa aceitação é que nenhum político nacional dos anos 1980 ou 90, nem mesmo um demagogo, apresentou-se como porta-voz de um grande plano de segurança pública. Com a verbosa exceção da "Rota na rua" de Maluf em 2002, parece que um verdadeiro projeto de segurança nunca foi prioritário (aparentemente, porque tal projeto não prometia dividendos eleitorais suficientes).
Pois bem, felizmente, nos últimos dez anos, a diferença social diminuiu, assim como diminuiu a exclusão. Portanto, não é possível explicar a criminalidade crescente pela diferença social, que não está crescendo.
Talvez, agora, possamos começar a lidar realmente com o problema da segurança pública no Brasil, sem que nossos conselheiros sejam a culpa e a necessidade de autopunição.
Um amigo, dono de um restaurante paulistano tradicional, não perde a piada. Ele me explicou por que sua categoria está preocupada com a recente onda de arrastões: é que pensávamos, ele me disse, que assaltar os clientes fosse prerrogativa exclusiva da gente.
Piada à parte, na semana passada, a TV Folha me entrevistou sobre os arrastões que estão acontecendo logo em São Paulo -onde sair para jantar é o programa convivial por excelência, e o restaurante é um lugar tão familiar quanto a casa da gente.
Mesmo sem considerar essa especificidade paulistana, o assalto à mesa é sempre perturbador. A oralidade é o prazer mais primitivo, cuja "lembrança" (digamos assim) permanece em nós como modelo de qualquer outro prazer (por isso, aliás, é difícil parar de fumar ou de comer: as tentações orais são as mais irresistíveis).
Consequência: a experiência de ser assaltado no meio de uma boa refeição é comparável à de um bebê que recebesse um cascudo bem na hora em que ele está mamando, de olhos fechados, perdidamente feliz.
Enfim, a reportagem suspeitou que os arrastões ganhassem espaço na mídia por serem contra restaurantes na moda. Será que as classes C e D são excluídas das pautas da mídia?
A questão me levou de volta aos anos 1980 e 90, quando quase todos os bem-pensantes pareciam concordar com a suposição de que a causa da apavorante criminalidade brasileira fosse a também apavorante diferença social. Essa ideia (desmentida por qualquer pesquisa séria) voltava, como um joão-bobo, a cada vez que se tratasse de explicar a insegurança nas nossas ruas.
Para proteger essa tese falida, a gente (eu mesmo cooperei) insistia na distinção entre diferença econômica e exclusão: a diferença, por maior que fosse, não seria causa de criminalidade, enquanto a exclusão social, ela sim, produziria criminalidade, pois, afinal, quem é ou se sente excluído não pertence à comunidade -e, se não pertenço à comunidade, por que eu respeitaria suas leis? Para o excluído, as ditas forças da ordem não teriam legitimidade, mas seriam uma espécie de exército estrangeiro de ocupação. Para ele, o crime seria, então, um ato de resistência? "Mamma mia."
Mesmo a ideia de uma relação entre criminalidade e exclusão mal resiste à prova dos fatos. Mas tanto faz: o que importa é que, hoje, no Brasil, é difícil invocar um aumento da diferença econômica ou da exclusão para explicar a volta da criminalidade.
De fato, sempre soubemos que a criminalidade não é um efeito da diferença econômica, nem da exclusão, mas adorávamos essa ideia porque ela satisfazia tanto nossas aspirações de clareza (temos uma criminalidade absurda, mas "sabemos" por quê) quanto nossos anseios de justiça (a criminalidade compensa a iniquidade social).
A criminalidade brasileira assim explicada não precisava de um plano de ação: a culpa era nossa, e, portanto, podíamos nos resignar a sermos "justamente" assaltados (ou quem sabe mortos) por sermos cúmplices de um sistema "injusto". Aguentaríamos a violência e a inexistência de um espaço público frequentável porque assim expiaríamos o pecado original da diferença social.
Você não acha que a violência dos anos 1980 e 90 fosse aceita como uma necessária penitência depois da confissão? Certo, havia outras razões por essa tolerância da criminalidade: uma delas é que as ditas elites econômicas eram tão estrangeiras ao país quanto os excluídos -não havia problema em entregar ruas e esquinas aos bandidos, contanto que a residência (real, psíquica ou sonhada) das elites fosse em Miami, Nova York ou Paris.
Seja como for, a prova dessa aceitação é que nenhum político nacional dos anos 1980 ou 90, nem mesmo um demagogo, apresentou-se como porta-voz de um grande plano de segurança pública. Com a verbosa exceção da "Rota na rua" de Maluf em 2002, parece que um verdadeiro projeto de segurança nunca foi prioritário (aparentemente, porque tal projeto não prometia dividendos eleitorais suficientes).
Pois bem, felizmente, nos últimos dez anos, a diferença social diminuiu, assim como diminuiu a exclusão. Portanto, não é possível explicar a criminalidade crescente pela diferença social, que não está crescendo.
Talvez, agora, possamos começar a lidar realmente com o problema da segurança pública no Brasil, sem que nossos conselheiros sejam a culpa e a necessidade de autopunição.
Verissimo, o cara-de-pau
O Verissimo é tão cara-de-pau, mas tão cara-de-pau, que mesmo quando ele finge estar criticando o Lula, ele está na verdade o bajulando. No artigo de hoje, ele escreve: "No acordo com Maluf trocou-se uma história e uma coerência por um minuto e pouco a mais de espaço para o candidato do PT na TV. Ó Lula!"
Como assim uma história e uma coerência? Qual história? A do líder sindicalista sempre disposto a tudo pelo poder? Qual coerência? A de nunca ter princípios quando se trata de subir e ficar no poder? Por que Verissimo não lembra do Sarney, do Jader Barbalho, do Collor? Isso não havia manchado já a história de Lula? E a amizade com o mais velho e cruel ditador da América Latina, Fidel Castro, ou El Coma Andante, até hoje reverenciado pelo ex-metalúrgico? Isso não tem problema? A adulação aos ditadores africanos, ao Ahmadinejad, isso tudo faz parte dessa "linda" história?
Não custa lembrar que Maluf e Marta Suplicy já tinham firmado acordo no passado. Logo, a grande novidade não é o acordo entre PT e Maluf, e sim a foto. A imagem que vale mais do que mil palavras! A própria Erundina condenou a foto, não a parceria em si. Que grande coerência ética!
Verissimo, você é um grande cara-de-pau! Difícil é saber quem vale menos: Verissimo ou Chico Buarque!
Outros comentários sobre Verissimo:
terça-feira, junho 19, 2012
Testemunhas de um crime
João Pereira Coutinho, Folha de SP
Emma (nome fictício) tem 32 anos. Foi estudante de medicina, e os colegas dizem que era uma pessoa inteligente e agradável.
O que os colegas não sabiam é que, desde a adolescência, Emma sofria de distúrbios alimentares graves, que a conduziram a uma anorexia severa.
Agora, aos 32, Emma deixou de se alimentar e expressou seu desejo de morrer. Acabar com o tormento é para ela mais importante do que continuar com uma vida que, aos seus olhos, perdeu o valor.
E os pais de Emma? Os pais concordam. Sim, eles gostariam que a filha tivesse uma vida normal, uma família, uma profissão, que morresse um dia, na velhice, rodeada por netos ou bisnetos.
Mas a realidade é outra: a filha sofre há vários anos. De forma atroz. Respeitar seu desejo de morte é, talvez, o gesto mais caridoso daqueles que a amam.
A história descrita não é invenção minha. Foi levada perante a Justiça inglesa recentemente -e o juiz responsável pelo caso, Peter Jackson, decidiu: Emma será alimentada à força, mesmo que isso signifique imobilização física e sedação.
Hoje, Emma pode olhar para a sua vida e não encontrar qualquer valor ou propósito. Mas um dia, recuperada psicologicamente, a perspectiva de Emma pode ser outra.
Claro que o juiz sabe que, mesmo com alimentação forçada, as hipóteses de sobrevivência de Emma são reduzidas: meses seguidos de quase jejum completo deixaram o seu organismo em estado deplorável.
