João Luiz Mauad, O GLOBO
A repercussão da morte de Steve Jobs e as merecidas homenagens a ele prestadas, inclusive e principalmente aqui no Brasil, são dignas de registro, pois mostram talvez uma mudança profunda na opinião pública, historicamente avessa ao capitalismo em geral e aos capitalistas em particular. Devido a uma persistente cultura de privilégios e do intenso compadrio entre agentes públicos e privados, vigente por aqui desde priscas eras, a imagem dos empresários sempre foi a pior possível, não raro considerados ladrões, sonegadores ou exploradores do trabalho alheio.
O egoísmo é outra pecha frequentemente lançada contra os empreendedores para desmerecer seu trabalho e as realizações. Os detratores anticapitalistas esquecem que quase todos nós trabalhamos somente em proveito próprio. A única diferença é que a compensação pelo trabalho, seja ele de um humilde servente ou de um renomado cientista, é o salário, enquanto a dos empresários é o lucro. Aliás, há outra importante diferença: o risco. Os assalariados recebem pelo trabalho executado independentemente do resultado alcançado, mas os capitalistas serão recompensados apenas caso os seus investimentos e esforços se tornem lucrativos.
No verdadeiro capitalismo - onde a eficiência é recompensada, a ineficiência é punida e os favores do Estado estão fora do alcance -, a luta pela sobrevivência é tão dura que o bom empresário não pode se dar ao luxo de olhar o interesse social, mas unicamente os seus próprios interesses, sob pena de sucumbir ante a concorrência alheia ou a ineficiência própria. Contudo, foi justamente este famigerado "egoísmo" o responsável pela criação de produtos e serviços que transformaram o mundo num lugar muito melhor para viver.
Por mais que possa parecer estranho, foi graças à ambição de homens como Steve Jobs que a imensa maioria dos nossos contemporâneos goza hoje de um padrão de vida bem acima do que, há apenas poucas gerações, era impossível até aos mais abastados. Ou alguém duvida que o autointeresse dos capitalistas está por trás de quase todas as inovações tecnológicas que, de alguma forma, concorreram para satisfazer boa parte das carências humanas?
Convido-o a pensar algumas das maravilhas já criadas pelo engenho humano. Pense nos automóveis, locomotivas, navios e aviões, que possibilitam deslocamentos cada vez mais rápidos e seguros. Pense nos eletroeletrônicos que facilitam a vida e entretêm bilhões de indivíduos: geladeiras, televisores, máquinas de lavar, micro-ondas, condicionadores de ar, computadores, telefones celulares. Pense nos equipamentos que ajudam a tornar a medicina muito mais eficiente e prática, como tomógrafos, centrífugas, aparelhos de ultrassonografia, de ressonância magnética, microscópios eletrônicos, microchips, marca-passos. Pense na indústria farmacêutica, seus avanços e descobertas. Pense, por exemplo, que, há poucos anos, a maior parte dos doentes com úlcera gástrica terminava numa mesa de operações e hoje aquela é uma doença facilmente tratável com medicamentos. Pense na agricultura e nos avanços de produtividade que permitem alimentar um contingente humano que cresceu de forma geométrica, contradizendo as previsões catastróficas de Thomas Malthus e seus seguidores.
Esses avanços, e toda a fantástica geração de riquezas conseguida pelo homem, foram obtidos graças à divisão e à especialização do trabalho e, acima de tudo, ao interesse pessoal dos indivíduos, principalmente dos execrados capitalistas. Sem isso, talvez a maior parte da população ainda estivesse labutando de sol a sol, morando sem qualquer conforto e sujeita a condições extremas de insalubridade. Sem falar do cotidiano monótono, restrito a atividades básicas de sobrevivência.
Sem a recompensa pessoal, seja ela fruto da remuneração do trabalho ou do capital (lucro), não há incentivo para que os indivíduos produzam, invistam, pesquisem, desenvolvam novas tecnologias, criem e coloquem novos produtos e serviços à disposição dos demais. Analisem a relação de ganhadores do Prêmio Nobel nas áreas de ciência e tecnologia. Onde está (ou esteve) domiciliada a imensa maioria deles? Sem dúvida, em países onde há liberdade econômica (capitalismo) e, consequentemente, a busca pelo lucro. Será que isso acontece por acaso?
