terça-feira, fevereiro 22, 2011

Considerações importantes na escolha de um gestor

Rodrigo Constantino, Valor Econômico

Uma conferência recente de um grande banco de investimento, com os principais executivos das empresas brasileiras de capital aberto, suscitou reflexões acerca da competitividade da indústria de gestão de recursos no país.

O evento estava completamente lotado, com vários rostos novos enchendo o local. Com baixa barreira à entrada, diversas gestoras de recursos nasceram nos últimos anos. Com o grosso do capital nas mãos de poucos distribuidores, alguns negócios crescem exponencialmente, mas a taxa de mortalidade também é elevada.

Como sobreviver e oferecer bom retorno ao longo do tempo nesse setor tão dinâmico e concorrido? Abaixo, pretendo abordar dez pontos que julgo relevantes na hora de escolher um bom gestor de recursos.

1) O alinhamento de interesses é fundamental. Muitas gestoras começam a entregar resultados medíocres porque se transformam em negócios de taxa de administração, perdendo o foco na performance. O ideal é buscar gestores com boa parcela de seu patrimônio nos mesmos fundos dos clientes, e com parcela elevada de capital próprio no total gerido.

2) Investir em capital humano é crucial. Esse negócio depende basicamente das pessoas, e as gestoras que não souberem atrair os melhores, treiná-los e mantê-los motivados dificilmente terão condições de se destacar no longo prazo.

3) A ética das pessoas envolvidas na gestão é fator preponderante na hora de escolher o gestor. Alguns gestores podem parecer superiores aos demais por algum período, mas sem confiança em sua postura ética, cedo ou tarde alguma decepção grande será inevitável.

4) A meta deve ser correr uma maratona, não os cem metros. Os gestores devem ter em mente que um negócio bem-sucedido se constrói ao longo do tempo, gradativamente e com cautela. A tentação de crescer de forma muito acelerada deve ser evitada para se preservar o retorno e o foco no longo prazo.

5) O resultado dessa postura é uma administração cuidadosa do passivo. A concentração elevada em poucos e grandes distribuidores representa risco excessivo para o negócio, pois as reviravoltas no desempenho são inevitáveis, e os resgates em massa de clientes descompromissados podem afetar drasticamente as chances de sobrevivência.

6) Basta olhar em volta para ter ideia de quanta gente preparada, inteligente e disposta a trabalhar duro existe no setor. O corolário disso é que o gestor deve sempre manter extrema humildade, respeitando o mercado. Isso não quer dizer, naturalmente, que este estará sempre certo. Ser um pensador independente e assumir posturas contrárias aos movimentos de manada costumam render bons resultados, especialmente em apostas assimétricas. Mas a arrogância pode ser fatal nessa indústria.

7) Depender da "genialidade" de um gestor pode representar um perigo gigantesco. O melhor é contar com uma equipe capaz e disposta ao trabalho árduo, reconhecendo os limites do poder de previsão do futuro. O processo de decisão deve ser mais importante que o brilhantismo de um único indivíduo.

8) Existem diversas maneiras de se ganhar dinheiro nos mercados, e mais ainda de se perder. Acredito que mais de uma estratégia pode ser vencedora, e o mais importante é adequá-la ao perfil dos gestores. Dependendo da tolerância ao risco, da personalidade, do horizonte, tipos distintos de gestão podem fazer sentido. Tanto a abordagem macro quanto a micro, ou então um misto delas, podem funcionar. Não existe somente uma estratégia certa. O importante é focar nas vantagens competitivas da equipe.

9) O controle de custos é importante e pode ser observado em alguns detalhes aparentemente sem importância. Gestoras que se mostram descuidadas com o dinheiro, gastando muito com bobagens, estão desperdiçando recursos escassos e afetando o retorno dos clientes. É preciso estar preparado para o inverno, pois ele é inexorável nesta indústria, e mesmo os melhores gestores enfrentam momentos delicados de desempenho pífio.

10) Por fim, a sorte é sempre bem-vinda. Claro que quanto mais se trabalha, mais a sorte costuma aparecer. Gestão não é cassino, e quem busca adrenalina deve ir para Las Vegas. Mas é importante reconhecer o papel da sorte no resultado final, até para reforçar a postura humilde diante dos mercados.

Mais importante do que estar certo o tempo todo - tarefa impossível na prática - é ganhar muito quando acertar, e limitar bastante o prejuízo quando errar. Disciplina é crucial, pois os mercados podem permanecer irracionais por mais tempo do que o gestor solvente. Boa sorte a todos!

6 comentários:

Unknown disse...

Rodrigo , você não acredita que a escalada da inflação pode ter alguma relação com um aumento da base monetária feita pelo BC nos anos que se seguiram ?

Anônimo disse...

Ai...lendo esse post seu me dá uma agonia... cara sabe, sou uma pequena franqueada da ECT e Rodrigo, cara, destruíram a empresa. Você foi profundamente feliz nesta frase "Gestão não é cassino, e quem busca adrenalina deve ir para Las Vegas". Pena que quem comanda a ECT não saibar ler, muito menos gerir.
Obrigada pelo seu blog.

Vergilio disse...

Olá Rodrigo,
Acredito que são muitos aventureiros financeiros e advogados que sequer sabem o que é uma empresa e o que produzem? Esse pessoal está mesmo é preocupado com meia dúzia de formulas financeiras como ROI, ROA e EBTIDA e muito pouco com produtos e seus “valores de uso”. Acreditam no tal “valor de mercado” e mais nada. Ciência aplicada visando a inovação que cria dinheiro novo e desenvolve o país necas.
Nesta semana a revista Exame estampou na capa a cara do André Esteves do BTG Pactual. Outro de quem se fala muito é o Eike Batista, mas será que esses caras tem empresas que produzem alguma coisa para ser vendida e gerar dinheiro para lhes pagar pelo direito de existirem ou seja, Receita= Custo+Lucro ou Lucro = Receita –Custo, ou são todas empresas virtuais que quando muito tem papeis sem lastros nas bolsas de valores de mercado? Alguém já viu algum produto ou algum dinheiro dessas empresas? Se alguém pedir será que eles tem o que mostrar?

CPC disse...

Constantino, o mercado não é assim autônomo, como o Deus dos evengélicos, que sente raiva, se vinga, castiga, perdoa, se compadece. Mercados, apesar de serem o Deus dos liberais, são apenas uma regra de comportamento mais ou menso importante em ambiente capitalista. Isso está no rumo do fim.

Anônimo disse...

'Isso está no rumo do fim'

Eita mas esse fim é demorado hein? Tem séculos que os esquerdinhas repetem isso e esse fim nunca chega.
ntsr.

CPC disse...

Anonymous, não se trata de ser esquerdinha. A rigor, não existe um só exemplo de economia de mercado, hoje. Os princípios do Estado LIbereal não produzem um sistema de normas infraconstitucional correspondente. Vemos mesmo é constituições construídas com mandamentos liberais convivendo com mandamentos sociais, lado a lado. Mas, a produção infraconstitucional está indo pelos ventos sociais. Veja o Código do Consumidor e pelo menos uns trinta incisos do art. 5º da CF. Observe o orçamento público e verifique as leis tributárias. Vjea no que se desdobrou a tal função social da propriedade. Você se afasta da discussão séria...