Mas é preciso não desistir, diz o juiz. Mesmo contra a vontade da própria moça, pois só a morte é irreversível.
Eis a história que tem comovido e dividido a sociedade inglesa. Os argumentos de ambos os lados são conhecidos: há quem aplauda o juiz pela "decisão mais difícil de uma carreira" (palavras do próprio).
E há quem condene a sua sentença abusiva: a autonomia do sujeito, em matéria médica, é soberana. Eu devo poder recusar os tratamentos que bem entender mesmo que isso resulte em minha morte.
Entendo todos os argumentos. Teoricamente, e de acordo com as circunstâncias, sou capaz de simpatizar com ambos. Mas existe um terceiro elemento que paira sobre o caso e que, a meu ver, praticamente o decide.
Esse terceiro elemento somos nós. Nós, testemunhas potenciais da autodestruição de um ser humano. Nós, testemunhas silenciosas dessa autodestruição.
Anos atrás, o ensaísta e psiquiatra Anthony Daniels, nome verdadeiro do autor britânico Theodore Dalrymple, publicou na revista "The New Criterion" texto sobre as implicações éticas das diferentes formas de "morte assistida" ("Do We Own Our Lives?", fevereiro de 2009).
Por diversas vezes já me referi a esse texto aqui. Retorno a ele sem hesitar. É um texto primoroso porque oferece uma comparação primorosa: se alguém decide saltar de uma ponte, o gesto é autônomo, pessoal -e, palavra decisiva, solitário. Nada a fazer, tudo a lamentar.
Mas nenhuma pessoa saltará de uma ponte se eu estiver passando por ela e puder evitar o ato. Nesse momento agônico, a infeliz criatura pode espumar e espernear. Ou, inversamente, pode até dissertar com propriedade e inteligência sobre sua vida miserável, desprovida de rumo ou sentido. Nada disso me convence a largá-la.
Qualquer um pode cometer violência sobre si próprio. Não existe qualquer legitimidade para que a violência de terceiros sobre eles próprios me seja imposta também.
Como conclui Anthony Daniels no ensaio, a vida só nos pertence até certo ponto. Mas ela é também o resultado da teia de afetos, ligações e obrigações que estabelecemos uns com os outros.
Emma, 32 anos, ex-estudante de medicina, podia ter seguido outro caminho. Podia ter procurado uma cabana no fim do mundo para se despedir do seu calvário. Longe dos nossos olhos -e, tristemente, com o conhecimento e a compreensão de seus pais.
A partir do momento em que o seu caso é trazido perante a comunidade, ele deixa de ser apenas um caso pessoal e isolado. Passa a ser também a medida do que somos enquanto civilização.
Se a Justiça inglesa tivesse permitido que um doente psiquiátrico morresse em seus braços, desconfio que seria a sociedade do país a precisar de tratamento intensivo.
Emma (nome fictício) tem 32 anos. Foi estudante de medicina, e os colegas dizem que era uma pessoa inteligente e agradável.
O que os colegas não sabiam é que, desde a adolescência, Emma sofria de distúrbios alimentares graves, que a conduziram a uma anorexia severa.
Agora, aos 32, Emma deixou de se alimentar e expressou seu desejo de morrer. Acabar com o tormento é para ela mais importante do que continuar com uma vida que, aos seus olhos, perdeu o valor.
E os pais de Emma? Os pais concordam. Sim, eles gostariam que a filha tivesse uma vida normal, uma família, uma profissão, que morresse um dia, na velhice, rodeada por netos ou bisnetos.
Mas a realidade é outra: a filha sofre há vários anos. De forma atroz. Respeitar seu desejo de morte é, talvez, o gesto mais caridoso daqueles que a amam.
A história descrita não é invenção minha. Foi levada perante a Justiça inglesa recentemente -e o juiz responsável pelo caso, Peter Jackson, decidiu: Emma será alimentada à força, mesmo que isso signifique imobilização física e sedação.
Hoje, Emma pode olhar para a sua vida e não encontrar qualquer valor ou propósito. Mas um dia, recuperada psicologicamente, a perspectiva de Emma pode ser outra.
Claro que o juiz sabe que, mesmo com alimentação forçada, as hipóteses de sobrevivência de Emma são reduzidas: meses seguidos de quase jejum completo deixaram o seu organismo em estado deplorável.
Mas é preciso não desistir, diz o juiz. Mesmo contra a vontade da própria moça, pois só a morte é irreversível.
Eis a história que tem comovido e dividido a sociedade inglesa. Os argumentos de ambos os lados são conhecidos: há quem aplauda o juiz pela "decisão mais difícil de uma carreira" (palavras do próprio).
E há quem condene a sua sentença abusiva: a autonomia do sujeito, em matéria médica, é soberana. Eu devo poder recusar os tratamentos que bem entender mesmo que isso resulte em minha morte.
Entendo todos os argumentos. Teoricamente, e de acordo com as circunstâncias, sou capaz de simpatizar com ambos. Mas existe um terceiro elemento que paira sobre o caso e que, a meu ver, praticamente o decide.
Esse terceiro elemento somos nós. Nós, testemunhas potenciais da autodestruição de um ser humano. Nós, testemunhas silenciosas dessa autodestruição.
Anos atrás, o ensaísta e psiquiatra Anthony Daniels, nome verdadeiro do autor britânico Theodore Dalrymple, publicou na revista "The New Criterion" texto sobre as implicações éticas das diferentes formas de "morte assistida" ("Do We Own Our Lives?", fevereiro de 2009).
Por diversas vezes já me referi a esse texto aqui. Retorno a ele sem hesitar. É um texto primoroso porque oferece uma comparação primorosa: se alguém decide saltar de uma ponte, o gesto é autônomo, pessoal -e, palavra decisiva, solitário. Nada a fazer, tudo a lamentar.
Mas nenhuma pessoa saltará de uma ponte se eu estiver passando por ela e puder evitar o ato. Nesse momento agônico, a infeliz criatura pode espumar e espernear. Ou, inversamente, pode até dissertar com propriedade e inteligência sobre sua vida miserável, desprovida de rumo ou sentido. Nada disso me convence a largá-la.
Qualquer um pode cometer violência sobre si próprio. Não existe qualquer legitimidade para que a violência de terceiros sobre eles próprios me seja imposta também.
Como conclui Anthony Daniels no ensaio, a vida só nos pertence até certo ponto. Mas ela é também o resultado da teia de afetos, ligações e obrigações que estabelecemos uns com os outros.
Emma, 32 anos, ex-estudante de medicina, podia ter seguido outro caminho. Podia ter procurado uma cabana no fim do mundo para se despedir do seu calvário. Longe dos nossos olhos -e, tristemente, com o conhecimento e a compreensão de seus pais.
A partir do momento em que o seu caso é trazido perante a comunidade, ele deixa de ser apenas um caso pessoal e isolado. Passa a ser também a medida do que somos enquanto civilização.
Se a Justiça inglesa tivesse permitido que um doente psiquiátrico morresse em seus braços, desconfio que seria a sociedade do país a precisar de tratamento intensivo.
segunda-feira, junho 18, 2012
Shame
Rodrigo Constantino
Finalmente acabo de ver "Shame". Um filme impactante. O artigo de João Pereira Coutinho já resume o mais relevante. Gostaria apenas de acrescentar meus dois cents, com um toque de Mario Vargas Llosa, pela caneta de Dom Rigoberto, sobre a banalização do sexo, sobre o coletivismo pornográfico, nesses anos em que TV e Internet mostram a torto e a direito as mais variadas imagens sobre o assunto, após a caixa de Pandora aberta nos anos 60 (não por acaso a época em que o personagem do filme, um pobre coitado viciado em sexo, gostaria de viver). Será que quebrar todos os tabus quando o assunto é sexo é algo desejável? Com a palavra, Dom Rigoberto:
"Meu ódio à Playboy, à Penthouse e congêneres não é gratuito. Esse espécime de revista é um símbolo do acanalhamento do sexo, do desaparecimento dos belos tabus que costumavam rodeá-lo e graças aos quais o espírito humano podia rebelar-se, exercendo a liberdade individual, afirmando a personalidade singular de cada um, e o indivíduo soberano criar-se pouco a pouco na elaboração, secreta e discreta, de rituais, condutas, imagens, cultos, fantasias e cerimônias que, enobrecendo eticamente e conferindo categoria estética ao ato do amor, desanimalizaram-no progressivamente até transformá-lo em ato criativo.
