sexta-feira, setembro 29, 2006

Relativismo Cultural



Rodrigo Constantino

Uma das grandes pragas modernas é o relativismo cultural, a nebulosa visão de que é impossível julgarmos objetivamente as diferentes culturas, hierarquizando-as. A ditadura do politicamente correto acaba fazendo inúmeras vítimas, que sequer notam as claras contradições desta postura. Não há quem não julgue, no fundo, diferenças de valores. O perigo reside na hipocrisia de se afirmar que são apenas “diferenças”, em vez de emitir um parecer sincero sobre a superioridade de uns sobre os outros. Apelam para a máxima de que “somos todos iguais”, como se um Gandhi fosse realmente igual a um Fernandinho Beira-Mar. Colocar o joio e o trigo no mesmo saco é injusto. Misturar lama com sorvete estraga o sorvete, e não torna a lama apetitosa.

Uma cultura é, segundo a definição da Enciclopédia Britânica, um padrão integrado de conhecimento humano, crenças e comportamentos que são resultados da capacidade humana de aprendizagem e transmissão de conhecimento para as gerações seguintes. Cultura consiste então em língua, idéias, crenças, costumes, códigos de conduta, instituições, ferramentas, técnicas, rituais, arte, símbolos etc. A cultura de um povo pode evoluir com o tempo. Cultura se aprende. Os relativistas culturais tentam logo acusar de “nazistas” aqueles que conseguem enxergar objetivamente instituições e costumes superiores – ignorando que Hitler falava em superioridade racial dos arianos, algo que seria inato, não aprendido. O conceito de raça humana sequer faz sentido! Já estoque de conhecimento, instituições, valores e avanços não só existem e variam muito de cultura para cultura, como uns são bastante superiores a outros. Ou será que alguém realmente acredita que a cultura da Suíça é apenas “diferente” da do Zimbábue, e não melhor?

Algo inerente aos relativistas culturais, pelo fator contraditório de suas crenças, é o constante uso de dois pesos e duas medidas. Ao mesmo tempo em que relativizam todas as barbaridades provenientes da cultura atrasada que pretendem defender, esquecem o relativismo e partem para a objetividade de julgamento na hora de condenar as culturas que detestam – normalmente as mais avançadas e livres. Assim, cortar o clitóris passa a ser apenas uma “diferença cultural”, como colocar um brinco na filha. Mas o “consumismo” ocidental é algo podre, que deve ser combatido, e não apenas uma “diferença” de valores. Uma cultura que prega a morte de “infiéis” como finalidade máxima é apenas uma cultura “diferente”, enquanto se um país for se defender dessa ameaça, sua “cultura belicosa” passa a ser repugnante. Os relativistas fingem não perceber que se “tudo vale”, pois nenhuma cultura é superior a outra, então um povo pode alegar ter como valor supremo o extermínio de outras culturas. Com qual critério um relativista consegue julgar algo, se tudo não passa de “diferenças culturais”?

Outra falácia comum entre os relativistas é tirar as coisas do contexto, comparando alhos com bugalhos. Questionam a tal superioridade cultural do Ocidente citando o império espanhol, com Pizarro trucidando os incas no Peru, por exemplo. Mas ignoram dois pontos cruciais: em primeiro lugar, estão deixando o relativismo de lado e usando um critério objetivo para condenar esse passado negro, possível justamente pela evolução cultural do Ocidente; em segundo lugar, esquecem o fator cronológico e comparam as civilizações modernas com as antigas, sem levar em conta como era a vida naquele tempo, comparando alternativas. O Império Romano, por exemplo, parece atrasado ou mesmo bárbaro aos nossos olhos atuais. Mas quando comparamos o modus vivendi dos romanos com o dos hunos, governados por Átila, vemos que a civilização da época estava com os romanos, enquanto a barbárie estava nos hunos.

O mundo não tem absolutamente nada a ganhar com a névoa moral que impede uma análise honesta sobre as diferentes culturas. Isso nada tem a ver com eugenia ou nazismo, posto que cultura não é algo inato, dependente de uma raça. Valores culturais podem – e devem – ser ensinados, copiados, aprendidos. Valores como a liberdade individual, o direito à vida, o império de leis isonômicas, não são apenas uma questão de gosto do “freguês”, mas sim valores universais. Como podem os relativistas falarem em “diferenças culturais” sem grau de hierarquia ao mesmo tempo que pregam os tais “direitos universais”? Não notam a gritante contradição? Se notam – e um mínimo de inteligência permite isso – trata-se então de pura hipocrisia mesmo. Defendem de forma consciente algo errado, injusto e imoral, colocando o podre como equivalente ao sadio, o pérfido como igual ao virtuoso. Que tipo de gente faz isso? Não podem ser os virtuosos...

terça-feira, setembro 26, 2006

A Importância do Voto



Rodrigo Constantino

“O maior castigo para aqueles que não se interessam por política é que serão governados pelos que se interessam.” (Arnold Toynbee)

A consciência do eleitor sobre o valor do seu voto é importante em uma democracia. O alerta de Toynbee, na epígrafe acima, é verdadeiro. Se os cidadãos não se importarem com quem estão colocando no poder, serão mais facilmente vítimas de abusos deste poder. Apesar de no Brasil o voto ser uma obrigação – o que é um absurdo, ele deveria ser encarado como um direito de todos, e contribuir com o voto nas eleições deveria ser uma escolha individual, calcada no sentimento de responsabilidade, já que o resultado irá afetar a vida de todos. O preço da liberdade é a eterna vigilância.

Entretanto, há uma explicação bastante racional também para a falta de interesse generalizada no voto. Várias pessoas sequer lembram em quem votaram nas últimas eleições. Isso, apesar de condenável, não é totalmente irracional. O motivo encontra-se no peso de cada voto, do ponto de vista individual. Quanto temos algo como 100 milhões de votos, cada um com o mesmo peso, um único voto isolado realmente não move moinhos. O agente racional sabe disso. Ele entende que quando vai gastar o seu dinheiro num mercado, seu “voto” tem total poder na escolha, afinal, é ele mesmo quem decide o que comprar. Mas quando sua escolha é somada às preferências de dezenas de milhões de pessoas, e o resultado final é aquele que a maioria escolhe, sua preferência particular importa pouco. O esforço de conscientização feito pelo TSE com propagandas onde o eleitor aparece como o verdadeiro patrão escolhendo seus funcionários públicos é louvável, mas não tão verossímil assim. Não é que ele não seja de fato o patrão. Ele é. Mas é que ele divide esse poder com outros milhões e milhões de patrões, cada um com o mesmo peso. Isso pode ser um pouco frustrante pelo prisma individual.

Essa realidade da política gera uma reflexão interessante: quanto mais coisa puder ficar fora do escopo do governo, melhor. Imagina se a escolha da cerveja preferida passasse pelo mesmo processo decisório, com milhões votando e depois a maioria decidindo qual cerveja todos deverão tomar! Seria absurdo e autoritário. O processo de escolha democrática acaba sendo uma espécie de ditadura da maioria. Parece bastante razoável então que essa maioria tenha poder somente sobre questões bem abrangentes, deixando as demais escolhas para os próprios indivíduos. Chegamos ao princípio da subsidiariedade, onde as decisões devem ser mantidas o mais próximo possível do cidadão. O que realmente não couber ao indivíduo escolher por si só, sobe para o critério de bairro, depois município, estado e finalmente país. O governo federal cuidaria somente dos interesses gerais da nação, não interferindo nos detalhes do cotidiano. Dessa forma, o poder de escolha dos indivíduos estaria preservado e alinhado com seus reais interesses. Isso não acontece quando o cidadão deposita um único voto entre vários milhões para escolher governantes que terão poder demasiado sobre suas decisões particulares.

