Idéias de um livre pensador sem medo da polêmica ou da patrulha dos "politicamente corretos".
segunda-feira, novembro 30, 2009
Ayn Rand na Globonews - HOJE!
A vida da escritora e filósofa russo-americana Ayn Rand se assemelha a um roteiro de cinema.
Judia, fugitiva da revolução russa, chegou aos Estados Unidos na metade da década de 1920, como sonho de ser atriz e escritora. Conheceu o famoso diretor de Hollywood, Cecil B. DeMille e se tornou atriz de filmes mudos, roteirista e escritora. Casou-se com o ator Frank O’Connor e se tornou uma das mais influentes escritoras dos Estados Unidos.
O correspondente Jorge Pontual conversou com a escritora Anne Heller, que acaba de lançar a mais completa biografia de Ayn Rand, para uma conversa sobre a autora cujos livros ainda são sucesso de vendas 50 anos depois de lançados, como os casos de The Fountainhead (A Nascente) e Atlas Shrugged (Quem é John Gault?).
Ayn Rand forjou o conceito de “objetivismo”, que defende o uso da razão, da ética e do individualismo como instrumentos para que o ser humano decida seu próprio destino e valores morais, tendo a opção de não se sacrificar por outro ser humano ou ser alvo do sacrifício de outros. A entrevista será levada ao ar segunda, dia 30/11, às 23:30
Para quem tiver interesse, ainda tenho alguns exemplares do meu livro "Egoísmo Racional" para vender. Custa R$ 20 e posso mandar pelo Correio. Basta mandar um email para mim, fazer o depósito e passar o endereço. Email: constantino.rodrigo@gmail.com
Presente de Grego
Rodrigo Constantino
A revista VEJA desta semana tem uma matéria sobre o livro Scroogenomics, do economista americano Joel Waldfogel, bem interessante. Em todo Natal bilhões de dólares são destruídos no mundo todo. "A cada dezembro, presentes ruins transformam em pó algo em torno de 25 bilhões de dólares ao redor do mundo", diz. "Isso faz do Natal uma das mais formidáveis máquinas de destruição de valor já criadas pela humanidade". Eis a passagem que merece destaque:
"A ideia central de Waldfogel tem a ver com o conceito de valor – que é diferente do de preço. O valor de um produto tem algo de subjetivo. Está relacionado à satisfação que ele proporciona. Um gasto é bom para o consumidor final quando a satisfação obtida com o produto excede o preço pago. Na situação inversa, destrói-se valor. Embora às vezes a percepção de nossos próprios interesses possa ser turvada, de maneira geral, diz Waldfogel, quando saímos de casa para comprar uma roupa ou um CD, sabemos escolher direito. Mas, quando outras pessoas escolhem por nós, a relação entre valor e preço fica negativa."
Desde Carl Menger sabemos que o valor é subjetivo. Esse é um dos pilares mais importantes da Escola Austríaca, fundada por Menger. Partindo dessa lógica, fica até bastante óbvio concluir que presentes de Natal acabam destruindo valor. Afinal, o preço pago por quem compra o presente dificilmente será equivalente ao valor extraído por quem o recebe. Se a própria pessoa pudesse escolher, usando a mesma quantia, sem dúvida saberia melhor o que ela mesma prefere. Por isso os "vale-presentes" estão ficando mais comuns, apesar de parecerem mais "frios".
"Dar dinheiro seria mais simples, mas na maioria dos países há um estigma associado aos presentes em dinheiro. Em certas situações, eles são considerados até mesmo rudes", diz Waldfogel. Mas isso não muda o fato de que seria mais eficiente, do ponto de vista do valor gerado para a sociedade.
Faltou apenas à reportagem concluir o óbvio, indo além na mesma lógica: não apenas presentes de Natal destroem valor, mas - e principalmente, os gastos públicos são as verdadeiras máquinas de destruição de valor! No caso do presente, ainda temos a boa intenção de quem compra, que conhece o beneficiário e deseja agradá-lo. Mesmo assim não há garantia de sucesso. Mas no caso dos gastos do governo a situação é muito pior. Não só quem gasta não se importa muito com quem supostamente recebe os benefícios dos gastos, como não é ele quem paga a conta.
Os gastos do governo são problemáticos justamente por esta característica: governantes vão às compras usando o dinheiro da "viúva", retirado na marra, sem consentimento, e não estão muito preocupados com os benefícios gerados por tais gastos. Não são santos, afinal de contas, mas indivíduos que buscam a satisfação de seus próprios interesses. Na verdade, existe um grande incentivo à corrupção, quando governantes gastam o dinheiro dos outros com si próprios. Até um carro oficial para levar uma cadela sozinha pode resultar disso!
Se o presente de Natal pode ser ruim para a economia, como tenta mostrar Waldfogel, imagine o grande presente de Grego que é o gasto público!
sábado, novembro 28, 2009
O Esquerdismo dos Intelectuais
Rodrigo Constantino
Por que tantos cineastas são de esquerda, defensores do intervencionismo estatal na sociedade? Essa pergunta pode ser feita de forma ainda mais abrangente: por que tantos intelectuais desprezam o livre mercado e aderem ao socialismo? Parte da resposta talvez esteja na aleatoriedade das escolhas do público.
Em O Andar do Bêbado, Leonard Mlodinow mostra como o acaso muitas vezes influencia a ponto de determinar nossas vidas. Logo no primeiro capítulo, o autor usa como exemplo para ilustrar a aleatoriedade de eventos justamente o setor de cinema em Hollywood. Ele mostra como chega a ser imprevisível detectar um padrão de comportamento no sucesso ou fracasso dos lançamentos dos principais estúdios. A sorte acaba exercendo um papel fundamental no resultado de bilheteria dos filmes.
Um dos exemplos é o filme A Bruxa de Blair, que custou aos produtores meros US$ 60 mil, mas que rendeu US$ 140 milhões em bilheteria, o triplo do que rendeu O Exorcista, filme cujo custo foi estimado em US$ 80 milhões. Claro que a qualidade do filme é importante, assim como a competência do produtor, diretor, roteirista, atores, etc. Mas o ponto é que são tantos fatores que determinam o desempenho de um filme, ele sofre tantas influências imprevisíveis e incontroláveis, que não seria possível afirmar com grande dose de confiança qual filme será um estouro e qual será um fiasco.
Vários filmes milionários, com atores super famosos, foram vergonhosos fracassos, sem que ninguém pudesse ter previsto isso antes. Por outro lado, filmes que diversos estúdios rejeitaram, por considerá-los terríveis, tornaram-se verdadeiros blockbusters. Isso não ocorre somente com filmes. O mesmo se passa com livros, onde escritores como John Grisham e J.K. Rowling tiveram suas obras rejeitadas dezenas de vezes, antes de virarem celebridades. Não é nada fácil antecipar quais serão os best-sellers e quais ficarão encalhados nas prateleiras.
Nada disso anula a relevância da capacidade. Como o próprio Mlodinow explica, “isso não quer dizer que a habilidade não importe – ela é um dos fatores ampliadores das chances de êxito - , mas a conexão entre ações e resultados não é tão direta quanto gostaríamos de acreditar”. Talvez o talento seja uma condição necessária, mas não suficiente para o sucesso. Até porque cinema e literatura são meios altamente competitivos. E, principalmente, porque as preferências e modismos das massas são imprevisíveis. Aquilo que o grande público vai gostar não é algo simples de prever.
Mas o que isso tudo tem a ver com o esquerdismo predominante em Hollywood e entre os intelectuais? Ora, essa característica aleatória das escolhas do público pode ser muito cruel com os autores. Um dia eles são estrelas, quase deuses, e no outro podem estar esquecidos, mergulhados numa fase decadente. Nada garante o sucesso sustentável. O público, por qualquer motivo aparentemente inexplicável, pode lotar as salas de cinema para ver um filme que nenhum chefão de Hollywood achava que faria sucesso, e pode também se recusar a assistir uma produção milionária com atores já renomados.
