Idéias de um livre pensador sem medo da polêmica ou da patrulha dos "politicamente corretos".
quarta-feira, dezembro 29, 2010
Campo Lula
A área de Tupi teve sua comercialidade declarada nesta quarta-feira pela Petrobras e os sócios Galp e BG. O novo campo será denominado Lula, e tem reservas estimadas em 6,5 bilhões de barris de petróleo e gás recuperáveis. Tupi era o nome provisório da área descoberta. Após a declaração de comercialidade, os campos recebem nomes de formas marinhas.
Comento: O futuro ex-presidente Lula disse que quem fez a maior capitalização em bolsa este ano não foi a Fiat ou a GM, mas "um metalúrgico de São Bernardo do Campo". A confusão entre público e privado chegou ao seu ápice durante o (des)governo Lula. É tudo dele! "O Estado sou eu"! "O povo sou eu"! Lula é dono da Petrobras. Nada mais natural que o gigantesco poço de Tupi mudar de nome para Campo Lula. É triste ver in loco o nascimento de um patético culto à personalidade desses. Que coisa mais atrasada!
terça-feira, dezembro 28, 2010
Mensagem de fim de ano
Rodrigo Constantino, para o Instituto Liberal
Encarregado de escrever este último “comentário do dia” pelo Instituto Liberal, optei por uma mensagem mais abrangente do que simplesmente analisar alguma notícia de hoje. Ano novo; vida nova: eis o que diz o ditado. Nesta época do ano, todos gostam de rever erros e acertos (mais acertos que erros) e, acima de tudo, planejar metas audaciosas para o novo ano, que infelizmente serão ignoradas na maioria dos casos. Assim é a “natureza humana”.
Do ponto de vista político-econômico, o ano que se encerra combina com o fim da Era Lula no governo. Qualquer liberal, naturalmente, só tem a celebrar este término de um governo incompetente e corrupto. A inflação representa uma ameaça crescente, e o inchaço da máquina pública é a grande “herança maldita” que Lula deixa a sua sucessora. Nenhuma reforma estrutural foi feita nos oito anos de gestão petista. Infelizmente, os liberais nada têm a comemorar neste sentido, pois o poder passa para Dilma Rousseff, cria de Lula e defensora de um Estado controlador ao extremo.
Resta, portanto, focar no âmbito individual. Que cada leitor e leitora possa realizar sonhos particulares em 2011, se os obstáculos naturais e aqueles artificialmente criados pelo governo permitirem. Os percalços no caminho fazem parte de qualquer conquista digna do nome. Em mar calmo todos são bons navegadores. E que os fracassos sirvam de lição, pois eles são inevitáveis. Nossa única certeza na vida é a morte e, como diria um psicanalista, toda busca por certezas acaba sendo um “desejo de morte”. Seitas fechadas, utopias, crenças dogmáticas, panacéias são coisas que trazem conforto – o mesmo conforto de uma pedra sem vida!
Aos homens foi negada a possibilidade de onisciência. Com base neste fato, os liberais reconhecem a relevância da humildade e da tolerância. Os tolos e fanáticos estão sempre “certos” de tudo, enquanto os mais sábios alimentam inúmeras dúvidas. Como disse Darwin, “a ignorância traz muito mais certezas que o conhecimento”. Saibamos, portanto, respeitar ao máximo possível as liberdades individuais, incluindo suas idiossincrasias. O desejo é individual, sempre. As paixões nos tornam humanos, assim como a razão. O difícil é achar o equilíbrio adequado entre ambas.
E que venha o ano novo, com suas surpresas e incertezas, pois a vida sem estas seria insuportável.
Encarregado de escrever este último “comentário do dia” pelo Instituto Liberal, optei por uma mensagem mais abrangente do que simplesmente analisar alguma notícia de hoje. Ano novo; vida nova: eis o que diz o ditado. Nesta época do ano, todos gostam de rever erros e acertos (mais acertos que erros) e, acima de tudo, planejar metas audaciosas para o novo ano, que infelizmente serão ignoradas na maioria dos casos. Assim é a “natureza humana”.
Do ponto de vista político-econômico, o ano que se encerra combina com o fim da Era Lula no governo. Qualquer liberal, naturalmente, só tem a celebrar este término de um governo incompetente e corrupto. A inflação representa uma ameaça crescente, e o inchaço da máquina pública é a grande “herança maldita” que Lula deixa a sua sucessora. Nenhuma reforma estrutural foi feita nos oito anos de gestão petista. Infelizmente, os liberais nada têm a comemorar neste sentido, pois o poder passa para Dilma Rousseff, cria de Lula e defensora de um Estado controlador ao extremo.
Resta, portanto, focar no âmbito individual. Que cada leitor e leitora possa realizar sonhos particulares em 2011, se os obstáculos naturais e aqueles artificialmente criados pelo governo permitirem. Os percalços no caminho fazem parte de qualquer conquista digna do nome. Em mar calmo todos são bons navegadores. E que os fracassos sirvam de lição, pois eles são inevitáveis. Nossa única certeza na vida é a morte e, como diria um psicanalista, toda busca por certezas acaba sendo um “desejo de morte”. Seitas fechadas, utopias, crenças dogmáticas, panacéias são coisas que trazem conforto – o mesmo conforto de uma pedra sem vida!
