segunda-feira, março 31, 2008

Entre Bonobos e Chimpanzés


Rodrigo Constantino

"Eis a beleza da reciprocidade: a generosidade compensa." (Frans de Waal)

"Podemos tirar o primata da selva, mas não a selva do primata". Eis como Frans de Waal começa seu livro Eu, Primata, onde argumenta que costumamos culpar a natureza pelo que não gostamos em nós, mas esquecemos de dar-lhe crédito pelo que gostamos. O biólogo holandês foca bastante no comportamento do nosso outro parente primata, muitas vezes ignorado, que são os bonobos. Ao contrário dos chimpanzés, eles apresentam comportamento bem mais pacífico, resolvem disputas através do sexo e são comunidades matriarcais. Para ressaltar nossa natureza violenta, muitos citam os chimpanzés, e deixam de lado os bonobos, nosso outro parente próximo que desmente a idéia de que nossa linhagem é puramente sanguinária.

Para Waal, "o chimpanzé, brutal e sedento de poder, contrasta com o pacato e erótico bonobo; são como dr. Jeckyll e mr. Hyde". Para ele, "nossa natureza é um casamento incômodo dos dois". Isto estaria por trás dos sentimentos opostos onde ora nos vemos como a "jóia da criação" e ora como os grandes vilões do mundo. Não é possível negar inúmeras características humanas, especialmente no meio político*, que nos remetem ao comportamento dos chimpanzés. A busca desenfreada pelo poder desperta o que há de pior nos seres humanos. Mas, por outro lado, a sensibilidade e a empatia dos mais pacíficos bonobos são igualmente detectáveis em nossa espécie. Habitam em nossa natureza vestígios tanto de um quanto do outro. A diferença fundamental entre nossos dois parentes mais próximos, segundo Waal, é que "um resolve as questões de sexo com poder, e o outro, as questões de poder com sexo".

Frans de Waal não concorda com a visão pessimista de que os homens são os lobos dos homens, e que somos a única espécie na Terra que pode vencer os instintos básicos, como se estes fossem todos de natureza negativa. Para ele, assim como para Darwin, nossas características humanitárias baseiam-se em instintos sociais que temos em comum com outros animais. Existem diversos relatos de ações nobres praticadas por animais, como uma gorila que ajudou um menino que caiu no zoológico ou uma chimpanzé que tentou salvar um pássaro machucado. O que consideramos um código moral pode muito bem ter sua origem no próprio processo evolutivo. As pessoas confundem muitas vezes o processo com o resultado, achando que a seleção natural, por ser um processo cruel e impiedoso de eliminação, tem necessariamente que produzir criaturas cruéis e impiedosas. Waal chama essa confusão entre processo e produto de "erro de Beethoven", lembrando que o mestre criou suas sofisticadas sinfonias num verdadeiro chiqueiro. Coisas maravilhosas podem nascer em circunstâncias atrozes.

O animal homem, com características similares tanto aos chimpanzés como aos bonobos, supera seus parentes próximos tanto do lado positivo da escala como do negativo. Para ser cruel, o homem é capaz de atrocidades espantosas, como os regimes nazista e comunista demonstraram. Mas para fazer o bem, o homem também demonstra uma capacidade bastante superior, pelo grau de empatia que é capaz de sentir, pois pode se imaginar no lugar do sofredor como nenhum outro animal. Temos uma natureza tanto competitiva como solidária. "Para serem bem-sucedidos, os animais sociais têm de ser falcões e pombas", afirma Waal. Quanto maior a dependência mútua, maiores as chances de harmonia no convívio. Afinal, quando o seu sucesso depende do sucesso alheio, a hostilidade perde muito de seu sentido. Por isso a globalização e a divisão de trabalho acabam funcionando como entraves para guerras, enquanto o isolamento favorece a hostilidade entre grupos.

A reciprocidade é um conceito fundamental para o convívio social. Sua origem pode estar na assistência aos parentes, favorecendo as chances de sobrevivência dos genes. Uma vez surgida a sensibilidade, seu alcance pode ter se expandido. A bondade que as religiões e filosofias recomendam já fazia parte de nossa condição humana. Para Waal, "não estão invertendo o comportamento humano, apenas ressaltando capacidades preexistentes". A empatia e a simpatia são sentimentos naturais aos humanos, tanto que uma pessoa que não as demonstra é vista como mentalmente doente e perigosa, um psicopata. Empatia, definida como a capacidade de ser afetado pelo estado de outro indivíduo ou criatura, é algo que outros animais além do homem também são capazes de expressar. Macacos em experimentos deixaram de puxar uma maçaneta que lhes fornecia comida quando companheiros ao lado levavam choque como resultado dessa ação. Um deles ficou doze dias sem comer!

A explicação de Waal para este ato altruísta não está na preocupação com o bem-estar alheio, mas na aflição causada pela aflição dos outros. Essa reação teria enorme valor para a sobrevivência. "Se outros demonstram medo e aflição, pode haver boas razões para que você também se preocupe", ele explica. Quando um pássaro no chão subitamente sai voando, todos os outros copiam. O que ficar para trás pode ser a presa. O pânico se alastra depressa provavelmente por este motivo, inclusive entre humanos. O auto-reconhecimento, que somente os grandes primatas apresentam, permite uma forma superior de empatia. Bonobos são capazes de consolar, perdoar e ajudar outros bonobos. A regra de ouro diz que não devemos tratar os outros como não desejamos ser tratados. Os nossos parentes mais próximos podem não conhecer de forma consciente esta regra, mas a seguem mesmo assim.

Os seres humanos não são insetos gregários, e Waal entende isso quando diz: "Não é o grupo o primeiro interesse de todo indivíduo, e sim ele próprio e sua família imediata". Mas isso não nos impede de alimentar sentimentos solidários. Afinal, tal postura está no nosso próprio interesse, além de ser totalmente natural. "Dar-se bem com os outros é uma habilidade crucial, pois as chances de sobreviver fora do grupo, em meio a predadores e vizinhos hostis, são desalentadoras", diz Waal. Somos seres sociais, sentimos necessidade de pertencer a um grupo. Mas isso não significa coletivismo, a ponto de colocar o grupo acima dos indivíduos, tampouco considerar estes simples meios sacrificáveis para o bem maior. Waal reconhece que "ser egoísta é inevitável e necessário, mas até certo ponto".

Quem ignora isso desconhece a nossa natureza. "Apesar dos imensos esforços doutrinários dos regimes comunistas, as pessoas se recusam a submergir em nome do bem comum", lembra o autor. Ele conclui sobre isso: "Somos sensíveis a interesses coletivos, mas não a ponto de abrir mão dos nossos interesses individuais. O comunismo ruiu devido a uma estrutura de incentivos econômicos em dessintonia com a natureza humana. Infelizmente isso só ocorreu depois de ter causado mortes e sofrimentos imensos".

O homem não é um escravo de seus genes. Ele possui o livre-arbítrio, ainda que influenciado por inúmeros fatores fora de seu poder. Além disso, ele também não é um chimpanzé ou um bonobo, mesmo que tenha um ancestral comum e compartilhe de uma estrutura genética bem parecida. Possuímos o instrumento epistemológico mais potente de todos: a razão. Podemos questionar sobre isso tudo, diferente dos outros primatas. Não obstante, observar nossos parentes próximos pode elucidar diversas coisas sobre certas tendências comportamentais. São influências que chamamos de "instinto", ainda que o nome possa gerar confusão. No entanto, o foco tem sido todo voltado para o comportamento dos violentos chimpanzés. Frans de Waal presta um bom serviço ao mostrar melhor outro parente, muito mais empático e amigável que o chimpanzé. Nossos "instintos básicos" não devem ser comparados somente aos desse primata. Em termos de uma "moral natural", estamos entre os bonobos e os chimpanzés.