A imprevisibilidade e a instabilidade da demanda produzem muita ansiedade nos produtores. Ficar à mercê dos ventos do momento, que podem mudar de direção sem aviso prévio, pode ser desesperador. A competição acirrada e essa demanda randômica assustam. Além disso, muitos produtores gostam de fazer filmes “cabeça”, enquanto nada garante que esta seja a demanda do grande público. Esse fator é ainda mais visível no caso francês. Se ao menos houvesse uma maneira de evitar tanto sofrimento e angústia! Infelizmente, existe uma forma de fugir desta tensão: não depender tanto da demanda. E como isso seria possível? Garantindo antecipadamente uma espécie de reserva de mercado, através do governo, claro.
Desta forma, a simbiose entre produtores e governantes permite satisfação mútua para ambos os lados. No caso de Hollywood a troca é mais sutil e indireta, enquanto no Brasil o acordo é mais direto e escancarado. Os produtores fazem filmes com o suporte do governo, recebendo financiamento dos impostos, cotas nas salas de cinema são reservadas para filmes nacionais e agora o governo pretende levar os filmes para os mais pobres através dos “cinemas populares”. Já os governantes, donos da caneta poderosa, fazem com que os filmes mais alinhados aos seus interesses sejam os vencedores nessa disputa política. Filmes enaltecendo políticos em particular e o governo em geral, acabam sendo os escolhidos para os privilégios. Quem sai perdendo é o público, como sempre...
Resumindo, a aleatoriedade da demanda do público pode ser uma, entre outras*, das causas do esquerdismo predominante no meio intelectual. Os produtores acabam buscando refúgio na segurança do governo, onde a troca de favores fala mais alto. Dessa forma, eles não precisam se submeter à “tirania do mercado”, ou seja, aos gostos e preferências dos consumidores.
* Outras possíveis explicações para a predominância esquerdista no meio intelectual foram levantadas por gente como George Stiegler e Hayek.
sexta-feira, novembro 27, 2009
A Bolha na China
Vejam nessa reportagem a cidade fantasma na China. Os incentivos distorcidos do sistema, que depende das decisões de burocratas e políticos cuja meta é apenas crescimento do PIB, acabam gerando esse tipo de absurdo. Uma cidade nova e fantasma, num país com mais de um bilhão de habitantes, a maioria gente pobre que ainda vive no meio rural. A obsessão pelo crescimento do PIB, uma invenção keynesiana que não capta corretamente a qualidade da economia (gasto do governo é positivo para o PIB!), tem produzido o que os austríacos chamam de "malinvestments". Até quando a bolha chinesa aguenta? Eis a questão...
A Bolha em Dubai
Rodrigo Constantino, para o Instituto Liberal
Ontem as bolsas do mundo todo estremeceram quando a estatal Dubai World pediu mais prazo para pagar sua dívida bilionária. O default do governo argentino logo veio à mente de muitos. Os principais índices de ações da Europa caíram mais de 3%, e até o Ibovespa recuou mais de 2%. O emirado árabe de Dubai possui US$ 80 bilhões em dívidas, sendo quase US$ 60 bilhões só da Dubai World. O grosso dessa montanha de dinheiro foi usado para financiar um boom imobiliário que remete ao caso japonês da década de 1980. A liquidez de capital abundante no mundo, estimulada pelas taxas de juros artificialmente baixas, e a alta do preço do petróleo, sustentada por essa liquidez e pela demanda chinesa, explicam o clima de euforia em Dubai nos últimos anos.
Existem basicamente quatro tipos de bolhas: aquelas financiadas pelo mercado de capitais ou por crédito bancário; e aquelas aonde o destino do dinheiro vai para investimentos produtivos ou para consumo. A pior combinação, naturalmente, é uma bolha financiada por crédito bancário para bancar uma orgia de gastos sem sentido. Eis exatamente o caso de Dubai. A bolha do Nasdad foi o caso oposto, já que a origem do dinheiro foi o mercado de capitais e o destino foram investimentos em tecnologia que, mal ou bem, ficam depois do estouro, permitindo ganhos de produtividade. Foi uma bolha mais fácil de ser digerida. Já o caso de Dubai é diferente. Afinal, a grande fonte de recursos foram os bancos europeus, e o destino foram ilhas artificiais para celebridades, uma pista de ski no meio do deserto e o prédio mais alto do mundo – que Freud explica! Com a queda do castelo de areia, não sobra muita coisa produtiva.
Para os críticos do capitalismo liberal, será complicado culpar o bode expiatório preferido dessa vez. Afinal, uma bolha estimulada por políticas frouxas de bancos centrais e criada por gastos faraônicos de uma estatal poderosa não tem muito de livre mercado. Pior que isso só mesmo o caso da Venezuela, onde os petrodólares serviram para financiar compra de votos, carros de luxo para os burocratas, armas para proteger o ditador Chávez, e revoluções “bolivarianas” pela região toda. Chávez já conseguiu produzir uma recessão grave somada a uma inflação fora de controle. Num país repleto de petróleo, falta energia! É o socialismo do século XXI em ação...
quarta-feira, novembro 25, 2009
Homem primata, capitalismo selvagem!
Segundo reportagem de O Globo, o pedágio cobrado por índios em rodovia do Mato Grosso é tão caro quanto em SP. Índios da Reserva Indígena Pareci, no sudoeste de Mato Grosso, foram autorizados pela Fundação Nacional do Índio (Funai) a cobrarem pedágio na rodovia pavimentada que corta a região. A tarifa é cobrada na MT-235, que liga os municípios de Campo Novo do Parecis e Sapezal. Atualmente, eles cobram R$ 30 para caminhões, carretas e ônibus, R$ 20 para carros de passeio e R$ 10 para motos. Em SP, ao menos os motociclistas não pagam...
Gananciosos, esses "bons selvagens" de Rousseau!
terça-feira, novembro 24, 2009
O Câmbio Certo
Em artigo publicado hoje (24/11/09) no jornal Valor Econômico, Delfim Netto afirma:
"Supor que o mercado cambial deixado a si mesmo fixa o preço certo e nunca erra é demonstração da mais alta miopia teórica e histórica".
Delfim adora apontar as supostas "falhas de mercado", mas curiosamente não dedica muito tempo às "falhas de governo". Cai, portanto, na conhecida falácia do non sequitur: parte de uma premissa verdadeira (a imperfeição do mercado) e conclui algo que não se segue logicamente desta premissa (a intervenção estatal é desejável e melhora a situação).
A "mais alta miopia teórica e histórica", no fundo, é justamente acreditar na capacidade de burocratas definirem o tal "câmbio certo", seja lá o que for isso. Talvez Delfim Netto devesse incluir no seu artigo qual é esse mágico "preço certo" do câmbio, explicando sua lógica e sabedoria. Eu, por outro lado, não tenho esta capacidade, e não faço idéia de qual seria o "preço certo" do câmbio. Delfim, nos dê uma luz!
Dia da Consciência Individual
Rodrigo Constantino, O GLOBO (24/11/09)
Cada indivíduo possui diversas características que ajudam a identificá-lo, entre elas: crença religiosa, altura, classe social, sexo, visão política, nacionalidade e cor da pele. O coletivista é aquele que seleciona arbitrariamente alguma dessas características e a coloca no topo absoluto da hierarquia de valores. Para o nacionalista, a nacionalidade é a coisa mais relevante do mundo. Para o socialista, a classe é tudo que importa. Para o racialista, a “raça” define quem somos.
Todos eles ignoram a menor minoria de todas: o indivíduo. Schopenhauer disse: “A individualidade sobrepuja em muito a nacionalidade e, num determinado homem, aquela merece mil vezes mais consideração do que esta”. De fato, parece estranho se identificar tanto com alguém somente com base no local de nascimento. O mesmo pode ser dito sobre a cor da pele. Deve um liberal negro ter mais afinidade com um marxista negro do que com um liberal branco? Fica difícil justificar isso.
Entretanto, o “Dia da Consciência Negra” apela exatamente para este coletivismo. Consciência é algo individual; não existe uma “consciência negra”. Compreende-se a luta contra o racismo, justamente uma forma de coletivismo que deprecia um grupo de indivíduos por causa de sua cor. Mas não creio ser uma boa estratégia de combate ao racismo enaltecer exatamente aquilo que se pretende atacar: o conceito de “raça”. Um mundo onde indivíduos são julgados por seu caráter, não pela cor da pele, como sonhava Martin Luther King, não combina com um mundo que celebra a consciência de uma “raça”.
