sábado, maio 20, 2006

A Religião Marxista



Rodrigo Constantino

Poucos intelectuais exerceram tanta influência direta como Karl Marx. Suas idéias, afinal, foram colocadas em prática por seguidores convictos como Lenin, Stalin e Mao Tse-Tung, sacrificando milhões de vidas no altar da utopia. O marxismo pretendia ser científico, e tal termo era comumente usado pelo próprio Marx. Seria crucial, então, analisarmos quão científica era sua obra.

Como o estudo da vida de Marx deixa claro, ele não tinha as características de um cientista que se interessa na busca da verdade. Mais parecia um profeta, interessado em proclamá-la. Seu tom messiânico e seu escrito escatológico, influenciado pelo pano de fundo poético, nada tinham de científico. Sua visão apocalíptica de uma catástrofe imensa prestes a se abater sobre o sistema vigente desprezava a necessidade de evidências sustentadas pelos fatos. Tal característica conquistou muitos seguidores pelo desejo de crer no fim próximo do capitalismo, dispensando o uso da razão para tanto.

Marx tinha um bom talento como jornalista polêmico, e sabia usar aforismos de forma inteligente, ainda que a maioria tenha sido copiada de outros autores, e não criada por ele. Mas seu mérito residia no uso das palavras para instigar sentimentos e revolta nos leitores. A elaboração de sua filosofia foi um exercício de retórica, sem a sustentação de sólidos pilares. Distanciado do mundo real, em seu bunker intelectual, ele iria fazer de tudo para confirmar suas idéias já preconcebidas. Afirmava ser o defensor dos proletários, e até onde sabemos, nunca esteve numa manufatura ou fábrica. Seus aliados eram intelectuais de classe média, como ele, e havia inclusive certo desprezo pela classe trabalhadora.

Um cientista sério busca dados novos que possam contradizer suas teses. Marx nunca fez isso; pelo contrário: tentava encontrar o tipo certo de informação, adequada para suas teorias já definidas. Toda a sua abordagem era no sentido da justificação de algo declarado como sendo a verdade, não na investigação imparcial dos fatos. Era a convicção não de um cientista, mas de um crente. Os dados estariam subordinados aos seus trabalhos de pesquisa, tendo apenas que reforçar as conclusões alcançadas independentemente deles. Com tal método, foi escrita sua obra clássica, O Capital, repleta de contradições, dados errados ou defasados, fontes suspeitas ou mesmo manipulações e falsificações. Assim como na obra do seu colega Engels, o descaso flagrante e a distorção tendenciosa estão presentes nos escritos de Marx, como prova de uma desonestidade inequívoca.

Alguns exemplos merecem destaque para a melhor compreensão desta total falta de compromisso com a verdade, premissa básica para qualquer um que se considera um cientista. Marx utilizou informações obsoletas quando interessava, já que as novas não validavam suas alegações. Em exemplos gritantes, usava casos de décadas atrás para mostrar uma suposta conseqüência nefasta do capitalismo, sendo que o próprio capitalismo tinha feito a situação perversa desaparecer. Ele escolheu também indústrias onde as condições de trabalho eram particularmente ruins, como sendo típicas do capitalismo. Entretanto, esses casos específicos eram justamente nas indústrias onde o capitalismo não tinha dado o ar de sua graça, e as firmas não tinham condições de implantar máquinas, por falta de capital. A realidade gritava que quanto mais capital, menor o sofrimento dos trabalhadores. Marx não tinha o menor interesse em escutar este brado retumbante dos fatos. Salvar a teoria, e em última instância seu ódio ao capitalismo, era mais importante que a verdade. Chamar isso de científico beira o absurdo completo.

No fundo, podemos tentar buscar os motivadores de Marx em alguns aspectos de seu caráter. Ele alimentava um profundo gosto pela violência, tendo deixado isso claro ao longo de toda a sua vida. Desejava ardentemente o poder. Mostrava uma inabilidade irresponsável e infantil de lidar com dinheiro, sendo vítima constante de agiotas. E mostrava uma tendência de explorar os que se encontravam a sua volta, incluindo família e melhores amigos.