[...] A pornografia despoja o erotismo do conteúdo artístico, privilegia o orgânico sobre o espiritual e o mental, como se o desejo e o prazer tivessem por protagonistas falos e vulvas e esses adminículos não fossem meros servos dos fantasmas que governam nossas almas, e segrega o amor físico do resto das experiências humanas."
O filme é tão bom, que mesmo nas cenas mais pornográficas, em meio às orgias todas, não há a menor condição de o espectador ficar excitado, pois a angústia do personagem principal é estampada em nossas caras, contagiando-nos. O vício no sexo é tão destrutivo quanto qualquer outro vício. É pura pulsão de morte. O vazio existencial de quem vive apenas para isso é mortal. A incapacidade de sentir e se envolver com outro, mesmo em seus desencontros e imperfeições, é um fardo insuportável. Não é preciso ser conservador carola ou moralista para reconhecer isso tudo e lamentar os rumos que a coisa toda tomou ao banalizarem o sexo dessa forma.
Retrato da política nacional
Um Engov, por favor! Preciso confessar que considero o crápula da esquerda pior que o da direita. Este, ao menos, todos enxergam como bandido, inclusive a Interpol. Já aquele... é visto como santo por uma cambada de idiotas úteis e gente vendida na imprensa chapa-branca, sem falar dos "intelectuais" do naipe de um Chico Buarque. Esse encontro deveria ser em Bangu I...
O motivo pelo qual detesto mais "o chefe" da quadrilha petista pode ser resumido pelo argumento usado por Alain Besançon em "A infelicidade do século" para condenar o comunismo antes do nazismo: “O comunismo é mais perverso que o nazismo porque ele não pede ao homem que atue conscientemente como um criminoso, mas, ao contrário, se serve do espírito de justiça e de bondade que se estendeu por toda a terra para difundir em toda a terra o mal. Cada experiência comunista é recomeçada na inocência.”
A paranoia bullying
Luiz Felipe Pondé, Folha de SP
Entro em sala de aula várias vezes na semana. Daí vem muito do que penso acerca dos modismos perniciosos que assolam o mundo da educação.
E daí também vem o fato de que, apesar de ser pessimista (nada tem de chique no pessimismo, apenas para quem não o conhece por dentro e o confunde com um estilo melancólico de se vestir), não desisto da vida e vou morar no bosque de "Walden" (ou algo semelhante), como fez o filósofo americano Thoreau no século 19.
Hoje vou comentar um caso específico de moda que em breve provavelmente vai destruir qualquer liberdade e espontaneidade na sala de aula: a "paranoia bullying".
Se atentarmos para o que o Ministério Público prepara como controle da vida escolar "interna", veremos, mais uma vez, a face do totalitarismo via hiperatividade do poder jurídico.
Ao invés de atacar o que deve ser atacado (o lixo que é a escola no Brasil, porque o Estado arrecada impostos como um dragão faminto, mas não dá nada em troca), o Estado e seu braço armado, o governo socialista que temos há décadas, que adora papos-furados como cotas raciais e bijuterias semelhantes, invade o espaço institucional do cotidiano escolar com sua vocação maior e eterna: o controle absoluto da vida nos seus detalhes mais íntimos.
E ninguém parece enxergar isso, muito menos a pedagogia e sua vocação, nos últimos anos, para livros bobos da moda e palestrantes de autoajuda.
Quando ouço alguma "autoridade pública em bullying", sinto que estou diante de um inquisidor, que, como todos, sempre se acha representantes do "bem".
Seria de bom uso dar aulas de história dos perfis psicológicos dos grandes inquisidores, como Torquemada e Bernard de Gui, para essas "autoridades públicas" em invasão da vida íntima das pessoas e das instituições. Eles descobririam sua ascendência direta do grande inquisidor de Dostoiévski ("Irmãos Karamazov").
Em breve, a melhor solução para o professor será a indiferença preventiva para com os alunos. Melhor uma aula burocrática e avaliações burocráticas do tipo "múltipla escolha" ou "diga se é falso ou verdadeiro", mesmo nas universidades, porque assim o aluno não poderá acusar o professor de "desumanidade" ao reprová-lo, ou pior, acusá-lo de bullying porque desconsiderou sua "cultura de ignorante", mas que "merece respeito assim como Shakespeare".
Os "recursos" contra reprovação logo se transformarão em processos contra "bullying intelectual". E os fascistas do controle jurídico da vida terão orgasmos.
Atitudes como estas destroem a autoridade da instituição, dos profissionais que nela trabalham e transformam todos em reféns da "máquina jurídica". O resultado é que família e escola perdem autonomia. O que este novo coronelismo não entende é que existe um risco inerente ao convívio escolar e que as autoridades imediatas, professores e coordenadores é que devem agir, e não polícia ou juízes.
Na minha vida como aluno em universidade tive duas experiências com dois professores que hoje poderiam ser enquadradas facilmente neste papinho de "tratamento desumano", mas que foram essenciais na minha vida profissional e pessoal.
A primeira, quando era um aluno da medicina na Universidade Federal da Bahia, ocorreu no dia em que perguntei a um professor como um paciente terminal via o fato de que ele ia em direção ao nada. Ele disse: "O senhor está na aula errada, deveria estar na aula de filosofia".
Isso, numa faculdade de medicina, significa mais ou menos que você não tem a natureza forte o bastante para encarar a vida como ela é.
A segunda, já na faculdade de filosofia da USP, aconteceu quando um professor me deu zero e disse para procurá-lo. Ao me ver, no meio da secretaria e na frente de vários funcionários e alunos, ele disparou: "Suas ideias são ótimas, seu português é um lixo".
Em vez de preparar a polícia para prender bandidos que assaltam casas e restaurantes aos montes, o governo prefere brincar com essas bijuterias, fingindo que cumpre sua função de garantir a segurança pública. Será que isso é medo de enfrentar os criminosos de verdade?
Entro em sala de aula várias vezes na semana. Daí vem muito do que penso acerca dos modismos perniciosos que assolam o mundo da educação.
E daí também vem o fato de que, apesar de ser pessimista (nada tem de chique no pessimismo, apenas para quem não o conhece por dentro e o confunde com um estilo melancólico de se vestir), não desisto da vida e vou morar no bosque de "Walden" (ou algo semelhante), como fez o filósofo americano Thoreau no século 19.
Hoje vou comentar um caso específico de moda que em breve provavelmente vai destruir qualquer liberdade e espontaneidade na sala de aula: a "paranoia bullying".
Se atentarmos para o que o Ministério Público prepara como controle da vida escolar "interna", veremos, mais uma vez, a face do totalitarismo via hiperatividade do poder jurídico.
Ao invés de atacar o que deve ser atacado (o lixo que é a escola no Brasil, porque o Estado arrecada impostos como um dragão faminto, mas não dá nada em troca), o Estado e seu braço armado, o governo socialista que temos há décadas, que adora papos-furados como cotas raciais e bijuterias semelhantes, invade o espaço institucional do cotidiano escolar com sua vocação maior e eterna: o controle absoluto da vida nos seus detalhes mais íntimos.
E ninguém parece enxergar isso, muito menos a pedagogia e sua vocação, nos últimos anos, para livros bobos da moda e palestrantes de autoajuda.
Quando ouço alguma "autoridade pública em bullying", sinto que estou diante de um inquisidor, que, como todos, sempre se acha representantes do "bem".
Seria de bom uso dar aulas de história dos perfis psicológicos dos grandes inquisidores, como Torquemada e Bernard de Gui, para essas "autoridades públicas" em invasão da vida íntima das pessoas e das instituições. Eles descobririam sua ascendência direta do grande inquisidor de Dostoiévski ("Irmãos Karamazov").
