domingo, setembro 03, 2006

De Adam Smith para Lula



Rodrigo Constantino

Adam Smith nasceu em 1723 na Escócia, e é conhecido pelo seu estudo sobre a riqueza das nações. Entretanto, não foi apenas a economia que despertou o interesse do autor. Ele dedicou boa parte do seu tempo às reflexões sobre a natureza humana e seus aspectos morais. Em 1759, publicou Teoria dos Sentimentos Morais, sua obra-prima em termos filosóficos. Os ensinamentos de Smith sobre economia seriam fundamentais para o presidente Lula, que ignora inúmeras lições já disponíveis naqueles tempos. Mas é sobre o aspecto moral que Smith mais teria a falar com Lula atualmente. Esse artigo pode ser encarado como um recado de Adam Smith para Lula.

“Nas cortes de príncipes, nos salões dos grandes, onde sucesso e privilégios dependem, não da estima de inteligentes e bem informados iguais, mas do favor fantasioso e tolo de presunçosos e arrogantes superiores ignorantes; a adulação e falsidade muito freqüentemente prevalecem sobre mérito e habilidades. Em tais círculos sociais, as habilidades em agradar são mais consideradas do que as habilidades em servir”. Não há como ler esta passagem e ignorar que o governo Lula loteou milhares de cargos levando em conta somente fatores ideológicos ou mesquinhos, distribuiu privilégios aos montes, garantiu o emprego de seus “camaradas” abandonando completamente os critérios de capacidade de gestão. O presidente do Instituto do Câncer, para dar apenas um exemplo, foi apontado somente por ser de esquerda, e o resultado foi caótico. O Todo-Poderoso cerca-se de bajuladores, alia-se aos “caciques” da velha política, aparelha o Estado com seus companheiros de ideologia, acabando com o único critério que realmente deveria ser levado em conta: a meritocracia.

“O homem ambicioso se engana ao pensar que, na esplêndida situação para a qual avança, deterá inúmeros meios para governar o respeito e admiração dos homens, e se permitirá agir com tão superior conveniência e graça, que o lustre de sua futura conduta encobrirá ou apagará inteiramente a podridão dos passos pelos quais chegou até esse cume”. Lula é extremamente ambicioso – e megalomaníaco. Se compara freqüentemente aos grandes nomes da humanidade. Mesmo envolto em inúmeros escândalos de corrupção, afirma ser o homem mais ético do país. Com seu tom messiânico, falando às massas ao mesmo tempo que distribui esmolas com dinheiro alheio, espera que a história vá absolvê-lo dos meios espúrios utilizados para sua chegada e permanência no poder. Não vai. A maioria de um povo ignorante e miserável pode até levá-lo ao poder novamente, mas os fatos não mudam. O trajeto do chão da fábrica até o Palácio do Planalto está repleto de esterco. Para essa gente, os fins justificam os meios. Mas o rastro de podridão não será apagado com o apoio popular. “A honra de sua elevada posição aparece tanto a seus próprios olhos quanto aos das outras pessoas, corrompida e maculada pela baixeza dos meios pelos quais ascendeu até ela”.

“No meio de toda a luxuosa pompa da grandiosa ostentação; no meio da venal e vil adulação dos grandes e eruditos; no meio das mais inocentes, ainda que mais tolas, aclamações de gente comum; no meio de todo o orgulho pela conquista do triunfo pela guerra bem sucedida, ainda é secretamente perseguido pelas vingativas fúrias da vergonha e do remorso; e, enquanto a glória o parece rodear por todos os lados, ele próprio, em sua imaginação, vê a negra e podre infâmia vindo rápida em sua perseguição, pronta a atacá-lo pelas costas, a qualquer momento”. De fato, o pobre operário rapidamente se acostumou com o luxo, com aviões caros, tecidos importados do Egito, tudo que o dinheiro pode comprar. De fato, o apedeuta regozija-se com a adulação de eruditos, dos artistas e intelectuais em busca de mais verba estatal. De fato, as aclamações das massas parecem música para o ouvido do “pai dos pobres”, assim por ele mesmo definido. Só não sei se concordo com Adam Smith a respeito de sua consciência da perseguição da infâmia, pronta a atacá-lo pelas costas. Gostaria de crer que Lula ao menos vive aflito com isso tudo, com o medo da “negra e podre infâmia” vindo em sua direção. Isso pelo menos seria um castigo por tanto mal infligido ao povo através de seu populismo. Mas infelizmente, algo me diz que nem mesmo para a infâmia Lula liga. Espero estar errado e que, uma vez mais, Adam Smith esteja certo. Assim, Lula estaria sendo ao menos perseguido secretamente pelas vingativas fúrias da vergonha e do remorso...

