Rodrigo
Constantino, O GLOBO
“Nada é mais temido por um covarde do que a
liberdade do pensamento.” (Luiz Felipe Pondé)
Não sei quanto ao leitor, mas eu confesso estar cansado da
ditadura velada do politicamente correto. A impressão que fica é que um bando
de “almas sensíveis” tomou o poder e deseja impor aos outros seu estilo
acovardado de vida.
O reflexo disso é este estado-babá que vemos diariamente
avançar sobre nossas liberdades, com os aplausos de uma gente medrosa e
insegura.
Exemplos não faltam. A começar pelo ícone máximo desta
tirania: Anvisa. Seus burocratas cismaram que têm o direito de cuidar de cada
um de nós como se fôssemos mentecaptos indefesos. Os “iluminados” agentes da Anvisa vão impor dieta saudável,
eliminar as substâncias perigosas, controlar a exposição ao sol, enfim, serão
como nossos pais, e nós seremos as crianças incapazes de decidir por conta
própria como viver.
Mas seria injusto culpar apenas a Anvisa por tais evidentes
excessos. Não. Estas medidas, cada vez mais autoritárias, recebem aprovação de
muitos pais, gente que parece adorar a servidão voluntária, talvez com muito
medo do que faria em liberdade.
O que se passa aqui? Será que estes adultos se sentem tão
assombrados com a vida que precisam delegar ao governo o controle sobre tudo?
Será que perderam a capacidade de assumir riscos e as rédeas de suas vidas? Por
que fogem da responsabilidade (habilidade de resposta) como o diabo foge da
cruz?
Um caso recente ilustra bem isso. Alguns pais buscaram o
governo para proibir uma promoção do McLanche Feliz. Motivo: eles se sentiam
“obrigados” a comprar aquela comida gordurosa porque seus filhos desejavam o
brinquedo anexo. Como assim, obrigados? Será que estes pais nunca ouviram falar
da palavra “não”? Será que não conseguem mais impor limites aos filhos? Que
monstrinhos estes pais estão criando para o mundo?
Os sintomas desta doença moderna da covardia generalizada
podem ser vistos em vários outros casos. Agora tudo é culpa do “bullying”, por
exemplo. Se o psicopata entra na escola atirando a esmo, claro que a causa está
no apelido que lhe deram na infância!
Tanta paranoia vai acabar eliminando um processo natural e
até necessário de preparação para a vida, muitas vezes hostil e dura. Apelidos
“ofensivos”, segregação voluntária (daquele chato que ninguém suporta), piadas
engraçadas, nada disso pode mais. Resultado: um mundo de manés acostumados a gritar pelo
“papai” estado no primeiro sinal de problema que surgir. Os pais vão ficar
orgulhosos. Identificam-se bastante com esta postura.
Como Karl Kraus disse: “A força mais enérgica não chega
perto da energia com que alguns defendem suas fraquezas”.
Outro caso claro está no uso abusivo de eufemismos. Favelas
viram “comunidades”, pivetes viram “meninos de rua”, negros e mulatos são
“afrodescendentes”, deficientes viram “pessoas especiais” e por aí vai. Vejo o
dia em que todo anão será chamado de “verticalmente reduzido”.
Os mais jovens ficariam espantados ao ler artigos de
polemistas como Paulo Francis ou Nelson Rodrigues. Como assim chamar as coisas
pelos seus nomes? Isso era permitido naquela época? E olha que não faz tanto
tempo assim, para dar o tom assustador do andar da carruagem...
Por falar nesses dois, que falta fazem! Colocavam os pingos
nos is, sem ter que agradar a esta maioria facilmente ofendida. Lula, por
exemplo, era chamado por Francis de semianalfabeto (o menor de seus defeitos).
“Preconceito!” A patrulha atua em coro organizado, mas não refuta o fato em si.
Não seria pós-conceito? As palavras perderam o sentido.
De mãos dadas aos politicamente corretos estão os
eco-chatos, essa turma com “consciência ecológica” que vai salvar o planeta
pedalando sua bike e fechando o chuveiro durante o banho. Mas ninguém pressiona
o governo para resolver as graves falhas de saneamento básico que matam vários
pobres todo ano. Haja hipocrisia!
Muitos são apenas “melancias”: verdes por fora, mas
vermelhos por dentro. No fundo, eles querem é atacar o capitalismo, desta vez
por seu sucesso, ou seja, por criar riqueza demais.
