terça-feira, outubro 31, 2006

Nova entrevista minha para o "Fora Lula"

Nova entrevista minha para o "Fora Lula"

Após a boa repercussão da minha primeira entrevista para o podcast da comunidade "Fora Lula", com cerca de mil ouvintes e positivo feedback, gravamos uma segunda rodada, já comentando a infeliz vitória de Lula e concomitante derrota do bom senso. São aproximadamente 40 minutos de bate-papo entre mim, Fernando, Sérgio e Conde. Caso aprovem o conteúdo de forma geral, favor repassar para suas listas. A luta para 2010 já começou!

http://www.twango.com/media/foralulaorkut.podcast/foralulaorkut.10006

Rodrigo

sexta-feira, outubro 27, 2006

Gêmeos Coloridos



Rodrigo Constantino

Em um caso raro, nasceram dois gêmeos ingleses com tonalidades de pele diferentes. Um deles é negro, o outro é branco. Um puxou mais a cor da mãe, o outro a do pai. Não obstante, irmãos gêmeos, compartilhando da mesma herança genética. Além disso, serão criados sob o teto da mesma família, educados pelos mesmos pais, recebendo os mesmos valores. Mas fossem eles bebês brasileiros, haveria na verdade uma enorme diferença: o bebê mais branquinho já nasceria com uma “dívida histórica” para com o outro de pele mais escura. Eis o que o governo brasileiro tem feito com o regime de cotas.

Não há nada mais racista que as cotas, já que utilizam como critério justamente a suposta “raça” para garantir privilégios para certos indivíduos. Os “argumentos” em prol das cotas são todos falaciosos. Nada irá justificar um privilégio calcado na cor da pele em detrimento de indivíduos inocentes, pagando um preço somente pela pele mais branca. Escravizar inocentes hoje para compensar a escravidão passada é injusto, e não se combate uma injustiça com outra. O nascimento destes gêmeos apenas reforça os absurdos presentes nas premissas usadas para defender algo tão racista como as cotas, que fomenta e alimenta o racismo. Esses dois irmãos gêmeos seriam incitados pelas leis idiotas e racistas a alimentar um ressentimento mútuo. E se o irmão de pele mais clara estudasse mais e se esforçasse mais, ainda assim poderia perder para o outro irmão uma vaga numa universidade brasileira, somente porque nasceu mais branco.

Que tipo de governo fomenta este tipo de coisa? O tipo que usa uma sociedade segregada, dividida, para manter-se no poder. Um governo que gosta de separar os indivíduos em grupos antagônicos e jogar uns contra os outros, seja pobres contra ricos, negros contra brancos etc. O tipo de governo que vive, feito parasita, às custas do caos da sociedade. Enfim, esse tipo de governo que terá mais 4 anos para aumentar o estrago no já carente povo brasileiro...

quinta-feira, outubro 26, 2006

Minha Entrevista no Podcast da "Fora Lula 2006"

Na sétima edição do podcast da comunidade Fora Lula 2006, eu fui o entrevistado. Falei bastante (cerca de 40 min) sobre o Liberalismo e das dificuldades de transformar o Brasil num país mais livre. Segue o link para quem tiver interesse. Não é vírus!

http://www.twango.com/media/foralulaorkut.public/foralulaorkut.10001

Rodrigo

quarta-feira, outubro 25, 2006

O Nazista em Allende



Rodrigo Constantino

“Quem não é são física e psiquicamente, e, por sua vez, não é digno, não tem o direito a eternizar sua miséria em um filho; o Estado deve permitir que só saudável venha a ter família.” (Adolf Hitler, em Minha Luta)

Em meu último artigo, Socialismo e Nazismo, mostrei com sólidos argumentos os claros paralelos entre o socialismo e o nazismo, semelhantes em inúmeros aspectos. Lembrei também que os socialistas, acostumados a repetir chavões sem reflexão alguma, xingam de nazistas seus opositores, ainda que coloquem assim estes lado a lado com liberais, enquanto na verdade os liberais são totalmente contrários tanto ao nazismo como ao socialismo. Neste artigo, pretendo demonstrar o nazista que existia num dos maiores ídolos socialistas da América Latina. Trata-se de Salvador Allende, presidente que afundou o Chile no caos e miséria. A fonte é o último livro de Víctor Farías, doutor em filosofia e autor de Os Nazistas no Chile. Seu mais recente trabalho, Salvador Allende: Anti-Semitismo e Eutanásia, busca em fatos históricos um passado sombrio do personagem, muitas vezes ocultado propositadamente pelos seus biógrafos. Levantar essa poeira e expor a real face nazista desse grande símbolo esquerdista é o objetivo do estudo.

Víctor Farías foi pesquisar Allende desde o seu passado como médico, passando também pelo período em que foi ministro. A figura de Allende já vem sofrendo consideráveis rachaduras, como quando foi descoberto que, durante seu governo, ele protegeu direta e deliberadamente Walther Rauff, um dos maiores criminosos nazistas, responsável direto pelo assassinato de cem mil judeus. Além disso, nos anos da fundação do partido socialista do Chile, seu criador, Marmaduke Grove, foi pago regularmente pelo Ministério de Assuntos Exteriores nazista. Um outro ponto controverso diz respeito à Colônia Dignidade, enclave racista alemão dirigido por nazistas e ex-nazistas, que cresceu e se consolidou consideravelmente durante o governo de Allende. Como fica claro, a simbiose entre socialismo chileno e nazismo alemão sempre existiu.

