Idéias de um livre pensador sem medo da polêmica ou da patrulha dos "politicamente corretos".
domingo, janeiro 31, 2010
Pela privatização da Infraero
Deu no Estadão: "A Polícia Federal apontou superfaturamento de R$ 991,8 milhões nas obras de dez aeroportos administrados pela Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero) - Corumbá, Congonhas, Guarulhos, Brasília, Goiânia, Cuiabá, Macapá, Uberlândia, Vitória e Santos Dumont. Todas as obras foram contratadas durante o primeiro mandato do governo Luiz Inácio Lula da Silva, entre 2003 e 2006."
Pergunta: alguém está surpreso? Eis a essência das estatais, por sua própria natureza de incentivos perversos: virar cabide de emprego para aliados políticos; e um antro de corrupção que faz a alegria dos "amigos do rei". Afinal, sem o escrutínio dos donos do capital, preocupados com a lucratividade da empresa, as estatais acabam exploradas por uma cúpula de poderosos. O dinheiro é da "viúva", é de "todos", e aquilo que é de "todos" não é de ninguém - ou melhor, é daqueles que controlam os ativos em nome dos outros.
Alguns ainda vão acusar os corruptores, as construtoras, ignorando a essência do problema. Sim, essas construtoras grandes são um câncer para o país, pois compram todos no governo, perpetuando os problemas. Mas eles estão usando um recurso disponível. É a existência desse recurso que deve acabar. Enquanto houver uma fila de estatais prontas para assinarem cheques bilionários, lá estarão grandes empresas comprando por fora os burocratas poderosos que podem decidir o destino de tanto dinheiro. Por que o mesmo não ocorre - ou ocorre em grau infinitamente menor - no setor privado? Ora, justamente porque nas empresas privadas os seus donos estão de olho no caixa, já que seus lucros dependem disso.
Por fim, os serviços prestados pelas estatais costumam ser precários. Novamente, isso se deve ao próprio modelo de incentivos: enquanto no setor privado o serviço ruim é punido com a redução do lucro ou mesmo falência, nas estatais ele acaba premiado com mais verbas públicas, para tentar melhorar esses serviços. Cada incompetência é vista como resultado da falta de recursos, e mais dinheiro retirado dos impostos acaba jogado na estatal. Qualquer um que viaja bastante e é obrigado a encarar os aeroportos brasileiros sabe disso. Predomina o caos! Se tais aeroportos tivessem donos, se fossem empresas privadas, o foco no consumidor seria necessário, ainda mais se estimulando a concorrência.
Não existem argumentos decentes para se manter a Infraero uma empresa estatal. Resta apenas uma das duas alternativas: cegueira ideológica ou defesa de interesses. Ou estamos falando de uma "viúva de Stalin", que acha que tudo deve ser controlado pelo governo porque odeia a liberdade; ou então de alguém que faz parte da cadeia da felicidade criada com esse desvio bilionário na estatal.
sexta-feira, janeiro 29, 2010
A pretensão do conhecimento
Um dos maiores perigos da modernidade é a crença na sabedoria ímpar das "autoridades" monetárias. "Ah, hoje uma depressão nunca poderia se repetir, pois os economistas do Fed possuem muito mais conhecimento e o fluxo de informação é muito maior!". Será mesmo? Tal postura gera negligência e passividade, o tal "moral hazard" de que falam os economistas. "Ben Bernanke é um profundo conhecedor da Grande Depressão, logo, ela nunca poderia ocorrer novamente...". Tem certeza disso?
Pois bem, após todo o "avanço" da ciência econômica nas últimas décadas, com os modelos econométricos mais complexos já vistos, e um fluxo de informação inigualável, eis o headline dos jornais hoje:
PIB dos EUA teve retração de 2,4% em 2009, a maior queda desde 1946
O pior resultado anual do PIB em mais de SEIS DÉCADAS! E então? Os desagradáveis ciclos econômicos finalmente serão vencidos se concentrarmos ainda mais poder nas mãos desses economistas keynesianos? "Dessa vez é diferente", pois o Fed é composto por sábios?
I don´t think so...
Falta(va) um partido liberal no Brasil
Rodrigo Constantino
A revista britânica The Economist escreveu um artigo afirmando o que todos aqui já sabem: que falta uma opção liberal na política brasileira. Um dos motivos para isso, explica a revista, está no voto obrigatório:
One reason why liberals have been so muted since Brazil became a democracy again is that voting in elections is compulsory. This means that a large number of poor voters, who pay little tax but benefit from government welfare spending, help to push the parties in the direction of a bigger state. If the same system were to be applied to America, the Democrats might well enjoy a permanent majority.
O povão, carente das mais básicas necessidades, acaba votando nos políticos que oferecem mais benefícios de curto prazo, ainda que isso apenas produza mais pobreza no longo prazo. Para perceber isso, entretanto, faz-se preciso algum conhecimento de economia, o que muitas vezes falta a essa gente. Dessa forma, o modelo ineficiente de welfare state vai sendo cada vez mais inchado, produzindo mais pobreza relativa, e os pobres acabam demandando, por ignorância, mais governo como solução. Acabamos num círculo vicioso perverso.
A revista cita, como um dos ícones ainda liberais no país, o Fórum da Liberdade, organizado pelo Instituto de Estudos Empresariais em Porto Alegre. Ao contrário do Fórum Social Mundial, o Fórum da Liberdade não conta com verbas milionários do governo. Ainda assim, tem crescido a cada ano, conquistando mais público através de palestras excelentes e debates realmente produtivos. A oposição ideológica, ao contrário do que acontece no FSM, que se diz pluralista, sempre é convidada para expor seu ponto de vista no Fórum da Liberdade. Os liberais não temem este confronto de idéias, pois sabem que estão do lado da razão.
Por fim, resta apenas atualizar a revista, que não teria como saber disso ainda. No Brasil há sim um partido finalmente liberal. Ainda é um projeto novo, mas que surge no horizonte como uma alternativa para aqueles que realmente defendem a liberdade como um pacote completo. Tanto as liberdades civis quanto a liberdade econômica são defendidas com base em princípios sólidos. Visite o site dos Libertários e veja como colaborar com a causa liberal.
Campanha política cansa
Rodrigo Constantino, para o Instituto Liberal
O presidente Lula passou mal quando estava pronto para partir para a Suíça e receber seu prêmio de estadista global em Davos. Ele foi forçado a cancelar seus compromissos e parar por quatro dias. O médico do presidente atribuiu a pressão alta ao estresse e à fadiga. O presidente, segundo o próprio, nunca gostou muito de trabalhar, e até apreciava uma enchente nos tempos de metalúrgico, porque podia assim ficar em casa descansando. Até mesmo ler os jornais não faz bem ao presidente, pois lhe dá azia.
Por isso a pressão de ter que fazer decolar a candidatura da autoritária e antipática Dilma não deve ter sido fácil para o presidente. Além disso, campanha eterna cansa mesmo. Fazer tantas bravatas, no Brasil e no exterior, deve ser mesmo exaustivo. O presidente, desde que assumiu o poder em 2003, já passou 426 dias no exterior (lembram que FHC era acusado de viajar muito para fora do país?). Aquela obsessão com o assento permanente no Conselho de Segurança da ONU tem custado caro aos pagadores de impostos, e agora cobrou seu preço na saúde do presidente, ao que parece.
Fico chateado pelo fato de o presidente não poder receber em mãos esse novo prêmio criado pelos organizadores de Davos, que ficaram muito frustrados com a ausência de tão ilustre convidado. Afinal, Davos é o ícone do keynesianismo que tem causado tantas bolhas e crises no mundo. E Lula é seu mais novo representante, com suas políticas ‘anticíclicas’ para “fazer a roda da economia continuar girando”. Sei que a massa de ressentidos do Fórum Social Mundial considera Davos o que há de mais capitalista liberal no mundo. Mas o que esperar de pessoas que enaltecem o fanfarrão Chávez e acham que o PSDB é “neoliberal”?
Davos é uma reunião de grandes banqueiros, políticos e economistas que reverenciam Keynes. Não há nada de liberal nisso. Até Clinton virou celebridade no evento! Sarkozy pediu mais controle do governo na economia (mais ainda?). Faltou, de fato, o presidente Lula, para deixar bem claro que Davos não fala em nome dos liberais. Mas o presidente está esgotado. O Ministério da Saúde adverte: excesso de bravata pode causar fadiga.
quinta-feira, janeiro 28, 2010
A Bajulação Corrompe
Rodrigo Constantino
“A grande vaia é mil vezes mais forte, mais poderosa, mais nobre do que a grande apoteose; os admiradores corrompem.” (Nelson Rodrigues)
Os principais observadores da natureza humana sempre tiveram receio do estrago que a vaidade pode nos causar. Gostamos de elogios, mesmo os insinceros, enquanto criamos mecanismos de defesa contra as críticas duras. O auto-engano pode ser uma estratégia útil para a sobrevivência, como diz Eduardo Giannetti em seu livro sobre o tema: “o enganador auto-enganado, convencido sinceramente do seu próprio engano, é uma máquina de enganar mais habilidosa e competente em sua arte do que o enganador frio e calculista”. O enganador embarca em suas próprias mentiras, e passa a acreditar nelas com toda a inocência e boa-fé do mundo. Assim fica mais fácil convencer os demais.
Justamente por conta disso a adulação popular ajuda a criar monstros perigosos. Aqueles que passam a se cercar somente de bajuladores, enquanto concentram mais poder e conquistam as massas, acabam blindados contra todo tipo de crítica. Os conselheiros mais sábios ficam impotentes diante da reverência do povo e, como Cassandras, fazem alertas em vão. De tanto escutar que é uma espécie de messias salvador, o governante populista pode acabar acreditando. Aí reside o maior risco para a sociedade.
Adam Smith, em Teoria dos Sentimentos Morais, fez um alerta desse tipo: “Nas cortes de príncipes, nos salões dos grandes, onde sucesso e privilégios dependem, não da estima de inteligentes e bem informados iguais, mas do favor fantasioso e tolo de presunçosos e arrogantes superiores ignorantes; a adulação e falsidade muito freqüentemente prevalecem sobre mérito e habilidades. Em tais círculos sociais, as habilidades em agradar são mais consideradas do que as habilidades em servir”. Quando o mais importante na vida de alguém é agradar o poderoso governante, a primeira coisa a ser sacrificada será a sinceridade.
Poucos negariam que a situação brasileira se aproxima deste cenário preocupante. A popularidade do presidente Lula está nas alturas, a imprensa parece filtrar todas as notícias através de uma lente benigna em prol dele, os intelectuais o tratam com incrível condescendência, e até mesmo um filme foi feito para o “filho do Brasil”. Como diz o editorial do Estado de São Paulo hoje (28/01/2010), há uma espécie de “salvo-conduto que lhe permite, diante dos mais diversos públicos, trafegar sem restrições pelos mundos da retórica, dizendo uma coisa e o seu contrário, construindo verdades de ocasião e exercendo, como já se apontou, o seu notável talento para a quase-lógica”. O presidente adquiriu uma imunidade que nenhum outro cidadão teria em seu lugar. Qualquer outro seria julgado de forma severa por aquilo que Lula diz sorrindo. Há um “efeito Teflon” quando se trata do presidente, já que nenhuma sujeira gruda em sua pessoa.
O problema é que essa bajulação toda ajuda a despertar a megalomania do presidente, alimentando sua vaidade de forma incrível. O poder corrompe, e o excesso de poder concentrado em alguém vaidoso e popular corrompe ainda mais. Nunca antes na história desse país um presidente contou com tanta indulgência dos críticos. Lula está perdoado por qualquer pecado antes mesmo dele acontecer. Ele pode se aliar aos mais antigos caciques da política, beijar a mão deles, rir enquanto afirma ser aquilo uma aula de como se fazer política, e tudo é perdoado pelo povo. Ele pode aderir às piores práticas da política nacional, passar a mão na cabeça dos réus de formação de quadrilha do seu partido, que poucos terão coragem de subir o tom das críticas. Se se trata de Lula, então é tudo parte do “jogo democrático”. Cristo teria que se aliar a Judas para governar o Brasil, não é mesmo?