Resumindo, o voto tem sim um papel fundamental na vida democrática. O cidadão deve ter a consciência de sua relevância no processo de escolha dos governantes. Mas precisamos levar em conta também que o poder do governo deve ser o mais descentralizado possível, e sempre reduzido ao máximo para garantir as liberdades individuais. Fora isso, é importante acabar com a obrigatoriedade do voto, pois um direito cívico não pode ser encarado como uma imposição. Juntando essas duas questões – a redução do poder estatal pelo critério da subsidiariedade e o voto livre – creio que os cidadãos terão, naturalmente, maior interesse no seu voto. O paradoxo é que para chegarmos neste ponto, dependemos justamente do voto, ainda que hoje ele seja obrigatório e deposite poder demais em poucos governantes. Os indivíduos que prezam a liberdade devem escolher os candidatos que representam esta trajetória rumo ao menor poder estatal e maior poder da escolha individual. E claro, repudiando a corrupção que atrapalha todo o processo democrático.

segunda-feira, setembro 25, 2006

Pegando Carona no BRIC



Rodrigo Constantino

O economista chefe do Morgan Stanley, Stephen Roach, escreveu um relatório onde alerta para uma possível virada na boa performance das bolsas dos países membros do chamado BRIC – Brasil, Rússia, Índia e China. Ele chama a atenção para a possibilidade de uma menor generalização dentro do heterogêneo grupo, onde os fundamentos isolados começariam a receber mais destaque através de um critério de diferenciação. O crescimento econômico pífio do Brasil, que para ser medíocre teria que melhorar muito, ficaria assim em maior evidência, já que hoje acaba ocultado pelo enorme crescimento dos demais países.

O crescimento da economia brasileira tem sido, de longe, o mais fraco do grupo. A dinâmica interna não tem força, e apenas as exportações puxaram um pouco mais a média para cima. O PIB cresceu uma média anual de apenas 2,2% no período de 2001 a 2005, literalmente um quarto dos 8,9% de média de crescimento dos outros três países do BRIC, no mesmo período. Stephen Roach usa esses dados para questionar até mesmo o motivo do Brasil fazer parte desse grupo, já que não parece qualificado para tanto. Na verdade, parece que apenas o tamanho continental do país, assim como a letra inicial do seu nome – que cria um impacto mais agradável do ponto de vista sonoro, justificam a presença do Brasil nesse grupo de rápido crescimento econômico. E o Brasil acabou pegando uma boa carona no BRIC, já que o conceito em si, alimentado pela boa performance econômica dos demais, conquistou muitos investidores. Muitos dólares respingaram na terra brasilis por tabela, ainda que nossa performance econômica fosse equivalente a do Haiti.

Não obstante esses fatos lamentáveis, os petistas comemoram tamanha mediocridade, falando dos empregos “criados” pelo governo Lula. Não aprovo o governo FHC. Não pelas privatizações, pois ser contra a redução do papel de empresário do Estado é coisa de maluco, sejamos sinceros. Mas pelo excesso de gastos públicos, que não foram devidamente reduzidos. Mas o fato de um liberal reprovar o governo FHC pelo excesso de presença estatal na economia não impede que justiça seja feita, através de um julgamento objetivo e imparcial. Na era FHC, o mundo viveu tempos terríveis de crises, como as da Ásia, Rússia, LTCM, Nasdaq e Y2K. Era crise grave atrás de crise grave. Já no período do governo mais corrupto da história brasileira, este que agora tenta a reeleição com uso de dólares ilegais e ranço autoritário, o mundo nunca experimentou tanta bonança. A economia global vem crescendo cerca de 5% ao ano, os países emergentes mostram mais de 6% de crescimento, e o Brasil patina na lama, crescendo menos de 3% ao ano, ainda mais puxado pelo crescimento externo. Mas os petistas acham o máximo a performance econômica da era Lula, comparando em termos absolutos com a era FHC, ignorando todo o contexto mundial.

O relatório do Morgan Stanley apenas reforça fatos já conhecidos pelos que não fogem deles como o diabo foge da cruz. O Brasil vem pegando carona no BRIC, pois em termos de performance, não merecia fazer parte do grupo. E o governo Lula vem pegando carona nessa carona, aproveitando o crescimento mundial, que trás o Brasil a reboque, para conquistar votos e esconder o mar de corrupção que tomou conta do país. O que o governo Lula tem de corrupto, tem de sortudo também. Para a alegria dos safados, e tristeza da nação.

quinta-feira, setembro 21, 2006

El Diablo



Rodrigo Constantino

O Chávez que falou na ONU não é o mesmo que apanhava do “seu” Madruga, mas é um grande comediante também – e merecia uns bons cascudos, sem dúvida. De tempos em tempos, o presidente venezuelano garante a diversão dos que estão longe de seu país – pois lá resta apenas o sofrimento do povo miserável, não obstante todo o “ouro negro”. Chávez é um palhaço. Mas um palhaço cheio de petróleo, com forte ranço autoritário, e por isso um palhaço muito perigoso.

Dessa vez Chávez usou o seu espaço na ONU para atacar uma vez mais o presidente Bush, seu bode expiatório predileto para justificar as suas atrocidades domésticas. Disse que ainda sentia o cheiro de enxofre, pois “um diabo” havia estado ali. Chávez foi, depois de se reunir com o Satã em pessoa, o líder da teocracia do Irã, usar a liberdade que existe nos Estados para atacar o presidente daquele país. Na Venezuela, pobre do coitado que ousar chamar o presidente daquilo que é. Eu, que não gosto de Bush, não consigo deixar de sentir mais simpatia por ele quando essas figuras pitorescas atacam-no dessa maneira. Quem tem Chávez e Mahmoud Ahmadinejad como inimigos já é, em parte, meu amigo. Talvez um colega, vai.

Chávez disparou suas estultices segurando na mão um livro do “guru” da esquerda, o lingüista Noam Chomsky. Seu trabalho sobre a linguagem é elogiado por muita gente séria, mas infelizmente Chomsky há muito abandonou os estudos sobre a sintaxe, preferindo reproduzir chavões idiotas para virar celebridade entre rebanhos bovinos. Trocou a ciência pelo Fórum Social Mundial, em resumo. E foi agraciado com o reconhecimento, pela turma do rebanho, de ser o maior “intelectual” do mundo. Pois é. O maior “intelectual” do mundo está apoiando a candidatura de Heloísa Helena no Brasil, aquela que garante que um país não pode ter inflação sozinho, sem que o resto do mundo tenha também. Ela nunca ouviu falar em Zimbábue, onde Robert Mugabe colocou em prática boa parte das baboseiras que ela prega, levando o país a 80% de desemprego e mais de 1.000% de inflação!

Tais são os ícones da esquerda mundial, que prega um “novo mundo” possível, um mundo diametralmente oposto ao capitalismo. O novo mundo possível é rejeitar o modelo americano, que criou a nação mais próspera do globo, e seguir no rumo de Zimbábue. Chomsky acha isso maravilhoso na teoria, mas na prática ainda prefere continuar nos Estados Unidos, país do demo. Aqueles milhões de imigrantes que saem dos países adorados pela esquerda e tentam a vida, ainda que de forma ilegal, no “antro” capitalista, são apenas egoístas e vítimas da alienação. Ainda não descobriram que o paraíso é a ilha-presídio do ditador Fidel Castro, camarada de Chávez e Lula. Precisam da sabedoria dos iluminados intelectuais de esquerda, ainda que na marra. Os ingratos mal agradecidos que morram no paredón! Tudo pela igualdade, mantendo as gritantes diferenças de poder e dinheiro tanto dos governantes populistas como dos intelectuais de esquerda. A simbiose perfeita dos pérfidos. Chomsky estudou a fundo a linguagem, mas desconhece a palavra “escrúpulo”.