Mas o livro de Farías foca na fase médica de Allende, época em que sua tese Higiene Mental e Delinqüência foi escrita. Este texto de Allende é uma aberração que mostra um profundo racismo do autor, que chega a informar, com aprovação, sobre experimentos cirúrgicos feitos com réus de cárceres públicos a fim de fazê-los “recuperar sua identidade sexual”. Para Allende, uma das causas naturais da delinqüência é “a raça”. Ele chega a escrever que “os hebreus se caracterizam por determinadas formas de delito: fraude, falsidade, calúnia, e, sobretudo, a usura”, alegando que esses dados “fazem suspeitar que a raça influi na delinqüência”. Em resumo, no seu primeiro escrito científico, Allende afirma que os judeus são naturalmente delinqüentes.

Enquanto ministro da Salubridade do governo da Frente Popular, Allende teve a oportunidade de lutar para colocar em prática suas idéias bizarras. Anunciou em 1939 um projeto de Esterilização de Alienados Mentais como programa para a “defesa da raça”, e confiou a elaboração e implementação do projeto a cientistas abertamente racistas como o dr. Eduardo Brücher, associado ao dr. Hans Betzhold, fervoroso partidário da eutanásia nazista. O Artigo 1º do projeto dizia que “toda pessoa que sofra de uma enfermidade mental que, de acordo com os conhecimentos médicos, possa transmitir à sua descendência, poderá ser esterilizada”. Pelo projeto, seriam consideradas enfermidades mentais transmissíveis por via hereditária: a esquizofrenia; a psicose maníaco-depressiva; a epilepsia essencial; a idiotia; a debilidade mental profunda; a loucura moral constitucional e o alcoolismo crônico. As vítimas poderiam, pelo projeto da lei, ser forçadas pelo Estado a fazer a esterilização, como fica claro no Artigo 23º: “Todas as resoluções ditadas pelos Tribunais de Esterilização serão obrigatórias para toda pessoa ou autoridade, e se levarão a efeito, com caso de resistência, com auxílio da força pública”.

As semelhanças entre este projeto e a Lei para Precaver uma Descendência com Taras Hereditárias, ditada pelo governo do Terceiro Reich, são impressionantes. Alguns parágrafos parecem cópia direta. Os nazistas pretendiam esterilizar vítimas nos casos de imbecilidade congênita, esquizofrenia, mania depressiva, epilepsia hereditária, cegueira hereditária, surdez hereditária e graves deformidades físicas hereditárias. Como resume Frías, “em ambos os casos a vontade esterilizadora radical não deveria ser impedida ou prejudicada por problemas financeiros”, pois “até para os indigentes havia recursos, entregues ao Estado pelos contribuintes”.

Sobre seu livro e os fatos que trouxe à tona, Víctor Frías acredita que muitos irão optar por um constrangedor silêncio, para proteger a fé ideológica e a imagem de Allende, que já era terrível antes disso tudo, mas ignorada pelos camaradas socialistas. Outros verão analogias fundamentais entre socialismo e nazismo, e conhecerão um pouco mais dessa figura que tanto contribuiu para o colapso chileno. Quanto ao que concerne o autor, ele acredita que “tudo o que foi investigado até aqui merece ser processado, incansavelmente, a fim de recuperar a luz que nossa gente merece”. Infelizmente, os idólatras do fracasso parecem nunca aprender com os fatos, preferindo um mundo de fantasias onde o socialismo trará uma vida melhor para todos. Entre a luz ou a escuridão ideológica, ficam com a última. E assim, o nazista em Allende acabará provavelmente ignorado e esquecido, enquanto os socialistas continuam rotulando seus opositores de nazistas, como se não fossem ambos uma mesma família.

Socialismo e Nazismo



Rodrigo Constantino

"Que significa ainda a propriedade e que significam as rendas? Para que precisamos nós socializar os bancos e as fábricas? Nós socializamos os homens." (Adolf Hitler, citado por Hermann Rauschning, Hitler m´a dit, Coopération, Paris 1939, pg 218-219)

Ensinada desde os tempos de Lênin, muitos socialistas usam a tática de acusar os opositores daquilo que eles mesmos são ou fazem. Tudo que for contrário ao socialismo, vira assim “nazismo”, ainda que o nacional-socialismo tenha inúmeras semelhanças com o próprio socialismo. Tanto o nazismo como o marxismo compartilharam o desejo de remodelar a humanidade. Marx defendia a “alteração dos homens em grande escala” como necessária. Hitler pregou “a vontade de recriar a humanidade”. Qualquer pesquisa séria irá concluir que nazistas e socialistas não eram, na prática e no ideal coletivista, tão diferentes assim.

Não obstante, para os socialistas, aquele que não for socialista é automaticamente um “nazista”, como se ambos fossem grandes opostos. Assim, os liberais, que sempre condenaram tanto uma forma de coletivismo como a outra, e foram alvos de perseguição dos dois regimes, acabam sendo rotulados de “nazistas” pelos socialistas, incapazes de argumentar além dos tolos rótulos de “extrema-esquerda” e “extrema-direita”. Tal postura insensata coloca, na cabeça dos socialistas, uma “direitista” como Margaret Thatcher mais próxima ideologicamente de um Hitler que este de Stalin, ainda que Thatcher tenha lutado para defender as liberdades individuais e reduzir o poder do Estado, enquanto Hitler e Stalin foram na linha oposta. O fim da propriedade privada de facto foi um objetivo perseguido tanto pelo nazismo como pelo socialismo, que depositaram no Estado o poder total. O Liberalismo, em sua defesa pela liberdade individual cujo pilar básico é o direito de propriedade privada, é radicalmente oposto tanto ao nazismo como ao socialismo, que em muitos aspectos parecem irmãos de sangue.

