A coluna de Luiz Felipe Pondé hoje na Ilustrada da Folha é um choque de realismo para aqueles mais românticos, que sonham com um mundo sem espionagem, com total preservação de nossas privacidades. Pondé recusa a visão maniqueísta de preto ou branco, reconhecendo que, no mundo real, uma zona cinzenta de "sujeira" sempre existirá em nome de objetivos maiores. Ele diz:
Quando Obama disse que ninguém pode viver com segurança e privacidade com 0% de inconveniência, pensei: Obama virou gente grande. Mas não foi assim que o mundo reagiu. Quase todo mundo ficou horrorizado, e eu, fiquei horrorizado com mais um show de infantilidade do mundo em que vivemos. É um mundo "teenager" mesmo.
E por que o Brasil seria vigiado? Talvez porque suspeita-se que o Brasil esteja na rota entre o dinheiro do crime internacional e terroristas. E a América Latina está à beira de uma virada socialista, só não sabe quem não quer ver. Corrupção, autoritarismo, gestão inepta da economia e populismo sempre foram paixões secretas do socialismo.
A CPI do "Obamagate" é um truque nacionalista (tipo Guerra das Malvinas) para desviar a atenção da nossa crise econômica, apesar de muitos brincarem de revolução enquanto a economia vai para o saco nas mãos de um governo que aumentou os gastos públicos com embaixadas em repúblicas das bananas, criação de ministérios inúteis e "investimento" na inadimplência como forma de ganhar votos.
A diferença entre um "teenager" (ainda que com PhD, PostDoc e livre-docência) e alguém que sofre para ser um pouco menos "teenager" é saber que o mundo não é preto e branco e que se você é responsável por muitas coisas, você nem sempre vive com luvas de pelica.
Estou de acordo que o mundo não é dividido de forma simplista entre "bonzinhos" e "malvados". Também estou de acordo que nosso governo usa como pretexto para desviar o foco da crise atual o caso da espionagem. Também concordo que há razões para que os Estados Unidos queiram espionar a América Latina sim. Com isso tudo estou de acordo com Pondé. Mas aqui começo a discordar um pouco:
Sim, é verdade que todos vão fazer mais ou menos o que foi feito. Mas, em primeiro lugar, talvez não na mesma magnitude, e há que se ter mecanismos de pesos e contrapesos para impedir um avanço desmedido do "olho grande" estatal em nossas vidas. Em segundo lugar, há uma escalada de poder concentrado no "Grande Irmão" que incomoda - ou deveria incomodar - qualquer liberal.
Por fim, Obama sempre gozou de um salvo-conduto, enquanto Bush era o demônio em pessoa. Quando Obama mostra ser ainda mais invasivo que Bush em nossas liberdades, isso merece duras críticas sim, até para mostrar que a esquerda não é esse ícone de respeito às liberdades civis como propagado; muito pelo contrário!
Feita essa ressalva, volto ao ponto de concordância com Pondé. O filósofo esfrega na cara de muita gente a hipocrisia de quem condena uma coisa na teoria, e faz outra na prática:
[...]
As redes sociais, esse grande bacanal de narcisismo, são um prato cheio para sermos vigiados. Sites nos dão nosso perfil de consumo e nossa "linha da vida". Celulares nos avisam quando algo acontece em nossa conta e em nosso cartão de crédito, e isso tudo é muito "prático", não?
Muitos alertas têm sido feitos, mas é sempre bom lembrar: quando o produto é gratuito, é porque o "produto" é você. Muita gente posta intimidades nas redes sociais, transforma sua vida em um livro aberto, e depois reclama que isso é usado por outros? É preciso mais cuidado, pois sabemos que, no mundo moderno, as informações digitais não estão seguras. Teremos que conviver com essa realidade. Pondé conclui:
Este evento revela a óbvia violência à privacidade que as redes sociais significam. A ideia de que elas são uma ferramenta da democracia pode ser uma ideia também infantil.
Há muito se sabe que é mais fácil subornar um blogueiro do que um jornal gigantesco (o blogueiro é mais barato...). Agora fica mais claro ainda que a manipulação via redes sociais é muito maior do que via mídia "clássica".
Todo mundo sabe que não pode marcar encontros amorosos ilegítimos via e-mail ou mensagem de celular, como alguém fica escandalizado que a internet não seja segura? Parece papo de falsa virgem de 50 anos.
Em breve esqueceremos isso e continuaremos a postar fotos, falar bobagens, marcar revoluções no final de tarde e propor utopias que requentam a falida autogestão. E viajar para fazer compras em Miami com segurança e usando Visa.
Snowden, e seus 15 minutos, é mais um falso herói para falsos adultos.
3 comentários:
Quem precisa de sigilo é bandido. Privacidade ainda precisamos de um pouco, quando estamos no nosso quarto com nossas esposas ou no banheiro.
Em época de informação barata e abundante, neguinho ainda querendo fazer cortina de fumaça para esconder suas lambanças e roubalheiras, só pode ser piada. Pior que vai sobrar somente para o Snowden, aquele idiota útil e traidor que foi manipulado pelos tiranetes da américa latrina. Vai ter que pagar o preço da ambição negativa por ter se vendido.
Sobre o ponto da espionagem, há um outro aspecto que ainda não vi nas análises:
Lembro-me da descoberta do pré-sal e do lamentável presidente advogando a compra de navios e submarinos para defender as riquezas da plataforma continental, acreditando sinceramente que viriam aqui tomá-las (além, obviamente de contar com os por foras para os bolsos do partido e próprios).
A estupidez da turma é manifesta, provadas pelas decisões econômicas, que revelam a incapacidade de compreender a realidade e os mais elementares equívocos que cometem.
Não juntam lé com cré.
Por isso, creio mesmo que a bravata da defesa não era só bravata no juízo deles, mas era temor sincero.
Pois bem, estavam arquitetando a esquadra imaginária para defender os moinhos, enquanto perdiam desde sempre todos os segredos sem nem fazer idéia.
Não dá nem para dimensionar a primariedade.
Aguardo as mais brilhantes soluções que serão engendradas destarte para a defesa digital.
Muitos países ricos não vigiam seus cidadãos. Os EUA não vigiavam, há pouco tempo atrás.
Eu que sou infantil ou o pondé que é ignorante?
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