Lênin, outro ídolo da esquerda, que conseguiu matar em poucos meses o que os czares levaram anos, dizia que o importante era os comunistas acusarem os inimigos daquilo que eles mesmos eram. Inverter a realidade, eis o objetivo. Desde então, os comunistas imaginam um espelho, e ligam a metralhadora giratória, cuspindo agressões toscas. Chávez fez exatamente isso, quando chamou Bush de “el diablo”. Se Lúcifer tem de fato filhos no planeta Terra, eles estão agrupados no Foro de São Paulo, que o PT de Lula ajudou a criar, ao lado das FARC e de Fidel Castro. Um novo mundo é possível. Um mundo onde Belzebu em pessoa dá as cartas, através desses ditadores adorados pelos intelectuais de esquerda. Se esse mundo de fato um dia chegar, parem-no que eu vou saltar!

quarta-feira, setembro 20, 2006

Freud Explica



Rodrigo Constantino

"Ao votarem pela segunda vez no maior farsante de toda a história política brasileira, passam da condição de eleitores a cúmplices, conscientes da lamentável desagregação ética e moral que assola o País." (Carlos Vereza)

Todos os meus 8 leitores devem estar estranhando o fato de eu ainda não ter escrito algo a respeito do último escândalo petista – a tentativa de compra de um dossiê contra o PSDB por quase 2 milhões de reais. Calma! É que eu estava me recuperando do forte enjôo de mais essa novidade, que embrulhou meu estômago. Quando eu penso que a quadrilha petista já fez de tudo imaginável, ela demonstra o quanto sou inocente ou sem criatividade. Na busca pelo poder, essa gente é mesmo capaz de qualquer coisa. Até mesmo uma imbecilidade dessas nas vésperas das eleições!

Rapidamente, alguns defensores do indefensável PT vieram questionar a lógica por trás dessa investida perigosa, com as eleições praticamente ganhas por parte do presidente Lula. Até a Lúcia Hipólito embarcou nessa, preferindo dar mais atenção ao conteúdo do dossiê que ao mistério da origem da grana, e repetindo que Lula não teria interesse nisso pois está praticamente reeleito. Esquece ela que o PT não está eleito para o governo de SP, importante para o governo do país. O presidente Lula foi pela mesma linha, falando que não teria interesse nisso, e que seria coisa de quem pretende “melar” as eleições. Melhor o presidente explicar então porque gente tão próxima dele gostaria de avacalhar as eleições, posto que o tal Freud Godoy era assessor íntimo de Lula, e que até o presidente do PT, ao que parece, estava envolvido no esquema.

Não pretendo entrar nos detalhes desse mais novo escândalo, pois vou assumir que meus 8 leitores não são petistas, e portanto não fogem dos fatos. Esse artigo é somente um desabafo mesmo, o meu engov, meu remédio contra o nojo que sinto cada vez que abro os jornais ou ligo a televisão. Se eu não colocar para fora, meus órgãos podem ser corroídos pela podridão imensa que a máfia petista representa. Acredito no que Shakespeare disse, que “guardar ressentimento é como tomar veneno e esperar que a outra pessoa morra”, e por isso tenho que cuspir tal veneno – mas sem necessariamente deixar de esperar que a outra pessoa morra.

Conta-se que Lênin tinha que adulterar uma fotografia onde aparecia com camaradas antigos, companheiros de luta, pois esses colegas iam desaparecendo misteriosamente no decorrer do tempo. Lula terá que fazer igual. Praticamente todos os seus aliados mais próximos, de mais confiança, colegas que estiveram lado a lado desde o começo da luta pelo poder, estão marcados com o carimbo da justiça. Vários são quadrilheiros, como o próprio Procurador da República disse. Alguns são suspeitos até mesmo de assassinato. Não sobra um! A chegada ao poder foi suficiente para desmascarar o manto de imaculado desses oportunistas sem escrúpulos. Cometeram crimes que abrangem vários itens do Código Penal. Mas Lula ainda repete que nada sabia...

Em algumas ocasiões, um charuto pode ser apenas um charuto. O próprio Freud, que tudo explica, reconheceu isso. Mas quando o charuto é encontrado no mesmo local do corpo por onde as mais nojentas excrescências são eliminadas, não resta dúvida de que esse charuto tem outro significado. O charuto petista não é “apenas um charuto”. A quadrilha do PT já foi pega com a boca na botija inúmeras vezes. Nenhum dos membros dessa corja está preso. O abuso de poder, o uso da máquina estatal como braço partidário, o escudo do carisma popular do presidente, são verdadeiras ameaças ao Estado de Direito, ao império das leis, à própria democracia. Por que o povo não só aceita, como vota nisso, só mesmo Freud explica. Não o “pai da psicanálise”, mas o Godoy mesmo.

segunda-feira, setembro 18, 2006

O Monopólio da Virtude



Rodrigo Constantino

“A primeira coisa que um homem fará pelos seus ideais é mentir.” (Joseph Schumpeter)

Uma característica bastante comum de se observar em certas pessoas é a tentativa de monopolizar a virtude. Normalmente são pessoas que sofrem do que Thomas Sowell chamou de “tirania da visão”, quando um ideal particular de justiça cósmica anula qualquer capacidade de reflexão honesta. Tal indivíduo não terá interesse algum em debater seriamente os meios adequados para seus objetivos, testando suas teses através da experiência e aplicando a lógica nelas. Tudo que importa são as finalidades nobres, e qualquer alternativa oferecida com meios distintos será tratada com intenso desdém, como se a própria finalidade em si do outro fosse pérfida.

Existem inúmeros exemplos para ilustrar esta tentativa que alguns fazem de se arrogar a propriedade única da boa intenção. Um ótimo caso inicial está nos ditos “pacifistas”. As pessoas que automaticamente confiscam para si o monopólio da “luta pela paz”, como se o restante fosse adepto da violência, não pretendem nunca debater a fundo os métodos. A estratégia é desqualificar os fins dos oponentes, não seus meios pregados. Assim, qualquer um que não adere ao modelo pacifista é ou um lacaio da indústria bélica ou um potencial guerreiro empedernido, sedento por sangue. Não importa que essas pessoas mostrem a lógica de que certos inimigos precisam ser combatidos com firmeza, ou que algumas guerras são úteis e necessárias para a própria manutenção da paz. Tampouco importa mostrar inúmeros casos empíricos onde a complacência com o inimigo foi o caminho da desgraça. Os “pacifistas” já encerraram a questão antes mesmo do debate começar. Somente eles querem de verdade a paz.

É a busca pela paz, não quais métodos de fato garantem-na, que exalta moralmente esses visionários. No fundo, essas pessoas buscam uma exaltação pessoal perante os outros, estão atrás da imagem de nobres almas. Não ligam para os resultados concretos do que defendem, posto que um mínimo de avaliação honesta, muitas vezes, mostraria que há um abismo entre o defendido e o obtido. Foi dessa maneira que, faltando menos de um ano para que a guerra mais catastrófica do mundo fosse iniciada por Hitler, o Primeiro Ministro inglês, Chamberlain, enalteceu o “desejo do povo alemão pela paz”. Vários intelectuais “pacifistas” condenavam os governos que investiam em armamento, antecipando a real ameaça nazista. O enfraquecimento militar do Ocidente foi, sem dúvida, um dos fatores que estimularam os agressores. Não obstante, a dura realidade nunca impediu que tais “pacifistas” se considerassem moralmente superiores. Os outros são apenas bárbaros belicosos, ainda que a própria sobrevivência desses “pacifistas” dependa dos “belicosos”. O padrão se repete atualmente na questão do Islã, onde os relativistas morais colocam-se acima dos demais em termos morais, atuando de forma complacente com um grupo de fanáticos que pretende, abertamente, destruir o Ocidente. Uma vez mais, esses “pacifistas” só irão sobreviver para repetir novas hipocrisias se os “belicosos” os defenderem do inimigo.