A conexão ideológica entre socialismo marxista e nacional-socialismo não é fruto de fantasia, e Hitler mesmo leu Marx atentamente quando vivia em Munique, tendo enaltecido depois sua influência no nazismo. Para os nazistas, os grupos eram as raças; para os marxistas, eram as classes. Para os nazistas, o conflito era o darwinismo social; para os marxistas, a luta de classes. Para os nazistas, os vitoriosos predestinados eram os arianos; para os marxistas, o proletariado. Além da justificativa direta para o conflito, a ideologia de luta entre grupos desencadeia uma tendência perversa a dividir as pessoas em parte do grupo e excluídos, tratando estes como menos que humanos. O extermínio dessa “escória” passa a ser desejável seja para o paraíso dos proletários ou da “raça” superior. Os individualistas, entrave para ambas ideologias coletivistas, acabam num campo de concentração de Auchwitz ou num Gulag da Sibéria, fazendo pouca diferença na prática.

A acusação de que a Alemanha nazista era uma forma de capitalismo não se sustenta com um mínimo de reflexão. O “argumento” usado para tal acusação é de que os meios de produção estavam em mãos privadas na Alemanha. Mas como Mises demonstrou, isso era verdade somente nas aparências. A propriedade era privada de jure, mas era totalmente estatal de facto, da mesma forma que na União Soviética. O governo não só nomeava dirigentes de empresas como decidia o que seria produzido, em qual quantidade, por qual método, e para quem seria vendido, assim como os preços exercidos. Para quem tem um mínimo de conhecimento sobre os pilares de uma sociedade capitalista-liberal, não é difícil entender que o nazismo é o oposto deste modelo. Para os nazistas, assim como para os socialistas, é o “bem-comum” que importa, transformando indivíduos de carne e osso em simples meios sacrificáveis para tal objetivo.

Existem, na verdade, vários outros pontos que podemos listar para mostrar que o nazismo e o socialismo são muito parecidos, e não opostos como tantos acreditam. O fato de comunistas terem entrado em guerra com nazistas nada diz que invalide tal tese, posto que comunistas brigaram sempre entre si também, e irmãos brigam uns com outros, ainda mais por poder. Apesar do Liberalismo se opor com veemência a ambos os regimes, os socialistas adoram repetir, como autômatos, que liberais são parecidos com nazistas, apenas porque associam erradamente nazismo a capitalismo. Se ao menos soubessem como é o próprio socialismo que tanto se assemelha ao nazismo!

sábado, outubro 21, 2006

O Pão Francês



Rodrigo Constantino

“The more the state 'plans' the more difficult planning becomes for the individual.” (Hayek)

Chegamos ao fundo do poço! Agora sim. Achava que o fundo tinha sido atingido com a provável reeleição de Lula, presidente do “mensalão” cujos mais próximos aliados foram envolvidos em escabrosos escândalos de corrupção bem diante de seus olhos. Na verdade, achei que o fundo era mesmo ter eleito alguém como Lula para presidente pela primeira vez. Mas aí ainda vale a desculpa esfarrapada de que o camarada de Fidel Castro não havia sido testado. Só que uma segunda vez, mesmo depois de tudo que aconteceu, não tem desculpa alguma. Entretanto, não era esse o fundo do poço ainda, para a minha surpresa. O diabo está nos detalhes. As pequenas ações são sintomáticas e talvez demonstrem melhor a mentalidade de um povo. Portanto, o fundo do poço é mesmo o governo controlar como o pão francês será vendido!

Por conta de uma portaria do Inmetro, o produto passa a ser vendido por quilo e não por unidade. A pesagem é obrigatória, e todas as padarias tiveram que se adaptar. A medida é tão absurda, mas tão absurda, que choca a reação complacente dos consumidores. Creio que como sapos escaldados, estão acostumados a ter o “papai” Estado decidindo tudo, quem sabe até a cor da cueca que será usada no dia. Os cidadãos são tratados como mentecaptos pelo governo, que interfere nos mínimos detalhes da esfera individual. E como súditos também, na hora de deixar quase a metade do que ganham para os cofres públicos. O conceito de liberdade individual é algo que passou bem longe do Brasil, ainda que vários patetas insistam em xingar (sic) o país de “neoliberal”.

Um governo que pretende decidir até mesmo como o pãozinho nosso de cada dia será vendido é um governo que não tem mais o que fazer. Chegaram até mesmo a criar lei sobre engates nos carros! Os privilégios dos burocratas e políticos já é algo que indigna os pagadores de impostos. O fato de Brasília ter a maior renda per capita do país, de longe, mostra que a desigualdade material é amplificada pela concentração de poder no Estado, enquanto muitos ainda acreditam que justamente ele deveria ter o papel de eliminar as desigualdades. Mais fácil crer em gnomos e papai noel. Mas mesmo assim, partindo da premissa que já somos explorados e transferimos renda para os governantes, seria melhor que eles fossem pagos para não fazer nada! Pois quando resolvem fazer, como no caso dessas interferências patéticas na esfera individual, só sai porcaria.

O governo deve cuidar basicamente da segurança das pessoas, da manutenção das leis impessoais, garantindo a liberdade dos indivíduos. As trocas devem ser voluntárias, e cada um sabe o que é melhor para si, devendo também arcar com a responsabilidade por suas ações. Tal seria um mundo livre, onde cada um poderia escolher para si o que considera melhor, e teria que obter os produtos e serviços demandados através de interações voluntárias com outros indivíduos, ficando protegidos pelo Estado de roubo e quebras de contratos. Estamos muito longe disso! No Brasil, o Estado se arroga o direito de tratar o povo feito idiota, e pelo próprio discurso do presidente Lula, vemos a analogia com a figura paterna, como se cidadãos fossem filhos dos governantes. Eu tenho pai, ele felizmente nada se parece com Lula, e ele tampouco decide por mim como devo comprar o pão francês. A compra do pãozinho, assim como de todos os outros produtos, é uma troca voluntária entre duas partes. Elas deveriam ser livres para escolher os detalhes da operação. Aqui nesse país não. Aqui o Estado decide por todos, nos mínimos detalhes. A liberdade foi para o saco!

