segunda-feira, setembro 04, 2006

Lucas, o Socialista



Rodrigo Constantino

Uma das vantagens de ter filha pequena é que posso ver todos os filmes infantis sem precisar disfarçar ou arrumar um pretexto qualquer. Adoro tais filmes! Alguns passam mensagens bem interessantes, além de tudo. Em Formiginhaz, por exemplo, o personagem principal questiona a ausência de liberdade onde tudo é feito pelo bem da colônia. Ele reclama que não se recebe muita atenção sendo o filho do meio de 5 milhões de irmãos. Não é a mesma mensagem que Lucas, Um Intruso no Formigueiro tenta passar, usando as formigas como tema também. Nesta produção de Tom Hanks, o inseto gregário é um ícone da perfeição, um ideal a ser perseguido pelos humanos individualistas.

Justiça seja feita com os autores, existem algumas boas mensagens no filme. Lucas era um garoto que apanhava de um vizinho maior e não tinha amigos, descontando depois sua raiva nas formigas, menores que ele. Quando ele fica, através de um feitiço, do tamanho das formigas, sendo obrigado a trabalhar na colônia delas, passa a ver o mundo por outra ótica. Aprende valores sobre o trabalho em equipe, a amizade, a coragem e o valor da comunidade. Aprende ainda sobre o abuso de poder, pois entende que pelo fato das formigas serem insignificantes em tamanho perante ele, isso não lhe dá o direito de fazer com elas o que quer. Ele passa, enfim, a enxergar as coisas pela ótica dos outros. Tudo bem, até aqui.

O problema é quando o coletivismo passa a ser enaltecido no filme de forma escancarada. Cada formiga é apenas um meio para o fim maior, o bem-geral da colônia e da rainha. Tudo que importa é satisfazer as necessidades da colônia como um todo. Algumas formigas são operárias, outras são militares, há uma grande divisão de tarefas, mas tudo isso voltado apenas para o bem da colônia e da rainha. Esta pode ser a realidade dos insetos gregários, mas nunca deveria ser a finalidade para os humanos. Indivíduos não são meios sacrificáveis, e sim fins em si próprios. Cada um deve ser livre para buscar a sua própria felicidade, de forma individual, ainda que respeitando as regras gerais e sem sacrificar outros no caminho. Mas o objetivo final é a satisfação dos interesses particulares de cada um, ainda que o resultado de tal individualismo seja positivo para o todo. Afinal, uma mão invisível faz com que o trabalho de cada um, na busca dos próprios interesses, favoreça o coletivo. Temos carne não pela benevolência do açougueiro, mas sim porque ele está tentando atender suas próprias demandas.

Há uma aparente contradição no filme, que tenta elevar esse coletivismo ao patamar de ideal. Em determinada situação, Zoc, a formiga feiticeira, deixa-se ser engolido por um sapo para tentar salvar Lucas, pois sua namorada gostava bastante do menino. Após ele salvar o garoto, este o agradece, no que Zoc diz não ter feito tal ato pelo garoto, mas por amor a sua namorada. Pelo visto, até mesmo os mais coletivistas, no fundo, querem apenas atender suas próprias necessidades. O amor que moveu Zoc na direção do perigo não foi um amor pela colônia ou pela rainha, mas sim por sua namorada. Nada mais individualista. Nada mais belo!

Coletivistas sonham com um mundo onde homens não seriam mais homens, mas sim formigas, labutando pelo bem da colônia, onde eles, os coletivistas, seriam os manda-chuvas, os reis e rainhas. Todos são iguais, mas uns mais iguais que os outros. Todos podem ser sacrificados pelo bem-geral, mas não eu. Todos devem aceitar, ainda que na marra, tal destino. Lucas seria um escravo até virar uma formiga, ou seja, um altruísta. Todos devem ser abnegados, servindo apenas a colônia. Eu sou a colônia! Eis a mentalidade de um coletivista, na verdade. Querem o altruísmo alheio, em benefício próprio. Querem impor suas preferências goela abaixo dos individualistas. Quem não aceita, que vá para um Gulag! São autoritários. Querem o fim do individualismo... dos outros. Lucas era um ser muito imperfeito. Um humano, afinal. Ao término do filme, a reforma de sua alma estava completa. Lucas era uma formiga. A doutrinação completara-se. Lucas era um socialista.

6 comentários:

Anônimo disse...

Interessante. Algumas pessoas se aproveitam do fato de que termos evoluido apartir dos animais para a condição humana e esquecem daquilo que nos diferencia dos animais.

Acham que devemos nos comportar como formigas ou qualquer outro bicho gregário ignorando o óbvio: somos humanos,somos diferentes.