Provavelmente, seu rancor refletia uma frustração em possuir certas potencialidades mas ser incapaz de exercê-las de forma mais efetiva. Marx levou uma vida boêmia e ociosa durante sua juventude. Mostrou uma enorme incapacidade de lidar com dinheiro, gastando sempre muito mais que recebia, tendo que parasitar nos familiares e amigos ou recorrer aos agiotas. Isso pode estar na raiz de seu ódio ao sistema capitalista e também seu anti-semitismo, já que os judeus praticavam normalmente a usura. Ele pegava dinheiro emprestado, gastava de forma insensata, e depois ficava nervoso com a cobrança. Passou a ver os juros como um crime contra a humanidade, uma exploração do homem pelo homem. Não o interessava verificar que o problema estava, de fato, em sua completa irresponsabilidade. Chegou ao ponto de ser deserdado pela mãe, que recusou pagar suas dívidas certa vez. Foi procurar refúgio em Engels, um rico herdeiro e a maior fonte de renda de Marx, que passava então a viver como pensionista de um rentier. Sua mulher, de família aristocrata, também foi uma fonte de recursos para Marx. Aquele que considerava o trabalho uma exploração, nunca quis muito saber de trabalhar ou de se relacionar com trabalhadores, orgulhava-se da nobre descendência de sua esposa e ainda vivia às custas do dinheiro dos outros.

Poucos são os casos, em minha opinião, onde um só intelectual concentra tantas idéias estapafúrdias. Fora isso, o desprezo por Marx aumenta mais quando conhecemos sua vida e seu caráter, sem falar do fato de que a concretização de seus ideais derramou um oceano de sangue inocente. Por fim, a autoproclamação de que tanto absurdo e contradição tem um respaldo científico é um crime contra a ciência e a razão. Se a religião é o ópio do povo, como Marx dizia, o marxismo é o crack. Seus seguidores – e eles são muitos ainda, principalmente entre os intelectuais – precisam desprezar o uso da razão para manter a fé dogmática no marxismo. Não foi a razão que falhou nas idéias de Marx. Foi a falta dela, necessária para salvar a religião dogmática que é o marxismo.

14 comentários:

Guilherme Meneghelli disse...

Interessante, mas raso... amigo, a verdade é uma afirmação, a mentira é outra, e a Ciência é outra coisa ainda, penso e afirmo.

A história tem comprovado que a ciência é apenas um conjunto de princípios que dia-após-dia rolam rio abaixo, e a história, cada vez mais aparenta o fim desse rio, um depósito de coisas, a ciência é parecida.

Penso que é o discurso do discurso que manda, você aí procurando persuadir seus amigos, eu aqui procurando defender a liberdade criacionista em todos nós.

Por obséquio, encontrei seu texto/link numa comunidade do Olavo de Carvalho, a qual fui expulso por questionar: "Olavo, um gênio ou uma besta?" procurava eu uma elucidação aprimorada sobre o que pensam do que muito pensa.

Criei uma paralela (comunidade com o mesmo propósito, porém, aberta).
http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=13981439

Continuemos a construção da soberania.

Ah, Marx foi um gênio para a époco, sem dúvida, na Alemanha de 1850-1880, o socialismo tinha tudo de elementar para a construção daquela nação, muitos experimentaram as teses de Marx e um legado de experiências criou-se, não digo apenas dos Pops Lênin, Trotsky, Mao Tse... mas falo dos que originaram a tese com práticas reais, como Robert Owen, ah, Marx não era muito classe média não, podia ser um intelectual que não se sujava de ulha, porém morreu numa miséria extrema.

Ah, Marx nada escreveu também sobre revoluções armadas, mas sim sobre a tomada de poder do proletariado, e se o que escreveu tocou o proletariado, sinal que fundamento havia, talvez na própria história da formação do proletaria.

Uni-vos!

Anônimo disse...

comunistas as vezes parecem pentecostais, com suas promessas messiânicas, combinadas com oratória canina contra fantasmas do neoliberalismo...

Anônimo disse...

Muito bom artigo, traz uma coletânia de acusações sobre as supostas origens científicas di Marxismo, contudo ficaria mais a vontade se mostrase as fonte.

