quinta-feira, maio 31, 2012

A temida greve da alimentação pública

Leandro Narloch, Rodrigo Constantino e Anthony Ling, Folha de SP

Depois de uma semana de greves de metrôs e ônibus pelo país, políticos e especialistas voltaram a repetir as opiniões de sempre.

Dizem que é preciso haver mais planejamento do poder público, que o governo precisa investir mais no transporte coletivo, que a mobilidade urbana deve ser prioridade etc.

Recomendações assim são como oferecer uísque a alcoólatras: o remédio que se receita é precisamente a causa do problema.

O que impede a melhoria do transporte não é a falta de cuidado do governo, e sim o monopólio público sobre o transporte coletivo. Para chegar a essa constatação, basta imaginar uma notícia comum nos últimos dias tratando de outro serviço essencial: a alimentação.



"A semana foi de muito transtorno para quem precisa se alimentar fora de casa. Greves de garçons e cozinheiros paralisaram os serviços de mais de 30 mil restaurantes, padarias e lanchonetes que formam o sistema de alimentação pública municipal. Os trabalhadores pedem aumento real e reajuste dos abonos salariais. Não houve acordo entre o governo e o sindicato até o fim da noite de ontem.
Na capital, 6 milhões de pessoas utilizam diariamente o serviço de alimentação coletiva.

Todos os estabelecimentos que vendem comida pronta são operados sob concessão por apenas 16 consórcios e cooperativas. A prefeitura e o governo estadual supervisionam a distribuição dos prato feitos e comerciais, planejam o sistema e realizam os repasses para as concessionárias.

Sem ter a quem recorrer diante da paralisação dos serviços, usuários chegaram a depredar bares e restaurantes. Outros se arriscaram em lanchonetes clandestinas, aquelas que não foram escolhidas nas licitações do governo e por isso atuam à margem do sistema de abastecimento da cidade.

A prefeitura alerta que esses serviços, além de ilegais, trazem diversos riscos para os usuários.
O sistema oficial, porém, é mal avaliado pelos cidadãos. Pesquisa recente mostra que o número total de queixas à prefeitura contra as comedorias saltou de 119.755, em 2010, para 143.901, em 2011.
A demora no atendimento ficou em primeiro lugar entre as dez principais reclamações. Outras queixas comuns são o desrespeito dos garçons, a pouca variação do cardápio e a falta de limpeza nas instalações.

O prefeito prometeu ontem mais investimentos na área. 'Até 2013, esperamos reduzir para 40 minutos o tempo de espera para o almoço', disse. Ele negou que o aumento dos salários dos garçons e cozinheiros resulte em aumento da tarifa do prato feito, hoje em R$ 30.

O Ministério Público investiga supostos repasses ilegais da prefeitura a concessionárias, que fizeram expressivas doações de campanha na última eleição. Os promotores acreditam que esses repasses seriam o principal motivo para a comida custar tão caro mesmo sendo subsidiada pelo governo.
Analistas afirmam que seria melhor que o governo deixasse para a iniciativa privada toda a venda de comida pronta. A concorrência entre padarias, botecos e restaurantes, argumentam eles, levaria diversidade e qualidade ao setor, atrairia a classe média e ainda baixaria o custo do serviço popular, como acontece em centenas de outros ramos da economia.

Para os analistas, a livre iniciativa e a concorrência poderiam até fazer a cidade ser mundialmente conhecida por seus restaurantes.

O sindicato dos garçons, a prefeitura, a associação das concessionárias, o Ministério Público e o governo estadual reagiram veementemente a essa proposta, que qualificaram de 'irresponsável e neoliberal'.

Para as entidades, a ausência do Estado na alimentação poderia resultar na falta de lanchonetes em áreas distantes, além do desabastecimento de comida na cidade. 'Se algum dia entregarmos o setor de restaurantes a empresários comprometidos apenas com o lucro, criaremos um completo caos', disse o prefeito."

LEANDRO NARLOCH, 33, é jornalista e autor de "Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil" (LeYa)

RODRIGO CONSTANTINO, 35, é economista e autor de "Economia do Indivíduo: o Legado da Escola Austríaca" (Instituto Ludwig Von Mises Brasil)

ANTHONY LING, 26, é arquiteto e urbanista

7 comentários:

Alexandre disse...

Simplesmente perfeito! Excelente!!! Vou divulgar já!!!!

Daniel M disse...

Muito bom artigo. Mas só uma observação, já antecipando uma objeção provável à idéia central do texto por parte dos esquerdistas, é que a exploração comercial do transporte municial causa muito mais externalidades ao público em geral do que o mercado de restaurantes. Vide o caos que os fretados trazem ao transito. Isso não seria uma justificativa ao monopólio governalmental, mas deve ser levada em consideração.

Anônimo disse...

Poxa pessoal, vocês querem acabar com as máfias!? Sacanagem...
Liberalismo econômico por aqui, só em...em...em...
Abraço e parabéns pelo texto inteligente e didático.

Felipe disse...

Matou a pau com esse texto, sensacional.

Anônimo disse...

Como assim concorrência no transporte público ! Qualquer um pode ter uma linha de ônibus. Aí a cidade para !!! Nossa, que delírio !!!

samuel disse...

Ontem sentei ao lado de um modesto passageiro lendo um livro de um esquerda quando da ditadura militar. O Sr é comunista? Perguntei. SIM SOU COMUNISTA, essa M.... de capitalismo é uma exploração, só pensa em lucro! O comunismo praticou genocídio onde se instalou disse eu. Resposta: Você quer mais assassinos do que os EUA, veja o Vietnam, Nicarágua, invadiram, mataram ... Mas isso não foi genocídio, foi guerra, repliquei. Inútil. Meu interlocutor continuou argumentando na mesma linha... É COMO SE TIVESSE UM ESCUDO NO CÉREBRO. REFRATÁRIO A QQ ARGUMENTO LÓGICO... Delícia de artigo! Rasteiro o suficiente para fazê-lo chegar até ao nível de cidadãos como este. Porém a ideologia marxista é como uma religião. Exclui a lógica, substituindo-a pela fé em algo intangível, visionário, salvacionista.
Não é uma coincidência que em países islâmicos, onde de há muito tempo a lógica foi substituída pela fé que se transmuda em fanatismo, o marxismo não tenha vez. A cabeça daqueles lá já tem dono.

Anônimo disse...

e existe exemplos daquilo que vocês defendem para o transporte público em alguma cidade do mundo?