Rodrigo Constantino, O GLOBO
O governo Dilma completa seu primeiro ano. O que pode ser dito sobre sua gestão até aqui? De forma resumida, o governo não parece à altura dos desafios que o país enfrenta. A sensação que fica é que a presidente deseja empurrar os problemas com a barriga, na expectativa de que cheguemos logo em 2014.
Durante as eleições, foi vendida a imagem de que Dilma era uma eficiente gestora que atuava nos bastidores. Deve ser uma atuação muito discreta mesmo, pois os resultados custam a aparecer. O que vimos foi uma série de atrasos em importantes obras públicas, além do corte nos investimentos como meio para atingir as metas fiscais, já que o governo foi incapaz de reduzir os gastos correntes. A privatização dos caóticos aeroportos nem saiu ainda!
A economia perdeu força e chega ao fim do ano com crescimento pífio. O Ibovespa cai quase 20%. A inflação deve romper o topo da já elevada meta, com o setor de serviços subindo mais de 9%. Trata-se do resultado dos estímulos estatais do modelo “desenvolvimentista”, que olha apenas o curto prazo. O BNDES, com seu “orçamento paralelo”, tenta compensar a ausência das reformas que dariam maior dinamismo à economia.
O país vive em um verdadeiro manicômio tributário, não apenas pela magnitude dos impostos, como por sua enorme complexidade. O que o governo fez? Tentou resgatar a CPMF. A receita tributária sobe sem parar, fruto da gula insaciável do governo. Para piorar, há sinais de incrível retrocesso protecionista, como na elevação do IPI para carros importados.
Nossas leis trabalhistas são ultrapassadas, distribuindo privilégios demais aos que possuem carteira assinada à custa daqueles na informalidade. As máfias sindicais vivem do indecente “imposto sindical”. O que fez o governo para reverter este quadro?
A demografia brasileira ainda permite algum tempo para reformar o sistema previdenciário antes de uma catástrofe nos moldes da Europa, lembrando que lá os países ao menos ficaram ricos antes de envelhecerem. Mas o Brasil, mesmo com população jovem, apresenta um rombo previdenciário insustentável. Onde está a reforma?
A educação pública no Brasil continua de péssima qualidade, e a presidente resolveu manter Fernando Haddad no ministério mesmo depois de seguidos tropeços. O MEC está cada vez mais ideologizado. Nada de concreto foi feito para enfrentar o corporativismo no setor e impor maior meritocracia.
Alguns podem argumentar que existe “vontade política”, mas a necessidade de preservar a “governabilidade” não permite grandes mudanças. Ora, foi o próprio PT quem buscou este modelo de poder! O presidente Lula teve oito anos para lutar por uma reforma política, mas o “mensalão” pareceu um atalho mais atraente. O governo ficou refém de uma colcha de retalhos sem nenhuma afinidade programática. Tudo se resume à partilha do butim da coisa pública.
O resultado está aí: “nunca antes na história deste país” tivemos tantos escândalos de corrupção em apenas um ano de governo. Seis ministros já caíram por conta disso, e outro está na corda bamba. E aqui surge o grande paradoxo: a popularidade da presidente segue em patamar elevado. A classe média parece ter acreditado na imagem de “faxineira” intolerante com os “malfeitos”. Se a gestora eficiente não convence mais em uma economia em franca desaceleração, então ao menos se tem a bandeira ética como refúgio.
Mas esta não resiste a um minuto de reflexão. Todos os escândalos foram apontados pela imprensa, e a reação do governo sempre foi a de ganhar tempo ou proteger os acusados. O caso mais recente, do ministro Fernando Pimentel, que prestou “consultorias” milionárias entre um cargo público e outro, derruba de vez a máscara da “faxina”. O caso se assemelha bastante ao de Palocci, e a própria presidente Dilma declarou que este só saiu porque quis.
Não há intolerância alguma com “malfeitos”. Ao contrário, este é um governo envolto em escândalos, cuja responsabilidade é, em última instância, sempre da própria presidente, que escolhe seus ministros. É questão de tempo até a maioria perceber que esta “faxina ética” não passa de um engodo.
O governo Dilma, em seu primeiro ano, não soube aproveitar o capital político fruto da popularidade elevada: não apresentou nenhuma reforma relevante; não cortou gastos públicos; reduziu os investimentos; ressuscitou fantasmas ideológicos como o protecionismo; não debelou a ameaça inflacionária; e entregou fraco crescimento. Isso tudo além dos infindáveis escândalos de corrupção. Um começo medíocre, sendo bastante obsequioso.
10 comentários:
Excelente Rodrigo! Tudo sabido, mas exposto de forma clara e objetiva.
Se possível e der tempo, pois faltou a questão de 6ª economia, na frente da Inglaterra. Outra enganação, não tanto pelo aspecto físico financeiro, mas pelo "propagandístico".
Abraço e boas festas
Rodrigo, seu texto eh extremamente enviesado, omitindo (nao sei se intencionalmente ou por ignorancia) enormes avancos que o governo federal alcancou neste ano:
- Em 2011 foram criados 2.3 milhoes de empregos, fazendo o pais tecnicamente atingir o pleno emprego (que diferenca para os governos recentes, antes do do PT!)
