Rodrigo Constantino
Deu na imprensa: Pelo menos 70 pessoas morreram e várias dezenas ficaram feridas depois de militantes islamitas terem detonado uma bomba instalada num camião em frente ao Ministério da Educação em Mogadíscio, capital da Somália. A bomba explodiu depois de passar por um posto de controlo de segurança, deixando vários cadáveres na rua cheia de destroços, incendiando outros veículos que estavam por perto.
De acordo com a Associated Press, foram vistos soldados a arrastarem alguns dos 42 feridos para longe. O ataque foi imediatamente reivindicado pelo grupo al-Shabab, ligado à al-Qaeda, no site que costuma usar.
Este é o maior ataque do grupo terrorista na capital desde que em Agosto uma ofensiva da União Africana levou à retirada do al-Shabab de Mogadíscio.
Nas últimas semanas, vários carros bomba foram desarmadilhados ou explodiram antes de chegarem aos alvos.
Comentário: A Somália vive uma guerra civil cada vez mais fora de controle. A ONU alega que boa parcela da população passa fome, a pior crise nas últimas décadas. Grupos impedem que ajuda humanitária chegue ao país. Piratas são outro grave problema. E eis o que temos: artigos publicados no instituto que leva o nome de Mises defendendo a anarquia na Somália! Eis justamente algo que não faz nada bem ao nome de Mises e ao próprio liberalismo. Alguns anarquistas podem argumentar que as coisas pioraram na Somália justamente por causa da intervenção externa. Mas estão fugindo do ponto-chave: os liberais dizem justamente que a anarquia é insustentável, pois o vácuo de poder será preenchido. Quer dizer então que um país anárquico só funcionaria isolado do mundo? Grupos ligados a Al Qaeda atuam no país. Se nada for feito para impedir seu avanço, resta alguma dúvida de que a Somália será uma colônia de terroristas islâmicos?
Em artigo publicado no Instituto Mises Brasil, Robert Murphy defende os avanços na Somália após o fim do estado. Como fica agora? Se as coisas começarem a piorar de vez na Somália, como já é o caso, os anarquistas vão se eximir de responsabilidade? Vão alegar que foi justamente o fim da anarquia que deterirou as coisas? Isso mais parece "monopólio dos fins", algo que comunistas adoram fazer também. A URSS, afinal, não era comunista... Ou a Somália é anarquista ou não é. E se ela é, como parecem defender os anarquistas do instituto em questão, então os resultados que se seguem decorrem deste modelo.
Em outro artigo, desta vez no Mises Institute, o título já condena: "Stateless in Somalia, and Loving It". Como fica para o instituto se as coisas degringolarem de vez por lá, como parece cada vez mais provável? Não vamos esquece que estes anarquistas culpam a minarquia dos "pais fundadores" pelo crescimento do estado, dois séculos depois! Usam este "argumento" para mostrar como a minarquia é insustentável. E a anarquia, é o que? Não vale fugir dos acontecimentos na Somália agora! Senão fica parecendo aquelas crianças brincando de pique-pega que, quando estão prestes a serem pegas, gritam "autos!" e suspendem o jogo.
Claro que não é justo comparar a Somália com a Suíça, ainda que, pelo argumento desses anarquistas, a Somália sem estado deveria ser vista como MAIS livre que a Suíça, pois para eles a existência do estado é o maior sinal de escravidão. Mas mesmo assim podemos deixar de lado tal comparação, humilhante para os anarquistas mais radicais que culpam a existência do estado por todos os males (pode um país com escravidão ser mais livre que outro sem?). Já fica claro que abolir o estado passa longe de ser o suficiente para termos mais liberdade (algo que muitos anarquistas esquecem).
Mas podemos limitar a comparação com a própria Somália de antes ou com vizinhos. Se a anarquia na Somália levar a um caos total no país, o que já está quase acontecendo, será culpa da anarquia sim. É justamente a previsão dos liberais. Foi o que eu disse que aconteceria à época da empolgação inicial de alguns anarquistas. Clãs disputando o vácuo de poder nos remete ao feudalismo. Não dá certo nem na Suíça. Muito menos na Somália ou na Rússia. Mises sabia disso. É uma pena ver o instituto que leva seu nome ignorando isso e aplaudindo a anarquia na Somália.
