domingo, fevereiro 28, 2010

Filhos do Iluminismo



Rodrigo Constantino

A Revolução Americana representa o experimento mais liberal, em grande escala, que se tem conhecimento até hoje. Os ideais representados pelos “pais fundadores” da nação ajudaram a criar um ambiente de ampla liberdade individual, incluindo a religiosa. Alguns conservadores da direita cristã, entretanto, tentam reescrever a história de seu país, transformando tudo num projeto cristão. O ex-presidente Bush encarna esta imagem com perfeição, misturando os temas da fé com os do governo.

Preocupada com esta deturpação dos fatos, Brooke Allen escreveu Moral Minority, um livro que enaltece a postura cética dos principais “pais fundadores”. Ela argumenta que a nação americana não foi fundada nos princípios cristãos, e que a elite responsável tanto pela independência quanto pela Constituição era filha do iluminismo que florescia em sua época. Em suma, os “pais fundadores” eram herdeiros de Locke, não de Cristo.

Os massacres e perseguições religiosas que marcaram a Reforma na Europa eram muito recentes ainda, e os “pais fundadores” estavam determinados a evitar algo parecido. Unificar as diferentes seitas existentes nas colônias era um desafio. A religião deveria ser vista como uma questão pessoal, subjetiva, que ficaria fora da arena pública da política. Figuras de destaque, como Benjamin Franklin, Thomas Jefferson e James Madison, avançariam na idéia de “tolerância religiosa” de Locke, para pregar, de fato, a liberdade religiosa. Um muro seria erguido entre o Estado e a religião.

Brooke Allen seleciona alguns dos mais importantes “pais fundadores” e faz uma análise meticulosa de suas visões religiosas, especialmente por meio de cartas particulares trocadas por eles. É preciso lembrar que eles eram figuras públicas, com objetivos políticos, vivendo numa época em que certos dogmas nem sequer eram questionados pelas massas. Assumir uma postura mais radical sobre um tema tão delicado como religião poderia ser fatal para as ambições políticas de alguém. Mesmo assim, as declarações públicas desses homens demonstram como suas crenças sofreram forte influência iluminista. Algumas afirmações seriam impensáveis até nos dia de hoje, por conta de um preocupante retorno do misticismo.

Benjamin Franklin, um dos mais respeitados “pais fundadores”, fora criado como um Presbiteriano, mas reconhecia que o importante eram poucas regras de bom senso comuns a todas as religiões. Ele não era freqüentador assíduo de igrejas, admitia que a “revelação” não havia o influenciado, e dizia respeitar todas as diferentes religiões. Para ele, o relevante eram as ações dos homens, boas ou más, e não seus pensamentos. Sua visão religiosa era bastante utilitarista. Além disso, ele negava o monopólio da verdade a qualquer seita, preferindo uma postura de modéstia. Palavras como “certeza” eram evitadas por Franklin, que adotava um método mais socrático. Jesus teria sido um importante pensador, mas Franklin tinha dúvidas sobre sua divindade, e não parecia se importar muito com isso. Para ele, esta era uma questão indiferente. Alguém pode imaginar uma interseção entre os fundamentalistas cristãos da direita americana atual e Benjamin Franklin?

O primeiro presidente americano, general George Washington, encarava a religião como algo bastante pessoal também. Poucas crenças simples bastavam para um bom convívio social, e Washington não era chegado a adorações religiosas. No leito de sua morte, Washington rejeitou a presença de um padre, contrário aos hábitos cristãos. John Adams defendia mais abertamente a separação entre religião e política. Adams mantinha uma postura mais pessimista em relação à natureza humana, e acreditava que as paixões como vaidade, orgulho, avareza e ambição iriam sempre predominar sobre a moralidade ou a religião, Sua visão do clero não era positiva de forma alguma. Adams reconheceu, após muita leitura sobre teologia, que pouca importância havia ali, e que suas crenças, inalteradas por décadas, poderiam ser resumidas nas palavras “ser justo e bom”. Enfim, uma tolerância universal que não depende do credo religioso de cada um.

Thomas Jefferson foi um dos “pais fundadores” mais radicais contra a interferência da religião na vida política. Difamado como o Voltaire de Virgínia pelos seus opositores, Jefferson defendia o escrutínio científico sobre qualquer assunto, incluindo religião. O Estatuto de Virgínia pela Liberdade Religiosa, escrito por ele, era um documento radical para a época, que acabou servindo como modelo para a separação entre governo e igreja depois. As crenças religiosas deveriam ser da esfera individual; ninguém é agredido pelo que o vizinho pensa sobre deuses e fé. Para Jefferson, em todos os países os padres foram hostis à liberdade, sempre em alianças com o déspota, garantindo proteção em troca. Em uma carta ao seu sobrinho, Jefferson sugeriu que a Bíblia fosse lida como se lê Tácito ou Lívio. A sua própria razão deveria guiá-lo, rejeitando preconceitos e crenças de todos os lados. Jefferson pensava que as diferentes religiões convergiam na essência, em regras básicas de convívio em sociedade, mas que lutas sangrentas eram travadas por causa de seus dogmas, totalmente irrelevantes para o bem-estar geral. Pessoas boas existem em todas as religiões, e isso é o importante, não as religiões em si. Jefferson se considerava um seguidor de Epicuro.

O amigo de Jefferson, James Madison, também considerava totalmente errado o governo se meter em religião. Uma pequena interferência seria uma grave usurpação de direitos. Para Madison, a humanidade achava mais confortável crer num deus, e isso era o máximo que poderia ser dito sobre o assunto. Cada seita deveria conviver pacificamente com as demais, e um monopólio seria um grande perigo. Por este motivo, Madison não aceitava a idéia da América se definir como uma nação cristã. A maioria poderia seguir a fé cristã, mas isso não dava o direito de ela interferir no pensamento das minorias. O legado cristão, para Madison, era de indolência do clero, servilismo dos leigos, e muita perseguição. O “pai da Constituição” pregava que tanto a religião quanto o governo seriam mais puros se não se misturassem.

Thomas Paine era, sem dúvida, o mais radical dos “pais fundadores” nos discursos, talvez porque não tivesse ambições políticas e podia falar o que pensava abertamente. O autor de Common Sense chegou a ser preso na França por apoiar a Revolução Francesa, que claramente cometeu excessos condenáveis, em parte como reação aos excessos absurdos da própria Igreja Católica no país. Em The Age of Reason, Thomas Paine abre fogo direto contra os diferentes credos religiosos que espalhavam intolerância entre os indivíduos.

O que Brooke Allen mostra no livro é como os principais “pais fundadores” beberam da fonte iluminista, que permitiu um grande avanço das liberdades religiosas. O cristianismo não é o responsável por isto, pois enquanto teve o poder político, não havia espaço nem liberdade para outras seitas. Uma das melhores ilustrações da influência iluminista na nova nação foi o Tratado de Tripoli, assinado em 1797, declarando com todas as letras que o governo dos Estados Unidos não era, de forma alguma, fundado na religião cristã. O documento foi apoiado pelo então presidente John Adams, e foi ratificado no Senado por unanimidade. É bom lembrar que, após centenas de votações já realizadas no Senado até então, esta foi apenas a terceira com votação unânime.

Segundo seus próprios fundadores, portanto, os Estados Unidos eram um produto do iluminismo, não da religião cristã. O filósofo John Locke merece mais crédito que Cristo por esta experiência revolucionária, que garantiu uma liberdade individual jamais antes vista na história da humanidade. O que a direita cristã deseja, portanto, não é um resgate aos valores pregados pelos “pais fundadores” dos Estados Unidos, mas um retrocesso aos tempos medievais, onde religião e governo eram coisas totalmente misturadas, e não havia liberdade religiosa alguma.

sexta-feira, fevereiro 26, 2010

A charge do ano



Do blog de Reinaldo Azevedo:

"A charge do alto está publicada no blog CUBA DEMOCRACIA Y VIDA, de cubanos exilados na Suécia. Não poderia ser mais precisa na sua metáfora cruenta. Os irmãos Raúl e Fidel Castro estão mergulhados numa banheira de sangue, e Lula está tomando o seu lugar no macabro ménage-à-trois ideológico. Desde a revolução, em 1959, somam 17 mil as pessoas executadas a mando da dupla, segundo informa O Livro Negro do Comunismo. Estima-se que outras 83 mil tenham morrido afogadas tentando deixar a ilha — na prática, um presídio comandando pela dupla de facínoras. Dada a população cubana, o número faz dos irmãos dois dos grandes homicidas da história."

Eu sempre admirei o poder de síntese de alguns chargistas. Como escritor, sei como é difícil passar a mensagem toda em poucas palavras. Resumir tudo em uma única imagem então! Parabéns aos autores desta charge. O presidente Lula me embrulha o estômago. Preciso de um Engov para aturar sua imagem...

Uma bolha de crédito estatal?