Um Abraço e Sucesso.

Anônimo disse...

As fontes ?????????????
Basta ler o traste e perceber o amontoado de asneiras que se contradizem e os devaneios imbecis, voltados para encantar imbecis safados.
Será que se não for mencionada uma fonte famosa para uma conclusão, a conclusão deixa de ser válida???
Vamos mal, vamos mal.....
Fonte se exige só de informação repassada, mas quando se expõe uma conclusão "franque-se" a fonte pô!
Conclusão é de cada um conforme raciocínio. Neste caso o que se pode pedir são os parâmetros e evidências para o concluído.
...Essa de pedir fonte é lugar comum dos que querem levantar suspeita sobre a questão, ou mesmo mera repetição do que não se compreende. O artigo em questão não demanda por fontes.
E sobre as falsificações de Marx com informações fraudulentas é mais que sabido, e a melhor fonte é a verificação da fonte de Marx (ele as citou), ademais não foi a esencia do artigo.
O hábito de dar minúcias é louvável, mas a massa não gosta de raciocinar e prefere conclusões lançadas sem muita explicação. Falo por experiência, pois gosto de fundamentar com minúcias meus comentários.

Fonte se pede quando o artigo demanda,e esse não é o caso.
Abraços
C. Mouro

Rodrigo Constantino disse...

O artigo é calcado no livro Os Intelectuais, do historiador Paul Johnson. Eu poderia ter citado mais exemplos e fontes, mas o texto iria ficar muito grande. Eu assumi que os leitores conheciam alguma coisa da vida do barbudo, e qualquer dúvida, bastaria perguntar.

Anônimo disse...

Só queria dizer algo sobre o comentário do Guilherme Meneghelli. Ele termina dizendo que se o proletário se identificou com as propostas de Marx, é porque tinha fundamento.
Eu digo que OBVIAMENTE tinha fundamento! O ócio. O homem só toma por algo BOM quando aquilo que lhe favorece.
Sugiro ainda você diminuir a pompa do seu discurso e sua idéia fixa de que você liberta a mente enquanto o pensamento contrário a aprisiona.
"você aí procurando persuadir seus amigos, eu aqui procurando defender a liberdade criacionista em todos nós." TSC TSC TSC

Sobre o artigo, achei razoável. Muitas palavras pra pouco conteúdo. O texto podia ter sido bem mais direto e com menos análises da vida do mefítico em questão. Que ele era um vagabundo e vivia do bolso de "amigos" como o playboy Engels, todos sabem.

Enfim, Marx é, foi e será um bosta que só vai fomentar debilidade na mente de quem tomar por verdade as palavras em suas (péssimas) poesias.

Anônimo disse...

Esse Fernando é dos bons!
Mas o "fundamento" das idéias marxistas é o interesse do público alvo, que é corrompido pela oferta de safadeza impune. Esse é o fundamento das idéias de Marx e demais salafrários assemelhados.
Coisa que pouco se diz é que Marx era um politico militante, profissional, e não um sujeito que pensava sobre o mundo (um pensador, filósofo ou etc.); ele era um ativista político com interesse de ocupar o Poder, tornar-se membro da cúpula estatal (a verdadeira classe dominante, que foi oculta por Marx).
As baboseiras marxistas se contradizem em excesso, é um amontoado de asserções desconexas e até sem nexo. Pura ideologia para corromper, com galanteios fajutos (nem donzelas ingênuas caem mais em galanteios), os imbecis prometendo-lhes um "paraíso" no futuro incerto; e ao mesmo tempo alicia os safados e invejosos ao oferecer-lhes oportunidades de se aproveitarem dos imbecis ou prejudicar os invejados, respectivamente.
Abraços.
C. Mouro

Anônimo disse...

Está para ser lançada uma edição completa das obras de Marx com 122 volumes (http://www.iisg.nl/~imes/intromega.html).
Ademais, a biografia de Marx escrita por Francis Wheen refuta o sr. Paul Johnson, assim como o prefácio da 4ª edição do "Capital".

Guilherme Meneghelli disse...

