MP Advisors - Carta de Fevereiro
Dilma
teve dificuldade para dormir nesta noite, o jantar ainda brigava com os sucos
gástricos; os pensamentos ruins iam e vinham e nada do sono chegar. Após muito rolar na cama, e com o auxílio de
uma destas maravilhas capitalistas da indústria farmacêutica, ela finalmente
pegou no sono. E logo começou a sonhar.
O
sonho começou animador. Uma linda moça,
loura, elegante, ponderada e exalando sabedoria, a convidou para um passeio.
Mentalmente, a presidente anotou que nunca havia visto a moça em nenhum
congresso do PT. O passeio seria pelo
futuro próximo, algum lugar entre 2030 e 2040.
O
passeio começou fora do Brasil, pelos aliados bolivarianos. A Venezuela era governada por Conchita Chávez
III, neta de Hugo Chávez, que, embora vivo não governava e apenas enviava tweets do hospital. O país virou um amontoado de miseráveis que
agora importava petróleo, todos os que produziam ou tinham algum tipo de estudo
agora estavam em Miami, que, com isso, viveu um novo boom econômico e já está entre as cinco maiores cidades americanas. A próxima parada, rápida, foi a Bolívia que
já não era mais um país e sim um campo de batalha de quadrilhas de cocaleros, sendo a mais poderosa aquela comandada
pelo pessoal que soltou um sinalizador em um jogo de futebol há muito tempo
atrás. Estabeleceram-se na Bolívia.
Para encerrar o tour sul-americano, a linda moça levou Dilma para a Argentina. A presidente achou que era uma peça de mau
gosto que pregavam nela. Buenos Aires, tão linda, estava caquética e destruída
como Havana. Não havia mais produção
rural; a carne era importada da Austrália (caríssima) e o tradicional doce de
leite não existia mais. A população
fazia filas e mais filas atrás dos cupons de racionamento, que davam direito a
uma porção diária de comida. Já não
havia mais moeda, corroída por uma inflação de quatro dígitos. O escambo havia voltado e cada um se virava
como podia. O país era dirigido por uma
neta do Maradona com um descendente de Perón, que tinha como plataforma de
governo a recuperação das Ilhas Falklands,
nesta altura já com um PIB superior ao da Argentina.
Dilma
começava a ficar zangada, achando que isso era uma pegadinha do Lobão ou do
Mercadante. A moça então disse, "chega
dos vizinhos, vamos ver o Brasil".
Dilma ficou feliz, "agora
vamos ver a potência que eu e Lula criamos". A visita começou por uma cidade do sul, onde
tinha acabado de haver um incêndio em uma boate, ceifando a vida de 300 jovens. Dilma ficou fula. "Como? Nós baixamos 87 decretos e 234
artigos regulamentando a atividade de boates em 2013. Como pode?"
A
próxima parada foi numa plataforma do pré-sal, da antiga Petrobrás. A plataforma (como as outras) já não produzia
mais nada há 20 anos. Todas foram
alugadas pela empresa de festas do Thor Batista e eram usadas para raves em alto mar. Tudo com open bar e passagem de helicóptero
inclusos. Dilma ficou pensando no que poderia ter dado errado. Afinal, ela
caprichou na proteção e no financiamento da indústria nacional. Agora o Brasil importava petróleo dos Estados
Unidos, que com sua tecnologia de extração do ouro negro do xisto betuminoso,
se tornou o maior produtor mundial.
Ao
passar pelas cidades Dilma levou um susto: o trânsito simplesmente parou
(afinal o que esperar com quatro milhões de carros vendidos por ano e zero km
de estradas construídas) e os carros estavam abandonados na rua, num grande nó. As pessoas agora andavam a pé e as bicicletas
do Itaú eram disputadas a tapas.
Ao
procurar agências do Banco do Brasil e da Caixa Econômica, Dilma levou um susto
ao não ver mais nenhuma. A moça explicou
que após a brutal expansão de crédito, seguiu-se uma onda de inadimplência que
levou o governo a ter que fazer seguidas capitalizações nos dois bancos. No final, o governo juntou os dois bancos num
só, o Banco do Povo, que tinha no seu logo a figura do Che Guevara.
Dilma
perguntou para a sua anfitriã o que era aquela fila no centro do Rio de Janeiro. A moça explicou que era a fila do bolsa-vela. Afinal, o setor de energia elétrica foi dizimado
em 2012 e não houve mais investimentos.
Hoje temos energia somente 4 horas por dia e a vela virou artigo caro e
escasso. O governo petista, sempre
atento ao social, criou o programa de distribuição de velas para os mais
desfavorecidos.