Rodrigo Constantino, para o Instituto Liberal

O lucro do Banco do Brasil em 2009 superou os R$ 10 bilhões, e membros do governo comemoram o resultado. Mas uma lupa no balanço do banco estatal desperta desconforto nos mais céticos. Os ativos totais do banco ultrapassaram os R$ 700 bilhões em 2009, saindo de pouco mais de R$ 500 bilhões em 2008. O crescimento foi acelerado demais, basicamente no crédito para pessoa física. Como o patrimônio líquido não aumentou na mesma proporção, o patamar de alavancagem do banco deu um salto.

O BB possui praticamente R$ 20 de ativo para cada R$ 1 de patrimônio. Isso quer dizer, em outras palavras, que uma perda de apenas 5% nos seus ativos levaria a uma perda total de seu patrimônio. O Itaú Unibanco e o Bradesco, os maiores bancos privados, são bem mais conservadores, com R$ 12 de ativo para cada R$ 1 de patrimônio. E, com a crise econômica e o cenário ainda incerto no mundo, estes bancos privados reduziram seu risco, o oposto daquilo feito pelo BB, pelo BNDES e pela Caixa Econômica Federal.

O governo fala em medidas anticíclicas, mas o fato é que uma bolha de crédito estatal pode estar em gestação. Não custa lembrar que os problemas no setor imobiliário americano começaram assim. A parcela dos bancos estatais no total de crédito do país já chega a quase 50%, e subindo a ladeira. O uso político deste crédito representa uma ameaça às liberdades, já que o cão não morde a mão que o alimenta. O BNDES, por exemplo, destina 85% de seus desembolsos para grandes empresas. O BB aumentou em 247% as operações de crédito para o setor público em 2009. O PAC recebeu também quase R$ 4 bilhões do BB em 2009.

No "Manifesto Comunista", Marx colocou como uma das metas fundamentais de seu programa a “centralização do crédito nas mãos do Estado”. Parece que o Brasil de Lula não está muito longe disso.

quinta-feira, fevereiro 25, 2010

El Coma Andante gosta mesmo é da Nike!



O ditador decrépito Fidel Castro, mais conhecido como El Coma Andante, escolheu o uniforme da Nike para posar na foto ao lado do presidente Lulla, seu antigo camarada e admirador. A Nike, não custa lembrar, representa um ícone do "imperialismo ianque", segundo os perfeitos idiotas latino-americanos. Quer dizer então que o ditador pode usar símbolos do capitalismo americano numa boa? Além disso, não há um embargo econômico dos Estados Unidos à ilha-presídio? Onde foi que Fidel comprou este uniforme? Será que o povão cubano, o gado bovino de propriedade dos irmãos Castro, pode comprar um desses também?

A verdade precisa ser dita sem rodeios: qualquer um que ainda defende o regime cubano é um CANALHA. Não há alternativa. Ninguém mais pode apelar para a ignorância. Os fatos são escancarados demais. Cuba é um lixo, um presídio, um inferno miserável por conta do socialismo, esta utopia assassina. Educação e saúde? Ah, fala sério! Não há educação em Cuba, apenas doutrinação ideológica, onde as vítimas são forçadas a repetir as maravilhas do regime, enquanto olham em volta a triste realidade, gerando dissonância cognitiva e uma legião de hipócritas. Saúde? Os hospitais estão caindo aos pedaços, faltam remédios, e até mesmo o ditador precisa de tratamento de médicos espanhóis quando a coisa aperta. Sabe como é, a vida vem antes da retórica...

Não, o discurso de que faltam algumas liberdades, mas pelo menos... não cola mais! Falta TUDO mesmo! Faltam as liberdades mais básicas, e falta o conforto material mínimo que quase todos nos países capitalistas possuem. É miséria para todo lado, escravidão, doutrinação, repressão. Isso chama-se socialismo, esta porcaria que tantos "intelectuais" ainda pregam no Brasil, com o apoio de boa parte do PT. A única sensação razoável que alguém pode ter ao ver essas fotos é NOJO.

quarta-feira, fevereiro 24, 2010

O Cúmplice



O governo Lula tem sido um verdadeiro cúmplice

Autor(es): Agencia O Globo/Cristina Azevedo

O Globo - 24/02/2010

A voz de Oswaldo Payá era pesada ao atender o telefone.

Minutos antes ele fora informado da morte de Orlando Zapata Tamayo, companheiro de luta para impulsionar o Projeto Varella, uma iniciativa que reuniu assinaturas de cubanos defendendo um referendo sobre mudanças políticas em Cuba. A tristeza se misturava à indignação e Payá, um dos principais dissidentes do país, não poupou críticas aos governos cubano e brasileiro.

“O governo Lula não teve uma palavra de solidariedade com os direitos humanos em Cuba, tem sido um verdadeiro cúmplice”, disse ao GLOBO.

O GLOBO: O que significa a visita do presidente Lula neste momento e os investimentos brasileiros no país?

OSWALDO PAYÁ: Os projetos econômicos o Brasil pode levar de volta quando quiser. Respeitamos e amamos o povo brasileiro, mas o governo Lula não teve uma palavra de solidariedade com os direitos humanos em Cuba, tem sido um verdadeiro cúmplice com a violação dos direitos humanos em Cuba. Já não esperamos nem queremos esperar nada dele.

Sobre a carta que os presos políticos enviaram ao presidente Lula... O senhor apoia a iniciativa?

PAYÁ: Nossos amigos presos sempre tentam chamar a atenção dos visitantes. E Lula, que esteve preso, deveria ter coragem de encontrar pessoas que estão detidas por defenderem a liberdade sindical, por defenderem os direitos dos cubanos. Mas, sinceramente, não creio que valha a pena pedir (o encontro). Ele demonstrou que seu compromisso é com este governo. Se tem alguma explicação a dar, que dê ao povo brasileiro.

Como o Brasil poderia ajudar?

PAYÁ: Levantando a voz e com a solidariedade para libertar os presos políticos pacíficos, porque não colocaram bombas, não cometeram violência, só pediram respeito aos direitos. É só isso que o povo do Brasil deve fazer. Não se escuta essa voz. E agora, após uma cúpula que foi uma vergonha sobre a exclusão que o povo cubano sofre, sabemos que temos de lutar sozinhos.

Houve um encontro de dissidentes com uma delegação americana. Como esses encontros ajudam?

PAYÁ: Se aqui vem alguém do Brasil e quer se reunir, vamos e falamos. Se vem de Vaticano, Espanha, EUA, se querem ouvir nossas opiniões, vamos e falamos. Ninguém pode pôr limites de com quem podemos falar. Essa delegação veio falar com o governo cubano. O que ocorre é que o governo é excludente até nisso.

Está sendo preparado um funeral para Zapata?

PAYÁ: Não sabemos. Aqui há um regime totalitário onde as coisas mais elementares não são respeitadas. Assim, não sei o que vai ocorrer.

A oposição vai tentar uma aproximação com o Brasil?

PAYÁ: Não. Vamos tentar com o povo brasileiro, porque sua embaixada aqui sequer trata conosco. E, por questão de dignidade, não vamos tentar nada com um governo que nos despreza. Com o povo do Brasil sim. Tomara que nossa mensagem chegue ao povo brasileiro.

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Comentário: Não é novidade alguma que o PT e o presidente Lula reverenciam o pior ditador de todos os tempos na América Latina, Fidel Castro. Amigos de longa data, parceiros no Foro de São Paulo, o PT e o regime cubano tem tudo a ver. Nada mais coerente, portanto, que o presidente Lula visitar novamente os irmãos Castro em seu feudo, enquanto ignora a morte do dissidente político, cujo "crime" havia sido discordar da ditadura comunista. É um espanto! Não a postura de Lula, altamente esperada. Mas o fato de que este senhor é o presidente do Brasil, com ampla aprovação popular. Onde vamos parar assim?

Encontro com a realidade

Deu no Valor:

Corte de gastos gera protestos na Europa

Cortes emergenciais de gastos pelos governos de países do sul da Europa, com o objetivo de reduzir os déficits orçamentários e restaurar sua credibilidade nos mercados internacionais de dívida, estão despertando a ira de sindicatos de Portugal à Grécia.

A Grécia estava ontem à noite se preparando para as consequências de uma greve geral de 24 horas que deverá paralisar hoje grande parte do país. Sindicatos dos setores privado e público protestarão contra as medidas governamentais de austeridade econômica e as exigências da União Europeia de rigor ainda maior.

Líderes sindicais disseram que esperam um nível de adesão elevado à greve e que isso deve enviar um forte sinal de que o aperto de cintos atingiu seus limites.

"Exigimos do governo e de Bruxelas [sede da UE] que as pessoas e suas necessidades sejam colocadas acima dos mercados e dos lucros", afirmou Stathis Anestis, membro do comitê executivo da GSEE, confederação que reúne sindicatos de trabalhadores do setor privado.