18 comentários:
Título brilhante!
Muito bom, meu caro guerreiro.
Excelente texto Rodrigo. Os socialistas, por ideologia e os de turno, por conveniência, adoram satanizar o capitalismo,(as elite), mas adoram ainda mais se beneficiar dos bens e serviços que daí provém e quando o estado arca com os custos desse benefício pessoal.
Clap, clap, clap!
E ninguém é obrigado a comprar de qualquer capitalista. Você é livre pra tentar produzir seus produtos sem qualquer "mais-valia"
Eles não morreram de overdose, mas Jobs declarou que o LSD mudou sua cabeça para melhor e brincava com Gates chamando-o de "careta". Hehe
Bom mesmo. Importante ler e refletir no assunto.
Falácia, falácia e mais falácia...o avanço tecnológico provém desde a pré-história, e deriva muito mais da necessidade de sobrivivência e defesa do que de conforto...no último século, por ex, as principais novidades tecnológicas decorreram da corrida armamentista (EUA x URSS) do pós-guerra (2ª GM)...Usar o conforto cotidiano atual como argumentos pró-capitalismo, além de preguiça mental, é desastrosamente desonesto...Como explicar que um Fastão da vida seja "recompensado" com um salário mensal de R$ 2.000.000,00 (dois milhões de reais) e um gari com apenas R$ 622,00 (salário mínimo)? Isso é capitalismo! Ou seja, a recompensa é sempre INJUSTA...Se a recompensa fosse justa, eu seria o maior defensor do capitalismo...
Gerson - militar do EB
Gerson, a resposta para seu enigma é fácil demais. Porque milhões de pessoas QUEREM VER O FAUSTÃO, e não um gari, na TV. Recurso escasso. Oferta e demanda.
Agora, se o gosto do povão é lamentável, isso não é culpa do capitalismo...
Acho que vc não entendeu meu "dilema moral"...a comparação do Faustão com um gari restringe-se ao valor da "recompensa" entre um e outro pelo trabalho que exercem, e não pela aparição na TV...que trabalho, de um e de outro, é mais importante para a sociedade? considerando plausivelmente que o gari é mais importante, conclui-se que o capitalismo é muito perverso, não? ainda mais quando sabemos que as "zelites" prescindem muito mais do Faustão do que do gari...e vive-versa o povão em relação ao gari...
Para o capitalismo, não basta produzir/trabalhar, tem que produzir dinheiro...esse é o problema, pois, como o povão nunca tem dinheiro, jamais vai produzir dinheiro...enquanto isso, os "famigerados" capitalistas não precisam produzir nada, apenas investir nos fundos lucrativos ou em off-shores de algum paraíso fiscal, enquanto fazem um tour por Miami, Paris, Londres, etc...
Portanto, meu caro Rodrigo, o capitalismo, pelo menos o brasileiro, é responsável, sim, por manter a atávica miséria do povão, enquanto se refastela com os picos de audiência do Faustão, aumentando ininterruptamente seus lucros perversos com sua insaciável ganância maquiavélica...
Ah, e o Faustão é apenas um case aleatório...poderia usar outros exemplos mais deploráveis da pervesidade capitalista...Verônica Serra, Lulinha, Daniel Dantas, Preciado, Ricardo Sérgio, Naji Nahas, Maluf, dentre outros...
Abç
Gerson - militar do EB
Gerson, seu erro é não entender o conceito de marginalidade econômica. Vc compara Faustão com garis. Mas vamos comparar a alegria que Faustão gera para milhões de brasileiros no domingo com o trabalho de UM único gari que, convenhamos, pode ser facilmente replicado por qualquer um. Qual gera mais VALOR monetário para a sociedade? Ora, deixe que ela mesmo te diga por meio de trocas voluntárias!
Não confunda ainda valor monetário com valor de estima. Vc pode estimar mais um médico do que um apresentador de TV ou jogador de futebol, mas isso não quer dizer que o médico tenha que ser mais RICO. Ou vc é tão materialista assim a ponto de medir o valor das PESSOAS por suas contas bancárias? Eu não.