* Waal questiona: "Alguém já ouviu um candidato admitir que quer o poder? Obviamente o termo ‘servir’ tem duplo objeto: quem acredita que é apenas pensando no nosso benefício que eles mergulham no mar de ofensas pessoais da democracia moderna? Será que os próprios candidatos acreditam nisso? Que sacrifício absolutamente incomum seria! Trabalhar com chimpanzés é um alívio: eles são os políticos sinceros pelos quais todos ansiamos". O curioso é tanta gente entender isso e, ainda assim, encarar o governo, formado por esses políticos em busca de poder próprio, como uma espécie de deus. O governo, formado por "chimpanzés egoístas", será o ente altruísta e clarividente. Talvez seja a maior e mais comum contradição do mundo!
PS: Sugiro o seguinte vídeo no YouTube: http://www.youtube.com/watch?v=Rh8gfIcjQNY

sexta-feira, março 28, 2008

Macunaíma


Novas pesquisas mostram que apenas 11% do povo brasileiro considera o governo Lula ruim ou péssimo. Em outras palavras: praticamente 90% dos brasileiros não prestam! Simples assim. Defender este governo é apoiar a imoralidade, a corrupção, o autoritarismo. O povo tem mesmo o governo que merece...

Conversa de Bar


O presidente Lula, com elevada aprovação, não tem compromisso algum com suas palavras. Se sempre foi uma metralhadora giratória de baboseiras e contradições, agora ficou ainda pior. A última foi sua declaração de que ligou para o presidente americano e disse: "Bush, o problema é o seguinte, meu filho, nós ficamos 26 anos sem crescer. Agora que a gente está crescendo vocês vêm atrapalhar. Resolve, resolve a tua crise". Fico imaginando o tradutor, falando "Bush, my son". Mas sabemos que Lula não ligou para ninguém. Ele mente mesmo, de forma compulsiva. E ainda enalteceu o PROER, adotado para salvar os bancos brasileiros no passado, sendo que o PT foi o maior crítico dessa ajuda na época. Assim é Lula, o maior consumidor de óleo de peroba do país, quiçá do mundo!

O Pacificador


O presidente Lula afirmou que Hugo Chávez foi o grande pacificador no conflito entre Equador e Colômbia. Chávez aproveitou sua visita ao Brasil para apoiar o MST, o bando de criminosos que incita e usa a violência o tempo todo. Chávez é aquele que anda comprando armas sem parar, e manda milhões para os terroristas das Farc. São estranhos os conceitos de paz do presidente Lula. Se o belicoso Chávez é um grande pacificador, nem quero imaginar o que Lula enxerga como um sujeito violento...

Prefeito Insano



Enquanto a dengue, doença de país pobre, continua se alastrando pelo Rio, o prefeito César Maia estava em Salvador, rezando para que os mosquitos fossem para o oceano. Não obstante nosso prefeito achar que mosquitos são como uma frente fria, resta lembrar da seguinte máxima: "Duas mãos trabalhando fazem mais que milhares rezando". Infelizmente, nosso prefeito ignora isso, e prefere rezar a fazer algo concreto. Quando coloca suas mãos para "trabalhar", é para escrever artigos no seu blog. O prefeito surtou de vez!

Covardia


Um deputado holandês lançou um filme mostrando trechos do Corão que incitam a violência. No vídeo, uma menininha de apenas 3 anos aparece falando mal dos judeus, vítima de lavagem cerebral. Uma das primeiras cenas é o atentado bárbaro de 11 de Setembro de 2001 nas torres gêmeas. O governo holandês se mostrou preocupado e criticou a iniciativa do deputado. Aparentemente, seria injusto falar que os islâmicos defendem o uso da violência (com certeza não é a maioria). O receio é que o vídeo que fala que os muçulmanos são violentos pode gerar uma onda de protestos... muito violentos. Para protestar contra a acusação de que são violentos, alguns muçulmanos radicais podem resolver matar uns holandeses inocentes. E a ofensa, segundo os covardes, vem de quem os chama de violentos, não da retaliação violenta...

Nacionalismo

Eis que por conta de um dia o empresário que fundou a Jet Blue poderá competir no mercado nacional. Afinal, ele é um "brasileiro", e essa é uma exigência para abrir uma empresa no setor aéreo. O caso é tão patético que ajuda a expor a estupidez do nacionalismo boboca. O que importa, para os consumidores, a nacionalidade dos empresários? Absolutamente nada! O importante é ter bons serviços e preços adequados, o que ocorre somente quando há livre concorrência. Deixem todos os gringos entrar nos setores que desejarem! O livre mercado é o maior amigo dos consumidores. O nacionalismo, que mantém uma Petrobrás estatal, é apenas a "doença infantil da humanidade", como disse Einstein.

quinta-feira, março 27, 2008

As Seqüelas da Crise



Rodrigo Constantino

"Se a incoordenação social da liberdade econômica é um defeito, maior, socialmente, é o defeito que nasce de essa liberdade se coordenar." (Fernando Pessoa)

Quando a economia americana entrou em depressão na década de 1930, uma das conseqüências mais negativas de longo prazo foi a crença amplamente disseminada de que a culpa estava no livre mercado, e não na hiperatividade do próprio governo. Tal mito foi responsável por um aumento assustador da intervenção estatal na economia, com graves resultados para o país. O New Deal foi visto por muitos como a salvação, ignorando-se os efeitos perversos dessa política ao longo do tempo. Os maiores gastos estatais foram causa da elevada inflação que assolou a nação depois, assim como o excesso de intervenção prejudicou a economia. A maioria era míope demais para enxergar esses efeitos, separados por décadas em alguns casos. Os economistas da Escola Austríaca faziam parte da minoria que era capaz de fazer a ligação causal lógica entre as medidas e os efeitos. Porém, tal como Cassandra, eram vítimas da maldição de que podiam ver melhor os perigos, mas não seriam escutados.

Na crise atual dos Estados Unidos, há o mesmo risco. A crise, por si só, já cobra um elevado preço, gerando perdas bilionárias, risco de desemprego e recessão. Tais são os efeitos nefastos no curto prazo. No entanto, existe um risco grande de mais longo prazo, que é a mentalidade mudar e demandar mais governo. Muitos correm o risco de sucumbir novamente à crença falsa de que foi o livre mercado o responsável pela crise, e que cabe ao governo "clarividente" evitar tais riscos no futuro, através de maior intervenção e regulação. Até mesmo o bom economista Martin Wolf, economista-chefe do Financial Times, aderiu a esta tese. Eis como ele começou seu artigo sobre o resgate do Bear Stearns: "Lembre a sexta-feira, 14 de março de 2008: foi o dia em que o sonho de um capitalismo de livre mercado morreu". Wolf parece ter perdido a confiança no poder de autoterapia do mercado. Para ele, os Estados Unidos "estão mostrando os limites da desregulamentação". Mas será que é isso mesmo?

Felizmente, nem todos aceitam este diagnóstico. A respeitada revista britânica The Economist fez um excelente relatório sobre a crise atual, e afirmou que a crítica de que esta crise é o produto da desregulamentação no setor financeiro ignora um ponto importante: os piores excessos na bagunça das securitizações ocorreram precisamente onde a regulamentação pretendia proteger os bancos e investidores dos perigos do crescimento de crédito descontrolado. As regulamentações oferecem não apenas proteção, mas caminhos inteligentes para se ganhar dinheiro as contornando. As regras que exigem capital adequado para ativos também criam incentivos para que os bancos criem mecanismos que livrem os ativos dessa necessidade. As centenas de bilhões de dólares nos mecanismos mais "cinzentos" como SIVs foram resultado dessa tentativa de fugir das regras. As agências de risco também sofrem a pressão de incentivos perversos. A obrigação legal de vários fundos de pensão de investir somente em títulos com rating máximo criou distorções nos preços dos bonds, que puderam ser exploradas com elevados ganhos enquanto a festa durou.

Em resumo, muitas regras criadas pelo próprio governo acabam gerando efeitos indesejáveis, pois o mercado vai se ajustando e explorando as oportunidades que surgem pela intervenção arbitrária do governo. Além disso, a política de juros baixos adotada pelo Federal Reserve no passado pode ter contribuído para lançar lenha na fogueira, estimulando uma busca mais irresponsável por maiores retornos. Alan Greenspan teria sua parcela de culpa, ainda que seja um grande defensor, na teoria, da flexibilização dos mercados e redução da intervenção estatal na economia. O Fed de Bernanke está novamente hiperativo na tentativa de evitar o pior. O dólar acusa o golpe, perdendo valor frente às demais moedas, e uma nova bolha pode ser incentivada com essas medidas. Mas um dos grandes riscos existentes hoje é o retorno da descrença em relação ao livre mercado, depositando-se uma fé tola nos agentes do governo, que são seres humanos falhos também, e sob mecanismos inadequados de incentivos. Aqueles que ingenuamente encaram o governo como uma espécie de deus, capaz de resolver todas as falhas do mercado, ignoram tanto a lógica econômica como as evidências empíricas. O excesso de intervenção estatal na economia é um grande veneno. A atração dos leigos pela cicuta pode ser uma das grandes seqüelas desta crise.

sexta-feira, março 21, 2008

Direto do Sarcófago


Rodrigo Constantino

O artigo do presidente do Ipea Márcio Pochman, no jornal Valor de quinta-feira (20-03-08), foi realmente um show de horrores. É tanta besteira que mal sei por onde começar as críticas. Normalmente, nem vale a pena perder tempo com isso, mas nesse caso creio se tratar de uma exceção, por dois motivos: a elevada posição do autor, dirigindo um importante órgão de pesquisas econômicas do governo; o fato de estas falácias contidas no artigo serem repetidas ad nauseam pela esquerda, desinformando os leigos no assunto. Faz-se necessário expor, portanto, a mentalidade absurda presente no texto.