A origem do feriado coloca mais lenha na fogueira. Zumbi dos Palmares, ao que tudo indica, tinha escravos. Era a coisa mais natural do mundo em sua época. Ele lutava, portanto, pela sua própria abolição, não da escravidão em si. A humanidade conviveu com a escravidão desde sempre. Diferentes conquistadores transformaram em escravos os conquistados. Os gregos, romanos, incas, astecas, otomanos, todos fizeram escravos. As principais religiões consideravam isso algo normal. Não havia um critério racial para esta nefasta prática. Os próprios africanos eram donos de escravos.
Somente o foco no indivíduo, com o advento do iluminismo, possibilitou finalmente enterrar as correntes da escravidão. A Declaração da Independência Americana seria a síntese desta nova mentalidade. Os principais abolicionistas usaram suas poderosas palavras como argumento definitivo contra a escravidão. No famoso caso Amistad, em 1839, o ex-presidente John Quincy Adams fez uma defesa eloqüente dos africanos presos: “No momento em que se chega à Declaração de Independência e ao fato de que todo homem tem direito à vida e à liberdade, um direito inalienável, este caso está decidido”.
O Brasil apresenta um agravante prático: a própria noção de “raça”. Afinal, aqui predomina a mistura, como o recém-falecido Lévi-Strauss percebeu em Tristes Trópicos. Para o antropólogo, ‘negro’ é um termo que “não tem muito sentido num país onde a grande diversidade racial, acompanhando-se de pouquíssimos preconceitos, pelo menos no passado, possibilitou misturas de todo tipo”. Como celebrar a “consciência negra” num país de mestiços, caboclos e cafuzos? Deve o mulato priorizar uma parte de sua origem, em detrimento da outra? A mãe negra é mais importante que o pai branco, ou vice-versa?
Eu gostaria muito de viver num país onde não houvesse racismo. Infelizmente, acho que feriados que enaltecem a consciência da “raça” não ajudam. Seria melhor criar o “Dia da Consciência Individual”.
Cada indivíduo possui diversas características que ajudam a identificá-lo, entre elas: crença religiosa, altura, classe social, sexo, visão política, nacionalidade e cor da pele. O coletivista é aquele que seleciona arbitrariamente alguma dessas características e a coloca no topo absoluto da hierarquia de valores. Para o nacionalista, a nacionalidade é a coisa mais relevante do mundo. Para o socialista, a classe é tudo que importa. Para o racialista, a “raça” define quem somos.
Todos eles ignoram a menor minoria de todas: o indivíduo. Schopenhauer disse: “A individualidade sobrepuja em muito a nacionalidade e, num determinado homem, aquela merece mil vezes mais consideração do que esta”. De fato, parece estranho se identificar tanto com alguém somente com base no local de nascimento. O mesmo pode ser dito sobre a cor da pele. Deve um liberal negro ter mais afinidade com um marxista negro do que com um liberal branco? Fica difícil justificar isso.
Entretanto, o “Dia da Consciência Negra” apela exatamente para este coletivismo. Consciência é algo individual; não existe uma “consciência negra”. Compreende-se a luta contra o racismo, justamente uma forma de coletivismo que deprecia um grupo de indivíduos por causa de sua cor. Mas não creio ser uma boa estratégia de combate ao racismo enaltecer exatamente aquilo que se pretende atacar: o conceito de “raça”. Um mundo onde indivíduos são julgados por seu caráter, não pela cor da pele, como sonhava Martin Luther King, não combina com um mundo que celebra a consciência de uma “raça”.
A origem do feriado coloca mais lenha na fogueira. Zumbi dos Palmares, ao que tudo indica, tinha escravos. Era a coisa mais natural do mundo em sua época. Ele lutava, portanto, pela sua própria abolição, não da escravidão em si. A humanidade conviveu com a escravidão desde sempre. Diferentes conquistadores transformaram em escravos os conquistados. Os gregos, romanos, incas, astecas, otomanos, todos fizeram escravos. As principais religiões consideravam isso algo normal. Não havia um critério racial para esta nefasta prática. Os próprios africanos eram donos de escravos.
Somente o foco no indivíduo, com o advento do iluminismo, possibilitou finalmente enterrar as correntes da escravidão. A Declaração da Independência Americana seria a síntese desta nova mentalidade. Os principais abolicionistas usaram suas poderosas palavras como argumento definitivo contra a escravidão. No famoso caso Amistad, em 1839, o ex-presidente John Quincy Adams fez uma defesa eloqüente dos africanos presos: “No momento em que se chega à Declaração de Independência e ao fato de que todo homem tem direito à vida e à liberdade, um direito inalienável, este caso está decidido”.
O Brasil apresenta um agravante prático: a própria noção de “raça”. Afinal, aqui predomina a mistura, como o recém-falecido Lévi-Strauss percebeu em Tristes Trópicos. Para o antropólogo, ‘negro’ é um termo que “não tem muito sentido num país onde a grande diversidade racial, acompanhando-se de pouquíssimos preconceitos, pelo menos no passado, possibilitou misturas de todo tipo”. Como celebrar a “consciência negra” num país de mestiços, caboclos e cafuzos? Deve o mulato priorizar uma parte de sua origem, em detrimento da outra? A mãe negra é mais importante que o pai branco, ou vice-versa?
Eu gostaria muito de viver num país onde não houvesse racismo. Infelizmente, acho que feriados que enaltecem a consciência da “raça” não ajudam. Seria melhor criar o “Dia da Consciência Individual”.
segunda-feira, novembro 23, 2009
domingo, novembro 22, 2009
O Caso Cesare Battisti - Vídeo
Desabafo sobre o caso Cesare Battisti, terrorista italiano protegido por parte da nossa esquerda sob a casca de "crime político".
quarta-feira, novembro 18, 2009
De Torneiro Mecânico a Presidente - O Filme
Roteiro do filme que eu gostaria de rodar, sobre um torneiro mecânico que se torna presidente num país muito distante...
"Falta ao Brasil a vocação da poupança"
Trechos da entrevista de Eduardo Giannetti hoje (19/11/09) no jornal Valor:
"O caminho de ajuste do Brasil não foi o melhor do ponto de vista de criar condições para um crescimento sustentado mais à frente, tanto que todo esse aumento do consumo privado e do gasto corrente do governo significa uma queda importante da poupança doméstica e da capacidade de investimento no futuro próximo. Esse é o ponto que me preocupa. Nós fizemos um ajuste que dá grande alívio e conforto no curto prazo, mas implica sacrifício e perdas de crescimento potencial num segundo momento."
"O Brasil já é tradicionalmente um país de nível de poupança baixa, um quadro que se agravou depois de 1988, com a nova Constituição. Na reação à crise, se aprofundou esse movimento da compressão da poupança para alimentar o consumo. Nós estamos com um nível de poupança doméstica de 14% do PIB. Com esse nível, a nossa capacidade de investir e formar capital fica muito prejudicada."
"Primeiro, não se pode confundir recuperação cíclica com crescimento sustentado. Não há nenhum segredo em crescer até 6% depois de um ano em que o crescimento é zero e que o PIB da indústria de transformação vai cair 7%. Chamar isso de marolinha não faz o menor sentido. Quando você sai de um baixo nível de utilização de capacidade, há espaço num primeiro momento para reduzir a ociosidade. O enredo do crescimento muda quando o país trabalha muito perto da plena utilização de recursos. Aí começa a dificuldade de crescer, porque é necessário acumular capital, a grande fragilidade do Brasil."
"Juscelino contaminou a imaginação brasileira com a aspiração de desenvolvimento acelerado, mas não quis apresentar a conta, e encontrou a inflação como um meio de viabilizar um forte adicional ao processo de formação de capital. Como a conta só apareceu depois do seu mandato, ele ficou com essa pecha de grande presidente."
"Acho que está se criando uma situação parecida com a do Juscelino e a do Geisel."
A Pretensão de Mantega
Rodrigo Constantino, para o Instituto Liberal
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse ontem que se o dólar estivesse a R$ 2,60 "venceríamos todos". O ministro é um sábio! Ele "sabe" qual a taxa de câmbio ideal para a economia. O prêmio Nobel Hayek falava da "pretensão do conhecimento" de alguns economistas, que acham que podem controlar a economia, um fenômeno complexo, de cima para baixo. São os "planejadores centrais". Eles, sábios clarividentes, vão decidir os preços justos na economia. Isso não é novo. A Gosplan, na falida URSS, tentava controlar o preço de milhares de produtos, através de complexos modelos econométricos.