O campo militar é fértil nessa questão do monopólio da virtude, mas está longe de ser o único. Na economia os monopolistas de fins nobres abundam também. Peguemos como exemplo a questão da miséria. Os “defensores dos pobres” são aqueles que defendem o uso do aparato estatal no combate à miséria, sem entretanto aprofundar o debate a respeito do melhor método para reduzir a pobreza de fato. Se um liberal mostrar com vastos casos empíricos que a pobreza foi melhor combatida onde o Estado menos interveio nos assuntos econômicos, ele será ignorado na melhor das hipóteses, ou tachado de insensível na pior delas. Não são os meios o foco desses “defensores dos pobres”, e sim a finalidade em si, como se alguém normal realmente desejasse o aumento da miséria. Se um liberal tentar explicar que a melhor forma de atacar o problema da miséria é através do livre mercado, poderá ser rotulado até mesmo de “darwinista social”, como se quisesse, na verdade, entregar o pobre ao “deus dará”. A repetição de chavões vazios que objetivam apenas desqualificar a pessoa é indiretamente proporcional à capacidade de argumentação. Os monopolistas da virtude jamais focam nos argumentos. Para que eles sintam-se moralmente superiores, basta repetir muitas vezes e em coro que os outros não ligam para os pobres. Assim eles seguem adiante com o ar de superioridade alimentado mutuamente por cada um do grupo, ainda que os pobres sofram na pele as tristes conseqüências da falta de respeito com a realidade.

Temos vários outros casos para ilustrar o ponto central do artigo, mas creio ser desnecessário me alongar. Em todos esses casos, o padrão se repete, e humanos reais acabam sacrificados pela tirania da visão pois aqueles sacrificados não são os mesmos que exploram moralmente a nobre visão. As teorias dessas pessoas não são testadas seriamente, e o esforço delas está infinitamente mais direcionado na propaganda ou na demonização dos que carregam pontos de vista alternativos. Qualquer fim nobre tem um dono, na cabeça deles, e são os próprios. Quem ousa discordar ou questionar os meios desses nobres fins simplesmente não são virtuosos. Não podem ser! Caso contrário, os que aparentam nobreza ficarão nus, sem o manto da pseudo-virtude, e restará ao mundo a visão da essência deles: a hipocrisia.

sexta-feira, setembro 15, 2006

Da Justiça Distributiva



Rodrigo Constantino

“Poverty and misfortune are evils but not injustices, and the moral demand they make is for help on the ground of humanity.” (H. B. Acton)

O que seria justo do ponto de vista de distribuição de riquezas numa sociedade? Quais os critérios que deveriam ser observados para julgarmos se há ou não justiça num determinado padrão de distribuição de renda? São questionamentos delicados, cuja resposta completa não caberia em apenas um artigo. Aqui irei tratar dos pontos levantados por Harry B. Acton sobre este tema, em seu livro The Morals of Markets.

Para o autor, uma coisa é falar em ajuda para alívio do sofrimento dos mais necessitados, mas outra completamente diferente é falar em justiça. Se o pobre e as casualidades da vida são ajudados porque é injusto que eles assim permaneçam, então o caminho está aberto para dizermos que é injusto uns terem menos que os outros. Mas se a ajuda é dada no sentido de critérios humanitários, então não temos que dar prosseguimento ao processo de redistribuição além do ponto onde o sofrimento é aliviado. Em suma, enquanto muitos entendem e aceitam que o sofrimento alheio pede por uma ajuda imediata, os coletivistas igualitários demandam remédios para a desigualdade em si, via redistribuição estatal.

Poderíamos questionar Acton no sentido de ser ou não necessário o aparato estatal para tal solidariedade humanitária nos casos graves de sofrimento. A espontaneidade humana, visível em vários casos de catástrofes, poderia bastar, sem a necessidade do uso do Estado, muitas vezes ineficiente e perigoso para a liberdade individual. A solidariedade pode – e deve – ser voluntária. A filantropia funciona melhor que o “altruísmo” estatal, realizado por governantes cujos interesses reais são particulares, muitas vezes populistas. Mas o ponto chave aqui é fazer a distinção entre o uso da máquina estatal para montar uma rede de proteção básica aos mais carentes e necessitados, ou sua utilização para um propósito bem mais ousado e perigoso, que é o foco na igualdade material, assumindo que a desigualdade em si seria um problema a ser solucionado pela mão do Estado.

Ora, não podemos falar em injustiça por se nascer numa família menos abastada, carregando genes piores ou num ambiente mais hostil. São simplesmente fatos naturais. Falar em injustiça nesse caso seria culpar uma divindade qualquer, dado que não há interferência humana em tais acontecimentos. O que leva alguém ao sucesso material não pode ser facilmente detectado, podendo contar com pitadas de sorte, mérito, esforço pessoal etc. Nenhum homem é onisciente para saber quais critérios exatamente fizeram com que a distribuição de riqueza fosse a existente. “Se ninguém é responsável por criar tal situação, ninguém pode ser razoavelmente premiado por seu arranjo justo ou culpado pelo arranjo injusto”, diz Acton. Não faz sentido falar em justiça de se nascer belo, alto, forte ou inteligente, assim como falar em injustiça por ser o oposto em tudo isso. Injustiça de quem? Algo que simplesmente acontece não pode ser justo ou injusto.

Quando os socialistas afirmam que é injusto que as oportunidades e riqueza dependam amplamente de sorte ou nascimento estão tentando dizer que elas deveriam ser deliberadamente distribuídas de acordo com algum padrão qualquer. Isso segue, na verdade, do desejo de estabelecer justiça para a sociedade como um todo. Justiça distributiva pressupõe um distribuidor, atuando de acordo com alguma regra. No caso, os socialistas gostariam de determinar tal regra, de acordo com seus próprios desejos. Como é impossível conhecer exatamente as causas que levam à distribuição existente num livre mercado, os socialistas partem de um prisma arrogante, onde seus conceitos seriam impostos aos demais. A justiça que Deus falhou em oferecer ao mundo será feita pelos igualitários. A fraternidade será forçada e a integração social compulsória. Todos terão “direito”, independente de quem passa a ter o dever de oferecer, a tudo aquilo que os governantes decidirem, em nome da justiça. Não há moralidade alguma em tal postura autoritária, muitas vezes ocultando a face feia da pura inveja.

O tema é complexo o suficiente para não se esgotar em um artigo. Acton enfoca a questão moral do Liberalismo, muitas vezes ignorada até mesmo por supostos liberais, que limitam as análises apenas ao campo da eficiência de resultados. Creio ser fundamental desmascarar a hipocrisia e a falha moral de igualitários invejosos ou arrogantes, que gostariam de definir arbitrariamente um padrão “justo” de distribuição de riquezas. Por acaso a beleza é distribuída de forma “justa” na natureza? Ou a altura, força, saúde, sorte? O mundo tem muito a ganhar com a redefinição de certos conceitos atualmente deturpados. A sociedade criar mecanismos artificiais para o alívio de situações calamitosas é uma coisa. Mas outra totalmente diversa – e bem perigosa – é falarmos em direito de justiça a igualdade material, ignorando que vários fatores desconhecidos levam cada um ao patamar atingido de riqueza. Seria como defender a coerção estatal, fosse possível, para tornar todos igualmente bonitos – ou feios – já que seria “injusto” alguém nascer uma modelo em potencial enquanto outra vem ao mundo como uma mocréia.

quarta-feira, setembro 13, 2006

O Ódio a Israel



Rodrigo Constantino

“Não é possível discutir racionalmente com alguém que prefere matar-nos a ser convencido pelos nossos argumentos.” (Karl Popper)

O anti-semitismo é praticamente tão antigo quanto o próprio judaísmo. Os motivos variaram com o tempo, mas oscilando, quase sempre, em torno da inveja. A prática da usura era condenada enquanto os judeus desfrutavam de sua evidente lógica. Shakespeare retratou de forma intensa o anti-semitismo de seu tempo, na sua clássica obra O Mercador de Veneza. Marx, constantemente tendo que buscar refúgio com agiotas por causa de sua irresponsabilidade financeira, demonstrou forte anti-semitismo, usando os judeus como bode expiatório. O Holocausto nazista, com amplo apoio dos principais líderes muçulmanos, foi o ponto alto do preconceito contra judeus. Atualmente, o ódio irracional ao povo judeu está novamente em alta, concentrado especialmente no próprio direito de existência de Israel.