Alguns ainda podem argumentar que a medida não foi tão autoritária assim, pois antes foi realizada uma consulta popular. Mas ora, ditadura da maioria ainda é ditadura! Imagina se todos tivessem que beber a mesma cerveja que a maioria escolhesse, ou tivessem que comprar o mesmo modelo de celular preferido pela maioria. Isso não é liberdade de escolha. Liberdade é você poder negociar livremente, comprar algo que somente você deseja se alguém estiver disposto a vender. Cada consumidor deveria ser livre para comprar seu pão como desejasse, e cada padaria deveria ter a liberdade de vendê-lo como quisesse, seja por peso, aparência, unidade etc. Se o cliente não está satisfeito, vota com o bolso, escolhendo outro estabelecimento. A concorrência é a maior garantia de que os interesses dos consumidores serão protegidos. Vendedores só sobrevivem se seus clientes estiverem satisfeitos. No livre mercado, são os consumidores que mandam! Algo totalmente diferente, mais eficiente e mais justo que um modelo onde os “clarividentes” burocratas irão decidir por todos e obrigar um mesmo padrão para o mercado.

Enfim, a reeleição de Lula é a grande evidência de que o país afundou mesmo, ignorando questões éticas e vendendo a alma ao diabo por um trocado a mais. Mas o verdadeiro sintoma de que chegamos ao fundo do poço está nas pequenas coisas que demonstram a mentalidade do povo. E a mentalidade do povo brasileiro é totalmente anti-capitalista e anti-liberal. Caramba! Parece brincadeira, e de muito mal gosto, mas o governo realmente chegou ao ponto de definir como um simples pãozinho tem que ser vendido!

quinta-feira, outubro 19, 2006

Mauá ou Lula?



Rodrigo Constantino

Em 1852, numa cerimônia de inauguração de uma estrada de ferro, Irineu Evangelista de Souza, o Barão de Mauá, fez com que o Imperador D. Pedro II se curvasse num gesto simbólico de trabalho, com uma pá de prata e um carrinho de jacarandá. A humilhação foi tanta que o imperador guardou forte ressentimento. A metáfora do gesto estava clara: todos deveriam obter seus recursos pela via do trabalho, inclusive a aristocracia acostumada a viver explorando os escravos.

Mauá foi um ilustre empreendedor, o maior que já existiu no Brasil. Bastante esforçado desde pequeno, educado por um comerciante inglês, trilhou uma incrível trajetória de sucesso, se tornando o homem mais rico do país. Foi um inovador, trouxe enorme progresso para o Brasil em diversas áreas, fundou seu Banco do Brasil, inovou com um tratamento isonômico entre homens livres e escravos, enfim, foi de uma relevância sem igual para os avanços de nossa nação. Foi o ícone de uma mentalidade que infelizmente representa uma minúscula minoria na terra brasilis, do herói Macunaíma, onde parasitar rende mais que lutar por conta própria para vencer na vida.

Comparar a vida de Mauá com a vida do presidente Lula é crucial para a constatação de nossa triste realidade. Permite que possamos entender melhor os motivos do país ser o eterno gigante adormecido, desperdiçando oportunidade atrás de oportunidade para virar uma potência mundial. Afinal, os dois representam rumos diametralmente opostos, e a história brasileira é a história onde o tipo de Lula predomina sobre o estilo Mauá.

Ambos foram muito pobres na infância, e Irineu começou a trabalhar aos 9 anos de idade, após a morte de seu pai. Aprendeu rápido as coisas, foi um autodidata, aproveitava as horas vagas para a leitura de bons livros, mostrou-se confiável e galgou responsabilidades maiores no seu trabalho, até ser contratado por Carruthers, comerciante inglês de sucesso. Teve que se virar para aprender a língua estrangeira sozinho, em pouco tempo. Comparemos isso com a trajetória de Lula, que jamais esforçou-se sequer para aprender sua língua natal de forma correta, ainda que tivesse todo tempo e dinheiro do mundo para tanto. Mauá demonstra a obstinação da vitória, o desejo de subir na vida sem depender dos outros. Lula aparece como o acomodado que logo descobriu que repetir bravatas para multidões de insatisfeitos era mais vantajoso que trabalhar duro. Enquanto um focava na construção de riqueza, o outro pensava em como tirar riqueza dos demais. Uma diferença gritante.

O progresso inglês sempre foi um grande motivador para Mauá, que sonhava em replicar no Brasil o sucesso externo. Copiar modelos bem sucedidos parecia algo lógico para Mauá, que gostaria de ver seu país progredindo, com ferrovias, luz, indústrias etc. O livre comércio era o evidente caminho para tanto, e Mauá sabia disso, defendendo tal modelo num país atrasado, onde a agricultura na base da escravidão era vista como o rumo correto. Mauá foi uma voz de bom senso numa multidão de retrógrados. Já Lula usa o sucesso alheio para alimentar a inveja do povo, fala dos Estados Unidos como se a riqueza deles tivesse sido criada às custas de nossa miséria, vai na contramão da trajetória de maior abertura comercial e liberdade econômica. Se Mauá teve como enorme obstáculo ao seu empreendedorismo o aparato estatal, Lula representa justamente este, contra todos os que tentam empreender num país que faz tudo para tornar isso impossível, com carga tributária gigante, burocracia asfixiante, rígidas leis trabalhistas, ausência de império da lei etc.

Na questão ética é até covardia comparar Mauá com Lula. Quando o já Visconde de Mauá estava à beira da bancarrota, usou seus bens pessoais para honrar as dívidas com terceiros, chegando a vender as jóias de sua mulher. Não queria deixar os outros na mão, e pretendia honrar seu nome. Lula, além de presidir o governo mais corrupto que já existiu, com inúmeros ministros e funcionários de confiança envolvidos em escândalos de corrupção, utiliza o dinheiro dos outros para comprar votos e se manter no poder. Libera verbas para agradar políticos, aumenta os salários antes das eleições para comprar votos, distribui esmolas para manter os pobres sob seu domínio, tudo com o dinheiro dos pagadores de impostos. Ignora totalmente a questão ética, pois considera que o fim – no caso manter-se no poder – justifica quaisquer meios, por mais espúrios que sejam. Há um abismo moral que separa alguém como Mauá de alguém como Lula.

