segunda-feira, janeiro 14, 2013

“Matamos e fomos comer jaca!”

Dr. José Nazar

“Matamos e fomos comer jaca”. Este foi o título da matéria de Wilton Junior, publicada no jornal A Tribuna, onde três adolescentes assassinaram uma criança de 11 anos idade – maltrataram o menino e depois o enterraram ainda vivo, ...“e fomos comer jaca”.

Esse é mais um drástico acontecimento que reforça, mais uma vez, a necessidade urgente de uma revisão da lei da maioridade penal. A virulência de um crime não pode ser medida a partir de uma idade cronológica.
Pelo teor do crime praticado, o cumprimento de uma pena em si, pode durar uma vida. A realização de um trabalho de ressocialização do autor do crime deve ser levado a sério no que diz respeito à gravidade de sua periculosidade.
Na Inglaterra, por exemplo, temos vários exemplos de crianças de 10 a 12 anos que sofreram penas de algumas décadas, por terem cometido assassinatos. Naquele país, a maioridade penal vale a partir dos 12 anos.
A realidade deve ser concebida como uma realidade. Se quisermos mudar alguma coisa em nosso país devemos deixar de lado os sentimentos e passarmos a lidar com crua realidade dos fatos. A estabilidade na vida será maior quando pais conseguirem adotar, verdadeiramente, os seus filhos.
Isso não é simples: filhos desejados, filhos não desejados. A sociedade, a partir das suas instituições competentes, deve adotar, como numa família, os menores que sinalizam, aqui ou ali, práticas desviantes. O bom trabalho de agentes públicos deve incluir o atrevimento de uma implicação que não se acomode nas regras dadas de antemão.
Uma intervenção somente promove mudanças significativas se ela mesma opera nas bordas e nos limites impostos pela ordem estabelecida.
Se a sociedade se isenta de sua responsabilidade pelos atos desviantes desses jovens estes, cada vez mais, serão colocados à margem do convívio pelo caminho da violência.
Insisto, a lei da maioridade penal, ainda vigente em nosso País, tornou-se uma lei perversa. Uma lei que não mais preconiza os limites necessários – o que legitima uma lei como lei é o seu caráter de necessidade –, estimula o jovem em violência a um desvio de seu itinerário, levando-o facilmente ao mundo da criminalidade.
Ministros, desembargadores, políticos, juízes, promotores, delegados, policiais, advogados, estudantes de Direito, famílias: onde estão que não se pronunciam? Nada dizem, nada fazem, tudo permanece como está! Vivemos uma vida emudecida.
As famílias vivem em seus isolamentos, voltadas a uma individualidade insensata, narcísica, sem caminhar rumo a uma conquista social.
Numa família os pais precisam punir seus filhos para que aceitem os limites da lei impostos a seus atos, o mesmo deve se repetir em sociedade quando jovens têm dificuldade em reconhecer que todo ato gera consequências que esbarram nos limites da mesma lei civilizatória.
Não se educa, não se ensina responsabilidade, isentando crianças e adolescentes das consequências de seus atos. Adolescentes que se tornam violentos, frequentando os territórios de uma marginalidade, carregam na cabeça a fantasia de que não foram desejados pelos pais, que teria sido melhor não tivessem nascidos, já que não encontram um lugar na sua própria existência.
Por isso mesmo, muitas vezes os cuidados vindos da sociedade não encontram uma resposta que corresponda aos investimentos amorosos. São sujeitos que carregam uma desesperança tão assustadora que a vida em si não tem valor.
O que dizer quando um filho torna-se a resposta impensada de uma gravidez inconsequente?
O que é fundamental é que tenha havido desejo na união de um homem e de uma mulher, para que possam ocupar a função de pai e de mãe.

José Nazar é psiquiatra e psicanalista.

Artigo publicado no jornal A Tribuna em 13/01/13.

2 comentários:

lgn disse...