Vários países existem por causa de decisões arbitrárias de governos, principalmente após guerras. São inúmeros exemplos, e Israel é apenas mais um. Só que, curiosamente, somente Israel não tem o direito de existir, segundo os muçulmanos, com o consentimento de muitos ocidentais – quase todos de esquerda. O que Israel faz de tão terrível para que mereça ser “varrido do mapa”, como fanáticos islâmicos defendem? Vou arriscar uma possível resposta nesse artigo.

Israel é um país pequeno, criado apenas em 1948, contando com pouco mais de 6 milhões de habitantes. Entretanto, o telefone celular foi desenvolvido lá, pela filial da Motorola, que possui seu maior centro de desenvolvimento em Israel. A maior parte do sistema operacional do Windows NT e XP foi desenvolvida pela Microsoft-Israel. A tecnologia do chip do Pentium MMX foi projetada na Intel em Israel. O microprocessador Pentium 4 e o processador Centrino foram totalmente projetados, desenvolvidos e produzidos em Israel. A tecnologia da “caixa postal” foi desenvolvida em Israel. A Microsoft e a Cisco construíram suas únicas unidades de pesquisa e desenvolvimento fora dos EUA em Israel. Em resumo, Israel possui uma das indústrias de tecnologia mais avançadas do mundo.

A economia de Israel, acima de US$ 150 bilhões por ano, é superior a soma de todos os seus vizinhos. A penetração de computador é uma das maiores do mundo. Mais da metade dos habitantes tem acesso a Internet. Israel possui ainda a maior proporção do mundo de títulos universitários em relação a população. Lá são produzidos mais artigos científicos per capita que qualquer outro país do mundo. Israel possui o maior Índice de Desenvolvimento Humano do Oriente. A renda per capita está chegando a US$ 25 mil. Cientistas israelenses desenvolveram o primeiro aparelho para diagnóstico de câncer de mama totalmente computadorizado e não radioativo. E por aí vai.

Não custa lembrar que tudo isso foi conseguido sob constante ameaça terrorista por parte dos vizinhos muçulmanos, forçando um pesado gasto militar por parte do governo israelense. Em relação ao PIB, Israel possui um dos mais elevados gastos militares do mundo. Ainda assim, o país despontou no campo científico e tecnológico, oferecendo enormes avanços para a humanidade.

Quando comparamos esta realidade com a situação caótica da maioria dos países com predominância islâmica, fica mais fácil entender uma parte do ódio patológico que é alimentado contra os judeus. Claro que fatores religiosos pesam. Mas as gritantes diferenças econômicas e sociais adicionam muita lenha na fogueira. Fora isso, os israelenses podem escolher seus governantes democraticamente, enquanto os muçulmanos vivem sob ditaduras. Isso para não falar das diferenças quanto a liberdade feminina. Com tanta miséria, falta completa de liberdade, mulheres submissas e com o corpo todo coberto, a tentação de morrer como mártir e ser recebido por dezenas de virgens no paraíso parece irresistível. Mas o ideal seria mostrarmos para os muçulmanos que isso não é necessário. Israel não é um paraíso – longe disso. Mas perto da realidade dos vizinhos islâmicos, está quase lá. Ao invés de cometer suicídio num ataque terrorista na tentativa de destruir Israel, os muçulmanos fariam melhor se pressionassem seus líderes para que Israel fosse copiado, não “varrido do mapa”. Todos, com a exceção dos seguidores do profeta que usam a existência de Israel como desculpa para todo tipo de atrocidade doméstica, sairiam ganhando.

A Inveja dos Igualitários



Rodrigo Constantino

“A ingrata brutalidade dos reis em direção aos financiadores que os ajudaram sempre ganhou os aplausos populares. Isso talvez esteja relacionado ao profundo sentimento de que indivíduos não têm direito de serem ricos por eles mesmos e para eles mesmos, enquanto a riqueza dos governantes é uma forma de gratificação pessoal para as pessoas que pensam neles como o ‘meu’ governante.”

Em The Ethics of Redistribution, Bertrand de Jouvenel mostra com sólidos argumentos como a inveja pode estar por trás das políticas de redistribuição de renda através do aparato estatal. Ele cita um exemplo dos comunistas franceses que deram caros presentes para seu líder, aparentemente indo contra os próprios valores comunistas, explicando que as pessoas têm sido mais generosas com aqueles que julgam melhores e com seus líderes. O burguês apresentaria duas convicções básicas que diferem desse sentimento popular: sente que não deve sua riqueza a favores e se considera livre para gastá-la consigo mesmo, da forma que preferir, normalmente secreta. É precisamente o reverso da atitude que justificaria uma renda excepcional sob a ótica popular. O povo quer sentir que essa renda é um presente dele, e quer demandar que os beneficiários façam um espetáculo de gala.

Por isso que o empresário que compra um iate é menosprezado, enquanto um presidente que vive no luxo, com roupas caras feitas de tecido egípcio, carro próprio para a cadela e viagens com avião novo, é admirado. Mesmo que seja um ex-operário eleito com o discurso de redução da desigualdade material. Quando o príncipe Felipe de Borbón e Letizia Ortiz se casaram, o evento contou com a mobilização de mais de 17 mil policiais e 200 atiradores de elite, que ajudaram na segurança, custando aos cofres públicos uma quantia estimada entre 6 a 8 milhões de euros. Segundo a imprensa espanhola, o custo total do casamento superou os 20 milhões de euros. Uma união entre dois indivíduos acabou se tornando um espetáculo público, financiado pelo bolso dos "contribuintes". O povo, ainda que forçado a pagar pela festa, aplaude o espetáculo. Mas não faltariam críticas ácidas se um empresário pagasse do seu próprio bolso por uma festa milionária fechada. Seria acusado de fútil, insensível, e esfregariam na sua cara toda a miséria existente à sua volta, ainda que ele não tenha culpa dela.

O livro de Jouvenel enfoca tanto a questão moral como os resultados das políticas de redistribuição de renda. O autor mostra como a iniciativa privada é afetada em diversos campos da vida social, podendo levar à destruição do homem independente e ao enfraquecimento da sociedade civil. As medidas de redistribuição de renda não têm como evitar a expansão burocrática e seus poderes discricionários, tornando praticamente impossível a reconciliação com o império da lei, fundamental para uma sociedade livre. Hayek focou bastante na questão do conhecimento limitado das autoridades. Como saber quanto da renda de alguém veio da pura sorte, do acaso, do mérito, do esforço ou da inteligência? Seria justo alguém ser rico por pura sorte? Mas ora, seria justo, da mesma maneira, alguém já nascer bonito, com genes bons, com voz possante, ou numa família rica? Os igualitários pretendem, num complexo de deus onisciente, solucionar o que seria uma “injustiça” cósmica. Moldariam a sociedade de acordo com um padrão pessoal de justiça, dando total ênfase na questão material apenas.

A redistribuição começou com um sentimento de que alguns possuem muito pouco e outros muito. Tirar desses que têm muito para dar aos que têm pouco seria vantajoso e “justo”, com justiça aqui significando apenas uma emoção arbitrária sobre um padrão pessoal de distribuição de riquezas. Do ponto de vista utilitarista, não há como medir as satisfações subjetivas das pessoas, sendo impossível verificar se a utilidade geral aumentou ou diminuiu com tal expropriação dos mais ricos. Hayek mostrou que essa linha de raciocínio, de retornos decrescentes por unidade monetária, onde o rico não teria a mesma utilidade que o pobre com 10 unidades extras, levaria ao oposto do defendido pelos “redistribucionistas”. O rico precisaria, por essa linha, de mais unidades monetárias ainda para manter a mesma satisfação. Teríamos que falar em imposto regressivo em relação à renda, não progressivo. Parece evidente que descartar de vez essa “lógica” utilitarista é o ideal, para evitar absurdos.