“O mal de quase todos nós é que preferimos ser arruinados pelo elogio a ser salvos pela crítica”, disse Norman Vincent. O antídoto, Schopenhauer já havia dado: “Os amigos se dizem sinceros; os inimigos o são; sendo assim, deveríamos usar a censura destes para nosso autoconhecimento, como se fosse um remédio amargo”. O presidente Lula precisa escutar com mais carinho os seus críticos. Até porque, nesse caso, quem pode ser arruinado não é apenas o presidente, mas todo o povo brasileiro.
O Câncer da Corrupção
Rodrigo Constantino, para a Revista Voto
O Brasil vive tão imerso em escândalos de corrupção que a população parece anestesiada. Os infindáveis casos que vem à tona suscitam reflexões sobre o sistema político totalmente podre no país. Num dos casos mais recentes, o governador José Arruda foi pego num profundo esquema de desvio de dinheiro público. As imagens dos vídeos, ao contrário do que afirmou o presidente Lula, falam por si só. Não há como negar fatos tão escancarados. Ou Arruda era chefe de uma quadrilha, ou fazia parte dela, de forma passiva. A desculpa esfarrapada de que o dinheiro servia para comprar panetones para crianças carentes ofende o bom senso daqueles que ainda o possuem nesse país. O Brasil virou mesmo um grande circo, e os palhaços somos nós!
O primeiro ponto a ser abordado é o estágio de metástase que o câncer da corrupção chegou no Brasil. Todos os grandes partidos parecem verdadeiras máfias organizadas, com as metas de chegar ao poder, desviar recursos públicos e se perpetuar na mamata. Como explicar milhões gastos em campanhas para receber um salário de poucos milhares? Haja altruísmo! Claro que a realidade é outra: a política virou um negócio muito lucrativo. Gente inescrupulosa é atraída para a política para “se dar bem” à custa dos impostos tomados na marra dos trabalhadores. Eis a verdadeira luta de classes existente no país: de um lado consumidores dos impostos, e do outro os pagadores. Quando as vantagens da vida parasitária são grandes demais, o resultado é cada vez menos hospedeiro pagando a conta.
Os principais partidos estão cada vez mais parecidos. O PT teve seu esquema nacional de “mensalão”, o PSDB teve o seu em Minas Gerais e agora o DEM apresenta sua versão no Distrito Federal. Iludem-se aqueles que sonham com a chegada de um novo partido “diferente de tudo isso que está aí”, formado por santos honestos e preocupados somente com o “bem-geral”. A política é um jogo sujo, e acaba atraindo os piores tipos. Claro que existem exceções, mas esse “jogo democrático” não passa de uma guerra pelo poder, onde os fins justificam quaisquer meios. Alguém realmente acha que o PV de Marina Silva seria tão diferente no poder? Alguém acredita que Ciro Gomes mudaria tudo isso? Não basta “vontade política” quando o sistema de incentivos está podre.
A mudança não vai ocorrer através do próprio meio político, com a tomada de poder pelos “bons revolucionários”. O corporativismo em Brasília é de assustar. Mesmo políticos “concorrentes” ficam receosos nessas horas, tímidos nos ataques, sem demandar medidas drásticas e imediatas, justamente porque sabem que amanhã podem ser eles no vídeo. Todos parecem ter rabo preso. Além disso, parece paradoxal esperar um grande programa de redução do poder político através da conquista do próprio poder político. Não é por aí que vem alguma mudança estrutural. Mas de onde ela virá então?
Eis onde surge a importância da luta no campo das idéias. Somente mudando a mentalidade da maioria das pessoas poderemos mudar essa realidade lamentável. Mas não através do próprio governo, naturalmente. Como esperar educação de boa qualidade, que estimula um olhar crítico, justamente através daquele interessado em manter o povo na completa ignorância? O governo tem interesse em manter o povo refém, reverenciando o próprio governo como uma espécie de deus. Somente quando esta mentalidade mudar haverá menos escândalos de corrupção. Afinal, esta é diretamente proporcional à concentração de poder e recursos no governo. Quando o sucesso de uma empresa depende da canetada de um burocrata, parece lógico que a corrupção será fomentada.
Outra importante causa da corrupção é a impunidade. Uma reforma no Judiciário é fundamental, para reduzir a morosidade dos julgamentos. Acabar com os privilégios dos políticos também é primordial para evitar que tudo acabe em “pizza”. Mas, novamente, isso só será viável através da mudança da mentalidade das pessoas. Enquanto os eleitores votarem nos políticos corruptos porque recebem migalhas em troca, porque estão satisfeitos com a economia, porque conseguiram um emprego, o recado será perverso: a imoralidade não tem custo. É preciso dar um basta a isso, eliminar da vida pública aqueles que, pelo menos, foram pegos roubando. Isso não vai garantir que os novos eleitos sejam honestos, pelos motivos expostos acima. Mas ao menos será um recado um pouco mais duro para os que foram pegos com a boca na botija.
O recado das urnas já é um começo. O povo precisa mostrar indignação diante de escândalos de corrupção. Precisa rejeitar veementemente candidatos ligados a esquemas comprovados ou mesmo suspeitos. Precisa colocar a questão ética acima dos interesses de curto prazo. Em vez de fazer como algumas entidades de esquerda, que apresentam uma indignação bastante seletiva, os eleitores precisam abraçar princípios isonômicos, ou seja, condenar todos os políticos envolvidos em escândalos, independente de seus partidos. É preciso acabar com os dois pesos e duas medidas. É preciso exigir fichas limpas. E, principalmente, faz-se necessário ajudar a mudar a mentalidade do povo brasileiro, que passou a encarar o meio político como panacéia para todos os males que assolam o país. Concentrar poder em Brasília é a receita mais certa para estimular a corrupção.
Contra esse câncer chamado corrupção, que tanto estrago causa no país, só mesmo extraindo os dois tumores malignos: o excesso de governo e a impunidade.
O Brasil vive tão imerso em escândalos de corrupção que a população parece anestesiada. Os infindáveis casos que vem à tona suscitam reflexões sobre o sistema político totalmente podre no país. Num dos casos mais recentes, o governador José Arruda foi pego num profundo esquema de desvio de dinheiro público. As imagens dos vídeos, ao contrário do que afirmou o presidente Lula, falam por si só. Não há como negar fatos tão escancarados. Ou Arruda era chefe de uma quadrilha, ou fazia parte dela, de forma passiva. A desculpa esfarrapada de que o dinheiro servia para comprar panetones para crianças carentes ofende o bom senso daqueles que ainda o possuem nesse país. O Brasil virou mesmo um grande circo, e os palhaços somos nós!
O primeiro ponto a ser abordado é o estágio de metástase que o câncer da corrupção chegou no Brasil. Todos os grandes partidos parecem verdadeiras máfias organizadas, com as metas de chegar ao poder, desviar recursos públicos e se perpetuar na mamata. Como explicar milhões gastos em campanhas para receber um salário de poucos milhares? Haja altruísmo! Claro que a realidade é outra: a política virou um negócio muito lucrativo. Gente inescrupulosa é atraída para a política para “se dar bem” à custa dos impostos tomados na marra dos trabalhadores. Eis a verdadeira luta de classes existente no país: de um lado consumidores dos impostos, e do outro os pagadores. Quando as vantagens da vida parasitária são grandes demais, o resultado é cada vez menos hospedeiro pagando a conta.
Os principais partidos estão cada vez mais parecidos. O PT teve seu esquema nacional de “mensalão”, o PSDB teve o seu em Minas Gerais e agora o DEM apresenta sua versão no Distrito Federal. Iludem-se aqueles que sonham com a chegada de um novo partido “diferente de tudo isso que está aí”, formado por santos honestos e preocupados somente com o “bem-geral”. A política é um jogo sujo, e acaba atraindo os piores tipos. Claro que existem exceções, mas esse “jogo democrático” não passa de uma guerra pelo poder, onde os fins justificam quaisquer meios. Alguém realmente acha que o PV de Marina Silva seria tão diferente no poder? Alguém acredita que Ciro Gomes mudaria tudo isso? Não basta “vontade política” quando o sistema de incentivos está podre.
A mudança não vai ocorrer através do próprio meio político, com a tomada de poder pelos “bons revolucionários”. O corporativismo em Brasília é de assustar. Mesmo políticos “concorrentes” ficam receosos nessas horas, tímidos nos ataques, sem demandar medidas drásticas e imediatas, justamente porque sabem que amanhã podem ser eles no vídeo. Todos parecem ter rabo preso. Além disso, parece paradoxal esperar um grande programa de redução do poder político através da conquista do próprio poder político. Não é por aí que vem alguma mudança estrutural. Mas de onde ela virá então?
Eis onde surge a importância da luta no campo das idéias. Somente mudando a mentalidade da maioria das pessoas poderemos mudar essa realidade lamentável. Mas não através do próprio governo, naturalmente. Como esperar educação de boa qualidade, que estimula um olhar crítico, justamente através daquele interessado em manter o povo na completa ignorância? O governo tem interesse em manter o povo refém, reverenciando o próprio governo como uma espécie de deus. Somente quando esta mentalidade mudar haverá menos escândalos de corrupção. Afinal, esta é diretamente proporcional à concentração de poder e recursos no governo. Quando o sucesso de uma empresa depende da canetada de um burocrata, parece lógico que a corrupção será fomentada.
Outra importante causa da corrupção é a impunidade. Uma reforma no Judiciário é fundamental, para reduzir a morosidade dos julgamentos. Acabar com os privilégios dos políticos também é primordial para evitar que tudo acabe em “pizza”. Mas, novamente, isso só será viável através da mudança da mentalidade das pessoas. Enquanto os eleitores votarem nos políticos corruptos porque recebem migalhas em troca, porque estão satisfeitos com a economia, porque conseguiram um emprego, o recado será perverso: a imoralidade não tem custo. É preciso dar um basta a isso, eliminar da vida pública aqueles que, pelo menos, foram pegos roubando. Isso não vai garantir que os novos eleitos sejam honestos, pelos motivos expostos acima. Mas ao menos será um recado um pouco mais duro para os que foram pegos com a boca na botija.
O recado das urnas já é um começo. O povo precisa mostrar indignação diante de escândalos de corrupção. Precisa rejeitar veementemente candidatos ligados a esquemas comprovados ou mesmo suspeitos. Precisa colocar a questão ética acima dos interesses de curto prazo. Em vez de fazer como algumas entidades de esquerda, que apresentam uma indignação bastante seletiva, os eleitores precisam abraçar princípios isonômicos, ou seja, condenar todos os políticos envolvidos em escândalos, independente de seus partidos. É preciso acabar com os dois pesos e duas medidas. É preciso exigir fichas limpas. E, principalmente, faz-se necessário ajudar a mudar a mentalidade do povo brasileiro, que passou a encarar o meio político como panacéia para todos os males que assolam o país. Concentrar poder em Brasília é a receita mais certa para estimular a corrupção.
Contra esse câncer chamado corrupção, que tanto estrago causa no país, só mesmo extraindo os dois tumores malignos: o excesso de governo e a impunidade.
quarta-feira, janeiro 27, 2010
Novos melhores amigos
Rodrigo Constantino
"O Cabral é a ausência total em toda a região metropolitana e o interior", disse Lindberg Farias sobre o governo de Sérgio Cabral. "Aqui no Rio, o PT tem que lançar uma candidatura que defenda os interesses do povo trabalhador, que tem sofrido com as políticas elitistas do governo Cabral", declarou também o prefeito de Nova Iguaçu.
Só que isso tudo foi antes de o presidente Lula avisar que Lindberg, agora, era o "novo melhor amigo" de Cabral, como este mesmo o reconheceu. Depois do comando do dono, o cãozinho adestrado, uma "metamorfose ambulante", mudou o discurso e veio abanando o rabinho para o governador do Estado. Assim são os políticos de forma geral, e os petistas em grau mais escancarados: atores que não possuem princípios, apenas interesses imediatos; que não têm amigos, apenas comparsas.