Logo no começo, o autor tenta colocar no mesmo saco podre o capitalismo e o comunismo: “Sabe-se, contudo, que simultaneamente ao desarranjo do império soviético, o centro da nata do capitalismo mundial convive com sinais de perda de influência no novo cenário econômico internacional”. O que Pochman quer dizer com isso? Será que ele está tentando afirmar que o capitalismo e seu grande ícone, os Estados Unidos, fracassaram tanto quando a União Soviética fracassou? Isso foi alguma piada sutil que eu não consegui entender? A economia americana ainda responde por cerca de um quarto do PIB mundial. Poderia alguém no cargo ocupado por Pochman ignorar este fato?

O economista tenta explicar: “Nos dias de hoje, a China já responde por um quarto da produção mundial de máquinas de lavar, um terço da de televisores, dois quintos da de microondas, metade da de câmeras, dois terços da de foto copiadoras e 90% da de brinquedos eletrônicos”. Ótimo! Eis a maravilha do mundo globalizado: cada um pode focar naquilo que possui vantagem comparativa. Os Estados Unidos viraram uma economia basicamente de serviços, enquanto a China se transformou na indústria mundial, principalmente de produtos mais simples, por enquanto. Todos ganham com essas mudanças.

Mas Pochman parece ter entendido tudo errado sobre as causas do recente sucesso chinês: “De posse de duas a cada três gruas do mundo, o país do meio na Ásia constrói a base material mais moderna da atualidade, reinventando o sistema econômico com inovação e padrão tripartite de gestão da produção (empresa, sindicato e Estado)”. A China não reinventou nada, ela apenas permitiu um funcionamento mais livre do mercado. Com suas zonas livres, menor intervenção estatal, capital estrangeiro abundante e o direito de propriedade melhor estabelecido, o país conseguiu retirar milhões da miséria, uma herança socialista. A China está melhorando a despeito do Estado, não por causa dele. Pelo contrário: ainda há intervenção demais, como no caso do setor financeiro. Isso prejudica o país, diferente do que Pochman acha. Isso sem falar da completa falta de liberdade em diversos campos, pois não devemos esquecer que a China convive com uma ditadura.

As pérolas continuam: “O desarranjo imposto pelas administrações recentes nos Estados Unidos somente consegue ser superado pelo largo fracasso do modelo neoliberal defendido pelos organismos multilaterais e aceito passivamente por diversos governos latino-americanos e caribenhos”. Não obstante ser muito cedo para falar em “desarranjo americano”, de onde será que Pochman tirou esta idéia maluca de que o neoliberalismo falhou na América Latina? Ele simplesmente nunca nos deu o ar de sua graça! Os países que abraçaram o liberalismo – ou um grau mais elevado de liberdade – prosperaram, enquanto a América Latina fracassou justamente por se afastar deste modelo, mantendo um governo inchado, gestor de empresas, interventor ao extremo na economia. Como pode alguém que comanda o Ipea inverter tanto a realidade dessa forma?

Mas o economista não parece satisfeito, e continua cavando mais fundo no buraco: “O resultado hoje é reconhecido: abertura comercial, privatização e internacionalização da produção não permitiram expansão sustentada do crescimento, tampouco transferência tecnológica e expansão social”. Desde quando abertura comercial e privatização prejudicam algum país? Não existem casos deste tipo! Podemos analisar os casos do Chile, Irlanda, Espanha, Austrália, Nova Zelândia, Islândia, todos eles são exemplos de sucesso das reformas liberais, que Pochman tanto condena. O governo brasileiro, por outro lado, continua dono de várias estatais sem sentido, como o Banco do Brasil e a Petrobrás, e nossa abertura comercial foi muito tímida. Não foi a globalização que falhou: foi a sua falta!

Mas para quem pensa que viu absurdo suficiente, está enganado: “O projeto de país circunscreveu ao primitivismo do combate à inflação, acreditando que, por conseqüência, o crescimento econômico se sustentaria por si próprio”. Pochman, recentemente, reclamou que o presidente Lula foca demais na inflação. Será possível que ainda exista economista que acredita na falsa dicotomia de mais inflação, mais emprego? Não foi suficiente observar que os países com maiores taxas sustentáveis de crescimento foram justamente os países com menor índice de inflação? O que Pochman está sugerindo? Que o país aceite conviver com um pouco mais de inflação, para gerar um crescimento artificial? Inflação, como bem sabem os brasileiros, é o imposto mais perverso que existe, pois ataca diretamente os mais pobres. Com amigos como Pochman, os pobres brasileiros não precisam de inimigos!

As idéias do presidente do Ipea parecem surgir direto de um sarcófago. São tão ultrapassadas, tão absurdas, tão refutadas pela lógica econômica e pelas evidências empíricas, que espanta ainda serem levadas a sério nesse país. Mas, caso fossem apenas motivo de piada, como deveriam ser, aí sim o tal neoliberalismo teria chegado ao país, e com certeza a realidade seria muito diferente. Seria muito melhor!

quarta-feira, março 19, 2008

O Excesso de Legislação


Rodrigo Constantino

"O que sempre fez do Estado um verdadeiro inferno foram justamente as tentativas de torná-lo um paraíso." (Hoelderlin)

Uma das características mais marcantes do mundo moderno é a crença na onisciência e clarividência do Estado. Este ente praticamente se transformou num Deus para muitos. E uma das conseqüências mais nefastas dessa mentalidade é o excesso de legislação, que asfixia a liberdade dos indivíduos. Em 1853, o filósofo Herbert Spencer escreveu um artigo, Over-Legislation, chamando a atenção para este lamentável fato. O que era um perigo já em seu tempo e na Inglaterra, tornou-se uma ameaça constante no mundo atual, principalmente no Brasil. Aqui, o governo cria infinitas leis sobre cada mínimo detalhe da vida cotidiana, transformando indivíduos em súditos.

Todos os dias as pessoas observam várias falhas nas ações governamentais e, não obstante, demandam sempre novos atos do governo e um time de burocratas para atingir os efeitos desejáveis. Repetem que falta apenas "vontade política", e para cada novo fracasso do governo, mais governo é visto como necessário. Em nenhum outro campo a fé eterna e inabalável dos homens pode ser mais bem notada. A iniciativa privada tem sido responsável pelos grandes avanços da humanidade, pelo progresso na saúde, pelas técnicas de produção modernas que permitem mais conforto a todos, pelos revolucionários métodos de transporte, pelas inovações da informática e mais uma infinidade de coisas. No entanto, permanece em muitos uma grande desconfiança em relação ao setor privado e aos empresários que buscam lucros, enquanto o governo fica blindado e protegido de todas as desgraças que causa, sendo visto como panacéia pelos esperançosos. Eis que o caminho para o combate a todos os males é o governo, para estes crentes.

Uma coisa é garantir a cada indivíduo o direito de perseguir seu próprio bem; outra coisa bem diferente é perseguir este bem por ele. Se definirmos como o principal dever do Estado a proteção de cada indivíduo contra os demais, então todas as outras ações estatais entram na definição de proteger o indivíduo contra si mesmo – contra sua estupidez, preguiça, irresponsabilidade, incapacidade etc. Trata-se de uma postura arrogante e ingênua. A proposição que os advogados de muito governo precisam aceitar é que, as coisas que as pessoas não serão capazes de obter por conta própria, serão oferecidas por uma parte do povo apontada pela lei. Os funcionários públicos amam seus vizinhos mais que eles mesmos! A filantropia dos burocratas é mais forte que o egoísmo dos cidadãos!

