terça-feira, setembro 30, 2008

Sindicalista Milionário



Rodrigo Constantino

O ex-ministro do governo Lula, o sindicalista Luiz Marinho, está gastando milhões na campanha para a prefeitura de São Bernardo do Campo, berço político do seu amigo Lula. Sua campanha é uma das mais caras do país. Por eleitor, Marinho gasta seis vezes mais do que a rica petista Marta Suplicy. Na última declaração parcial de gastos, Marinho disse já ter gasto quase R$ 2 milhões, mas a previsão final é bem maior: ele espera torrar R$ 15 milhões na tentativa de ser eleito.

Pergunta: De onde vem tanto dinheiro assim para um sindicalista? Será que sua base de apoio foi obtida batendo de porta em porta, atrás de verbas voluntárias dos trabalhadores pobres? Como Marinho espera compensar aqueles que abriram a torneira e financiaram sua campanha? Com o salário de prefeito, faz sentido gastar essa fortuna apenas para ser eleito?

Enfim, são perguntas que apenas um cético “pequeno-burguês” faria. Para os esquerdistas, o “altruísmo” não tem preço. Em nome da luta pelos trabalhadores, alguns precisam aceitar o “terrível sacrifício” de arrecadar milhões e partir para a conquista do poder, desfrutando de todos os seus privilégios. Pobres sindicalistas...

A Língua de Lula



Rodrigo Constantino

O presidente Lula assina lei que faz várias alterações na língua portuguesa. Trata-se do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, um decreto que prevê a padronização ortográfica entre os países de língua portuguesa. Nada contra mudanças na língua. Mas surge uma pergunta: Por que a última palavra sobre nossa língua deve ser dada por um semi-analfabeto?

Não me venham com a desculpa esfarrapada de que o "pobre" operário não teve oportunidade de estudar. Ele teve tempo de sobra para tanto, ficando anos sem trabalhar. Muita gente mais pobre subiu na vida por mérito próprio, trabalhando duro na iniciativa privada, em vez de parasitar nas tetas estatais.

Além disso, é bom chamar a atenção para a arrogância dos reformadores, que não entendem que línguas são formadas de baixo pra cima, tentativa e erro, por uma ordem espontânea. Quando tentam criar a língua "perfeita", idealizada por “iluminados” e imposta de cima para baixo, não costuma funcionar. Vide o fiasco do Esperanto.

Em relação à língua portuguesa, o melhor que o presidente Lula poderia fazer, em vez de assinar decreto para alterá-la, é aprender aquela já existente. Ao menos seria bom para nossos ouvidos...

Desmatamento Estatal



Rodrigo Constantino

O ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, divulgou lista com os 100 maiores desmatadores do país. Para os mais inocentes e românticos, uma enorme surpresa: os seis primeiros da lista são assentamentos do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). Como todos sabem – ou deveriam saber – o Incra é praticamente um braço estatal dos criminosos do MST. Oito projetos do Incra desmataram o correspondente a 44% do total. Em outras palavras, os vagabundos do MST, financiados com o dinheiro tirado na marra dos trabalhadores brasileiros, são os maiores responsáveis pelo acelerado desmatamento no país.

Temos que acabar com essa farra parando de transferir terras e recursos para “movimentos sociais” que, na verdade, não passam de parasitas. Até quando vamos aturar a baderna, destruição, pilhagem, invasão e também derrubada irresponsável de árvores por parte desses revolucionários comunistas? O orçamento do Ministério do Desenvolvimento Agrário previsto para 2008 é de quase R$ 4 bilhões! É o trabalhador urbano ralando e suando para bancar as barbaridades cometidas pelos criminosos do MST.

Diante desses fatos sobre o desmatamento, já conhecidos, mas agora divulgados oficialmente, qual vai ser a desculpa da esquerda? Será que vão apenas ignorar a realidade, adotando uma vez mais a velha máxima "quando os fatos negam a teoria, pior para os fatos"? Vão insistir na defesa dessa "reforma agrária" fajuta, ao mesmo tempo em que condenam os latifúndios pelo desmatamento?

segunda-feira, setembro 29, 2008

Escravidão e Racismo



Rodrigo Constantino

“A sociedade civil tem por base primeira a justiça, e por fim principal a felicidade dos homens; mas que justiça tem um homem para roubar a liberdade de outro homem, e o que é pior, dos filhos deste homem, e dos filhos destes filhos?” (José Bonifácio)

Quando se fala em escravidão, logo vem à mente a imagem de um homem branco do ocidente mantendo um escravo negro africano. No entanto, uma análise histórica da escravidão como instituição logo rejeita esta visão racista, pois a escravidão existiu por milhares de anos, muitas vezes entre a mesma “raça”. Como explica Thomas Sowell, “os negros não viraram escravos porque eram negros, mas porque eles estavam disponíveis no momento”. Brancos escravizaram outros brancos por séculos na Europa antes dos negros serem trazidos para o continente. Além disso, asiáticos escravizaram outros asiáticos, africanos escravizaram outros africanos, e os nativos do hemisfério ocidental escravizaram outros nativos. A Mesopotâmia, a Índia, a China, os gregos, os egípcios e hebreus antigos, os astecas, incas e maias, os índios brasileiros, todos usaram escravos. A escravidão não era um fenômeno de raça.

O que torna a situação americana peculiar não é apenas o fato de a escravidão ter sido entre “raças” diferentes, mas sim dela entrar em confronto com os pilares filosóficos de liberdade predominantes no país. A Declaração de Independência, escrita pelos “pais fundadores” da nação, pregava a igualdade de todos os homens perante as leis, com base no direito natural. Tamanha a sua influência na mentalidade do povo, era visivelmente contraditório manter escravos. Seria um atestado de que homens negros eram menos do que homens, um absurdo que infelizmente durou tempo demais para ser eliminado. No entanto, não podemos perder de vista o fato de que ali estavam as sementes para a abolição. Na maior parte do mundo, na mesma época, ninguém parecia ver nada de errado com a escravidão. Há um século, apenas o ocidente condenava a escravidão, e há dois séculos, somente uma pequena parcela dele o fazia. O restante conviva com bastante naturalidade com a escravidão. Foi o maior poder bélico e econômico ocidental que possibilitou a imposição da abolição em outras partes do globo. A escravidão não nasceu no ocidente. Ela morreu graças a ele.

Algumas pessoas, com um viés marxista que enxerga o dinheiro como causa de tudo, argumentam que somente o interesse econômico fez com que o ocidente resolvesse acabar com a escravidão. Em primeiro lugar, eles devem explicar porque a escravidão durou tantos séculos então. É fato que a escravidão é ineficiente do ponto de vista econômico, pois o capitalismo mostrou como trabalhadores livres e motivados podem ser bem mais produtivos. Mas seria curioso entender porque somente no século XIX essa lógica prevaleceu, especificamente no ocidente. Na verdade, foram as idéias liberais que enterraram de vez a escravidão. Idéias de pensadores como John Locke, abraçadas pelos “pais fundadores” dos Estados Unidos, que defenderam a liberdade individual como um direito natural, acima de qualquer lei escrita. Os principais abolicionistas baseavam sua causa em princípios morais, retomando a idéia da lei natural advogada por Thomas Jefferson na Declaração, que era usada diretamente para defender seus argumentos.

O famoso caso Amistad de 1839 foi o primeiro no qual se apelou para a Declaração, e o ex-presidente americano John Quincy Adams fez uma defesa eloqüente dos africanos presos. Seu longo discurso diante da Suprema Corte contou com o seguinte argumento: “No momento em que se chega à Declaração de Independência e ao fato de que todo homem tem direito à vida e à liberdade, um direito inalienável, este caso está decidido”. Abraham Lincoln foi outro que apelou constantemente à Declaração para defender a causa abolicionista. O texto foi uma vez mais invocado por outro grande defensor da igualdade perante a lei, Martin Luther King Jr. Seu mais famoso discurso, sobre seu sonho de viver numa nação livre, faz alusão direta ao trecho da Declaração onde todos os homens são criados iguais, uma verdade evidente por si mesma. Outro abolicionista conhecido, David Walker, escreveu em 1823 um texto usando os trechos da Declaração, e questionando se os americanos compreendiam o que estava sendo dito ali. Enfim, os maiores defensores da abolição beberam diretamente da fonte liberal presente na Declaração de Independência.

No Brasil, o combate à escravidão contou com um forte aliado na figura de José Bonifácio, o Patriarca da Independência. Seus argumentos, em discurso pronunciado na Assembléia-Geral em 1824, eram claramente influenciados pela visão liberal. Bonifácio chegou a apelar para o argumento econômico também, explicando que os agricultores não deveriam temer o fim da escravidão, que seria inclusive benéfico para seus negócios. Ele questiona: “Mas como poderá haver uma Constituição liberal e duradoura em um país continuamente habitado por uma multidão imensa de escravos brutais e inimigos?” Mas o pilar de seu discurso era moral. Contra os defensores da escravidão com base no direito de propriedade, eis o que Bonifácio argumentou: “Não é, pois, o direito de propriedade, que querem defender, é o direito da força, pois que o homem, não podendo ser coisa, não pode ser objeto de propriedade”. E acrescentou ainda: “Não basta responder que os compramos com o nosso dinheiro; como se o dinheiro pudesse comprar homens! – como se a escravidão perpétua não fosse um crime contra o direito natural”. Em resumo, a escravidão é injusta, pois ignora que todos os homens merecem tratamento igual perante as leis, e que nascem livres.

Muitos dos que alimentam a visão estritamente racista da escravidão são os mesmos que costumam condenar o liberalismo. No fundo, gostam sempre de atacar a cultura ocidental, pintando um quadro extremamente negativo do homem branco, particularmente o anglo-saxão. São curiosamente adeptos de uma esquerda que tantas vezes enalteceu o socialismo, mesmo que seu resultado tenha sido justamente o retorno da escravidão. Talvez por um estranho sentimento de culpa, essa elite branca seja a voz mais estridente na demanda por reparação, exigindo medidas racistas, como as cotas. Não obstante o fato de que nem mesmo um pai transfere dívida líquida para seu filho, querem jogar nos ombros de inúmeros brancos inocentes um pesado fardo para carregar. Falar sobre a escravidão na própria África não agrada esta agenda “politicamente correta”, e por isso nunca se lê sobre ela na grande mídia. Negros com escravos negros? E quem vai reparar quem? Esses defensores de cotas deveriam pensar bem antes de falar em compensação com base na história. Um estudo mais cauteloso mostraria que esta visão coletivista faria com que praticamente todos devessem alguma compensação a todo mundo.