Em resumo, Mauá é o ícone do empreendedor, do homem que faz, daquele que cria riqueza, trazendo progresso e empregos para seu país, mesmo que diante de muita adversidade. Já Lula é a adversidade em pessoa, representa o obstáculo para os criadores de riqueza, o parasita que suga a riqueza dos outros, o populista que joga pobres contra ricos para se sair bem. Se Mauá é o tipo de homem que toma iniciativas, Lula é o tipo que apenas critica. Se Mauá é o tipo que assume riscos, Lula é o tipo que se aproveita do risco tomado por terceiros. Se Mauá é o tipo que busca soluções, Lula é o tipo que fica apenas lamentando. Se Mauá soma, Lula divide. Se Mauá assume responsabilidades, Lula aponta culpados, ainda que bodes expiatórios. Se Mauá consegue acabar com a fome de muitos gerando empregos, Lula limita-se a repetir que vai acabar com a fome mundial, num patético devaneio de megalomania. Se Mauá é o hospedeiro, Lula é o parasita.

Infelizmente, o povo brasileiro demonstra preferir os valores errados, enaltecendo a figura de um Lula, enquanto condena os empresários, o lucro, a iniciativa privada. Enquanto estes forem os valores escolhidos pelo povo brasileiro, o Brasil jamais será a potência que pode ser. Irineu Evangelista de Souza sonhou com um país diferente. Ao que parece, os entraves criados pelo Estado têm, desde então, impossibilitado que tal sonho realize-se, muitas vezes transformando-o em pesadelo. Resta ao povo, se quiser um caminho diferente, escolher: Mauá ou Lula?

quarta-feira, outubro 18, 2006

Profetas do Passado



Rodrigo Constantino

Preciso contratar um petista como administrador de portfolio! Qualquer um serve. Afinal, os petistas devem ser excelentes gestores de recursos. Não estou me calcando apenas na estupenda performance de Lulinha, o filho do presidente Lula que ficou milionário da noite para o dia, através da compra pela Telemar de sua empresa de jogos, a Gamecorp. Também não estou focando somente na brilhante performance do patrimônio do próprio Lula durante seu mandato, levando o “pai dos pobres” a ficar praticamente milionário. Tampouco penso no churrasqueiro que levanta milhões para a compra de dossiês. Não é nada disso! Tenho em mente o rebanho todo de petistas, que repete em uníssono que a Companhia Vale do Rio Doce foi vendida a preço de banana, praticamente entregue de graça pelo governo. Eles é que me despertam tanto interesse pela contratação de algum petista, qualquer um, para gestão de recursos. Explico.

O único “argumento” que a turma retrógrada, que ainda acha que o Estado deve ser empresário, utiliza, é que a CVRD vale uns R$ 100 bilhões hoje, enquanto foi vendida por US$ 3,34 bilhões em 1997. Como diria Jack, o estripador, vamos por partes: em primeiro lugar, o governo vendeu 42% do capital votante por este valor para a CSN, o que avaliava a empresa toda em mais de R$ 12 bilhões, com um ágio de quase US$ 600 milhões em relação ao preço mínimo; em segundo lugar, tratava-se de um leilão, que incluía a participação de várias empresas estrangeiras, como Anglo American, Nippon Steel, Kawasaki, Kobe, Mitsubishi, Alcoa etc. Ou seja, qualquer empresa poderia ter participado, e pago mais para levar um ativo que, segundo os petistas “especialistas”, estava de graça. Por que não fizeram? Alguma conspiração mundial?

Fora isso, a Vale tinha ações negociadas na bolsa de valores, com milhares de investidores do mundo todo comprando e vendendo diariamente, determinando o valor de mercado da empresa. Durante o primeiro semestre de 1997, esse valor oscilou em torno de R$ 10 bilhões. Em outras palavras, qualquer um, até mesmo um petista, poderia ter comprado ações da Vale por um preço abaixo daquele pago pela CSN. Fica a questão: se tal valor estava “de graça”, por que diabos os petistas não estão todos milionários hoje? Será que petistas, logo eles, não gostam de dinheiro? Um investimento nesta época nas ações da Vale teriam multiplicado o capital por cerca de 20 vezes! Qualquer petista que levantasse algo como R$ 50 mil poderia estar hoje milionário! Com o benefício da retrospectiva, fica bem fácil acertar. Mas se de fato, na ocasião, os petistas sabiam do futuro da Vale, e que ela valeria mais de R$ 100 bilhões em 2006, precisam explicar porque não estão todos ricos, mesmo sem “mensalão”, cargos de confiança bem remunerados para camaradas ou “solidariedade” de empresas como a Telemar.

Os petistas ignoram que o lucro da Vale estatal oscilava em torno dos R$ 500 milhões por ano. Hoje, esse lucro passa dos R$ 10 bilhões! Só de imposto de renda, a Vale pagou mais de R$ 2 bilhões em 2005. Será que essa diferença de performance não explica também a diferença no valor de mercado da empresa hoje e nos tempos de estatal? Entre os motivos desse exponencial aumento do lucro está o cenário global, com a China comprando minério de ferro adoidado, puxando o preço em mais de 70% para cima em um único ano! Será que os “clarividentes” petistas já sabiam disso também, lá em 1997? Além disso, a performance deve-se muito à gestão privada, infinitamente mais eficiente que a estatal. Os ganhos de produtividade são evidentes, o foco no retorno sobre capital investido é total, a remuneração de acordo com a meritocracia é um forte incentivo, enfim, a transformação da empresa de estatal para privada é boa parte da explicação desse enorme aumento em seu valor de mercado. Os petistas fingem não ver nada disso, e repetem apenas que o “patrimônio nacional” (sic) foi entregue para capitalistas exploradores.

