Paulo Guedes, O Globo
A crise política em Washington, o vácuo na liderança presidencial e os choques entre republicanos e democratas foram o disparo para um mergulho sincronizado das bolsas em escala planetária.
Abaixo da superfície, em águas profundas, o vertiginoso colapso dos preços das ações em uma pequena janela de tempo era o reflexo de uma deterioração dos fundamentos na economia mundial. Pois prossegue a desaceleração do crescimento global. Permanecem elevadas as taxas de desemprego nos países avançados. E os gigantes emergentes, Brasil, China e Índia, subiram os juros para frear a inflação.
Com os mercados em pânico pela queda nas bolsas e pelo aumento dos prêmios de risco soberano dos dois lados do Atlântico, foi providencial a reunião de terça-feira da semana passada do Comitê de Operações de Mercado Aberto do banco central americano, o Federal Reserve (Fed). Seu presidente, Ben Bernanke, anunciou que as taxas de juros sob seu controle continuarão próximas de zero pelo menos até meados de 2013.
Essa perspectiva de juros baixos anunciada para um longo período de tempo futuro é sempre um fenômeno inebriante. E funcionou mais uma vez, interrompendo e revertendo a queda fulminante dos mercados acionários globais. O problema é que age como uma droga fornecida pelo banco central para realimentar o vício do dinheiro barato. “Vou dar outra dose de uísque para a bolsa”, dizia Benjamin Strong, presidente do Fed de Nova York, ao reduzir mais uma vez os juros em julho de 1927, um pouco antes da Grande Depressão.
A expansão excessiva de crédito esteve sempre por trás das maiores crises financeiras da história moderna: o crash de 1929 e a Grande Depressão dos anos 1930 nos Estados Unidos, o crash de 1989 e duas décadas de estagnação no Japão, e agora esta gigantesca crise, após o “big bang” da liquidez global no período 2003-2007. Em 2008, implodiram os bancos. E, em 2010-2011, os governos que os socorreram.
Assistimos aos desdobramentos financeiros de um mesmo fenômeno: tentativas frustradas de evitar artificialmente o fim de um longo ciclo de crescimento. A munição do Fed está acabando. Mas há sinais de que vai afundar atirando. Sua política de dinheiro barato no momento em que o tema do desaquecimento global captura a psicologia dos investidores alimenta a próxima bolha: a dos títulos públicos americanos.
2 comentários:
http://g1.globo.com/economia/noticia/2011/08/dilma-sanciona-ldo-2012-com-vetos.html
Quem sou eu, mero economista, para ficar questionando articulistas sabidos e informados mas, esse negócio de ficar nomeando a próxima bolha já virou mania: todo mundo quer nomear a sua. Evidentemente, alguém vai acertar e será mais um a pavonear um "Eu não disse?". Tem bolha à vontade por aí: a da dívida soberana européia, a imobiliária II dos EUA, a dos títulos públicos americanos, a das commodities,a China, you name it!
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