A escravidão não depende do racismo. A escravidão, que foi a regra durante quase toda a história da humanidade, deve ser combatida com base nos princípios liberais de igualdade perante as leis, pois todos nascem livres e desfrutam dessa liberdade como um direito natural. É justamente essa igualdade que os defensores das cotas tentam derrubar. Em nome do combate ao racismo, uma parte da esquerda resolveu pregar o retorno da escravidão. Devemos usar, uma vez mais, os argumentos presentes na Declaração de Independência americana contra esses movimentos, para preservar a nossa liberdade.

sábado, setembro 27, 2008

A Previdência Ponzi



Rodrigo Constantino

“A única solução é realmente criar mais riqueza, permitindo que os trabalhadores invistam sua aposentadoria em algo além das promessas dos políticos.” (Thomas Sowell)

O famoso “esquema Ponzi”, nome dado em referência ao italiano Carlo Ponzi, golpista que chegou aos Estados Unidos em 1903, consiste na promessa de elevados retornos que dependem do fluxo constante de novo capital. Trata-se de uma pirâmide, como tantas outras criadas depois, onde os primeiros a aderir ao esquema vão recebendo uma boa remuneração, com base na entrada de novos adeptos. Não há uma base sólida de ativos reais que garanta o fluxo de dividendos. O retorno é totalmente insustentável, e quando a adesão de novos pagadores diminui, tudo cai feito um castelo de cartas. Por isso mesmo o esquema é visto como fraudulento e, portanto, ilegal. Bem, na verdade nem todos. O maior esquema Ponzi de todos é não apenas legal, como praticado pelo próprio governo. Trata-se da Previdência Social.

Da forma como foi concebido, o sistema de Previdência Social não passa de uma grande farsa, de um enorme esquema Ponzi. Muitas pessoas acabam encarando os idosos como vilões, e como o avanço medicinal tem permitido que vivamos cada vez mais tempo, o progresso é visto como inimigo da aposentadoria tranqüila também. Mas são os alvos errados, pois parece evidente que uma expectativa maior de vida deve ser celebrada. A redução da taxa de natalidade também não deve ser encarada como causa dos problemas na Previdência. Não deveria ser. No fundo, a forma como o modelo foi desenhado que causou esta situação preocupante e insustentável, uma verdadeira bomba-relógio à espera de explodir. A Previdência Social nunca foi estruturada como um seguro, e qualquer seguradora que funcionasse como a nossa Previdência já teria sido declarada insolvente faz tempo, com seus acionistas provavelmente presos.

A Previdência Social não possui ativos suficientes para honrar seu passivo. Ela foi criada exatamente como as demais pirâmides, só que de forma compulsória. Os mais jovens são obrigados a pagar pela aposentadoria dos mais velhos, na maioria das vezes sem nenhuma ligação com a quantia que foi poupada ao longo de sua vida de trabalho. O esquema se mantém aparentemente saudável enquanto a população é jovem, pois sempre tem mais gente engordando a base da pirâmide, e poucos saindo como aposentados em seu pico. O governo pode posar de protetor dos idosos desta forma, e inclusive costuma abusar desse excesso de arrecadação inicial, oferecendo todo tipo de privilégios. Os funcionários públicos, naturalmente, são os grandes beneficiados. No entanto, à medida que a população vai envelhecendo, e os idosos vão vivendo mais, a base da pirâmide fica mais fina, tendo que sustentar um pico cada vez maior. A pirâmide vai se transformando num quadrado, e seus pilares de areia vão ficando mais visíveis. O governo já não é capaz de garantir tantos privilégios, e precisa aumentar impostos, ou estender a idade de aposentadoria.

É como se cada trabalhador fosse depositando um pão numa grande cesta, para garantir seu alimento no futuro, mas este pão fosse usado, na verdade, para alimentar algum idoso hoje. Quando todos se dão conta do que está acontecendo, pode haver uma corrida à cesta de pães. O governo será então forçado a reduzir a quantidade de pão dos aposentados para algumas migalhas, mesmo que estes tenham contado com certa quantia antes. E ainda poderá obrigar que estas pessoas dediquem mais anos ao trabalho, aposentando-se mais tarde. Em último caso, o governo pode imprimir dinheiro para pagar aos aposentados, o que seria análogo a entregar fotografias de pães, em vez de pão verdadeiro, pois a inflação iria literalmente comer o valor real da aposentadoria. Nada disso é culpa dos próprios aposentados. Muitos alegam, inclusive, que poderiam ter realizado investimentos bem mais seguros e rentáveis se fossem livres para tanto. Investimentos em ativos reais, por exemplo, teriam garantido um futuro bem mais tranqüilo para os aposentados, do que todo ano dar um cheque nas mãos dos políticos, apenas para ver o dinheiro sem carimbo sumir num mar de gastos populistas.

Mas essa liberdade não existe. A poupança é compulsória, e o governo ainda decide onde “investir” esses recursos, quase certamente destruindo valor para o poupador. Para piorar a situação, não existe uma conta individual, onde o valor da aposentadoria depende do valor poupado por cada indivíduo ao longo de sua vida produtiva. O valor da aposentadoria não é atrelado ao valor da contribuição, o que caracteriza um gritante roubo, uma transferência imoral de recursos através da arbitrariedade dos governantes. Poupar é fundamental para o futuro de um indivíduo, e essa é uma decisão bastante pessoal. Infelizmente, o governo, sempre alardeando boas intenções, criou uma poupança compulsória que não passa de um vergonhoso esquema Ponzi. A conta deverá ser paga um dia, ou pelos mais jovens, ou pelos mais idosos, ou por ambos, que é o mais provável.

Esse não é um problema isolado do Brasil. Ele existe praticamente no mundo todo. Na Europa, onde a população já não é tão jovem, o buraco é gigantesco e vem tirando o sono de muitos políticos, pois eles sabem que a conta não fecha. No Brasil, entretanto, o tamanho do rombo é alarmante, justamente pelo fato de a população ainda ser muito jovem. Somos um espelho dos Estados Unidos nessa questão. Temos cerca de 6% de idosos para um gasto de 12% do PIB com aposentadorias, enquanto os Estados Unidos têm 12% de idosos para 6% de gasto. O que vai acontecer quando a demografia não nos ajudar mais? O INSS gastava com aposentadoria e pensões 2,5% do PIB em 1988, quando foi sancionada a nova Constituição, e 20 anos depois gasta 8% do PIB. Nossos aposentados do privilegiado setor público custam muito caro. Para piorar, nos próximos 25 anos a população idosa crescerá aproximadamente 4% ao ano. Estamos diante de um acidente à espera de acontecer. O véu que encobre os pilares falsos da Previdência Social está caindo, e vai restar apenas a imagem do que o modelo é na verdade: um esquema Ponzi. Nada mais que isso.

Reformas paliativas, como redução dos privilégios, aumento da idade para aposentadoria e outras coisas do tipo, podem aliviar um pouco a dor, adiando o estouro da bolha. Mas não vão resolver o problema de verdade. A verdadeira solução é uma revolução total no modelo, partindo para contas individuais em uma previdência privada. Além de ser bem mais eficiente, pois reduz o poder de estrago do governo nas valiosas poupanças individuais, é também o modelo mais justo. Afinal, cada um deve ser responsável pelo seu próprio futuro, poupando do seu esforço para garantir uma velhice tranqüila. Quanto menos o governo puder meter a mão nessa poupança, melhor para os aposentados. Atualmente, eles são vítimas forçadas de uma farsa, um esquema fraudulento de pirâmide, uma verdadeira Previdência Ponzi.

quinta-feira, setembro 25, 2008

Paulson, compre meus ativos podres também!

Temos que tirar o chapéu: os americanos são rápidos no gatilho. Por que o governo vai salvar apenas os grandes investidores?

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A Casa Caiu



Rodrigo Constantino

“O que sempre fez do Estado um verdadeiro inferno foram justamente as tentativas de torná-lo um paraíso.” (Hoelderlin)

Um dos maiores sonhos de muita gente é ter a casa própria. Naturalmente, casas não custam pouco. Pensem no Robinson Crusoé sozinho na ilha, tendo que construir sua casa por conta própria. Não é nada fácil, nem mesmo uma simples cabana sem luxo. Logo, parece natural que a casa não seja um bem facilmente acessível a todos. Mas justamente por ser o sonho de tanta gente, e não ser fácil realizá-lo, os políticos costumam prometer casas para receber votos em troca. Esquece-se que o “direito à moradia” implica no dever de alguém pagar por isso. E o governo acaba criando inúmeros mecanismos que facilitam direta ou indiretamente a compra da casa própria, principalmente pelos menos afortunados. Ocorre que o governo não produz riqueza, apenas tira com uma mão para dar com outra. Suas intervenções quase sempre distorcem os incentivos no mercado, muitas vezes com resultados terríveis. Isso pode ser parte da explicação para esta crise financeira que vem afetando a economia americana.

Quem tem certa idade lembra-se do fracassado BNH, que financiava o sonho da casa própria no Brasil. O programa deu errado e custou muito para os pagadores de impostos. Mas a mistura de populismo com sonho da casa própria não é monopólio nacional, e existe nos Estados Unidos também. Tornar as casas “acessíveis” tem sido uma meta de todo governo americano, resultando em inúmeros programas e leis. A palavra mágica “acessível” ignora o funcionamento do mercado, que se caracteriza pela livre formação de preços, justamente para permitir escolhas individuais com base sempre em trade-offs. Quando o governo resolve tornar um bem “acessível”, ignorando seu preço de mercado, ele está impedindo o funcionamento adequado do próprio mercado, anulando sua função básica. Ora, o governo pode tornar qualquer bem “acessível”, até mesmo um Rolls Royce. Basta ele destinar recursos tirados de outros locais para subsidiar a produção deste bem específico. Mas isso não pode sair de graça. A única forma de o governo tornar um bem mais acessível é fazer com que outro bem fique menos acessível, destruindo no caminho a liberdade de escolha individual para fazer trocas com base na realidade do mercado. Alguma visão política qualquer, decidida de forma arbitrária por aqueles no poder, substitui a livre escolha dos indivíduos.

A casa própria costuma ser um desses bens escolhidos pelos políticos para ignorar a realidade de mercado. Se seu preço, com base na realidade que leva em conta os fatores de produção e as preferências individuais, impede que uma camada mais pobre da população possa comprar o bem, então o governo entra em cena, como o “herói salvador”, permitindo a compra através de um preço mais acessível. Como não existem milagres nas contas públicas, isso deve ser pago de alguma forma, ou prejudicando outros setores, ou criando uma situação insustentável no setor de casas, inflado artificialmente. Muitas pessoas que em condições normais não poderiam comprar uma casa, passam a ter acesso através da ajuda do governo. Mas como não existe almoço grátis, a conta deverá ser paga algum dia, de alguma forma. Essa não é a única explicação, e talvez nem a mais importante, para a crise americana atual. Mas sem dúvida os incentivos estatais exerceram alguma influência na festa que acabou em ressaca.

Parece curioso tanta gente afirmando que faltou regulação para evitar a crise, se o epicentro da crise foi justamente um setor extremamente regulado como o setor de casas. O governo americano tem sido bastante hiperativo quando o assunto é estimular a compra da casa própria, especialmente pelos mais pobres e mais jovens. De 1994 a 2004, a taxa de crescimento no índice de propriedade de casas para indivíduos com menos de 35 anos foi de 15,5%, bem maior que a taxa para as demais faixas etárias. O crescimento foi bem maior para o grupo dos hispânicos também. Tanto o governo Clinton como o governo Bush promoveram programas destinados à ajuda de jovens e pessoas de baixa-renda na compra de uma casa. Em 1997, por exemplo, a administração Clinton aprovou uma lei permitindo um ganho de capital livre de impostos para a venda da casa principal até o valor de US$ 250.000.