O "pragmatismo" dessa gente é mesmo asqueroso. Num dia, Collor pode ser o mais safado de todos os ladrões, e no dia seguinte, se for interessante para o tal "jogo democrático", o mesmo Collor pode ser um grande sujeito, "amigo do peito". Para digerir os nossos políticos, só mesmo com o auxílio de um Engov...
A Trégua de Chávez
Rodrigo Constantino
“A História se repete, primeiro como tragédia, depois como farsa.” (Karl Marx)
Após a crise no governo de Hugo Chávez se intensificar com a renúncia de dois ministros, sendo um deles seu vice-presidente, e também do presidente do Banco da Venezuela, o caudilho resolveu que investimentos estrangeiros no setor de petróleo, a locomotiva do país, são desejáveis. "O investimento e a experiência de firmas de petróleo estrangeiras são necessárias na Venezuela", disse Chávez. "Precisamos disso". Após estatizar o que restava de empresas estrangeiras atuando no setor, Chávez reconhece o óbvio: um monopólio estatal a serviço do governo é sinônimo de ineficiência garantida.
Mas nem mesmo aqui Chávez consegue ser original. Lênin, após verificar o caos que havia criado na economia russa com suas estatizações, resolveu apelar para um recuo tático. Ele lançou em 1921 a NPE (Nova Política Econômica). Os camponeses passavam a desfrutar de maior grau de liberdade para vender o excedente da produção no mercado aberto. O governo também autorizou uma quantidade limitada de comércio e manufatura privada de bens de consumo. A recuperação com a NPE foi imediata. Por volta de 1928, a produção de grãos da Rússia alcançou níveis nunca vistos desde 1913. Bastou retirar alguns obstáculos criados pelo governo, e deixar o mercado funcionar um pouco mais livre, para ter um resultado espantoso.
Só que o sonho durou pouco. Richard Pipes, em seu livro sobre o comunismo, explica: “Muitos, dentro e fora da Rússia, acreditaram que a NPE assinalara o abandono do comunismo. Falava-se de um ‘Termidor Russo’, com referência aos eventos na França em 1794, que haviam levado à queda e execução de líderes jacobinos. Mas a analogia era inadequada: primeiro, os jacobinos russos permaneceram firmes no controle; segundo, eles viam suas concessões como meramente uma trégua. E assim se revelaram”. Quem confiou no governo socialista de Lênin, quebrou a cara: vendeu ao regime a corda que seria usada para enforcá-lo.
Agora Chávez pede a sua trégua aos investidores privados e estrangeiros, desesperado com o agravamento da situação econômica na Venezuela, fruto das medidas socializantes de seu governo. Quem vai apostar suas fichas numa mudança estrutural do regime chavista? Quem vai dar um voto de confiança ao fanfarrão que vem destruindo a Venezuela com sua “revolução bolivariana”? Sinceramente, quem o fizer, vai merecer quebrar a cara depois, quando o Chapolin Colorado novamente avançar sobre a propriedade privada deles e gritar: “Não contavam com minha astúcia!”. Ingenuidade tem limite!
terça-feira, janeiro 26, 2010
1º Seminário de Economia Austríaca no Brasil
Pela primeira vez na história, o Brasil terá um seminário exclusivo sobre a Escola Austríaca de Economia. De 11 a 12 de abril de 2010, no Hotel Sheraton, Porto Alegre receberá estudantes e profissionais de todo o país para discutirem os desafios da Ciência Econômica no século XXI.
O I Seminário de Economia Austríaca é um evento realizado pelo Instituto Ludwig von Mises Brasil, associação voltada à produção e à disseminação de estudos econômicos e de ciências sociais que promovam os princípios de livre mercado e de uma sociedade livre. O seminário reunirá, pela primeira vez na história do Brasil, os principais nomes da corrente econômica de livre mercado conhecida como Escola Austríaca ("EA").
Entre os palestrantes estarão alguns dos principais nomes da Escola Austríaca, como Lew Rockwell, Joseph Salerno, Mark Thornton, Tom Woods e Walter Block. Entre os nomes nacionais, Ubiratan Iorio, Rodrigo Constantino, Fábio Barbieri e Antony Muller. Eles irão conversar com uma plateia de 300 pessoas composta por jovens profissionais, estudantes e interessados em economia e liberdade.
Os debates englobarão os princípios da EA aplicados aos principais temas econômicos da atualidade. O papel do Federal Reserve na atual crise econômica, os problemas gerados em decorrência das constantes intervenções de governos na economia, o cálculo econômico socialista, a privatização de ruas e estradas e a Teoria Austríaca dos Ciclos Econômicos (TACE), são alguns dos assuntos que serão discutidos durante o I Seminário de Economia Austríaca.
Não perca essa oportunidadede de interagir com os maiores nomes da Escola Austríaca de Economia!
Para maiores informações e inscrição, click neste link.
Chávez: o começo do fim
Rodrigo Constantino
A crise no governo de Hugo Chávez atinge novos patamares, com o pedido de demissão de seu vice-presidente e ministro da Defesa, Rámon Carrizáles, e sua mulher, ministra do Meio-Ambiente. A economia afunda rapidamente, porque as leis econômicas não podem ser revogadas por decretos estatais. O país enfrenta o racionamento de energia, mesmo sendo exportador do "ouro negro", que existe em abundância no local. A inflação é galopante, e a recente maxidesvalorização da moeda vai apenas jogar mais lenha na fogueira.
Para compensar o fracasso econômico, Chávez intensifica a opressão política. Novos canais de TV foram fechados, despertando a revolta do povo. Houve confronto nas ruas, e dois jovens morreram, além de dezenas que ficaram feridos. O experimento socialista do século XXI está produzindo os mesmíssimos resultados dos experimentos socialistas do século XX: miséria, terror e escravidão. Não há nada de novo aqui. Qualquer liberal já sabia como as coisas seriam na Venezuela.
Já os esquerdistas não. Esses, ou boa parte deles, mostraram enorme empolgação com o "socialismo bolivariano" de Chávez. Eram otimistas quanto aos possíveis resultados "sociais" na Venezuela. Defenderam Chávez, e alguns ainda insistem na estupidez. São cegos por ideologia. No próprio governo não são poucos aqueles que admiram a "revolução bolivariana", e tentam inclusive replicá-la no Brasil. O PNDH-3, assinado pelo presidente Lula, é um esboço nesse sentido. Não dá para mudar os fatos: boa parte da nossa esquerda aplaudiu as medidas de Hugo Chávez.
Mas alguém tem dúvida de que agora, com o declínio acelerado do caudilho venezuelano, a esquerda irá se afastar desse experimento fracassado? Oportunista e hipócrita que só ela, nossa esquerda radical vai fingir que nunca defendeu com unhas e dentes o modelo de Chávez. Vai afirmar que aquilo não era socialismo coisa alguma. No máximo, "socialismo real", ou, melhor ainda, "capitalismo de Estado". Tentará apagar o rastro sujo de apoio ao regime chavista. Vai reescrever a história, como sempre fez. União Soviética? Ora, não era socialista! Afinal, o socialismo que eles pregam é uma Utopia que jamais vai existir. Sempre que os mesmos meios pregados para tal fim forem utilizados, gerando apenas desgraça, eles poderão jogar a culpa para ombros alheios, e alegar que aquilo não era socialismo.
Mas era! Socialismo é justamente isso enquanto meio: a concentração de poder no governo, a estatização da economia e da vida dos cidadãos. Chávez fez exatamente aquilo que os socialistas do governo Lula gostariam de fazer no Brasil, com seu PNDH-3. Reclamar que tais meios levaram a um fim diferente do socialismo idealizado não vale. O fim sempre será esse quando os meios usados forem aqueles defendidos pelos socialistas. Teremos apenas miséria, terror e escravidão. Isso é socialismo na prática! O resto é sonho de idiota útil, massa de manobra dos oportunistas de plantão.
O Apogeu do Estado-Babá
João Luiz Mauad, O Globo (26/01/2010)
“Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, discorria como menino, mas tão logo cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino.” (São Paulo, 1 Coríntios 11:13)
A repercussão da tragédia ocorrida em Angra dos Reis e Ilha Grande, na virada do ano, revelou uma clara tendência da opinião pública para achar que tudo poderia ter sido evitado, bastando que as autoridades tivessem agido de forma adequada e preventiva. Será que isso é verdade?
Alguma culpa os governos têm – e eles sempre têm! O olhar negligente, populista e demagógico das autoridades sobre a ocupação e o desmatamento desenfreados das encostas é criminoso. Assim, as mortes nas favelas de Angra não só poderiam como deveriam ter sido evitadas.
Já o caso da Ilha Grande, onde houve maior número de vítimas, foi muito diferente. Ali não havia desmatamento nem ocupação desenfreada de encostas. As fotos aéreas dos locais mostram claramente as cicatrizes deixadas pelas avalanches sobre a mata verde, intocada. O problema foi que choveu uma enormidade. Uma chuva torrencial e extraordinária. Não houve falha ou negligência, mas uma ocorrência natural fortuita, com a qual a humanidade convive há milênios.
Naquele mesmo período, o noticiário internacional foi dominado por fortíssimas nevascas e ondas de frio intenso, que acometeram europeus e norte americanos, causando centenas de mortes. Da Suíça, por exemplo, chegaram notícias de grandes avalanches em estações de esqui, com várias vítimas fatais. Será que o governo suíço, tido como um dos mais eficientes do mundo, deve ser responsabilizado por tal tragédia? Deveria este mesmo governo, de forma preventiva, proibir a construção de novas estações nos Alpes, novos hotéis e pousadas, a fim de evitar outras ocorrências do tipo, como muitos pretendem fazer aqui, em relação ao polo turístico da Ilha Grande?
Definitivamente, parece que inculcaram na opinião pública a cruel esperança de que o Estado é capaz de nos manter eternamente protegidos e seguros. Enquanto a habitual inépcia, a permanente negligência e a recorrente corrupção dos agentes públicos geram louváveis reações de revolta, tais reações, paradoxalmente, trazem consigo um clamor exagerado por mais e mais intervenções, regulamentações e restrições legais sobre a atividade econômica e a propriedade privada, como se já não bastasse o indefectível furor legiferante dos governos.
A lembrança que me vem à mente, sempre que deparo com a reação de cidadãos adultos que, atemorizados diante das notícias de um trágico fenômeno natural, bradam por mais intervenção estatal, a fim de manter-nos todos protegidos e seguros, é a dos meus filhos, ainda pequeninos, assustados por monstros imaginários durante a noite, berrando pela minha proteção, sem saber que seu pai estava muito longe de ser o super-homem que imaginavam. No caso dos governos, a coisa é ainda pior, pois eles são os próprios algozes. Querem nos tutelar, não são fiéis, não são sinceros, não obedecem as suas próprias leis. Embora necessários, eles precisam ser constantemente vigiados e controlados pela sociedade, e não o inverso.
Benjamim Franklin costumava dizer: “quem abre mão da liberdade, em nome de alguma segurança, não merece nem uma nem outra”. A liberdade pressupõe algum tipo de risco. Mesmo a mais comezinha das atividades, como um passeio na praia, apresenta riscos à vida ou à saúde. Se nos deixarmos paralisar por eles, seremos nada mais que escravos do medo.
Uma sociedade onde a liberdade é abandonada em prol da busca por uma segurança extremada (e jamais alcançável), é uma sociedade fadada ao fracasso. Um dos motores do progresso humano é a coragem para enfrentar riscos. Colombo jamais teria chegado à América, Santos Dumont nunca teria voado e o homem não teria pisado na lua, caso não assumissem riscos. Dói pensar que estejamos nos transformando numa enorme massa de gente amedrontada e passiva, dominada pela pueril expectativa de que a quimera da segurança absoluta possa ser provida por um Estado-Babá.
Pessoas maduras não abrem mão da responsabilidade de comandar o destino de suas vidas. Esse comportamento adulto, no entanto, parece ter sido deixado de lado por muitos, se não a maioria, na vã esperança de que um governo todo-poderoso seja capaz de fazer por eles aquilo que deveriam fazer por si mesmos. Aquela atitude madura, de que nos fala São Paulo, parece cada vez mais distante. É o medo, e somente o medo, que predomina.
