quinta-feira, fevereiro 16, 2006

A Cura Capitalista

Rodrigo Constantino

“It is not from the benevolence of the butcher, the brewer, or the baker, that we expect our dinner, but from their regard to their own interest..” (Adam Smith)

Muitas pessoas observam os avanços medicinais da humanidade e não entendem o que possibilitou tamanho progresso. Há poucos séculos atrás, a população na Terra não conseguia ultrapassar a marca de 2 bilhões de habitantes, que tinham uma expectativa média de vida bastante inferior a atual. Crianças morriam como moscas, e doenças hoje tidas como banais ainda levavam muitos para o cemitério. Muito melhorou, e ainda vai melhorar bem mais. Nada disso é possível pela reza dos crentes ou pelos desejos dos românticos, mas sim pela lógica capitalista.

O acúmulo de capital e a incessante busca por lucro é que permitiram tanto avanço na área medicinal, assim como na tecnológica. Os laboratórios farmacêuticos, com acionistas objetivando o lucro, e competindo em um ambiente de livre mercado, com garantia de direito de propriedade, criaram o grosso desse avanço. Não é preciso muito esforço para enxergar isso. Basta ir a uma farmácia e pesquisar a lista de remédios existentes, checando seus respectivos produtores. Não veremos lá seitas religiosas, tampouco o carimbo de governos socialistas. Teremos uma lista como Pfizer, Merck, Eli Lilly, Novartis, GlaxoSmithKline etc. Todos laboratórios em busca do lucro, atuando em países capitalistas.

Sei que não falo absolutamente nada novo ou espantoso. Pelo contrário, é até evidente demais. Logo, o espantoso mesmo é a quantidade de gente que ignora isso. São os românticos que criam um falso dilema, entre o lucro e as vidas a serem salvas, como se não fosse justamente a busca do lucro que tivesse salvo tantas vidas. Ou os que odeiam patologicamente o livre mercado e pregam sempre mais controle estatal, como se a URSS tivesse trazido grandes avanços para a humanidade. Não creio que uma dor de cabeça possa ser combatida com um fuzil AK-47. Se bem que pela lógica comunista até pode, com um tiro na nuca. Mas com certeza não será uma cura adotada voluntariamente, como ocorre nas trocas livres entre consumidores e laboratórios.

Como exemplo do sucesso capitalista no negócio medicinal, temos agora que o Viagra foi o remédio mais vendido no Brasil em 2005, com cerca de 700 mil comprimidos por mês. Vários consumidores agradecem a constante busca de lucratividade da Pfizer, que hoje possibilita a ereção de muitos que sofriam de impotência. Tal cura não é milagrosa, no sentido de cair do céu, e muito menos depende de um decreto estatal. É fruto de pesados investimentos em pesquisa por parte da Pfizer, que precisa competir com vários concorrentes no mercado. Os investimentos em P&D da Pfizer passam dos US$ 7 bilhões por ano, mais que o dobro do que a empresa gasta em adição de máquinas e equipamentos. Ela compete no ramo das idéias, do capital intelectual, e sabe que as curas demandadas, que trarão excelentes retornos aos seus acionistas, custam caro. Mas compensam, por sorte dos consumidores.

A Pfizer gera um lucro em torno de US$ 10 bilhões por ano, com receita acima de US$ 50 bilhões. Desta forma, pode atender aos anseios dos clientes, emprega cerca de 115 mil funcionários, paga pesados impostos e ainda vale quase US$ 200 bilhões na bolsa, para a alegria dos seus milhares de acionistas. Eis a beleza da lógica capitalista. Não deixa de ser um milagre!

Um comentário:

Anônimo disse...

Ponto positivo para os capitalistas que incentivaram os avanços da medicina, mas agora que o mundo está cada vez mais super populoso e a competitividade cresceu não custava nada para tais instituições de saúde tornar estes avanços mais acessíveis às cama das desfavorecidas deste mundo por vezes inóspito. Globalizar os males e concentrar os recursos para a cura não me parece uma justificativa para o livre-arbítrio.