Ah sim, os casos que vc cita não tem nada a ver com o capitalismo liberal, e sim com o CAPITALISMO DE ESTADO, ou semi-fascismo, semi-socialismo, que vigora no Brasil patrimonialista. O problema é justamente governo demais e liberdade econômica de menos!
Esse seu capitalismo é tão utópico quanto o é o meu comunismo...e estimar pessoas por sua conta bancária, convenhamos, é próprio dos capitalistas...quem tem dinheiro não entra em fila de banco, tem acesso direto aos gerentes...o artigo do João Mauad defende o sistema de "recompensas" do capitalismo como algo bom, o que não é verdade...o que o capitalismo faz é justamente premiar alguns poucos endinheirados, mantendo o povão na miséria, em estado permanente...somente quem tiver a sorte de nascer com algum talento valorizado pelo capitalismo(que produza mais dinheiro) é que obtém alguma recompensa (é o caso de esportistas e artistas em geral)...não é improvável que algum gari possa substituir o Faustão a contento (conheço dois garis que estão fazendo faculdade)...a estima que valorizo é o bem maior que o agente produz em favor de uma coletividade...não comparei o Faustão e UM gari, mas, sim, o TRABALHO (o bem maior) de um e de outro...a greve de garis italianos (não lembro a data) é bom exemplo desse tal "bem maior"...todos passam tranquilamente sem o TRABALHO do Faustão, mas duvido muito que todos passem tranquilamente sem o TRABALHO dos garis...é desse valor que estou tratando...se o capitalismo fosse um sistema decente e justo, o TRABALHO dos garis seria tão valorizado quanto o TRABALHO de uma apresentador de TV...eu creio que TODA e QUALQUER pessoa devia ter uma vida material digna, pois que TODA e QUALQUER pessoa detém algum talento natural ocultado pelas condições de origem e vivência(sócio-financeiras, basicamente)...é tudo uma questão de OPORTUNIDADE...se vc, Rodrigo, tivesse nascido no sertão nordestino, de família paupérrima, muito provavelmente NÃO teria tido a OPORTUNIDADE de estudar Economia na PUC...e o que o capitalismo tem a ver com isso? Muito, porque seu falho e injusto sistema de "recompensa" reduz a zero essa oportunidade...conclui-se, finalmente, que essa tal "recompensa" não é função de qualquer ESFORÇO, mas sim de determinado esforço (favorável ao capital)...nos meus devaneios comunistas, um gari deveria ganhar um salário semelhante ao do médico, já que ambos lidam com saúde (um erradica doenças e o outro previne da ocorrência delas)...o mantra capitalista da "oferta e procura" não explica todas as relações de troca, mas tão-somente o que é conveniente...
Quanta besteira! Quanto clichê comunista!!!
O capitalismo espalha a miséria? Deve ser por isso que Hong Kong, Austrália, Canadá, Suíça, Nova Zelândia e tantos outros logais são miseráveis. Ou vai ver são ricos porque exploram a África!
Minha nossa. É perde de tempo mesmo com certas figuras.
"Esse seu capitalismo é tão utópico quanto o é o meu comunismo..."
Esse cara não pode estar falando sério...
O Gérson não percebe que a tv Globo paga ao Faustão parte do que recebe de verbas publicitárias de empresas que produzem bens de interesse geral, cuja concorrência nas tv's contribui para o aperfeiçoamento e barateamento desses mesmos bens, em razão dos quais ganha o consumidor em geral, inclusive o gari. E também ganha o Estado, ao tributar a produção e a circulação desses bens.
A ideia do Gérson não é praticada nem mesmo nos países comunistas. Ou ele acha que um gari ganha o mesmo que um chefe de cerimonial ou um apresentador de tv oficial na Coréia do Norte ou em Cuba?
Outra coisa que Gérson não percebe é que Faustão (e tantos outros) ganhariam muito menos ou até estaria fora do ramo da tv se não houvesse patrocínio e que este só existe por conta da concorrência. Monopolista não tem necessidade de anunciar seus produtos e serviços nem de aprimorá-los e barateá-los. Ou seja: por Faustão ganhar o que ganha, é bem possível que o gari esteja tendo acesso a produtos mais baratos.
A diferença em relação aos países socialistas é que neles ganha mais quem tem mais importância para o partido dirigente e quem mais lhe puxa o saco.
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