Milton Friedman alertava que se o governo fosse colocado para administrar o deserto do Saara, em cinco anos faltaria areia no local. O que aconteceria se o governo fosse o empresário em um país com abundância de fontes baratas de energia?
Sabemos a resposta: apagões frequentes, necessidade de importar combustível e energia cara para os consumidores. É importante notar que este resultado não depende tanto assim de qual partido está no poder, ainda que a capacidade de o PT causar estragos maiores não deva jamais ser ignorada. Mas o principal ponto é que o mecanismo de incentivos na gestão estatal é totalmente inadequado.
Quando o empresário depende do lucro para sobreviver no livre mercado, a busca por excelência passa a ser questão de vida ou morte para ele. Manter a elevada produtividade de sua empresa e atender bem à demanda de seus clientes é crucial para ele prosperar. Para tanto, ele terá de estimular seus bons funcionários, e punir os incompetentes.
Já nas estatais, os “donos” somos nós, sem poder algum de influência em sua gestão, que fica sob o controle de políticos e burocratas cujos interesses diferem dos nossos. A troca de favores políticos para a “governabilidade”, o uso da empresa como cabide de empregos para apaniguados ou instrumento de política nacionalista, o descaso com o “dinheiro da viúva”, estas são as características comuns nas estatais.
Não é coincidência a enorme quantidade de escândalos de corrupção que é divulgada na imprensa envolvendo estatais, tampouco o fato de os setores dominados pelo Estado serem os mais precários. Portos e aeroportos, os Correios, os transportes públicos, as escolas e os hospitais administrados pelo governo, o Detran, os presídios, enfim, basta o Estado intervir muito para estragar qualquer setor da economia.
Quando um partido com mentalidade mais estatizante assume o governo, a situação tende a piorar bastante. A arrogância de que o governo pode fazer melhor do que a iniciativa privada acaba levando a um nefasto modelo “desenvolvimentista”. É o caso do governo atual. A presidente Dilma acredita que é realmente capaz de administrar os importantes setores de nossa economia.
Isso explica a quantidade assustadora de intervenções arbitrárias que tanto mal têm causado ao país. A Petrobras virou símbolo de incompetência, com crescimento pífio da produção e enorme destruição de valor para seus milhões de acionistas. Seu valor de mercado já caiu pela metade desde 2010, mesmo com o preço do petróleo estável no mundo. Enquanto isso, o valor da Ambev quase dobrou no mesmo período e chegou a ultrapassar o da estatal.
Os bancos públicos se transformaram em instrumentos de populismo, fornecendo crédito barato a uma taxa de crescimento irresponsável, que vai acabar produzindo uma bolha imobiliária no Brasil, tal como vimos nos EUA, na Irlanda e na Espanha. A Caixa expandiu sua carteira em 45% nos últimos 12 meses!
O BNDES virou um megaesquema de transferência de recursos dos pagadores de impostos para grandes empresas próximas ao governo. Grupos como JBS, Marfrig e EBX, do bilionário Eike Batista, receberam bilhões em empréstimos subsidiados.
A Eletrobras já perdeu cerca de 70% de seu valor de mercado apenas este ano, pois o governo resolveu usar a estatal como centro de custo para sua meta de reduzir as tarifas de eletricidade na marra, em vez de cortar os impostos (que correspondem a 45% da tarifa final). Como o cobertor é curto, vai faltar recurso para novos investimentos, prejudicando o futuro do setor.
Existem outros exemplos, mas o ponto está claro: o governo costuma ser um péssimo empresário, e isso se deve a fatores estruturais. Quando um partido convencido de sua suposta clarividência chega ao poder, o estrago por meio das estatais tende a ser ainda pior. Estamos vendo exatamente isso na gestão Dilma. Suas medidas estancaram o crescimento econômico, mas a inflação continua elevada.
O Brasil, para usar um termo dos psicólogos, é hoje um caso borderline. O governo sofre do transtorno de personalidade limítrofe. Ele ainda não sabe se quer fazer parte do grupo dos vizinhos mais decentes, como Chile, Colômbia e Peru, ou do “eixo do mal”, com a Venezuela, Argentina, Bolívia e Equador. Pelos sinais emitidos até aqui, ele parece gostar é do fracasso socialista mesmo.