Por falar em socialistas, a demanda por igualdade de
resultados entre humanos diferentes talvez seja o maior indício de covardia que
existe. Ignorar que uns são melhores que outros é a marca registrada dos
covardes, que anseiam, como formigas, pela igualdade plena para fugir da
própria mediocridade.
O historiador Paul Johnson, em “Os Heróis”, destaca a
coragem dos independentes como a mais nobre qualidade individual. Como esta
coragem está em falta no mundo moderno!
14 comentários:
O texto dele foi totalmente baseado no que você falou. Cobre direitos autorais aí... Concordo com tudo. Só em relacão ao bullying que acho que deve haver uma NORMA escolar de boa convivência e respeito. Uma crianca não precisa ser pertubada por outras e achar que isso é "um processo natural e até necessário de preparação para a vida" é muito bonito quando não é o nosso próprio filho a vítima.
Não conhecia o seu Blog (infelizmente).. Mais me peguei agora admirada e surpresa com as verdades ditas!!!
Espero que mais e mais pessoas leiam e passem para outros lerem (como eu farei)!!
A sociedade e os pais precisam de um choque de realidade e não só de um estimulo!
Rodrigo, como sempre, não te falta coragem – nem inteligência. Mas, dessa vez, talvez um pouquinho de tato, inclusive para, em vez de assustar, convencer pessoas ainda em dúvida entre a babaquice politicamente correta e a vida como ela é. Por exemplo, nem todo menino de rua é pivete (no sentido de trombadinha, assaltante).
Quanto à desigualdade, é insuficiente a explicação pelo fato de alguns serem melhores do que outros. O próprio lula, já que o citou, é mais rico do que você. É melhor por causa disso? Não creio, nem creio que você ache.
Trata-se de um tema que deve ser melhor explicado, pelof ato de que as desigualdades vêm não de roubos ou de injustiças, mas do próprio progresso material, que obviamente nunca vai "para todos" de uma vez.
Um bom exemplo é do Thomas Sowell, sobre que, no início do século 20, menos de 15% dos lares americanos tinham saneamento; no final do mesmo séculos, mais da metade tinha computadores. É claro que esse porgresso não chegou a todos ao mesmo tempo – e muitos não chegam. Enfim, acho que seria necessário explicar como a demonizada "desigualdade", no capitalismo, é parte de processos de melhoria para todos e que os graus diferentes dessas melhorias não os invalidam. Pelo contrário, buscar o "higher ground" (para lembrar outro negão foda, Stevie Wonder) é o motor das melhorias.
Sds
Adorei o artigo publicado. Precisamos acabar de uma vez por todas com esses modismos e invencionices e encarar as questões sem mascaramento ou receio de desagradar.
Parabéns, Rodrigo.
Um abraço,
Ronald Sharp Jr
Só lembrando ao Sérgio Oliveira lá de cima que o texto é do Rodrigo! Alguns trechos são do vídeo, aliás excelente!
Sem extremismos, o podamento mental vem ocorrendo sim. É uma forma de domínio para acabar com a individualidade. Tudo tem de ser coletivo. Isso é apenas o início de um trabalho, com vistas ao futuro. Estarrecedor, mas verdadeiro. Não acredito em um caminho de volta, infelizmente. Os poucos, uma minoria que raciocina, serão alvo de perseguição, pelo menos, de intimidação. Um detalhe: não é teoria da conspiração não! É fato.
O que seria do Chacrinha se os politicamente corretos existissem à época do tão idolatrado "velho guerreiro".
Músicas do tipo: Maria sapatão, Sapatão....de dia é Maria à noite é João. ou Olha a cabeleira do Zezë, será que ele é....
Bem, hoje em dia o "Grande comunicador"estária com alguns processo nas costas impretado por algum MP do Brasil.
Adorei seu artigo no Globo de hoje. Me senti feliz por encontrar alguém que pensa como eu. Puxa! Afinal não estou sozinha! Que bom!
Minha resposta tá aqui. Já que fiquei brava com você, acho que devo satisfações.
http://www.facebook.com/juliana.mynssen
Rodrigo, é aquela velha história de sempre... todas as pessoas são, em essência, diferentes umas das outras.
Assim, pregar a igualdade entre pessoas com visões, estilos e potencialidades distintas é a mesma coisa que tratar a todos de forma diferente.