O governo federal também contribui para a compra de casas através da autorização aos estados e governos locais para emitir títulos de hipoteca livres de impostos, os mortgage revenue bonds. Somente esses títulos ajudaram a financiar mais de 100 mil compras por indivíduos de baixa-renda nas últimas duas décadas. Em 1990 foi aprovado o National Affordable Housing Act, e vários outros programas foram derivados deste ato. O Department of Housing and Urban Development (HUD) criou três programas para ajudar na compra da casa própria: HOZ, HOME e SHOP. De acordo com um estudo feito pelo HUD, entre 1992 e 2002 mais de US$ 3 bilhões do HOME ajudaram 270 mil indivíduos de baixa-renda na aquisição de sua casa. Em 2003, a gestão Bush aprovou o American Dream Downpayment Initiative Act, autorizando até US$ 200 milhões de ajuda aos interessados na compra de sua primeira casa. A expectativa era ajudar no financiamento de 40 mil casas por ano.

Esses exemplos são apenas uma pequena amostra, para deixar claro como o governo cria mecanismos de incentivo para a aquisição da casa própria por aqueles indivíduos de menor renda. Logo, trata-se de um setor com bastante intervenção estatal, principalmente quando lembramos que as gigantes hipotecárias foram criadas pelo governo e contavam com sua garantia. Este ponto é extremamente importante, pois essa garantia possibilitou uma alavancagem absurda por parte dessas empresas, de até 50 vezes o capital próprio, fazendo com que elas pudessem assim financiar muito mais gente do que seriam capazes se fossem obrigadas a seguir as forças de livre mercado.

Mas isso não é tudo, apesar de não ser pouco. Um dos principais custos de uma casa financiada é a taxa de juros da hipoteca. Quando o Federal Reserve mantém a taxa básica de juros num patamar muito baixo, por tempo demais, ele cria um forte estímulo ao financiamento da casa própria. Foi justamente o que fez a gestão Greenspan, que segurou a taxa de juros próxima de 1% ao ano por um longo período. Para jogar mais lenha na fogueira, o governo criou regras que dificultaram a compra de ações por parte de grandes investidores como os fundos de pensão, após o crash da bolha de internet. Ou seja, justamente quando o valor das ações estava na “bacia das almas”, os investidores de longo prazo tiveram restrições maiores para apostar em sua recuperação. Somando-se a isso uma taxa de juros absurdamente baixa, a busca desesperada por mais retorno em veículos alternativos foi o único resultado possível. E para piorar um pouco mais o quadro, a regulação estatal cria enormes barreiras para investimentos sem o rating “adequado” das agências de risco. A soma de uma demanda enorme por mais yield com um entrave regulatório de rating resultou no inevitável: produtos criados para atender esta demanda.

Os títulos de securitização de hipotecas com grande mistura de qualidade de devedores no mesmo bolo foram a resposta dada pelo mercado financeiro para atender esta demanda. Com o carimbo de crédito seguro por parte das agências de risco, e uma taxa de juros acima dos demais títulos com o mesmo patamar suposto de risco, esses bonds fizeram a festa de muito especulador. Poucos perderam tempo para questionar porque recebiam mais pela mesma unidade de risco. Naturalmente, não era o mesmo risco, e isso ficou bastante evidente depois do estouro da bolha. Mas a ganância faz parte da natureza humana, o que explica a especulação agressiva por ambos os lados, credores e devedores desses títulos.

Existem outros fatores envolvidos no desenrolar desta crise financeira. Mas estes pontos mencionados acima explicam boa parte do problema. E na origem de tudo, talvez esteja o sonho da casa própria, sem a devida noção de que sonhos não costumam se realizar num estalar de dedos. Sonhos exigem esforço, trabalho duro, poupança, como aprendemos desde criança com a história dos três porquinhos. Aquele que quer pular etapas e evitar o trabalho duro acaba com uma casa de palha, destruída facilmente por qualquer vento mais forte. Se o governo pudesse realizar nossos sonhos com sua “caneta mágica”, o paraíso seria aqui. Infelizmente, ele não pode, e normalmente são essas tentativas de fazê-lo que causam tanto estrago. Agora, o sonho da casa própria ficou mais distante para muitos americanos, e um dos principais motivos foi a “ajuda” do governo. O pior é que muita gente está demandando mais governo para resolver os problemas que ele contribuiu para criar. Não funciona assim. Devemos encarar os fatos da realidade, entender que a casa caiu, quais as causas por trás disso, para podermos consertar as falhas e partir para a construção de um futuro melhor.

quarta-feira, setembro 24, 2008

A Culpa dos Especuladores



Rodrigo Constantino

“Sem especulação não pode haver nenhuma atividade econômica alcançando além do presente imediato.” (Ludwig von Mises)

Em seu discurso na ONU, o presidente Lula resolveu culpar o bode expiatório de sempre pela crise financeira atual: os especuladores. O presidente afirmou que “a euforia dos especuladores transformou-se em angústia dos povos”. O que não ficou muito claro é quem o presidente considera especulador. Afinal, a palavra vem do latim, e seu significado é algo como “tentar enxergar o futuro com os dados presentes”. Em outras palavras, todos nós somos especuladores! Quando uma empresa se recusa a reduzir os preços imediatamente, acumulando estoques, ela está especulando que a demanda irá melhorar no futuro. Quando alguém recusa um novo emprego, está especulando que poderá ganhar mais no atual. Quando alguém sai de casa com um guarda-chuva, pois existem nuvens no céu, está especulando que poderá chover. Enfim, o futuro é incerto, e por isso estamos o tempo todo especulando.

Mas parece razoável assumir que a crítica de Lula era voltada aos especuladores de Wall Street apenas. A questão que surge, então, é qual o motivo disso? Afinal, boa parte da crise tem sua origem nos excessos cometidos por muitos compradores de casas. De forma resumida, o Federal Reserve, ao manter as taxas de juros baixas por tempo demais, estimulou o mercado de crédito imobiliário. Novos produtos de securitização foram criados, permitindo que muitos pobres tivessem acesso às hipotecas. Gente que não sonhava ainda com a casa própria passou a comprar casas com preços crescentes, praticamente sem colocar capital próprio no negócio, usando apenas alavancagem. A pergunta que devemos fazer ao presidente é: esses especuladores estão sendo acusados pela crise também? Ou será que apenas especuladores ricos merecem críticas?

Comprar uma casa cujo preço está subindo faz tempo, sem colocar um centavo do próprio bolso, não é uma mega-especulação? O epicentro da crise está justamente nesse setor de hipoteca, estimulado pelos baixos juros do governo, e financiado por empresas que desfrutavam de garantia estatal, usando, como conseqüência, um grau absurdo de alavancagem. Não são esses especuladores todos – os compradores de casas e o próprio governo – que merecem mais críticas? Curiosamente, todos preferem concentrar a munição apenas nos especuladores de Wall Street. É mais fácil ter um bode expiatório, especialmente se ele for rico. No entanto, o fato é que muitos pobres especularam pesado, fazendo com que as hipotecas subprime atingissem um patamar insustentável. O castelo de cartas um dia tinha que desabar.

Até mesmo os especuladores que vendiam ações a descoberto, apostando corretamente no estouro da bolha, foram alvos de duros ataques, inclusive de medidas legais para impedir ou dificultar suas ações. As pessoas sempre mostraram uma tendência irracional de atirar no mensageiro da má notícia. Muitos leigos resolveram comprar ações aproveitando o oba-oba dos preços em alta, ignorando que se tratava de uma aposta arriscada, e quando chega a crise, partem para a busca de um culpado. Claro, são os “especuladores”. Mas por que será que esses que apostavam na eterna alta das ações não se enxergam como especuladores também? Ajudaram a jogar lenha na fogueira, e quando o fogo esquenta, a culpa é dos outros? Muitos compraram ações dedicando menos tempo e estudo do que quem compra um refrigerador. E depois não querem assumir responsabilidade alguma pelos seus atos?

Voltando ao discurso do presidente Lula na ONU, o “fundamentalismo de mercado” foi atacado também, e a solução proposta foi mais política. Por que o presidente ignora que a impressão digital da política está em todas as cenas do crime? Foram justamente nos setores mais regulados que os problemas foram maiores. Os “hedge funds”, com menos regulação, estão sobrevivendo, e alguns inclusive ganhando dinheiro com a venda de ações, que a política pretende vetar agora. As gigantes Fannie Mae e Freddie Mac eram semi-estatais, foram criadas pelo governo, e operavam com a garantia do governo. Os bancos de investimento eram bem mais regulados do que os “hedge funds”, e perderam muito mais. Logo, não faz sentido falar em mais política para resolver o problema e evitar crises futuras. O que precisamos é de menos política e mais livre mercado. E não devemos esquecer que os especuladores, ricos ou pobres, devem ser responsáveis pelos seus atos. Somente assim ficarão mais atentos aos riscos, e pensarão duas vezes antes de “comprar” uma casa usando 100% de crédito, ou especular nas bolsas como quem joga na roleta.

A culpa é dos especuladores? Em parte sim. Mas não apenas daqueles que o presidente Lula e todos os demais populistas usam como bodes expiatórios. E sim vários especuladores, incluindo sonhadores que acham que é fácil ficar rico num piscar de olhos sem ter que correr graves riscos, como até mesmo a bancarrota. Sem falar do principal especulador, o governo, cujos estragos podem ser bem maiores. Como disse Roberto Campos, “o bem que o Estado pode fazer é limitado; o mal, infinito”. Por isso devemos limitar ao máximo o poder de especulação dos agentes do governo. São esses que podem causar uma crise sistêmica.

segunda-feira, setembro 22, 2008

Tecnologia e Meio-Ambiente



Rodrigo Constantino

“De fato, a qualidade do ar e da água nos Estados Unidos e nas nações ricas do mundo está melhor hoje do que tem estado em décadas.” (Indur Glokany)

No artigo O Retorno de Malthus, resumi os principais pontos do livro The Improving State of the World, onde o Dr. Indur Goklany mostra como vivemos cada vez mais e melhor, derrubando o pessimismo malthusiano. Goklany afirma ainda que vivemos num planeta mais limpo também, e mencionei que trataria do assunto em outro artigo. Portanto, o tema aqui será o impacto do aumento impressionante da riqueza criada pelos homens no meio-ambiente. Muitos neo-malthusianos culpam a riqueza construída pelos homens pelas mudanças climáticas negativas, e concluem que o progresso no bem-estar social é insustentável. Goklany demonstra o contrário, afirmando que é justamente o progresso que permite melhorar o ambiente que nos cerca e mitigar os efeitos negativos de eventos climáticos. O avanço da riqueza e da tecnologia permite uma vida com mais qualidade ambiental. Em vez de o progresso ser o inimigo na questão climática, ele é seu maior aliado.

Um exemplo que podemos citar é o avanço tecnológico na agricultura, especialmente nos Estados Unidos. O uso de tecnologia mais eficiente possibilitou que a agricultura americana alimentasse muito mais gente, e ainda pudesse exportar excedentes. Assumindo que o consumo de alimentos é determinado apenas pelo tamanho da população, e supondo a ausência de mudança tecnológica desde 1910, os Estados Unidos precisariam de pelo menos três vezes mais área para plantações do que usou em 2004. Outra forma de ver esse fenômeno é constatar que a agricultura empregava quase 40% da população americana em 1900, e atualmente não chega a 3% do total. Nada salvou mais habitat e florestas do que essas tecnologias que foram desenvolvidas ao longo do tempo. O uso de terra para plantação de alimentos, em termos per capita, caiu quase pela metade nos últimos três séculos, e encontra-se no seu patamar mais baixo atualmente. Além de o avanço tecnológico ter derrubado as previsões catastróficas de Malthus, permitindo a sobrevivência de muito mais gente do que o esperado, ele foi fundamental para preservar o ambiente. A solução para os problemas ambientais não é menos gente ou riqueza, mas sim mais tecnologia.