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Comentário: Eu não costumo reproduzir artigos de outros autores no blog, mas vou abrir uma exceção a este excelente artigo do meu amigo Mauad, pois faço de suas palavras as minhas. Considero essa postura infantil, que substitui o Pai "perfeito" pelo Estado idealizado, um dos maiores males do mundo moderno, um verdadeiro câncer que leva ao totalitarismo. O esquerdismo é a doença infantil da humanidade...
domingo, janeiro 24, 2010
O "paraíso" petralha
Rodrigo Constantino
"O que sempre fez do Estado um verdadeiro inferno foram justamente as tentativas de torná-lo um paraíso." (Hoelderlin)
A candidata petista Dilma Rousseff afirmou que "gostaria muito de levar os brasileiros ao paraíso", e completou que esta é "uma das maiores e melhores ambições que alguém pode ter". Como de praxe, eu discordo totalmente da ministra. Considero a arrogância megalomaníaca de se postar como líder de um povo em direção ao paraíso uma das ambições mais patológicas que pode existir, merecedora de um bom tratamento no divã de um psicanalista.
Enquanto o mundo for habitado por seres humanos, ele jamais será um paraíso. Seres humanos são imperfeitos por natureza, e sempre serão. A arrogância dos engenheiros sociais na busca do "novo homem" sempre culminou em terror, miséria e escravidão. A Utopia, o mito do “bom selvagem” e de uma Idade de Ouro perdida, o Éden que precisa ser resgatado, tudo isso sempre conquistou uma legião de desesperados em busca de consolo, ainda que totalmente falso. Pastores, “profetas” e políticos sempre aproveitaram essa fraqueza humana para vender ilusões. Onde há demanda, lá estará um charlatão de plantão.
Os marxistas foram mais espertos que os religiosos embusteiros: em vez de prometer o paraíso apenas para depois da morte, eles oferecem o sonho de um paraíso terrestre. Se a religião é o ópio do povo, como Marx acreditava, então o marxismo é o crack: vicia e mata mais rápido ainda. O próprio Marx tinha todas as características de um profeta, não de um cientista econômico, a despeito de sua pretensão de ter criado o “socialismo científico”. No fundo, ele foi um vendedor de dogmas que conquistavam adeptos através das emoções, não da razão.
Dilma parece não ter enterrado no passado seu viés autoritário e revolucionário. Ela, ao que seu discurso indica, não pretende ser a presidente do país, mas sim uma guia do povo, tal como Moisés teria feito com o povo judeu. Dilma não pretende governar, mas liderar o povo rumo ao paraíso. Não obstante tamanha prepotência, resta questionar qual visão de paraíso ela tem, uma vez que lutava no passado – e luta ainda hoje – pelo regime cubano, que ainda admira e defende. Seria esse “paraíso” que Dilma pretende nos levar algo parecido com a ilha caribenha, então? Se o paraíso tem alguma semelhança com o feudo dos irmãos Castro, prefiro nem pensar em como o inferno seria!
Jim Jones, pastor evangélico e fundador da igreja Templo do Povo, em Jonestown, acreditava estar liderando aquele séquito de fanáticos hipnotizados ao paraíso quando convenceu todos – e forçou até crianças – a beber veneno. Trata-se do maior suicídio coletivo que se tem registro, ultrapassando 900 mortos. Eis o que acontece quando um bando de doidos resolve acreditar num “profeta” que vai lhes guiar ao paraíso...
sexta-feira, janeiro 22, 2010
Solidariedade ou Politicagem?
Rodrigo Constantino, para o Instituto Liberal
A desgraça que se abateu sobre o povo do Haiti desperta o sentimento de solidariedade na maioria das pessoas. Por empatia ao sofrimento alheio, estas pessoas se mexem para tentar ajudar no que for possível as vítimas da calamidade. As ajudas humanitárias nesses casos sempre são gigantescas. Mas alguns enxergam somente as oportunidades políticas diante da desgraça alheia. Aproveitam o momento delicado para tentar conquistar seus objetivos políticos de forma extremamente fria.
O governo Lula já havia selecionado o Haiti antes como seu palco experimental para ações imperialistas, com o assento permanente no Conselho de Segurança da ONU em vista. Trata-se de uma verdadeira obsessão desse governo megalomaníaco, que já custou muito caro aos pagadores de impostos brasileiros. O Haiti virou uma espécie de Iraque brasileiro. Após o terremoto, com o envio maciço de ajuda do governo americano, o governo Lula parece disputar a liderança de quem faz mais pelo Haiti. O ministro Celso Amorim chegou a acusar o governo americano de prejudicar os trabalhos humanitários. Agora, o presidente Lula editará medida provisória liberando mais R$ 375 milhões ao Haiti.
Alguém acredita na solidariedade sincera dessa gente? É fácil mostrar “compaixão” quando quem paga por isso são os outros. É fácil ser “solidário” com o esforço alheio. Os recursos são escassos, e o governo não produz riqueza; ele apenas transfere de uns para outros. Quando indivíduos resolvem doar seus bens para as vítimas do Haiti, isso é solidariedade, e acontece aos montes. Mas quando políticos assinam decretos transferindo compulsoriamente recursos escassos de um povo pobre e sofrido para outro país, isso é politicagem. A “ajuda” desse tipo acaba sendo a transferência de recursos dos pobres brasileiros para os governantes corruptos do Haiti, tudo em nome dos interesses políticos do governo.
O uso político das desgraças alheias não é novidade, tampouco monopólio do governo Lula. Seu camarada e aliado, o fanfarrão Hugo Chávez, foi mais longe e, ignorando a dor de milhares de haitianos, preferiu usar o ocorrido para atacar de forma insana o governo americano, acusado por ele de ter causado o terremoto, através de uma inovadora arma criada para atacar o Irã, cujo líder louco é aliado do próprio Chávez e também de Lula. Repito a pergunta: alguém ainda acredita na solidariedade sincera dessa turma?
quinta-feira, janeiro 21, 2010
O Mistério da Feiurinha
Rodrigo Constantino
Tentei comprar hoje para minha filha e minha sobrinha ingressos para o filme “Xuxa em o Mistério de Feiurinha”, num dos mais badalados cinemas da Barra. Estava esgotado. Para hoje, e para amanhã também! Enquanto isso, o filme “Lula, o Filho do Brasil” parece um total fracasso de bilheteria, a despeito de toda a máquina de propaganda colocada a serviço da película “chapa-branca”. Pelo visto, o público quer saber sobre o mistério da princesa Feiurinha, interpretada por Sasha, a filha de Xuxa; mas não está tão interessado assim no “mistério” do Sapo Barbudo.
Até porque essa história já é bem conhecida: metalúrgico incompetente, ele descobre o filão da vida política, ajuda a fundar uma quadrilha sindicalista e se torna candidato à presidente, tentando inúmeras vezes até conseguir o objetivo, depois da ajuda de um marqueteiro que criou uma embalagem falsa de “paz e amor” para o Sapo. Sim, daria um bom filme, principalmente se o final fosse feliz, culminando na derrota humilhante da Mocréia, candidata escolhida pelo Sapo Barbudo nas eleições. Mas quem precisa da ficção quando basta acompanhar o noticiário todo dia e verificar a quantidade assustadora de mentiras que o dissimulado Sapo Barbudo e sua companheira Mocréia produzem? Esses atores são imbatíveis! Na arte da dissimulação, merecem o Oscar, sem dúvida.
Esse filme real, um misto de terror e comédia, não encontra concorrência à altura nas salas de cinema. Por isso o filme da Xuxa está esgotado, enquanto aquela peça patética de propaganda política permanece “micada”. Os produtores do filme falharam. Para atrair o público, a ficção deveria ser melhor que a realidade. Bastava fazer o ator principal morrer no final, que as salas de cinema ficariam abarrotadas de gente. Afinal, cinema deve ser a nossa “maior diversão”, a realização de um sonho – ainda que por poucas horas.
Bolsa não é cassino, mas exige autocontrole do investidor
Palavra do gestor, Jornal Valor Econômico
Rodrigo Constantino
21/01/2010
"Só porque alguém que não conhece muito sobre 'blackjack' (ou 21) ganha cinco mãos seguidas, isso não quer dizer que você pode derrotar a banca." (Jonathan Burton)
Escrito em 1866 e parcialmente autobiográfico, o livro "O Jogador" relata o drama da compulsão pelo jogo vivido pelo próprio escritor russo Dostoievski. Os cassinos europeus conquistavam muitos russos na época, e as roletas eram o principal foco de fascínio. Lições aprendidas na pele pelo romancista podem ser úteis hoje para muitos especuladores.
A analogia entre cassino e bolsa não é das melhores, pois a última representa ativos reais cujos fluxos de caixa sustentam de forma concreta as apostas. No entanto, a postura de muitos especuladores em ações infelizmente apresenta enorme similaridade com a dos jogadores compulsivos de Dostoievski.
Não são poucos os que mergulham no cotidiano frenético das bolsas em busca da mesma adrenalina encontrada nos cassinos.
O trecho em que Alexei Ivanovich, principal personagem do livro, descreve como descobriu que era um jogador é particularmente importante: "Neste momento senti que eu era um jogador. Senti isso como nunca até então. Minhas mãos tremiam, as pernas vergavam-se, as têmporas pulsavam agitadamente".
Eis o tipo de emoção que não deve caracterizar um especulador. Se as oscilações nos preços das ações despertam esse tipo de reação, então é melhor buscar ajuda num divã. Caso contrário, a probabilidade de se perder tudo que tem é alta.
O antídoto contra esse vício foi encontrado pelo próprio autor, ao expor o segredo do sucesso no jogo: "Esse segredo, aliás, bem o sei, é o que há de mais simples e estúpido. É preciso unicamente domínio sobre si mesmo e, sejam quais forem as peripécias do jogo, a gente evitar o entusiasmo excessivo".
Em outras palavras, o segredo é ter autodomínio. Claro que isso é mais fácil falar do que fazer. Mas quem sucumbir às emoções sem dúvida chegará rapidamente ao precipício.
Na roleta, as probabilidades estão contra o jogador. No longo prazo, a banca sempre será a vencedora. Nos mercados de ações, o investidor pode tentar maximizar suas chances de ganho ao fazer seu dever de casa, pesquisando mais sobre as empresas em que investe. Como aconselhou o famoso investidor Peter Lynch, devemos gastar na pesquisa da ação que desejamos comprar pelo menos o mesmo tempo que gastaríamos na compra de um refrigerador.
Ele pode ter disciplina para estancar suas perdas, em vez de alimentar a tola esperança de que vai recuperar tudo numa última tacada desesperada. Ele pode saber a hora de nada fazer, aguardando um ponto de entrada mais favorável. Enfim, existem meios de pelo menos reduzir os riscos de perdas acentuadas.
Mas nada disso é garantia de sucesso. Aquilo que não sabemos pode ser fatal. Tentar obter o máximo possível de conhecimento e ter uma estratégia mais disciplinada representam mecanismos importantes para tentar jogar as probabilidades de ganho a seu favor, com foco no longo prazo.
Mas não há garantia de sucesso. E o próprio Dostoievski demonstra isso: "A mim parece que, no fundo, todos esses cálculos sobre o jogo não significam lá grande coisa e longe estão de possuir a importância que lhes pretendem atribuir muitos jogadores. Oh, esses jogadores entendidos! Plantam-se ali tendo nas mãos papéis cobertos de números, anotam cuidadosamente todos os golpes, contam, calculam as probabilidades e, após haverem recebido todos os prós e contras, apontam e perdem... exatamente como os simples mortais que jogam sem raciocinar."
Como ignorar isso quando vimos tantos gestores profissionais afundando junto com os leigos na crise? Analistas com salários de sete dígitos recomendando ações que praticamente viraram pó.
Se existe algo que os mercados não costumam tolerar é a arrogância do especulador, a ilusão do conhecimento pleno e muito diferenciado. Entre os métodos de autocontrole, a humildade para reconhecer os limites do conhecimento e da capacidade de prever o futuro é fundamental.
Tanto o jogador compulsivo guiado por emoções como o arrogante que se julga em posse da verdade absoluta irão naufragar rapidamente, seja em Las Vegas ou nas bolsas. E para os que buscam adrenalina, existem hobbies mais saudáveis - e baratos.