Você tocou em um ponto que eu sempre uso como argumento: eufemização. É um dos nossos males mais nocivos, não se pode mais usar as palavras exatas pois elas podem "ter sentido pejorativo".
Aí nasce o "contribuinte" que é obrigado a pagar imposto, enquanto o resto do planeta chama os "tax payers" de "pagadores de impostos".
As palavras perderam o sentido. A mídia repete termos equivocados sem pensar em seu significado. As pessoas repetem como papagaios o que leram, ou escutaram.
O brasileiro-bobo orgulha-se da palavra "saudade", enquanto os "anglófonos" mudam o mundo com sua cultura e ciência de "poucas palavras" "monossilábicas", que raramente eufemiza algo.
Aliás, isso me lembra outro de nossos males: a subversão de valores. O eufemismo surgiu para evitar blasfêmias, ou linguagem obscena em situações impróprias. Um dos eufemismos mais sensatos do mundo é "passed away". Chega a ser bonito.
Mas nós não. Nós subvertemos o eufemismo como subvertemos todos os valores da humanidade. Se deus fosse mesmo brasileiro, ele seria o demônio.
Francamente, não vejo diferença alguma entre o politicamente correto e a tentativa compulsiva que se vê no texto de ser politicamente incorreto. Só para testar esse suposto liberalismo: se a Anvisa não pode intervir em relação aos alimentos porque a sociedade é capaz de fazer a distinção e a escolha, isso também se aplica à fármacos, e - principalmente - a drogas psicotrópicas bem conhecidas e ainda proibidas por lei? Como sei que muitos "liberais" demonstram uma imensa incoerência entre as duas situações, tenho sempre a tendência de acreditar que por trás dessa suposta escolha ideológica (e ideologia aqui não tem sentido negativo) esconde-se, na verdade, escolhas mercadológicas e interesses inconfessáveis. Em uma palavra, lobby (que não tem nada de errado, desde que confessado), seja político, seja de empresas específicas. Duvido que isso venha a ser publicado, mas vale para a reflexão.
Helton, vc conseguiu errar em tudo!
O seu comentário foi publicado sim, e é bom para mostrar a mentalidade esquerdista.
Sobre lobby, fale de si mesmo. Será que vc escreve aqui pago por algum interesse?
Pois eu não recebo um tostão de empresas, tampouco defendo minhas ideias com base apenas em interesses.
E sim, acho que devemos ter a liberdade de consumir drogas também.
Se vc aplaude o controle minucioso da Anvisa sobre sua vida, o problema é seu. O problema passa a ser meu quando vc quer que a Anvisa tenha tanto poder sobre a minha vida também.
Se vc não suporta a liberdade, paciência. Mas que tal deixar os demais em paz?
Rodrigo,
Primeiro devo pedir desculpas por minha última frase. Respaldado no comportamento de vários blogs de tendência mais à direita, que aceitam somente comentários que concordem com as opiniões do dono, supus desastrada e equivocadamente que em seu blog aconteceria a mesma coisa.
Dito isso, é importante ressaltar que não o acusei de lobby. Referi-me a liberais que sobre assuntos parecidos tem opiniões inteiramente diversas, sem uma justificativa razoável.
Não me parece o seu caso, que já esclareceu que condena tanto a ingerência da Anvisa, quanto da legislação com relação à drogas.
Mas ainda com relação a Anvisa, ou eu perdi alguma coisa, ou a agência não pretende proibir o consumo de batatinhas, de compotas ou de feijoadas. Pretende apenas restringir o apelo a esses alimentos, o que já é feito com cigarros e, de alguma forma, com bebidas.
Como consumidor essa medida não o atinge nem um pouco, e só o fará, caso fabrique esses produtos, ou faça propaganda deles.
Nesse caso, penso eu – que sou um libertário com relação a comportamento – que o interesse público deva sobrepor ao dos fabricantes ou anunciantes. Se o produto tiver apelo continuará vendendo.
Cara... perfeito!
É ótimo ver que nesse mar de gente hipócrita, ainda existem cidadãos com coragem pra dizer o que pensam. Eu concordo com 100% do que foi dito nesse e no outro texto sobre o antitabagismo. Tenho 18 anos e frequentei o ensino médio nos ultimos 4, podendo afirmar que estou farto dessa geração de adolescentes "politicamente corretos" que preferem cuidar da vida do próximo do ao invés de perceberem como são "comandados" pela sociedade. Continue assim, gostei muito do blog.
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