Em resumo, o presidente Lula trouxe ao “debate” o tema da privatização, como se vender estatais paquidérmicas, verdadeiros cabides de emprego para colegas, fosse atestado de pacto com o diabo. Claro, Lula pretende fazer terrorismo de Alckmin frente aos nacionalistas xenófobos, que realmente acreditam que o petróleo é deles (se ele é nosso, eu quero minha parte!). Quer conquistar a esquerda jurássica, que apoiava Heloísa Helena. E seus seguidores fiéis, autômatos, partem logo para a repetição de chavões sem reflexão alguma. Nesse contexto é que escutamos estultices como as que condenam privatizações que tanto fizeram para melhorar o país. São quase 100 milhões de celulares hoje! Antes, uma linha fixa analógica custava uma fortuna e demorava meses para ser instalada. Imagina ter ainda Usiminas, CSN, Embraer, Telebrás, Embratel, Vale, Banespa, Banerj, as ferrovias, tudo estatal, usadas como veículos políticos pelo PT, que aparelhou o Estado de forma assustadora! Muitos cargos para distribuir entre camaradas, muito dinheiro para usar com “mensalão” e compra de dossiês. O sonho dos petistas, dos parasitas. O pesadelo dos consumidores e pagadores de impostos.

Mas de volta ao começo, quero contratar um petista como gestor de portfolio! Todos os dias, milhares de investidores, totalmente focados nisso, digladiam-se para obter boas oportunidades de investimentos. Não existe almoço grátis. Os riscos são reais, qualquer aposta pode fracassar, o futuro é incerto. Mas isso é a realidade dos mortais comuns. Não dos petistas! Esses sim, sabem o futuro! Lá em 1997, quando a Vale foi privatizada através de um leilão aberto com a presença de várias multinacionais, os petistas já tinham convicção de que o preço era irrisório, uma verdadeira pechincha. Resta entender porque os profetas do passado não estão ricos. Ao menos não pelas vias legais...

terça-feira, outubro 17, 2006

Caspita!



Rodrigo Constantino

“Eu nunca encontrei um corte de impostos que não tenha gostado.” (Milton Friedman)

Pense num país onde o presidente é comunista, o líder do Parlamento é comunista e nove ministros são comunistas. Não, não se trata da Rússia, China, Brasil ou algum país do Leste Europeu. Esse país é a Itália. O governo de Prodi está cercado de comunistas, reformados ou não. E a cor vermelha da ideologia já aparece nas propostas de governo, para a infelicidade do povo italiano.

Fiscalmente falando, a Itália está em uma crítica situação. A dívida sobre o PIB passa de 100%, e o governo ainda tem um déficit fiscal de quase 5% do PIB por ano. A Itália já encontra-se fora das determinações da Comunidade Européia. Não fosse o euro, provavelmente a moeda italiana independente estaria sofrendo bastante. Diante deste preocupante quadro, qual a solução apresentada pelo governo? Num passe de mágica, o orçamento para 2007 conta com um aumento de 2% do PIB na arrecadação de impostos, mais de 30 bilhões de euros. E como exatamente virá tal aumento? O governo pretende criar 56 novos impostos, e anunciou um aperto brutal na evasão fiscal. Além disso, quem ganha 75 mil euros anuais ou mais será taxado pela alíquota máxima, de 43%. Até agora, esta alíquota incidia sobre quem recebia mais de 100 mil euros anuais.

Em resumo, a resposta do governo italiano para o problema fiscal é aumento de impostos, ataque aos mais ricos e maior intervenção estatal. Como conseqüência disso, em vez de aumento na arrecadação, é bastante provável que o governo italiano veja uma fuga de capitais e talentos para países com impostos menores, assim como uma redução do crescimento econômico, que acaba afetando as receitas tributárias. Empresas e indivíduos têm essa “estranha” mania de migrar para onde são melhor tratados. Mas o governo italiano mostra sua verdadeira cor ideológica. O povo irá pagar o preço da ignorância econômica.

Em contrapartida, o governo americano reduziu impostos recentemente, para o desespero dos leitores do colunista Paul Krugman, que anunciava o caos como resultado desta medida. No entanto, a arrecadação fiscal tem crescido duas vezes e meia o crescimento da economia nos últimos 6 trimestres. Tanto os lucros como os empregos estão indo bem no país. O déficit fiscal, que supostamente permaneceria em torno dos US$ 400 bilhões por ano, deverá ficar abaixo dos US$ 240 bilhões este ano. Neste ritmo, o déficit fiscal americano poderá desaparecer em 3 anos! Ao que parece, uma vez mais, a curva Laffer funciona, e corte de impostos gera aumento nas receitas. Faz sentido, tem lógica. Mas lógica nunca foi o forte de ideologias dogmáticas.

E o Brasil? Além de ter um presidente da Câmara também comunista, e um presidente da República com fortes laços com tal ideologia, sacramentado no Foro de SP, o caminho traçado aqui também se assemelha mais ao italiano que ao americano. O candidato à reeleição repete que não é importante cortar gastos, enquanto o país tem uma dívida em torno de 50% do PIB e um déficit perto de 3% do PIB. Isso para não falar que já arrecada 40% do PIB em impostos, e tem um modelo previdenciário falido, mesmo com uma população jovem. O calcanhar de Aquiles do Brasil tem sido justamente o tamanho dos gastos públicos, mas ninguém fala em cortes ou reformas estruturais sérias, e citar privatização ainda virou xingamento. Fica difícil manter o otimismo no longo prazo. Se o céu de brigadeiro no contexto mundial que o governo Lula desfrutou durante seu governo se transformar num tsunami, veremos que os pilares econômicos brasileiros ainda são de areia.