Eu, um simples estudioso da Escola Austríaca, não sou tão inteligente assim, e prefiro adotar uma postura mais humilde. Sou sincero ao afirmar, sem rodeios: não tenho a menor idéia de qual é o preço ideal, adequado ou justo para o câmbio no Brasil. Seria R$ 1,50? Ou talvez R$ 1,85? Quem sabe R$ 2,00? Claro, o próprio ministro poderia estar certo, e o câmbio adequado seria então R$ 2,60. Mas por que não R$ 2,68? Aliás, se eu soubesse mesmo qual o câmbio de "equilíbrio" da economia, eu estaria ganhando rios de dinheiro especulando com base nisso.
Enfim, eu não faço idéia de qual o preço "certo" para a relação entre o dólar e o real. Por isso mesmo, prefiro deixar a lei da oferta e procura decidir, ou seja, o livre mercado. Isso significa o tal câmbio flutuante. Para os arrogantes e autoritários, essa opção é impensável. Eles "sabem" o preço correto, e gostariam de impor este "conhecimento" a todos. O resultado desse tipo de medida pode ser verificado no destino da URSS.
terça-feira, novembro 17, 2009
Os Camaradas do Terrorista Assassino
Um grupo de deputados e senadores visitou nesta terça na prisão, em Brasília, o terrorista italiano Cesare Battisti, acusado, julgado e condenado por homicídio na Itália. Entre os parlamentares estavam os senadores José Nery (PSOL-PA) e Eduardo Suplicy (PT-SP) e os deputados Chico Alencar (PSOL-RJ) e Ivan Valente (PSOL-SP). Sabemos que eles representam seus respectivos partidos nesse ato, ou boa parte deles. Diga-me com quem andas, que te direi quem és...
(Foto: José Cruz/Agência Brasil)
Deu no Valor Econômico
Palavra do gestor: Se é bom demais para ser verdade, então não deve ser verdade
Rodrigo Constantino
17/11/2009
"Im a great believer in luck, and I find the harder I work the more I have of it." (Thomas Jefferson)
Desconfie de todos os atalhos para o sucesso. Normalmente, o caminho para o sucesso é árduo e longo, repleto de obstáculos. Demanda esforço, trabalho, coragem, tolerância ao risco, dedicação e paciência. Thomas Edison dizia que a genialidade era 1% de inspiração e 99% de transpiração. As trilhas costumam levar a penhascos com frequência.
Exemplos do cotidiano não faltam. Quem deseja emagrecer, pode tomar aquelas bolinhas para cortar caminho. Não sem graves sequelas. A saúde cobra um elevado preço. O barato sai caro. O mesmo para quem deseja ficar forte num piscar de olhos. Os anabolizantes fazem o serviço parecer mais tranquilo, mas é tudo ilusão. O corpo vai contabilizando com juros o preço da aventura.
Quem deseja conhecimento passa pelo mesmo dilema. Aqueles livrinhos que fazem resumo do resumo para cada filósofo, prometendo aprendizado em apenas 90 minutos de leitura, atraem muita gente com preguiça de beber direto da fonte. Mas ninguém vai conhecer de fato a filosofia de Nietzsche, por exemplo, lendo um livro desses. Para uma conversa de bar, esses livros podem ser úteis. Mas o conhecimento verdadeiro custa mais caro em termos de investimento do tempo disponível.
Os saltos discretos normalmente não ocorrem no progresso da mente ou do corpo. Não há porque ser diferente quando se trata do bolso. Claro que existem exceções. Alguém pode ficar rico de repente, com uma ideia brilhante ou ganhando na loteria. Mas contar com isso é mais do que arriscado: é irresponsável.
O gradualismo quase sempre faz parte do sucesso, principalmente daquele sustentável. O campeão não se torna campeão no ringue. Ali, ele apenas é reconhecido. Está colhendo o que foi plantado ao longo de um período de árduo treinamento. Na vida, colhemos aquilo que plantamos, não o que sonhamos. Os golpes de sorte ou os raros casos de genialidade existem justamente para comprovar a regra. Portanto, uma boa dose de ceticismo diante de promessas fantásticas é sempre saudável. Aquilo que parece bom demais para ser verdade, normalmente não é verdade!
Como gestor de um fundo que investe em outros fundos, sempre olho com desconfiança redobrada para aqueles gestores com desempenho exageradamente positivo. Conseguir dobrar o capital em um ano pode acontecer uma vez, por mérito do gestor ou sorte. Mas quando alguém apresenta retornos incríveis por três, quatro anos seguidos, uma luz amarela acende automaticamente.
Pode acontecer, sem dúvida, como pode acontecer de alguém ganhar na loteria. Mas eu prefiro não arriscar o patrimônio dos clientes em um produto desses. Quando a esmola é demais, o santo desconfia. Essa sabedoria popular com frequência é ignorada no mercado financeiro. A tentação de ficar rico num curto espaço de tempo é sedutora demais.
O melhor exemplo desse risco foi a débâcle do LTCM em 1998. O fundo apresentou retornos incríveis por três anos seguidos até que tudo veio abaixo em poucos dias. Descobriu-se que o excesso de alavancagem e o risco de liquidez podem custar caro demais: a própria sobrevivência do negócio. No Brasil, o caso recente do GWI reforça a lição de que um desempenho bom demais pode ocultar por algum tempo um risco elevado demais também. Quando os ventos mudam de direção, a realidade fica exposta. A observação de Warren Buffett vai direto ao ponto: "Quando baixa a maré é que a gente vê quem estava nadando pelado."
Voltando à analogia com o corpo, todos sabem no fundo o que deve ser feito para emagrecer: fechar a boca e fazer exercício físico. Mas é mais fácil falar do que fazer. Esforço contínuo, perseverança e paciência são ingredientes necessários numa dieta saudável. E nem todos conseguem seguir essa trajetória. No caminho, os atalhos poderão ser tentadores demais, como o canto das sereias em Odisseia. E como Ulisses teria feito, amarrando-se no mastro, devemos criar mecanismos próprios de controle contra tais tentações. Elas podem ser fatais.
O mesmo costuma ocorrer quando se trata de riqueza. Como dizia novamente Warren Buffett, não importa quão grande seja o talento ou esforço, algumas coisas simplesmente demandam tempo: não é possível produzir um bebê em um mês engravidando nove mulheres. Evite as trilhas para o sucesso. Se fosse fácil chegar lá, todos já teriam chegado. E anotem em local de destaque a seguinte lição de David Starr Jordan: "Sabedoria é saber o que fazer; virtude é fazer."
Rodrigo Constantino é economista e gestor de recursos
Rodrigo Constantino
17/11/2009
"Im a great believer in luck, and I find the harder I work the more I have of it." (Thomas Jefferson)
Desconfie de todos os atalhos para o sucesso. Normalmente, o caminho para o sucesso é árduo e longo, repleto de obstáculos. Demanda esforço, trabalho, coragem, tolerância ao risco, dedicação e paciência. Thomas Edison dizia que a genialidade era 1% de inspiração e 99% de transpiração. As trilhas costumam levar a penhascos com frequência.
Exemplos do cotidiano não faltam. Quem deseja emagrecer, pode tomar aquelas bolinhas para cortar caminho. Não sem graves sequelas. A saúde cobra um elevado preço. O barato sai caro. O mesmo para quem deseja ficar forte num piscar de olhos. Os anabolizantes fazem o serviço parecer mais tranquilo, mas é tudo ilusão. O corpo vai contabilizando com juros o preço da aventura.
Quem deseja conhecimento passa pelo mesmo dilema. Aqueles livrinhos que fazem resumo do resumo para cada filósofo, prometendo aprendizado em apenas 90 minutos de leitura, atraem muita gente com preguiça de beber direto da fonte. Mas ninguém vai conhecer de fato a filosofia de Nietzsche, por exemplo, lendo um livro desses. Para uma conversa de bar, esses livros podem ser úteis. Mas o conhecimento verdadeiro custa mais caro em termos de investimento do tempo disponível.