Goklany segue apresentando inúmeros dados sobre como a qualidade do meio ambiente vem melhorando, principalmente nos países mais ricos. Entre 1975 e 1996, por exemplo, as taxas de violação para os padrões de qualidade da água nos Estados Unidos caíram de 5% para 1,5%. As condições dos rios nos países desenvolvidos melhoraram substancialmente nas últimas décadas. A qualidade do ar nos Estados Unidos, medida pela Environmental Protection Agency (EPA), melhorou para cada poluente tradicional. A cidade de Nova York, nas décadas de 1950 e 1960, foi palco de vários episódios de mortes por poluição do ar. Desde então, a situação vem melhorando bastante. O problema do smog, comum em Los Angeles no passado, também vem melhorando desde a metade da década de 1950. De forma geral, o ar nos Estados Unidos está mais limpo do que décadas atrás, mesmo com todo o crescimento econômico e populacional. Goklany mostra ainda que a melhoria começou antes mesmo do governo aprovar o Clean Air Act de 1970. Foi, portanto, uma melhora voluntária, desenvolvida pelo próprio mercado e possível pela mudança tecnológica. O mesmo ocorreu com a emissão de CO2, que em termos relativos ao PIB vem caindo numa taxa de 1,3% ao ano nos últimos 150 anos, bem antes do alarde sobre o aquecimento global.

O uso de energia sempre foi fundamental para o avanço e mesmo sobrevivência dos homens. No entanto, formas mais limpas de energia foram sendo descobertas. O gás natural, a usina nuclear, a eletricidade e mesmo o petróleo representam formas mais limpas do que o carvão e a madeira, por exemplo. Novas tecnologias entraram no mercado aumentando a eficiência produtiva ao mesmo tempo em que reduziam a poluição. As próprias indústrias foram selecionando esses métodos melhores pela pressão do mercado, e podemos facilmente verificar que quanto mais rico um país, maior a probabilidade de sua matriz energética ser mais limpa. As plantas geradoras de eletricidade têm ficado cada vez mais eficientes com o avanço tecnológico, queimando menos carvão para produzir o mesmo kwh de eletricidade. Nos Estados Unidos, por exemplo, eram necessários cerca de 120 mil BTU para gerar 1 kwh de eletricidade em 1900, e em 1997 eram necessários pouco mais de 10 mil BTU para o mesmo resultado. A China usa tanto carvão justamente porque ainda não alcançou este estágio mais avançado, e a tendência natural é o país ir migrando para formas mais limpas de energia. Hoje, das 20 cidades mais poluídas do mundo, 16 estão na China. O progresso, novamente, é o melhor amigo do ambiente nessa questão.

Em termos globais, dois dos mais graves problemas ambientais são o saneamento inadequado e um acesso insuficiente à água segura para beber, lavar comida ou higiene pessoal. Mais de um bilhão de pessoas sofrem com a falta de acesso à água limpa, e mais de dois bilhões possuem saneamento inadequado. Quase dois milhões de seres humanos perdem a vida anualmente por conta desses problemas. A malária, que também está ligada à questão da água, mata mais de um milhão de pessoas por ano, principalmente em países pobres. Tem havido progresso nas últimas décadas nesses pontos. O acesso à água potável, por exemplo, subiu de 25% da população dos países de baixa renda em 1975 para 76% em 2002. Entre 1990 e 2000, cada ano quase 80 milhões de pessoas adicionais tiveram acesso à água mais limpa e saneamento. Poderia ser mais ainda, não fossem tantas barreiras criadas artificialmente ao progresso, como medidas protecionistas que impedem o livre comércio entre povos de diferentes nações.

Como fica claro, o progresso capitalista tem sido um grande aliado da qualidade de vida dos homens, inclusive no que diz respeito ao meio-ambiente. Curiosamente, muitas organizações que se dizem “ambientalistas” adotam uma postura completamente contrária ao avanço tecnológico fruto do capitalismo. É o caso do Greenpeace, que condena, por exemplo, o uso da biotecnologia na agricultura. Ora, um dos grandes desafios à frente é alimentar os nove bilhões de seres humanos que a ONU estima estarem vivos em 2050. O ganho de produtividade proveniente do uso de transgênicos pode ser justamente a solução para este problema. No entanto, muitos “ambientalistas” condenam este avanço, sem razão sólida alguma. Plantações geneticamente modificadas já correspondem a 35% da área cultivada nos Estados Unidos, e os resultados são claramente positivos. Além disso, existe ganho de eficiência alimentar também, pois alimentos podem ser produzidos com mais vitaminas e ferro, através do uso da biotecnologia. Logo, se a prioridade dos ambientalistas é uma melhor qualidade de vida para os homens, aliada à preservação máxima possível do meio-ambiente, não faz sentido condenarem de forma tão radical os alimentos transgênicos. O fato de tantos fazerem exatamente isso denota a influência ideológica no debate.

Os modelos pessimistas em relação ao futuro do meio-ambiente não costumam levar em conta o avanço tecnológico por vir, até porque este ainda é desconhecido. No entanto, ele é fundamental para qualquer cenário. Foi justamente o fato de Malthus ter ignorado isso que fez com que suas previsões catastróficas se mostrassem tão erradas. Desde que ele escreveu seu livro pessimista, a expectativa média de vida dos homens dobrou. Esses modelos dependem de muitas variáveis incertas e interdependentes, e pequenas mudanças nas premissas podem levar a resultados bem diferentes. As previsões mais sombrias costumam ignorar a capacidade adaptativa dos homens. Não devemos esquecer que os recursos naturais existentes hoje não são muito diferentes daqueles existentes no Antigo Egito, ou na Babilônia, ou no Império Romano. No entanto, o que os homens fazem com esses recursos hoje é radicalmente distinto do que faziam no passado, e isso, basicamente, explica uma qualidade de vida infinitamente superior para a maciça maioria dos indivíduos. Os homens criaram muita riqueza, permitindo uma vida mais longa, mais saudável e mais confortável para quase todos. Muitos que vivem para reclamar da industrialização e do avanço tecnológico nem sequer estariam vivos não fossem estas forças. E em nome da preservação da vida e do ambiente, eles atacam justamente as causas deste sucesso.

Como Goklany mesmo reconhece, as características que permitem o aumento da riqueza são a liberdade individual, direitos seguros de propriedade privada, uma ética meritocrática que recompensa o risco e o valor gerado, o livre comércio e regulações transparentes. Paradoxalmente, muitos “ambientalistas” condenam este pacote como receita para os males que assolam o mundo atualmente. A globalização, por exemplo, que permite a difusão das novas tecnologias, normalmente desenvolvidas em países mais ricos, acaba sendo duramente atacada por muitos “verdes”. Os limites para o crescimento dependem dos próprios homens. Cabe a nós desenvolver formas mais eficientes para explorar os recursos naturais que temos acesso. Mesmo quando o assunto é meio-ambiente, a tecnologia é a solução. Mas para que os neo-malthusianos errem suas previsões catastróficas, como Malthus errou as suas dois séculos antes, é crucial confiar na liberdade individual e na capacidade de adaptação e inovação dos seres humanos. Somente assim poderemos deixar um mundo melhor para nossos filhos e netos, com uma vida mais longa, mais saudável, num meio-ambiente mais limpo.

A Formiga Dinossauro



Deu na VEJA:

Descoberta na Amazônia uma espécie desse inseto que pouco mudou em 100 milhões de anos.

Como todos sabem, as formigas são coletivistas, feito os cupins. Trata-se de um regime de "altruísmo forçado", onde todos devem se sacrificar para a nomenklatura poderosa. Exatamente como pregam os socialistas! E essas formigas, descobertas na Amazônia (Brasil, onde mais?!), são perfeitas para descrever os colegas esquerdistas do Brasil. Vejam:

"De acordo com os autores da pesquisa, características como a ausência de olhos, a cor clara e mandíbulas longas são indícios de alterações devidas à vida subterrânea e aos hábitos predatórios."

Ou seja, são formigas que mudaram pouco em 100 milhões de anos (continuam defendendo o marxismo), são cegas (incapazes de enxergar os fatos mais evidentes), e têm mandíbulas longas para manter seus hábitos predatórios (sugar recursos alheios através do governo).

Vou passar a chamar nossos esquerdistas agora de Martialis heureka. Eles também parecem ter vindo de Marte!

De Quem é a Culpa?



Rodrigo Constantino

“É de fundamental importância procurar analisar uma política intervencionista por suas conseqüências como um todo; não apenas por seus efeitos no curto prazo, mas também no longo prazo.” (Mises)

O terremoto financeiro segue causando destruição mundo afora, enquanto o governo americano tenta de tudo para salvar os mercados. Ele já injetou bastante liquidez, nacionalizou empresas em dificuldades, socorreu bancos, mas nada parece surtir o efeito desejável. A questão crucial é: será que o governo não é justamente parte do problema, e não da solução? Em momentos de crise grave como a atual, a busca por bodes expiatórios é muito comum. Os alvos de sempre acabam levando a culpa: os “especuladores” e o “livre mercado”. Mas a verdade é que podemos encontrar as impressões digitais do governo em todos os locais da cena do crime. Como diz o provérbio africano, “não olhe para onde você caiu, mas sim onde você escorregou”.

Parte das causas dessa crise financeira pode ser localizada nas medidas do Federal Reserve (Fed) em 1998. Enquanto o mundo enfrentava as crises da Ásia e da Rússia, o banco central americano participou de uma operação de salvamento do Long Term Capital Managment. A idéia por trás do resgate era a mesma de sempre: o fundo era “grande demais para quebrar”. Quando o governo garante o capital daqueles que arriscaram demais e erraram, ele funciona como uma espécie de rede de segurança de um circo. Ora, parece evidente que os trapezistas irão ousar mais sabendo que em qualquer erro há uma rede para protegê-los. Era a chamada “garantia Greenspan”. Além disso, Alan Greenspan, o então presidente do Fed, partiu para um agressivo programa de corte de juros. A taxa básica chegou ao patamar de 1% ao ano. A expansão monetária inundou o mundo de dólares. A injeção de liquidez é análoga ao bêbado que consome mais bebida para evitar a necessária ressaca. No longo prazo, ele acaba com uma cirrose. Eis o que os economistas chamam de “moral hazard”, um tipo de convite à irresponsabilidade, como um pai que sempre está lá para livrar o filho de seus erros. O filho nunca irá aprender, e a tendência é abusar ainda mais da sorte.

A drástica redução da taxa de juros criou um incentivo à busca por mais risco pelos investidores. Como a criatividade dos mercados financeiros é enorme, e inteligência não falta, vários produtos “exóticos” foram criados. Pessoas que não tinham condições de comprar casas antes passaram a desfrutar de veículos facilitadores para obter hipotecas de alto risco. Além disso, a garantia estatal por trás das gigantes imobiliárias Fannie Mae e Freddie Mac, fez com que estas empresas assumissem um grau de alavancagem absurdo, que seria inviável sem o respaldo do governo. Essas empresas foram criadas pelo governo, e já funcionavam como semi-estatais. As agências de risco, com graves conflitos de interesse, já que tinham que avaliar o risco de seus próprios clientes, foram bastante negligentes em sua tarefa.

