Rodrigo Constantino, O Globo
(08/12/09)
Nenhum governo gosta da liberdade de imprensa. Afinal, a imprensa investiga fatos, sendo importante fator de contenção do avanço do poder estatal sobre nossas liberdades. Governos com viés autoritário toleram ainda menos esta liberdade de investigar e criticar. Não por acaso, todas as ditaduras tentam controlar a imprensa, vista como inimigo prioritário em seus projetos de poder absoluto.
Na América Latina, a liberdade de imprensa está cada vez mais ameaçada. Cuba representa a situação extrema, onde a distopia “1984”, de George Orwell, tornou-se realidade. Somente o governo divulga as “notícias”, enquanto a blogueira Yoani Sanchez sofre um ataque brutal apenas por tentar relatar o cotidiano da ilha. A Venezuela de Chávez caminha a passos largos nessa direção. Na Argentina, o casal K vem desferindo duros golpes aos principais veículos de imprensa. E no Brasil, desde a tentativa fracassada de controle através do Conselho Nacional de Jornalismo, o governo não desistiu do sonho de amordaçar a imprensa.
Eis o contexto da Conferência Nacional de Comunicações (Confecom), que será realizada no próximo dia 14 em Brasília. Sob o manto da “democratização” da imprensa, o governo pretende estender seus tentáculos por todo o setor, asfixiando sua liberdade. A resolução estratégica lançada pelo PT para o evento pode ser resumida em uma única palavra: censura. Aquilo que o partido chama de “controle social” nada mais é do que os antigos conselhos comunistas. A palavra final fica com o governo, o novo censor disfarçado de “fiscal” da transparência. Eufemismos, no entanto, não podem ocultar a natureza da coisa.
Existem diversas formas de o governo tentar manipular a imprensa. A mais óbvia é através de suas polpudas verbas de propaganda, incluindo as estatais. Num país com enorme presença do governo na economia, este fator merece destaque. O cão não morde a mão que o alimenta. Além disso, o governo decide sobre as concessões, mantendo as empresas como reféns. Essa tem sido a arma preferida do caudilho Chávez. Por fim, num país com excesso de leis e burocracia, onde o custo da legalidade plena é praticamente proibitivo, o governo sempre pode ameaçar as empresas com o achaque dos fiscais. Cristina Kirchner usou essa tática contra o “Clárin”.
O arsenal de munições do governo é vasto. Até mesmo uma herança da ditadura Vargas sobrevive, a “Hora do Brasil”, que invade as rádios do país todo na hora do “rush”. Um canal “chapa-branca” de televisão também foi criado, mas felizmente o público o ignora por completo. O custo acaba sendo “apenas” os impostos cobrados para sustentar a máquina de proselitismo. Agora o governo tenta uma vez mais controlar a imprensa.
Em “Areopagítica”, publicada em 1644, John Milton defendia que cada um pudesse julgar por conta própria o que é bom ou ruim: “Todo homem maduro pode e deve exercer seu próprio critério”. Para ele, a censura “obstrui e retarda a importação da nossa mais rica mercadoria, a verdade”. Thomas Jefferson, influenciado por tais idéias, afirmou que escolheria uma imprensa sem governo no lugar de um governo sem imprensa, se tivesse que decidir. Por outro lado, Trotsky e Lênin consideravam a imprensa uma arma perigosa, e desejavam proibir a circulação de jornais “burgueses”. A História mostrou os riscos dessa mentalidade.
Nós não precisamos do filtro do governo na imprensa. O que precisamos é de mais liberdade ainda. Se alguns grupos concentram muito poder por conta de seu tamanho, então a solução é mais competição, não mais governo.
18 comentários:
"LIBERTY IS ALWAYS FREEDOM FROM THE GOVERNMENT." (LUDWIG VON MISES)
Eis a frase que deveria circular por todos os canais de TV, por todos os jornais, por todos os meios. Ela resume TUDO.
Abraço!
A "hora do Brasil" (como você chama, Rodrigo) não tem audiência sequer para ser mencionada. E o controle da imprensa, pelo poder econômico (pela capacidade do patrocinador influir no editorial) não é prãtica nova nem somente brasileira. Imprensa livre de quê e de quem? Veja a cobertura dada pela imprensa ao caso do DEMsalão. É insignificante e não é governista, é financista.
Engano dizer que no quesito qualidade, a mídia é a única vilã. Ela, ao contrário do que gostamos de imaginar, não é um organismo vivo, com vontades próprias. Mas se guia por vc, leitor/ ouvinte/telespectador, pelo que deseja. Ao se interessar por alguém/algum tema, comprar o que se escreve sobre ele, conversar no ônibus a respeito, o consumidor/fã/assinante tem culpa no processo. Está todo o tempo dizendo à mídia que aquilo lhe interessa. Apenas mercado.
Não há imprensa isenta e imparcial. É impossível ser isento e imparcial. A imprensa é uma empresa e todos têm de sustentar seus filhos.
O prório leitor não é isento ou imparcial.
Você precisa refletir sobre o seu liberalismo e confessar que prefere uma ditadura à outra, Rodrigo. Eu, não quero nenhuma, nem do PT nem do PFL?DEM.
"Qualquer ditadura merece ser criticada. Mas criticar nossa ditadura não é o mesmo que inocentar os comunistas, que brigavam por outra ditadura muito pior". (O Contexto de 1964, Rodrigo Constantino, em 01/03/2009).