Na prática, é inviável executar essa redistribuição de renda tirando somente dos realmente ricos. Deixando de lado a injustiça em discriminar os mais ricos, ferindo a isonomia de tratamento, tal medida é totalmente ineficaz. Acaba que a classe média tem que ser vítima também. No fundo, quem ganha são os burocratas do Estado. Ocorre uma transferência de renda de todos para o governo. A centralização é o resultado inevitável das políticas de redistribuição. O Estado, que vai tirando mais e mais da classe média e alta, em nome dessa maior igualdade material, acaba tendo que compensar em parte, oferecendo serviços, substituindo as funções de poupança e investimento, garantindo subsídios etc. A conseqüência é um enorme avanço do papel estatal na economia, ameaçando as liberdades individuais. Marx sabia disso, e defendeu um imposto bastante progressivo como meio para o proletariado tomar, pela via política, todo o capital da burguesia, centralizando todos os instrumentos de produção nas mãos do Estado.

Bertrand de Jouvenel foi, ao lado de Hayek, um dos que melhor mostrou os resultados perversos e inexoráveis das medidas de redistribuição de renda pelo Estado, resultando na atrofia da responsabilidade individual e na hipertrofia da burocracia e do governo centralizador, sem que as minorias mais pobres fossem de fato beneficiadas.

domingo, setembro 10, 2006

A Cruzada Reversa



Rodrigo Constantino

“Existem momentos na vida onde manter-se em silêncio é um erro, e falar uma obrigação; um dever cívico, um desafio moral, um imperativo categórico do qual não podemos escapar.” (Oriana Fallaci)

Passados cinco anos do atentado terrorista que estarreceu o mundo, choca-me que muitos ainda preferem ignorar fatos da realidade sobre o que representa a verdadeira ameaça islâmica. À época do ataque coordenado por Bin Laden, a escritora italiana Oriana Fallaci escreveu um pequeno livro – um verdadeiro desabafo – intitulado The Rage and the Pride. Trazer alguns pontos da autora nessa data, para relembrar determinados argumentos esquecidos, é meu objetivo com este artigo.

O próprio Bin Laden reforça as palavras de Oriana, quando esta afirma que as pessoas não entendem, não querem entender, que há uma Cruzada reversa em andamento, uma guerra religiosa a qual os fanáticos chamam de Jihad. O Ocidente é um mundo a ser conquistado, subjugado ao Islã. Antes que os relativistas acusem, Oriana Fallaci não é uma cristã fanática, tampouco uma defensora de Bush. Ela mesma se reconhece atéia, e não poupa críticas aos governos conservadores. Porém, isso não a impede de enxergar o que os fanáticos pretendem, com o apoio de uma razoável parcela dos muçulmanos. Não se trata de um confronto militar, mas sim cultural, religioso. As vitórias militares do Ocidente não resolvem a ofensiva do terrorismo islâmico, mas encorajam-na. Elas exacerbam tal ofensiva, multiplicam-na. “O pior ainda está por vir”, prevê Oriana. Um choque de civilizações, como escreveu Huntington.

Os inimigos usam as qualidades do Ocidente como arma contra o próprio Ocidente. Quanto mais uma sociedade é aberta e democrática, mais exposta ao terrorismo ela está. Os próprios americanos costumavam enaltecer a ilusão de invulnerabilidade da América, ignorando que a vulnerabilidade advém justamente de sua força, sua riqueza. São as razões que incitam todo tipo de ciúmes e raiva. A própria essência multiétnica e sua tolerância viram-se contra ela. O que o Ocidente em geral e os Estados Unidos em particular apresentam de melhor é justamente o que é usado pelos fanáticos contra o Ocidente.

Fallaci escreve, segundo ela mesma, para as pessoas que, apesar de não serem estúpidas ou más, enganam-se na piedade e incertezas, buscando suavizar o que o Islã de fato representa. O medo de nadar contra a corrente e parecer racista – um erro gritante, já que não se trata de uma raça, mas de uma religião – cega tais pessoas, impedindo a visão da Cruzada reversa em marcha. Não querem ver que se o Ocidente não lutar, não se defender, a Jihad irá vencer. O raciocínio de Oriana, há anos, tem sido o seguinte: que lógica há em respeitar aqueles que não nos respeitam? Exatamente na mesma linha de Karl Popper, quando disse que “não devemos aceitar sem qualificação o princípio de tolerar os intolerantes senão corremos o risco de destruição de nós próprios e da própria atitude de tolerância”. Muitos que se dizem defensores da tolerância, no fundo, desejam a derrocada do modelo ocidental, torcem pelo êxito dos fanáticos. Por antiamericanismo patológico, desejam ver o colapso da América, ignorando que isso significaria o colapso da Europa, de todo o Ocidente. Seria o reino da barbárie.

Uma parte da raiva da autora é dedicada aos que tentam analisar tudo pelo prisma de “diferenças culturais” apenas. Fallaci refresca a memória dos leitores a respeito do atraso e da barbárie que tal “civilização” representa. Questiona qual a grande contribuição ao mundo que veio de lá, citando Copérnico, Galileu, Newton, Darwin, Pasteur e Einstein do lado de cá, nenhum deles seguidor do “profeta”. O motor, o telégrafo, a luz elétrica, a fotografia, o telefone, o rádio, a televisão, o computador, nada foi inventado por um aiatolá da vida, mas pelos ocidentais. O trem, o automóvel, o avião, o helicóptero e as espaçonaves, tudo criação ocidental. Os transplantes de coração e pulmão, as curas para tipos de câncer, a decodificação do genoma, tudo que é avanço medicinal, nada fruto dos seguidores de Alá. Quais as conquistas da outra cultura, da cultura dos barbados com burca que maltratam as mulheres? Nenhuma vitória nos campos da ciência, tecnologia ou bem-estar social.

Como os relativistas culturais justificam a monstruosidade da lapidação de esposas adúlteras em pleno século XXI? Como explicam a pena de morte para quem bebe álcool ou a mutilação de ladrões, a mão esquerda amputada pelo primeiro roubo, a direita pelo segundo, o pé esquerdo pelo terceiro, e por aí vai? Os esquerdistas que defendem o Islã esqueceram agora que a “religião é o ópio do povo”, como dizia Marx? Por que não acusam as teocracias orientais? As tiranias islâmicas não são igualmente inaceitáveis como o fascismo e o nazismo?

Oriana não pretende interferir nas escolhas dos outros, mas sim evitar que tais loucuras sejam impostas a nós. E eis justamente o objetivo deles, segundo as próprias palavras de Bin Laden: o mundo todo deve virar muçulmano. Não há diálogo possível com gente assim. Alguém acha que conversar com Hitler teria alguma utilidade? Mostrar indulgência é suicídio, acreditar no contrário é tolice. A duplicidade, ambigüidade e hipocrisia de muitos “pensadores” ocidentais colocam em risco a própria sobrevivência do Ocidente, a própria liberdade de expressão que hoje eles usam contra si mesmos. Reconhecer que tal Cruzada reversa existe é um primeiro passo para que o Ocidente possa se defender. Antes tarde que nunca. Já se passaram cinco anos do atentado de 11 de Setembro que assustou o mundo. Antes, vários outros aconteceram. Depois, idem. Manter os olhos fechados para a realidade não é uma opção aceitável. Quando resolverem abri-los, poderá ser tarde demais...

sábado, setembro 09, 2006

Complexo de Inferioridade



Rodrigo Constantino

Existem vários motivos que podem levar um indivíduo a aderir ao coletivismo. Um deles, entretanto, desperta-me um interesse maior, pois não faz distinção entre graus de inteligência ou renda nas vítimas. Trata-se de um anti-individualismo patológico, um estado mental onde há um certo ódio pela figura do indivíduo. A pessoa pode ser rica, inteligente e bem articulada, mas ainda assim sofrer desse sentimento anti-indivíduo, buscando refúgio em algum ente coletivo. Ela precisa de uma válvula de escape coletivista, de algum grupo o qual se identifique, podendo assim anular suas falhas – e virtudes – como indivíduo. A destruição do “eu” é o objetivo final. Por trás dessa fuga, está um grande complexo de inferioridade.