Em breve, a melhor solução para o professor será a indiferença preventiva para com os alunos. Melhor uma aula burocrática e avaliações burocráticas do tipo "múltipla escolha" ou "diga se é falso ou verdadeiro", mesmo nas universidades, porque assim o aluno não poderá acusar o professor de "desumanidade" ao reprová-lo, ou pior, acusá-lo de bullying porque desconsiderou sua "cultura de ignorante", mas que "merece respeito assim como Shakespeare".
Os "recursos" contra reprovação logo se transformarão em processos contra "bullying intelectual". E os fascistas do controle jurídico da vida terão orgasmos.
Atitudes como estas destroem a autoridade da instituição, dos profissionais que nela trabalham e transformam todos em reféns da "máquina jurídica". O resultado é que família e escola perdem autonomia. O que este novo coronelismo não entende é que existe um risco inerente ao convívio escolar e que as autoridades imediatas, professores e coordenadores é que devem agir, e não polícia ou juízes.
Na minha vida como aluno em universidade tive duas experiências com dois professores que hoje poderiam ser enquadradas facilmente neste papinho de "tratamento desumano", mas que foram essenciais na minha vida profissional e pessoal.
A primeira, quando era um aluno da medicina na Universidade Federal da Bahia, ocorreu no dia em que perguntei a um professor como um paciente terminal via o fato de que ele ia em direção ao nada. Ele disse: "O senhor está na aula errada, deveria estar na aula de filosofia".
Isso, numa faculdade de medicina, significa mais ou menos que você não tem a natureza forte o bastante para encarar a vida como ela é.
A segunda, já na faculdade de filosofia da USP, aconteceu quando um professor me deu zero e disse para procurá-lo. Ao me ver, no meio da secretaria e na frente de vários funcionários e alunos, ele disparou: "Suas ideias são ótimas, seu português é um lixo".
Em vez de preparar a polícia para prender bandidos que assaltam casas e restaurantes aos montes, o governo prefere brincar com essas bijuterias, fingindo que cumpre sua função de garantir a segurança pública. Será que isso é medo de enfrentar os criminosos de verdade?
domingo, junho 17, 2012
Cuidado com os burocratas verdes
Luiz Felipe Pondé, Folha de SP
Não tenho dúvida de que animais e árvores nos humanizam, e não lugares cheios de gente do tipo Rio+20. E que temos que cuidar de nossa casa, assim como devemos buscar diminuir o sofrimento do mundo em geral, mas o fato é que não sabemos ao certo o que fazer para isso.
E a burocracia verde, gerada nesta conferência, não descobrirá como fazer isso porque burocracia é sempre parasita.
A máxima da Rio+20 "Mudar o modelo de energia no planeta para energia sustentável" é ainda algo semelhante a discussão sobre sexos dos anjos. Essa máxima implica ideias como "sai fora combustível fóssil tipo petróleo e entra em cena..."
Na prática, quem quer fechar hospitais, parar de voar ou silenciar computadores?
O problema não é apenas a qualidade da energia, mas a quantidade necessária dela e seu custo. Imagino verdes de todos os tipos pregando o fim da exploração de petróleo em seus facebooks dependentes de energia fóssil.
Quanto à humanização (tema recorrente neste parque temático da ONU), ainda penso que família e escola são as melhores formas de aprendê-la. Um estímulo para ter animais e jardins em casa, nas escolas e nas ruas vale mais como humanização do que 50 conferências gigantescas nas quais se discutem siglas, vírgulas e ponto e vírgulas.
Cúpulas internacionais ambientais são como os velhos concílios bizantinos dos primeiros séculos do cristianismo. Esses concílios aconteciam no império bizantino, também conhecido como Constantinopla.
Neles, os caras se perguntavam quantos centímetros Jesus tinha de substância divina e quantos de substância humana. Acho que os concílios ainda ganhariam em eficácia levando-se em conta o sucesso da ideia de que o carpinteiro judeu seja Deus.
Sabemos que a ONU e seus derivados são, como dizia Paulo Francis, grandes estatais ineficientes. Verdadeiro cabide de emprego para um monte de gente, principalmente de países pobres. Dar dinheiro para a ONU é doação a fundo (quase) perdido.
Minha tese, nada científica, é a de que a ONU não seja o melhor fórum para angústias como essas porque ela é basicamente ineficiente. Tudo o que consegue, além de dar chances para seus integrantes beberem e conhecerem os bares da Lapa -como me disse recentemente um colega jornalista- é gerar impostos internacionais que você e eu teremos que pagar.
Qualquer solução para a "energia limpa" virá do mercado e jamais de burocratas e seus pontos e vírgulas.
A questão é: quem defende o planeta dos burocratas verdes?
Não tenho dúvida de que animais e árvores nos humanizam, e não lugares cheios de gente do tipo Rio+20. E que temos que cuidar de nossa casa, assim como devemos buscar diminuir o sofrimento do mundo em geral, mas o fato é que não sabemos ao certo o que fazer para isso.
E a burocracia verde, gerada nesta conferência, não descobrirá como fazer isso porque burocracia é sempre parasita.
A máxima da Rio+20 "Mudar o modelo de energia no planeta para energia sustentável" é ainda algo semelhante a discussão sobre sexos dos anjos. Essa máxima implica ideias como "sai fora combustível fóssil tipo petróleo e entra em cena..."
Na prática, quem quer fechar hospitais, parar de voar ou silenciar computadores?
O problema não é apenas a qualidade da energia, mas a quantidade necessária dela e seu custo. Imagino verdes de todos os tipos pregando o fim da exploração de petróleo em seus facebooks dependentes de energia fóssil.
Quanto à humanização (tema recorrente neste parque temático da ONU), ainda penso que família e escola são as melhores formas de aprendê-la. Um estímulo para ter animais e jardins em casa, nas escolas e nas ruas vale mais como humanização do que 50 conferências gigantescas nas quais se discutem siglas, vírgulas e ponto e vírgulas.
Cúpulas internacionais ambientais são como os velhos concílios bizantinos dos primeiros séculos do cristianismo. Esses concílios aconteciam no império bizantino, também conhecido como Constantinopla.
Neles, os caras se perguntavam quantos centímetros Jesus tinha de substância divina e quantos de substância humana. Acho que os concílios ainda ganhariam em eficácia levando-se em conta o sucesso da ideia de que o carpinteiro judeu seja Deus.
Sabemos que a ONU e seus derivados são, como dizia Paulo Francis, grandes estatais ineficientes. Verdadeiro cabide de emprego para um monte de gente, principalmente de países pobres. Dar dinheiro para a ONU é doação a fundo (quase) perdido.
Minha tese, nada científica, é a de que a ONU não seja o melhor fórum para angústias como essas porque ela é basicamente ineficiente. Tudo o que consegue, além de dar chances para seus integrantes beberem e conhecerem os bares da Lapa -como me disse recentemente um colega jornalista- é gerar impostos internacionais que você e eu teremos que pagar.
Qualquer solução para a "energia limpa" virá do mercado e jamais de burocratas e seus pontos e vírgulas.
A questão é: quem defende o planeta dos burocratas verdes?
sexta-feira, junho 15, 2012
A demagogia verde dos salvadores
Luiz Felipe Pondé, Folha de SP
UMA COISA que sempre me chama a atenção é a vocação autoritária dos verdes em geral, assim como seu caráter ideológico travestido de evidência científica "inquestionável." Não é para menos uma vez que são movidos pela crença de que estão salvando o mundo. Todo mundo que crer salvar o mundo é autoritário.
Claro que devemos nos preocupar com o meio ambiente. Essa é uma ideia já antiga. Machado de Assis no seu maravilhoso "Dom Casmurro", através de seu narrador Bentinho, já falava de pessoas inteligentes que iam jantar em sua casa na sua infância e falavam que os polos estavam derretendo...
Pessoas que se julgam salvadoras do mundo são basicamente de dois tipos: ou são autoritárias ou são infantis. Na tribo verde existem os dois tipos, e como crianças são naturalmente autoritárias, não há muita saída: as duas características se encontram com frequência na mesma pessoa. Um dos desafios da cultura verde é se livrar desse mau hábito. Até agora, me parece uma tarefa impossível.