22 comentários:
Pra eles a culpa é da ONU, seria interessante ver se essas gangues não se matavam também ANTES da ONU se meter
Rodrigo, além de tudo isso que você escreveu, ainda há o seguinte: mesmo que não se organize um estado nacional, cada uma dessas sociedades em guerra já constituem um estado para os seus membros. Há em cada uma delas hierarquias e normas a que se sujeitam dos indivíduos que as compõem. Vale dizer: seja um estado nacional ou não, sempre será estado. Não há sociedade sem estruturas de poder que as organize. Os conflitos de interesses individuais, para que não degenerem em "justiça pelas próprias mãos" (que tecnicamente entre nós se chama "exercício arbitrário das próprias razões"), demandam autoridades com poderes arbitrais e decisórios, quer em caráter originário quer em caráter recursal.
Não há para onde correr do poder, por assim dizer. Onde houver sociedade humana, haverá necessariamente autoridade de alguns sobre outros.
Essa discussão do anarquismo é tola e inútil.
correções:
mesmo que não se organize um estado nacional, cada uma dessas sociedades em guerra já constitui (e não "constituem") um estado para os seus membros.
Há em cada uma delas hierarquias e normas a que se sujeitam os (e não "dos") indivíduos que as compõem
COMPARANDO MAÇÃS E LARANJAS
Ao lidar com essa questão dos déspotas privados - seja na forma de polícia ou de forças armadas - é preciso garantir que as comparações sejam justas. Em nada adianta imaginar uma sociedade A, povoada de selvagens ignorantes e sádicos que vivem em anarquia, e compará-la a uma sociedade B, composta de cidadãos iluminados e cumpridores da lei, que vivem sob um governo limitado. O anarquista não vai negar que a vida será melhor na sociedade B. Mas o que o anarquista irá de fato afirmar é que, para qualquer população, a imposição de um governo coercivo irá piorar as coisas. A ausência do estado é uma condição necessária, mas não o suficiente, para se atingir uma sociedade livre.
Não importam quais sejam as condições culturais e as preferências populares de um país, não importa quão forte sejam as tendências para o totalitarismo e para o trabalho duro, e independente do fato de haver ou não justiça e de os contratos serem ou não respeitados, não há nada que o estado possa fazer para melhorar a situação. É verdade que uma sociedade pode ser pobre e belicista sem o estado. Ela pode ser brutal e miserável. Mas impor um estado sobre essa sociedade irá apenas exacerbar suas piores tendências ao mesmo tempo em que sobrepuja as melhores. O estado não oferece benefício algum a sociedade alguma, não importa suas condições culturais. E isso vale para qualquer lugar do mundo. O estado institucionaliza e fortifica as coisas ruins e obstaculiza o surgimento das boas. Este é, em resumo, o foco da doutrina libertária.
Colocando de outra forma: não basta dizer que uma sociedade sem governo e baseada na propriedade privada poderia se degenerar em guerras infindáveis, onde não haveria um grupo único poderoso o suficiente para domar todos os desafiantes, e daí então afirmar que, nesse cenário, seria impossível o estabelecimento da "ordem". Afinal, há vários exemplos de comunidades que vivem sob um estado e que se degeneraram em guerras civis. O que houve mais recentemente na Colômbia e no Iraque não são demonstrações de anarquia que se transformou em caos, mas sim exemplos de sociedades governadas que mergulharam no caos.
Para que o argumento "os déspotas vão assumir o controle!" seja válido, o estatista teria de arfirmar que uma dada comunidade seria ordeira sob um governo e que essa mesma comunidade iria se esfarelar em guerras contínuas caso todos os serviços judiciais e de segurança se tornassem privados. O popular caso da Somália, portanto, não ajuda nenhum dos lados da discussão, pois não se tratava de uma sociedade ordeira mesmo sob um governo.[1] É verdade que os rothbardianos deveriam estar um pouco inquietos com o fato de que o respeito ao princípio da não agressão é aparentemente muito raro na Somália, o que impede o surgimento espontâneo de uma ordem de livre mercado. Porém, da mesma maneira, o estatista deveria se incomodar com o fato de que o respeito pela "lei" também era muito fraco, de modo que o governo original da Somália jamais foi capaz de manter a ordem.
http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=299
No IMB houve quem sugerisse que Estado mínimo é caminho para o socialismo.