Rodrigo Constantino é economista e gestor de recursos
Rodrigo Constantino
21/01/2010
"Só porque alguém que não conhece muito sobre 'blackjack' (ou 21) ganha cinco mãos seguidas, isso não quer dizer que você pode derrotar a banca." (Jonathan Burton)
Escrito em 1866 e parcialmente autobiográfico, o livro "O Jogador" relata o drama da compulsão pelo jogo vivido pelo próprio escritor russo Dostoievski. Os cassinos europeus conquistavam muitos russos na época, e as roletas eram o principal foco de fascínio. Lições aprendidas na pele pelo romancista podem ser úteis hoje para muitos especuladores.
A analogia entre cassino e bolsa não é das melhores, pois a última representa ativos reais cujos fluxos de caixa sustentam de forma concreta as apostas. No entanto, a postura de muitos especuladores em ações infelizmente apresenta enorme similaridade com a dos jogadores compulsivos de Dostoievski.
Não são poucos os que mergulham no cotidiano frenético das bolsas em busca da mesma adrenalina encontrada nos cassinos.
O trecho em que Alexei Ivanovich, principal personagem do livro, descreve como descobriu que era um jogador é particularmente importante: "Neste momento senti que eu era um jogador. Senti isso como nunca até então. Minhas mãos tremiam, as pernas vergavam-se, as têmporas pulsavam agitadamente".
Eis o tipo de emoção que não deve caracterizar um especulador. Se as oscilações nos preços das ações despertam esse tipo de reação, então é melhor buscar ajuda num divã. Caso contrário, a probabilidade de se perder tudo que tem é alta.
O antídoto contra esse vício foi encontrado pelo próprio autor, ao expor o segredo do sucesso no jogo: "Esse segredo, aliás, bem o sei, é o que há de mais simples e estúpido. É preciso unicamente domínio sobre si mesmo e, sejam quais forem as peripécias do jogo, a gente evitar o entusiasmo excessivo".
Em outras palavras, o segredo é ter autodomínio. Claro que isso é mais fácil falar do que fazer. Mas quem sucumbir às emoções sem dúvida chegará rapidamente ao precipício.
Na roleta, as probabilidades estão contra o jogador. No longo prazo, a banca sempre será a vencedora. Nos mercados de ações, o investidor pode tentar maximizar suas chances de ganho ao fazer seu dever de casa, pesquisando mais sobre as empresas em que investe. Como aconselhou o famoso investidor Peter Lynch, devemos gastar na pesquisa da ação que desejamos comprar pelo menos o mesmo tempo que gastaríamos na compra de um refrigerador.
Ele pode ter disciplina para estancar suas perdas, em vez de alimentar a tola esperança de que vai recuperar tudo numa última tacada desesperada. Ele pode saber a hora de nada fazer, aguardando um ponto de entrada mais favorável. Enfim, existem meios de pelo menos reduzir os riscos de perdas acentuadas.
Mas nada disso é garantia de sucesso. Aquilo que não sabemos pode ser fatal. Tentar obter o máximo possível de conhecimento e ter uma estratégia mais disciplinada representam mecanismos importantes para tentar jogar as probabilidades de ganho a seu favor, com foco no longo prazo.
Mas não há garantia de sucesso. E o próprio Dostoievski demonstra isso: "A mim parece que, no fundo, todos esses cálculos sobre o jogo não significam lá grande coisa e longe estão de possuir a importância que lhes pretendem atribuir muitos jogadores. Oh, esses jogadores entendidos! Plantam-se ali tendo nas mãos papéis cobertos de números, anotam cuidadosamente todos os golpes, contam, calculam as probabilidades e, após haverem recebido todos os prós e contras, apontam e perdem... exatamente como os simples mortais que jogam sem raciocinar."
Como ignorar isso quando vimos tantos gestores profissionais afundando junto com os leigos na crise? Analistas com salários de sete dígitos recomendando ações que praticamente viraram pó.
Se existe algo que os mercados não costumam tolerar é a arrogância do especulador, a ilusão do conhecimento pleno e muito diferenciado. Entre os métodos de autocontrole, a humildade para reconhecer os limites do conhecimento e da capacidade de prever o futuro é fundamental.
Tanto o jogador compulsivo guiado por emoções como o arrogante que se julga em posse da verdade absoluta irão naufragar rapidamente, seja em Las Vegas ou nas bolsas. E para os que buscam adrenalina, existem hobbies mais saudáveis - e baratos.
Rodrigo Constantino é economista e gestor de recursos
terça-feira, janeiro 19, 2010
Heróis ou Vilões?
Rodrigo Constantino, O Globo (19/01/2010)
Os comunistas sempre foram mestres na arte de reescrever a história, como George Orwell bem retratou em “1984”. Atualmente, o revanchismo em relação aos militares representa uma nova empreitada nesse sentido. Alguns membros mais radicais do governo Lula tentam criar a imagem de que foram vítimas inocentes na época da ditadura, resgatando um clima de confronto com claros objetivos eleitoreiros. Falam em criar uma “Comissão da Verdade” para apurar os fatos, mas não desejam trazer à luz todos os fatos, e sim apenas um lado, ocultando as ações praticadas pelos guerrilheiros de esquerda. Trata-se da estratégia de “duplipensar” orwelliano, onde verdade quer dizer, na prática, mentira.
O que temem? Que todos os documentos sejam abertos então! As máscaras daqueles que hoje posam como vítimas que lutavam pela democracia rapidamente cairiam no chão. Que democracia era essa, se esses guerrilheiros faziam parte de grupos revolucionários comunistas? A “democracia” de União Soviética, Coréia do Norte e Cuba? Na verdade, a meta deles era implantar no Brasil uma “ditadura do proletariado”, que trouxe ao mundo apenas miséria, terror e escravidão. Vide Cuba, que até hoje enfrenta a mais longa ditadura do continente, sob os aplausos – não custa lembrar – desses mesmos radicais que agora tentam posar de bastiões da democracia. É essa a “democracia” que queremos?
Qualquer ditadura deve ser condenada. Entretanto, resgatar o contexto da década de 1960 pode ser útil ao menos para não deixar que os inimigos da liberdade monopolizem as virtudes. O mundo vivia na Guerra Fria, com os soviéticos tentando exportar seu regime opressor aos demais países. Onde tiveram sucesso, foi o caos. No Brasil, grupos como o Agrupamento Revolucionário de São Paulo, inspirado em Carlos Marighela, seguiam o roteiro escrito em Moscou. Vários crimes foram praticados por aqueles que julgam que seus fins justificam quaisquer meios, intensificando o clima de insegurança. Luiz Carlos Prestes, ligado ao Partido Comunista, defendeu a dissolução do Congresso. Roberto Campos chegou a lamentar que as únicas e miseráveis opções ao país eram “anos de chumbo” ou “rios de sangue”.
Nada disso inocenta os crimes praticados pela ditadura militar. O que não quer dizer que, automaticamente, transforma em heróis aqueles que lutavam pela pauta comunista redigida pela KGB. Que muitos desses comunistas jamais tenham reconhecido publicamente seu passado sujo e, ao contrário, ainda ostentem orgulho por essa trajetória, já é uma vergonha. Pior ainda é o fato de alguns oportunistas usarem seu passado de luta comunista para receber anistias milionárias, uma verdadeira “bolsa-ditadura” criada pelo governo. Mas o mais revoltante é mesmo essa tentativa absurda de se reescrever a história do país. Isso ofende todos aqueles que realmente desejavam uma democracia liberal no país, assim como nosso mais precioso bem: a verdade.
Se o desejo é realmente a busca da verdade, que todos os documentos históricos sejam abertos ao público. Os fatos precisam ser esclarecidos. Mas de todos os lados. Atrocidades cometidas por militares merecem vir à tona por respeito às vítimas inocentes. Só que as barbaridades praticadas pelos comunistas também devem ser expostas. Eles mataram dezenas de inocentes. Não podemos continuar tratando como heróis os verdadeiros vilões, que sonhavam em transformar o Brasil numa enorme Cuba. Tivessem eles conseguido, seu regozijo seria o pranto de toda a nação. Infelizmente, alguns deles ainda não desistiram.
Os comunistas sempre foram mestres na arte de reescrever a história, como George Orwell bem retratou em “1984”. Atualmente, o revanchismo em relação aos militares representa uma nova empreitada nesse sentido. Alguns membros mais radicais do governo Lula tentam criar a imagem de que foram vítimas inocentes na época da ditadura, resgatando um clima de confronto com claros objetivos eleitoreiros. Falam em criar uma “Comissão da Verdade” para apurar os fatos, mas não desejam trazer à luz todos os fatos, e sim apenas um lado, ocultando as ações praticadas pelos guerrilheiros de esquerda. Trata-se da estratégia de “duplipensar” orwelliano, onde verdade quer dizer, na prática, mentira.
O que temem? Que todos os documentos sejam abertos então! As máscaras daqueles que hoje posam como vítimas que lutavam pela democracia rapidamente cairiam no chão. Que democracia era essa, se esses guerrilheiros faziam parte de grupos revolucionários comunistas? A “democracia” de União Soviética, Coréia do Norte e Cuba? Na verdade, a meta deles era implantar no Brasil uma “ditadura do proletariado”, que trouxe ao mundo apenas miséria, terror e escravidão. Vide Cuba, que até hoje enfrenta a mais longa ditadura do continente, sob os aplausos – não custa lembrar – desses mesmos radicais que agora tentam posar de bastiões da democracia. É essa a “democracia” que queremos?
Qualquer ditadura deve ser condenada. Entretanto, resgatar o contexto da década de 1960 pode ser útil ao menos para não deixar que os inimigos da liberdade monopolizem as virtudes. O mundo vivia na Guerra Fria, com os soviéticos tentando exportar seu regime opressor aos demais países. Onde tiveram sucesso, foi o caos. No Brasil, grupos como o Agrupamento Revolucionário de São Paulo, inspirado em Carlos Marighela, seguiam o roteiro escrito em Moscou. Vários crimes foram praticados por aqueles que julgam que seus fins justificam quaisquer meios, intensificando o clima de insegurança. Luiz Carlos Prestes, ligado ao Partido Comunista, defendeu a dissolução do Congresso. Roberto Campos chegou a lamentar que as únicas e miseráveis opções ao país eram “anos de chumbo” ou “rios de sangue”.
Nada disso inocenta os crimes praticados pela ditadura militar. O que não quer dizer que, automaticamente, transforma em heróis aqueles que lutavam pela pauta comunista redigida pela KGB. Que muitos desses comunistas jamais tenham reconhecido publicamente seu passado sujo e, ao contrário, ainda ostentem orgulho por essa trajetória, já é uma vergonha. Pior ainda é o fato de alguns oportunistas usarem seu passado de luta comunista para receber anistias milionárias, uma verdadeira “bolsa-ditadura” criada pelo governo. Mas o mais revoltante é mesmo essa tentativa absurda de se reescrever a história do país. Isso ofende todos aqueles que realmente desejavam uma democracia liberal no país, assim como nosso mais precioso bem: a verdade.
Se o desejo é realmente a busca da verdade, que todos os documentos históricos sejam abertos ao público. Os fatos precisam ser esclarecidos. Mas de todos os lados. Atrocidades cometidas por militares merecem vir à tona por respeito às vítimas inocentes. Só que as barbaridades praticadas pelos comunistas também devem ser expostas. Eles mataram dezenas de inocentes. Não podemos continuar tratando como heróis os verdadeiros vilões, que sonhavam em transformar o Brasil numa enorme Cuba. Tivessem eles conseguido, seu regozijo seria o pranto de toda a nação. Infelizmente, alguns deles ainda não desistiram.
sexta-feira, janeiro 15, 2010
Reflexões sobre a tragédia haitiana
Rodrigo Constantino, para o Instituto Liberal
Em Teoria dos Sentimentos Morais, Adam Smith imagina a reação de um humanitário a um terremoto que devasta a longínqua China. Ele iria expressar intensamente sua tristeza pela desgraça de todos esses infelizes. Faria “reflexões melancólicas sobre a precariedade da vida humana e a vacuidade de todos os labores humanos, que num instante puderam ser aniquilados”. Mas quando toda essa bela filosofia tivesse acabado, “continuaria seus negócios ou seu prazer, teria seu repouso ou sua diversão, com o mesmo relaxamento e tranqüilidade que teria se tal acidente não tivesse ocorrido”.