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Comentário: Os parasitas agraciados com os privilégios do welfare state não vão largar o osso facilmente. Mesmo governos socialistas estão tendo que enfrentar a dura realidade, assim como Ícaro não poderia voar tão alto como gostaria. Foi bom (para eles) enquanto durou a fantasia, mas o "mercado", este insensível ente abstrato, cobrou a fatura. Não adianta chorar, apelar para a falsa dicotomia de "lucros ou vidas", pois é justamente o contrário: ignorar por tanto tempo as leis da economia é que criou esta situação calamitosa, que exige reação mesmo de governos de esquerda. O encontro com a realidade está com data marcada. O welfare state europeu fracassou. Reformas serão inevitáveis. Questão de sobrevivência. Os parasitas, famintos demais, ficaram obesos, e os hospedeiros não aguentam mais carregar tanto peso. Ou cortam na carne parte dos privilégios, o que os liberais chamam de "responsabilidade fiscal", ou o sofrimento será ainda maior depois. A escolha é essa. Não há mais ilusão.

sábado, fevereiro 20, 2010

Panfleto contra o PNDH-3



“Quem espera que o diabo ande pelo mundo com chifres será sempre sua presa.” (Schopenhauer)

Todos conhecem a máxima de que o caminho para o inferno está cheio de boas intenções. Nada se aplica tão bem ao caso do Terceiro Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH-3), proposto por grupos de esquerda e assinado pelo governo Lula. Trata-se de um programa que propõe diretrizes ao governo, que aparentam um fim nobre, mas pode levar o país rumo a uma ditadura. Por baixo da embalagem bonita, jaz uma concentração absurda de poder no governo, com a contrapartida da redução drástica das liberdades individuais.

Em meio a diretrizes vagas e ambíguas, encontram-se determinadas metas claramente autoritárias. Os eufemismos utilizados para ocultá-las não resistem a uma reflexão mais séria. Em nome dos direitos humanos, toda uma gama de medidas é proposta, cujo resultado prático seria justamente a perda dos mais básicos direitos humanos. A retórica não é capaz de produzir resultados concretos desejados. Se bastasse o decreto do governo para acabar com os males da humanidade, os países com maior intervenção estatal seriam paraísos terrestres; ocorre justamente o contrário na realidade.

Após dissecar o documento todo, o que salta aos olhos é uma clara escalada da intervenção do Estado em nossas vidas. “Desenvolvimento sustentável”, “responsabilidade social”, “reforma agrária”, “diversidade cultural”, todas são expressões belas, mas que na prática não dizem muita coisa objetiva. Tamanha arbitrariedade serve apenas para concentrar um poder enorme nas mãos dos burocratas do governo, quase sempre produzindo um resultado oposto àquele intencionado. Eis alguns pontos preocupantes do PNDH-3:

• Estimular a democracia direta: na realidade, isso representa o fim da democracia representativa, substituindo-a por plebiscitos manipulados por minorias organizadas ligadas ao governo, como ocorre na Venezuela;
• Controle social dos meios de comunicação: um claro eufemismo para censura e controle de imprensa, como faziam os conselhos na falida União Soviética, matando de vez a liberdade de expressão e o direito de escolha dos consumidores;
• Criação da Comissão da Verdade: no fundo, trata-se de uma tentativa escancarada de reescrever a história brasileira, transformando terroristas que lutavam pela ditadura comunista em heróis que lutavam pela democracia;
• Expansão do Bolsa-Família: mais impostos sobre a classe média para financiar o maior programa de compra de votos já visto neste país, que cria dependência em vez de dar dignidade através do trabalho;
• Avançar a reforma agrária: os assentamentos do MST viraram verdadeiras favelas rurais, cada vez mais dependentes de verbas públicas para sobreviver;
• Atualizar o índice de eficiência na exploração agrária: se o agricultor não atingir metas de produtividade arbitrariamente definidas pelo governo, ele poderá perder suas terras, um claro desrespeito ao direito de propriedade privada;
• Políticas públicas de economia solidária: na prática, mais intervenção econômica, com o governo decidindo arbitrariamente quem ganha, em vez dos próprios consumidores fazerem isso por meio de trocas voluntárias;
• Criar um imposto sobre grandes fortunas: o efeito prático desta medida populista seria afugentar o capital do país, reduzindo a quantidade de novos empregos criados;
• Estimular e aumentar programas de distribuição de renda: quando o governo concentra poder para distribuir renda, o resultado concreto é uma maior concentração de renda também, como se pode verificar em Brasília, que tem de longe a maior renda per capita do país, produzindo basicamente leis e corrupção;
• Fomentar ações afirmativas para negros e índios: as cotas raciais acabam segregando o país em “raças”, o que estimula o próprio racismo e desrespeita a Constituição, que claramente prega a igualdade perante as leis;

Existem outros pontos relevantes, mas com estes listados acima já se pode ter uma idéia dos riscos que as liberdades individuais correm com o PNDH-3. No fundo, este projeto significa transformar o Brasil numa grande Venezuela, onde o caudilho Hugo Chávez concentra cada vez mais poder em nome da “justiça social”, com um resultado terrível para seu povo. Os verdadeiros direitos humanos são garantir a propriedade privada, as liberdades individuais básicas, o direito de cada um buscar sua própria felicidade sem a coerção do Estado. Justamente o contrário daquilo pregado pelo PNDH-3, que trata cada um de nós como um idiota que necessita da tutela estatal para tudo, sem capacidade de assumir a responsabilidade pelos rumos da própria vida.

Vamos dar um basta a mais esta tentativa de nos transformar em rebanho bovino que precisa obedecer cegamente seu pastor, o “sábio” governo. Vamos mostrar que desejamos liberdade, e que lutaremos por ela. Não vamos aceitar passivamente esta ditadura velada, disfarçada com belas palavras. “Para o triunfo do mal, basta que as pessoas de bem nada façam”, alertou Edmund Burke. Vamos reagir!

Por isso, contamos com sua presença na passeata que estamos organizando, apartidária, contra este programa de “direitos humanos” que representa, na verdade, o caminho da servidão. No dia 28 de fevereiro, domingo que vem, às 10h no começo da praia do Leblon, próximo da Av. Niemeyer, vamos nos reunir e realizar uma marcha pacífica contra esta tentativa de golpe autoritário. Abaixo a ditadura! Viva a liberdade!

sexta-feira, fevereiro 19, 2010

A Vitória da Barbárie



Rodrigo Constantino

“Quem poupa o lobo, mata a ovelha.” (Victor Hugo)

A soltura do assassino de João Hélio, o garoto que foi arrastado por vários metros preso ao cinto do carro, desperta revolta em qualquer um que ainda nutre simpatia pelo bom senso. Infelizmente, o bom senso é matéria-prima cada vez mais escassa neste país. Após anos de lavagem cerebral dos sociólogos de esquerda, muitos passaram a acreditar que os criminosos são apenas “vítimas da sociedade”, e que todos podem ser “reabilitados” após um período sócio-educativo. É a visão do “coitadismo” que predomina no país. Balela!

O que está em jogo é um conflito de visões sobre a natureza humana. Para alguns mais românticos, todo ser humano é um anjo em potencial. Filhotes de Rousseau, essas pessoas acham que nascemos puros, e somos corrompidos pela sociedade – como se esta não fosse justamente resultado do que somos. Eles acham que todos merecem uma nova chance – à exceção das suas vítimas fatais, naturalmente. Acham que basta dar carinho e amor, passar a mão na cabeça dos assassinos, que logo eles serão bons samaritanos. Acreditam na elasticidade total da natureza humana. Somos páginas em branco aguardando lindas mensagens que serão escritas pelos “engenheiros sociais”.

A partir desta premissa, claramente utópica, essas pessoas costumam defender uma postura bem mais branda com assassinos, principalmente se forem novos. Marmanjos com quase 18 anos, que já podem votar desde os 16, passam a ser tratados como crianças indefesas e inimputáveis quando praticam os crimes mais horrendos. Na época das eleições, voltam a ser adultos responsáveis, capazes de escolher o próximo governante – é mais fácil conquistar pelas emoções os eleitores jovens. Trata-se de uma clara contradição.

Fruto desta mentalidade nasceu o Estatuto da Criança e do Adolescente, repleto de boas intenções. Mas, como os mais realistas sabem, o inferno está cheio de boas intenções. Como constatou Roberto Campos, "com a nossa capacidade de fazer maluquices em nome de boas intenções, criamos uma legislação de menores que é um tremendo estímulo à perversão e ao crime, ao fazê-los inimputáveis até os 18 anos". A crença ingênua de que esses assassinos frios serão reeducados pelo Estado, e passarão a brincar de Lego após um período na Febém, pariu uma legislação monstruosa, que estimula o crime e desrespeita as vítimas inocentes.

Uma visão alternativa de mundo encara o ser humano como um bárbaro em potencial, que precisa ser civilizado. Cada nova geração chega necessitando de freios aos “instintos” mais básicos. O “bom selvagem” de Rousseau nunca existiu de fato. A vida tribal era repleta de guerras, domínio pelo mais forte, disputas sangrentas. Para evitar isso, o papel das instituições, do mecanismo de incentivos, faz-se crucial. Tais pessoas acreditam mais no processo que na capacidade de se criar o “homem novo”. Logo, defendem “trade-offs”, não soluções mágicas. Reconhecem que o império das leis impessoais poderá gerar casos isolados que parecem injustos, mas entendem que esse é o custo a se pagar para preservar a liberdade e a ordem. A punição é vista como principal incentivo contra o crime.