Os saltos discretos normalmente não ocorrem no progresso da mente ou do corpo. Não há porque ser diferente quando se trata do bolso. Claro que existem exceções. Alguém pode ficar rico de repente, com uma ideia brilhante ou ganhando na loteria. Mas contar com isso é mais do que arriscado: é irresponsável.
O gradualismo quase sempre faz parte do sucesso, principalmente daquele sustentável. O campeão não se torna campeão no ringue. Ali, ele apenas é reconhecido. Está colhendo o que foi plantado ao longo de um período de árduo treinamento. Na vida, colhemos aquilo que plantamos, não o que sonhamos. Os golpes de sorte ou os raros casos de genialidade existem justamente para comprovar a regra. Portanto, uma boa dose de ceticismo diante de promessas fantásticas é sempre saudável. Aquilo que parece bom demais para ser verdade, normalmente não é verdade!
Como gestor de um fundo que investe em outros fundos, sempre olho com desconfiança redobrada para aqueles gestores com desempenho exageradamente positivo. Conseguir dobrar o capital em um ano pode acontecer uma vez, por mérito do gestor ou sorte. Mas quando alguém apresenta retornos incríveis por três, quatro anos seguidos, uma luz amarela acende automaticamente.
Pode acontecer, sem dúvida, como pode acontecer de alguém ganhar na loteria. Mas eu prefiro não arriscar o patrimônio dos clientes em um produto desses. Quando a esmola é demais, o santo desconfia. Essa sabedoria popular com frequência é ignorada no mercado financeiro. A tentação de ficar rico num curto espaço de tempo é sedutora demais.
O melhor exemplo desse risco foi a débâcle do LTCM em 1998. O fundo apresentou retornos incríveis por três anos seguidos até que tudo veio abaixo em poucos dias. Descobriu-se que o excesso de alavancagem e o risco de liquidez podem custar caro demais: a própria sobrevivência do negócio. No Brasil, o caso recente do GWI reforça a lição de que um desempenho bom demais pode ocultar por algum tempo um risco elevado demais também. Quando os ventos mudam de direção, a realidade fica exposta. A observação de Warren Buffett vai direto ao ponto: "Quando baixa a maré é que a gente vê quem estava nadando pelado."
Voltando à analogia com o corpo, todos sabem no fundo o que deve ser feito para emagrecer: fechar a boca e fazer exercício físico. Mas é mais fácil falar do que fazer. Esforço contínuo, perseverança e paciência são ingredientes necessários numa dieta saudável. E nem todos conseguem seguir essa trajetória. No caminho, os atalhos poderão ser tentadores demais, como o canto das sereias em Odisseia. E como Ulisses teria feito, amarrando-se no mastro, devemos criar mecanismos próprios de controle contra tais tentações. Elas podem ser fatais.
O mesmo costuma ocorrer quando se trata de riqueza. Como dizia novamente Warren Buffett, não importa quão grande seja o talento ou esforço, algumas coisas simplesmente demandam tempo: não é possível produzir um bebê em um mês engravidando nove mulheres. Evite as trilhas para o sucesso. Se fosse fácil chegar lá, todos já teriam chegado. E anotem em local de destaque a seguinte lição de David Starr Jordan: "Sabedoria é saber o que fazer; virtude é fazer."
Rodrigo Constantino é economista e gestor de recursos
sexta-feira, novembro 13, 2009
Africanos também devem pedir desculpas
Escravatura - 'Africanos também devem pedir desculpas'
Uma organização de direitos humanos na Nigéria pediu aos líderes tradicionais africanos que peçam desculpas pelo papel que desempenharam no comércio de escravos.
O Congresso dos Direitos Civis diz ser altura de os líderes africanos copiarem os EUA e a Grã-Bretanha que já lamentaram o sucedido.
Numa carta endereçada a líderes tradicionais, o Congresso dos Direitos Civis disse que estes não podiam continuar a culpar os homens brancos quando os seus próprios ancestrais haviam ajudado a capturar e a raptar comunidades indefesas, vendendo-as depois aos americanos e aos europeus.
quinta-feira, novembro 12, 2009
A Capa da The Economist
Rodrigo Constantino, para o Instituto Liberal
A capa da revista The Economist divulgada ontem deixou os petistas em alvoroço, ao anunciar que o país agora “decolou”. Na foto, um Cristo Redentor alçando vôo como um foguete. O Brasil é a “bola da vez”, atraindo cada vez mais atenção e dólares do mundo todo. Lula é “o cara”. Quem sabe alguns petistas não assinam a revista britânica agora e passam a aprender mais sobre a defesa do livre comércio? Antes, porém, seria recomendável que eles lessem a matéria na íntegra, coisa que poucos fizeram.
Sim, a revista reconhece os méritos do país. O Brasil é uma democracia, ao contrário da China. Não tem insurgentes ou disputas étnicas e religiosas como a Índia. Exporta mais que petróleo, ao contrário da Rússia. Entretanto, a revista afirma também que as melhoras foram plantadas antes, durante o governo anterior. Menciona a autonomia do Banco Central, bandeira que os petistas jamais engoliram. Enaltece a abertura comercial e algumas privatizações ocorridas na era FHC, até hoje condenadas pelos petistas. Alerta para as fraquezas ainda existentes, como o crescimento dos gastos públicos, investimentos baixos, educação e infraestrutura decadentes, violência e criminalidade. A revista ainda ataca Dilma Rousseff, por sua insistência em negar a necessidade de reformar leis trabalhistas arcaicas.
Por fim, o editorial da The Economist coloca como principal risco para o país a “hubris”, a arrogância desmedida, algo que lembra as bravatas de um presidente que vive afirmando que “nunca antes na história desse país” as coisas foram tão maravilhosas como agora. A revista lembra que Lula é um presidente com sorte, aproveitando o boom das commodities, que resulta do crescimento chinês e da política frouxa de juros do Fed, e também a plataforma de crescimento erguida pelo seu antecessor, FHC.
Em suma, a economia brasileira vai bem a despeito de tudo que o PT acredita e representa, não por causa disso. E não custa ficar atento, pois quando todo mundo “sabe” que nossa economia tem somente uma direção, rumo ao céu, talvez seja hora de recuar um pouco. O excesso de euforia preocupa. No dia que a revista foi publicada, o Ibovespa caiu 3%. Será que estamos próximos do pico? Caveat Emptor!
Tapar o Sol com a Peneira
Rodrigo Constantino
“Parte da liberdade é o direito de cada um ir para o inferno à sua própria maneira.” (David Friedman)
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) proibiu o uso das câmaras de bronzeamento artificial para fins de embelezamento. A justificativa é o risco de se contrair câncer em função da exposição à radiação ultravioleta. Fiscais serão mobilizados para verificar o uso das câmaras, que continuam liberados para tratamento de doenças como vitiligo e psoríase. A multa para descumprimento das regras pode chegar a R$ 1,5 milhão, e a clínica de estética pode ser interditada. Trata-se de mais uma medida autoritária de burocratas desocupados que se arrogam o direito de nos proteger de nós mesmos.
A medida poderia ser combatida com base em sua eficácia altamente questionável. Afinal, como fiscalizar todas as clínicas, avaliando o tipo de tratamento usado em cada caso? Parece evidente que a medida irá estimular a informalidade, favorecendo clínicas de fundo de quintal e colocando em risco ainda maior aquelas pessoas que não abrem mão do serviço. Além disso, a coisa chega a ser patética quando pensamos que a própria luz solar pode causar câncer. Qual o limite? Será que amanhã os burocratas “altruístas” vão vetar a praia durante o horário de maior intensidade solar?
Mas o verdadeiro ataque a esta medida absurda não deve se voltar ao aspecto da eficiência, e sim da moralidade. Com que direito a Anvisa pensa que pode controlar nossas vidas dessa forma? Quem autorizou o governo a ser o guardião de nossa própria saúde? Qual documento cada um de nós assinou permitindo tamanha tutela? Essa invasão de privacidade é totalmente imoral. Não tem legitimidade alguma. Se nossa vida nos pertence, se nosso corpo é propriedade particular, então segue naturalmente disso que podemos fazer com ele o que bem desejarmos, inclusive correr riscos mortais. Trata-se de uma escolha individual, afinal de contas. Muitas coisas podem causar câncer, podem causar doenças em geral, podem até mesmo matar. Mas optar por assumir tais riscos é uma decisão do indivíduo, não do governo. Somos cidadãos, não súditos.