Vocês são demais, mesmo!
Playboy pra Engels, Bosta pra Marx, fantástico, é muito divertido ler estas colocações, é claro, com todo respeito, mas suas sátiras são tão... não sei o que... maravilha.

É claro que o ser humano gosta, se identifica com o que lhe favorece, é claro que luta de classes existe e pode ser aperfeiçoada à esfera diplomática, acho maravilhoso esse nosso diálogo virtual amigos.

Eu me identifico de Marx à Keynes, de Fernando Henrique à Lula, de Mao Tse à Bush, passando por Clinton... é bom ser pompa e pensamento.

Tudo que é FILOSOFIA me conforta, talvez por tanto pensar e achar conveniente outros pensamentos, e são tantos. Agradeço à pluraridade, mas é claro, que a classe média está sendo achatada no Brasil é fato, o pobre é menos pobre e está tomando o poder na América Latina, começa historicamente... e o mais legal é que não é de uma maneira chata, feita em pequenas salas de conforto, mas na rua e como o povo.

Anônimo disse...

Tres entre otras grandes postas fueròn arrazadoras en nuestro mundo, desde la promesa del paraíso prometido mediante el camino del amor hasta llegar a la edad media, donde ese cuentito ya no daba màs, (que pena, ¿no?). Que mejor instrumento que el miedo y la represiòn para formar creyentes; de lo contrario se van al infierno o simplemente lo quememamos... Aqui se desprende un buen punto de vista a comentar sobre el marxismo, "la religiòn", algo asi como, que tal si tenemos un paraìso aqui y ahora, algo tan real y tangible, como prospero, pero que no esperemos tanto tiempo como el que nos demora en llegar la muerte.
PS: En fìn, un pequeño comentario anàlogo dado de forma demasiado sintetica, pero asi mismo espero que se halla al menos transmitido la idea, la idea de dominar el mundo, ...o mas bien...¿que??!, diria yo: cambiar de rey a la corona.

O-Sagais.

Anônimo disse...

a religião científica

Guilherme Meneghelli disse...

O mito da verdade hoje transformou-se no medo da verdade, afinal, dizer a verdade tornou-se algo tão perigoso que cheira à ruínas, mas depois de todos os escombros, resta sempre o amanhã. Doce Ilusão. (Ibererê Burri)

Agradeço ao espaço democrático e a lucidez poética das pessoas.

Fernando, gostei da sua observação, soa muito simpático. Essa citação que coloco acima vai de encontro à sua mensuração verbal, ruinas.

Anônimo disse...

Acho muito interessante a análise crítica de Marx, entretanto no texto "A Religião Marxista" o que vejo é uma crítica sobre a vida do escritor e não sobre o que foi escrito pelo mesmo. Aliás, o que foi postado é sobre a ausência da ciência do pensamento de Marx, não?
Gostaria que citasse algum texto seu que criticasse(com as fontes , por favor) as idéias estabelecidas por Marx nos seus livros.
OBS:C.Mouro utilize palavras mais amenas para debater temas científicos:
"As fontes ?????????????
Basta ler o traste e perceber o amontoado de asneiras que se contradizem e os devaneios imbecis, voltados para encantar imbecis safados."
Esse comentário deveria ser apagado.
Obrigado

Unknown disse...

É de estranhar! Só vi mediocridade aqui... palavras chulas e nada de novo, apenas apologia, seja de esquerdistas pseudos marxinianos, ou de direitistas liberais anti-marx.!!! O medíocre discute pessoas. O comum discute fatos
O sábio discute idéias. Até agora só vi mediocridades a mil aqui...quando teremos sábios a pensar, aforismos também há neste artigo! E os que usam termos "chulos", acredito nunca leram Marx, e se leram não o compreenderam, pois como o disse o autor ele é confuso..páginas maçantes e confusas, realmente entender da dialética usada por Marx ou Hegel é realmente maçante e confuso...para os analíticos que só entendem ou ou ...Mas Marx avisou isso em sua introdução do Capital...

Por favor, vamos ler mais, compreender mais e criticar de forma menos comum ou mediocre... Quem não tem idéias prefere o ataque pura e simples à pessoa...

kelvinsales@hotmail.com