Se você considerar a "retórica" de Estado mínimo, ela pode levar a medidas socialistas sim, vide o programa do DEMOCRATAS (que se considera liberal e defende bolsa família), ou seja, é preciso determinar bem do quão mínimo você está falando, pois pode sim criar confusões e servir de retórica para defender um governo robusto (já foi usado até pelo Ciro Gomes).
Sobre o post, acho que o artigo linkado pelo Eric põe em xeque a questão.
Além do mais, não sabia que a ONU tinha credibilidade agora, ainda mais com os eventos recentes...
Nem todos os libertários defendem a eliminação do Estado. Então já é errado dizer que o foco do libertarianismo é acabar com o Estado. O foco do libertarianismo é preservar as liberdades individuais. A forma de como preservar essas liberdades individuais é questão de debate.
'uma dada comunidade seria ordeira sob um governo e que essa mesma comunidade iria se esfarelar em guerras contínuas caso todos os serviços judiciais e de segurança se tornassem privados.'
Não é o que as gangues do rio de janeiro já tentam fazer? E só n fazem mais pq tem alguém acima?
E os anarquistas argumentam que a oposição de poderes causaria uma paz, resultado do equilíbrio de forças opostas (uma espécie de guerra fria civil contínua).
Já li muito absurdo nessa vida , como por exemplo uma frase do mino carta dizendo que "stálin era de direita", mas dizer que a Somália progrediu com o fim do estado em 1991 é um dos maiores absurdos que já li na minha vida !!! estou pasmo !
A ausência do estado é uma condição necessária, mas não o suficiente, para se atingir uma sociedade livre.
Bingo.
Jamais passou por minha cabeça que o IMB um dia fosse eleger a Somália de hoje como exemplo a ser seguido. Chega a ser surreal, incrível. A que ponto se chegou!! É a barbárie!!
Acho que nem os anarquistas de esquerda chegaram a tanto.
O texto linkado pelo Eric é perfeito. Põe no chinelo o emaranhado de palavras do Rodrigo.
http://a.abcnews.com/images/News/gty_occupy_Wall_street_nt_111005_wg.jpg
Uma foto dos protestos recentes em Wall Street.
Será que se a polícia de Nova Iorque resolver entrar de greve, prevalecerá alguma ordem?
Eric, se isso aqui fosse o Facebook, eu colocaria aquele famoso "curtir" no seu comentário. Na mosca! Parabéns!
'A ausência do estado é uma condição necessária, mas não o suficiente, para se atingir uma sociedade livre.
Bingo.'
Bingo pq? Não tem novidade nenhuma nisso, é a mesma coisa que o Mises já disse e o Rodrigo citou, que o anarquismo só funcionaria num mundo de anjos e santos.
Agora no Mises brasil, MUITAS vezes o pessoal lá afirma com todas as letras: A SOCIEDADE ANCAP NÃO REQUER NENHUMA MUDANÇA NA NATUREZA HUMANA
ntsr
1 Basta o exemplo dos traficantes no rio, que sobrevivem não só traficando, e que ganharam poder só depois que o Brizola disse que a polícia não devia entrar na favela, pra derrubar esse artigo do Erik
2 se o assunto é desonestidade intelectual, querem um exemplo?
Olhem o que o animal escreveu nos comentarios desse artigo
http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=987
Fernando Choca disse:
'Errado novamente. A Sociedade de Leis Privadas não requer uma mudança na natureza da humanidade, ou seja, não requer que ledrões e assassinos deixem de existir.'
I rest my case.
ntsr.
Os idiotas perderam a modéstia, tanto na esquerda como na direita.
Ou talvez eu esteja enganado e o maior desenvolvimento científico e tecnológico esteja sendo forjado em centros de pesquisa e empresas somalis.Vai ver que é isto.
