terça-feira, maio 15, 2012

O casamento é para todos

João Pereira Coutinho, Folha de SP

TENHO PENSADO ultimamente nas vantagens da poligamia. O amor exige fidelidade e exclusividade?

Admito que sim. E também admito que existe uma certa nobreza na velha ideia platônica de que somos seres incompletos, em busca da outra metade que nos falta. Os românticos não inventaram nada. Limitaram-se a ler "O Banquete".

Mas, por outro lado, não é justo, nem fácil, nem humanamente possível exigir de uma mulher que ela seja tudo e o seu contrário. Boa amante. Ótima confidente. Excelente dona de casa. Mãe aprumada. Parceira intelectual distinta. Enfermeira nas horas funestas.

A mulher perfeita não existe. Ou, melhor dizendo, ela existe, sim. Só que é composta por várias mulheres distintas.

Anos atrás, em viagem pelo Marrocos, visitei um amigo que me levou a conhecer as suas duas famílias: uma em Casablanca, a outra em Agadir.

A primeira mulher era a encarnação perfeita da sensualidade magrebina -olhos negros, cabelo idem, lábios generosos e carnudos. Cinco minutos bastaram para perceber a função daquela senhora na vida daquele homem feliz.

A segunda mulher era menos exuberante (digamos assim); mas fazia um cuscuz como só voltei a provar em viagem recente ao Nordeste do Brasil. Tão diferentes, mas tão complementares.

Fiquei convencido sobre as vantagens do arranjo. E antes que a leitora me acuse de machismo obscurantista, esclareço já: quem fala em poligamia fala em poliandria.

Nenhum homem pode ser tudo para uma só mulher. Por isso esperava um pouco mais das declarações de Barack Obama sobre o casamento gay -mais do que apenas "hélas" sobre o casamento gay.

O presidente americano, em gesto inédito para ano eleitoral, disse na televisão que "evoluiu" sobre o assunto. É agora favorável à união matrimonial de lésbicas e homossexuais, embora deixe para os Estados a decisão final sobre o assunto.

O raciocínio de Obama é conhecido: quem somos nós, a maioria heterossexual e opressora, para negar a felicidade a duas pessoas do mesmo sexo que querem se casar?

Eis, em resumo, a essência do pensamento progressista. Um pensamento que os filósofos Sherif Girgis, Robert P. George e Ryan T. Anderson analisaram no melhor ensaio que conheço sobre o tema: "What is Marriage?".

O casamento, para o pensamento progressista, é uma mera construção social, sem uma história ou um propósito distintos. O casamento deve apenas basear-se no afeto; e basta que exista afeto entre dois seres humanos adultos para que o Estado reconheça o vínculo matrimonial, distribuindo direitos e deveres pelos cônjuges.

O problema, escrevem os autores do ensaio, é que essa definição sentimental de casamento não pode se limitar a lésbicas e homossexuais.

Se o casamento pode ser tudo o que quisermos, não há nenhum motivo para recusar o privilégio a um homem que queira se unir a várias mulheres. Ou a uma mulher que queira se unir a vários homens.

O próprio Obama deveria saber disso: só nos Estados Unidos, é possível que existam mais de 500 mil relações poligâmicas, informava há tempos a revista "Newsweek", citada no ensaio. O número de homossexuais que desejam casar-se é superior a esse número?

Talvez. Mas falamos de um princípio, não de uma questão numérica: se 500 mil relações poligâmicas vivem à margem da lei, não devemos também respeitar a felicidade -no fundo, o "afeto" dessa vasta legião de apaixonados?

Por mim, ficaria encantado. Até porque as relações poligâmicas não vivem apenas à margem da lei. Elas são punidas pela lei. Eu invejo o meu amigo marroquino. Mas, se pretendesse imitar o seu modo de vida, casando-me com duas donzelas da minha preferência, a Justiça não perdoaria o crime.

Moral da história? O mundo não acaba com os direitos dos homossexuais. E não é possível defender o casamento gay sem defender também todas as outras formas de união conjugal. Abrir uma exceção é abrir todas as exceções. Negar isso é perpetuar a intolerância.

Espero que o presidente Obama continue a "evoluir" sobre o assunto e nos brinde em breve com a defesa apaixonada que a poligamia merece.

7 comentários:

Anônimo disse...

quem pensa não casa.

Anônimo disse...

O ministério da saúde adverte, ter duas esposas causa infarto e falência múltiplas de contas bancárias.

Anônimo disse...

Com certeza a sua queridinha ANVISA vai proibir.

Anônimo disse...

Quem foi mesmo que disse...
'a pior punição de Deus para um adúltero é ter duas sogras'
?

Anônimo disse...

Falando sério, casamento pra mulher é a melhor coisa do mundo, pro homem é fazer papel de otário
Casamento é um contrato onde o homem não leva vantagem NENHUMA, ele é obrigado a sustentar o bagulho todo e se não der certo ela leva metade de tudo que ele tem e ainda leva os filhos
E o pior que as vezes nem um contrato é, pra variar a escória imunda que faz o governo já vem com a conversa de que tantos anos com a mesma vadia é a mesma coisa que casamento
E aí só o que tem é adEvogado aconselhando essas dai a guardarem bilhetinho, cartãozinho, pra provar que namoravam o otário e poder arrancar tudo dele
Saiam da matrix, mulher não gosta de homem bonzinho.Esses só servem pra pagar as contas enquanto elas ficam dando pros machos alfa pelas costas.
ntsr.

Anônimo disse...

Algumas facções vão adorar a defesa do Coutinho! Mais oferta de pensões judiciais de otários poliapaixonados!

A melhor alternativa (a mais econômica)para esses poliotários é aquela cuja profissão dizem ser a mais antiga do mundo!

xará disse...

Exemplo infeliz o autor do artigo tomou. Lá só homem pode ter vários cônjuges, a mulher não. Sem falar no machismo extremo desses países.