Esta fé tola no governo gera uma quantidade absurda de leis, regulando sobre tudo da esfera privada. Mas estes atos do governo não apenas falham; eles costumam piorar a situação. Como Spencer reconhece, milhares de famílias foram arruinadas pelos efeitos dos esforços legislativos para oferecer mais segurança material a elas. Poucas pessoas conseguem enxergar com clareza a ligação causal dessas medidas e dos fracassos que se seguem no decorrer do tempo. A miopia dos leigos faz com que apenas os efeitos de curto prazo sejam notados, ignorando-se as conseqüências negativas no longo prazo. O organismo social é complexo, e cada parte afeta a outra, muitas vezes de forma imprevisível. Nos esforços de curar males específicos, os legisladores causaram continuamente males colaterais que eles não esperavam.

Na iniciativa privada, aqueles que são mais competentes costumam obter sucesso, enquanto os incompetentes acabam ficando para trás. Nas organizações estatais isto não é verdade. As empresas privadas precisam alterar seu curso rapidamente se emergências surgem. Mas o setor público vive da rotina e da hierarquia, com os privilégios que lhes são garantidos. A vitalidade do setor privado advém da livre competição, enquanto as agências estatais sucumbem com freqüência à inércia. Quando a conexão entre o lucro obtido e o trabalho executado é destruída, a eficiência quase sempre é deixada de lado. Além disso, a corrupção é um resultado praticamente inevitável do modelo estatal de gestão.

Na maioria dos casos apontados como falhas do funcionamento da livre iniciativa, a aparente falta do setor privado é um resultado das interferências prévias do governo. Por um problema gerado pelo próprio governo, mais governo é a solução oferecida. Querem que sanguessugas curem a leucemia! Como um alquimista que atribui suas constantes decepções a alguma desproporção nos ingredientes, alguma impureza ou temperatura aplicada, e nunca à futilidade do processo ou impossibilidade de sua meta; todo fracasso das legislações do governo são explicadas, pelo crente do Deus Estado, como sendo culpa de algum detalhe qualquer, da falta de vontade dos políticos envolvidos, da ganância de alguns homens. Todas as superstições demoram a morrer, e Spencer temia que esta crença na onipotência do governo não seria uma exceção. Ele estava certo, infelizmente.

E no Brasil, mais do que em muitos outros países, sabemos disso muito bem. As leis brasileiras, incontáveis, tratam até da forma pela qual o pão será vendido! Temos um excesso incrível de legislação, incluindo uma enxurrada de medidas "provisórias" dignas de uma ditadura *, fruto da mentalidade de que o governo é um ente perfeito, uma espécie de Deus. Todos os fracassos diários deste ente "maravilhoso" não foram suficientes para abalar a fé dos crentes. Para estes, se ao menos tivéssemos um pouco mais de governo para resolver os nossos males, viveríamos num paraíso! O que importa a experiência mostrar que o inferno é gerado justamente pelo excesso de legislação? Quando os fatos vão contra a fé, os crentes simplesmente os ignoram. E eis o motivo de tanta gente demandar mais governo nesse país.

* O presidente Lula disse recentemente: "Todos sabem, deputados e senadores também, que é humanamente impossível governar sem medidas provisórias". Quando o tema era a CPMF, o presidente apelou para a mesma tática. Talvez seja o ideal tornar impossível o seu "governo". Afinal, como Henry David Thoreau já disse, "o melhor governo é aquele que governa menos". Chega de tantas Medidas Provisórias!

domingo, março 16, 2008

Por Trás do Véu de Ísis


Rodrigo Constantino
"O fato de um crente ser mais feliz que um cético não é mais pertinente que o fato de um homem bêbado ser mais feliz que um sóbrio." (George Bernard Shaw)

A dor da perda de um filho é algo simplesmente impossível de ser mensurado por quem não passou por tal desgraça. Deve ser realmente insuportável conviver com uma perda deste tipo, inversa a todo o curso natural da vida. A perda dos pais representa a perda de uma parte do passado, mas a perda de um filho significa a perda do futuro. Muitos pais que passam por este sofrimento absurdo encontram algum consolo no espiritismo. A idéia de que o filho continua vivo, apenas em outra dimensão, pode confortar um pouco os pais desesperados. Alguns médiuns oferecem inclusive contato com o suposto além, através da psicografia. Os filhos mortos enviariam mensagens de consolo para os pais vivos, através de figuras como Chico Xavier.

O jornalista Marcel Souto Maior fez uma investigação sobre a suposta comunicação entre vivos e mortos, e o resultado aparece no livro Por Trás do Véu de Ísis. Conforme ele mesmo explica, “na mitologia egípcia, o véu da deusa Ísis é a teia que separa morte e vida, o conhecido e o desconhecido, o eterno e o efêmero”. Ísis é também o símbolo do desespero de quem perde um ente querido – no caso dela, o marido Osíris. O jornalista tenta fazer uma busca por respostas de forma imparcial, mas fica claro no livro que ele mesmo deseja encontrar uma afirmação em relação à crença nos espíritos. No livro, vemos justamente esta característica comum: todos que partem em busca de mensagens psicografadas do além estão desesperados por um sinal qualquer. Eles, acima de tudo, querem muito acreditar que estão entrando em contato com seus parentes falecidos. Tanta emoção é o inimigo número um da busca pela verdade.

Marcel visitou vários centros espíritas e entrevistou alguns médiuns. Ele foi autor também do livro As Vidas de Chico Xavier, uma biografia do mais famoso médium que o país já teve. Para quem não compartilha da fé na vida após a morte, nenhum relato do livro chega a impressionar realmente. Na grande maioria dos casos, o médium se limita a repetir nomes e sobrenomes, às vezes endereços ou telefones. Nada que não pudesse ser rapidamente pesquisado antes. Fora isso, os parentes em busca de consolo participam de uma entrevista com o médium antes, e quase sempre as informações relatadas na psicografia foram fornecidas por eles mesmos. Para alguém “de fora”, tudo parece uma grande encenação, ainda que com a boa intenção de auxiliar na dor dessas pessoas.

O próprio autor pergunta e responde: “É possível forjar mensagens psicografadas? É. É possível reunir o máximo de informações possível sobre determinadas famílias e construir mensagens dos espíritos a partir desses dados e das lições básicas do espiritismo? É”. Todos ali presentes estão em busca da mesma coisa: um desesperado consolo. Querem crer que a morte não existe de fato, que o filho morto continua vivo de alguma forma diferente apenas. Muitos estão em busca de conforto para o sentimento de culpa também. Desejam uma mensagem do filho garantindo que estão bem e que se “libertaram”, afirmando que os pais não devem se culpar por nada do que aconteceu. Uma dessas mães chegou a afirmar que precisava da mensagem muito mais do que poderia admitir, e que “em hipótese alguma” iria duvidar do teor delas. Posso imaginar, por ser pai, que uma das primeiras coisas que deve passar na cabeça de quem perde um filho é o que poderia ter sido feito para evitar tal desgraça. Deve ser terrível conviver com este sentimento, e muitas mensagens psicografadas têm justamente este teor, aliviando os pais. O jornalista concorda com esta análise:

“São pais que precisam acreditar, desesperadamente, que as ‘crianças’ – independente da idade que tenham – estão vivas e amparadas na outra dimensão. Famílias que precisam se livrar da culpa por não terem conseguido evitar a tragédia ou se livrar de dúvidas insuportáveis sobre as circunstâncias da morte. Suicídio? Assassinato? Tiro acidental? Muita dor? Gente que precisa, enfim, ouvir dos próprios filhos a frase definitiva: ‘Vocês não têm culpa, eu não tenho culpa. O que aconteceu estava escrito, era um compromisso assumido em outras vidas, um resgate inevitável’.”

A crença de que esta vida é apenas uma passagem, que o corpo é somente uma carcaça que carrega nosso espírito, e que tudo está escrito e determinado conforta quando acidentes banais tiram a vida de alguém muito querido. Mas o conforto oferecido não é garantia, de forma alguma, da veracidade da crença. Os adeptos do espiritismo, no desejo de defender sua fé, costumam oferecer respostas para justificar certas constatações incômodas. Se o estilo das mensagens é tão parecido e, muitas vezes, não reflete o estilo e o vocabulário dos remetentes quando vivos, a explicação estaria no fato de o médium ser um intermediário e, ao captar e transmitir as comunicações do além, estar sujeito a interferir no estilo e no conteúdo da mensagem. A necessidade de fornecer vários dados sobre os mortos é explicada da seguinte forma: “O melhor é fornecer aos médiuns o maior número de dados possível para facilitar a comunicação com o espírito”.