Alguns podem argumentar que existem os gastos com saúde pública, e que, portanto, o governo pode sim controlar os riscos que assumimos à nossa saúde. É um argumento muito usado na cruzada antitabagista. Mas é um argumento totalmente furado. Não é porque uma coisa está errada – todos serem forçados a bancar a saúde de todos – que vamos insistir no erro, agravando-o. No limite desse raciocínio, o governo teria total controle sobre nossas vidas, nos mínimos detalhes. Afinal, se fumar faz mal à saúde, não praticar exercícios aeróbicos também faz. Deve o governo obrigar cada um a praticar corridas matinais? Comer fritura e gordura também faz mal. Deve o governo impor uma dieta saudável para todos? Fica claro que essa é a mentalidade dos ditadores, que não respeitam a liberdade individual.
Em suma, a medida representa apenas mais uma desastrada demonstração de autoritarismo do governo. Aguardamos ansiosamente qual será a próxima idéia genial dos burocratas da Anvisa para nos proteger de nós mesmos, de nossa irresponsabilidade. Quem sabe o uso obrigatório de protetor solar, com os fiscais verificando se foi espalhado direitinho em todas as partes do corpo? Ou então literalmente tapar o sol com a peneira? Melhor não dar idéia, nem de brincadeira, porque essa turma pode levar a sério...
Pura Coincidência!
Os setores onde temos mais controle e intervenção do governo: estradas, segurança pública, saúde pública, energia, educação pública, proteção da Amazônia, garantia do "império da lei", etc.
"Por acaso", são justamente os setores que apresentam mais problemas; a insatisfação é garantida! Tudo isso custa muito caro, e costuma ser uma PORCARIA.
Por outro lado, o jornal chega bem cedo na porta de sua casa depois de comentar as notícias mais recentes, o mercado tem incrível variedade de produtos para todos os bolsos e gostos, o avanço tecnológico torna obsoleto o produto que ontem parecia moderno, a segurança do shopping center costuma realmente afastar bandidos, as vias sob gestão privada quase não têm buracos, os laboratórios apresentam remédios novos para todo tipo de doença, etc.
Mas claro, isso tudo é "pura coincidência". Não tem nada a ver com a forma intrínseca de ser do governo. E, naturalmente, a solução para os problemas existentes... é MAIS governo!!!
Seria cômico, não fosse trágico.
"Por acaso", são justamente os setores que apresentam mais problemas; a insatisfação é garantida! Tudo isso custa muito caro, e costuma ser uma PORCARIA.
Por outro lado, o jornal chega bem cedo na porta de sua casa depois de comentar as notícias mais recentes, o mercado tem incrível variedade de produtos para todos os bolsos e gostos, o avanço tecnológico torna obsoleto o produto que ontem parecia moderno, a segurança do shopping center costuma realmente afastar bandidos, as vias sob gestão privada quase não têm buracos, os laboratórios apresentam remédios novos para todo tipo de doença, etc.
Mas claro, isso tudo é "pura coincidência". Não tem nada a ver com a forma intrínseca de ser do governo. E, naturalmente, a solução para os problemas existentes... é MAIS governo!!!
Seria cômico, não fosse trágico.
quarta-feira, novembro 11, 2009
Máfia Russa
Esse vídeo parece pura ficção, mas é uma demonstração de como funciona a Rússia na prática. Herança socialista, a concentração de poder arbitrário no governo gera esse tipo de risco absurdo, que será com frequência abusado. Não há "império da lei", e todos são reféns do governo. Eu conheci pessoalmente o Bill Browder. Estive com ele na sede do Hermitage, uma pessoa inteligente, séria, que apostou no mercado de capitais da Rússia, e acabou vítima do sistema podre. Esse relato serve para lembrar a todos como funciona um país emergente, onde o capitalismo liberal ainda não deu o ar de sua graça. Num momento onde todos estão encantados com os BRICs, por falta de alternativa no mundo, vale a pena ver o vídeo e refrescar a memória sobre as causas pelas quais chamamos tais países de "subdesenvolvidos". São verdadeiras selvas!
terça-feira, novembro 10, 2009
É preciso cuidado com as perspectivas dos especialistas
Rodrigo Constantino, Valor Econômico (10/11/2009)
Quando uma autoridade como Ben Bernanke comenta sobre a situação da economia, o mundo financeiro abandona qualquer tarefa para escutar com atenção. Se isso se deve ao fato de que a opinião do "todo poderoso" chairman do Fed determina as políticas de juros do banco central americano, faz sentido. Afinal, as escolhas do Fed afetam toda a economia mundial. Mas se a profunda atenção ao que Bernanke pensa sobre a economia se deve a uma crença ingênua de que ele desfruta de alguma capacidade premonitória superior ao mercado, isso pode ser muito arriscado.
Em maio de 2007, Bernanke declarou que esperava um efeito limitado no setor imobiliário dos problemas com o "subprime". Disse ainda que não acreditava num contágio significativo para o restante da economia ou para o sistema financeiro. O índice de ações S&P 500 estava então próximo aos 1.500 pontos e perderia metade de seu valor nos meses seguintes. Quem confiou em Bernanke como guru financeiro acabou quebrando a cara. Ele detinha mais informações que a maioria dos agentes de mercado. No entanto, isso de nada adiantou na hora de prever o futuro da economia.
Antes de Bernanke, quem ocupava a poderosa função de "maestro" da economia americana era Alan Greenspan. Mas Greenspan tampouco se saiu melhor quando o assunto é acertar o destino da economia. Em 2007, ele alertou para alguns riscos no setor imobiliário, que ele ajudou a criar com sua política frouxa de juros. Greenspan falou em "sinais de espuma" no setor em algumas áreas localizadas. Mas ele rejeitou os temores de alguns analistas quanto a um possível estouro de uma bolha nacional. Quem apostou suas fichas na suposta sabedoria de Greenspan não teve muito o que comemorar.
Um ex-governador do Fed, Laurence Meyer, escreveu um livro chamado "A Term at the Fed", onde conta sua experiência dos anos em que trabalhou no banco central americano. Meyer confessa que o Fed não sabia exatamente onde a economia estava ou para onde estava indo. Em certa ocasião, após o primeiro aumento na taxa de juros depois de dois anos, Meyer foi honesto ao afirmar que "nenhum de nós do Fomc sabíamos o que aconteceria em seguida". O Fomc é o comitê que decide a taxa de juros básica da economia, como o Copom no Brasil. O próprio Meyer chamava sua equipe de "o templo", em parte pela obscuridade do processo decisório. Será que Greenspan ou Bernanke deveriam ser tratados como oráculos da economia?
Quando veio finalmente a crise atual que abalou o mundo, um dos especialistas mais demandados pela imprensa foi Paul Krugman, recente Prêmio Nobel de Economia. Mas será que o histórico de acertos passados de Krugman impressiona? Durante a crise proveniente do estouro da bolha do Nasdaq, Krugman sugeriu um forte estímulo fiscal e monetário como solução, chegando praticamente a recomendar uma nova bolha. Se o Fed fosse agressivo o suficiente - e ele foi, mantendo as taxas de juros artificialmente reduzidas, então o preço dos ativos, como as casas -, poderia subir e estimular o consumo. Foi justamente o que aconteceu. No entanto, a recente crise demonstrou como tal política era insustentável. Não obstante, Krugman pede como solução para a crise atual a mesma receita que falhara antes. Será que devemos confiar em sua suposta sabedoria ímpar?
No fundo, o que está em jogo é aquilo que outro Prêmio Nobel, o economista austríaco Hayek, chamou de "pretensão do conhecimento". A economia é um fenômeno complexo, que sofre a influência de infinitas variáveis. Foge à capacidade de qualquer um o poder de conhecer todas as informações relevantes. Pior ainda é crer na possibilidade de prever o futuro de forma acurada.
Mesmo partindo da premissa de que o especialista é a maior autoridade no assunto, possui o máximo possível de dados importantes coletados e realmente coloca o bem comum acima de uma agenda pessoal, seria temerário supor que ele é capaz de antecipar com razoável precisão o futuro da economia. A situação piora quando lembramos que esses especialistas são humanos, demasiado humanos, e podem ter outros interesses particulares em mente.