A comunidade da qual faz parte protege essa pessoa dos desafios e oportunidades individuais. O sentimento de participação numa espécie de rebanho bovino, onde as responsabilidades individuais são substituídas pela psicologia das massas, garante um conforto para aquele que está mais focado em evitar o fracasso que atingir o sucesso. Gustave Le Bon, que estudou a fundo as massas, concluiu que os indivíduos fazendo parte de um grupo com certas características coletivistas adquirem um sentimento de invencibilidade que os permite seguir instintos os quais seriam barrados caso eles estivessem sozinhos. Um caso típico é o linchamento público, ou a agressividade das torcidas organizadas. A lógica não exerce influência nesses grupos, e a estupidez é acumulada nessa massa monolítica, nunca a inteligência de cada um. O Fórum Social Mundial é um bom exemplo.

Os sentimentos mais característicos de um anti-indivíduo são inveja, ressentimento, descrença em si próprio e autocomiseração. Ele sente-se vítima do mundo e de todos. Trata-se não de uma falta de oportunidades, recursos ou direitos, mas de um defeito de caráter, um problema moral. Ele, não tendo senso de individualismo, é incapaz de amar o que tem de melhor. Substitui o amor próprio pelo senso de lealdade ao seu grupo. Ele precisa de um líder, de alguém que vá eximi-lo de suas responsabilidades individuais. Isso faz seu senso de comunidade ser patológico. Ele acaba com um líder que é seu espelho, no fundo. Um líder que é também um anti-indivíduo, que busca controlar outros porque não pode controlar a si mesmo, que procura a emasculação de indivíduos autônomos, que prioriza a igualdade e não a competição.

Se todos fossem formigas iguais, ele não mais teria que observar suas diferenças, que tanto o incomoda. A busca da igualdade suprime a liberdade individual, e a tirania pode ser um meio justificável para tão “nobre” fim. Os dissidentes e opositores do rebanho são apenas egoístas insensíveis, que podem – e devem – ser exterminados no processo dessa “maravilhosa” construção coletivista. Ninguém desperta tanta raiva nele quanto o indivíduo independente, que não liga para os dogmas do rebanho, que se basta sem precisar do consenso. Pensamento independente e questionamento são coisas que não combinam com o coletivismo. Não é coincidência que todo socialista perseguiu esses pensadores independentes, considerados traidores da causa. Calá-los na masmorra, num gulag ou no paredón era crucial para o projeto igualitário. Proibir os livros de George Orwell em Cuba tampouco é uma coincidência. A tentativa do PT em controlar a mídia e desqualificar todos os opositores como “golpistas” idem.

Igualitários não querem melhores oportunidades para todos, nem uma qualidade de vida melhor para as massas. Querem a destruição do sucesso alheio. Querem a morte do individualismo. Querem o término da responsabilidade – habilidade de resposta – individual. Querem seguidores autômatos. Querem adeptos do rebanho bovino. Querem um formigueiro. Tem que ter muito complexo de inferioridade para desejar um mundo desses, sem indivíduos livres assumindo as próprias rédeas de suas vidas. Deve ser muito triste sofrer dessa patologia coletivista...

segunda-feira, setembro 04, 2006

Lucas, o Socialista



Rodrigo Constantino

Uma das vantagens de ter filha pequena é que posso ver todos os filmes infantis sem precisar disfarçar ou arrumar um pretexto qualquer. Adoro tais filmes! Alguns passam mensagens bem interessantes, além de tudo. Em Formiginhaz, por exemplo, o personagem principal questiona a ausência de liberdade onde tudo é feito pelo bem da colônia. Ele reclama que não se recebe muita atenção sendo o filho do meio de 5 milhões de irmãos. Não é a mesma mensagem que Lucas, Um Intruso no Formigueiro tenta passar, usando as formigas como tema também. Nesta produção de Tom Hanks, o inseto gregário é um ícone da perfeição, um ideal a ser perseguido pelos humanos individualistas.

Justiça seja feita com os autores, existem algumas boas mensagens no filme. Lucas era um garoto que apanhava de um vizinho maior e não tinha amigos, descontando depois sua raiva nas formigas, menores que ele. Quando ele fica, através de um feitiço, do tamanho das formigas, sendo obrigado a trabalhar na colônia delas, passa a ver o mundo por outra ótica. Aprende valores sobre o trabalho em equipe, a amizade, a coragem e o valor da comunidade. Aprende ainda sobre o abuso de poder, pois entende que pelo fato das formigas serem insignificantes em tamanho perante ele, isso não lhe dá o direito de fazer com elas o que quer. Ele passa, enfim, a enxergar as coisas pela ótica dos outros. Tudo bem, até aqui.

O problema é quando o coletivismo passa a ser enaltecido no filme de forma escancarada. Cada formiga é apenas um meio para o fim maior, o bem-geral da colônia e da rainha. Tudo que importa é satisfazer as necessidades da colônia como um todo. Algumas formigas são operárias, outras são militares, há uma grande divisão de tarefas, mas tudo isso voltado apenas para o bem da colônia e da rainha. Esta pode ser a realidade dos insetos gregários, mas nunca deveria ser a finalidade para os humanos. Indivíduos não são meios sacrificáveis, e sim fins em si próprios. Cada um deve ser livre para buscar a sua própria felicidade, de forma individual, ainda que respeitando as regras gerais e sem sacrificar outros no caminho. Mas o objetivo final é a satisfação dos interesses particulares de cada um, ainda que o resultado de tal individualismo seja positivo para o todo. Afinal, uma mão invisível faz com que o trabalho de cada um, na busca dos próprios interesses, favoreça o coletivo. Temos carne não pela benevolência do açougueiro, mas sim porque ele está tentando atender suas próprias demandas.

Há uma aparente contradição no filme, que tenta elevar esse coletivismo ao patamar de ideal. Em determinada situação, Zoc, a formiga feiticeira, deixa-se ser engolido por um sapo para tentar salvar Lucas, pois sua namorada gostava bastante do menino. Após ele salvar o garoto, este o agradece, no que Zoc diz não ter feito tal ato pelo garoto, mas por amor a sua namorada. Pelo visto, até mesmo os mais coletivistas, no fundo, querem apenas atender suas próprias necessidades. O amor que moveu Zoc na direção do perigo não foi um amor pela colônia ou pela rainha, mas sim por sua namorada. Nada mais individualista. Nada mais belo!

Coletivistas sonham com um mundo onde homens não seriam mais homens, mas sim formigas, labutando pelo bem da colônia, onde eles, os coletivistas, seriam os manda-chuvas, os reis e rainhas. Todos são iguais, mas uns mais iguais que os outros. Todos podem ser sacrificados pelo bem-geral, mas não eu. Todos devem aceitar, ainda que na marra, tal destino. Lucas seria um escravo até virar uma formiga, ou seja, um altruísta. Todos devem ser abnegados, servindo apenas a colônia. Eu sou a colônia! Eis a mentalidade de um coletivista, na verdade. Querem o altruísmo alheio, em benefício próprio. Querem impor suas preferências goela abaixo dos individualistas. Quem não aceita, que vá para um Gulag! São autoritários. Querem o fim do individualismo... dos outros. Lucas era um ser muito imperfeito. Um humano, afinal. Ao término do filme, a reforma de sua alma estava completa. Lucas era uma formiga. A doutrinação completara-se. Lucas era um socialista.

domingo, setembro 03, 2006

De Adam Smith para Lula



Rodrigo Constantino

Adam Smith nasceu em 1723 na Escócia, e é conhecido pelo seu estudo sobre a riqueza das nações. Entretanto, não foi apenas a economia que despertou o interesse do autor. Ele dedicou boa parte do seu tempo às reflexões sobre a natureza humana e seus aspectos morais. Em 1759, publicou Teoria dos Sentimentos Morais, sua obra-prima em termos filosóficos. Os ensinamentos de Smith sobre economia seriam fundamentais para o presidente Lula, que ignora inúmeras lições já disponíveis naqueles tempos. Mas é sobre o aspecto moral que Smith mais teria a falar com Lula atualmente. Esse artigo pode ser encarado como um recado de Adam Smith para Lula.