É neste contexto que o ato de colocar em liberdade, e ainda mandar para o exterior o assassino de João Hélio, desperta tanta revolta. A punição legal deve ser condizente com o crime, caso contrário a sensação de impunidade será grande, estimulando o desejo por vingança pessoal. Quando o crime compensa, a civilização sai perdendo. No limite, o resultado pode ser a vitória total da barbárie. Mesmo que este não seja o resultado intencional dos adeptos da visão romântica da natureza humana, é o resultado que eles acabam ajudando a criar. Em defesa da civilização, os criminosos precisam ser duramente punidos, de acordo com a gravidade de seus crimes.

quinta-feira, fevereiro 18, 2010

A Farmácia do Futuro



Rodrigo Constantino

As novas regras da Anvisa para a venda de remédios nas farmácias começam a valer esta semana, apesar da chuva de liminares que vem garantindo o direito de as farmácias manterem os produtos ao alcance dos clientes. Por trás das novas regras jaz uma mentalidade que trata os consumidores como idiotas indefesos, o governo como um deus, e os burocratas como seus santos agentes enviados para nos proteger.

Segundo esta crença, um indivíduo pode entrar numa farmácia para comprar um desodorante, e de repente comprar e consumir por impulso vinte aspirinas, mesmo sem dor de cabeça alguma. Contra este enorme risco, nós precisamos do governo para proibir que tais remédios, que não necessitam de receitas médicas, fiquem ao nosso alcance. Claro, sem a Anvisa todos nós acabaríamos tomando veneno no café da manhã, em vez de leite. Ainda bem que temos o governo para cuidar de nós!

Há um “pequeno” problema nessa premissa, entretanto: são os próprios idiotas que escolhem o governante, que por sua vez irá protegê-los. Ou seja, somos todos idiotas, vítimas potenciais da “exploração” das farmácias, mas vamos escolher nossos protetores pelo voto. E quem garante que não seremos explorados então pelos próprios governantes? Já que somos idiotas, a probabilidade disso ocorrer é enorme! Ou seja, o paternalismo e o sufrágio universal democrático são um tanto contraditórios.

Os paternalistas precisam sair da toca e assumir de forma mais direta que são autoritários, que defendem um governo de “esclarecidos”, gente altruísta que vai proteger os mentecaptos, sem abusar de tanto poder. A questão de como colocar tais sábios altruístas no poder, assumindo que eles existem, permanece sem solução aparente. Mas isso não importa muito aos autoritários: eles sempre imaginam que pessoas exatamente como eles terão esse poder de tutela.

Não passa por suas cabeças ingênuas que os verdadeiros idiotas, ou então os oportunistas sedentos por poder, poderão assumir o governo. Nesse caso, bem mais provável, devemos perguntar: quem vai nos proteger dos idiotas poderosos? Quem vai nos proteger da arrogância dos burocratas da Anvisa, que acham que não somos capazes de escolher uma simples aspirina sem a tutela estatal?

Por fim, sabemos que essa mentalidade é típica da esquerda. A mesma esquerda que costuma pregar a legalização das drogas – não sem razão. Mas quando ambas as bandeiras se juntam, uma clara contradição salta aos olhos. Os idiotas não podem ter liberdade para comprar uma simples aspirina, direto da prateleira, mas vão comprar skank na farmácia? Já posso até imaginar uma farmácia do futuro, idealizada por um esquerdista típico. O sujeito entra nela, e pede ao farmacêutico:

- Senhor, uma aspirina, um bagulho do bom, um comprimido de exctasy e um tablete de ácido, por favor.

No que o farmacêutico retruca:

- E você tem receita médica para esta aspirina, rapaz?

O custo político da Petrobras

Rodrigo Constantino, Jornal Valor Econômico

Normalmente, uma empresa estatal apresenta um risco maior que outra privada para seus acionistas minoritários. Isso se deve ao risco de uso político da companhia, além da falta de escrutínio adequado dos principais sócios no uso dos recursos escassos.

A Petrobras é um caso sintomático desse perigo. Várias vezes a empresa foi utilizada para objetivos políticos dos governantes, levando pouco em conta os interesses dos acionistas. O melhor retorno possível sobre o capital sempre foi colocado em segundo plano, atrás das metas políticas do momento. Com a descoberta do pré-sal, esse fantasma está de volta.



Para que a enorme quantidade de recursos naturais se transforme em riqueza efetiva, a empresa terá que realizar um programa gigantesco de investimentos: para os próximos cinco anos, são previstos US$ 175 bilhões.

A geração própria de fluxo de caixa da empresa não será suficiente para suprir todo esse montante. O grau de alavancagem da Petrobras já não está em patamares tão confortáveis. Resta, portanto, a opção de emitir novas ações para levantar capital.

Mas o governo não pode ser diluído e perder o controle da empresa. Surge um problema: como capitalizar a Petrobrás sem que o governo perca o controle ou precise desviar dezenas de bilhões para a estatal?

A resposta veio por meio de uma engenhosa arquitetura financeira. O próprio ativo sob o solo, que pertence à União, será usado como capital pelo governo. Dessa maneira, ele não precisa desviar dinheiro de outros setores. Entretanto, uma grande incerteza paira no ar: qual será o valor atribuído a esse ativo?

O fluxo de caixa gerado pelas reservas pré-sal será altamente dependente do preço futuro do petróleo, sem falar dos enormes riscos operacionais da atividade. Além disso, o valor presente desse fluxo dependerá da velocidade no uso do pré-sal, que custa mais caro para ser extraído do que o óleo em menor profundidade e em campos já maduros.

Dependendo das premissas usadas, o valor presente do pré-sal poderá ser elevado, sacrificando, porém, as margens da Petrobras, que faria uso melhor de seu capital focando em reservas mais baratas.

O risco de o governo supervalorizar esses ativos de alguma forma, para aumentar o capital da Petrobrás sem diluir sua participação, não é nada irrelevante. Há um claro conflito de interesses entre o acionista controlador, o governo e os acionistas minoritários. E o mercado de ações acusa o golpe.

Desde meados de 2009, as ações da Petrobras já perderam cerca de 30% de valor em relação ao Ibovespa. Isso não pode ser explicado pela mudança no cenário de commodities, pois o petróleo continuou no mesmo nível nesse período, sem falar do bom desempenho da OGX.

Além disso, as ações da Petrobras perderam também bastante valor em relação às ações da Vale, o que mostra claramente que o problema é específico da Petrobras.

As incertezas quanto ao modelo de capitalização estão no cerne do problema, agravado pelo "overhang" de ações (bilhões de dólares serão vendidos em forma de novas ações aos minoritários, inundando o mercado com mais oferta de papel). O valor de mercado da Petrobras tem oscilado entre R$ 300 bilhões e R$ 350 bilhões.

Esses 30% de perda no valor relativo ao Ibovespa representa quase R$ 100 bilhões. Pode-se afirmar que este foi o custo, até agora, de se colocar a política acima dos interesses dos acionistas no que diz respeito somente ao pré-sal.

Se todos os demais custos, pelo fato de a Petrobras ser ainda uma estatal, fossem computados, o resultado seria assustador. Quantos bilhões a mais a empresa poderia valer se tivesse uma gestão privada, focada no melhor retorno sobre o capital, sem a influência do interesse político?

Infelizmente, nas eleições que se aproximam, não há um único partido com a bandeira de retomar as privatizações. Os minoritários da maior das estatais continuarão arcando com um pesado custo enquanto tiverem que pagar pelo jogo político dentro da empresa.

