João Luiz Mauad, O GLOBO
O movimento Occupy Wall Street é um sucesso — nem tanto de público, eu diria, mas certamente de mídia. Como qualquer iniciativa de esquerda, sua principal queixa é a desigualdade de renda produzida pelo malvado capitalismo. Dizendo-se representantes dos 99%, destilam todo seu ódio contra o 1% mais rico da população, segundo eles os responsáveis exclusivos e principais beneficiários da crise econômica que assola o mundo há três anos.
Suas diatribes, no entanto, carregam um enorme paradoxo, pois os maiores perdedores, em qualquer crise econômica, são justamente os mais ricos. De acordo com o Departamento do Tesouro americano, a renda bruta dos Top 1% era equivalente a 22,83% do total, em 2007. Depois do estouro da bolha, em 2009, caiu para 16,93%. Logo, pela ótica da desigualdade, não há como maldizer as crises, pois elas derrubam a renda dos mais ricos numa proporção muito maior que a dos demais.
Contradições à parte, é sintomático de uma grave doença da alma que essa gente não esteja propriamente protestando contra a pobreza, mas efetivamente contra a riqueza. É por essas e outras que, quando alguém lamenta o famigerado abismo entre ricos e pobres, pergunto se estaria disposto a admitir que os milionários se tornassem ainda mais ricos, desde que isso significasse um aumento significativo da renda dos mais pobres. Quando a resposta é “não”, ela equivale à admissão de que a verdadeira preocupação do meu interlocutor é com o que os mais ricos possuem, e não realmente com o que falta aos miseráveis. Se, por outro lado, a resposta for “sim”, restará demonstrado que a desigualdade é irrelevante.
Outro ponto importante a destacar é que riqueza e bem-estar são coisas diferentes. Nos EUA, 1% população é dona de 38% da riqueza (dados de 2001). Porém, tal distribuição mudaria drasticamente se os bens de capital fossem excluídos da equação, pois 95% da riqueza do 1% mais rico referem-se à propriedade desses bens. Não por acaso, os níveis de consumo e bem-estar das famílias americanas são muito menos desiguais do que a distribuição da riqueza.
O empresário Eike Batista, por exemplo, é milhões de vezes mais abastado do que um cidadão de classe média, como eu. No entanto, provavelmente nós dois ingerimos quantidades equivalentes de calorias diariamente. Além disso, sua comida não deve ser assim tão mais saborosa que a minha. Suas muitas casas devem ser extremamente confortáveis, mas duvido que sejam milhões de vezes mais aconchegantes que a minha. Será que seus filhos são muito mais bem educados que os meus? Não creio. Também é improvável que a sua saúde seja milhões de vezes melhor que a minha.
Desigualdade só é algo injusto quando o status de alguém é medido não pelo que ele tem, mas pelo que os outros têm. Infelizmente, esse é o padrão dos igualitaristas, que sonham com uma inalcançável uniformidade, independentemente da capacidade de cada um de gerar bens e serviços de valor para os demais. É o padrão da inveja, que denota um grande rancor pelo simples motivo de que alguns têm mais, de qualquer coisa, do que a maioria.
Ademais, a desigualdade é um efeito. Sua causa é a diferença de produtividade. Não há uma cesta fixa, preexistente, de riquezas que, de alguma forma injusta, escorrem para os bolsos dos nababos, em detrimento dos pobres. Numa economia livre, a riqueza é constantemente criada, multiplicada e trocada de forma voluntária.
Graças a esse fenômeno, nos últimos 200 anos houve um aumento exponencial do padrão de bem-estar no mundo e, consequentemente, uma redução espetacular dos níveis de pobreza. Só para se ter uma ideia desse milagre, 85% da população mundial viviam com menos de um dólar por dia (a preços correntes), em 1820, enquanto hoje são 20%. Será que esta verdadeira revolução pode ser atribuída à distribuição de recursos dos ricos para os pobres, ou será que isso se deve ao efeito multiplicador da produtividade capitalista?
Proibir um Steve Jobs de ser fabulosamente rico, de fato, reduz a desigualdade, mas não melhora a vida dos pobres. Numa economia verdadeiramente capitalista, na qual o governo não interfere escolhendo vencedores e perdedores, a profusão de milionários, longe de ser algo a lamentar, é altamente benéfica. Em condições de livre mercado, riqueza pressupõe investimentos em empreendimentos rentáveis, onde os recursos disponíveis foram utilizados de forma eficiente na produção de coisas necessárias e desejáveis. Num sistema desse tipo, os ricos criam um monte de valor para um monte de gente, além, é claro, de um monte de empregos.
