Rodrigo
Constantino
O
artigo de Claudia Safatle no jornal Valor Econômico hoje é elucidativo da forma
de pensar deste governo. Segundo a bem informada articulista, o Palácio do
Planalto acredita que “as maiores críticas e desconfianças são fomentadas pelo
mercado financeiro e atribui isso aos interesses contrariados dos banqueiros,
que teriam perdido o ganho fácil da alta taxa de juros que sustentava os
elevados lucros do sistema”. Por isso o mau humor do mercado e os baixos
investimentos no país.
O
“mercado”, em outras palavras, age de má-fé ou sofre de incompreensão por
acreditar que a presidente Dilma é estatizante. Na cabeça da fonte no governo,
Dilma é pragmática e pró-mercado. E o mais importante vem depois, na explicação:
ela é pró-mercado porque escutou Delfim Netto, o Sarney da nossa economia, e se
aproximou da indústria e de grandes empresários. O governo até selecionou um
grupo de 30 grandes empresários para reuniões!
Em
seguida, a fonte dá a entender que políticas cambiais são decididas com base
nas opiniões desses grandes empresários: "O Banco Central entrou no
mercado de câmbio, porque 30 empresários vieram aqui e pediram isso à
presidente". Trata-se de algo da maior importância, se for verdade. Isso
significa que a Fiesp e a Firjan “assumiram” a gestão do governo, fizeram lobby
para mexer artificialmente no preço de nossa moeda em busca de vantagens
pontuais e insustentáveis, e que o governo cedeu. Para o inferno com o preço
livre! Isso é coisa de quem acredita no... mercado!
Outro
exemplo de um “pedido” atendido diz respeito ao pacote de energia recente, que
visa à redução das tarifas na marra, jogando a conta para as estatais. A Fiesp
e a Firjan chegaram a gastar um bom dinheiro para fazer pressão na imprensa,
com anúncios enormes aplaudindo a “presidenta” (quem usa esse termo já se
entrega no ato como puxa-saco, até porque Dilma não deve ter sido uma boa
“estudanta”). A Eletrobrás despencou e perdeu bilhões em valor de mercado.
Resumindo,
Dilma é pró-mercado porque tem Delfim Netto como guru (aquele mesmo lá de trás,
daquelas ideias heterodoxas fantásticas para combater a inflação), acata
pedidos da Fiesp e Firjam com foco no curtíssimo prazo, e se reúne com 30
grandes empresários em uma sala para escutar suas demandas. E o mercado
financeiro não gosta, considera a presidente intervencionista, porque não
compreende as coisas ou deseja a era dos altos juros de volta.
Alguém
precisa explicar para a turma do governo que simbiose entre governo e grandes
empresas não é pró-mercado, e sim pró-negócios grandes. Isso tem até um nome
feio lá fora: capitalismo de compadres. No limite, fascismo também atende,
principalmente quando lembramos que as máfias sindicais participam da farra.
Conceder privilégios para o Eike Batista e para a CUT não é ser pró-mercado nem
aqui, nem na China!
Em
outra reportagem do mesmo jornal, o modelo do governo Dilma fica mais claro:
Tesouro banca 51% dos empréstimos do BNDES. Foram quase R$ 280 bilhões entre
2009 e setembro de 2012, sendo que quase dois terços foram para grandes
empresas. O banco cobra taxas subsidiadas, muitas vezes abaixo da própria
inflação. Um seleto grupelho de uma dezena de grandes empresários mama nas
tetas estatais, e Dilma acha que é pró-mercado assim?
Mercado
é livre concorrência, ausência de privilégios, poucas barreiras à entrada de
novos competidores, direito de propriedade bem definido e segurança jurídica.
As intervenções arbitrárias do governo Dilma não guardam semelhança alguma com
esse modelo. O “desenvolvimentismo” nacionalista de Dilma, sob a influência de
Delfim Netto, da Fiesp e do “grupo dos 30”, representa o oposto de um modelo
pró-mercado.
Ao
que tudo indica, o pessoal do Palácio do Planalto realmente não compreende
isso. E fica depois perplexo porque a reação dos investidores não é aquela
esperada. Insanidade, dizia Einstein, é fazer tudo igual novamente e esperar
resultados diferentes.
5 comentários:
Eu me pergunto como é que nossa Governanta Suprema vai chegar em Davos ano que vem com este pibinho...
Nao é o governo que não entende isso ou aquilo. Ele sabe exatamente qual política populista de curto prazo está conduzindo. Quem não sabe é o povão, que votará de novo na presidanta no apedeuta, na 1a. oportunidade. Reversão dessa situação? Sem previsão. Talvez, depois de algumas décadas perdidas, resultado que é especialidade do Delfim.
Complemento para Gustavo Inubia said 3:04 PM
Gustavo! Ela vai chegar a Davos e dar essa lição de economia aos Europeus. Dizer que devem fazer o que ela está fazendo no Brazil! SEM PISCAR!
Bem aventurados os pobres de espírito DELES É O REINO DE BRASÍLIA
Eu acho incrivel..... em 1o lugar o nosso portugues do Brasil (digo Brasilia) alterou toda gramatica.... quando eu aprendi portugues nas escolas estaduais o Substantivo PRESIDENTE era neutro e pelo que sei nada mudou..... quem esta ganhando milhões por ano pouco se importa se o povinho tem ou não instrução para pleitear um lugar melhor ao sol, e diga-se de pasagem que os novos profissionais recem-saidos das escolas não terão mercado de trabalho.......
Comparando o misero salario pago hoje no Brasil com salarios em outros paises eh ridiculo falar em PIB....nenhum profissional qualificado ganha o que merece ....
Brilhante !
só faltou acrescentar o "custo - corrupção" !
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