O que estaria por trás deste espetáculo mediúnico? Seria um simples embuste? Seria algum distúrbio psicológico do médium, que realmente acredita em seu poder? Seria um desejo de consolar os outros acima do compromisso com a verdade? Não é fácil responder isso. Em muitos casos, o médium abre mão de conforto material e nunca cobra pelas mensagens psicografadas. Alguns espíritas costumam usar isso para se defender da acusação de charlatanismo. Mas, como Waldo Vieira admite, depois de psicografar 26 livros – 17 deles com Chico Xavier, e romper com o espiritismo, são três os riscos enfrentados por qualquer médium quando se dedica a atender famílias enlutadas: poder, posição e prestígio, a “síndrome dos três pés”. Existe mais que dinheiro no mundo. Como álibis que aliviam a culpa desses “psicógrafos”, o próprio Waldo cita: o sentimento de que está difundindo a verdade maior que é Kardec, a idéia de que não pode desencorajar ninguém e a noção de que está fortalecendo as instituições. Enfim, a utilidade do ato o justifica, independente de ser ou não verdadeiro.

No entanto, creio ser importante citar o filósofo John Stuart Mill sobre isso:

“A utilidade de uma opinião é, por si mesma, uma questão de opinião: é tão discutível, tão exposta à discussão e exige tanta discussão como a própria opinião. Permanece a mesma necessidade de um juiz infalível das opiniões para decidir tanto que uma opinião é nociva, como que é falsa, a menos que a opinião condenada tenha plena oportunidade de se defender. E não bastará afirmar que ao herético se permite sustentar a utilidade ou a inocência de sua opinião, embora lhe seja proibido defender a verdade. A verdade de uma opinião faz parte de sua utilidade. Se quiséssemos saber se é ou não desejável crer numa proposição, seria possível excluir a consideração sobre ser ou não verdadeira? Na opinião, não dos maus, mas dos melhores, nenhuma crença contrária à verdade pode ser realmente útil.”

Pode um falso consolo ser um bom consolo? As drogas que vendem fuga temporária da realidade são amigas verdadeiras? Não é fácil julgar os pais que, em situação de total desespero, encontram algum refúgio no espiritismo. Talvez seja preciso uma força muito rara para aceitar que o acaso existe, que acidentes ocorrem, que a vida é finita e que nem todas as desgraças devem ter algum sentido. A morte de uma criança inocente suscita inúmeras dúvidas metafísicas. Qual pode ser o sentido dessa vida? Por que ela, e não um adulto? Por que alguém bom, e não um assassino perverso? O caminho mais fácil – e confortante – é crer que tudo é parte dos planos divinos, que tinha que ser assim, que foi para libertar essa alma para sempre.

Não é fácil julgar aqueles que tomam este caminho. Mas podemos julgar, de fora, o caminho em si. E o caminho simplesmente não parece ser real, não apresenta evidências de que existe. Parece apenas uma fantasia fruto de uma extrema necessidade de acreditar. Mas a necessidade não torna a crença verdadeira, como todas as crianças que acreditaram em Papai Noel aprendem. Por trás do véu de Ísis, não há mais nada. E isso não torna a vida mais vazia ou pior. Ao contrário: justamente por isso devemos valorizar muito esta vida que temos. Ela é a única. E registro aqui meus pêsames para todos aqueles que tiveram a vida de um ente querido interrompida, dor esta que nem gosto de imaginar. Mas gostaria de lembrar também que você ainda continua vivo!

quinta-feira, março 13, 2008

A Falácia da Renda Nacional



Rodrigo Constantino

"A individualidade sobrepuja em muito a nacionalidade e, num determinado homem, aquela merece mil vezes mais consideração do que esta." (Arthur Schopenhauer)

Para o economista austríaco Ludwig von Mises*, o pior inimigo do pensamento claro é a propensão à hipostatização, ou seja, atribuir existência real aos conceitos e constructos mentais. Um exemplo evidente disso está no conceito de sociedade. Uma sociedade não é nem uma substância, nem uma força, nem um ser que age. Apenas indivíduos agem. A cooperação de indivíduos gera um estado de relações que o conceito de sociedade descreve. Mas a sociedade não existe separada dos pensamentos e ações das pessoas. Ela não tem "interesses" e não objetiva nada. O mesmo vale para todos os outros coletivos, incluindo nação.

A hipostatização não é apenas uma falácia epistemológica. Para Mises, ela é usada nas ciências sociais para servir às aspirações políticas de determinados grupos, colocando no coletivo em questão uma importância e dignidade superiores àquelas atribuídas aos indivíduos. Estes passam a ser simples meios sacrificáveis para o objetivo maior. A propaganda socialista conseguiu criar nos termos "sociedade" e "social" uma aura de santidade que se manifesta por uma estima quase religiosa. Os fins "sociais" justificam quaisquer meios, mesmo que em nome da abstração, os seres concretos sejam eliminados ou sofram. O nacionalismo, outra forma de coletivismo, faz a mesma coisa. Pelos "interesses nacionais", tudo é desejável, mesmo que o preço seja o sacrifício de indivíduos.

Com isso em mente, podemos analisar melhor a falácia do conceito de renda nacional. Para Mises, tal conceito oblitera totalmente as condições reais de produção dentro de uma economia de mercado. Este conceito parte da idéia de que não são as atividades individuais que geram o avanço ou regresso da quantidade de bens disponíveis, mas algo que está acima e fora dessas atividades. Esse ente misterioso produz uma quantidade chamada "renda nacional", e depois um segundo processo "distribui" esta quantidade entre os indivíduos. O significado político desse método é óbvio. Os coletivistas criticam a "desigualdade" existente na "distribuição" da renda nacional, e demandam a concentração de poder arbitrário nas mãos dos "clarividentes" que irão distribuir essa renda de forma mais "justa".

Se alguém questiona quais fatores permitem o aumento da renda nacional, a resposta deverá ser: a melhoria dos equipamentos, das ferramentas e máquinas empregadas na produção, por um lado, e o avanço na utilização dos equipamentos disponíveis para a melhor satisfação possível das demandas individuais, por outro lado. O primeiro caso depende da poupança e da acumulação de capital, o segundo, das habilidades tecnológicas e das atividades empresariais. Se o aumento da renda nacional em termos reais é chamado de progresso, devemos aceitar que este é fruto das conquistas dos poupadores, investidores e empreendedores, cooperando voluntariamente numa economia de mercado.

Segundo Mises, o foco na "renda nacional" é uma tentativa de fornecer uma justificativa para a idéia marxista de que no capitalismo os bens são "socialmente" produzidos e depois apropriados por alguns indivíduos. Este approach inverte tudo. Na verdade, os processos produtivos são atividades de indivíduos cooperando uns com os outros. Cada colaborador individual recebe aquilo que os demais, competindo entre si no mercado, estão preparados para pagar por sua contribuição. Não existe razão, além do interesse político, para somar estas rendas individuais dentro do conceito de "nação" e não num contexto coletivo mais amplo ou restrito. Por que não renda do bairro, ou do município, ou do continente ou do globo? É possível concordar ou não com os objetivos políticos, mas não é possível negar que o conceito macroeconômico de renda nacional é um mero slogan político sem qualquer valor cognitivo.

O nacionalismo é um dos coletivismos mais perigosos que existem, como Hitler e Stalin podem comprovar. Toda a mentalidade mercantilista é fruto desse coletivismo também. Achar que a importação "nacional" é ruim e a exportação "nacional" é desejável é um absurdo total, resultado desta mentalidade. A existência de empresas estatais para lutar pelos "interesses nacionais" é outra enorme falácia resultante desse coletivismo tosco. O "orgulho nacional" é mais um grave sintoma desse nacionalismo bobo, uma "doença infantil", como disse Einstein. O conceito de "justiça social", que prega a distribuição forçada de renda dentro de uma nação, é mais um exemplo desse coletivismo que ignora a menor minoria de todas: o indivíduo.