Falemos do infantilismo. É comum ideólogos verdes (que dizem falar em nome da ciência, essa senhora, coitada, tão abusada em nossos dias e que todo mundo diz frequentar seu circulo mais íntimo), falarem coisas absurdas e ninguém percebe seu absurdo. Quer ver um exemplo?
Uma dos impasses da humanidade é o fato de que sua população cresce e todo mundo quer ser feliz, comer bem e ter uma vida confortável. Todo mundo quer ser "americano" ou "alemão", no sentido de viver altos padrões de qualidade de vida. A questão sempre é: quem paga a conta? Em termos ambientais, de onde virão tais recursos? us hábitos de alimentação, praticados em cozinhas orgânicas, salvarão a humanidade.
Verdes demagógicos, intelectuais "profetas" e políticos marqueteiros são personagens que adoram prometer o impossível. Eles dizem que dá pra fazer da vida uma festa de bem-estar e deixar as plantinhas e os animaizinhos em paz. Este é o absurdo.
O intelectual americano Thomas Sowell em seu maravilhoso "Intellectuals and Society" (no Brasil, publicado pela É Realizações) desvenda a mágica por detrás de absurdos como este de dizer que vai dar para todo mundo ser feliz sem machucar nada nem ninguém: quem diz absurdos como este fica bem na fita, se autopromove (já que a democracia é o regime da mentira de massa por excelência) e ganha muito dinheiro no mercado "do bem".
Que Deus proteja o planeta da demagogia verde.
UMA COISA que sempre me chama a atenção é a vocação autoritária dos verdes em geral, assim como seu caráter ideológico travestido de evidência científica "inquestionável." Não é para menos uma vez que são movidos pela crença de que estão salvando o mundo. Todo mundo que crer salvar o mundo é autoritário.
Claro que devemos nos preocupar com o meio ambiente. Essa é uma ideia já antiga. Machado de Assis no seu maravilhoso "Dom Casmurro", através de seu narrador Bentinho, já falava de pessoas inteligentes que iam jantar em sua casa na sua infância e falavam que os polos estavam derretendo...
Pessoas que se julgam salvadoras do mundo são basicamente de dois tipos: ou são autoritárias ou são infantis. Na tribo verde existem os dois tipos, e como crianças são naturalmente autoritárias, não há muita saída: as duas características se encontram com frequência na mesma pessoa. Um dos desafios da cultura verde é se livrar desse mau hábito. Até agora, me parece uma tarefa impossível.
Falemos do infantilismo. É comum ideólogos verdes (que dizem falar em nome da ciência, essa senhora, coitada, tão abusada em nossos dias e que todo mundo diz frequentar seu circulo mais íntimo), falarem coisas absurdas e ninguém percebe seu absurdo. Quer ver um exemplo?
Uma dos impasses da humanidade é o fato de que sua população cresce e todo mundo quer ser feliz, comer bem e ter uma vida confortável. Todo mundo quer ser "americano" ou "alemão", no sentido de viver altos padrões de qualidade de vida. A questão sempre é: quem paga a conta? Em termos ambientais, de onde virão tais recursos? us hábitos de alimentação, praticados em cozinhas orgânicas, salvarão a humanidade.
Verdes demagógicos, intelectuais "profetas" e políticos marqueteiros são personagens que adoram prometer o impossível. Eles dizem que dá pra fazer da vida uma festa de bem-estar e deixar as plantinhas e os animaizinhos em paz. Este é o absurdo.
O intelectual americano Thomas Sowell em seu maravilhoso "Intellectuals and Society" (no Brasil, publicado pela É Realizações) desvenda a mágica por detrás de absurdos como este de dizer que vai dar para todo mundo ser feliz sem machucar nada nem ninguém: quem diz absurdos como este fica bem na fita, se autopromove (já que a democracia é o regime da mentira de massa por excelência) e ganha muito dinheiro no mercado "do bem".
Que Deus proteja o planeta da demagogia verde.
Idiotas da obviedade
Rodrigo Constantino, para o Instituto Liberal
Nelson Rodrigues costumava falar dos idiotas da obviedade ululante. Lembrei disso hoje ao ler os jornais em busca do tema para este comentário.
Logo de cara deparo com a constatação feita por estudo encomendado pelo próprio governo federal sobre o programa Bolsa Família. A mesada mensal estimularia, segundo a pesquisa, a permanência na informalidade.
Wau, como escreveria Paulo Francis. Quer dizer que pessoas reagem a incentivos? Quer dizer que os pobres preferem seguir trabalhando na informalidade para acumular o salário por fora e a mesada estatal? Não diga!
Em seguida, parto para o caderno de economia e vejo que a Petrossauro, como a Petrobras era chamada por Roberto Campos, anunciou seu novo plano de investimentos para o período de 2012 a 2016. Mais de R$ 400 bilhões serão investidos, sendo que a empresa tem valor de mercado menor que R$ 250 bilhões.
Quase 30% destes investimentos serão na área de refino, com baixa rentabilidade. Além disso, há a cláusula nacionalista na compra dos fornecedores, limitando a eficiência e prejudicando o cronograma. Por fim, a empresa é instrumento de política monetária do governo, e não aumenta os preços, mesmo com a alta do câmbio.
Resultado: queda de quase 4% das ações no dia do anúncio do programa de investimentos. A estatal já perdeu metade de seu valor desde 2009. Mais investimentos para gerar menor crescimento. Os investidores estão cansados e desanimados com a gestão estatal? Não diga!
Por fim, vejo no caderno de política que o PT e o PMDB blindaram Fernando Cavendish, o dono da Delta, na CPMI do Cachoeira. O dono da empresa que está no epicentro dos escândalos, considerada inidônea pelo próprio governo, simplesmente não será convocado para a CPMI. O deputado Miro Teixeira falou de uma “tropa de cheque” para impedir a ida do empresário, insinuando que há rabo preso por parte dos deputados e senadores.
A CPMI é uma farsa, montada por iniciativa do próprio PT e de Lula, para focar somente no governador do PSDB, na imprensa, no Procurador Geral da República e para desviar a atenção do julgamento do mensalão? A revista Veja estava certa, afinal? Não diga!
O Brasil é mesmo o país dos idiotas da obviedade. Para fechar com Nelson Rodrigues também, como é antigo nosso passado recente!
O Brasil é mesmo o país dos idiotas da obviedade. Para fechar com Nelson Rodrigues também, como é antigo nosso passado recente!
quinta-feira, junho 14, 2012
Italy's Reform Stall
Editorial do WSJ
If last weekend's bailout of Spain was supposed to reduce the risk of euro-contagion ahead of Sunday's elections in Greece, it hasn't had the desired effect. Yields on Spanish government debt have since hit a high of 6.78% on 10-year bonds. Who would have thought that adding as much as $125 billion in sovereign liabilities would make Madrid more of a credit risk?
Now markets are looking to Italy, where the economy is forecast to shrink by 1.9% this year, and where Mario Monti's reform agenda seems to be stalling. Yields on Italy's 10-year bonds hit 6.29% before falling back a bit Wednesday. Italy also paid 3.97% for 12-month bills Wednesday. A year ago, Italy was paying 4.8% and 2.2%, respectively.
This shouldn't come as a shock. Data released last week showed that value-added-tax revenue fell over the past 12 months, even though—sorry, make that because—Rome raised the rate to 21% last year. The VAT rate is due to rise to 23% in October. A new property tax on primary residences kicks in next week.
Prime Minister Monti says he wants to prevent the VAT hike, and he told the Italian Parliament on Wednesday that "growth is our main worry." That's nice to hear, but the question is whether Mr. Monti has any idea what to do about it.
Not raising VAT would be a good start, but it hardly qualifies as a growth platform. Italians continue to pay a top marginal income-tax rate of 43% that kicks in at €75,000 and rises to 46% for those making more than €300,000. That might help explain why tax evasion is endemic in Italy, and why an astonishing 27.4% of Italian GDP is off the books, according to a recent estimate by an Italian Central Bank official. Some of that is criminal activity, but mostly it's otherwise honest businesses trying to avoid the tax man. Yet Mr. Monti never speaks about lowering these rates.Then there's Italy's notorious Article 18, which imposes severe labor regulations on any company with more than 15 employees. We applauded Mr. Monti when he first sought to change the law. (He demurred at our praise.) Since then, however, he's only retreated in the face of parliamentary opposition.