Em contrapartida, o mais frívolo desastre que se abatesse sobre ele causaria uma perturbação mais real. Uma simples dor de dente poderia lhe incomodar de verdade mais que a ruína de dezenas de milhares de pessoas distantes. Em suma, o homem é mesmo um ser voltado para si próprio. Partir de uma premissa diferente, do “novo homem” totalmente abnegado e altruísta, voltado para o “bem-geral”, costuma levar a crenças totalmente contrárias à natureza humana, com resultados catastróficos. O experimento socialista foi todo calcado nesta premissa ingênua, e deu no que deu: miséria, terror e escravidão.
Outra reflexão que surge após a desgraça no Haiti é de cunho metafísico. A natureza é indiferente ao homem; ela não costuma ligar para seus anseios e preces. Parece brincadeira de mau gosto atribuir a algum desígnio sobrenatural tamanha desgraça. Tragédias naturais simplesmente acontecem. O homem tenta buscar um sentido para elas, mas a verdade é que a natureza é hostil mesmo. Jules Renard disse: “Não sei se Deus existe; mas seria melhor para sua reputação que não existisse”. De fato, o mundo parece um lugar estranho para ter sido concebido por um ser perfeito, ao menos para os padrões humanos...
Por fim, resta constatar que maior do que a desgraça natural é sempre a desgraça humana. O Haiti é miserável, e isso é obra de seres humanos, não da natureza. Os efeitos calamitosos do terremoto foram drasticamente ampliados por causa da miséria local, da falta de infraestrutura, de um governo corrupto. Ajudas humanitárias acabam se perdendo no mar de corrupção da ilha. Fica o alerta: governos ruins podem causar mais estrago do que terremotos.
O Haiti é a verdadeira visão do inferno. O Taiti é um verdadeiro paraíso. Quanta diferença uma letra pode fazer!
quarta-feira, janeiro 13, 2010
A Necessidade de Controle
Rodrigo Constantino
"As mudanças climáticas são fenômenos naturais contra os quais o homem pouco pode fazer no seu atual estágio de conhecimento, além de entender melhor a sua dinâmica e se adaptar adequadamente a elas." (Geraldo Luís Lino, geólogo e autor do livro “A Fraude do Aquecimento Global”)
Por que tantas pessoas seguem as mais idiotas superstições? Por exemplo: por que alguém insiste em dar aquelas três batidinhas na madeira quando pretende isolar um pensamento ruim? Por que alguém anda com um pé de coelho na bolsa? Por que alguém só entra no avião com o pé direito? Por que ainda tem gente que recusa sentar-se à mesa com treze pessoas no total? Por trás de todas essas medidas tolas, jaz um desejo demasiado humano de controlar o incontrolável: nosso destino.
Enquanto essas superstições ficarem restritas aos exemplos bobos do cotidiano, o efeito na vida do supersticioso não será dos piores. Ele terá a sensação de que pode controlar eventos exógenos, ainda que isso seja falso. Mas sua vida seguirá sem maiores problemas. Claro que ninguém vai morrer porque treze pessoas sentaram juntas na mesa. Mas tudo que o supersticioso perderá nesse caso é uma agradável refeição. Lógico que o avião não vai cair porque o supersticioso entrou nele com o pé “errado”, mas o máximo que ele irá sofrer é um vôo angustiante até o pouso seguro.
O problema começa mesmo quando essa necessidade de controle extrapola para as áreas mais importantes de nossas vidas. Por exemplo, quando muitas pessoas passam a ignorar a importância de uma ordem espontânea na economia, delegando a um aparato central o controle dos principais fatores econômicos. É difícil admitir que um fenômeno como a economia seja complexo demais para que qualquer grupo seleto de “especialistas” possa compreendê-lo em sua totalidade. Mas essa é a realidade, e ignorá-la é cair na falácia que Hayek chamou de “pretensão do conhecimento”. Tecnocratas com modelos econométricos complexos achando que podem controlar a economia de cima para baixo, eis a receita certa do fracasso.
Como definir o preço “justo” do trigo, por exemplo? Ora, são infinitas variáveis exercendo influência sobre ele, e ninguém seria clarividente o suficiente para poder determinar esse preço. Apenas o livre mercado, com suas trocas voluntárias, pode executar tal função. Mas nesse caso é preciso assumir que ninguém tem o controle sobre os preços dos diversos produtos que consumimos. Isso pode não agradar muito aquelas pessoas mais necessitadas dessa ilusão do controle, como se um decreto de uma cúpula de “sábios” pudesse simplesmente resolver o problema econômico da alocação eficiente de recursos escassos.
Análogo ao problema econômico está a questão ambiental. O clima é um fenômeno complexo também, com infinitas variáveis exercendo impacto no seu resultado final. Mas reconhecer isso exige certa humildade. A arrogância humana costuma preferir colocar o homem como grande responsável por tudo de importante que ocorre no planeta. O clima da Terra vive grandes ciclos desde sempre, com suas eras glaciais e seus ótimos climáticos – a Groelândia recebeu esse nome dos vikings porque era a Terra Verde -, mas o homem escolheu acreditar que ele é o maior agente das mudanças climáticas*. O homem poderá destruir o planeta com seu carro!
O apocalipse iminente sempre vendeu bem, desde a Bíblia. Soma-se a isso o controle humano sobre o fim do mundo, e tem-se a receita certa para uma nova seita. O caos está próximo, o planeta vai derreter (em vários lugares congelar, ao que parece), e a salvação está em nossas mãos. Se cada um pedalar para o trabalho em vez de dirigir carros, e comer menos carne para reduzir a quantidade de vacas e, por tabela, sua flatulência assassina, o planeta poderá ser salvo. O clima deixou de ser um fenômeno complexo. Agora sabemos: são os homens que podem controlá-lo! Amém.
E não se esqueça: além de andar apenas de bicicleta e evitar a carne, bata três vezes na madeira, coloque um pé de coelho na bolsa e ainda cruze os dedos. Todo esforço é louvável nessa cruzada pelo controle do clima. A vida de nossos filhos depende disso.
* Na verdade, não há muita novidade aqui. Povos primitivos costumavam pedir ajuda aos deuses através da dança da chuva, acreditando que dessa maneira teriam melhores colheitas. Os incas chegavam a sacrificar crianças com o mesmo objetivo. A diferença é que Al Gore hoje dança com o dinheiro dos outros, retirado através dos impostos. Trata-se de uma dança muito mais cara. Já o sacrifício de vidas continua, de todos os miseráveis que têm o progresso negado pelas medidas ambientalistas.
terça-feira, janeiro 12, 2010
Socialismo do Século XXI
Rodrigo Constantino
“Aqueles que ignoram o passado estão condenados a repeti-lo.” (George Santayana)
A Venezuela caminha a passos acelerados rumo ao completo abismo, fruto do modelo socialista cada vez mais imposto pelo caudilho Hugo Chávez. Cuba está logo ali. Empresas privadas, estrangeiras ou nacionais, foram tomadas pelo governo. A imprensa foi amordaçada. Os petrodólares foram usados de forma populista para comprar apoio da população. A inflação foi usada como mecanismo de estímulo à economia. O país precisa racionar energia, mesmo possuindo todo aquele petróleo. Com a situação saindo de controle, culminando na maxidesvalorização de sua moeda, vimos essa semana a patética cena do Exército fechando lojas para combater a “especulação”. Para os socialistas, a inflação ainda é um fenômeno derivado da ganância dos empresários, não da emissão descontrolada de moeda pelo governo. Tem quem nunca aprenda com as lições da história mesmo.
Na Babilônia, há cerca de quarenta séculos, o Código de Hamurabi impôs um rígido sistema de controle de preços. Na Grécia Antiga, Atenas estava constantemente enfrentando escassez de cereais, dos quais pelo menos metade tinha que ser importada. Para combater a alta dos preços, um exército de inspetores dos cereais, chamados Sitophylakes, foi nomeado com o objetivo de estabelecer um preço “justo” para os cereais. Em ambos os casos, as medidas fracassaram. Apesar da pena de morte que o governo de Atenas aplicava aos desobedientes, era quase impossível fazer respeitar as leis que controlavam o comércio dos cereais.
No Império Romano, sob o tribuno Caio Graco, foi adotada a Lex Sempronia Frumentaria, que conferia a cada cidadão romano o direito de adquirir certa quantidade de trigo a um preço oficial muito inferior ao preço de mercado. O resultado, naturalmente, foi contrário ao que o governo esperava: a maioria dos agricultores do campo migrou para Roma, para lá viver sem trabalhar. Para resolver os problemas crescentes, os imperadores começaram a desvalorizar a moeda. Nero começou com pequenas desvalorizações, e Marco Aurélio intensificou o ritmo. O auge do controle de preços se deu no reino do imperador Diocleciano. Em vez de cortar os gastos do governo, Diocleciano preferiu desvalorizar a moeda, inflacionando a economia. Como os preços fugiam de controle, ele apelou para o tabelamento, e prescreveu a pena de morte para os que vendessem as mercadorias acima dos preços oficiais. O resultado foi um fracasso total.
Como se pode observar com esses exemplos, a tentativa de governos de controlar os preços das mercadorias com base em decretos não é novidade alguma. Para os brasileiros, a memória é recente, com os famosos fiscais do Sarney averiguando os preços praticados nos supermercados, em nome do combate à inflação. Claro que foi um fiasco. Afinal, como os economistas austríacos e de Chicago já tinham explicado faz tempo, a inflação é sempre um fenômeno monetário.
Mises explicou de forma sucinta o processo que ocorre quando um governo inflaciona a economia. O primeiro passo será a sensação de prosperidade causada pelo aumento dos gastos provenientes da impressão de moeda nova. Será uma prosperidade ilusória. Quando os preços de alguns produtos começam a sair de controle, a tendência é o governo partir para o controle daqueles preços específicos, os “vilões” da inflação. Mas isso irá gerar apenas escassez desses produtos no mercado, estimulando um mercado negro para eles. Outros produtos substitutos ou que usam tais produtos como insumos começam a disparar de preço também, e o governo precisa estender cada vez mais seu controle, até chegar à totalidade da economia.
Como exemplo, podemos pensar no minério de ferro. Supondo que ele seja alvo de uma expressiva alta de preços causada pelo excesso de moeda no mercado, o governo resolve tabelar seu preço. Logo começará a faltar minério no mercado. O preço do aço vai disparar também. O governo decide controlar o preço do aço então. Falta aço agora, e o preço de todos os produtos derivados do aço dispara, assim como o preço de seus substitutos. Em pouco tempo, o governo terá que tabelar quase todos os preços da economia, gerando uma escassez generalizada. O regime soviético, ícone dessa experiência de controle estatal da economia, conseguiu produzir apenas armas para o próprio governo oprimir o povo, e prateleiras vazias.
Eis a essência do socialismo. Miséria ao povo e armas para o governo controlar os miseráveis. Milênios atrás, ou em pleno século XXI. As leis econômicas não costumam ligar muito para esses detalhes. Pobre povo venezuelano. Servindo como cobaia de um experimento que cheira à naftalina de tão velho. E esse é o modelo que o governo Lula fez tanta questão de convidar para fazer parte do Mercosul. O povo venezuelano não aprendeu nada com a história. Resta saber se o povo brasileiro vai aprender com o triste exemplo do vizinho aquilo que não se deve fazer!
A História Resgatada
Rodrigo Constantino
“Ignorância é não saber de algo; estupidez é não admitir sua ignorância.” (Daniel Turov)
Há nos Estados Unidos uma série de livros que começam com o título “guia politicamente incorreto” e depois o assunto em questão. São diversos temas, como o aquecimento global, a Grande Depressão e a história da Constituição. A idéia é desmistificar certas abordagens fantasiosas dos fatos passados. Os mitos históricos acabam exercendo mais influência que os fatos em si, e resgatar a verdade – ou pelo menos lançar questionamentos sobre algumas “verdades” – passa a ser fundamental para uma compreensão mais acurada dos eventos importantes, que acabam manipulados pela ditadura do “politicamente correto”.