Em economia, o que importa é a ação humana. Esta será sempre individual. Os dados agregados podem servir para estudos estatísticos, mas não para a compreensão da praxeologia, o estudo da ação humana, que é uma ciência apriorística. E esta representa a escolha de meios para determinado fim, que é sair de um estágio de menos satisfação para outro de maior satisfação. Somente um ente concreto possui tais metas e pode agir: o indivíduo. O grande inimigo da ação humana e, portanto, do progresso, é a idéia coletivista que escraviza o indivíduo, delegando o planejamento de suas ações a algum ente coletivo qualquer. Este ente, através da hipostatização, passa a ser visto como o ente real, enquanto cada indivíduo é que se transforma numa abstração. O controle do planejamento, no entanto, passa a ser exercido por alguns poucos indivíduos poderosos. Não existe ação fora dos indivíduos. Em nome da "renda nacional", alguns indivíduos da nação assumem o controle total, enquanto todo o restante se transforma numa simples marionete.

* The Ultimate Foundation of Economic Science, Liberty Fund

quarta-feira, março 12, 2008

A Mãe do PAC


Rodrigo Constantino

Recentemente, o presidente Lula disse que a ministra Dilma Rousseff era a "mãe do PAC". A poderosa Ministra Chefe da Casa Civil reconheceu a maternidade da criança, "para o bem ou para o mal". Estaria o PT pensando já nas próximas eleições em 2010? Se for este o caso, melhor conhecermos um pouco mais do currículo dessa ministra com tom autoritário. Os fatos são conhecidos por muitos, mas não custa refrescar a memória daqueles que por ventura esqueceram dos detalhes da trajetória de Dilma.

Nos tempos da ditadura militar, a "companheira Estella" foi uma das que planejou o roubo do cofre de Adhemar de Barros, ex-governador de São Paulo. O crime foi praticado pela Vanguarda Armada Revolucionária-Palmares, ou VAR-Palmares. Este grupo revolucionário era fruto da fusão entre a Vanguarda Popular Revolucionária, de Carlos Lamarca, com o Colina, grupo que tinha "Estella" como líder. Em julho de 1969, treze guerrilheiros da VAR-Palmares roubaram o cofre de uma casa no bairro carioca Santa Tereza, onde viva a amante de Adhemar. Os assaltantes teriam levado US$ 2,6 milhões na operação. Dilma, a então "companheira Estella", teria organizado pelo menos três ações de roubo de armamentos em unidades do Exército no Rio de Janeiro, somente em 1969.

Dilma não declarou publicamente ter se arrependido desses tempos. Pelo contrário: ela parece sentir orgulho de suas ações no passado. Comunistas são assim mesmo: acham que os fins justificam quaisquer meios. Isso sem falar que os fins escolhidos por eles são a escravidão, miséria e ditadura, resultados inevitáveis do comunismo. Dilma, assim como vários outros guerrilheiros daquela época, não era uma heroína combatendo a ditadura, mas sim uma guerrilheira lutando por outra ditadura, muito mais cruel. Aquela adotada em Cuba, ilha-presídio até hoje admirada por eles. Se esses guerrilheiros tivessem vencido, o Brasil hoje poderia ser uma enorme Cuba. Como disse Roberto Campos, "é sumamente melancólico – porém não irrealista – admitir-se que no albor dos anos 60 este grande país não tinha senão duas miseráveis opções: ‘anos de chumbo’ ou ‘rios de sangue’..."

Mas o tempo passou e hoje muitos desses guerrilheiros estão no poder ou recebendo vastas quantias de indenização, pagas pelo "contribuinte" brasileiro. Somos forçados a bancar a vida mansa daqueles que lutavam pela mais bárbara ditadura comunista. O governo Lula teve como Ministro Chefe da Casa Civil, antes de Dilma, outro desses guerrilheiros, José Dirceu. Ao que parece, para ser importante no governo Lula é preciso ter sido criminoso. Faz sentido: um governo tão corrupto assim é trabalho para profissionais do ramo!

Qualquer um pode errar, pode ser vítima de um tolo romantismo de juventude, pode ser enganado pela retórica socialista. Muitos foram, mas acordaram e se arrependeram por ter defendido algo tão bizarro como o socialismo. No entanto, Dilma não foi apenas uma defensora do socialismo no campo das idéias. Ela escolheu o caminho do crime. E pior: não se diz arrependida. Errar é humano, mas insistir no erro é burrice. No caso, burrice de quem acha louvável a trajetória da poderosa ministra, que pode vir a ser a candidata petista à presidência. Não sei quanto ao caro leitor, mas para mim, ladrão é ladrão, mesmo que diga roubar por uma causa "nobre". Quem rouba cofre é ladrão, não herói. Quem defende o modelo de Fidel Castro é safado, não altruísta. Quem faz ambos, pode acabar como o mais poderoso ministro, se Lula for o presidente. É esse o país que o povo brasileiro escolheu ter?

terça-feira, março 11, 2008

Lançamento de "Uma Luz na Escuridão"


Essa Quinta!
O lançamento do meu quarto livro, "Uma Luz na Escuridão", será dia 13 de Março agora, às 20h na Livraria da Travessa do Shopping Leblon.


segunda-feira, março 10, 2008

Os Novos Pecados Capitais


Rodrigo Constantino

O Vaticano atualizou a lista de pecados capitais para adaptá-la à "realidade da globalização". Os novos pecados capitais serão agregados aos anteriores: gula, luxúria, avareza, ira, soberba, vaidade e preguiça. Publicada no jornal do Vaticano, Osservatore Romano, a lista foi divulgada depois que o Papa Bento XVI denunciou a "queda do sentimento de pecado no mundo secularizado", em meio à redução no número de católicos que praticam a confissão. Os novos pecados incluem a manipulação genética, o uso de drogas, a desigualdade social e a poluição ambiental.

Em entrevista ao Osservatore Romano, monsenhor Gianfranco Girotti, responsável pelo tribunal da Cúria Romana que trata das questões internas do Vaticano, focou na dimensão social dos novos pecados, que vão além da esfera individual. A postura que a Igreja Católica adota é claramente o script do "politicamente correto", enfatizando as questões da desigualdade social e do ambientalismo. Girotti disse: "A desigualdade social, onde os ricos se tornam cada vez mais ricos e os pobres, cada vez mais pobres, alimentam uma insuportável injustiça social. Depois tem a área da ecologia, que hoje desperta grande interesse". O Vaticano adota a mesma linguagem dos partidos de esquerda. E não é a primeira vez.

Segundo a postura "moderna" da Igreja, é um pecado capital realizar pesquisas com células-tronco embrionárias, que podem salvar a vida de milhões de seres humanos. A ICAR nunca foi mesmo muito amiga dos avanços da ciência. Não fica claro quais drogas representam um pecado capital se consumidas. Muitos conservadores católicos focam na maconha como alvo, ignorando que a dose diária de uísque que consomem também é droga. Dirigir um SUV poluente também passa a ser um pecado capital, pelo visto. Por fim, se tornar extremamente rico virou pecado capital agora, já que o Vaticano, tal como os marxistas, parece crer que o rico é rico porque o pobre é pobre, como se riqueza fosse um bolo fixo. Warren Buffett, pela ótica católica, é um grande pecador. Claro que a riqueza em excesso só é pecado se for dos outros. A própria Igreja, rica em terras, artes e ouro, pode possuir e ostentar extrema riqueza. A concorrência é que incomoda. A hipocrisia é quem manda!

Como o Papa é infalível desde 1870, por votação dos falíveis bispos católicos, devemos assumir que estes pecados devem ser levados muito a sério pelos fiéis da Igreja Católica que, aliás, não devem também usar preservativos, por coerência. Vemos uma vez mais a Igreja apelando para o coletivismo, com uma postura claramente socialista. O catolicismo sempre foi um grande obstáculo ao capitalismo liberal, desde os tempos em que a usura era violentamente condenada. Agora, vemos novamente o Vaticano falando contra a "desigualdade social", no fundo atacando a riqueza. Ser extremamente rico virou pecado capital. Como esperar avanços materiais em países onde esta é a mentalidade predominante? A Igreja adora a miséria alheia. Vive dela, afinal de contas, pois é mais fácil conquistar para o rebanho alguém desesperado, em busca de consolo e esperança. Pessoas felizes e satisfeitas não são presas fáceis para os abutres de plantão, seja a Igreja Católica, a Igreja Universal ou os revolucionários socialistas. A ICAR deseja mais confissões justamente porque é preciso incutir sempre o sentimento de pecado, de impureza nos crentes, para que estes sejam eternos dependentes da cura oferecida pelo Vaticano.

