Rodrigo
Constantino
Um
dos valores mais caros aos liberais e conservadores, em oposição aos
esquerdistas, é justamente a responsabilidade individual. Os liberais e
conservadores acreditam que o paternalismo estatal produz uma sociedade
infantilizada, acomodada, vitimizando-se o tempo todo, pois aprende rápido que,
sob o “estado de bem-estar social”, quem não chora não mama.
Dois
exemplos concretos ilustram o abismo moral entre uma posição e outra. Um deles
ocorreu no Brasil, o outro em Portugal. Trata-se de uma comparação reveladora,
e chocante para muitos anestesiados que ignoram a distância intransponível
entre essas visões de mundo.
O
caso brasileiro está aqui, nessa
entrevista concedida por uma das beneficiadas do programa “Bolsa Família”. Esta
senhora, que não parece sequer sem condições para se alimentar bem (até
demais), reclama que a esmola, digo, o benefício estatal não é suficiente nem
para comprar uma calça para sua filha de 16 anos. O preço da calça? Módicos 300
reais!
Note-se
o grau do absurdo a que a coisa chegou: uma pessoa achar que é dever da “sociedade”
fornecê-la recursos suficientes para comprar uma calça de grife, talvez para sua
filha não passar vergonha no baile funk com as coleguinhas.
Por
outro lado, o caso português pode ser visto aqui, quando um jovem com os mesmos 16
anos da menina da calça cara explica a importância da responsabilidade
individual, de não esperar que os outros façam as coisas por você. Quando ele é
confrontado por uma senhora com discurso bastante sensacionalista, alegando que
os trabalhadores ganhavam pouco, ele dá uma resposta que é ovacionada, calando
e constrangendo a populista: “Melhor do que estar desempregado”.
Em
outras palavras, o jovem patrício entende que o melhor programa social chama-se
emprego, e que nada dá mais dignidade ao ser humano do que se sustentar por
conta própria, sem precisar de esmolas estatais. Compare-se essa atitude com
aquela da senhora brasileira, reclamando que sua esmola não é suficiente para
comprar bens de luxo. É um abismo moral que os separa.
Ambos
inseridos na mesma cultura ibérica, que estimula a malandragem, a busca de
vantagens na coisa pública. Mas que distância entre eles! O que vale, no final
das contas, é a atitude individual. Sempre a atitude individual.
6 comentários:
Boa tarde Rodrigo,
Realmente esse triste episódio do último fim de semana envolvendo o "bolsa compra voto", mostra o quanto se nada for feito até as próximas eleições, estaremos caminhando a passos largos para nos transformar em uma Argentina ou uma Venezuela...assim como muita gente, não sou contra as políticas de transferência de renda, sou contra isso sim, que elas se tornem constantes, distorcidas e eleitoreiras, como demonstrado no texto acima. A disparidade das situações nele contidas é tão grande, que ao contrário do texto por você publicado aqui no seu blog ontem, não somos nós brasileiros que devemos ficar contando piadas de português, mas sim eles portugueses, apesar da crise que lá perdura, que devem fazer piadas de nós brasileiroes, e com razões de sobra.
Saudações !!!
Faz alguns meses comprei duas calças. Pra trabalhar, ir pra faculdade, sair... Numa loja bem barata aqui perto, custaram R$90,00 o par. Estou satisfeito com elas. Com o meu salário, tento administrá-lo da melhor forma possível. Como economista você deve entender, comprar o essencial, tentar guardar algo, investir em si mesmo.
Já aceitei o fato que eu não passo de um otário. Tentar estudar pra que? Tentar trabalhar pra essa canalha toda tomar quase metade do meu dinheiro em imposto. Distribuir fatias pra ricaços e pobres de profissão enquanto eu fico aturando esses serviços medíocres, pegando esses ônibus nojentos, esperando pra não morrer em qualquer esquina.
Concordo com você, mas acho que a consciência moral da qual você fala se estende ao empresário que usa a fraqueza humana como recurso de lucratividade, franqueando a sua vida a um preço módico. Olha, não sou intelectual, mas gostaria de ter sido e encaminhado a minha vida para tanto. Fica difícil entrar numa discussão sem o recurso do tempo e da leitura, o qual infelizmente, não fui capaz de dispor em 44 anos de vida. Todavia, acho que o discurso daquela senhora não foi exatamente sensacionalista ou populista. Estamos falando de consciência moral, o que não exime o empreendedor de possuí-la quando não é em benefício imediato.
Constantino, me desculpe pela notícia, mas veja se não é de se indignar:
http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2013/05/1282884-na-contramao-da-politica-de-juros-governo-anuncia-gasto-recorde.shtml
" mesma cultura ibérica, que estimula a malandragem "
Não sabia que você era sociólogo Constantino. Tem alguma fonte ? Que eu saiba a malandragem brasileira é resultado do caldo cultural atípico e não tem paralelo no mundo. Isso não é uma crítica ou elogio, apenas constatação
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