terça-feira, fevereiro 16, 2010

Arrogância Autoritária

Rodrigo Constantino, O Globo

No discurso de agradecimento pelo prêmio de “estadista global” do Fórum Econômico Mundial, o presidente Lula, num arroubo de megalomania, disse que “é hora de reinventar o mundo e suas instituições". Segundo seu diagnóstico, a crise atual é resultado de falhas do capitalismo, e não do excesso de intervenção estatal na economia, como a pressão do governo americano para que o crédito imobiliário chegasse aos mais pobres, ou a manipulação da taxa de juros pelo banco central americano. Partindo desta falsa premissa, o presidente pretende recriar o capitalismo – como se ele tivesse sido fruto da invenção de alguns poucos.
Desde 1776, com Adam Smith, sabemos que as grandes vantagens do laissez-faire ocorrem quando cada indivíduo foca nos seus próprios interesses e investe em suas habilidades específicas. Eles são guiados por uma “mão invisível” que promove um resultado favorável a todos, independentemente de intenções iniciais. “Não é da benevolência do açougueiro que esperamos nosso jantar, mas de sua preocupação com seu próprio interesse”, explica Smith.
A criação de um simples lápis só foi possível por esta divisão de trabalho. Pode parecer estranho, mas ninguém saberia fazer sozinho um lápis. Ele foi o resultado de milhões de trocas entre indivíduos. A extração da grafite, o metal, a borracha, as máquinas usadas para todas essas etapas, enfim, o processo produtivo que permite a fabricação do lápis é mais complexo do que podemos imaginar. E, talvez o mais importante, nenhum planejador central decidiu que algo útil como o lápis deveria ser inventado. Ele simplesmente foi.
O prêmio Nobel de economia, Hayek, utilizava o termo “ordem espontânea” para sintetizar o modelo capitalista. Ele compreendia que o conhecimento necessário para o avanço da civilização se encontra disperso entre toda a sociedade. Além disso, o conhecimento atual não é capaz de antever as mudanças no futuro. Para Hayek, “a maior parte das vantagens da vida social, especialmente em suas formas mais avançadas que chamamos ‘civilização’, depende do fato de que o indivíduo se beneficia de maior conhecimento do que ele está ciente”. O grande equívoco dos intervencionistas foi justamente o que Hayek chamou de “arrogância fatal”, a crença de que algumas pessoas podem desenhar, de cima para baixo, uma nova sociedade mais eficiente.
Um bom exemplo para ilustrar isso é a língua de um povo. Muitos pensavam que a língua tinha sido “inventada”, criada deliberadamente por alguns com este fim. Aceitar que coisas tão úteis como a língua possam ser fruto de uma ordem espontânea exige reflexão e humildade. Tais instituições, ou, como preferia Hayek, formações, foram sendo moldadas ao longo dos séculos. Apareceram por meio das ações de diferentes indivíduos, sem que cada um deles tivesse noção exata do que estava ajudando a construir. Quando um “gênio” resolveu oferecer ao mundo uma nova língua mais racional, fracassou: hoje, praticamente ninguém conhece o Esperanto.
A pretensão do presidente Lula de “reinventar o mundo” nada mais é do que a repetição desta perigosa arrogância. O liberal, ao contrário do intervencionista, é humilde, reconhece que a sociedade é bastante complexa, e defende um processo incessante de tentativa e erro sob a livre concorrência. Ele sabe que as imperfeições do livre mercado costumam ser agravadas com a intervenção estatal, realizada por humanos também imperfeitos. A alternativa ao liberalismo é o autoritarismo de arrogantes que tentam impor sua limitada visão de mundo.

domingo, fevereiro 14, 2010

Filhos adultos: mais um efeito do welfare state



Na Europa, cresce o número de adultos de até 40 anos que ainda vivem com a família

O Globo

ROMA, BERLIM, PARIS E LONDRES - Os preços elevados para compra e aluguel de imóveis; o índice de desemprego disparado pela crise econômica, e o endividamento ao longo dos anos de formação acadêmica são alguns dos vilões que desencorajam jovens europeus a abandonar o conforto e a segurança da casa dos pais. O fenômeno, que está crescendo, ganha apelidos em cada um dos países onde aflora: a geração que se recusa a deixar o ninho se chama "Ni-Ni" na Espanha ("ni estudia, ni trabaja", ou nem estuda, nem trabalha); mammone na Itália, porque não larga a barra da saia da mamma e "kidult" no Reino Unido. Na Alemanha, sociólogos batizam essa propensão de "hotel mama".

ROMA - Renato Brunetta, ministro da Administração Pública do governo italiano, mexeu num ninho de marimbondos, atacando uma das figuras mais populares e comuns do país: os mammoni, ou seja rapazes e moças (dos 18 aos 40 anos) que vivem agarrados às saias de outra grande instituição italiana: a mamma. O ministro propôs uma "mesada" estatal de 500 (R$ 1.270) para que os mammoni abandonem a casa materna.

Brunetta é um dos ministros mais populares do governo de Silvio Berlusconi, famoso por suas propostas provocativas, acompanhadas de declarações bombásticas. Quase todas não foram discutidas no Conselho de Ministros. Mas valeram muito palavrório na TV e nos lares italianos. Numa entrevista, Brunetta comentou:

- Eu obrigaria por lei os filhos a saírem de casa aos 18 anos.

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Comentário: O welfare state vai criando distorções bizarras, e quais as "soluções" que os governos encontram? Novas distorções bizarras, e mais autoritarismo, claro! O ministro quer OBRIGAR os jovens a sair de casa com certa idade. Nada mais autoritário! E o governo quer dar mesada para vagabundos, filhotes do sistema atual, perpetuando a vida parasitária desses dependentes do "papai" governo e papai real. A coisa está feia. A causa tem nome: welfare state.

sexta-feira, fevereiro 12, 2010

A Cigarra Doente



Rodrigo Constantino, Revista Voto

Apesar do epicentro da crise mundial estar nos Estados Unidos, a economia européia é que foi parar na UTI. Mais especificamente, os países denominados PIGS (Portugal, Itália, Grécia e Espanha, na sigla em inglês) estão passando por um verdadeiro dilema sem fácil solução. A tragédia grega se espalha rapidamente para contaminar os demais membros da União Européia, todos eles vítimas do mesmo tipo de doença. Esta mazela tem nome: chama-se welfare state.

A vida animal numa natureza hostil nunca foi fácil. Não poderia ser diferente para os seres humanos. Sobreviver é uma árdua tarefa, sujeita a inúmeros riscos, além da constante necessidade de labutar para obter os recursos fundamentais. Viver bem então, levar uma “vida digna”, parece uma meta ainda mais audaciosa. Boa parte da humanidade simplesmente viveu ou vive à margem dessas benesses que os povos de nações desenvolvidas pelo capitalismo parecem tomar como certas. E quando a maioria do povo começa a encarar tais condições como “direitos” que são garantidos pelo governo, e não mais como resultado de um sistema que oferece liberdade individual e cobra responsabilidade em troca, eis quando os problemas começam.

Conceitos básicos obtidos pelo bom senso passam a ser ignorados por aqueles que, feito crianças mimadas, sonham que basta bater o pé no chão e pedir para ser atendido. Mas quem vai provê-los de tais “direitos”, na verdade vantagens duramente conquistadas? Ora, o Estado, “essa grande ficção através da qual todo mundo tenta viver à custa de todo mundo”, como dizia Bastiat. Essas pessoas, imbuídas de uma mentalidade coletivista que justifica tudo pelo “social”, esquecem que para alguém desfrutar do direito a produtos feitos pelos homens, outro deve ser obrigado a trabalhar para produzi-los. Afinal, casas, remédios, roupas, alimentos, nada disso cai do céu. Quando um povo ignora como tais recursos são possíveis, quando ele passa a acreditar que basta o governo decretar, e todos os desejos serão realizados, o encontro com a dura realidade será questão de tempo.

E o tempo de ajustes dolorosos para os europeus chegou. O aumento na quantidade de “direitos” oferecidos pelos governos europeus aos seus eleitores foi impressionante nas últimas décadas. Para financiar tais promessas, a carga tributária já subiu a patamares assustadores, fazendo com que um típico europeu tenha que trabalhar quase a metade do ano apenas para pagar impostos. A rigidez das leis trabalhistas, na ingênua crença de que garantiriam segurança aos trabalhadores (já empregados), engessou a economia, dificultando a demissão e, portanto, a contratação de pessoal. Os governos encontraram, como única alternativa para honrar seus gastos excessivos, a opção de emitir dívida. O endividamento desses governos em relação às suas economias chegou a graus insustentáveis em alguns casos.

Enquanto a maré toda está subindo, por conta de choques produtivos com a entrada de bilhões de eurasianos no mercado de trabalho, ou pela manutenção das taxas de juros em níveis artificialmente baixos, tudo parece bem. Mas quando a bolha estoura e a maré baixa, aqueles que nadavam pelados ficam expostos. É justamente este o caso de boa parte da Europa. Seu modelo de welfare state apresenta grande semelhança ao esquema Ponzi de pirâmide. Os trabalhadores novos vão sendo forçados a trabalhar mais para pagar pelos “direitos” dos outros. A previdência social, altamente benigna, no papel, com os aposentados, vai acumulando um rombo explosivo. Ocorre que a demografia não mais ajuda. Os europeus passaram a ter menos filhos. A conta não fecha. E a economia mundial deixou de ajudar, entrando em recessão. A bomba-relógio parece cada vez mais próxima de explodir.

O que deve ser feito é bastante claro do ponto de vista teórico. Esses governos precisam apertar bastante seus cintos, reduzir drasticamente seus gastos, soltar as amarras burocráticas que travam o dinamismo econômico, e deixar o setor privado respirar ares mais livres. Em resumo, a Europa precisa realizar reformas liberais, voltar a aceitar a realidade como ela é. O trabalho precisa ser enaltecido, em vez da vida parasitária à custa dos outros. A responsabilidade, sempre individual, precisa retornar, jogando para escanteio a utopia coletivista. Os fatos devem ser enfrentados. A formiga, enfim, precisa ser mais valorizada que a cigarra.

Há, entretanto, um grave problema na equação: convencer esse povo, agora já acostumado, a abrir mão dos privilégios insustentáveis. Muitos já ameaçam ou até fazem greves gerais, mostrando que não aceitarão, sem luta, regressar à realidade, largar o osso oferecido pelo governo no passado. A cigarra, mesmo doente, não deseja abrir os olhos e verificar que aquela dolce vita não existe mais. Ela irá relutar até o final. Só que as formigas cansaram de bancar a farra da cigarra. Até quando ela conseguirá cantar assim?