Por fim, gostaria apenas de citar uma excelente frase, de autoria de Martin Terman: "As pessoas que me dizem que eu vou para o inferno e que elas vão para o céu de certa forma me deixam feliz por não estarmos indo para o mesmo lugar". Agradeço todo dia por ser um pecador, pela ótica bizarra da Igreja Católica, cuja visão de mundo exala sofrimento e tédio.

sábado, março 08, 2008

Os Tentáculos Burocráticos


Rodrigo Constantino

“A burocracia tem o Estado em seu poder: ele é sua propriedade privada.” (Karl Marx)

Há praticamente uma unanimidade nas reclamações referentes ao aparato burocrático, com a exceção talvez dos próprios burocratas. Todos sabem que a burocracia é ineficiente, lenta e coloca inúmeras barreiras no livre agir dos indivíduos. Qualquer um que depende dos serviços de uma repartição pública já experimentou na pele esta ineficiência burocrática. Não obstante, os tentáculos da burocracia parecem crescer a cada ano, asfixiando várias áreas da sociedade. Tentando explicar este aparente paradoxo, Ludwig von Mises escreveu um livro chamado Bureaucracy, em 1944. A seguir, veremos os principais pontos do autor.

A palavra burocracia costuma ser associada a algo ruim, mas poucos realmente definem seu sentido. Existem duas formas de se administrar um negócio: movido pelo lucro ou através de determinadas regras selecionadas. O lucro é justamente o mecanismo de informação que possibilita o cálculo racional nas tomadas de decisões sobre o uso dos fatores de produção escassos. O lucro irá informar que determinado bem é mais demandado pelo público consumidor, assim como o prejuízo informa que determinado produto não é muito desejado. Sem o lucro e a livre formação de preços através do mercado, o cálculo racional é inviável. Algum outro critério terá que ser utilizado.

Praticamente ninguém defenderia o uso do sistema racional de preços e busca pelo lucro para administrar um departamento de polícia. Entende-se que são outras as prioridades desta função, ainda que seu custo possa ser medido através do orçamento necessário para sua manutenção. Mas um bom departamento de polícia não é aquele que gera bom lucro, e sim aquele que executa bem sua tarefa de proteção dos direitos individuais, mantendo afastados os marginais. Por este motivo, os departamentos de polícia são um exemplo claro de um caso onde o modelo de gestão tem que ser burocrático. Ou seja, uma série de normas previamente definidas precisa valer, e os subalternos devem segui-las, respeitando a hierarquia e obedecendo as regras. A burocracia em si não é o mal. Ela é necessária em certas funções, justamente nas funções básicas que cabem ao governo.

Aqueles que condenam a burocracia erram o alvo, pois estão atacando um sintoma, não a causa do mal. Esta está na mentalidade socialista que predomina em muitos lugares. Quando muitos idolatram o Estado, encarando-o como uma panacéia para todos os males, a centralização de poder é inevitável. Quando a cultura da sociedade condena, por ignorância ou inveja, a busca pelo lucro, resta apenas o método burocrático para gerir os negócios. Se os eleitores defendem o controle de preços como meta do governo, uma quantidade indefinida de limites deve ser fixada para vários preços diferentes. A burocracia terá que crescer muito. O autoritarismo será uma conseqüência inevitável, pois um enorme poder arbitrário foi delegado aos burocratas. A tendência natural da burocracia será sempre lutar para concentrar mais poder e mais recursos, até porque não há meios econômicos racionais de julgamento adequado de suas funções. Quando uma empresa não está agradando o consumidor, isso logo aparece nos seus balanços contábeis. Nada parecido existe no modelo burocrático. A perda de liberdade que se segue com o aumento da burocracia é fruto do sistema político.

Capitalismo liberal significa iniciativa privada, soberania dos consumidores, já que as empresas sobreviventes serão justamente aquelas que atenderem melhor a demanda. Socialismo, por outro lado, significa controle total do governo sobre as esferas da vida privada, a supremacia completa do governo sobre os indivíduos através de um planejamento central. Não há acordo entre ambos, tampouco existe a possibilidade de uma mistura adequada. E é justamente o credo socialista que possibilita o crescente aparato burocrático. Muitos socialistas, curiosamente, detestam os atuais burocratas e políticos, mas idolatram a abstração “Estado”, acreditando que burocratas clarividentes e honestos irão cuidar de tudo e todos. Esquecem que burocratas são seres humanos em busca dos próprios interesses também. Criticar a burocracia e deixar de lado a mentalidade coletivista que permite seu gigantismo é fútil. A tendência em direção à rigidez burocrática é um resultado da intervenção do governo nos negócios. Desejar o fim e reclamar do único meio possível para atingi-lo é no mínimo contraditório, se não esquizofrênico.

A burocracia em si não é perversa nem boa. Ela é um método de gestão que deve ser aplicada em certas esferas da atividade humana. Para cuidar das tarefas básicas do governo, o aparato burocrático é necessário. O que muitos atualmente consideram perverso não é a burocracia, mas a expansão da esfera da vida a qual a gestão burocrática é aplicada. Essa expansão é o resultado inevitável da progressiva restrição da liberdade individual. As pessoas culpam a burocracia, mas o que elas realmente têm em mente são as medidas que levam ao modelo socialista. Quando cabe ao governo cuidar do povo, decidir o preço dos produtos, regular cada negócio, fornecer serviços dos mais diversos possíveis, proteger empregos e indústrias, determinar a taxa de juros, resolver como o pão será vendido, e mais uma enorme gama de metas, é impossível não surgir um enorme aparato burocrático, que irá asfixiar a iniciativa privada. Esse resultado independe da qualidade dos burocratas, na maioria das vezes. O próprio modelo burocrático funciona assim. A sociedade ficará totalmente engessada pela burocracia. Não há como ser diferente se a mentalidade socialista predomina.

Nenhum progresso significativo pode ser esperado numa sociedade muito burocrática. A mentalidade burocrática passa pela obediência de normas estabelecidas. A grande virtude de um burocrata é ser um fiel aplicador das regras. Um pioneiro, por outro lado, é justamente aquele que desafia as regras, a crença comum, o modelo estabelecido. As inovações americanas não foram fruto do acaso, assim como a completa estagnação das nações socialistas também não. Quando o governo se mete demais nos negócios, ele paralisa a iniciativa privada que possibilita o progresso. Não há como ser diferente.

No fundo de toda a defesa fanática pelo planejamento central e socialismo, existe freqüentemente a consciência da própria inferioridade e ineficiência. O homem que está ciente de sua incapacidade de enfrentar a competição ridiculariza esse “louco sistema competitivo”. Aquele incapaz de servir seus vizinhos através de trocas voluntárias deseja governá-los. Todo socialista assume que o planejamento central adotado será o seu próprio. No entanto, a competição jamais deixará de existir. Ela pode mudar sua forma, mas nunca desaparecer. No mundo burocrático do socialismo, a competição será por cargos e promoções definidas pelo centro do poder. Em vez de ter que satisfazer a demanda dos consumidores para lucrar, os burocratas terão que trocar favores, agradar os seus superiores. No capitalismo, as pessoas competem oferecendo produtos melhores e mais baratos. Na burocracia, o método é a bajulação dos poderosos.

Em resumo, a burocratização da sociedade é apenas uma característica particular de sua socialização. A questão central, portanto, é: capitalismo ou socialismo? Até os socialistas condenam o excesso de burocracia, sem se dar conta de que sua utopia leva necessariamente a isso. A solução para este mal está no abandono, através da razão, dessas fantasias socializantes. Para cortar os tentáculos burocráticos, limitando a burocracia à sua esfera mínima adequada, o único caminho é o capitalismo liberal.

sexta-feira, março 07, 2008

O Socialismo de Hitler


"The Nazis have succeeded in entirely eliminating the profit motive from the conduct of business. In Nazi Germany there is no longer any question of free enterprise. There are no more entrepreneurs. The former entrepreneurs have been reduced to the status of Betriebsfuher (shop manager). They are not free in their operation; they are bound to obey unconditionally the orders issued by the Central Board of Production Management, the Reichswirtschaftsministerium, and its subordinate district and branch offices. The government not only determines the prices and interest rates to be paid and to be asked, the height of wages and salaries, the amount to be produced and the methods to be applied in production; it allots a definite income to every shop manager, thus virtually transforming him into a salaried civil servant. This system has, but for the use of some terms, nothing in common with capitalism and a market economy. It is simply socialism of the German pattern, Zwangswirtschaft. It differs from the Russian pattern of socialism, the system of outright nationalization of all plants, only in technical matters. And it is, of course, like the Russian system, a mode of social organization that is purely authoritarian." (Ludwig von Mises, Bureaucracy, pg 53-54)


Agora, vai explicar o ÓBVIO ULULANTE para socialistas que aprenderam a repetir feito papagaios a vida toda que socialismo é o oposto de nacional-socialismo, um sistema de "direita" e, portanto, atrelado aos capitalistas liberais! Vai explicar que Hitler e Stalin são quase IGUAIS, ambos totalmente contrários a Reagan ou Thatcher! Vai explicar que o liberalismo é o oposto tanto de socialismo quanto de nacional-socialismo!


