segunda-feira, junho 25, 2012

A ciência triste

Luiz Felipe Pondé, Folha de SP

Proponho que a próxima conferência para economia sustentável seja em alguma reserva dos povos da floresta. Deixem que eles organizem o evento e paguem por ele, já que são sacerdotes da sustentabilidade.

Todos os chefes de Estado dormindo em tendas, comendo comida da floresta, logo, muito mais sagrada e saudável. Além do fato que esses povos são imaculados e não desejam em hipótese alguma ganhar dinheiro com sua condição de "vítima social", por isso podemos confiar neles mais do que na Hillary Clinton.

Os que mais atrapalham são os gurus da ecologia profunda ou contracultura verde. Gente que afirma que o que precisamos é de uma "inovação social e psicológica" e não apenas de uma economia que assimile o fato de que os recursos naturais são limitados e que as demandas humanas de bem-estar e conforto são infinitas.

Não levar essa contradição estrutural a sério cria a insustentabilidade a médio e longo prazo.

Essa gente acha que o mundo inteiro pode ser a Dinamarca e seus mil habitantes. Eu concordo mais com os setores que buscam soluções tecnológicas e de mercado para enfrentar esta contradição entre demanda humana infinita e recursos naturais finitos.

Claro que isso implica educação e um trabalho gigantesco, mas nada disso virá de mudarmos nosso estilo de vida para o paradigma dos povos da floresta que viviam até ontem no neolítico. Ou reprimir o consumo via um estilo misto de "gestão" entre Stálin e hippies velhos.

Gente assim, os defensores de "inovações sociais", crê em "soluções" como as elencadas no relatório da UNEP 2011 da ONU "Visions for Change - Recommandations for Effective Policies on Sustainable Lifestyles".

Soluções no mínimo complicadas se pensarmos em sociedades complexas como as nossas com populações crescentes. Imagine nós vivermos num mundo em que cultivássemos nossa horta e criássemos nossas cabeças de gado (comer carne já é uma concessão ao "pecado da carne dos carnívoros", gente que deve desaparecer ao longo do tempo)... Se você quiser uma geladeira ou um iPad, faça em casa...

É fácil pensar na Noruega assim (estou exagerando...), mas e a Somália? Claro, estes já vivem no neolítico mesmo...

Outra marca da ecologia profunda que atrapalha a discussão séria sobre a contradição de nossa condição insustentável é a mistura entre sustentabilidade e demanda por erradicação da pobreza e justiça social (seja lá o que isso queira dizer...) como parte de uma economia sustentável.

O problema é que a ideia da erradicação da pobreza é em si insustentável, se pensarmos para além do horizonte intelectual "teenager". Isso pode ser triste, mas é por isso que a economia é conhecida por ser uma ciência triste ("dismal science", como dizia o historiador britânico do século 19 Thomas Carlyle).

Vejamos. Para erradicar a pobreza numa população crescente e ansiosa por uma vida confortável deve-se produzir riqueza contínua. Para isso, deve-se explorar recursos continuamente (o que é chamado de economia não sustentável) e aumentar o consumo, porque se as pessoas param de comprar o dinheiro para de circular.

Mas os gurus da economia "teenager" falam de diminuir o consumo como quem fala "as pessoas deveriam ser mais generosas", quando eles mesmos estão prontos a brigar com os irmãos por um apê minúsculo na Praia Grande.

A única solução para esses gurus (mas eles não confessam porque ficariam mal na fita) seria um regime totalitário global, o que chamo de fascismo verde, criar economias planejadas à la Lênin. O óbvio é que isso geraria pobreza em larga escala, como gerou antes.

Outra solução é erradicar o crescimento populacional matando 2/3 da população ou proibir a reprodução por alguns séculos. Ou matar idosos. Puro horror, não?

Enfim, problemas reais existem, mas as soluções não existem à mão de uma "cúpula dos povos".

Por isso, a angústia ambiental resvala na espiritualidade verde, sempre infantil e autoritária, que acha que comendo comida orgânica os seres humanos deixarão de ser o que são: seres que buscam diminuir a dor e otimizar o bem-estar a qualquer custo.

