Rodrigo Constantino, Jornal O Globo
Uma falácia lógica muito comum é assumir que dois eventos que ocorrem em seqüência cronológica estão necessariamente interligados através de uma relação de causa e efeito. O galo canta antes do nascer do sol, mas este não nasce porque o galo canta. Infelizmente, a arte de manipular dados vem ganhando cada vez mais terreno, com efeitos nefastos para a sociedade. A estatística não pode ser a “refinada técnica de torturar os números até que eles confessem”.
Tomemos como exemplo a taxa de crescimento econômico nacional. Muitos, numa análise simplista, chegam à conclusão de que o governo Lula causou o crescimento acelerado dos últimos anos, sem levar em conta as inúmeras e complexas variáveis que influenciam tal crescimento, como, por exemplo, o contexto mundial. Crescer 4% ao ano enquanto os demais países emergentes crescem 6% ou mais não é um desempenho tão louvável assim. Se o preço das commodities que exportamos subiu, se houve uma abundância de capital no mundo, se a taxa de juros permaneceu artificialmente reduzida nos países desenvolvidos, nada disso faz parte desse julgamento superficial. Basta verificar o crescimento econômico e atribuí-lo à gestão atual, como se o mérito fosse do governo.
Não é assim que se faz uma análise séria. E quando colocamos uma lupa nos dados, com o auxílio de uma sólida teoria econômica, o que emerge pode ser oposto à intuição inicial. O governo Lula contou com muita sorte durante seu mandato, onde fatores externos, como o crescimento chinês, favoreceram bastante o país. Seu maior mérito foi não ter feito aventuras na macroeconomia. Já as reformas estruturais que poderiam ter colocado o Brasil na rota do crescimento sustentável foram todas deixadas de lado. Aquilo que o governo chama de medidas “anticíclicas” contra a crise não passa de estímulos insustentáveis à demanda agregada. Inchar os gastos públicos de forma permanente e expandir o crédito através dos bancos estatais não é receita de crescimento sustentável. Faltam investimentos produtivos e reformas estruturais, e os gargalos de sempre poderão limitar o crescimento a mais um vôo de galinha. O longo prazo foi sacrificado em prol do foco imediatista eleitoreiro.
O economista francês do século XIX, Frédéric Bastiat, chamou a atenção para aquilo que se vê, e aquilo que não se vê. Um bom economista deveria ser capaz de enxergar um horizonte distante, evitando as armadilhas da miopia. Somente assim ele poderia compreender o custo de oportunidade das medidas econômicas. Se o governo anuncia um programa de gastos através da impressão de moeda, ele deve alertar para a inflação à frente. Se o governo aumenta os repasses para famílias mais pobres, ele deve considerar o aumento dos impostos, que retira da iniciativa privada recursos que poderiam estar gerando novos empregos. Se o governo aumenta o salário mínimo, ele deve projetar seu impacto negativo no nível de emprego formal. Enfim, analisar as medidas do governo somente com base em seus efeitos imediatos é um perigoso equívoco.
A pergunta que todos deveriam fazer é: qual a alternativa? Se o governo não retirasse do setor privado determinado recurso, como este seria aplicado? Se o governo tivesse feito as reformas estruturais, qual teria sido o crescimento no período? Não basta comparar taxas de crescimento entre governos. Correlação não é causalidade. O sol não brilhou mais forte no Brasil porque o galo cantou mais alto; o galo é que está cantando mais alto porque o sol começou a brilhar mais.
8 comentários:
O sucesso de qualquer política econômica ou social no Brasil não teria relação de causa/efeito com o Presidente Lula? Podemos demonstrar que todos (os poucos) resultados setoriais negativos do Brasil foram diretamente imputados a Lula. Assim você afeta a sua credibilidade, Rodrigo!!
Everardo, vc é livre para mostrar com dados e argumentos quais programas foram positivos, e porque. Eu sou livre para refutar seus argumentos com contra-argumentos.
Minha credibilidade não está em jogo; a do embusteiro na presidência da República sim, e essa já foi para o lixo faz muito tempo! O safado afirma que tudo de bom foi mérito dele, e ainda tem otário que acredita...