Dilma
perguntou sobre os programas de cotas.
Ficou sabendo que apenas quatro cotistas conseguiram se formar
verdadeiramente. Os outros se formaram
por liminar ou pelo novo sistema de cotas para aprovação automática. Os erros de engenharia e de médicos se avolumavam,
causando muitas mortes; o CREA estudava a polêmica medida de somente habilitar
engenheiros paraguaios. Ela anotou de chamar o Mercadante para uma reunião.
Dilma
já estava ficando realmente preocupada quando se lembrou de Brasília. Pediu para ver a cidade do poder. Poucas surpresas. O presidente era governado
pela chapa Lindbergh Farias do PT tendo como vice o filho do Collor, do PMDB. No Congresso, os netos de Sarney e Renan se
revezavam na presidência do Senado e se divertiam fazendo fogueiras com os
abaixo-assinados para que saíssem.
A
base aliada já contava com 364 partidos e a palavra oposição foi retirada do
Aurélio, por falta de uso. Naturalmente,
para pagar a conta deste estado gigantesco, a carga tributária já estava em 70%
do PIB. Com isso a economia não
conseguia crescer e o PIB per capita já era metade do anotado em 2013. O governo Lindbergh estudava exportar metade
da população para África, e com isso melhorar o indicador. O prédio do Banco
Central virou um Fundo Imobiliário de um Shopping e agora a política monetária era
decidida diretamente por Lindbergh e por Collorzinho no poker das segundas, após o expediente. A inflação não se sabe se oscila nos dois ou
nos três dígitos, tantas são as manobras e tablitas sobre o índice. Para manter o povo feliz e o projeto político
em funcionamento, os programas de transferência de renda já atingem 300 milhões
de pessoas, embora a população tenha apenas 280 milhões. Um mistério.
Dilma
perguntou para a moça (seria uma fada?), afinal o que tinha dado errado? A diáfana e sábia criatura calmamente
explicou; "Dilma, todos esses
experimentos sociais fracassaram, um após o outro. Os seres humanos são
diferentes, e tem diferentes capacidades e ambições. Quando compulsoriamente
(veja bem, nada contra a caridade espontânea) os mais fortes e trabalhadores
tem que sustentar os fracos e preguiçosos, a sociedade implode. Afinal, o
açougueiro não sai da cama de manhã imbuído de doar a melhor carne para o seu
cliente. Sua motivação é o lucro. O lucro não é feio, muito pelo contrário. A beleza do lucro é ser a expressão
monetária do trabalho bem feito, da inventividade, do sacrifício de uma
juventude de estudos, do risco, enfim, de trocar o prazer momentâneo por algo
bem maior lá na frente. Se você monta uma estrutura social onde os
empreendedores são punidos e os preguiçosos são favorecidos o que você acha que
os primeiros fazem? Vão embora, é claro. E o que é uma sociedade formada por
gente acomodada? O que você acha que acontece em uma economia sufocada por milhões
de normas e decretos, onde é mais simples se cadastrar em alguma bolsa- qualquer-coisa
do que produzir uma caneta? O que você acha de uma sociedade onde o empresário
gasta mais tempo com o seu contador do que com o seu cliente? Dilma, minha
querida. Não se extermina as galinhas dos ovos de ouro de um país impunemente.".
Dilma
acordou sobressaltada, o dia já amanhecia em Brasília e ela anotou no post-it que deveria alterar as regras de
privatização de infraestrutura. Enquanto se maquiava lembrou-se de deixar o
Tombini fazer alguma coisa com a inflação, que já estava incomodando, e também
de demitir o Mantega. Mas como fazer
isso sem dar o gostinho para aqueles jornalistas ingleses nojentos? Mas a
pergunta que oprimia o seu coração era; "será
que vai dar tempo?".
8 comentários:
Sensacional !
Perfect!
O mais provável é muitos cotistas passarem, mas o nível das universidades públicas cairem. É claro que o PT não vai querer nunca que os cotistas reprovem, eles tem que passar a qualquer preço.
Muito bom.Pena que poucos te lêem.
parabens!poucos te lêem, mas nós, V leitores, divulgaremos pelo nossos mailings e por todos os spots que visitarmos...
"será que vai dar tempo?"
Colateralmente V podia registrar este artigo naquele cartório em que "o sem autocrítica" registrou o dele... SÓ PARA COMPARAR AO FINAL.
Genial! Parabéns Rodrigo!
Fora de série a criatividade, da realidade.
Já estou repassando para minha lista.
Parabéns!
CLARO, E AS PESQUISAS DAVAM O PT E SEUS ASSECLAS COM ALGO COMO 98% DE POPULARIDADE ...
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