Prezado Sr. Penso que os seus colegas de profissão têm muito a ver com o comportamento dos indivíduos em nossa sociedade. Sou de uma época onde se fazia a seleção para as aeromoças do 14 Bis. Observo, portanto, a transformação ocorrida na sociedade, não somente na aplicação dos conhecimentos científicos e suas criações, mas também na mudança de comportamento entre as pessoas. Apenas como observador, friso. Mas a minha memória me traz às primeiras interferências de seus colegas no sentido de alterar comportamentos e a palavra que me vem à mente é repressão. Nossos avós e pais, de acordo com a visão que começava a se formar nas escolas, agiam de forma totalitária,dura, quase inumana, impedindo que algum filho daquela geração pudesse se desenvolver plenamente e se realizar na vida. Éramos todos reprimidos e portanto sofríamos, inevitavelmente, as consequências dessa errada educação. Não discordo que houvesse repressão, violência e admoestação frequente nessa forma de educar. Mas aí a coisa foi se transformando e da repressão se passou ao deixa estar para ver como é que fica. Liberdade sem medo, como ponto de partida para muitos colegas seus. Nada de reprimir, as crianças deveriam se educar da forma mais natural possível e os pais, também diante de transformações jamais sonhadas na sociedade, também colaboraram com fato. Mãe educadora e pai provedor se transformaram em provedores e adeus educação familiar. Juntando esses dois fatos, o que se vê é que está sendo passada para os professores a difícil missão de educar crianças que vem de seus lares cercadas de carinho, amor, e liberdade. Uma forma de compensar a ausência imposta pelo modelo social. Não discuto se isso é certo ou errado, mas esse é um fato. E o que percebo são crianças arrogantes, mal educadas no sentido de respeito ao próximo, sem limites. Quer estejamos num restaurante, no cinema, no teatro, em qualquer lugar público e elas simplesmente ignoram o meio onde estão. Comportam-se como se o mundo fosse feito para elas e tão somente. O mesmo processo que oferece o bem, oferece o mal e aí surge também a televisão, sinônimo dessa época de liberdade. Tudo deve ser mostrado porque, dizem os entendidos, essa é a realidade. Mas, porém, todavia, no entanto, no entretanto, eu raciocínio como um administrador. O resultado. Está melhor hoje do que antes? Estamos caminhando para uma sociedade que se quer justa, democrática, pacífica, solidária, fraternal? Lima Duarte, numa entrevista, disse que sua infância foi marcada por cuidados que eram preocupação de seus pais. "Cuidado com os bichos" orientavam eles. Porque, no campo, o perigo eram os animais peçonhentos, cobras, aranhas, escorpiões, enxame de vespas, etc. Mas quando veio para a cidade, o cuidado passou dos bichos para o homem. Cuidado com os homens, eles são perigosos. Hoje ele tem mais de oitenta anos. Como seria sua opinião a respeito do mundo em que vive? Será melhor? O respeito pelo outro aumentou? O código moral e a ética cresceram entre nós? Há muito a se comentar sobre o assunto, mas os senhores, tanto psicólogos como psiquiatras, deveriam fazer uma auto-crítica dos caminhos que ajudaram e ajudam a marcar a história dos homens.E nem toquei no assunto de se omitirem diante de ideologias assassinas travestidas de pacíficas e humanas.

Anônimo disse...

Com toda sinceridade, tanto a psicanálise qto a psiquiatria cometem um erro de base grotesco: partem da falsa premissa de que suas bases teoricas podem explicar o comportamento humano dentro de uma perspectiva holistica, ou seja , reduzem o homem, fragmentam-no e consequentemente impôem seus dogmas. Exemplo: segundo estas peseudo-doutrinas cientificas não se deve dar nem uma bela palmada numa criança, ou seja, vão teorizar e tentar validar suas pretensas leis cientificas, mas o resultado é o que vemos, uma geração repleta de arrogancia, sem limites. Que saudade dos velhoes tempos!!!
Ronaldo