Aos homens foi negada a possibilidade de onisciência. Com base neste fato, os liberais reconhecem a relevância da humildade e da tolerância. Os tolos e fanáticos estão sempre “certos” de tudo, enquanto os mais sábios alimentam inúmeras dúvidas. Como disse Darwin, “a ignorância traz muito mais certezas que o conhecimento”. Saibamos, portanto, respeitar ao máximo possível as liberdades individuais, incluindo suas idiossincrasias. O desejo é individual, sempre. As paixões nos tornam humanos, assim como a razão. O difícil é achar o equilíbrio adequado entre ambas.
E que venha o ano novo, com suas surpresas e incertezas, pois a vida sem estas seria insuportável.
O Índice Bovespa e a economia em direções opostas?
Rodrigo Constantino, no Valor Econômico
Boa parte dos investidores olha o Ibovespa como indicador da bolsa brasileira. Quem assim o faz, provavelmente está decepcionado com o desempenho do índice este ano. Enquanto o crescimento do PIB deve passar de 7,5% no ano, o Ibovespa está em território levemente negativo até a gora. Há algumas explicações básicas para esse fenômeno.
Em primeiro lugar, a bolsa e a economia nem sempre andam pari passu, pois o mercado de ações é um mecanismo antecipatório, ou seja, projeta os resultados futuros das empresas e os traz a valor presente. O mercado já olha para o crescimento esperado em 2011, em patamar bem inferior ao deste ano. Ainda assim, o desempenho do Ibovespa parece insatisfatório, pois os economistas falam em 4,5% de crescimento, o que não é nada mal se comparado ao restante do mundo.
A segunda explicação para o ano medíocre do Ibovespa está em sua metodologia de cálculo para o peso das ações no índice. A Petrobras representa quase 12% do Ibovespa, enquanto o setor siderúrgico também apresenta peso elevado. Ocorre que tanto Petrobras quanto as siderúrgicas tiveram péssimo desempenho este ano, por motivos distintos. Isso representou quase cinco pontos percentuais a menos no desempenho do índice em 2010.
As ações da Petrobras caíram cerca de 30% este ano, basicamente por conta do maior risco político após a operação de aumento de capital. A questionável precificação dos ativos de pré-sal demonstrou que o real interesse do governo era expandir sua participação à custa dos acionistas minoritários.
Como a Petrobras possui um programa gigantesco de investimento para os próximos anos, os investidores temem, com razão, uma destruição maciça de valor da empresa, caso o governo utilize critérios políticos em vez de econômicos nas suas decisões.
A Petrobras pode ser uma aposta interessante para 2011, até porque o preço do petróleo segue firme acima de US$ 80 por barril; mas isso vai depender de uma mudança na governança da empresa, que precisa rejeitar a tentação populista e focar no retorno financeiro. Se isso não ocorrer, ela vai continuar ignorada pelos investidores.
Já o setor siderúrgico tem sido vítima da forte apreciação do câmbio e seu concomitante impacto nas importações do setor. Tradicionalmente protegidas da concorrência internacional, as siderúrgicas brasileiras operavam com ótimas margens de lucratividade. Esse cenário não existe mais, e a balança comercial do setor praticamente virou. A Gerdau e a Usiminas perderam mais de 20% de seu valor de mercado em 2010, prejudicando o Ibovespa. As perspectivas não são muito animadoras para 2011.
A Vale foi a locomotiva do Ibovespa no ano. Suas ações subiram quase 20%, e com seu peso acima de 15% no Ibovespa, ela anulou o efeito negativo da Petrobras. A Vale tem sido o melhor veículo brasileiro do chamado "China play", a aposta em ativos que capturam o acelerado crescimento chinês e sua insaciável fome por recursos básicos. A crescente pressão inflacionária na China coloca em risco essa aposta, pois o aumento da taxa de juros lá poderá afetar seu crescimento e, por tabela, as importações de commodities.
Os setores de maior destaque foram, sem dúvida, aqueles ligados ao crescimento do varejo e do crédito no país. Várias empresas de consumo, por exemplo, subiram mais de 20% este ano, e algumas chegaram a dobrar de valor. O "valuation" dessas empresas é o ponto fraco: muitas apresentam P/L acima de 20x para 2011, incorporando elevado crescimento nas estimativas de lucro. O risco de decepção não é desprezível.
O setor de construção civil chegou a ganhar mais de 20% no ano, após ter quase triplicado em 2009; mas com a recente pressão inflacionária e seu efeito na expectativa de juros maiores para 2011, ele devolveu boa parte da alta. Para o ano que vem, seu desempenho dependerá muito do impacto dos juros maiores na economia e no crédito. Se o governo não fizer um ajuste fiscal sério, o setor poderá sofrer bastante.