Eis porque o livro do jornalista Leandro Narloch, Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil, merece ser celebrado. Sem medo de mexer em tabus para os nacionalistas e de ir contra a visão “politicamente correta” ensinada nas escolas, Narloch resgata inúmeros fatos históricos ignorados pelo povo brasileiro em geral. Após tantas décadas de verdadeira lavagem cerebral por parte de professores e “intelectuais” marxistas, algumas obviedades relatadas no livro certamente poderão chocar o leitor mais desavisado. Entretanto, fugir dos fatos não ajuda. Afinal, como disse Aldous Huxley, os fatos não desaparecem porque são ignorados.
Um dos primeiros alvos de Narloch é a visão idílica dos nativos brasileiros, criada com base em Rousseau. Os índios ainda são vistos por muitos como aqueles “bons selvagens” idealizados pelo filósofo, e tão longe da realidade. Essa visão, de que os índios viviam em harmonia entre si e com a natureza, ainda produz crenças e políticas equivocadas. No fundo, os índios travavam guerras eternas entre eles, destruíam florestas, animais, pessoas e culturas. A mentalidade marxista de que os pobres índios eram explorados pelos brancos malvados, que ofereciam quinquilharias em troca de recursos preciosos, também não se sustenta. Para aqueles povos isolados da civilização por tanto tempo, que nem mesmo tinham a roda ainda, ter acesso a anzóis, machados e espelhos fazia muito mais sentido do que manter tanto pau-brasil sem utilidade clara. Além disso, vários índios quiseram se aculturar, ao contrário do que ensinam os professores. Eles viam com fascinação as novidades trazidas da Europa.
Por fim, o que Narloch mostra é que, além das doenças então desconhecidas trazidas involuntariamente pelos europeus, o grande responsável pelo extermínio de tantos índios foram os próprios índios. As tribos não se viam como esse grupo homogêneo chamado “índios”, criado pelos europeus depois, mas sim como inimigos das demais tribos, tão estrangeiras para eles como os próprios portugueses. Muitas tribos viram na chegada dos europeus uma oportunidade para aliança militar contra velhos inimigos. Essas são coisas que parecem bastante evidentes após um pouco de reflexão, mas que ofendem a versão “politicamente correta” tão disseminada pelo país.
Outro vespeiro que Narloch sacode é a questão da escravidão. Quando os marxistas resolveram reescrever a história com seu viés maniqueísta de luta de classes, não tinha como ser diferente: criou-se a imagem de brancos malvados de um lado, e negros oprimidos do outro. Mas a coisa não ocorreu bem assim. O hábito de atacar povos inimigos e vendê-los era comum na África há muito tempo. De fato, a escravidão era uma prática comum no mundo todo em quase todas as épocas, sem fazer distinção de cor. Os negros africanos foram os maiores traficantes de escravos negros. Além disso, ex-escravos que conseguiam a liberdade logo partiam para a aquisição de escravos próprios, símbolo de status na época. Zumbi dos Palmares, personagem que virou sinônimo da luta contra o racismo no país, tinha escravos também. O fim desta prática nefasta se deve basicamente ao poder das idéias iluministas, assim como ao movimento abolicionista inglês, calcado em bases ideológicas, e não econômicas, como os marxistas alegam. Os países africanos seriam os últimos a abolir a escravidão.
Após outros mitos nacionalistas derrubados, Narloch encerra o livro com o resgate dos fatos históricos sobre os comunistas, que sempre lutaram para implantar no país uma ditadura, enquanto hoje posam como bastiões da democracia. Narloch mostra como a Coluna Prestes não passava de um bando de vândalos e criminosos, que aproveitavam a ausência da polícia em determinadas áreas para espalhar o terror - algo análogo ao MST de hoje. Inspirados no carniceiro Stalin, os seguidores de Carlos Prestes adotavam as práticas mais abjetas para tentar importar o regime totalitário ao país. Fracassaram por suas próprias trapalhadas, e outros guerrilheiros comunistas tentariam novamente um golpe na década de 1960, inspirados e financiados pelo ditador cubano Fidel Castro. Os integrantes desses grupos terroristas seriam os grandes responsáveis pela nossa ditadura, assim como por sua fase mais dura, representada pelo Ato Institucional número 5. O AI-5 só foi assinado em 1968, e antes disso os guerrilheiros praticaram dezenas de assaltos, execuções, seqüestros, atentados a bomba etc. Atualmente no poder, muitos desses comunistas se fazem de vítimas inocentes, como se estivessem lutando pela democracia nessa época. É “politicamente incorreto” falar a verdade sobre isso.
Em resumo, o livro de Narloch é um raio de luz em meio a tanta escuridão. Os brasileiros parecem ter perdido a capacidade de questionar, de alimentar o ceticismo e ir buscar os fatos de maneira mais imparcial e racional, sem tanta emoção. Aqui predomina o culto aos falsos heróis, uma postura nacionalista que mais parece uma xenofobia infantil, uma mentalidade anticapitalista desprovida de razão. O livro é dedicado à mãe do autor, porque ela o levou a “discutir idéias”. Eis justamente o que faz tanta falta nesse país: discutir idéias! Sem as amarras do “politicamente correto”, e sim com um desejo genuíno de buscar a verdade. Doa a quem doer.
sábado, janeiro 09, 2010
Em Nome do Povo
Rodrigo Constantino
“Amar a Humanidade é fácil; difícil é amar o próximo.” (Nelson Rodrigues)
Poucas pessoas causaram mais mal à humanidade do que aquelas que se imbuíram sinceramente da crença de que lutavam em nome do povo. Quando este conceito abstrato passa a ser confundido com a própria pessoa, quando ela não mais consegue se distinguir do tal “povo”, eis onde mora o grande perigo. O nobre fim – libertar o povo de todas as opressões e mazelas – passa a justificar quaisquer meios. E ninguém melhor do que Robespierre para ilustrar este risco.
Durante os últimos cinco meses de vida, quando concentrou um poder praticamente tirânico sobre a França, mais de duas mil pessoas foram guilhotinadas em Paris, uma quantidade mais de cinco vezes superior ao que havia sido morta nos onze meses que precederam o reinado do terror pessoal de Robespierre. Na biografia de Ruth Scurr sobre esta importante figura da Revolução Francesa, o próprio título já resume de forma sucinta a imagem desse perigo: “Pureza Fatal”.
Não teria sido a hipocrisia, ou mesmo as ambições materiais que tornaram Robespierre uma ameaça tão grande à liberdade; e sim sua total convicção de que ele e o povo eram uma só coisa. O Incorruptível, como era conhecido, seria a mão sangrenta executando com fanatismo as idéias de Rousseau. Robespierre, vestido com a capa da pureza moral, seria o executor da “vontade geral”. A visão de uma sociedade ideal, livre dos “pecados” da aristocracia e da miséria, faria com que ele acreditasse, de forma insana, ser o instrumento da Providência que levaria a França para um futuro perfeito.
Os fatores psicológicos que levam alguém a tal crença podem ser vários e difíceis de apreender. Alguns relatos sobre a vida escolar de Robespierre, entretanto, podem ajudar a lançar uma luz sobre a questão. Segundo algumas fontes, ele seria um garoto extremamente invejoso e apresentava um egoísmo subversivo, além de um orgulho excessivo. Que o Antigo Regime era um sistema totalmente injusto, isso é fato. Mas o grau de “revanchismo” que Robespierre adotou parece típico dos invejosos, aqueles que preferem destruir para não mais conviver com as diferenças que tanto incomodam.
A busca da igualdade seria levada a um extremo patológico. Apenas o “povo” é puro, assim como ele, que personifica esse povo. Aqueles que ainda não são dignos do Paraíso terrestre precisam ser regenerados, ainda que sob o terror. O intenso amor-próprio autocentrado, seguindo os passos de seu ídolo Rousseau, que se considerava a pessoa mais pura do mundo, ajudaria a justificar perante sua própria consciência seus terríveis crimes. Todos deveriam aceitar sua extrema virtude, por bem ou por mal. Em suma, um delírio de grandeza digno do divã do próprio Freud.
Os pobres haviam se tornado uma abstração coletiva, santificados por sua retórica, e seriam libertados por ele, o escolhido do povo. Nada poderia ficar no caminho entre ele e seus ideais. Quem eventualmente discordasse de alguma coisa, ainda que relativamente insignificante, seria visto como um “inimigo do povo”. Aquele que questionasse seus métodos era um traidor da Pátria, um contra-revolucionário. Até mesmo seu antigo amigo e aliado, Danton, seria vítima de sua paranóia e acabaria guilhotinado também. A soberania popular precisava predominar, já que a vontade do povo é tudo, a fonte da Justiça. E ele, Robespierre, falava em nome do povo.
A certeza de Robespierre parece total. Ele nunca demonstrava arrependimento de nada, jamais reconhecia publicamente algum erro. Como diz a historiadora, “se ele estivesse errado, o povo também estaria, e Rousseau assegurara-lhe que esse simplesmente não poderia ser o caso”. Mirabeau teria percebido essa perigosa convicção, comentando: “Esse homem vai longe, ele acredita em tudo o que diz”. E de fato, Robespierre foi mais longe do que qualquer um poderia imaginar. Ele foi um dos grandes responsáveis pela escalada de violência durante a Revolução, pelo degolamento do rei, pela prisão de milhares de inocentes, enfim, pela radicalização dos jacobinos que lançaram o país numa guerra civil sangrenta. Em nome da paz, Robespierre ajudou a criar o Tribunal Revolucionário, que acabaria condenando inúmeras pessoas à guilhotina pelos motivos mais banais.
Nada disso passou despercebido pelos seus oponentes, que o acusaram de várias coisas diferentes. O marquês de Condorcet, um dos deputados girondinos, escreveu que Robespierre tinha apenas uma missão, “falar, e fala incessantemente; ele cria discípulos”. Acrescentou ainda que ele “diz-se amigo dos humildes e dos fracos, deixa-se seguir por mulheres e pelos pobres de espírito, recebendo a adoração deles com seriedade”. Enfim, Robespierre seria um “padre e nunca será nada além de um padre”. Ele pregava para uma seita, despertava a reverência dos ignorantes, que o viam como instrumento para sua sede de violência. Robespierre ajudou muito a abrir os portões da barbárie. O povo “puro” se mostraria, de fato, uma turba de vândalos e assassinos.
O julgamento popular pregado por Robespierre seguia a ética do linchamento. Quem precisa de tribunais legais quando se tem o povo para julgar? Robespierre, defendendo a execução do rei, escreveu: “Um povo não julga como um tribunal. Ele não determina sentenças, mas arremessa raios; ele não condena reis, mas os atira no abismo; tal justiça é tão atraente quanto a justiça dos tribunais”. Adotando a estratégia do duplipensar descrita por Orwell, Robespierre tentou se convencer que violência era paz. Na defesa da permanência do Terror, ele escreveu: “O terror nada mais é do que justiça, imediata, severa e inflexível. Ele é, portanto, uma emanação da virtude, resultando da aplicação da democracia às necessidades mais prementes do país”. Para aquele que não se importava com indivíduos, apenas com o “povo”, o terror passou a ser um meio necessário para seu nobre fim.
Nada poderia abalar sua crença de que sua vida era realmente dedicada ao melhor para o povo, nem mesmo o banho de sangue em Paris e a miséria espalhada por toda França. Mais cansado e desiludido, Robespierre constatou que “existem poucos homens generosos que amam a virtude por si só e desejam ardentemente a felicidade do povo”, naturalmente se incluindo nesse grupo seleto. O fracasso da Revolução não poderia ser fruto dos meios adotados por ele; tinha que ser culpa dos próprios homens, que não eram tão virtuosos como ele próprio.