As principais emoções que determinam os rumos dos mercados são medo e ganância. Com a rede de segurança criada pelo governo, o medo foi reduzido. E com a injeção de liquidez e baixos juros, a ganância foi estimulada. O resultado disso tudo foi uma redução significativa da aversão geral ao risco. O crédito foi subindo de forma irresponsável, com o estímulo dado pelo próprio governo americano. Existem vários outros fatores, sem dúvida, pois se trata de um fenômeno complexo. Mas o resumo da história é aproximadamente este.

Alguns apontam o dedo para a falta de regulação estatal, e pedem muito mais regulação como solução. Estas pessoas ignoram duas coisas básicas: em primeiro lugar, o epicentro da crise estava justamente em locais mais regulados, como as gigantes hipotecárias e os bancos de investimento, enquanto os hedge funds se saíram razoavelmente bem; em segundo lugar, burocratas são seres humanos imperfeitos também, que reagem às mesmas emoções de medo e ganância, e buscam interesses particulares. Para piorar, os melhores cérebros quase sempre estão no setor privado, por causa do seu mecanismo de remuneração mais agressivo. Parece ingenuidade demais contar com uma suposta clarividência dessa gente para antecipar e, pior ainda, consertar todas as falhas da “exuberância irracional” dos investidores. Ora, vimos que as ações de Greenspan ajudaram a criar essa crise! Depositar nos agentes do governo um poder arbitrário para “tomar conta” do mercado pode ser o caminho da desgraça total.

Mas, diante da situação caótica atual, em parte plantada pelo governo, todos voltam a atenção para o eterno “messias salvador”: o próprio governo. Investidores demandam medidas urgentes para resgatar bancos em dificuldades, exigem mais liquidez, enfim, cobram o uso efetivo da rede de segurança que foram levados a acreditar que estaria lá numa crise. Vários excessos foram cometidos, mas ninguém quer pagar a conta. Como já foi dito, é o socialismo dos ricos, onde os lucros são privados, mas os prejuízos acabam socializados. O pagador de impostos é chamado para honrar a fatura da festa dos outros. Os argumentos de antes são novamente utilizados: as empresas são grandes demais para falir, o mercado não pode se auto-regular e necessita da ajuda estatal. Por trás desta demanda está a crença falaciosa de que o governo cria riqueza do nada, que pode produzir recursos num piscar de olhos. Não pode. Tudo o que o governo pode fazer é tirar de alguns e dar para outros. Será que é mesmo necessário – sem falar justo – tirar dinheiro dos indivíduos poupadores para limpar a sujeira dos excessos cometidos em Wall Street e estimulados pelo governo?

sexta-feira, setembro 19, 2008

Blindagem Monetária - O DIA

Rodrigo Constantino
Economista, escritor e membro do Instituto Millenium

Rio - A crise financeira americana segue fazendo vítimas. Já foram contaminadas as gigantes Fannie Mae e Freddie Mac, assim como dois dos maiores bancos de investimentos, Lehman Brothers e Bear Stearns. Agora foi a vez da seguradora AIG. O estrago é grande e a crise é séria. Em outros tempos, uma gripe dessas no principal país do mundo seria desastrosa para a economia brasileira.

Mas o País ainda passa bem, apesar de alguns espirros. O que mudou? Logo vem à mente os US$ 200 bilhões em reservas. Além disso, o regime de metas de inflação garante a credibilidade da economia. Os desenvolvimentistas sempre pregaram uma política monetária frouxa como meio para estimular o crescimento. O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, demonstrou força ao resistir às pressões, já que o governo abriga muitos adeptos dessa linha ideológica. Tivessem eles vencido, hoje o País já poderia estar “de quatro”.

Foi justamente pelo fato de o governo não ter colocado em prática tudo aquilo que sempre pregou no passado que permitiu uma maior blindagem contra esta crise. O problema é que Meirelles luta praticamente sozinho, já que na área fiscal não vem apoio do governo, que só aumenta os gastos e não faz nenhuma reforma estrutural.

Combater a gripe financeira apenas com juros é como matar uma formiga com uma bazuca. Não dá para evitar um efeito colateral grande, pois a taxa acaba sendo maior que deveria. Não há mágica. Derrubar artificialmente as taxas iria apenas estimular a inflação e a fuga de capitais. O governo deve colaborar, reduzir gastos e aprovar as reformas. Em síntese, adotar a blindagem fiscal, além da monetária.

http://odia.terra.com.br/opiniao

quinta-feira, setembro 18, 2008

Religião Verde

Rodrigo Constantino, para o Instituto Liberal

Segundo reportagem de O Globo, uma pesquisa sobre mudanças climáticas feita pelo Instituto de Estudos da Religião (Iser) revelou que a maioria dos entrevistados acredita que o “maior desafio de todos os tempos” será a questão ambiental. Al Gore, que recentemente ganhou o Prêmio Nobel da Paz (o mesmo que o terrorista Arafat recebeu), é citado como um importante “divisor de águas” na formação de opinião sobre a suposta relevância do assunto. É no mínimo curioso que brasileiros, vivendo em um país com tanta miséria e violência, coloquem o clima como prioridade número um. O pânico incutido nos leigos através de uma linguagem de catástrofe iminente pode estar por trás desse estranho resultado. Entretanto, não é assim que se faz ciência ou se toma decisões racionais.

Do outro lado do oceano, os debates promovidos pelo Copenhagen Consensus Center, uma iniciativa de Bjorn Lomborg para discutir as prioridades globais no uso de recursos, mostraram que a grande maioria dos entrevistados coloca o combate à desnutrição e às doenças no topo da lista, seguido por saneamento e fornecimento de água. O clima ficou em último lugar. Uma matéria do jornal Valor hoje traz um pequeno resumo do novo livro de Lomborg, Cool It – Muita Calma Nessa Hora!, cuja leitura eu fortemente recomendo. O livro é justamente um antídoto contra o alarmismo muitas vezes infundado dos ambientalistas, e resgata o bom senso e a razão no debate sobre o clima. Devemos lembrar que os recursos são escassos, e por isso as prioridades precisam ser bem definidas.

O ponto de Lomborg é que os gastos bilionários propostos pelo Protocolo de Kyoto não geram resultados satisfatórios, e que outras prioridades teriam um resultado muito mais eficiente. Entre gastar US$ 350 bilhões para reduzir um pouco as emissões de CO2, por exemplo, ou US$ 27 bilhões para salvar 28 milhões de vidas nos próximos anos, como mostram os estudos de Lomborg, não parece haver muita dúvida do que deve ser prioritário.

Para os brasileiros pesquisados pelo Iser, no entanto, a questão climática parece mais importante. A única justificativa que encontro para isso está na postura religiosa que o tema passou a ser tratado. Há uma nova religião verde, onde seus seguidores abraçaram uma cruzada moral pelo salvamento do planeta. A sensação de pertencer a este grupo parece mais importante do que os resultados em si. Pensando bem, parece adequado a pesquisa ter sido feita pelo Instituto de Estudos da Religião...

As Origens da Crise - Roberto Fendt

Participação do vice-presidente do Instituto Liberal, Roberto Fendt (Ph.D. de Chicago) no programa Conta Corrente, da Globo News, explicando as origens dessa crise financeira:

Link para vídeo no Globo.com

segunda-feira, setembro 15, 2008

O Retorno de Malthus



Rodrigo Constantino

“Humilhante para o orgulho humano como isso pode ser, nós devemos reconhecer que o avanço e mesmo a preservação da civilização dependem de um máximo de oportunidade para acidentes que ainda ocorrerão.” (Hayek)

Em 1798 foi publicada, anonimamente, a primeira edição de Ensaio Sobre a População, de Thomas Malthus. O seu fatalismo conquistou muitos seguidores desde então. Malthus considerava a pobreza um fim inevitável do homem, pois a população iria crescer mais rápido que a produção de alimentos. Seu pessimismo se mostrou infundado, basicamente pelo avanço da técnica, que garantiu um aumento incrível da produtividade. Em defesa de Malthus, devemos lembrar que seu livro era uma reação ao otimismo utópico de pensadores como Godwin, que culpava a propriedade privada por todos os males da humanidade, e pensava que sua abolição levaria a um estado de abundância total, onde o egoísmo desapareceria e o paraíso reinaria na Terra. O livro de Malthus, portanto, serviu como freio para um romantismo infantil que pintava um futuro maravilhoso para humanidade, ignorando aspectos básicos da natureza humana. No entanto, suas previsões catastróficas se mostraram igualmente furadas.

A humanidade avançou muito, e os homens hoje vivem mais e melhor. Eis o que demonstra o Dr. Indur Goklany no livro The Improving State of the World, publicado pelo Cato Institute. Goklany foi um delegado americano do IPCC (Intergovernmental Panel on Climate Change), e seu livro conta com inúmeros dados, tabelas e gráficos sustentando a conclusão de que o mundo vem melhorando bastante, inclusive em termos de ambiente, graças ao avanço tecnológico e ao livre comércio. A história da humanidade é uma história de miséria, fome, doença e morte, com freqüentes epidemias, enchentes, secas e demais desastres naturais, além de infindáveis guerras. Assim foi desde que se tem informação, até a Revolução Industrial, onde as coisas começaram a mudar para melhor de forma acelerada. O crescimento econômico e tecnológico redefiniu os papéis das mulheres e crianças, expandiu a classe média e desenvolveu novas instituições e organizações. Estamos muito longe do paraíso sonhado pelos românticos, mas nos afastamos muito também do caos pré-industrial, com a fundamental ajuda justamente da propriedade privada. Não obstante o progresso incrível que a humanidade experimentou nos últimos dois séculos, vários neo-malthusianos surgiram com força novamente, pregando um futuro sombrio para os seres humanos. O livro de Goklany é um excelente antídoto contra a doença desse pessimismo alarmista.

Um dos ícones desse pessimismo foi a publicação em 1972 de The Limits to Growth, do Clube de Roma, cuja tese geral foi reiterada depois no Global 2000 Report to the President. A mensagem central desses neo-malthusianos é sempre a mesma: a humanidade está rapidamente se aproximando dos limites de crescimento, exaurindo os recursos naturais e destruindo o planeta. Um Apocalipse é sempre iminente, a menos que os homens mudem seu modo de vida. Isso significa basicamente abandonar tudo aquilo que vem possibilitando o progresso, ou seja, a propriedade privada num ambiente de livre mercado movido pelo lucro. Seria a troca desta ordem espontânea por um regime de planejamento central, onde “clarividentes” do governo iriam cuidar dos rumos da humanidade. Não importa que o modelo de centralização de poder imposto de cima para baixo já tenha sido testado antes, sempre com resultados catastróficos. Se os dados da realidade fossem realmente importantes para essas pessoas, elas não seriam seguidores de Malthus para começo de conversa.