é apagar milênios da evolução humana. Tem sempre algum, esquerdista tentando isso: reenventar o ser humano.

Resultados: O Khmer vermelho e os "killing fields", Stalin e o "gulag" e por ai vai.....

Anônimo disse...

[...]"Esta pode ser a realidade dos insetos gregários, mas nunca deveria ser a finalidade para os humanos." [...] (sic)

Esta frase foi perfeita! Sintetizou o texto por completo e ainda serve de argumento contra qualquer vermelho metido a visionário que queira discutir civilizadamente (coisa raríssima).
Parabéns.

Anônimo disse...

Rodrigo
Não creio serem incompatíveis a liberdade econômica e a presença do Estado.O problema aparece quando se tenta reduzir tudo à dicotomia Estado Máximo X Estado Mínimo. Melhor seria então falar em Estado eficiente: um estado pequeno, racional, suficiente para colocar em prática, políticas sociais básicas.Políticas que signifiquem a oferta de instrumentos –educação, saúde e emprego - que possibilitem aos mais pobres a igualdade de oportunidades.O que não é pouco.
O que eu quero afirmar é que, ao contrário do que tenta argumentar a esquerda ,a liberdade econômica é perfeitamente compatível com o que chamamos de "inclusão social"...É a liberdade econômica que promove o crescimento, e, com ele, a oferta de empregos. O papel do governo será o de implementar políticas sociais efetivas que possibilitarão a inserção do maior número possível de pessoas neste processo.

Mas o Brasil está muito longe de perceber isto.Ao lado da pequena vocação do nosso empresariado para os riscos da livre-iniciativa, temos a ineficiência secular do Estado.O que trava o progresso econômico e gera receio dos empreendedores econômicos mais dinâmicos é a onipresença e a ineficiência do Estado, com suas políticas indefinidas, com sua sanha tributária, com sua regulamentação excessiva, com sua corrupção desenfreada, com seu incontrolável desperdício de dinheiro, com suas dívidas impagáveis, com seu assistencialismo exagerado e inútil.
O Estado eficiente tem que priorizar as questões sociais, mas não da forma paternalista e assistencialista que tem predominado, por exemplo, no atual governo.É preciso trocar a mera política de se dar o peixe pela de ensinar a pescar, isto é, é preciso trocar o mero assistencialismo por uma política de investimento social. E investimento social se faz prioritariamente com educação. Portanto, o desenvolvimento do país a que todos aspiramos, depende fundamentalmente de três fatores : primeiro, que o Estado diminua de tamanho e aumente a sua eficiência; segundo, que empresários e trabalhadores, libertos da tutela do Estado, saibam se inserir na dinâmica do livre-mercado; terceiro,que o Estado, livre das tarefas que podem perfeitamente serem executadas pela iniciativa privada, abandone também as "políticas sociais " meramente paliativas e invista recursos e esforços num novo modelo de educação, numa tentativa de fazer com que milhões sejam inseridos no mercado de trabalho e nos quadros da cidadania.
Um abraço

Anônimo disse...

...HEHEHE!
A desgraça é que as "boas pessoas" justificam os meios pelos alegados fins. Cada um sabe o que se deve fazer para obter o resultado ideal e até idealizado. Há uma infinidade de totalitários democratas que ACHAM que o governo (direigentes) deve coagir e explorar os súditos desde que pela causa que aprovam, e até são os donos do arbítrio ideal. ...hehehe!
Ora, se dão ao Estado o direito de fazer o que eles ACHAM o certo como meio de atingir o fim que também ACHAM certo, a questão é apenas diferenças entre achismos, mas não de principios. É mais ou menos como não se posicionar contra o estupro defendendo apenas que o estuprador coloque só a "cabecinha". ...Por vezes sinto vergonha de ser humano! é terrível ter semelhantes tão desprovidos do senso de certo e errado, justo e injusto.
A podridão ideológica, de toda e qualquer ideologia, perverteu toda e qualquer noção de justiça, de direito, substituindo-os por uma idéia de "praxis" para pretensos (ou meramente alegados) fins.
As ideologias,todas, foram concebidas em funão do Poder, que necessita que os fins justifiquem os meios para que possa existir em sua totalidade.
Por séculos a podridão moral persistirá em nome de apregoados fins. ISSO É IDEOLOGIA! ISSO É CONSEQUENCIA DE VALORES IDEOLÓGICOS!
Abraços
C. Mouro

Anônimo disse...

Coletivismo é escravidão...

Alvaro Augusto W. de Almeida disse...

Como disse Arthur C. Clarke, "O socialismo é uma ótima idéia. O problema é que só funciona para as formigas e outros insetos sociais..."

[ ]s

Alvaro Augusto
http://alvaroaugusto.blogspot.com