Now his reform, which would still give workers the right to appeal their dismissals to a judge, may not even have the votes to pass. One leading Italian industrialist recently complained to us that once you factor in "social costs," as he put it, Italians are as expensive to employ as Germans. They are merely a lot less productive. That's Article 18 at work, and so much for reform.
The Prime Minister is hanging his hopes on the next EU summit at the end of the month. Yet Italy's problems will not be solved by any hoped-for Keynesian blowout, even if the Germans could afford—and would agree—to finance that. Rome has been spending more than it collects in taxes for decades, which is how it got its debt to 120% of GDP in the first place.
The solutions to Italy's problems, tax cuts and labor-market reforms above all, aren't any mystery. Whether there's a politician in Italy who can summon the support to implement them is another question.
If last weekend's bailout of Spain was supposed to reduce the risk of euro-contagion ahead of Sunday's elections in Greece, it hasn't had the desired effect. Yields on Spanish government debt have since hit a high of 6.78% on 10-year bonds. Who would have thought that adding as much as $125 billion in sovereign liabilities would make Madrid more of a credit risk?
Now markets are looking to Italy, where the economy is forecast to shrink by 1.9% this year, and where Mario Monti's reform agenda seems to be stalling. Yields on Italy's 10-year bonds hit 6.29% before falling back a bit Wednesday. Italy also paid 3.97% for 12-month bills Wednesday. A year ago, Italy was paying 4.8% and 2.2%, respectively.
This shouldn't come as a shock. Data released last week showed that value-added-tax revenue fell over the past 12 months, even though—sorry, make that because—Rome raised the rate to 21% last year. The VAT rate is due to rise to 23% in October. A new property tax on primary residences kicks in next week.
Prime Minister Monti says he wants to prevent the VAT hike, and he told the Italian Parliament on Wednesday that "growth is our main worry." That's nice to hear, but the question is whether Mr. Monti has any idea what to do about it.
Not raising VAT would be a good start, but it hardly qualifies as a growth platform. Italians continue to pay a top marginal income-tax rate of 43% that kicks in at €75,000 and rises to 46% for those making more than €300,000. That might help explain why tax evasion is endemic in Italy, and why an astonishing 27.4% of Italian GDP is off the books, according to a recent estimate by an Italian Central Bank official. Some of that is criminal activity, but mostly it's otherwise honest businesses trying to avoid the tax man. Yet Mr. Monti never speaks about lowering these rates.Then there's Italy's notorious Article 18, which imposes severe labor regulations on any company with more than 15 employees. We applauded Mr. Monti when he first sought to change the law. (He demurred at our praise.) Since then, however, he's only retreated in the face of parliamentary opposition.
Now his reform, which would still give workers the right to appeal their dismissals to a judge, may not even have the votes to pass. One leading Italian industrialist recently complained to us that once you factor in "social costs," as he put it, Italians are as expensive to employ as Germans. They are merely a lot less productive. That's Article 18 at work, and so much for reform.
The Prime Minister is hanging his hopes on the next EU summit at the end of the month. Yet Italy's problems will not be solved by any hoped-for Keynesian blowout, even if the Germans could afford—and would agree—to finance that. Rome has been spending more than it collects in taxes for decades, which is how it got its debt to 120% of GDP in the first place.
The solutions to Italy's problems, tax cuts and labor-market reforms above all, aren't any mystery. Whether there's a politician in Italy who can summon the support to implement them is another question.
Uma linda mulher
Contardo Calligaris, Folha de SP
Esse fato de crônica tem tudo para se tornar literatura de cordel. Há o sangue frio de Elize depois do crime. Há a diferença social entre Marcos, empresário e herdeiro da Yoki, que acaba de ser vendida por R$ 1,7 bilhão, e Elize, enfermeira e bacharel em direito, mas de origem bem humilde.
Além disso, o ciúme foi um dos motivos: na noite do crime, Marcos acabava de ser confrontado por Elize, que conseguira a prova da infidelidade do marido. Mais: o horror aconteceu depois de seis ou sete anos do que foi, ao que tudo indica, uma genuína paixão; a filha, de um ano, estava no apartamento, dormindo, durante o crime; foi Marcos que transmitiu a Elize o interesse pelo tiro e pelas armas (havia 30, todas registradas, no apartamento).
Mas, acima de tudo, o que transforma a história do casal em matéria de cordel é o fato de que Marcos encontrou Elize, em 2004, num site de garotas de programa.
A informação parece ser repetida pela imprensa como uma mensagem aos homens: olhe o risco que você corre, se você amar uma prostituta e casar com ela.
Ora, quero corrigir esse lembrete. Se você se apaixonar por uma prostituta (ex ou não, tanto faz) e quiser se casar com ela, recomendo apenas uma cautela, que não tem nada a ver com sua futura mulher e tudo a ver com você.
Claro, a culpa do crime de 19 de maio é só de Elize, mas o lembrete preventivo é para os homens, embora chegue tarde para Marcos.
Se você ama uma mulher que por acaso é prostituta, aí, tudo bem; mas, se você ama essa mulher POR ELA SER prostituta, atenção: nesse caso, seria sábio você se familiarizar com a fantasia que sustenta seu amor. Qual é, em geral, a fantasia em questão?
Todo mundo se lembra de "Uma Linda Mulher", filme adorável de Garry Marshall, em que o rico Edward (Richard Gere) se apaixona por Vivian (Julia Roberts), uma prostituta que ele "levantou" na rua. Será que a história de Marcos e Elize é "Uma Linda Mulher" sem o final feliz? De fato, sempre pensei que, depois dos sorrisos do fim do filme, Edward e Vivian acabariam mal -talvez não tão mal quanto Marcos e Elize, mas mal. Por quê?
Logo quando Edward decide trazer Vivian para o seu mundo, ele "acha graça" confessar a um amigo que aquela linda mulher que está com ele é uma prostituta de rua.
Prognóstico inelutável. Um dia, Edward não resistirá à fantasia que lhe fez escolher Vivian: ele a humilhará (e se humilhará), lembrando, eventualmente diante de amigos e parentes, que Vivian vem da sarjeta e que ele poderia jogá-la de volta para lá.
Na noite do dia 19, segundo a confissão de Elize, Marcos a ameaçou: "Vou te mandar de volta para o lixo de onde você veio". Ele também declarou que, se a mulher quisesse se separar, a filha ficaria com ele, pois será que um juiz daria a guarda da menina a uma prostituta? (Eu aposto que sim, mas sou otimista...).
Em regra, o desejo de um homem que se apaixona por prostitutas (e planeja "redimi-las") é sustentado por uma fantasia (inconsciente) de vingança -contra a mulher e contra ele mesmo, por ter se deixado seduzir. Explico.
A sexualidade de muitos homens é patologicamente neurótica: eles olham para o sexo pelo buraco da fechadura do quarto dos pais. Nessa ótica infantil, não se salva ninguém: é "puta" qualquer mulher que vai com os outros, ou seja, todas as mulheres são "putas", inclusive a mãe (surpreendentemente), porque ela vai com pai, padrasto e companhia -enquanto, para a gente, ela só tem carinho contido.
Para o homem de calça curta, ajoelhado diante da fechadura, a "puta" é um paradoxo: vergonhosamente acessível a todos, salvo a ele.
É nessa infantilidade que nascem a misoginia básica, o gosto da violência contra as prostitutas, a ideia de que todas as mulheres, se não são prostitutas, sonham com isso e uma preferência amorosa quase exclusiva por meretrizes.
Quando um desses homens ama uma prostituta e se casa com ela, seu ressentimento pode se calar em nome do amor, mas só por um tempo: ainda ele vai puni-la por ter sido e ser para sempre a "puta" que vai com os outros.