Afinal de contas, nos últimos dois séculos a população global cresceu mais de sete vezes, saindo de 900 milhões para 6,5 bilhões de indivíduos. Não obstante, a média da população se alimenta melhor do que no passado. A oferta de alimentos per capita cresceu 24% de 1961 a 2002, e nos países mais pobres o crescimento foi ainda maior, de 38%. Na China, que comporta quase um sexto da população mundial, o consumo de calorias per capita aumentou 80% nesse período, e na Índia o aumento foi de 50%. Apesar de a população chinesa ter dobrado de tamanho desde então, nada parecido com a fome que eliminou cerca de 30 milhões de vidas entre 1959 e 1961 aconteceu. Isso é progresso, e foi possível pelo gradual abandono do regime comunista e conseqüente abertura comercial.

Antes da industrialização, ao menos uma criança entre cinco morria antes de completar o primeiro aniversário. Em outras palavras, a mortalidade infantil era de 200 para cada 1.000 nascimentos. Nos Estados Unidos, em 1900, a mortalidade infantil era de 160, mas em 2004 já havia caído para 6,6 em cada mil nascimentos. Algumas pessoas gostam de condenar a era da industrialização por causa do pesado trabalho feminino e até infantil, esquecendo que antes a alternativa era morrer de fome. Foi justamente o progresso capitalista que permitiu essa feliz mudança na vida de tanta gente. A expectativa de vida na história da humanidade, por exemplo, sempre teve uma média de 20 a 30 anos apenas. Em 2003, a média mundial era de 66,8 anos, e para os países mais ricos da OECD estava em 78,5 anos. Na África Subsaariana, a região mais pobre do planeta, a média era de 45,6 anos, justamente porque o progresso capitalista não deu o ar de sua graça por ali.

Não só estamos vivendo muito mais, como estamos vivendo melhor. Durante o século XX, as doenças crônicas foram postergadas: nove anos para doenças do coração, onze anos para doenças respiratórias e oito anos para câncer. A taxa de analfabetismo global caiu de 46% para 18% entre 1970 e 2000. O uso de trabalho infantil em termos mundiais foi reduzido de 24,9% em 1960 para 10,5% em 2003. Isso não foi possível pela aprovação de leis mágicas, mas sim pelo crescimento econômico. Tanto que o trabalho infantil ainda é um problema justamente nos países mais pobres, mesmo com legislação contrária ao uso de crianças em trabalhos pesados. A pobreza ainda é um problema grave, principalmente nos países mais isolados e distantes das vantagens da globalização. Ainda assim, a proporção da população mundial na extrema pobreza despencou de 84% em 1820 para 24% em 1992. Pelos padrões de qualquer homem médio hoje, o mundo de poucos séculos atrás era um mundo de miseráveis.

O resumo que Glokany faz da situação é que o rico hoje não está melhor por ter tirado algo do pobre, mas sim o pobre está melhor por ter se beneficiado de tecnologias desenvolvidas pelos mais ricos, e sua condição estaria bem melhor se estivesse mais bem preparado para aproveitar os benefícios da globalização. A análise dos avanços da humanidade nos últimos séculos é encorajadora, e mostra que o pessimismo dos neo-malthusianos ignora o enorme poder da criatividade humana, da nossa capacidade de inovar e se adaptar. Produzimos muito mais usando muito menos. O temor de que os recursos estão prestes a se exaurir não conta com esse ganho de eficiência. A Idade da Pedra não ficou para trás porque acabaram as pedras, nem a Idade de Bronze virou história porque acabou o bronze. Os homens foram desenvolvendo formas mais produtivas de uso dos recursos.

Alguns alarmistas aceitam essa lógica irrefutável, mas alegam que o planeta está na rota de destruição. Para esses eco-terroristas, o problema central não é o limite dos recursos em si, mas sim a conseqüência do crescimento econômico. O planeta não teria capacidade de suportar mais riqueza sem resultados nefastos para o clima. Há novamente uma completa desconfiança em relação à capacidade humana de adaptação e inovação. Além disso, Glokany mostra que até mesmo na questão climática o mundo está melhorando. O ambiente está mais limpo, e isso se deve justamente ao progresso capitalista. Os maiores poluidores são os países mais pobres, em termos relativos. Mas esse é o foco da segunda parte de seu livro, que fica como tema para outro artigo. Aqui, o objetivo era apenas demonstrar como o retorno do pessimismo de Malthus não tem respaldo nos fatos.

Paradoxalmente, muitos ainda condenam as causas que possibilitaram evitar as previsões catastróficas malthusianas. Aqueles que ainda sonham com o “novo mundo possível”, na linha utópica de Godwin, atacam os pilares do progresso em nome da fantasia. Se suas idéias prevalecerem, aí sim a pobreza geral será um fim inevitável. Não porque Malthus estava certo sobre as estimativas de crescimento populacional e da produção de alimentos; mas sim porque as forças que refutaram o pessimismo malthusiano estariam impedidas de funcionar livremente. A ordem espontânea dos livres mercados seria substituída pelo controle centralizado dos governos. O resultado é totalmente conhecido: a miséria total. Se o socialismo vencer o capitalismo no campo das idéias, aí sim Malthus será vingado. Caso contrário, a humanidade poderá seguir seu curso rumo ao progresso, deixando a miséria cada vez mais para o passado.

quarta-feira, setembro 10, 2008

A Morte do Neoliberalismo



Rodrigo Constantino

“Não olhe para onde você caiu, mas sim onde você escorregou.” (Provérbio Africano)

Com o anúncio de que o governo americano irá salvar, através da injeção de capital, as duas gigantes do setor imobiliário, várias viúvas do intervencionismo aproveitaram para decretar a morte do “neoliberalismo”, demonstrando grande regozijo com a desgraça alheia. No entanto, há muita ignorância – ou então má fé – por parte dessa gente, uma vez que boa parte dos problemas com a Fannie Mae e a Freddie Mac vem justamente do intervencionismo estatal. A tentativa de culpar o livre mercado por uma crise séria não é algo novo, e os riscos desse julgamento inadequado são enormes, como vimos depois da crise de 1929, com um aumento assustador dos poderes do governo*. Por isso é tão importante tentar desfazer essa desinformação acerca do tema.

Em primeiro lugar, devemos lembrar que os Estados Unidos não são o ideal liberal. Em uma resenha antiga que escrevi sobre o livro A Obsessão Antiamericana, de Jean François-Revel, expliquei logo no começo esse ponto, fazendo o seguinte alerta: “Lá, o Leviatã é um monstrengo também, que extorque quase 30% da riqueza privada em nome do bem-estar social. Mas atualmente, é o que temos mais próximo do liberalismo, justamente a causa de seu sucesso relativo”. Logo, a tentativa de encarar o modelo americano como o ícone perfeito do capitalismo liberal não faz sentido. Os liberais têm muitas críticas ao excesso de intervenção estatal na economia americana. Quem tem dúvida disso, basta navegar pelos sites do Cato Institute ou do Mises Institute para ter uma boa idéia dos duros ataques que o governo americano sofre por parte dos liberais. Um alvo desses ataques sempre foi justamente a existência dessas Government Sponsored Enterprises (GSE), empresas criadas e garantidas pelo governo para atuar no mercado de hipotecas.

Como exemplo, temos um artigo escrito pelo presidente do Mises Institute, Lew Rockwell, onde ele explica as origens dessas duas empresas em crise:

“A Fannie Mae (Federal National Mortgage Association) foi criada em 1938 por Franklin Delano Roosevelt, durante o New Deal. Sua função era fornecer liquidez ao mercado hipotecário. Durante os 30 anos seguintes, ela desfrutou do monopólio do mercado secundário de hipotecas nos EUA. Tornou-se uma corporação privada em 1968, para conter o déficit orçamentário do governo. A Freddie Mac (Federal Home Loan Mortgage Company) foi criada em 1970, no governo Nixon, para expandir o mercado secundário de hipotecas e, assim como a Fannie Mae, tem a função de fazer empréstimos e dar garantias a empréstimos. Tanto a Freddie Mac como a Fannie Mae, junto com outras empresas, compram (dos bancos) hipotecas no mercado secundário e as revendem para investidores no mercado aberto como títulos lastreados em hipotecas. Ambas são empresas de capital aberto.

A Fannie Mae e a Freddie Mac são conhecidas como ‘empresas apadrinhadas pelo governo’, o que significa que elas são empresas privadas, mas com propósitos públicos. Esse tipo de empresa tem o apoio implícito do governo americano, conquanto não tenha obrigações diretas para com ele. Por causa desse apadrinhamento que elas recebem do governo, essas duas empresas conseguem financiamentos a taxas vantajosas – os credores imaginam que, em caso de insolvência, o governo ajudará essas empresas. E, devido a esses financiamentos facilitados, elas acabaram por sobre-estimular o mercado imobiliário, inflando-o a alturas inimagináveis, ao comprar hipotecas que foram securitizadas por bancos de todo o país.”


A conclusão do autor é inequívoca: “Essas duas empresas não deveriam existir”. A Fannie Mae foi criada pelo governo mais intervencionista que os Estados Unidos já tiveram, criador do New Deal, um programa que plantou as sementes da estagflação que destroçou a economia americana em décadas posteriores. A “herança maldita” de Keynes não poderia ter um exemplo prático melhor do que essa política expansionista dos gastos públicos e dos seus tentáculos burocráticos. Muita gente, por falta de conhecimento ou viés ideológico, atribui o oposto ao New Deal: um prêmio por salvar a economia americana. Nada mais falso. Ora, crescer artificialmente por algum período até um país socialista consegue. O problema vem depois, quando a conta precisa ser paga. Uma analogia boa é alguém ficar eufórico por conta de bebida alcoólica, ignorando que depois terá que enfrentar uma ressaca. Se esta for postergada com mais bebida ainda, tudo que ele irá conseguir é uma cirrose. Os keynesianos acreditam que o rabo é que balança o cachorro, acham que o consumo é que gera crescimento, e não a poupança e o investimento. Eles acreditam que é possível alguém se suspender puxando os próprios suspensórios! A realidade cobra a fatura do sonho depois, com juros e correção monetária. “No longo prazo estaremos todos mortos”, afirmou o pai da criatura, ignorando que com suas idéias o longo prazo chega antes.

Voltando à crise das gigantes imobiliárias, elas jamais teriam acumulado tanto passivo se não fosse a garantia do governo. Essas empresas possuem dívidas totais superiores a US$ 5 trilhões! Isso representa mais da metade da dívida nacional americana. Lew Rockwell comenta: “Empresas apadrinhadas pelo governo não estão sujeitas às disciplinas do mercado, como as empresas do setor privado. Seus títulos são listados como títulos do governo, o que faz com que seus prêmios de risco não sejam ditados pelo livre mercado”. O grau de alavancagem dessas empresas foi ampliado exponencialmente pela garantia estatal. Rockwell lembra qual regime possui essa mistura entre governo e gestão privada: “A origem de ambas essas organizações está na legislação federal. Elas não são entidades de mercado. Elas há muito são garantidas pelo contribuinte. Não, elas também não são entidades socialistas, pois são gerenciadas privadamente. Portanto, elas ocupam um terceiro status, para o qual há um nome: fascismo”.