10 comentários:

Anônimo disse...

Acho estranho que os ambientalistas praticamente ignorem isso que considero a solução óbvia para os problemas ambientais, sociais e economicos: o controle da natalidade. Principalmente no Terceiro Mundo, onde a população mais procria , justamente os miseráveis e ignorantes, é necessário incrementar os programas anti-concepcionais e abortivos, procurar esclarecer e incentivar e mesmo adotar medidas enérgicas, como na China.O articulista, contrário a esse controle de natalidade, exagera no tema, falando em extermínios, nazismo, etc.
Nos paises de Primeiro Mundo, por exemplo na Escandinávia, a população já se estabilizou e se atingiu um bom nível economico e de preservação ambiental. Esta é um ótima meta para os demais paises.

Paultruc

Anônimo disse...

Eu gostaria de saber do Sr. Pondé onde é que ele arrumaria 33 trilhões de dólares, que é o valor dos serviços ambientais proporcionados a nós pelos ecossistemas de acordo com um estudo de 1997. Um pouquinho mais de números e um pouquinho menos de filosofia vazia lhe cairia bem.

Anônimo disse...

Controle populacional, com impostos exponencialmente crescentes c/ o no. de filhos (uma coisa chinesa, sim, e quem tiver idéia melhor estamos aceitando sugestões). Doses cavalares de progresso técnico. Sem isso esse mundo vai virar uma merda. E não venham com esse papo de deixar o custo dos alimentos barrar o crescimento populacional que isso é balela.

Lourival Marques disse...

É fácil entender por que os ambientalistas não focam muito em controle de natalidade: eles precisam ter à disposição uma massa de miseráveis prolíficos para brandir contra "as grandes corporações, os donos do capital", enfim, aquela ladainha de sempre. Mais ou menos o que a Igreja Católica sempre fez para comover meio-mundo e encher os cofres do Vaticano de grana.

Sem miseráveis, ambientalistas e padres não têm futuro. Simples assim.

Anônimo disse...

Multa pra quem tem muitos filhos é incentivo contra somente pra quem é capaz de entender e pensar no futuro, só que o infeliz que faz seis, sete filhos sem ter dinheiro pra criar nenhum já faz isso justamente pq é incapaz de pensar com lógica

Ma disse...

Adorei o texto, perfeito. Também não entendi porque pessoas peladas estavam na rua protestando contra a economia verde. Enquanto as externalidades negativas não forem "monetizadas", o bla bla blá não vai por si só convencer a população de "proteger o meio ambiente". A mim não convence, infelizmente (ou felizmente) a evolução traz o conforto e demanda por insumos. Todos os radicais estilo Avatar falam demais em sermos "legais e proteger o meio ambiente", mas não desligam o ar condicionado no calor, certo? Então é pegar leve nesse radicalismo imbecilóide e tentar souções economicas e viáeis.

Anônimo disse...

As pessoas que comentaram são meio Nazi! Sinceramente, eu acho que a solução para a pobreza no Mundo é a produção de riqueza. Mas, riquezas já são produzidas e ainda existem pobres. Simples: o que impede os pobres de saírem da condição de pobreza são os parasitas dos governos. Onde há MAIS GOVERNO há mais desigualdade social. Na verdade, a Pobreza é o estado natural da humanidade. A Riqueza é que é "o diferente". Esse "diferente" é produzido onde há mais liberdade: Singapura, Austrália, Canadá, Estados Unidos, etc.

samuel disse...

o artigo do Condé é bom porque enfatiza a falta de lógica e coerência no trato do problema ambiental

André disse...

Da onde vocês tiram que ambientalistas não focam no controle de natalidade?Tal controle é uma das bandeiras mais caras aos ambientalistas inclusive no Rio+20,eles pensam em controle de natalidade o tempo todo.

Anônimo disse...

' Simples: o que impede os pobres de saírem da condição de pobreza são os parasitas dos governos.'

Como as ideologias simplistas são agradáveis!