Portanto, todo investidor deveria redobrar sua cautela quando escuta a previsão econômica de algum especialista. É provável que esta autoridade no assunto não tenha uma capacidade muito superior de antecipar o futuro. O mesmo Bernanke tem repetido agora que o pior da crise já passou e a recuperação é para valer. Será que devemos apostar nossas fichas com base nesta previsão?
Rodrigo Constantino é economista e gestor de recursos
Quando uma autoridade como Ben Bernanke comenta sobre a situação da economia, o mundo financeiro abandona qualquer tarefa para escutar com atenção. Se isso se deve ao fato de que a opinião do "todo poderoso" chairman do Fed determina as políticas de juros do banco central americano, faz sentido. Afinal, as escolhas do Fed afetam toda a economia mundial. Mas se a profunda atenção ao que Bernanke pensa sobre a economia se deve a uma crença ingênua de que ele desfruta de alguma capacidade premonitória superior ao mercado, isso pode ser muito arriscado.
Em maio de 2007, Bernanke declarou que esperava um efeito limitado no setor imobiliário dos problemas com o "subprime". Disse ainda que não acreditava num contágio significativo para o restante da economia ou para o sistema financeiro. O índice de ações S&P 500 estava então próximo aos 1.500 pontos e perderia metade de seu valor nos meses seguintes. Quem confiou em Bernanke como guru financeiro acabou quebrando a cara. Ele detinha mais informações que a maioria dos agentes de mercado. No entanto, isso de nada adiantou na hora de prever o futuro da economia.
Antes de Bernanke, quem ocupava a poderosa função de "maestro" da economia americana era Alan Greenspan. Mas Greenspan tampouco se saiu melhor quando o assunto é acertar o destino da economia. Em 2007, ele alertou para alguns riscos no setor imobiliário, que ele ajudou a criar com sua política frouxa de juros. Greenspan falou em "sinais de espuma" no setor em algumas áreas localizadas. Mas ele rejeitou os temores de alguns analistas quanto a um possível estouro de uma bolha nacional. Quem apostou suas fichas na suposta sabedoria de Greenspan não teve muito o que comemorar.
Um ex-governador do Fed, Laurence Meyer, escreveu um livro chamado "A Term at the Fed", onde conta sua experiência dos anos em que trabalhou no banco central americano. Meyer confessa que o Fed não sabia exatamente onde a economia estava ou para onde estava indo. Em certa ocasião, após o primeiro aumento na taxa de juros depois de dois anos, Meyer foi honesto ao afirmar que "nenhum de nós do Fomc sabíamos o que aconteceria em seguida". O Fomc é o comitê que decide a taxa de juros básica da economia, como o Copom no Brasil. O próprio Meyer chamava sua equipe de "o templo", em parte pela obscuridade do processo decisório. Será que Greenspan ou Bernanke deveriam ser tratados como oráculos da economia?
Quando veio finalmente a crise atual que abalou o mundo, um dos especialistas mais demandados pela imprensa foi Paul Krugman, recente Prêmio Nobel de Economia. Mas será que o histórico de acertos passados de Krugman impressiona? Durante a crise proveniente do estouro da bolha do Nasdaq, Krugman sugeriu um forte estímulo fiscal e monetário como solução, chegando praticamente a recomendar uma nova bolha. Se o Fed fosse agressivo o suficiente - e ele foi, mantendo as taxas de juros artificialmente reduzidas, então o preço dos ativos, como as casas -, poderia subir e estimular o consumo. Foi justamente o que aconteceu. No entanto, a recente crise demonstrou como tal política era insustentável. Não obstante, Krugman pede como solução para a crise atual a mesma receita que falhara antes. Será que devemos confiar em sua suposta sabedoria ímpar?
No fundo, o que está em jogo é aquilo que outro Prêmio Nobel, o economista austríaco Hayek, chamou de "pretensão do conhecimento". A economia é um fenômeno complexo, que sofre a influência de infinitas variáveis. Foge à capacidade de qualquer um o poder de conhecer todas as informações relevantes. Pior ainda é crer na possibilidade de prever o futuro de forma acurada.
Mesmo partindo da premissa de que o especialista é a maior autoridade no assunto, possui o máximo possível de dados importantes coletados e realmente coloca o bem comum acima de uma agenda pessoal, seria temerário supor que ele é capaz de antecipar com razoável precisão o futuro da economia. A situação piora quando lembramos que esses especialistas são humanos, demasiado humanos, e podem ter outros interesses particulares em mente.
Portanto, todo investidor deveria redobrar sua cautela quando escuta a previsão econômica de algum especialista. É provável que esta autoridade no assunto não tenha uma capacidade muito superior de antecipar o futuro. O mesmo Bernanke tem repetido agora que o pior da crise já passou e a recuperação é para valer. Será que devemos apostar nossas fichas com base nesta previsão?
Rodrigo Constantino é economista e gestor de recursos
Vinte Anos Depois
Rodrigo Constantino, O Globo (10/11/2009)
Dia 9 de novembro de 1989, 23h17, duas palavras selaram o destino da Guerra Fria. Uma multidão gritava em uníssono: “Abram! Abram!”. Eram os alemães do lado oriental, exigindo o direito de atravessar para o lado ocidental. O guarda responsável da fronteira finalmente cedeu, e ordenou: “Abram tudo”. Os portões escancararam-se. Era o fim do Muro de Berlim, ícone do regime socialista que vinha mantendo o próprio povo em cárcere desde 1961.
Inúmeras causas podem ser apontadas para esta conquista. De um lado, parece inegável o papel desempenhado pelos americanos, em especial o presidente Reagan, que exigiu em 1987: “Senhor Gorbatchov, derrube este Muro!”. Atrás da retórica, um expressivo gasto militar que expôs a incapacidade do regime socialista de acompanhar o ritmo americano. O colapso econômico do sistema soviético era cada vez mais evidente. A queda no preço do petróleo daria o golpe fatal. O contraste com o dinamismo das nações capitalistas era gritante demais.
Papel fundamental na derrubada do Muro, entretanto, foi exercido por alguns importantes líderes do Leste Europeu. Eis o que demonstra o jornalista Michael Meyer em “1989: O Ano que Mudou o Mundo”. Meyer foi chefe da sucursal da revista Newsweek na Alemanha Oriental durante o desenrolar dos eventos e pôde verificar in loco os fortes ventos da mudança soprando na região. Ele mostra como alguns “reformistas”, convencidos de que o sistema não funcionava, tomaram decisões cruciais que culminaram na derrocada completa do socialismo.
Entre esses líderes, Miklós Németh merece destaque, por seu corajoso golpe no governo comunista húngaro. Por meio de suas articulações políticas, a fronteira da Hungria com a Áustria seria aberta, fazendo um buraco na Cortina de Ferro. Os regimes comunistas sempre tiveram a necessidade de impedir a livre saída do povo, para não deixar que os cidadãos descontentes – quase todos – votem com seus pés. Assim, a fotografia de soldados húngaros cortando um trecho da cerca de arame farpado que separava a fronteira austro-húngara ganhou o mundo.
Outra grande conquista se deu na Polônia, onde o movimento Solidariedade, liderado por Lech Walesa, conseguiu uma incrível vitória pacífica nas eleições que o regime comunista, sob intensa pressão popular, aceitou realizar. Nas palavras de Meyer, “para os anticomunistas de todos os lugares, era como tomar um grande gole de coragem”. Aquilo que antes parecia impossível passava a ser visto como viável.
A Alemanha Oriental seria a próxima da lista, apesar da postura intransigente do poderoso dirigente Honecker. Não dava mais para conter o desejo de liberdade do povo. O Muro de Berlim representava a cicatriz da Europa dividida. Sua queda marca o fim da Guerra Fria, com a humilhante derrota socialista. Vinte anos depois, esta data merece ser celebrada, para jamais esquecermos os horrores do socialismo, que, por onde passou, deixou um rastro de miséria, escravidão e terror.