O caminho do progresso é conhecido. O inchaço estatal é o maior inimigo do crescimento econômico sustentado. Impostos altos nunca deveriam ser celebrados. Imposto é coerção, e dinheiro nas mãos de políticos é risco maior de ineficiência e corrupção. Reduzir os impostos, portanto, é sempre algo desejável. Reduzir os gastos públicos, portanto, é fundamental. Fazer o contrário, aumentando impostos para sanar o déficit, é seguir na contramão do bom senso. Como ainda tem tanta gente que não entendeu essa obviedade é algo espantoso. Tentemos repetir uma vez mais para ver se pega no tranco então: há que se reduzir gastos públicos e impostos, caspita!

quinta-feira, outubro 12, 2006

Os Defensores do Atraso



Rodrigo Constantino

“Meu problema com a privatização é de conceito.” (Lula)

Poucos acreditavam num segundo turno, entretanto, cá estamos. E o desespero que bateu no candidato Lula foi tamanho que o PT logo se mobilizou para fazer um terrorismo patético, que engana somente os desavisados. Lula agora martela na questão das privatizações, afirmando que Alckmin venderia vários ativos estatais, como se isso fosse terrível para o país. O simples fato de que privatização é usada para atacar um candidato, que tem que vir negar tais “acusações”, mostra como o Brasil está distante do progresso capitalista, onde o Estado não é visto como um empresário. O pior é que ainda culpam o “neoliberalismo” pelos nossos males, aquele que passou mais distante do Brasil que Plutão da Terra.

Lula declarou que não teria vendido as teles nem a Vale do Rio Doce. Pelo visto, se ele fosse nosso presidente antes, ainda teríamos que esperar meses na fila para conseguir um telefone analógico, se tivéssemos sorte. A Vale não seria o ícone de empresa eficiente que é hoje. Simplesmente não existem argumentos lógicos para combater as privatizações. O setor privado sempre será mais eficiente que o governo para gerir empresas. Estado empresário é corrupção certa, além de tudo. O “argumento” de setor estratégico é ainda pior, posto que por ser estratégico é que deveria ficar longe da gestão estatal mesmo. Nos Estados Unidos, existem mais de 30 empresas privadas competindo no setor de petróleo. Na ex-URSS, acharam que o Estado deveria cuidar do setor de alimentos, o mais estratégico de todos, e milhões morreram de fome. Somente um nacionalismo tolo, um estatismo patológico, justificam alguém ainda ser contrário às privatizações. No entanto, Lula usa o tema para fazer terrorismo de Alckmin, que sequer defende a desejável privatização do Banco do Brasil ou da Petrobrás.

Para alguém mais esclarecido, é estarrecedor ver como o debate político no Brasil está distante do bom senso. Aqui ainda se debate se a Terra é quadrada ou arredondada, no análogo da economia. E o pior é que vence a versão do planeta quadrado! Parte da explicação encontra-se na recente pesquisa do Datafolha. Por escolaridade, 53% dos eleitores com nível superior pretendem votar em Alckmin, o que nega ser um “privatista” mas ao menos não acha isso um pecado suficiente para usar como ataque ao adversário. Lula fica com 37% dos votos entre os com ensino superior. O que é espantoso, por sinal. Gostaria de saber quais foram as universidades que esses 37% freqüentaram, para jamais mandar minha filha para elas! Na divisão por renda a coisa se repete, e Alckmin receberia 62% dos votos dos eleitores que ganham mais de 10 salários mínimos. Lula teria 31% dos votos dessa turma. Devem ser funcionários públicos privilegiados tentando manter seus privilégios, empresários corruptos que dependem do Estado para vencer, artistas que vivem às custas do financiamento estatal, políticos do “mensalão” etc. Dos que ganham até 2 salários mínimos, 59% estão com Lula. Nesse caso é mais fácil compreender, já que o presidente usa e abusa da máquina estatal para comprar votos com esmolas, fazendo ainda terrorismo de que Alckmin iria cancelar tais esmolas.

Como fica claro, o país está dividido, segregado. De um lado, os menos educados, os mais pobres, os privilegiados e os defensores do atraso. Do outro, ainda que sem um candidato mais adequado, os com maior escolaridade, mais renda, e defensores de um modelo mais moderno, onde o Estado seja reduzido, em vez de ser a locomotiva do crescimento econômico, algo que é impossível sem que um elevado preço seja cobrado depois. De um lado, os que ignoram por completo a questão ética. Do outro, quem fica ainda indignado com tanto escândalo de corrupção, enquanto o presidente se limita a repetir que nada sabe.

O problema do presidente Lula com a privatização é conceitual, como ele mesmo diz. Pois bem, o meu problema com os defensores do atraso é não só de conceito, como prático também, posto que suas jurássicas idéias afundam o país na miséria, seguindo na contramão do progresso. E os defensores do atraso, pelo visto ainda maioria nesse atrasado país, podem conseguir mais quatro anos de poder. Se assim for, não corremos o menor risco de dar certo. É mesmo lamentável...

domingo, outubro 08, 2006

Ilusão Coletiva



Rodrigo Constantino

“Os jornais são armas; eis porque é necessário proibir a circulação de jornais burgueses; é uma medida de legítima defesa!” (Trotsky)

Como tantos podem ao mesmo tempo serem enganados pela mesma falácia? Eis uma pergunta de difícil resposta, que irá depender do contexto histórico, do poder de persuasão da mentira, da propaganda, da capacidade intelectual das vítimas etc. A pergunta vem à tona quando lembramos da quantidade de gente enganada pelo socialismo. Lendo 10 Dias que Abalaram o Mundo, do comunista assumido John Reed, fiquei uma vez mais perplexo com essa questão martelando na cabeça. Como foi possível – e em muitos casos ainda é – que tantos desprezassem a razão por completo, aderindo à uma utopia tão estúpida como o socialismo?