A mesma postura seria vista nos comunistas mais tarde, que, apesar da desgraça que sua ideologia trouxe ao mundo, jamais aceitariam culpar o próprio sistema defendido. Trata-se de uma verdadeira tirania da visão, onde somente eles possuem o monopólio da virtude. Quem não compartilha de suas crenças é um “inimigo do povo”, um burguês alienado, um egoísta insensível. Quantos crimes cometidos em nome da igualdade! O povo teria mais chances de viver melhor se aprendesse a desconfiar de todo aquele “profeta” que jura falar em seu nome. O grande problema é que o povo está muito longe de ser aquela maravilha idealizada por certos filósofos. Não é à toa que tiranias acompanham a humanidade desde sempre.
sexta-feira, janeiro 08, 2010
Programa Nacional Bolivariano
Rodrigo Constantino, para o Instituto Liberal
O presidente Lula assinou o decreto que criou o “Programa Nacional de Direitos Humanos”, apenas uma fachada para a “revolução bolivariana” em marcha no continente. O programa avança de forma escancarada sobre as mais básicas liberdades individuais, incluindo a propriedade privada. O governo está sugerindo quase trinta novas leis, assim como a criação de mais de dez mil novas instâncias burocráticas para empregar os camaradas. Os parasitas têm fome de recursos e poder!
Entre outras barbaridades, o governo tenta avançar rumo à “democracia” plebiscitária da Venezuela, um eufemismo para a velha ditadura da “maioria” – na verdade, uma minoria organizada que fala em nome do “povo”. Faz parte da agenda dos “direitos humanos” instituir o financiamento público de campanhas eleitorais também, para criar o “caixa três” dos grandes partidos. Resgatar a censura na imprensa é outra meta do programa. Rever a Lei de Anistia é outro objetivo, partindo para um “revanchismo” que ignora o papel dos guerrilheiros comunistas na escalada opressora da década de 1960. Os atuais “heróis” da democracia lutavam, na verdade, para instaurar no país uma ditadura como a cubana. Por fim, o programa pretende regulamentar a taxação das grandes fortunas, medida extremamente populista – e estúpida do ponto de vista econômico – que representa apenas a idealização da inveja, sentimento mesquinho típico dos socialistas.
Em suma, trata-se da aceleração do projeto “bolivariano” em curso no continente, cujo ícone máximo está na figura pitoresca de Hugo Chávez. A turma dos “direitos humanos” é assim mesmo: defende tudo aquilo que existe de mais abjeto no mundo. A cara-de-pau dessa gente não encontra limites: eles são capazes de falar em “direitos humanos” abraçando o ditador mais cruel do continente, o decrépito “El Coma Andante” de Cuba, ou então o louco Ahmadinejad do Irã. Para alguns defensores dos “direitos humanos”, Guantánamo parece um lugar mais apropriado...
terça-feira, janeiro 05, 2010
Esse tal de aquecimento global...
Maior nevasca das últimas seis décadas leva caos à Ásia
O Globo
PEQUIM e SEUL - A maior nevasca das últimas seis décadas gerou pânico entre passageiros de um trem na China. Blocos de até dois metros de neve e gelo interromperam uma viagem. Os 15 vagões do trem ficaram encobertos e quase 1,5 mil passageiros passaram mais de 30 horas sem calefação, à espera de um resgate. Na capital, Pequim, 300 mil pessoas foram convocadas às pressas para retirar neve das ruas com pás e vassouras, já que faltam máquinas para limpar as pistas.
O rigoroso inverno também fechou o aeroporto de Pequim e deixou milhares de passageiros ilhados na capital chinesa. Mais de 30 estradas foram fechadas no norte do país, assim como 3.500 escolas, deixando 2,2 milhões de estudantes sem aulas. Na Coreia do Sul, é a pior tempestade de neve nos últimos 70 anos. Uma camada de gelo de 26 centímetros cobriu Seul de branco, o que levou ao cancelamento de voos e caos ao trânsito da capital. Pelo menos três pessoas morreram. Na Índia, a onda de frio já matou cerca de 60 pessoas.
Uma megaoperação foi montada para manter a ordem na Coreia do Sul. Cerca de 3.600 trabalhadores foram deslocados para retirar a neve das estradas e das ruas. Além disso, cinco mil soldados foram enviados à capital e à província de Gyeonggi, segundo o Ministério da Defesa. O Aeroporto Internacional de Gumpo, a oeste de Seul, interrompeu temporariamente seus serviços: 224 voos foram cancelados antes que se retomassem as operações, à tarde, quando parou de nevar.
Em Pequim, a tempestade de neve que começou no fim de semana continuou provocando estragos ontem. Centenas de voos foram cancelados, e mais de 300 mil pessoas foram incumbidas de retirar o gelo das vias. A onda de frio no país deve continuar até meados da semana, e, no extremo norte, a temperatura pode cair até a 32 graus Celsius negativos. Sapporo, na ilha japonesa de Hokkaido, também ficou coberta de branco.
Onda severa de frio chega ao sul dos Estados Unidos
Nos EUA, as nevascas e as baixas temperaturas que causaram problemas no leste do país no fim de semana chegaram ontem ao sul. A onda de frio estendeu-se até mesmo à normalmente ensolarada Flórida, que viu as temperaturas caírem drasticamente ontem.
Uma tempestade despejou históricos 84 centímetros de neve em Burlington, a maior cidade de Vermont. A quantidade superou o recorde de 76 centímetros registrado em 1969. Estudantes de Ohio se viram obrigados a estender as férias de fim de ano devido às tempestades, que cobriram o estado com 30cm de neve no fim de semana e ameaçavam despejar outros 30cm nos próximos dias.
Comentário: Eu não gosto nem de pensar na hipótese do planeta enfrentar um esfriamento global...
Correlação e Causalidade
Rodrigo Constantino, Jornal O Globo
Uma falácia lógica muito comum é assumir que dois eventos que ocorrem em seqüência cronológica estão necessariamente interligados através de uma relação de causa e efeito. O galo canta antes do nascer do sol, mas este não nasce porque o galo canta. Infelizmente, a arte de manipular dados vem ganhando cada vez mais terreno, com efeitos nefastos para a sociedade. A estatística não pode ser a “refinada técnica de torturar os números até que eles confessem”.
Tomemos como exemplo a taxa de crescimento econômico nacional. Muitos, numa análise simplista, chegam à conclusão de que o governo Lula causou o crescimento acelerado dos últimos anos, sem levar em conta as inúmeras e complexas variáveis que influenciam tal crescimento, como, por exemplo, o contexto mundial. Crescer 4% ao ano enquanto os demais países emergentes crescem 6% ou mais não é um desempenho tão louvável assim. Se o preço das commodities que exportamos subiu, se houve uma abundância de capital no mundo, se a taxa de juros permaneceu artificialmente reduzida nos países desenvolvidos, nada disso faz parte desse julgamento superficial. Basta verificar o crescimento econômico e atribuí-lo à gestão atual, como se o mérito fosse do governo.
Não é assim que se faz uma análise séria. E quando colocamos uma lupa nos dados, com o auxílio de uma sólida teoria econômica, o que emerge pode ser oposto à intuição inicial. O governo Lula contou com muita sorte durante seu mandato, onde fatores externos, como o crescimento chinês, favoreceram bastante o país. Seu maior mérito foi não ter feito aventuras na macroeconomia. Já as reformas estruturais que poderiam ter colocado o Brasil na rota do crescimento sustentável foram todas deixadas de lado. Aquilo que o governo chama de medidas “anticíclicas” contra a crise não passa de estímulos insustentáveis à demanda agregada. Inchar os gastos públicos de forma permanente e expandir o crédito através dos bancos estatais não é receita de crescimento sustentável. Faltam investimentos produtivos e reformas estruturais, e os gargalos de sempre poderão limitar o crescimento a mais um vôo de galinha. O longo prazo foi sacrificado em prol do foco imediatista eleitoreiro.
O economista francês do século XIX, Frédéric Bastiat, chamou a atenção para aquilo que se vê, e aquilo que não se vê. Um bom economista deveria ser capaz de enxergar um horizonte distante, evitando as armadilhas da miopia. Somente assim ele poderia compreender o custo de oportunidade das medidas econômicas. Se o governo anuncia um programa de gastos através da impressão de moeda, ele deve alertar para a inflação à frente. Se o governo aumenta os repasses para famílias mais pobres, ele deve considerar o aumento dos impostos, que retira da iniciativa privada recursos que poderiam estar gerando novos empregos. Se o governo aumenta o salário mínimo, ele deve projetar seu impacto negativo no nível de emprego formal. Enfim, analisar as medidas do governo somente com base em seus efeitos imediatos é um perigoso equívoco.
A pergunta que todos deveriam fazer é: qual a alternativa? Se o governo não retirasse do setor privado determinado recurso, como este seria aplicado? Se o governo tivesse feito as reformas estruturais, qual teria sido o crescimento no período? Não basta comparar taxas de crescimento entre governos. Correlação não é causalidade. O sol não brilhou mais forte no Brasil porque o galo cantou mais alto; o galo é que está cantando mais alto porque o sol começou a brilhar mais.
Uma falácia lógica muito comum é assumir que dois eventos que ocorrem em seqüência cronológica estão necessariamente interligados através de uma relação de causa e efeito. O galo canta antes do nascer do sol, mas este não nasce porque o galo canta. Infelizmente, a arte de manipular dados vem ganhando cada vez mais terreno, com efeitos nefastos para a sociedade. A estatística não pode ser a “refinada técnica de torturar os números até que eles confessem”.
Tomemos como exemplo a taxa de crescimento econômico nacional. Muitos, numa análise simplista, chegam à conclusão de que o governo Lula causou o crescimento acelerado dos últimos anos, sem levar em conta as inúmeras e complexas variáveis que influenciam tal crescimento, como, por exemplo, o contexto mundial. Crescer 4% ao ano enquanto os demais países emergentes crescem 6% ou mais não é um desempenho tão louvável assim. Se o preço das commodities que exportamos subiu, se houve uma abundância de capital no mundo, se a taxa de juros permaneceu artificialmente reduzida nos países desenvolvidos, nada disso faz parte desse julgamento superficial. Basta verificar o crescimento econômico e atribuí-lo à gestão atual, como se o mérito fosse do governo.
Não é assim que se faz uma análise séria. E quando colocamos uma lupa nos dados, com o auxílio de uma sólida teoria econômica, o que emerge pode ser oposto à intuição inicial. O governo Lula contou com muita sorte durante seu mandato, onde fatores externos, como o crescimento chinês, favoreceram bastante o país. Seu maior mérito foi não ter feito aventuras na macroeconomia. Já as reformas estruturais que poderiam ter colocado o Brasil na rota do crescimento sustentável foram todas deixadas de lado. Aquilo que o governo chama de medidas “anticíclicas” contra a crise não passa de estímulos insustentáveis à demanda agregada. Inchar os gastos públicos de forma permanente e expandir o crédito através dos bancos estatais não é receita de crescimento sustentável. Faltam investimentos produtivos e reformas estruturais, e os gargalos de sempre poderão limitar o crescimento a mais um vôo de galinha. O longo prazo foi sacrificado em prol do foco imediatista eleitoreiro.
O economista francês do século XIX, Frédéric Bastiat, chamou a atenção para aquilo que se vê, e aquilo que não se vê. Um bom economista deveria ser capaz de enxergar um horizonte distante, evitando as armadilhas da miopia. Somente assim ele poderia compreender o custo de oportunidade das medidas econômicas. Se o governo anuncia um programa de gastos através da impressão de moeda, ele deve alertar para a inflação à frente. Se o governo aumenta os repasses para famílias mais pobres, ele deve considerar o aumento dos impostos, que retira da iniciativa privada recursos que poderiam estar gerando novos empregos. Se o governo aumenta o salário mínimo, ele deve projetar seu impacto negativo no nível de emprego formal. Enfim, analisar as medidas do governo somente com base em seus efeitos imediatos é um perigoso equívoco.
A pergunta que todos deveriam fazer é: qual a alternativa? Se o governo não retirasse do setor privado determinado recurso, como este seria aplicado? Se o governo tivesse feito as reformas estruturais, qual teria sido o crescimento no período? Não basta comparar taxas de crescimento entre governos. Correlação não é causalidade. O sol não brilhou mais forte no Brasil porque o galo cantou mais alto; o galo é que está cantando mais alto porque o sol começou a brilhar mais.
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