A Prisão de Arruda



Rodrigo Constantino, para o Instituto Liberal

Finalmente! Já era tempo de algum político importante do país ser preso durante o exercício de seu mandato. O governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda, teve sua prisão decretada pelo STJ, acusado de corrupção. Trata-se de um passo importante para a consolidação do Estado de Direito no país, mesmo que a probabilidade de o governador permanecer encarcerado seja pequena. Um dos principais pilares do liberalismo é justamente a igualdade perante as leis. Eis o que anda tão em falta na terra de Macunaíma, onde o acúmulo de privilégios pela classe política invejaria o mais déspota dos reis antigos.

Infelizmente, o presidente Lula não concorda com este importante valor liberal. Antes, na defesa de José Sarney, envolvido em diversos escândalos, o presidente chegou a afirmar que o bigodudo não era um “homem comum”. Agora, o presidente lamenta que o escândalo no Distrito Federal “tenha chegado a este ponto”. Como assim, senhor presidente? O que devemos lamentar é que tenha demorado tanto para chegar a este ponto, que ainda é muito pouco! Todos os corruptos deveriam parar atrás das grades. Sim, eu concordo que vão restar poucos políticos, e que talvez Brasília toda precise ser cercada. Entendo que o partido do presidente, o PT, iria praticamente sumir do mapa, ou transferir sua sede para Bangu. Mas é isso mesmo que deveria acontecer. Lugar de corrupto é na cadeia!

O presidente Lula avaliou que a prisão de Arruda não contribui em nada para o desenvolvimento da “consciência política nacional”. O que não contribui para tanto é a postura de um presidente que sempre defende os bandidos em vez da lei, que beija a mão de corruptos, que mantém nos cargos importantes de seu governo ou partido, réus de formação de quadrilha, ou que escolhe como possível sucessora uma ex-assaltante.

Por fim, o que também não ajuda em nada no desenvolvimento dessa consciência política é a manifestação totalmente seletiva dos “grupos sociais” que pressionaram pela prisão de Arruda. Afinal, essa mesma gente, quando se trata de escândalos do PT, toma “chá de sumiço” e entra em estado de total letargia, tal como os ursos polares. É o velho “dois pesos e duas medidas”, aquela hipocrisia tão característica da esquerda nacional, que luta pelo poder, e não por valores e princípios.

quarta-feira, fevereiro 10, 2010

O Chile deixa os vizinhos para trás



Deu no jornal Valor Econômico:

Chile anuncia gabinete de 'Chicago Boys'

Rodrigo Uchoa, de São Paulo

O presidente eleito do Chile, Sebastián Piñera, recheou seu ministério com "Chicago Boys" - economistas com pós-graduação na Universidade de Chicago, um ícone do pensamento liberal. O chefe da Casa Civil, o chanceler e o ministro da Economia têm passagem por lá. O da Fazenda e o do Planejamento estudaram em Harvard.

Analistas apontam, entretanto, que a principal característica do primeiro escalão da área econômica deve ser a intervenção direta de Piñera - ele mesmo com pós-graduação em Harvard - até em assuntos cotidianos.

"Ele deve usar uma estratégia de CEO, com participação direta [de Piñera] na fixação de metas e prazos, além de avaliação mensal de resultados. Esse parece ser o cenário da área econômica", disse o analista político Carlos Peña.

Os escolhidos para a Fazenda e para a Economia, Felipe Larraín e Juan Andrés Fontaine, têm em comum com Piñera terem se formado em economia pela Pontifícia Universidade Católica do Chile e feito pós-graduação nos EUA.

O escolhido para a Fazenda, Felipe Larraín, 51, tem doutorado em Harvard. A relação dele com o presidente eleito vem de longa data. Quando postulou uma vaga na universidade americana, nos anos 80, foi recomendado pelo próprio Piñera, que havia feito sua pós-graduação lá. Larraín ainda é professor da PUC, além de manter uma consultoria e fazer parte do conselho de administração de diversas empresas. [...]

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Comentário: Quanta diferença quando comparamos com o restante da América Latina! Enquanto Hugo Chávez destrói o que restava da Venezuela com seu "socialismo do século XXI", o Chile caminha rumo ao progresso, já partindo de um sucesso relativo gritante. A estabilidade política, já que até a esquerda chilena não ousa mexer nas "vacas sagradas" da economia, garante um clima mais favorável aos negócios, sem falar dos impostos bem menores que os nossos. As reformas econômicas liberais dos "Chicago Boys" na época da ditadura de Pinochet plantaram as sementes do avanço chileno. Após um período de mais social-democracia, o país sentiu a necessidade de focar no progresso novamente. Os chilenos elegeram um empresário rico e com discurso mais liberal. Parabéns aos chilenos!

terça-feira, fevereiro 09, 2010

Chávez vai multar consumo de energia



O Globo

CARACAS - Depois de implementar um plano de racionamento de energia em janeiro, o presidente Hugo Chávez decretou estado de emergência elétrica na Venezuela nesta segunda-feira e detalhou nesta terça-feira um plano que prevê desde sanções a quem exceder o consumo até descontos na tarifa para quem economizar.

Pelo decreto, os venezuelanos com consumo acima de 500 quilowatts-hora por mês - cerca de 24% dos consumidores residenciais - devem reduzir o consumo em 10%. Caso não atinjam a meta, o preço da conta vai ficar 75% mais caro. Aqueles que ultrapassarem o consumo em 20%, o aumento na tarifa será de 200%.

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Comentário: O caudilho venezuelano, que está afundando a Venezuela numa baita crise, já declarou que votaria em Dilma se fosse brasileiro. E você, prezado leitor, vai votar na mesma candidata do gorila "bolivariano"? A Venezuela socialista e, portanto, miserável e autoritária, representa o seu ideal de país?

Eleições em Costa Rica

O Globo

SAN JOSÉ - A candidata do governo Laura Chinchilla se declarou no domingo vencedora nas eleições presidenciais da Costa Rica, depois de seus rivais admitirem a derrota. Ela será a primeira mulher a governar o país.

- É um momento de alegria e de humildade. O povo me deu sua confiança e não trairei esta confiança - disse a conservadora Chinchilla em San José, diante de centenas de simpatizantes.

De acordo com os resultados do Supremo Tribunal Eleitoral, Chinchilla obteve 48,8% dos votos com 59,5% das seções eleitorais apuradas.

Seus rivais - o centroesquerdista Ottón Solis, que estava na contagem em segundo lugar, com 24,6% dos votos, e o direitista Otto Guevara - reconheceram a derrota para Chinchilla.

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Comentário: Otto Guevara não é "direitista" na verdade, mas liberal mesmo, do Movimento Libertário, e ficou em 3º lugar nas eleições para presidente, com 20,8% dos votos (até última atualização). Tive o prazer de conhecê-lo no último Fórum da Liberdade em Porto Alegre, onde almoçamos juntos. Um quinto dos eleitores abraçando diretamente uma bandeira libertária. Nada mal...

sexta-feira, fevereiro 05, 2010

Hora de despertar

Rodrigo Constantino, para o Instituto Liberal

“Quem espera que o diabo ande pelo mundo com chifres será sempre sua presa”, escreveu Schopenhauer. Nada mais verdadeiro. O caminho do inferno costuma ser pavimentado com boas intenções e belas embalagens. É justamente o caso do terceiro Programa Nacional de Direitos Humanos, o PNDH-3, que o governo Lula assinou na calada da noite no final do ano passado. Tal projeto tem caráter autoritário do começo ao fim, delegando ao governo um controle absurdo da sociedade. Trata-se de um projeto claramente inspirado no esquerdismo radical de Hugo Chávez, protegido sob um manto de eufemismos.

Por falar no caudilho venezuelano, hoje o jornal O Globo destaca que três mil policiais impediram uma passeata de estudantes em Caracas, enquanto chavistas podiam circular livremente. Eis o resultado prático do “controle social” dos meios de comunicação, meta também presente no PNDH-3: uma perseguição violenta contra todos os opositores e críticos do governo. Chávez acredita que ele é o povo, tal como Robespierre achava durante o Terror jacobino. Logo, o controle da imprensa pelo povo significa uma ditadura de um homem só. Quem está contra ele, está contra o povo. E por isso merece ser perseguido, ou barrado pela polícia, mesmo numa passeata pacífica.

“Tudo que é necessário para o triunfo do mal é que as pessoas de bem nada façam”, alertou Edmund Burke. Ele estava certo. Os cariocas vão encher as ruas da cidade neste fim de semana em blocos carnavalescos. Nada contra a diversão, claro. Mas devemos ter cuidado com a passividade, com a negligência diante do “pão e circo”, enquanto aqueles sedentos por poder se articulam para destruir nossas liberdades. Estou ajudando a organizar uma passeata apartidária no dia 28 de fevereiro, a partir das 10 horas, no começo da praia do Leblon. Vamos mostrar aos políticos de Brasília que existe reação popular contra este projeto totalitário. O momento histórico que vivemos é bastante preocupante. O caminho da servidão está em curso. Se nada for feito agora, poderá ser tarde demais. Está na hora de despertar!