John Reed afirma que “as classes dominantes pretendiam uma revolução unicamente política”, tirando o poder do Tzar e passando-o às suas mãos. Segundo ele, “queriam fazer na Rússia uma revolução constitucional, segundo o modelo da França ou dos Estados Unidos, ou então uma monarquia constitucional como a da Inglaterra”. O autor fala isso com desprezo, celebrando que “as massas populares queriam, porém, uma verdadeira democracia operária e camponesa”. De fato, não seguiram no rumo da França, Estados Unidos ou Inglaterra. Caíram no embuste socialista, lutaram pela “ditadura do proletariado”, e tiveram como “recompensa” genocidas como Lênin e Stalin. A “verdadeira democracia operária e camponesa” levou milhões para a cova, e o restante para a completa miséria.

O jornalista americano, elogiado por Lênin, chegou a escrever no livro que, se a revolução bolchevique for uma aventura, “trata-se de uma das mais maravilhosas em que já se empenhou a humanidade, aquela que abriu às massas laboriosas o campo da História, fazendo com que hoje tudo dependa de suas vastas e naturais aspirações!”. Na verdade, o campo aberto pelo socialismo foi o de concentração, para forçar o trabalho escravo. As “naturais aspirações” viraram puro desespero, fome, miséria e terror. O próprio autor viu o que o primeiro ato da revolução gerou, afirmando que “para comprar leite, pão, açúcar e fumo era necessário esperar, numa fila, durante horas seguidas, sob uma gélida chuva”. Mas ignorava a causa real disso, culpando a “burguesia” e seu egoísmo. Ora, segundo os próprios comunistas, a América era um antro de burgueses gananciosos, e no entanto não havia filas para comprar pão ou açúcar. O fanatismo ideológico cega a ponto da vítima não conseguir enxergar um palmo à sua frente.

Trotsky disse que “todos os governos burgueses têm a característica de sempre enganar o povo”, e garantia que eles, do Soviete dos Deputados Operários, Soldados e Camponeses, iriam “fazer uma experiência sem precedentes na História”, criando um “governo cuja finalidade única será satisfazer as necessidades dos operários, dos soldados e dos camponeses”. Poderia haver algo mais distante da realidade? De fato, a experiência foi sem precedentes, mas em termos negativos. Nunca antes tantos operários, soldados e camponeses sofreram tanto. Trotsky disse que “para cada revolucionário morto, mataremos cinco contra-revolucionários”. Antes tivesse sido esse o saldo de mortes. Teria ficado barato frente ao que ocorreu de fato. E diante dessa lamentável realidade, John Reed escreve: “Compreendi, de repente, que o religioso povo russo não precisava de sacerdotes para lhe abrir o caminho do céu, porque já começava a edificar na Terra um reino melhor que o paraíso prometido”. E ainda finalizou que “morrer por esse reino era uma glória, a maior de todas as glórias!”. Eis os dois quesitos básicos para a desgraça humana: a promessa de um paraíso e a transformação do indivíduo em um simples meio sacrificável para tal fim. A Rússia virou o verdadeiro inferno, e milhões de almas foram sacrificadas na tentativa de transformá-la no paraíso terrestre. Se a religião é o ópio do povo, o socialismo é heroína pura!

Na época desses sombrios acontecimentos, várias foram as vozes da razão, mostrando que o socialismo era o caminho da desgraça. Infelizmente, não encontraram muito eco em cabeças ocas, dominadas pela emoção e pelo romantismo do “paraíso terrestre”, ainda que os meios agridam tudo que sabemos da natureza humana. Mas se naqueles tempos já era atestado de irracionalidade crer no socialismo, o que dizer dos dias atuais, onde temos vasta experiência empírica do fracasso socialista? No entanto, não são poucos os que ainda sonham com tal utopia, condenando os “reacionários, burgueses e egoístas” pelas barreiras no caminho do “paraíso”, onde todos seriam iguais. Muitos afirmam que o socialismo morreu, mas ignoram que vários governantes atuais ainda admiram figuras patéticas como Lênin ou Trotsky. Esquecem que uma certa ilha do Caribe ainda segue, depois de 47 sofridos anos, na linha comunista. Fingem não notar que uma Heloísa Helena, defensora das jurássicas e podres idéias socialistas, consegue mais de 7% dos votos em todo o país. Fazem vista grossa ao fato de que um ex-operário chegar ao poder ainda agrada muita gente, independente de sua capacidade de gestão, honestidade, competência.

Se o comunismo morreu mesmo, não sei. Tendo a concordar que foi bastante danificado após uma dose – com absurdas seqüelas – de experiência prática. Mas o sonho permanece vivo, infelizmente. Talvez tenha mudado um pouco de cor, tornando-se um vermelho mais desbotado, fazendo concessões ao “cruel” capitalismo. Mas a praga coletivista, o ideal igualitário, ainda vivem. Muitos ainda não perceberam que a podridão socialista está em sua raiz, em sua (falta de) moralidade. Lendo o livro de John Reed, escrito no calor dos acontecimentos de 1917, fiquei pensando em quanta gente ainda não entendeu a essência do problema, em quantos ainda são vítimas dessa ilusão coletiva que é o socialismo. Espero que um dia a razão ainda vença, de barbada, tais impulsos emocionais e irracionais. O homem é capaz disso. Ele tem a capacidade de entender, no fundo, que socialismo é coisa para insetos gregários. Basta fazer uso da razão, instrumento que nos distancia dos demais animais e permite o uso do rótulo homo sapiens.