Constantino, vc havia tirado uma dúvida minha afimando q "A Escola Austríaca é dividida sobre a alavancagem. Alguns acham que deveria ser 100% de reserva, pois reserva fracionária nos bancos é fraude. Outros acham que a moeda deveria ser totalmente privada, e deixa o mercado ajustar."
Algumas dúvidas permaneceram... O que não entendo é como alguém pode pensar um mundo em desenvolvimento sem alavancagem. Imagina se isso fosse implantado no Brasil hj, onde estaria o dinheiro para ser aplicado, pelos empresários, na infraestrutura d país? Alguns chegam a utilizar o argumento da propriedade privada para dizer q os bancos deveriam manter 100% de reserva a final seria dinheiro das pessoas... Manter dinheiro nos bancos é uma opção, as pessoas deveriam saber quão alavancados estão os bancos e colocar dinheiro no q julgam menos arriscados ou mais rentável. Depósitos compulsórios de 100%, onde está a liberdade da Escola Austríaca?
Quanto a corrente que defende moeda privada eu pergunto. Seria uma moeda lastreada com o dinheiro corrente d Economia (como o caso d ticket refeição e vale-transporte) ou seria uma moeda independente? No primeiro existe o problema d liquidez (sempre sofro isso qdo sobra vale no final daquilo q seria meu salário) no segundo caso além d liquidez haveria um problema d conversão da moeda isso teria um custo, a final se o mercado fosse realmente livre qtas moedas iriam existir? 100? 1000?
Gosto da Escola Austríaca por princípios (principalmente a liberdade do indivíduo) e concordo c ela em mtos pontos mas não encontro no caso da alavancagem algo q me convença na aplicação prática, além disso os autores acabam caindo numa idéia meio minkyana q a culpa da crise é da liberdade dada aos especuladores. Lógico q argumentam q a culpa tbm é do Governo que fornece sinais e garantias q distorcem o mercado, e nisso eu concordo.
Como tenho interesse no assunto gostaria, se fosse possível, me indicar algum livro sobre o papel d alavancagem financeira (para o bem ou para o mal) dentro do desenvolvimento econômico.
Elelê, e essa chuvinha quente... por que o verão na minha praia está sendo o mais ameno dos últimos anos?
Bom, quanto ao artigo, muito bom. Até a Bolívia está crescendo. Havia um ciclo econômico ditado pelos EUA. Não há nenhuma evolução tecnológica, nem cultural, nem educacional. Há um "entupa-se, pobre" causando congestionamentos e botando no limite o pico de demanda de energia elétrica.
É só isso. Se o presidente fosse o Itamar, o Dutra ou D. Pedro, estaria deste mesmo jeito. Mas fico feliz em ver que a esquerda de antigamente aceita alegremente a solução capitalista para o que pretende ser progresso.
Agora só falta acabar com este negócio de guerrilha e comunismo e "las ternuras". Enterrem estas velharias e vão tomar um cafezinho numa corretora de valores.
fejuncor, mercado interno e distribuição de renda não é bem a praia do sistema que você defende. Ao contrário. O Brasil está se firmando a partir das suas próprias alternativas e não com as cartas de intenção do FMI. Só não vê quem não quer. E as guerrilhas estão fazendo falta, sim, aos reacionários, pois eram pretextos para as intervenções as mais absurdas e violações do Estado democrático e dos direitos humanos.. Muitas delas eram literalmente produzidas ou manipuladas.
O PT antecipou uma parcela do pagamento ao FMI — e não precisava fazê-lo — quando o câmbio estava em depreciação. Tivesse pagado sua dívida no prazo certo, teria desembolsado bem menos reais em razão da queda do dólar. Quem foi o “neoliberal” que obrigou o Brasil a fazer essa besteira?
A diferença média do crescimento do PIB no Brasil em relação ao mundo no governos FHC é menor que no governo do Lula Semi-Deus... E é lógico o Brasil durante esses 16 anos vem sempre crescendo menos que o mundo...
Não gostei do governo FHC, mas dizer que tudo de bom no Brasil é por conta do Lula Avatar é foda!
Nego é míope porque quer!!
Gabriel, compreendo que há fenômenos e transformações que podem ocorrer em um país que são mais importantes que o crescimento do PIB. Se vendessemos um parte da madeira da amazônia o nosso PIB certamente iria crescer mais que o da China...
Comparações entre os governos Lula e FHC irritam a ambos.
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