Alguns intelectuais e “movimentos sociais”, infelizmente, tentam ressuscitar na América Latina o que foi devidamente enterrado no Leste Europeu. Sob um novo manto, o “socialismo do século XXI” quer inegavelmente seguir os mesmos passos fracassados do passado. A diferença é o discurso hipócrita da “revolução bolivariana”, com que se pretende hoje vestir a ditadura, dando-lhe uma roupagem democrática. Trata-se do uso da “democracia” para destruir as nossas liberdades individuais mais básicas. O alerta antigo vale mais que nunca: “Aqueles que ignoram o passado estão condenados a repeti-lo”.
segunda-feira, novembro 09, 2009
Lançamento do livro novo em São Paulo
domingo, novembro 08, 2009
Cárcere na Selva
Rodrigo Constantino
“A crua realidade em que estávamos mergulhadas era, sem dúvida, superior à nossa capacidade de entendimento.” (Clara Rojas)
O livro em que a companheira de cativeiro de Ingrid Betancourt, Clara Rojas, conta sua experiência de seis anos como prisioneira das Farc, mais parece um roteiro de filme de ficção, tamanha a incredulidade que desperta. Eu, prisioneira das Farc é o registro autobiográfico dessa resistente mulher que pariu um filho no meio da selva, foi afastada dele pelos guerrilheiros, e como nos contos de fadas, finalmente conseguiu encontrar a liberdade e reunir sua família novamente.
Os relatos dos anos que lhe foram roubados pelos guerrilheiros marxistas são muitas vezes chocantes. Rojas afirma, por exemplo, que “dormir em uma cama de tábuas (...) era um verdadeiro luxo”. Ela lembra: “[...] quando era hora de seguir caminhando pelo meio daquela selva terrível e densa, daqueles terrenos tão inóspitos, com freqüência o suor de minha testa se misturava às lágrimas. Eu me sentia no próprio fim do mundo e quase completamente sozinha”.
Após uma tentativa de fuga, eis o tratamento recebido dos guerrilheiros: “Colocaram em cada uma de nós, no tornozelo, um cadeado com uma corrente de uns três metros, que ficava amarrada a uma árvore, de modo que não podíamos nos movimentar. Só nos soltavam para ir ao banheiro; o resto do tempo ficamos acorrentadas como animais, inclusive durante a noite”. E ela desabafa: “Cheguei a me sentir o ser mais miserável sobre a face da terra, e aqueles guerrilheiros me pareceram os seres mais detestáveis que jamais imaginei conhecer”.
Mesmo grávida, perto de dar à luz, Clara Rojas não foi libertada, nem teve acesso aos enfermeiros da Cruz Vermelha, como havia solicitado. Ao contrário, praticamente morreu durante um parto no meio da selva, feito de forma totalmente irresponsável. Já em liberdade, ela precisou de várias cirurgias para “arrumar o estrago que me haviam feito em meu abdome com aquela cesariana de urgência na selva”. Após oito meses, mãe e filho foram separados, e Clara só iria reencontrar seu filho depois de três longos anos.
Sobre seus seqüestradores, eis o que nos informa Rojas: “Na maioria dos casos tratava-se de gente iletrada, jovem, com idade média entre 18 e 35 anos, dinâmica, com um nível importante de treinamento e disciplina militar, mas com pouca informação geral e nenhum conhecimento do país, do mundo, em suma, da civilização”. Além disso, ela acrescenta: “[...] todos eles são ensinados e estão acostumados a pensar que a única existência possível e o único futuro estão nas Farc, principalmente quando ingressam com pouca idade e se tornam adultos dentro da guerrilha”. Ou seja, inocentes úteis vítimas de lavagem cerebral seguindo a “ética” da barbárie. Seres humanos transformados em animais insensíveis, máquinas de violência.
O mais chocante de tudo isso, além da constatação de quanta barbaridade alguns seres humanos são capazes de realizar, é lembrar que os seqüestradores e assassinos das Farc ainda são tratados com negligência ou mesmo simpatia por alas da esquerda latino-americana. Quando não ajudam os guerrilheiros, como no caso de Hugo Chávez, governos esquerdistas se negam a reconhecer o fato de que as Farc representam um grupo terrorista. Durante o governo do petista Olívio Dutra no Rio Grande do Sul, o representante das Farc, Hernan Rodriguez, foi recebido pelo governador no Palácio Piratini. O Foro de São Paulo, criado pelo PT em parceria com grupos radicais de esquerda, considera “legítima” e “necessária” a luta das Farc. No Brasil, o embrião do que poderia ser chamado de Farb, o MST, é um aliado dos petistas, e apesar de inúmeros atos de vandalismo e violência, vários esquerdistas ainda chamam os criminosos de “movimento social”.
Para essa gente, os fins utópicos e revolucionários justificam quaisquer meios. Em nome da “justiça social”, todo tipo de injustiça, como a sofrida por Clara Rojas, acaba fazendo parte do sacrifício pelo “bem maior”. Afinal, para se fazer uma omelete é preciso quebrar alguns ovos, certo? O afastamento dessas pessoas das práticas mais básicas de humanismo parece total. Eles amam a Humanidade, mas não ligam mais para os homens de carne e osso. Um mundo novo é possível, e enquanto ele está em construção, vítimas inocentes como Clara Rojas e tantos outros deverão sofrer as conseqüências necessárias para esta magnífica obra: a construção do “novo homem”, um ser altruísta, totalmente abnegado, vivendo em prol da coletividade. Se para tanto o preço é virar um traficante de drogas, um guerrilheiro, um seqüestrador e um assassino, esse parece um preço que alguns estão dispostos a pagar. É a barbárie em ação!
sexta-feira, novembro 06, 2009
Diversidade Racial
Rodrigo Constantino, para o Instituto Liberal
“No coração da cidade, certos mercados dos bairros populares eram explorados pelos negros. Mais exatamente – uma vez que esse termo não tem muito sentido num país onde a grande diversidade racial, acompanhando-se de pouquíssimos preconceitos, pelo menos no passado, possibilitou misturas de todo tipo –, ali podíamos nos exercitar em diferenciar os ‘mestiços’, cruzas de branco e de negro, os ‘caboclos’, de branco e índio, e os ‘cafuzos’, de índio e negro”. Eis a observação feita pelo etnólogo e antropólogo Claude Lévi-Strauss sobre a cidade de São Paulo, presente em sua obra clássica Tristes Trópicos, publicada originalmente em Paris, 1955, retratando suas experiências da década de 1930 no Brasil.
Com a morte de Lévi-Strauss esta semana, aos cem anos de idade, destaquei esse trecho em sua homenagem por considerar que o tema é de extrema relevância atual. Um grupo organizado de militantes racialistas vem, infelizmente, tentando ignorar justamente esta característica brasileira, a da mestiçagem. Imbuídos da ideologia de “raças humanas”, essas pessoas desejam segregar o povo brasileiro entre raças “puras”, sendo levados a exterminar estatisticamente todos os “pardos”, que são maioria no país. O traço mais marcante de nossa etnia é justamente a incrível diversidade, sendo impossível definir de forma objetiva, alguma linha que coloque “brancos” de um lado, e “negros” do outro, como querem os racialistas.
Se à época em que Lévi-Strauss fez suas observações já era um exercício hercúleo diferenciar os tipos de mistura de “raças” no país, hoje então isso é muito pior, uma vez que os casamentos inter-raciais aumentaram, talvez para o desespero dos defensores de “raças puras”. Mestiços, caboclos e cafuzos procriam entre si também, gerando cada vez mais miscigenação. Essa mestiçagem observada pelo antropólogo vem sendo combatida por aqueles que desejam criar cotas com base no conceito de “raça”, adotando uma postura bipolar de classificação. Se essa gente for bem-sucedida nessa empreitada – e até agora eles têm sido – o estrago causado no tecido social do país será enorme. Como fez o falecido antropólogo, devemos enaltecer a mistura, em vez de tentar dividir a nação em diferentes etnias.
terça-feira, novembro 03, 2009
A Queda do Muro
À pedido da Atlas Foundation, gravei um curto comentário (1 min) sobre os vinte anos da queda do Muro de Berlim.
domingo, novembro 01, 2009
Palestra na Estácio de Sá - Capitalismo em crise?
Trecho da minha palestra na Universidade Estácio de Sá, onde argumento que a principal causa da crise que abalou o mundo foi a manipulação das taxas de juros pelo banco central americano (Fed).
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