16 comentários:
Engraçado, os "invejosos" só aparecem em época de crise econômica, de alta no desemprego e recessão ou estagnação econômica. A pobreza nos EUA atingiu o maior índice dos últimos 15 anos. Mas reclamar disso é "inveja". Um problema tão complexo com uma análise tão infantil e simplista. A inveja dos ricos é a causa das manifestações em 2011 ! Por que não pensei nessa hipótese ? Por que os vários analistas não pensaram nisso ? Será porque sem saber somos todos "invejosos" ? Agora, como a inveja humana é complicada. Manifestantes enfrentam polícia e condições difíceis e desconfortáveis (ficar dias acampado numa praça não deve ser lá muito agradável), tudo isso por "inveja" dos ricos ! Estou pasmo com essa descoberta fantástica desse autor.
Alexandre, está pasmo apenas porque não pensa direito.
A inveja esteve no cerne de TODAS as revoltas socialistas! Destruir os mais ricos, impor o "igualitarismo", eis o sonho que movia a turba de socialistas.
A crise, claro, gera insegurança e mais pobreza, o que afeta ainda mais os invejosos, desamparados e em busca por um culpado simples, um bode expiatório. E nada como os ricos para alvo...
...alexandre said...
Engraçado, os "invejosos" só aparecem em época de crise econômica, de alta no desemprego e recessão ou estagnação econômica....
NÃO, ELES SEMPRE APARECEM, MAS NA CRISE DÃO BOLA PARA ELES, HEHEHE
Os ricos são "coitadinhos" ? os banqueiros são "coitadinhos" ? Os ricos como bodes expiatórios não seriam um "pobrismo às avessas " ? A cruel humanidade contra os ricos desamparados ! Vc não acha que está forçando demais a barra ?
E não sei para que tantos livros sobre as revoluções comunistas, explicando as causas e origens. Tudo foi fruto de uma só palavra : inveja. Tão simples.
O autor do artigo entrou em contradição. Senão vejamos.
Num momento ele argumenta no sentido de que os ricos seriam os maiores perdedores com as crises econômicas. Em termos absolutos, é verdade. Mas seu argumento tem em mira minimizar a tese segundo a qual os pobres seriam as maiores vítimas.
Mais adiante, porém, para minorar o peso da desigualdade socioeconômica, ele saca o argumento de que o padrão de vida do rico não seria muito superior ao do pobre que tenha uma vida relativamente confortável e estável. Também é verdade, pois a riqueza não se mede apenas pelo nível de consumo pessoal.
Acontece que o segundo argumento invalida o propósito do primeiro porque, em sendo o padrão de consumo do rico não muito distanciado daquele do pobre, numa crise econômica severa, que gera inclusive desemprego em massa, muito embora a perda absoluta do rico seja maior, o padrão de consumo deste não se altera como no caso do pobre, que pode ser lançado a uma condição de miséria.
No mais, o autor tem razão. De fato, a pregação esquerdista se deve precipuamente à inveja em relação aos bem-sucedidos. Mas, numa crise, além da inveja de muitos, há também o desespero de tantos outros.
Como diria o ilustre Sir Winston Churchill
“O socialismo é a filosofia do fracasso, a crença na ignorância, a pregação da inveja"
"Seu defeito inerente é a distribuição igualitária da miséria”
- Winston Churchill
Já acompanhava seus videos e foi uma satisfação descobrir seu blog.
Excelente texto.
"Dizendo-se representantes dos 99%, destilam todo seu ódio contra o 1% mais rico da população, segundo eles os responsáveis exclusivos e principais beneficiários da crise econômica que assola o mundo há três anos.
Suas diatribes, no entanto, carregam um enorme paradoxo, pois os maiores perdedores, em qualquer crise econômica, são justamente os mais ricos. De acordo com o Departamento do Tesouro americano, a renda bruta dos Top 1% era equivalente a 22,83% do total, em 2007. Depois do estouro da bolha, em 2009, caiu para 16,93%. Logo, pela ótica da desigualdade, não há como maldizer as crises, pois elas derrubam a renda dos mais ricos numa proporção muito maior que a dos demais." a diferença é que o rico tem muito + a perder ! o pobre perder o pouco que lhe resta n sobra nada =) ( sei que n ira aceitar o que estou escrevendo ) como ja fez em outras oportunidades ! "ainda leio seu blog pq ele é um faz me rir melhor do que blogs especializados em comedia" bom o resto do texto como o resto do blog é cômico =) passar bem xD ( dica: tenta n fugir do foco nos seus videos anda fazendo isso com bastante frequência )
Para Alexandre “como a inveja humana é complicada. Manifestantes enfrentam polícia e condições difíceis e desconfortáveis (ficar dias acampado numa praça não deve ser lá muito agradável), tudo isso por "inveja" dos ricos”
E por que outra razão seria? Pelo amor ao próximo? Para que o próximo ganhe mais e V fique com o mesmo ganho?