Passeata no Rio contra a ditadura do PNDH-3

Convocação para uma passeata no dia 28 de fevereiro, às 10h no começo da praia do Leblon, contra esse programa autoritário chamado PNDH-3. Vamos dar um basta a esta tentativa do governo de colocar o Brasil no caminho da servidão que se encontra a Venezuela.

quinta-feira, fevereiro 04, 2010

O "altruísmo" do governo



Deu no Estadão:

"O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem que o Brasil continuará importando gás da Bolívia mesmo após atingir a autossuficiência na produção do combustível. A afirmação foi feita em cerimônia de inauguração do maior gasoduto brasileiro em capacidade, investimento, de R$ 2,54 bilhões, que vai garantir a chegada de até 40 milhões de metros cúbicos por dia aos principais mercados consumidores.

Segundo ele, o contrato com a Bolívia é uma forma de "ajudar" o país vizinho. "Eu acho que, dentro de algum tempo mais, a gente vai poder bater no peito e dizer: "Nós temos gás suficiente". E vamos continuar comprando da Bolívia, porque nós temos que ajudar a Bolívia, que é um país pobre. O papel de uma nação do tamanho do Brasil é ajudar os países menores do lado dele", disse o presidente."

Comentário: O presidente Lula transporta o marxismo para a relação entre nações. Os países mais ricos devem ajudar os países mais pobres. "De cada um de acordo com a capacidade, a cada um de acordo com a necessidade", eis o slogan dos marxistas. No fundo, seria o GOVERNO brasileiro ajudando o GOVERNO da Bolívia, e jogando a conta para os consumidores brasileiros. O presidente Lula adora praticar a "solidariedade" com o esforço alheio, de olho em seus interesses políticos. E ainda tem quem chame isso de "altruísmo"...

Haiti: a burocracia do "altruísmo"



Deu em O Globo:

"Enquanto em Porto Príncipe haitianos e voluntários ainda se queixam de que a ajuda humanitária demora a chegar devido à insegurança, a problemas de transporte e à corrupção, no Ceará 160 toneladas de remédios, água e alimentos correm o risco de perder a validade no depósito da Cruz Vermelha local devido à burocracia. Em vez de ser transportado diretamente ao Haiti, o material tem de ser enviado primeiro ao Rio, onde estão concentrados os esforços humanitários. Em nota, a Cruz Vermelha do Brasil disse que os alimentos que estejam prestes a perder a validade serão doados a comunidades do Ceará.

Ontem, centenas de haitianos famintos fecharam uma avenida de Porto Príncipe em protesto contra a distribuição deficiente. Eles acusam oficiais locais de montar uma máfia para cobrar pelas doações.

- Eles roubaram o arroz! - gritava a multidão, agitando galhos de árvores."

Comentário: eis o que acontece quando, entre a solidariedade verdadeira e voluntária de indivíduos, e a demanda por ajuda dos desesperados, se mete um câncer chamado GOVERNO! Interesses eleitoreiros desses atores insensíveis que são os políticos, e as inexoráveis corrupção e ineficiência do excesso de burocracia, fazem com que as ajudas humanitárias deixem pesados pedágios no caminho até seu destino final. E ainda tem quem chame os atos do governo de "altruísmo"...

quarta-feira, fevereiro 03, 2010

A volta dos que não foram
















Rodrigo Constantino

“O passado não nos dirá o que devemos fazer, mas sim o que devemos evitar.” (Ortega Y Gasset)

Estudar a história da América Latina é uma tarefa que pode causar certa monotonia na pessoa. Afinal, impressiona o quanto as mesmas coisas se repetem por aqui. Nós não aprendemos com os erros passados. A região parece um quadro algumas vezes, imóvel na parede. É o caso das tentativas de conquista de poder por parte dos socialistas, que encontram sempre um ambiente fértil para plantar a semente da discórdia, crucial para espalhar sua seita. Por isso eles não desistem nunca; pois com tanta ignorância e miséria, a seita socialista sempre será uma ameaça concreta. A Venezuela é apenas o mais recente e desastrado caso.

Acredito que um estudo sobre o caso chileno é deveras ilustrativo, pois se até o Chile, país que gozava de uma estabilidade política ímpar na região, caiu nas garras do socialismo, então todos são vítimas em potencial desta praga. E no Chile, os socialistas liderados por Salvador Allende utilizaram táticas muito semelhantes às utilizadas ainda hoje pelos socialistas da região, incluindo Hugo Chávez. O uso da democracia como um meio para se destruir a própria democracia e as liberdades individuais, instaurando assim um regime socialista, não é nada novo.

Allende não foi eleito presidente do Chile por uma maioria absoluta. Ele recebeu apenas 36,2% dos votos, contra 34,9% do candidato conservador, e 27,8% do candidato democrata-cristão. Em outras palavras, mais de 60% dos eleitores não queriam Allende no poder. Mas no Chile não havia um segundo turno para situações como esta. Cabia ao Congresso completar a eleição. Uma aliança entre os dois outros partidos poderia, dentro da Constituição chilena, colocar outro candidato em vez de Allende na presidência. Não havendo consenso entre eles, Allende acabou sendo indicado, mas não sem antes um compromisso de que ele não iria desrespeitar a Constituição do país (tal receio já existia na época das eleições).

Uma vez no cargo, Allende iria ignorar tal compromisso, e governar com a meta de destruir a própria democracia, promovendo uma ruptura social e institucional no país. Logo no começo este objetivo ficou evidente. A tradição chilena era que o presidente eleito estendesse a mão aos que não haviam votado nele, assumindo a postura de presidente de todos os chilenos. Allende preferiu romper esta tradição, anunciando que suas ações partiriam da premissa de que existiam, no Chile, conflitos de classe irreconciliáveis. Quais classes seriam privilegiadas estava evidente nas bases do governo: movimentos revolucionários de esquerda, grupos que se preparavam para uma guerra civil inspirada nas táticas de Che Guevara.

O ex-presidente Eduardo Frei afirmou que os allendistas “aplicaram deslealmente as leis ou as atropelaram abertamente”, desrespeitando inclusive os Tribunais de Justiça. O governo interferiu nas eleições sindicais, favorecendo grupos aliados ou criando grupos paralelos quando seus aliados perdiam as eleições. Eles chegaram a propor a substituição do Congresso por uma “Assembléia Popular” e a criação de “Tribunais Populares”, algo semelhante aos “tribunais do povo” dos jacobinos na era do Terror. Uma Guarda Pessoal foi criada em 1971, altamente armada. O sistema de educação seria convertido num processo de doutrinação marxista.

A Corte Suprema da Justiça, por unanimidade, censurou o Poder Executivo por desrespeitar sistematicamente as decisões dos Tribunais. No segundo semestre de 1973, já não havia dúvidas de que uma ditadura totalitária estava sendo instaurada no Chile. Milhares de representantes da extrema esquerda foram para o Chile, e a embaixada cubana virou um verdadeiro ministério paralelo. Escolas de guerrilha foram criadas, treinando paramilitares sob a proteção do governo. Houve uma acelerada importação clandestina de armas pesadas. A infraestrutura para um exército paralelo estava instaurada. A democracia estava com seus dias contados.

No campo econômico, a crise, gerada pelo próprio governo, foi vista como oportunidade para mais intervenção ainda. Allende congelou os preços, manipulou artificialmente o valor da moeda, elevou consideravelmente os gastos públicos, e comprou por meio do Estado inúmeras empresas privadas. Outras tantas foram perseguidas pelo governo. Fazendas foram tomadas. A mineração de cobre, principal indústria chilena, foi expropriada e colocada sob gestão estatal. Após um ano de governo, Allende teve que pedir uma moratória para a dívida externa do governo. Entre junho e dezembro de 1972, o índice de preços de consumo foi multiplicado por quatro, e ainda dobraria outra vez depois. A produção agropecuária chegou a cair 25%. O caos era total, resultado das medidas do governo Allende, que explorava este caos politicamente.

Os socialistas chilenos não conseguiam conviver com os limites do poder do Estado, com a liberdade de expressão, com a alternância de poder. O diplomata venezuelano Carlos Rangel, em Do Bom Selvagem ao Bom Revolucionário, escreveu que a experiência chilena provou, uma vez mais, algo mais do que sabido: “a incompatibilidade do marxismo-leninismo com a democracia”. Os socialistas acabam usando as brechas democráticas para instalar uma ditadura totalitária. Criam, assim, um ambiente de guerra, onde, de uma forma ou de outra, o resultado será uma ditadura. Allende, neste sentido, foi o pai político de Pinochet. Sem aquele não teria existido este.