Mais fácil ensinar japonês em braile para um jegue...

terça-feira, março 04, 2008

A Mentalidade Anticapitalista


Rodrigo Constantino

“Todos gostam do sucesso, mas detestam as pessoas bem-sucedidas.” (John McEnroe)

Que o capitalismo é um sistema que permitiu uma vida mais confortável para milhões de seres humanos é um fato que uma simples observação honesta pode constatar. Que milhões, graças ao capitalismo, puderam sair da miséria predominante no mundo por milênios é algo evidente. Que a alternativa ao capitalismo, o socialismo, trouxe apenas miséria, terror, escravidão e morte é outra verdade irrefutável. Não obstante tudo isso, várias pessoas, especialmente os que atendem por “intelectuais”, demonstram uma mentalidade totalmente anticapitalista. O que pode explicar este fenômeno aparentemente estranho? O grande economista austríaco Ludwig Von Mises escreveu um livro tentando responder exatamente esta questão. Veremos a seguir os principais pontos do autor em seu excelente The Anti-Capitalistic Mentality, publicado em 1956, numa época em que o socialismo conquistava adeptos a cada dia.

Mises começa o livro lembrando que as nações mais prósperas foram as que menos tentaram colocar obstáculos no caminho da livre empresa e iniciativa privada. A característica do capitalismo moderno é a produção em massa de bens destinados ao consumo das massas. O resultado disso é uma tendência em direção a uma contínua melhoria no padrão médio de vida. A riqueza no capitalismo liberal pode ser obtida somente servindo aos consumidores. Os capitalistas perdem seus fundos se falharem ao investir naquilo que não satisfaz melhor a demanda do público. Sob o capitalismo, o homem comum pode desfrutar de coisas inimagináveis e inacessíveis mesmo para os mais ricos do passado. A característica marcante do homem é ele não parar de mirar no avanço de seu bem-estar através de atividades com este propósito. Outros animais podem se satisfazer com as demandas mais básicas para a sobrevivência, mas não o animal racional homem. Este deseja mais. E através do acúmulo de capital, ou seja, poupando parte da produção atual, ele é capaz de incrementar suas condições materiais. Isso é justamente o que o capitalismo, movido pelo sistema do lucro, fez pela humanidade.

A diferença deste modelo para o feudalismo é total. O senhor feudal não precisava servir aos consumidores e estava imune em relação à insatisfação do povo. Os empresários e capitalistas devem suas riquezas, em contrapartida, aos consumidores que escolhem seus produtos voluntariamente. Eles podem perder esta riqueza assim que outros empreendedores oferecerem melhores produtos, de acordo com as preferências dos próprios consumidores. No modelo de livre concorrência, qualquer um pode suplantar métodos ou produtos com novas opções mais baratas ou atraentes, e o que determina este resultado é o julgamento que o público faz. No capitalismo, cada um é julgado financeiramente de acordo com sua contribuição ao bem-estar alheio, segundo os próprios interessados. E eis justamente onde surge o principal aspecto que motiva uma postura anticapitalista: o sucesso ou o fracasso, do ponto de vista financeiro, depende de cada um, e não mais do título hereditário em uma sociedade sem mobilidade.

Se a condição de cada um na sociedade é dada, independente dos esforços e do resultado gerado do ponto de vista dos outros, aqueles em posição inferior aceitam o quadro, pois não se sentem responsáveis por ele. Mas quando indivíduos podem, mesmo do nada, atingir o topo da pirâmide, então o fracasso individual passa a ter um único grande culpado: o próprio indivíduo. Aquele que não é bem-sucedido se sente humilhado e insultado. O ódio contra aqueles que obtiveram sucesso acaba sendo o resultado. Em busca de consolo, estes homens desejam algum bode expiatório. Claro que o sistema é a melhor opção. Estas pessoas passam a crer que no capitalismo, somente os desonestos e egoístas podem enriquecer. Acusam os ricos de exploradores dos pobres, como se a riqueza fosse um jogo de soma zero, um bolo fixo. Seu fracasso é explicado através de sua honestidade, pois ele não aceitou jogar o jogo sujo do capitalismo, em busca do insensível lucro. Ele é melhor que isso. É um altruísta em prol da igualdade geral. Se todos fossem iguais, sua situação inferior não lhe incomodaria mais.

A comparação com os vizinhos pode ser insuportável. Se, sob o feudalismo, nenhum servo tinha a chance de mudar de padrão, no capitalismo isso não é mais verdade. A observação de que vizinhos cresceram profissionalmente e tiveram sucesso financeiro é dolorosa. A raiva é transformada em filosofia, a filosofia anticapitalista. O fanatismo na crítica ao capitalismo é precisamente fruto do fato de que estão lutando contra sua própria consciência de falsidade. A utopia conquista estas pessoas, que passam a sonhar com um mundo “justo” onde serão tratados de acordo com seu “real” valor. As fantasias são o refúgio daqueles revoltados com a própria falha. Eles odeiam o capitalismo porque ele possibilitou que outros homens chegassem onde eles gostariam de estar. Este é exatamente o caso de vários que são chamados de “intelectuais”. Sua aversão passional ao capitalismo é um ódio cego por alguns “colegas” que tiveram maior sucesso. A imensa maioria que acaba aderindo ao ódio capitalista é vítima da ignorância e movida pela poderosa paixão humana: a inveja. Não se sentem compelidos a estudar a fundo a economia, para entender os mecanismos do mercado e as incríveis vantagens do capitalismo. Basta repetir que o rico é rico porque o pobre é pobre. São guiados por paixões, não pela razão.

Uma postura elitista também pode gerar emoções anticapitalistas. Muitos observam as preferências populares com desdém, culpando o capitalismo por isso. Mas o que caracteriza o capitalismo não é o mau gosto das multidões, e sim que estas multidões podem agora consumir literatura e outros serviços que eram privilégio da aristocracia no passado. Claro que as massas podem escolher Paulo Coelho em vez de Dostoievsky, mas antes nem era possível qualquer leitura para elas. Escutar Mozart era um privilégio para pouquíssimos, enquanto hoje qualquer um pode comprar um CD por uma ninharia. Se muitos escolhem um grupo de funk, isso não é culpa do capitalismo. Este simplesmente abre inúmeras possibilidades, ofertando aquilo que a demanda decide. Além disso, os ricos são como cobaias para as massas, e o luxo de hoje é a necessidade de amanhã. Assim ocorreu com automóveis, rádios, televisões, telefones, celulares, computadores etc. A massificação da produção favorece muito os mais pobres. Somente a inveja explica a revolta com a diferença no consumo dos mais ricos, já que tais produtos serão os bens populares de amanhã, gerando mais conforto para as massas.

O capitalismo, em resumo, beneficia os mais pobres, que podem viver melhor pegando carona nas conquistas alheias. Qualquer um que usufrui dos produtos da Microsoft ou da Google deveria agradecer ao capitalismo e ao egoísmo dos capitalistas em busca de lucro. Todos que consomem remédios deveriam louvar o capitalismo pelo grande avanço na área medicinal. As pessoas vivem mais, as crianças morrem em quantidade bem menor, a qualidade de vida para a maioria é infinitamente melhor que no passado ou que no presente de países não-capitalistas. Ainda assim, o que vemos é o contrário: muitas pessoas condenando o capitalismo pelos males do mundo. Somente uma mistura de ignorância com inveja pode explicar isso, como Mises já havia notado meio século atrás.