Fala sério!!!
Parte do texto do Murphy, linkado pelo Eric:
"Até agora, posso imaginar o leitor endossando de modo geral a análise acima, porém ainda resistindo à minha conclusão."
Eu achei que só faltasse bom senso, mas agora eu vejo que falta até modéstia pra esse pessoal.
Meus caros,
"Stateless in Somalia, and loving it", MAS O SUJEITO NÃO MUDA PARA LÁ, NÃO É MESMO?
É igual a Cuba. Cuba no dos outros é refresco!!!!
Saudações
Olá Rodrigo, queria compartihar um fato interessante sobre o IMB: Um debate sobre os direitos de animais, acabou caindo no assunto, levantado por mim: Mises não era anarquista. Como sempre, Fernando Chiocca publicou seus nada agradáveis comentários dizendo que Mises concordou com tudo que Rothbard disse sobre anarcocapitalismo.
Resolvi enviar um comentário criticando a postura dele, nada educada, escrevi o seguinte:
"Infelizmente, os comentários do senhor Fernando são quase sempre ofensivos e escritos sob um indiscutível furor. Suas palavras carregam imensas ofensas pessoais desnecessárias a pessoas que discordam de seu ponto de vista. Tenta destruir argumentos contrários aos seus dogmas apenas com refutações subjetivas e emocionais. Suas frases tentam inferiorizar indivíduos discordantes, com um inegável ar de superioridade.
Acima de tudo, o caro Fernando Chiocca tem ódio a divergentes, taxando-os de imbecis numa vã tentativa de superiorizar-se. Seu comportamento se caracteriza inadequado aos padrões de pessoas que podem ser chamadas de cordiais e civilizadas.
Espero que tal indivíduo abra os olhos para ver o quão baixo é o nível que ele próprio atribuiu a si.
Quanto a suas afirmações sobre Mises, mais uma vez, não sei se está sendo desonesto. Mises defendeu o Estado em seus livros, sem corrigir uma palavra escrita. Afirmando ser a instituição necessária a uma economia de mercado. Seus livos estão aí, para todos verem. Não sei como alguém que defende a existência do Estado pode supostamente concordar com a filosofia anarcocapitalista.
Enfim, Fernando deixou seus nada agradáveis argumentos subjetivos atribuindo algo contrário às palavras do próprio autor."
Para minha surpresa, tal comentário não foi publicado, da primeira à quarta vez que tentei, nem o meu comentário reclamando disto o foi.
Mandei uma mensagem para o site pedindo explicações, quem me respondeu foi o próprio Fernando Chiocca:
"Muito obrigado pelo elogio ao nosso trabalho
Parece que você está querendo mandar um recado para mim mesmo.
Já o li e já o deletei.
O motivo é que ninguém disse que Mises era anarcocapitalista, e você repete isso mais uma vez em seu comentário, mesmo depois de tantos esclarecimentos. O nome disso é trollagem, e trollagem está vetada em nosso site. Se continuar insistindo em trollar, além de suas postagens continuarem a ser excluídas, você será incluído no Black List, o que fará com que elas nem mais apareçam na área de moderação de comentários.
E dizer inverdades sobre o moderador de comentários dificulta muito também seu comentário ser aprovado.
Minha dica para você permanece a mesma: por que não estuda o assunto ante de fazer afirmações sobre ele?
Att.
Fernando"
Que vergonha, censura descarada em um site que se diz propagador das liberdades.
O pior é que ninguém sabe disso.
Enfim, queria compartilhar isso com você e com seus leitores. Se alguém for leitor do IMB, por favor, comente lá sobre ista falha horrível.
Não sei se toda equipe IMB sabe disso.
Obrigado, Leonardo Couto.
'Condição necessária mas não suficiente' é um jeito tosco de falar a coisa mais idiotamente óbvia, que todo minarquista sabe: que o anarco capitalismo só funcionaria numa terra de santos e anjos.
Esse é um site burro, feito por gente lunática, mal educada e arrogante.O próprio Mises, coitado, deve estar se revirando na tumba.
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