As queixas posteriores dos socialistas, os protestos em nome da democracia, não passam de hipocrisia. A amargura dos derrotados é “a de quem perdeu uma guerra, não a daqueles que buscaram a paz”, diz Rangel. E quem pode evitar um déjà vu lendo tais linhas? As semelhanças com o que se passa hoje na Venezuela são gritantes demais. Agora, o regime “bolivariano” de Chávez começa a encontrar algumas barreiras, fruto do enorme fracasso econômico, e o ditador precisa derrubar a máscara da democracia que vem tentando usar até então.

Uma vez mais a lição será dada: o socialismo democrático é uma impossibilidade. Os meios socialistas levam a uma ditadura opressora sempre. Ou o próprio Chávez sairá vitorioso, reinando absoluto tal como seu camarada Castro em Cuba; ou então algum golpe militar vai retirar Chávez do poder e instaurar outra ditadura. De qualquer forma, a Venezuela caminha a passos largos rumo a uma ditadura totalitária, plantada pelos socialistas. Caso estes saiam derrotados, irão depois posar de vítimas, e com o tempo ajudando a apagar uma memória curta, o povo latino-americano, guiado por uma elite de “intelectuais” esquerdistas, poderá sonhar uma vez mais com as maravilhas do tal socialismo democrático. Essa repetição no erro mais parece um sintoma de uma neurose coletiva dos latino-americanos.

I, Beer




Em homenagem a Leonard E.Reed, autor de "I, Pencil"

I, beer, simple though I appear to be, merit your wonder and awe. Millions take me for granted, yet not a single person on the face of the earth knows every process required to make me. Think of the complex web of people and the numberless skills that went into my creation. I, beer, am a complex collection of miracles: hops, barley, yeast, water, glass bottles, metal caps, printed labels, and so on. Contemplate all the tractors and sprinklers and fertilizers and other implements used in growing and harvesting the hops and barley. Think of all the persons and the countless skills that went into their production: the mining of ore, the making of steel and its refinement into blades and machine parts, the many miles of irrigation pipes and canals that bring water to the fields, and so on. But to these miracles an even more extraordinary miracle has been added: the configuration of creative human energies -- milions of know-hows spontaneously responding to human necessity and desire in the absence of any governmental or any other coercive masterminding. Indeed, the seemingly simple task of producing one beer such as I is so vastly complex that no one could plan it. If you can become aware of the miraculousness which I symbolize, you can help save the freedom humanity is so unhappily losing.

terça-feira, fevereiro 02, 2010

Ecos de Massachusetts

Rodrigo Constantino, O Globo
(02/01/2010)

Roboão, filho de Salomão, sucedeu a seu pai no reino dos judeus aproximadamente em 930 a.C. As dez tribos do norte, coletivamente denominadas Israel, se relatavam descontentes com as pesadas taxações impostas já no tempo do Rei Salomão. Roboão foi procurado por uma delegação de representantes de Israel, que solicitou o abrandamento da ríspida servidão imposta por seu pai. Entretanto, ele não aceitou a proposta e, ao contrário, endureceu ainda mais com as tribos. Estava declarada a guerra, que durante décadas não teve um dia de intervalo sequer. Essas lutas prolongadas enfraqueceram os dois lados, abrindo caminho para a invasão dos egípcios. A ganância de um governante abriu uma cicatriz de quase três mil anos no povo judeu, como relata a historiadora Barbara Tuchman em “A Marcha da Insensatez”.
Ao longo da história, inúmeras rebeliões ocorreram como reação à tentativa de governos expandirem seus tentáculos sobre o bolso e as liberdades dos indivíduos. A mais famosa e bem-sucedida delas foi a Revolução Americana, desencadeada pela revolta com o aumento de impostos. A abusiva lei do Selo, de 1765, foi o estopim para tal conflito. Os ingleses seguiram com novos impostos, como o imposto Townshend e o imposto sobre o chá, que levou à famosa Festa do Chá, em Boston, 1773. O espírito de liberdade do povo americano acabou falando mais alto, e em 1776 eles finalmente conquistaram a independência.
Atualmente, esse espírito adormecido pode estar despertando como reação ao avanço do governo Obama. As crises sempre foram usadas por governantes como pretexto para a expansão do Leviatã. Durante o governo Bush não foi diferente, e a ameaça terrorista serviu para a criação do “Patriot Act”, um claro desrespeito às liberdades individuais. Obama aproveitou a crise financeira, em boa parte criada por medidas do próprio governo, para expandi-lo de forma assustadora. Os planos multibilionários de resgates, a estatização de empresas, o aumento da regulação e a explosão do déficit fiscal, tudo isso despertou a revolta de muitos americanos cientes de que o preço da liberdade é a eterna vigilância. Os Estados Unidos, afinal, foram construídos com base na desconfiança em relação ao governo.
A derrota humilhante dos Democratas em Massachusetts, tradicional reduto dos defensores do “big government”, pode ter representado um ponto de virada. A gota d’água foi a proposta de reforma na saúde, que vai custar caro ao povo. Coincidiu com o primeiro aniversário do governo Obama, marcado por acentuada queda de popularidade. A força política mais vibrante no momento é justamente um movimento contra impostos que resgata a lembrança da Festa do Chá. Será que os americanos finalmente acordaram da ilusão de que o governo pode resolver todos os problemas através de mais gastos? Será que uma carga tributária perto de 30% da produção nacional disparou o alerta?
Os brasileiros também já se rebelaram contra o abuso de impostos no passado. A Inconfidência Mineira foi o mais famoso movimento desta natureza. A “derrama” era uma taxação compulsória que obrigava a população a completar uma cota de ouro determinada pela coroa portuguesa. Os mineiros eram obrigados a pagar o quinto real sobre a produção de ouro, ou seja, 20% de imposto. Tiradentes acabou enforcado e a metrópole conseguiu abortar a revolta separatista. Hoje, os brasileiros não são mais súditos de Portugal, mas sim de Brasília. Somos obrigados a pagar quase 40% de imposto. Bem que poderíamos escutar os ecos de Massachusetts...

segunda-feira, fevereiro 01, 2010

Frase do Dia


















SAVE TREES; STOP PRINTING MONEY

A frase virou adesivo de milhares de americanos do movimento tea-party contra o "big government" e a irresponsabilidade fiscal. Acho ela de uma sabedoria incrível, pois a única forma de sensibilizar os esquerdistas é através da proteção ambiental, já que os seres humanos, vítimas da inflação produzida pelo Fed, não costumam receber muita atenção dessa gente "altruísta"...

Que esquerda é essa?



Autor: Fernando de Barros e Silva
Folha de S. Paulo - 01/02/2010

Como retrato da esquerda, o Fórum Social Mundial nos oferece uma imagem melancólica. De um lado, o evento, encerrado ontem, se presta a ser um palco de aclamação do lulismo; de outro, reitera sem mais dogmas anticapitalistas, fazendo tabula rasa do legado ruinoso dos experimentos coletivistas do século 20.

Em sua 10ª edição, o fórum agrega uma esquerda que transita entre o novo pragmatismo e a utopia de antigamente, sem que se detenha na crítica de nenhum dos polos. Adesista e fundamentalista ao mesmo tempo, essa esquerda age como quem quer usufruir todos os benefícios possíveis deste mundo (lulista), sem prejuízo de manter intacto o clichê do "outro mundo possível".

Entre o radicalismo vazio e o apego ao poder, haveria uma trilha menos cômoda. Algo como o compromisso com a redução das desigualdades, com o combate à corrupção em todas as suas formas e a defesa da democracia e do pluralismo -tudo combinado numa perspectiva reformista, que se paute pelo realismo sem abrir mão de princípios.

Não é isso, como se sabe, o que seduz os funcionários da utopia. Mas que esquerda é essa que vira as costas aos estudantes venezuelanos e não se manifesta contra a escalada autoritária de Chávez? Que esquerda é essa, para quem o mensalão não existiu ou acha que "a vida é assim mesmo"? Que esquerda é essa, capaz de defender a barba de Fidel Castro e o bigode de José Sarney?

Não há dúvida de que existe uma maioria bem intencionada entre os participantes do fórum. Mas o evento se tornou coisa de profissionais. Com raríssimas exceções, os intelectuais que contam não perdem mais tempo por lá. Restou um lúmpen "pensante" que fez do fórum o seu negócio. Gente, aliás, que cansou de esperar Godot e hoje enche as burras à custa do lulismo. São parasitas do Estado que adoram ressuscitar o fantasma neoliberal diante de plateias embasbacadas para manter viva a sua boquinha. Será possível ainda ser de esquerda sem parecer idiota ou espertalhão?

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Comentário: A pergunta final merece uma resposta. Será possível ainda ser de esquerda sem parecer idiota ou espertalhão? Não. Simplesmente, não. A esquerda virou uma mistura de oportunistas em busca de privilégios e os perfeitos idiotas latino-americanos, a massa de manobra desses oportunistas. Esses repetem slogans prontos, chavões vazios; aqueles vão acumulando cargos no setor público, verbas para seus "movimentos sociais". É possível ser esquerdista e inteligente. É possível ser inteligente e honesto. Mas não é possível ser esquerdista, inteligente e honesto.