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Aproveito para convidar todos ao lançamento do meu novo livro “Privatize Já!”, pela editora Leya, amanhã na Livraria Travessa do Shopping Leblon, às 19h. Haverá um debate com Elena Landau antes dos autógrafos.
Aproveito para convidar todos ao lançamento do meu novo livro “Privatize Já!”, pela editora Leya, amanhã na Livraria Travessa do Shopping Leblon, às 19h. Haverá um debate com Elena Landau antes dos autógrafos.
8 comentários:
Sr.Rodrigo, os fatos deveriam nortear a chamada esquerda, mas infelizmente eles insistem em desprezar a realidade e é exatamente ela a causa do colapso de sua ideologia.
Grande Constantino, rapaz voltando de Lisboa em um vôo da TAP que faz escala no Galeão, há cerca de um mês, peguei um exemplar de O Globo, lá pelas tantas leio um artigo achincalhando a esquerda, quando li seu nome como autor fui inundado por uma nostalgia muito bacana...
Fiz parte, com orgulho, da "tropa liberal" que lutava contra os alfaces, bovinos ignaros e afins no finado Orkut na finada comunidade do Diogo Mainardi... acho que lá por 2003-2004.
Me lembro de você, tentando manter a educação no meio do festival de ad hominem e baixaria, me lembro do Mauro, do Gustavo e de uns outros... O marxismo cultural ainda não tinha implantando o politicamente correto e o debate era visceral e os petralhas virtuais ainda estavam em estado larval, eram os alfaces... bons tempos!
Fico feliz em saber alguém daquela época ainda está no front contra os petralhas e a esquerdalhada infernal, ainda mais escrevendo pro Globo. Meus parabéns.
Caso deseje lançar seu novo livro em Goiânia, avisa aqui que vou lá te dar um abraço.
Mário Tadeu.
Eram engraçados aqueles "debates" na comunidade do Mainardi.
Duas observações : primeiro, o aumento de 45% da carteira da Caixa foi de crédito total do banco e a maior parte foi de crédito comercial. Então não tem porquê de falar em "bolha imobiliária".
E segundo, a maior parte dos encargos tributários da conta de energia é de ICMS, imposto estadual.
Teremos lançamento em Florianópolis?
Anônimo,
Quanto ao ICMS, mesmo sendo Estadual, a Lei Complementar regulamentadora é federal, LC 87/96.
Por força constitucional, a LC 87/96 regulamente a competência dos Estados para a instituição do ICMS, pelo que é plenamente possível movimento do governo federal para mudar a regra (ou a carga) quanto a energia elétrica.
Colapso da ideologia estatal? Eu vejo como sucesso mundial. Quase todos os países do mundo viram o estado crescer no séc 20... E continua crescendo.
Rodrigo, acompanho o seu blog a bastante tempo. Concordo plenamente com a incompetência do Governo em administrar praticamente qualquer tipo de empresas. Mas gostaria da sua opinião em relação as empresas de telefonia celular. Não precisamos discutir que hoje em dia todo mundo tem celular a baixo custo, e uma das razões disso é a concorrência entre as empresas privadas. Mas isso acabou gerando um nível baixíssimo de qualidade de serviço. Como tratar isso? O Governo seria responsável em auditar a qualidade do serviço? Ou definir métricas mínimas e ter certeza que as empresas privadas seguem esses valores? Ou ainda deixar o mercado livre cuidar dessas empresa devido a concorrência? O meu medo é que a sua resposta seja a terceira opção. Neste caso estaríamos perdido porque todas as operadoras prestam serviços medíocres e nos restaria apenas a aceitar o problema. Estou morando nos EUA e vejo que as coisas por aqui são bem diferentes porque as empresas tratam os clientes muito mais a sério, portanto acho que o mercado cuidaria dessas empresas de baixa qualidade. Mas no Brasil sabemos que é bem diferente. Qual é a sua opinião sobre isso? Boa sorte com o novo livro. Ansioso para lê-lo. Abraço.
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