Como fica claro, aqueles que logo aproveitaram para atacar o livre mercado foram muito precipitados. Deveriam pesquisar antes os fatos. Acabaram errando feio o alvo, talvez de forma deliberada. Parasitas precisam sempre defender mais intervenção estatal, pois vivem disso. Talvez esse seja um dos motivos por trás da acusação infundada de muitos. Outro fator é o ideológico. Por questões patológicas, o triste fato é que muita gente ainda condena o capitalismo liberal pelos males do mundo, não obstante tanta evidência contrária. O importante disso tudo é não deixar essa poluição – deliberada ou não – ofuscar a verdade. Uma vez mais tentam jogar nas costas do liberalismo a culpa de algo que foi causado pelo próprio governo. Se fosse apenas uma questão de justiça com os fatos, poderíamos ignorar o uníssono das viúvas de Fidel, pois a honestidade nunca foi o forte dessa turma. O problema mais grave é que idéias têm conseqüências, e muitas vezes nefastas. Se o diagnóstico da doença for errado, o remédio poderá ser fatal. Em outras palavras, se o livre mercado sair como grande vilão dessa crise, e se a intervenção estatal for vista como solução, pode-se preparar o atestado de óbito. O longo prazo de Keynes estará logo ali...

* Quem tiver interesse no tema da crise de 1929, recomendo o livro America’s Great Depression, de Murray Rothbard, onde os fatos são resgatados, mostrando que a hiperatividade do governo foi a principal causa da depressão que assolou a América.

O Dinossauro está de Volta!



Pergunta do dia: Por que os jornalistas ainda escutam o que a "economista" Maria de Conceição Tavares tem a dizer, já que ela sempre defendeu as coisas que se mostraram mais idiotas do mundo, colocando-se inclusive contra o Plano Real e as privatizações, enquanto chorou de emoção com o fracassado Plano Cruzado?

Vai idolatrar o fracasso assim lá em Cuba!

Vídeo sobre o Aquecimento Global



Vídeo onde comento o livro de Bjorn Lomborg, Cool It, que prega mais racionalidade e calma no debate sobre o aquecimento global, infelizmente tomado por uma histeria perigosa atualmente.

Link para o vídeo no YouTube

domingo, setembro 07, 2008

Muita Calma Nessa Hora!



Rodrigo Constantino

“O aquecimento global não é o único assunto relevante, e com alguns cientistas fazendo cenários assustadores e dando declarações dramáticas simplesmente se fecha o diálogo vital sobre as prioridades sociais.” (Bjorn Lomborg)

Que o tema “aquecimento global” virou uma histeria parece evidente para qualquer um que ainda não perdeu o juízo. A razão e a calma desapareceram dos debates, onde prevalece o alarmismo irracional. Há muitos motivos e interesses que justificam esta postura, mas só temos a perder com ela. Neste contexto, o livro de Bjorn Lomborg, Cool It, torna-se uma leitura imprescindível, justamente porque foca com serenidade nos argumentos e fatos conhecidos, sem utilizar um apelo sensacionalista. Em resumo, o livro tenta despertar uma reflexão saudável num momento onde as emoções têm dominado o assunto. Qualquer um que é contra as medidas radicais pregadas pelos fervorosos ambientalistas passa a ser visto como um insensível, irresponsável e lacaio das indústrias poluidoras. Isso é prejudicial para o debate.

Antes de seguir com os principais pontos de Lomborg, que é autor também do excelente livro O Ambientalista Cético, é importante mencionar que ele acredita no aquecimento global e que a emissão de dióxido de carbono pelos homens é uma das causas deste aquecimento. Ou seja, ele não nega o aquecimento antropogênico, mas tenta mostrar que há muito alarmismo infundado e que outras prioridades estão sendo abandonadas em prol deste pânico irracional. Alguns cientistas negam o fator humano como causa do aquecimento, e creio que a ciência não pode calar dissidentes, pois o júri ainda não deu o veredicto final. Mas o livro de Lomborg é bastante útil, justamente porque ele é um dos que acredita no aquecimento causado pelos homens, e ainda usa os modelos do próprio IPCC para atacar as medidas defendidas por muitos ambientalistas. O meu ceticismo vai além, pois desconfio de todo modelo que alega ser capaz de previsões de fenômenos complexos como o clima num futuro muito distante. Basta observar a enorme taxa de erros dos especialistas no passado para ficar cético.

O principal ponto de Lomborg pode ser explicado com base naquilo que Bastiat já havia notado: existe aquilo que se vê, mas também existe aquilo que não se vê. Muitos tendem a focar apenas no mais visível, deixando de lado tudo o que não está imediatamente aparente. Todos apontam os inconvenientes do aquecimento global, por exemplo, mas ignoram que existem coisas boas provenientes dele. Já perguntaram para os escandinavos se uma temperatura mais elevada é realmente indesejável? Muitos falam das vítimas do calor, que morrem todo ano, mas deixam de lado as mortes causadas pelo frio. Além disso, Lomborg traz para o debate a idéia de custo de oportunidade, já que os recursos são escassos e devemos sempre focar nas prioridades. Vários ambientalistas parecem tratar seu negócio como o único relevante, e por isso o tom catastrófico, já que se o próprio planeta e os seres humanos correm o risco de extinção, parece natural que todos os esforços sejam direcionados para este problema. Mas será que é este mesmo o caso? Lomborg demonstra claramente que não, que as previsões mais alarmantes são totalmente infundadas, e que várias outras prioridades merecem maior atenção.

O caso dos ursos polares é sintomático para expor as falácias do eco-terrorismo. Alguns ambientalistas radicais chegaram a declarar que o urso polar será parte da nossa história, algo que nossos netos conhecerão apenas em livros. Várias pessoas já devem ter visto capas de revista ou jornal mostrando um urso polar no meio de geleiras derretidas, com dificuldade para sobreviver. No entanto, poucos sabem que a população de ursos polares tem aumentado na verdade. Eram cerca de cinco mil ursos na década de 1960, e atualmente existem 25 mil. O principal motivo é um rigor maior contra a caça. Contrário ao que poderíamos pensar, as populações em declínio vêm de áreas que estão esfriando nos últimos 50 anos, enquanto as populações crescentes estão em áreas mais quentes. Por que estes dados são ignorados pela imprensa e por muitos ambientalistas?

Na mais recente onda de calor que tirou milhares de vidas na Europa, inúmeros ambientalistas aproveitaram para apontar as desgraças do aquecimento global. Quando duas mil pessoas morreram de calor no Reino Unido recentemente, o estardalhaço foi ensurdecedor. Enquanto isso, a BBC discretamente expôs um documentário mostrando que umas 25 mil pessoas eram vítimas fatais do frio em cada inverno inglês, sendo que os invernos de 1998 a 2000 tiveram quase 50 mil mortes a cada ano. Na Europa como um todo, segundo Lomborg, cerca de 200 mil pessoas morrem por ano de excesso de calor. No entanto, algo como um milhão e meio de europeus morrem todo ano por excesso de frio. Por que ninguém fala disso? Lomborg acredita inclusive que o aquecimento global poderá ter um efeito líquido positivo em termos de perdas humanas. Muitos idosos sofrem com problemas respiratórios por causa do frio. Já perguntaram a estas pessoas se temperaturas mais elevadas são realmente indesejáveis?

Um dos principais alvos de Lomborg é o Protocolo de Kyoto, com metas ambiciosas e ao mesmo tempo irrealistas e até ineficientes. Lomborg questiona se o real objetivo é tornar a vida dos seres humanos melhor, ou apenas reduzir emissões de CO2. Muitas vezes parece que a meta final é apenas atacar as indústrias e o uso de combustível fóssil, talvez por motivos ideológicos. O ponto é que a adoção das medidas do Protocolo de Kyoto iria gerar pouco impacto positivo em relação ao aquecimento global, mas seria extremamente custoso para a humanidade. Há também uma completa desconfiança em relação à capacidade humana de se adaptar e avançar tecnologicamente. Aprendemos a produzir muito mais usando a mesma quantidade de energia. Um carro médio na América melhorou a distância percorrida por consumo de combustível em 67% desde 1973. A máquina de lavar ou o ar condicionado consomem a metade da energia consumida nas décadas passadas.

Os países que mais poluem em termos relativos são os menos desenvolvidos, como Índia e China, justamente porque o progresso capitalista ainda não chegou com força. A tendência é que o próprio avanço tecnológico vá demandando cada vez menos recursos para produzir a mesma quantidade de bens. Alguns ambientalistas parecem ignorar isso, ou mesmo desejar um regresso aos tempos medievais da pré-indústria. Será que a vida dos seres humanos era mais confortável antes do avanço industrial? Claro que não! Talvez a ideologia explique tanta gente ter abraçado o eco-terrorismo. Já que não podem mais condenar a industrialização capitalista por não produzir riqueza para todos, agora atacam a própria produção de riqueza em si, alegando que ela irá destruir o mundo. Os custos das medidas radicais propostas para redução de CO2 cairiam sobre os consumidores, especialmente os mais pobres. Poucos levam isso realmente em conta na hora de mergulhar na “cruzada moral” que se tornou a causa ambientalista.

Na verdade, medidas bem mais pontuais e baratas teriam um efeito muito melhor em comparação ao que o Protocolo de Kyoto defende. Mas não é provável que alguém ganhe o Prêmio Nobel da Paz defendendo a construção de diques ou a plantação de árvores. Soa bem mais grandioso defender a redução em até 60% das emissões de CO2, como fez Al Gore, ainda que esta meta seja inviável, pois geraria resultados catastróficos para a economia. Além disso, devemos sempre ter em mente a questão das prioridades. Algo como quatro milhões de pessoas morrem todo ano vítimas da desnutrição, três milhões morrem por causa do HIV e quase dois milhões perdem a vida por falta de água potável. Será que num mundo desses a prioridade realmente deveria ser o aquecimento global e os trilhões de dólares que a causa demanda? Será que não existem usos mais prioritários para esses recursos?

Acabar com os subsídios agrícolas no mundo desenvolvido, por exemplo, iria gerar um benefício fantástico para os mais pobres, estimado por alguns modelos na casa do trilhão de dólares. Curiosamente, muitos ambientalistas são também defensores do protecionismo comercial, para “proteger” empregos locais de eleitores. Será que a prioridade dessas pessoas é realmente o bem-estar da humanidade, especialmente dos mais pobres? A cruzada ambientalista pode fazer seus adeptos se sentirem bem, parte de uma causa moral superior. Mas a questão crucial é outra: queremos nos sentir bem, ou queremos efetivamente fazer o bem?

Entre os anos 900 e 1200 ocorreu um período quente conhecido como Período Quente Medieval, que reduziu o gelo no mar e tornou possível a colonização de áreas antes inóspitas, como a Groelândia. Os Vikings não resolveram chamar a terra desse nome, ligado à cor verde, por ironia. Não existiam indústrias ainda, para serem culpadas pela época mais quente. Em seguida, veio um período de esfriamento. O inverno mais rigoroso da França ocorreu possivelmente em 1693, que pode ter matado quase 10% da população francesa. Se estamos deixando para trás essa pequena era do gelo, parece natural vermos geleiras derretendo. Na verdade, as geleiras vêm se reduzindo há séculos, e há muito pouco o que o corte na emissão de CO2 pode fazer para mudar isso. Ainda assim, a Groelândia parece ter passado do ponto mais quente desde 1940, e de fato esfriou até 1990. Não se escuta muito falar sobre isso. O ano mais quente no local foi 1941, e as décadas mais quentes foram 1930 e 1940. Por que não vemos ambientalistas comentando esses dados? Em contrapartida, vemos uma grande atenção voltada para a Antártica, especificamente a sua península, que está aquecendo. No entanto, a parte da Antártica que está se tornando mais quente representa apenas 4% do total da área, enquanto os demais 96% da Antártica se tornaram mais frio. O Pólo Sul viu sua temperatura declinar desde o começo das medições, em 1957. Quantas pessoas lêem sobre isso na imprensa?