7 comentários:

Anônimo disse...

Eu também discordo de Smith sobre o remorso de tipos ideológicos, pois que desprezam completamente a consciência individual, amparando-se na "consciência coletiva" ou "consciência grupal". Ou seja, efetivamente nada julgam mas apenas se acomodam no apoio grupal, na "consciência externa/externada" do grupo ou, digo, na manifestação de seus pares.
É desta mesma forma que as notórias gangs se comportam. Seus integrantes seguem a moral (os valores grupais) estabelecidos para a gang (grupo) desprezando completamente o meio externo ao grupo para seguir o que é valorizado entre os pares. Este tipo de coisa favorece a que fins justifiquem o arbítrio dos meios, pois que no grupo haverão "fins supremos" ou "valores supremos" segundo a ,oral grupal, que permitirá inclusive a absoluta hipocrisia, incoerência, o descaramento para mentir e estabelecer 2 pesos e duas medidas, em nome da união corporativa conveniente onde os pares não se julgam enquanto inseridos no grupo; até a criação de grupos aparentados, embora com pequenas divergências.
Estes tipos asquerosos não têm consciência individual, apenas objetivos e entre estes o de pertencer a um grupo de apoio.
(o indivíduo arrebanhado em um grupo de apoio será capaz de praticar atrocidades que não se permitiria caso sozinho, sem o apoio do grupo - sua consciência impediria - da mesma forma se permite o descaramento para contrariar os fatos com a mais deslavada cara de pau)
Anbraços
C. Mouro

Reginaldo Macêdo de Almeida disse...

Rodrigo,

Eu muitas vezes me pergunto se o Apedeuta é apenas apedeuta. Mas na verdade creio que ele já está tão acostumado a mentir e escutar mentiras na sua realidade nefelibata (e chamava o FH desse adjetivo), que ele realmente crê que é o novo messias, e por isso pode tudo. Nenhum dos seus deslizes, se cometido por um "enviado de Deus", é um deslize, e sim um caminho a ser percorrido.

Esse homem pensa que as urnas o inocentam, mas como você mesmo disse, re-escrever a história é um pouco mais difícil que maquiar o presente. Cêdo ou tarde o Lula vai ter que acertar as contas com o seu passado...

Blogildo disse...

Acho que na conclusão eu fico contigo, Rodrigo! Adam Smith ficaria surpreso ao conhecer essa figura chamada Lula. Um ser que usa óleo de peróba como loção pós barba...

Anônimo disse...

Ao Apedeuta eu recomendaria uma breve, apenas breve, leitura das profecias Malthusianas. Talvez sob a luz do Reverendo Elle consiga enxergar o fim trágico que reserva a aqueles beneficiários dos programas assistencialista do governo.

Anônimo disse...

Já havia esterco antes do chão da fábrica. Muito antes. É só conversar com um conterrâneo dele.

Anônimo disse...

Não sei o que é pior se Lula que cedeu às tentações da corte, ou se a existência da própria corte! De qualquer forma, faltou um pouco da vida, do cotidiano de Adam Smith, porque se ele fosse como Voltaire filósofo da mais alta estirpe que investia em companhias de escravocratas aí...

Unknown disse...

Rodrigo, tu mesmo és um bajulador dos menos qualificados!

Se fossem os pseudo-direitas no poder, estarias bajulan todos eles atrás das tetas do Estado!