- O salario minimo vai abrir 2012 em um dos niveis mais altos ja vistos
- O governo reduziu impostos para mais de 5 milhoes de pequenas empresas e empreendedores individuais (nao entendi mesmo como vc esqueceu deste ponto visto seu engajamento tao grande com o tema empreendedorismo nacional) e reduziu o IPI da linha branca
- Em 2011 foram entregues mais de 340 mil casas a familias que moravam em condicoes deploraveis.
- Em 2011 o programa Brasil sem Miseria identificou e incluiu mais de 400 mil familias que nao conseguiam ser beneficiadas, tirando-as da subsistencia
- Em 2011 1.3 milhao de criancas e adolescentes foram incorporadas ao Bolsa Familia, e poderao assim obter educacao e atendimento de saude
- Em 2011 foram investidos R$4bi para tratar e reintegrar a sociedade os viciados em crack
Listo os fatos acima porque voce parece gostar de numeros, mas o que mais me incomoda no seu raciocinio eh a mencao a corrupcao. Corrupcao eh um cancer, sou contra e acredito que um pais que queira realmente crescer e aumentar sua relevancia no mundo precisa combate-la. Mas seu argumento de que a "faxina etica eh um engodo" nao fecha: Os ministros foram demitidos, e vc acha isso ruim. Constatados os indicios (algumas vezes nao comprovados) de corrupcao, vc preferiria que acontecesse o que? Que fosse varrido pra debaixo do tapete? Ou que fossem demitidos (como o foram)?
Sobre as reformas, novamente acredito que vc esteja redondamente equivocado no que diz respeito ao modelo de democracia representativa do Brasil. A presidenta da republica, no Brasil, eh impotente para fazer qualquer mudanca institucional como as que vc reinvindica. As reformas nas instituicoes brasileiras sao de competencia exclusiva do Congresso Nacional. Se essas reformas afligem a voce tanto quanto a mim, sugiro que cobre os deputados e senadores da sua cidade.
Teo, sua análise é muito fraca, não sei se por ignorância ou má-fé.
A criação de empregos se deve basicamente aos fatores conjunturais, como preço das commodities e crédito.
Se salário mínimo alto fosse solução, bastava decretar um de R$ 5.000. Ainda temos quase metade da mão de obra na informalidade, bem longe das "conquistas trabalhistas".
A arrecação tributária AUMENTOU, e olha que já é absurdamente elevada.
Os gastos públicos crescem sem parar, enquanto os investimentos, já ridículos, foram cortados.
Como vc pode celebrar o AUMENTO de pobres dependentes do Bolsa Esmola, digo, Bolsa Família? Quer dizer então que quanto MAIS famílias dependerem das esmolas, melhor? Que lógica absurda.
Os 4 bi contra o crack foram anunciados, e não gastos. Vc acredita em tudo que o governo faz de propaganda? Só o governo petista?
Os ministros foram demitidos (na verdade pediram demissão) por pressão da IMPRENSA, aquela que os petralhas chamam de "golpista". Na verdade, nenhuma denúncia partiu do governo, e este sempre segurou no cargo até onde deu. Agora a máscara caiu de vez, com Pimentel. Quem vc quer enganar? A si mesmo, ou aos demais?
Muito bom Rodrigo. Gostaria também que você escrevesse algo sobre a nova posição do Brasil como 6ªeconomia.
Teo O, pergunto se vc é parte da "orquestrada pelo bunker virtual dos petistas", ou acredita no que vc escreveu? Somente respostas honestas serão aceitas.
Bom dia Rodrigo.Só hoje descobri o seu site.Muito bom.
Esse Teo é um espanto. E o pior é que o raciocínio do camarada prolifera como praga.
Saravá meu pai!
Marcia
Irina diz:
Para mim basta olhar em volta: tem camelô? É país pobre. Tem camelô? É país sem emprego formal. Tem camelô? NAO EXISTEM EMPREGOS - Ora, ninguém vai ficar na rua, no sol, na chuva por amor ao trabalho e sim para nao passar fome. Leiam "A Verdade Sufocada" para saber quem está atualmente (des) governando este país. Os que matavam e roubavam estao no governo agora. Lamentável!
Excelente análise!
Gostei da sua resposta para o Teo: essa turma sofre de miopia ideológica!
Postei no Facebook, recomendando a leitura aos meus alunos de Economia, Economia Internacional e Relações Internacionais.
Grande abraço, Rodrigo e um Feliz 2012, a 2ª chance da nossa "Gerente" fazer algo de bom pelo país.
Inpecável análise do desgoverno da dona Dilma. Um ano jogado fora. Poderia ter sido um ano de reformas (tributária e trabalhista, especialmente) que impulsionariam o desenvolvimento brasileiro para níveis chineses. Agora teremos que nos contentar em continuarmos sendo os lanterninhas entre os países em desenvolvimento -- salvo a Venezuela, claro!
Rodrigo, esse artigo com certeza merece a visibilidade de um vídeo, tanto no seu canal quanto no do Dâniel Fraga.
Deixo a sugestão de um vídeo com a retrospectiva 2011 do governo Dilma.
T+
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