O aquecimento global e por tabela os homens são acusados pelos furacões violentos agora também. No entanto, a própria World Meteorological Organization (WMO), ligada à ONU, reconhece que nenhum ciclone tropical individual pode ser diretamente atribuído à mudança climática. Além disso, a WMO entende também que o recente aumento do impacto social dos ciclones se deve basicamente à maior concentração da população nas áreas atingidas. Existem duas vezes e meia mais gente no mundo hoje do que em 1950, e cada um é, na média, três vezes mais rico. As áreas de encosta cresceram ainda mais em termos relativos. Parece natural que o estrago de ciclones, tanto em termos de riqueza quanto de vidas perdidas, tende a ser maior atualmente. Se o furacão que atingiu Miami em 1926 ocorresse hoje, com a mesma intensidade, ele seria o maior na história americana em termos de estragos. No entanto, vemos vários ambientalistas usando o Katrina como “evidência” dos estragos crescentes do aquecimento global. Não é uma postura muito científica. Além disso, medidas menores, como diques e barreiras eficientes, podem gerar um resultado bem melhor do que o corte na emissão de CO2 proposto pelo Protocolo de Kyoto. Infelizmente, propor a construção de diques não tem o mesmo glamour que abraçar uma “missão salvadora” do planeta, ainda que a primeira opção efetivamente possa salvar bem mais vidas.

O alarmismo é bem antigo quando se trata do clima, assim como o uso do homem como bode expiatório. Na Europa medieval, as “bruxas” eram queimadas pela Inquisição acusadas de criar o mau tempo. A culpa pelos verões úmidos das décadas de 1910 e 1920 foi atribuída à Primeira Guerra Mundial, com extensivo uso de disparos, e ao início do rádio transatlântico. A revista Science Digest publicou em 1973 que o mundo estava prestes a congelar, e que se nada fosse feito logo seria tarde demais. Em 1975, a capa da respeitada Science News tinha uma foto de Nova York tomada por uma geleira, alertando que uma nova era do gelo havia começado. Isso tem pouco mais de 30 anos apenas, e o pânico do momento era o esfriamento global. O discurso de catástrofe iminente conquista muitos seguidores, mas não deve ser a língua da ciência.

Modelos frios que usam o conhecimento limitado dos especialistas no presente já não deveriam ser encarados sem ceticismo ou desconfiança, pelo simples fato de que não somos capazes de antecipar o futuro com tanta precisão. Hayek já havia notado que o conhecimento é disperso e que o futuro é sempre incerto, especialmente quando se trata de fenômenos complexos. É perigoso depositar poder demais no conhecimento dos especialistas de determinado assunto, quando eles mesmos sabem apenas uma pequena parcela do todo. Mas mesmo assim, segundo Lomborg, os estudos com peer-review calculam os estragos do aquecimento global em cerca de 1% do PIB, e seus custos em cerca de 2%. Gastar dois dólares para conseguir economizar um dólar não parece uma decisão sábia do ponto de vista econômico. Sem dúvida existem outras formas melhores de gastar esses recursos.

A politização do IPCC não ajuda também. Como coloca o cientista Richard Lindzen, do MIT, os dissidentes do alarmismo climático viram os fundos de pesquisa desaparecer, e foram vítimas de todo tipo de injúria. Não se faz ciência séria desta forma. Mas, infelizmente, o tema do aquecimento global é perfeito para políticos oportunistas, que falam aos corações dos eleitores, enquanto jogam os custos para longe de seus mandatos. Há muita hipocrisia no tratamento do assunto, como no caso onde um governo prega a urgente necessidade de uma drástica redução na emissão de CO2, ao mesmo tempo em que inaugura um novo aeroporto. Os políticos adotam discursos vazios, defendendo medidas radicais e absurdas porque sabem que elas não serão adotadas de fato. O que é positivo, pois seus efeitos seriam terríveis para a economia. O Terceiro Mundo, por exemplo, ainda tem algo como um bilhão e meio de pessoas sem acesso à eletricidade. O uso de combustível fóssil é crucial para essa gente, para o seu desenvolvimento econômico. Vetar o consumo de combustível ou exigir a sua substituição por alternativas bem mais caras é o mesmo que condenar essas pessoas à completa miséria. Será que a sensação confortante de fazer parte de uma cruzada moral justifica este resultado concreto? Vamos condenar centenas de milhões à pobreza eterna para que Al Gore receba um Prêmio Nobel da Paz, enquanto consome sozinho mais combustível fóssil do que milhares de africanos juntos?

Os debates em torno do tema adquiriram ares de seita religiosa, com muitos fanáticos atacando os “hereges” que pedem mais calma e razão neste momento. Alguns chegaram a propor medidas legais contra os dissidentes, assim como existe para quem nega a existência do Holocausto. Se depender dessa turma, seria crime negar o aquecimento global ou suas previsões catastróficas! O que aconteceu com o bom senso das pessoas? A histeria não ajuda em nada na tomada de decisões. É preciso esfriar a cabeça quando o assunto é aquecimento global. Além disso, confiar demais nas medidas políticas nunca foi algo muito sábio. Faz mais sentido acreditar na capacidade dos indivíduos de se adaptarem, de inovarem e criarem novas técnicas eficientes de produção. O mundo não saiu da era medieval para a modernidade por conta de planos mirabolantes de políticos, mas sim pelo funcionamento do livre mercado. Políticos raramente acertam na hora de definir prioridades, e quase nunca acertam nas medidas escolhidas para atacar as prioridades também.

Se os políticos tivessem tomado medidas radicais com base nas previsões de Malthus, o mundo seria outro hoje, muito pior. Na década de 1970, o Clube de Roma fez previsões catastróficas sobre os recursos naturais, alertando que o petróleo, por exemplo, estava prestes a acabar. E se os governos tomassem medidas radicais com base nessas previsões erradas? Existem vários exemplos onde especialistas previram desgraças de forma infundada, e se o governo criasse planos rígidos com base nessas estimativas, a humanidade perderia muito. Portanto, vamos lembrar isso tudo, e evitar os discursos sensacionalistas e as previsões apocalípticas, pois isso em nada auxilia as tomadas de decisão. Quando o assunto for o aquecimento global, é preciso esfriar a cabeça, antes de tudo.

quinta-feira, setembro 04, 2008

Pela Venda do Galeão



Rodrigo Constantino

“Na administração pública, não há conexão alguma entre receita e despesa.” (Ludwig Von Mises)

O governador do Rio, Sérgio Cabral, merece total apoio nesta tentativa de transferir o controle do aeroporto internacional carioca para o setor privado. Não há simplesmente argumento algum contrário à privatização do aeroporto. O governo, por razões intrínsecas ao modelo de incentivos, não consegue ser um gestor mais eficiente do que o setor privado. Qualquer um que usa com alguma freqüência o Galeão sabe como as condições do aeroporto estão precárias, e como falta investimento para torná-lo adequado para os milhões de turistas que escolhem a “cidade maravilhosa” como destino. É simplesmente absurdo o critério utilizado pelo governo federal, que repassa bem mais recursos para o aeroporto de Florianópolis do que para o Galeão, muito maior. Eis o tipo de decisão sem sentido econômico que costuma ocorrer quando o governo detém o poder.

Novas reportagens têm mostrado como a saída do aeroporto, através da Linha Vermelha, costuma ser alvo de assaltantes, muitas vezes fortemente armados. Essa sim deveria ser uma prioridade para o governo, já que uma das suas funções precípuas é justamente cuidar da segurança pública. O governo não tem recursos nem capacidade para cuidar de muitas coisas diferentes, e focar apenas naquilo que cabe ao setor público, deixando o restante para o setor privado, permite um resultado infinitamente mais eficiente. Neste caso específico, o governo deveria deixar alguma empresa privada administrar o aeroporto, e cuidar melhor da questão da segurança nas vias de acesso ao aeroporto. Todos sairiam ganhando com esta medida. Os usuários do aeroporto teriam, sem dúvida, serviços melhores. Os empregados do aeroporto estariam submetidos a um regime mais justo de meritocracia. E todos poderiam usufruir do conforto de uma segurança melhor, para chegar ou sair do local.

A privatização de aeroportos não é uma novidade, e tem ocorrido no mundo todo desde que Thatcher iniciou o movimento em 1987, vendendo para a iniciativa privada sete aeroportos comerciais. Nova Zelândia, Cingapura, Áustria, México e vários outros países seguiram a mesma trilha, privatizando aeroportos que experimentaram, pouco tempo depois, expressivos ganhos de produtividade. Nos Estados Unidos já existem vários aeroportos privados.

Infelizmente, as coisas de bom senso costumam demorar mais a chegar ao Brasil, terra onde a estupidez ideológica tem um passado glorioso e um futuro promissor, pelo que vemos com o debate sobre a criação de mais uma estatal para explorar petróleo. O nacionalismo boboca ainda conquista muitos adeptos por aqui, e o governo é visto como uma espécie de deus. A desconfiança é total em relação ao setor privado e seu foco no lucro. O espantoso disso tudo é que as vítimas de um governo corrupto e incompetente parecem nunca aprender a lição e, ao contrário, declaram paixão crescente por seu próprio algoz. São como as vítimas da Síndrome de Estocolmo, encantadas com os seqüestradores. O governo brasileiro sempre foi inchado demais, sempre prejudicou o crescimento econômico, implantou inúmeras barreiras ao nosso progresso, e ainda assim os eleitores adoram o governo e detestam os empresários.

Qualquer um que depende de alguma repartição pública sente na pele a péssima gestão do governo, mas por algum motivo qualquer não faz a ligação causal entre as coisas, preferindo culpar aquelas pessoas em vez do modelo em si. O método de gestão estatal é o burocrático, não tem jeito. Existem coisas que devem ser administradas desta forma, pois poucos pensariam que a polícia deveria focar no lucro. Mas para a maciça maioria dos negócios, é justamente o foco no lucro que permite uma gestão eficiente. O governo não é um bom empresário, e deve ser afastado de todos os setores em que a iniciativa privada está disposta a participar. A desculpa de “setor estratégico” não é convincente de forma alguma. Exatamente por ser estratégico é que a gestão deve ser mais eficiente e, portanto, privada. Vide os casos de portos, ferrovias, estradas, tudo aquilo ligado à logística, fundamental para o bom funcionamento da economia. O governo resolveu controlar estes setores, e o resultado foi uma ineficiência incrível.

Não poderia ser diferente com os aeroportos. Por este motivo, devemos aplaudir o esforço do governador Sérgio Cabral, no objetivo de transferir para o setor privado o controle do Galeão. O Rio agradece! Um aeroporto melhor, mais eficiente e bonito, sob a necessidade de competir no mercado dinâmico em busca do lucro, eis o que representa de fato os interesses dos cariocas. Pouco importa quem é o acionista, se é estrangeiro ou nacional, se são vários grupos ou uma grande empresa. O que importa é que a busca pelo lucro ainda é o maior aliado dos consumidores. O governo provou ser um gestor incompetente, totalmente incapaz de oferecer um serviço adequado. Está na hora de dar uma chance à iniciativa privada. Pela venda do Galeão, já!