O ódio, a inveja, a cobiça, a avareza, a ganância, isso é que move o mundo. O mesmo motivo pelo qual V está lá na praça, sofrendo é o mesmo motivo pelo qual o capitalista investe seu dinheiro. Os acima citados. A DIFERENÇA ENTRE VC (eles) E O CAPITALISTA É O SISTEMA. O mérito do capitalismo é fazer todas essas forças demoníacas do homem em um sistema produtivo.
Esse o ponto de partida para compreender os vários sistemas políticos e econômicos. Para Vc analisar o sistema socialista Vc tem de começar concordando com a máxima:
DE BEM INTENCIONADOS O INFERNO É ASSOALHADO. Boas intenções não fazem bons regimes. AO CONTRÁRIO.
Para Maurício Alcides: E porquê o prof Rodrigo iria aceitar seus pontos de vista? Por causa de seu pobre senso de humor? Por sua rapidez em denegri-lo? Querido! Este é um blog de estudo, de raciocínio, de esclarecimento. Vc e eu devemos estar agradecidos ao prof Rodrigo por ele defender pontos de vista que às vezes podemos discordar mas que são pontos de vista necessários a serem DICUTIDOS e não arrogantemente desprezados.
Estamos com o liberal prof Rodrigo porque acreditamos que: "O liberal é humilde. Reconhece que o mundo e a vida são complicados. A única coisa de que tem certeza é que a incerteza requer a liberdade, para que a verdade seja descoberta por um processo de concorrência e debate que não tem fim. O socialista, por sua vez, acha que a vida e o mundo são facilmente compreensíveis; sabe de tudo e quer impor a estreiteza de sua experiência – ou seja, sua ignorância e arrogância – aos seus concidadãos".
Concordo em parte com o texto...
Acho que faltou um ponto importantissimo. Por mais que acho que o movimento esteja dominado por esquerdistas que se aproveitaram da situação para propagar suas ideias ultrapassadas, acho que nao so a inveja seja a responsavel por essa revolta coletiva. O que aconteceu ao longo dos ultimos ano foi um verdadeiro saque no $ da classe media americana. Os inumeros bailouts para bancos e empresas quebrados além de uma politica de taxa de juros zero, que pune o poupador e estimula o gasto e a alavancagem culminaram com essa situação... Acho que falta ao movimento um foco nesse ponto, que pra mim seria totalmente justificavel de se atacar...
Ou alguem ai tem coragem de dizer que os bonus milhonarios de Wall Street fora efetivamente uma recompensa para cidadaos eficientes e trabalhadores que geraram riqueza na sociedade??
O texto é bom. Mas eu resumiria em NÃO EXISTE O CERTO E O ERRADO.
Deve haver igualdade de oportunidade. Depois , meritocracia. No Brasil nao há nem 1 nem outro.
O diabo do socialismo teve 72 anos (entre 1917 e 1989) para provar que prestava. Quase 1/ 3 da população mundial esteve sob seu jugo durante esse tempo. Resultado? miséria, tirania, ditadores psicopatas e mais de 100 milhões de morto.
Tenho nojo da esquerda e de seus pseudo-intelectuais incapazes de gerir uma quitanda de frutas (não sabem o que é logistica, custos, ativo, balancete, etc) mas que querem dar opinião na macroeconomia e no capital internacional.
Rodrigo, tenho uma dúvida. De que modo poderia se conciliar uma economia liberal com o problema da limitação dos recursos naturais sem a intervenção do Estado ou algum órgão imaprcial?
DragaoShenlong, o que você quer saber é como preservar recursos naturais sem a intervenção do Estado? É isso? Se for isso, a solução claramente não é o Estado.
Se quiser material detalhado sobre esse asssunto: http://www.mises.org.br/Subject.aspx?id=2
CREIO QUE ASSISTIU MEIA NOITE EM PARIS, NAQUELE FILME ENCCONTREI UMA DAS VIDAS DA MINHA ALMA, A LIVRE QUE CORRE ENTRE AS MESAS, INDEPENDENTE NA JORNADA E NA ENTREGA, MUITOS AMANTES E MUITAS TROCAS CFE A LIBIDO ERA SUSTENTADA PELO EROS COGNITIVO...QDO PASSADVA O DESEJO, TROCAVA-SE DE AMIGO E ASSIM COM O OUTRO AMIGO DE UM ANTIGO AMIGO IA SEGUINDO E AMANDO...ME VI NAQUELE FILME COMO A PERSONAGEM QUE RESOLVEU PERMANECER NA BELLE EPOQUE ....
Postar um comentário