Quem falou em defender ditaduras aqui, Everardo? Mentir é coisa muito feia! Ainda mais inventando coisas sobre o proprietário do blog. Não tem vergonha na cara não? Ops! Claro que não! Defende abertamente o Lula aqui...
DEM? Leia meu artigo "O Mensalão do DEM", rapaz. Evite tanto constrangimento...
Entediado no escritório do sindicato pelego enjoou de jogar paciência no computador agora veio azucrinar inventando essas tolices. Pelo jeito, ele gostaria de trocar todos os patrocinadores privados dos meios de comunicação, ”cobertura financista”, por um só “governista”.
Vejam um trecho da convocação:
O que a Conferência de Comunicação tem a ver com você? Quando assistimos televisão ou ouvimos o rádio não sabemos que qualquer canal só pode veicular determinado conteúdo porque tem uma concessão pública. Mas o que significa ser uma concessão pública? Significa que os canais de televisão e rádio pertencem ao povo brasileiro e que para que uma empresa queira explorá-lo comercialmente precisa de autorização do estado, que é quem toma conta dos bens coletivos do povo.
Esta Confecom é mais uma tentativa da esquerda de usar os mecanismos de controle já estabelecidos para seus propósitos. Porque não liberar de vez os de meios de comunicação? Porque não acabar com exigências e terminar com o suposto 'monopólio da mídia'? Obviamente porque eles querem controlá-los, e querem fazer com que meios privados que são lucrativos paguem por uma 'rede parasita' de comunicação, propagando ideais que lhes são caros. Sem falar nas propostas ridículas de controle de conteúdo em publicidades. Eles não desistem.
Tudo isto também é feito com o propósito de intimidar a mídia. É uma mensagem. Se comportem, ou jogamos a nossa barulhenta base de sustentação política contra vocês.
São meia-dúzia de gatos pingados na folha de pagamento de organizações de esquerda. Com siglas absurdas e representatividade mínima. Mas se declaram representantes 'da sociedade'.
Do artigo de Ruport Murdoch hoje no WSJ:
"In my view, the growing drumbeat for government assistance for newspapers is as alarming as overregulation. One idea gaining in popularity is providing taxpayer funds for journalists. Or giving newspapers "nonprofit" status—in exchange, of course, for papers giving up their right to endorse political candidates. The most damning problem with government "help" is what we saw with the bailout of the U.S. auto industry: Help props up those who are producing things that customers do not want.
The prospect of the U.S. government becoming directly involved in commercial journalism ought to be chilling for anyone who cares about freedom of speech. The Founding Fathers knew that the key to independence was to allow enterprises to prosper and serve as a counterweight to government power. It is precisely because newspapers make profits and do not depend on the government for their livelihood that they have the resources and wherewithal to hold the government accountable."
Tudo: http://online.wsj.com/article/SB10001424052748704107104574570191223415268.html
Seus injustos!, os críticos da imprensa só litigam por um modelo independente oras, como a Carta Capital.
Acusações levianas, põem em dúvida a isenção da publicação. O argumento da prevalência de anunciantes estatais, que a deixaria de rabo preso com governo, é absurdo: só pq são 58% contra 3% na concorrente fascista-elitista-golpista-branca, já ficam inventando história e tirando conclusões descabidas! A revista tomou uma providência que solapou de vez tais denúncias, dando 50% de desconto para filiados ao PT. Um tapa definitivo nos caluniadores.
....nã, não. É essa turma quer dar lição de jornalismo. Conseguem imaginar a Veja fazendo promoção especial para assinantes tucanos? A esquerda e seus cupinchas são uma piada pronta. Isso que é independência!!!
A Veja SEGUNDO OS PETISTAS é uma grande defensora da democracia quando o roubo é dos tucanos.Agora quando o roubo é dos petistas...
Liberdade e democracia abrem oportunidades para justos e injustos obterem algum sucesso, mas a falta de uma ou outra impede apenas o sucesso dos justos e é a certeza do predomínio dos injustos.
Parabéns pelo artigo, Constatino!
A imprensa precisa se lida/vista/ouvida com critério. Quando vc descobre a quem, ou a qual facção um órgão atende, então podes começar a consumir este, porque já sabe interpretar as mentiras. Toda revista, por extensão, é um espaço comercial onde qq canto está sendo vendido. O objetivo é lucro. E o editor tem este direito.
Nós é que não temos o direito de acreditar cegamente em veículos de comunicação. Precisamos, é nossa obrigação, entrever a quem o veículo está servindo e assim ponderar.
A ilusão de imprensa isenta e imparcial é ainda um resto de argumentação contra o autoritarismo. No autoritarismo toda a imprensa se curva ao autoritário. E surge aquele órgão de comunicação que se diz isento. Mas nem mesmo este é isento. Ele é contra o autoritarismo, o que nega a isenção. E esta postura só vai até o momento em que surge uma possibilidade "acordo".
Rodrigo, desde quando mentir constrange seguidores de seitas?
Parabéns pelo artigo, obrigado pela defesa e me parece que o "Le Pen brasileiro" tentou responder ao Dia da Consciência Individual. Não gostou muito da consciência alheia...
O despeito pela crítica livre se manifesta na criação duma alcunha rancorosa, “PIG”, que é como eles xingam todo aparelho que não bajula o governo . Lembro ainda que Lulla tentou tirar o passaporte daquele correspondente do The New York Times que escreveu que ele bebe demais.
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