“Nas cortes de príncipes, nos salões dos grandes, onde sucesso e privilégios dependem, não da estima de inteligentes e bem informados iguais, mas do favor fantasioso e tolo de presunçosos e arrogantes superiores ignorantes; a adulação e falsidade muito freqüentemente prevalecem sobre mérito e habilidades. Em tais círculos sociais, as habilidades em agradar são mais consideradas do que as habilidades em servir”. Não há como ler esta passagem e ignorar que o governo Lula loteou milhares de cargos levando em conta somente fatores ideológicos ou mesquinhos, distribuiu privilégios aos montes, garantiu o emprego de seus “camaradas” abandonando completamente os critérios de capacidade de gestão. O presidente do Instituto do Câncer, para dar apenas um exemplo, foi apontado somente por ser de esquerda, e o resultado foi caótico. O Todo-Poderoso cerca-se de bajuladores, alia-se aos “caciques” da velha política, aparelha o Estado com seus companheiros de ideologia, acabando com o único critério que realmente deveria ser levado em conta: a meritocracia.

“O homem ambicioso se engana ao pensar que, na esplêndida situação para a qual avança, deterá inúmeros meios para governar o respeito e admiração dos homens, e se permitirá agir com tão superior conveniência e graça, que o lustre de sua futura conduta encobrirá ou apagará inteiramente a podridão dos passos pelos quais chegou até esse cume”. Lula é extremamente ambicioso – e megalomaníaco. Se compara freqüentemente aos grandes nomes da humanidade. Mesmo envolto em inúmeros escândalos de corrupção, afirma ser o homem mais ético do país. Com seu tom messiânico, falando às massas ao mesmo tempo que distribui esmolas com dinheiro alheio, espera que a história vá absolvê-lo dos meios espúrios utilizados para sua chegada e permanência no poder. Não vai. A maioria de um povo ignorante e miserável pode até levá-lo ao poder novamente, mas os fatos não mudam. O trajeto do chão da fábrica até o Palácio do Planalto está repleto de esterco. Para essa gente, os fins justificam os meios. Mas o rastro de podridão não será apagado com o apoio popular. “A honra de sua elevada posição aparece tanto a seus próprios olhos quanto aos das outras pessoas, corrompida e maculada pela baixeza dos meios pelos quais ascendeu até ela”.

“No meio de toda a luxuosa pompa da grandiosa ostentação; no meio da venal e vil adulação dos grandes e eruditos; no meio das mais inocentes, ainda que mais tolas, aclamações de gente comum; no meio de todo o orgulho pela conquista do triunfo pela guerra bem sucedida, ainda é secretamente perseguido pelas vingativas fúrias da vergonha e do remorso; e, enquanto a glória o parece rodear por todos os lados, ele próprio, em sua imaginação, vê a negra e podre infâmia vindo rápida em sua perseguição, pronta a atacá-lo pelas costas, a qualquer momento”. De fato, o pobre operário rapidamente se acostumou com o luxo, com aviões caros, tecidos importados do Egito, tudo que o dinheiro pode comprar. De fato, o apedeuta regozija-se com a adulação de eruditos, dos artistas e intelectuais em busca de mais verba estatal. De fato, as aclamações das massas parecem música para o ouvido do “pai dos pobres”, assim por ele mesmo definido. Só não sei se concordo com Adam Smith a respeito de sua consciência da perseguição da infâmia, pronta a atacá-lo pelas costas. Gostaria de crer que Lula ao menos vive aflito com isso tudo, com o medo da “negra e podre infâmia” vindo em sua direção. Isso pelo menos seria um castigo por tanto mal infligido ao povo através de seu populismo. Mas infelizmente, algo me diz que nem mesmo para a infâmia Lula liga. Espero estar errado e que, uma vez mais, Adam Smith esteja certo. Assim, Lula estaria sendo ao menos perseguido secretamente pelas vingativas fúrias da vergonha e do remorso...

sexta-feira, setembro 01, 2006

O Extraterrestre



Rodrigo Constantino

“Tenho até dúvidas se a gente conseguirá fazer tudo, mas de uma coisa podem ter certeza: não será por falta de esforço, por falta de lealdade aos princípios que me fizeram chegar à Presidência da República que não vamos cumprir. Se a gente não cumprir, é porque houve fatores extraterrestres que não permitiu que cumpríssemos.” (Lula)

Eu já vi um OVNI. Mais de um. Não chegavam a voar, é verdade. Mas carregavam vida extraterrestre dentro. Tenho certeza! Um deles tinha um ser bem parecido com uma cadela, que desfilava com carro oficial do governo brasileiro e atendia pelo nome Michele. No outro, vinha o líder dos ETs. Bem parecido, ao menos na carcaça, com os seres humanos. A maior diferença perceptível é que continha 9 dedos apenas, em vez de 10. No restante, passaria tranqüilamente por um de nós. A visão humana é limitada, pode enganar. Mas sempre soube que tratava-se de um ET.

Esse ET vive entre os humanos faz tempo, e chegou a se disfarçar de operário – mas nunca gostou de trabalhar de verdade. Gostava mesmo de cachaça e bravatas. Creio que possa ser para melhorar a eficiência do disfarce. A política sempre o interessou. Após precoce aposentadoria, logrou chegar ao poder, depois de várias tentativas. Para tanto, apelou para um estelionato eleitoral. Não sei ao certo de qual planeta esse ET veio, mas com certeza não deixa nada a desejar em relação à malandragem que virou orgulho nacional por aqui. Pelo contrário: seria reitor na escola onde os malandros brasileiros estudaram...

Depois de usar a bandeira da ética para enganar inocentes úteis, rasgou a bandeira e ensinou aos escoteiros mirins de antes como se faz de verdade. Durante seu governo, tivemos de tudo: “mensalão”, sanguessugas, vampiros, dinheiro na cueca etc. O poder de hipnose do ET é elevado, e vem do seu carisma. Muitos inocentes úteis ainda idolatram o ET, e afirmam que o “mensalão” não foi inventado por ele. Ignoram que o “mensalão” é a pontinha do iceberg de corrupção montado durante seu governo, onde seus principais aliados foram acusados de vários crimes e tachados de “quadrilheiros” pelo isento Procurador Geral da República. O ET queria controlar a máquina estatal toda, no fundo.

O ET demonstra enorme ranço autoritário também. Deve ser normal no planeta de onde veio. As amizades com ditadores sempre foi algo comum para ele. Quando um jornalista disse que ele gostava de beber, seu impulso foi querer expulsar o sujeito do país. Entre seus projetos de governo, controlar a mídia sempre pareceu uma prioridade. O ET gosta de monólogos mas detesta dar entrevistas também. Recentemente fugiu de mais uma. Não quer dar explicações sobre os infindáveis casos de corrupção ocorridos bem diante de seus olhos alienígenas, que, quando interessa, nada enxergam. Deve ser uma característica de sua espécie, o olhar seletivo e a cegueira voluntária. Agora pretende ir além, e quer vetar na Justiça que seus opositores explorem na campanha as vastas cenas de corrupção do seu governo. O ET sempre detestou fatos!

Durante o governo do ET, o crescimento brasileiro foi pífio, mais que medíocre. O mundo todo voando como uma águia, e o Brasil tentando seu vôo de galinha – desajeitado, barulhento e sem altitude. Mas os inocentes úteis, autômatos como cães de Pavlov, celebram a mediocridade, e aplaudem o ET. Ganham um osso em troca. Ficam felizes. O ET sabe como domar os ignóbeis. O ET sabe como conquistar os sacripantas. O ET é apedeuta, não aprendeu a falar nossa língua direito, mas de bobo não tem nada. Bobos são aqueles que acreditam no ET.

Espero apenas que, tal como o ET de Steven Spielberg, esse ET consiga finalmente voltar para o lugar de onde veio. O problema é que o ET, com seu poder destruidor, matou até mesmo a esperança. Resta agüentá-lo fazendo estragos no nosso mundo por mais 4 anos...