Entre o medo e a bajulação
Carlos Alberto Sardenberg, O GLOBO
Capitalismo de amigos não é novidade, portanto. Mas temos outro tipo hoje, o do medo. Dia desses, o executivo de uma grande empresa brasileira, embora enraivecido com confusões feitas pelo Ministério da Fazenda com alíquotas de impostos, explicava por que não pretendia reclamar, muito menos brigar: os caras vão ficar muitos anos por aí.
Os caras são os do PT, claro. É verdade que o governo federal tem caras de muitos partidos, mas não há dúvida sobre quem manda. Precisa de mais uma prova?
Aqui, em dados divulgados nesta semana pela Justiça Eleitoral: no ano passado, sem eleições, o PT arrecadou nada menos que R$ 50,7 milhões com doações de empresas. Isso é 21 vezes superior à arrecadação do PSDB, o principal partido da oposição e que ainda pode ter alguma competitividade em eleições presidenciais. E mais: o PSDB detém governos em estados tão economicamente poderosos como São Paulo e Minas.
Conclusão: o federal vale 20 vezes mais que o estadual.
Normal, dizem. Algo assim: queriam o quê? Que os empresários dessem dinheiro para a oposição, abertamente, registrado na Justiça Eleitoral?
Por que não? Nos EUA, por exemplo, Obama, quando candidato da oposição, em 2008, arrecadou mais que seu adversário governista. Neste momento da campanha americana, Obama, agora presidente, ainda arrecada mais, mas o republicano Romney chega bem perto.
E não é só por aí que acontecem coisas anormais no Brasil. O governo federal e suas estatais contratam serviços de empresas, compram produtos e ainda emprestam dinheiro a juros favorecidos, sem contar a função tradicional do Estado de arrecadar impostos, aqui travestida do poder de escolher quem vai pagar mais ou menos.
Ter boas conexões com Brasília pode ser mais eficiente para uma empresa do que buscar competitividade no mercado. Entre os principais doadores do PT, estão companhias amplamente beneficiadas por contratos, regimes tributários especiais e empréstimos do governo.
Por outro lado, uma canetada da Fazenda, mudando impostos, pode eliminar ganhos de produtividade obtidos com investimentos em tecnologia e métodos.
Ou seja, é conveniente ser amigo dos caras. Se não der, convém ao menos não ser visto como adversário.
Reparem: não se trata de uma negociata do tipo "ou passa lá no balcão do PT (ou do PMDB ou do PP) ou não leva nada". Ninguém pode dizer que acontece assim no BNDES, no Banco do Brasil, nas compras da Petrobras ou nos gabinetes da Fazenda, para citar apenas os locais de decisões governamentais mais importantes.
Também não se pode dizer que a forte participação da administração federal e suas estatais seja uma novidade. O que é diferente é a mão pesada e o ativismo dos governos do PT. Isso vem especialmente desde o segundo mandato e está em franca escalada.
O governo Dilma intervém em todos os setores. Muda constantemente alíquotas de impostos, para diminuir e aumentar, altera regras do comércio externo, age sobre a taxa de câmbio e empresta mais dinheiro a juros favorecidos a grupos favorecidos. É um modelo oficial: o Estado manda, escolhe e indica onde as empresas devem trabalhar. A presidente dá lições a todos.
Cria-se uma teia de interesses, mas não de todos. São claramente favorecidos alguns setores, considerados pelo governo como os mais importantes para o país.
Daí os vícios. Primeiro, as escolhas de Brasília podem estar erradas, e frequentemente estão, como prova a História do Brasil recente, dos anos 70, no governo Geisel.
Segundo, o modelo distorce o comportamento dos agentes econômicos, que ficam entre o temor e a bajulação ao governo. Repararam na propaganda dos grandes bancos privados depois que levaram a bronca da presidente Dilma? Agradar o governo, fazer favores a seus membros, torna-se comportamento quase de sobrevivência.
Terceiro, mais importante, o modelo gera corrupção. Reparem: se a maior doadora para o PT é uma companhia amplamente favorecida pelo governo (a JBS), ainda que seja tudo legal, por que o diretor do terceiro escalão de um ministério não pode pedir dinheiro para seus projetos políticos e negócios pessoais?
Não é verdade que sempre foi assim no Brasil e que é assim pelo mundo afora. Acontece em muitos países, certo, mas não podem ser o exemplo que queremos. Nas democracias, o governo é submetido a regras que limitam o poder do governante de plantão - e, inversamente, garantem a liberdade e a autonomia dos cidadãos, em qualquer atividade, além da igualdade de oportunidades.
quarta-feira, junho 13, 2012
How the Euro Will End
By GERALD P. O'DRISCOLL JR, WSJ
The euro is the world's first currency invented out of whole cloth. It is a currency without a country. The European Union is not a federal state, like the United States, but an agglomeration of sovereign states. European countries are plagued by rigidities, including those in labor markets—where language differences and the protection of trades and professions in many countries impede labor mobility. That makes it difficult for their economies to adjust to cyclical and structural economic shifts.
For such reasons, when the euro was created in 1999, Milton Friedman famously predicted its demise within a decade. He was wrong about the timing, but he may yet be proven right about the fact.
Greece is the epicenter of a currency and fiscal crisis in the euro zone. Markets fear a "Grexit," or Greek exit from the euro. That exit is almost a foregone conclusion. The endgame for the euro will be played out in Spain.
But first to Greece, which is devolving from a money-using economy. Firms, households and even the government are short on cash. The government isn't paying its suppliers and workers in a timely fashion, so households cannot pay their bills to businesses with whom they transact. Businesses, in turn, cannot pay their suppliers. There is a cascade of cash constraints.
Normally, credit supplements cash in economic transactions. But there is scant credit in Greece. Anyone who can is moving their money out of the country, either to banks in other euro-zone countries, such as Germany, or out of the euro to banks in Switzerland, the United Kingdom and U.S. (the franc, pound and dollar, respectively).
Absent a truly dramatic event, Greece will exit the euro not by choice but by necessity. It will do so not because the drachma (its old currency) is superior to the euro, but because the drachma is superior to barter. Greek standards of living, which have already fallen substantially, will fall further in the short- to medium-term. It will then be up to the Greek people to forge a new future.
While a Greek exit from the euro zone will have substantial repercussions, it won't unleash the doomsday scenario painted by some. A Spanish exit would be an entirely different matter. Unlike Greece, Spain is a major economy. According to the International Monetary Fund, at official exchange rates in 2011 the Spanish economy was more than five times the size of Greece's. And unlike Greece, Spain has numerous banks, some large and global.
The Greek tragedy began with a fiscal crisis—brought on by the government spending more money than it took in—that became a banking crisis. In Spain, there is a fiscal crisis that exacerbates a banking crisis.
Fiscal and banking crises are often linked because in modern economics the state and banking are joined together. Banks purchase government debt, supporting the state, and governments guarantee the liabilities of banks. When one party is weakened, so is the other.
Spanish banks are impaired not only because the Spanish government is running large fiscal deficits, but also because of bad loans to the private sector. Many Spanish banks lent heavily to property developers and to individuals who wanted to purchase homes built by the developers. Spain's construction sector is substantially larger relative to the rest of its economy than is the construction sector in other euro-zone countries or the U.S. And bank debt to finance that sector grew much faster than elsewhere.
Spanish banks have taken huge write downs on their loans, but not enough. Only the exact size of the future write downs is in doubt, not that they will be very large. The Spanish government has effectively nationalized one bank, Bankia—due to threatened insolvency—but will very likely be faced with more takeovers.
The Spanish government has finally admitted that it does not have the funds to recapitalize its banks. EU finance ministers have reportedly committed up to 100 billion euros ($125 billion) for that effort. Experience with banking crises in general suggests that early estimates of losses will prove to be too low. Political leaders start with denial and then offer only belated recognition of the size of banking problems. That was true in the U.S. savings and loan crisis of the 1980s and the 2007-08 bust in housing finance, the banking crisis in Ireland, so far in Spain.
How the Spanish banking situation is handled will determine the future of the euro and possibly of the larger European Union. Will German's taxpayers and those of other solvent countries be willing to fund an even larger bailout of Spanish banks to save impecunious Spaniards? Will the citizens of EU countries outside the euro zone, such as Sweden and the U.K., be asked to chip in? Or will Spain be allowed to descend into a catastrophic 1930s-style banking crisis and Great Depression?
Spanish banking problems are not the end, but only the beginning, of European banking problems. Banks in France, the U.K. and Germany also hold large amounts of the sovereign and private debt of Portugal, Italy, Ireland, Greece and Spain. The government of Cyprus has already made an "exceptionally urgent" request for funds to recapitalize its banks, and markets are now worried about Italy's debt, which limits Rome's ability to deal with banking problems.
The euro zone is in a crisis, in the correct sense of the word, a turning point from which it will either recover or enter a terminal phase. One important factor that may determine the outcome is the degree of leadership in Europe.
By and large, political leaders in Europe are a feckless lot. There are exceptions, particularly in some of the Nordic countries (e.g., Estonia), but the absence of leadership may be the decisive factor leading to the euro's demise. In Spain and elsewhere, leaders have been willing to apply temporary fixes to their banking problems rather than to recognize the true size of the problem. The banks, not fiscal deficits, will be the undoing of the euro.
In the end, I side with Milton Friedman. If Europe had made the political decision for a federal state, a single currency would have been a natural outcome. When 17 states decided to adopt the euro first without political union, they got it backward.
Mr. O'Driscoll is a senior fellow at the Cato Institute. He was formerly a vice president at the Federal Reserve Bank of Dallas and later a vice president at Citigroup.
The euro is the world's first currency invented out of whole cloth. It is a currency without a country. The European Union is not a federal state, like the United States, but an agglomeration of sovereign states. European countries are plagued by rigidities, including those in labor markets—where language differences and the protection of trades and professions in many countries impede labor mobility. That makes it difficult for their economies to adjust to cyclical and structural economic shifts.
For such reasons, when the euro was created in 1999, Milton Friedman famously predicted its demise within a decade. He was wrong about the timing, but he may yet be proven right about the fact.
Greece is the epicenter of a currency and fiscal crisis in the euro zone. Markets fear a "Grexit," or Greek exit from the euro. That exit is almost a foregone conclusion. The endgame for the euro will be played out in Spain.
But first to Greece, which is devolving from a money-using economy. Firms, households and even the government are short on cash. The government isn't paying its suppliers and workers in a timely fashion, so households cannot pay their bills to businesses with whom they transact. Businesses, in turn, cannot pay their suppliers. There is a cascade of cash constraints.
Normally, credit supplements cash in economic transactions. But there is scant credit in Greece. Anyone who can is moving their money out of the country, either to banks in other euro-zone countries, such as Germany, or out of the euro to banks in Switzerland, the United Kingdom and U.S. (the franc, pound and dollar, respectively).
Absent a truly dramatic event, Greece will exit the euro not by choice but by necessity. It will do so not because the drachma (its old currency) is superior to the euro, but because the drachma is superior to barter. Greek standards of living, which have already fallen substantially, will fall further in the short- to medium-term. It will then be up to the Greek people to forge a new future.
While a Greek exit from the euro zone will have substantial repercussions, it won't unleash the doomsday scenario painted by some. A Spanish exit would be an entirely different matter. Unlike Greece, Spain is a major economy. According to the International Monetary Fund, at official exchange rates in 2011 the Spanish economy was more than five times the size of Greece's. And unlike Greece, Spain has numerous banks, some large and global.
The Greek tragedy began with a fiscal crisis—brought on by the government spending more money than it took in—that became a banking crisis. In Spain, there is a fiscal crisis that exacerbates a banking crisis.
Fiscal and banking crises are often linked because in modern economics the state and banking are joined together. Banks purchase government debt, supporting the state, and governments guarantee the liabilities of banks. When one party is weakened, so is the other.
Spanish banks are impaired not only because the Spanish government is running large fiscal deficits, but also because of bad loans to the private sector. Many Spanish banks lent heavily to property developers and to individuals who wanted to purchase homes built by the developers. Spain's construction sector is substantially larger relative to the rest of its economy than is the construction sector in other euro-zone countries or the U.S. And bank debt to finance that sector grew much faster than elsewhere.
Spanish banks have taken huge write downs on their loans, but not enough. Only the exact size of the future write downs is in doubt, not that they will be very large. The Spanish government has effectively nationalized one bank, Bankia—due to threatened insolvency—but will very likely be faced with more takeovers.
The Spanish government has finally admitted that it does not have the funds to recapitalize its banks. EU finance ministers have reportedly committed up to 100 billion euros ($125 billion) for that effort. Experience with banking crises in general suggests that early estimates of losses will prove to be too low. Political leaders start with denial and then offer only belated recognition of the size of banking problems. That was true in the U.S. savings and loan crisis of the 1980s and the 2007-08 bust in housing finance, the banking crisis in Ireland, so far in Spain.
How the Spanish banking situation is handled will determine the future of the euro and possibly of the larger European Union. Will German's taxpayers and those of other solvent countries be willing to fund an even larger bailout of Spanish banks to save impecunious Spaniards? Will the citizens of EU countries outside the euro zone, such as Sweden and the U.K., be asked to chip in? Or will Spain be allowed to descend into a catastrophic 1930s-style banking crisis and Great Depression?
Spanish banking problems are not the end, but only the beginning, of European banking problems. Banks in France, the U.K. and Germany also hold large amounts of the sovereign and private debt of Portugal, Italy, Ireland, Greece and Spain. The government of Cyprus has already made an "exceptionally urgent" request for funds to recapitalize its banks, and markets are now worried about Italy's debt, which limits Rome's ability to deal with banking problems.
The euro zone is in a crisis, in the correct sense of the word, a turning point from which it will either recover or enter a terminal phase. One important factor that may determine the outcome is the degree of leadership in Europe.
By and large, political leaders in Europe are a feckless lot. There are exceptions, particularly in some of the Nordic countries (e.g., Estonia), but the absence of leadership may be the decisive factor leading to the euro's demise. In Spain and elsewhere, leaders have been willing to apply temporary fixes to their banking problems rather than to recognize the true size of the problem. The banks, not fiscal deficits, will be the undoing of the euro.
In the end, I side with Milton Friedman. If Europe had made the political decision for a federal state, a single currency would have been a natural outcome. When 17 states decided to adopt the euro first without political union, they got it backward.
Mr. O'Driscoll is a senior fellow at the Cato Institute. He was formerly a vice president at the Federal Reserve Bank of Dallas and later a vice president at Citigroup.
terça-feira, junho 12, 2012
Dirceu por Luiz Carlos Barreto
Rodrigo Constantino
Segundo o produtor cinematográfico, os jornais contam a trajetória de Dirceu sempre a partir de 2004, como se ele tivesse nascido com o mensalão. Não obstante o fato de que ser "chefe de quadrilha" do mensalão já é motivo suficiente para rasgar qualquer biografia por completo, resta perguntar: e qual foi esta trajetória?
Para o produtor do filme "Lula, o Filho do Brasil", ela foi uma luta linda, pois "Dirceu jogou sempre toda sua energia pela democracia". Só se for a "democracia" cubana, naquela ilha-presídio que tem a mais longa e cruel DITADURA do continente!
Quanta cara-de-pau deste senhor! Será que ele ficou gagá de vez? Que papelão! Quanto vale um artigo nojento desses?
Ao contrário do que afirma este sujeito indecente, a trajetória de Dirceu precisa ser relembrada sim, o tempo todo! Daniel, seu nome de guerra, foi treinado para ser terrorista revolucionário em Cuba, e sua luta sempre foi pela implantação de um regime totalitário no país.
Quando voltou ao Brasil, ficou clandestino, ocultando quem era inclusive da mulher e do filho, com outra identidade, mentindo, sem confiar na própria esposa. Eis a "disciplina" que Barreto elogia! A disciplina de um guerrilheiro obstinado com uma só coisa: o poder!
A que ponto chegamos? Luiz Carlos Barreto não vale NADA mesmo! E preciso daquele Engov rápido...
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