Como fica claro, não há barganhas evidentes na bolsa brasileira atualmente. Apesar do forte crescimento econômico, o Ibovespa ficou praticamente estável no ano, com bons motivos. Seu desempenho em 2011, deixando de lado o cenário internacional, vai depender muito das medidas do governo.
Se este fizer seu dever de casa, cortando gastos e adotando uma gestão mais racional na Petrobras, ainda há espaço para razoável valorização. Caso contrário, a renda fixa poderá ser uma opção mais atraente que a bolsa em termos gerais.
Rodrigo Constantino é economista e gestor de recursos
Boa parte dos investidores olha o Ibovespa como indicador da bolsa brasileira. Quem assim o faz, provavelmente está decepcionado com o desempenho do índice este ano. Enquanto o crescimento do PIB deve passar de 7,5% no ano, o Ibovespa está em território levemente negativo até a gora. Há algumas explicações básicas para esse fenômeno.
Em primeiro lugar, a bolsa e a economia nem sempre andam pari passu, pois o mercado de ações é um mecanismo antecipatório, ou seja, projeta os resultados futuros das empresas e os traz a valor presente. O mercado já olha para o crescimento esperado em 2011, em patamar bem inferior ao deste ano. Ainda assim, o desempenho do Ibovespa parece insatisfatório, pois os economistas falam em 4,5% de crescimento, o que não é nada mal se comparado ao restante do mundo.
A segunda explicação para o ano medíocre do Ibovespa está em sua metodologia de cálculo para o peso das ações no índice. A Petrobras representa quase 12% do Ibovespa, enquanto o setor siderúrgico também apresenta peso elevado. Ocorre que tanto Petrobras quanto as siderúrgicas tiveram péssimo desempenho este ano, por motivos distintos. Isso representou quase cinco pontos percentuais a menos no desempenho do índice em 2010.
As ações da Petrobras caíram cerca de 30% este ano, basicamente por conta do maior risco político após a operação de aumento de capital. A questionável precificação dos ativos de pré-sal demonstrou que o real interesse do governo era expandir sua participação à custa dos acionistas minoritários.
Como a Petrobras possui um programa gigantesco de investimento para os próximos anos, os investidores temem, com razão, uma destruição maciça de valor da empresa, caso o governo utilize critérios políticos em vez de econômicos nas suas decisões.
A Petrobras pode ser uma aposta interessante para 2011, até porque o preço do petróleo segue firme acima de US$ 80 por barril; mas isso vai depender de uma mudança na governança da empresa, que precisa rejeitar a tentação populista e focar no retorno financeiro. Se isso não ocorrer, ela vai continuar ignorada pelos investidores.
Já o setor siderúrgico tem sido vítima da forte apreciação do câmbio e seu concomitante impacto nas importações do setor. Tradicionalmente protegidas da concorrência internacional, as siderúrgicas brasileiras operavam com ótimas margens de lucratividade. Esse cenário não existe mais, e a balança comercial do setor praticamente virou. A Gerdau e a Usiminas perderam mais de 20% de seu valor de mercado em 2010, prejudicando o Ibovespa. As perspectivas não são muito animadoras para 2011.
A Vale foi a locomotiva do Ibovespa no ano. Suas ações subiram quase 20%, e com seu peso acima de 15% no Ibovespa, ela anulou o efeito negativo da Petrobras. A Vale tem sido o melhor veículo brasileiro do chamado "China play", a aposta em ativos que capturam o acelerado crescimento chinês e sua insaciável fome por recursos básicos. A crescente pressão inflacionária na China coloca em risco essa aposta, pois o aumento da taxa de juros lá poderá afetar seu crescimento e, por tabela, as importações de commodities.
Os setores de maior destaque foram, sem dúvida, aqueles ligados ao crescimento do varejo e do crédito no país. Várias empresas de consumo, por exemplo, subiram mais de 20% este ano, e algumas chegaram a dobrar de valor. O "valuation" dessas empresas é o ponto fraco: muitas apresentam P/L acima de 20x para 2011, incorporando elevado crescimento nas estimativas de lucro. O risco de decepção não é desprezível.
O setor de construção civil chegou a ganhar mais de 20% no ano, após ter quase triplicado em 2009; mas com a recente pressão inflacionária e seu efeito na expectativa de juros maiores para 2011, ele devolveu boa parte da alta. Para o ano que vem, seu desempenho dependerá muito do impacto dos juros maiores na economia e no crédito. Se o governo não fizer um ajuste fiscal sério, o setor poderá sofrer bastante.
Como fica claro, não há barganhas evidentes na bolsa brasileira atualmente. Apesar do forte crescimento econômico, o Ibovespa ficou praticamente estável no ano, com bons motivos. Seu desempenho em 2011, deixando de lado o cenário internacional, vai depender muito das medidas do governo.
Se este fizer seu dever de casa, cortando gastos e adotando uma gestão mais racional na Petrobras, ainda há espaço para razoável valorização. Caso contrário, a renda fixa poderá ser uma opção mais atraente que a bolsa em termos gerais.
Rodrigo Constantino é economista e gestor de recursos
A ditadura do politicamente correto
Rodrigo Constantino, O Globo
“A unanimidade é burra.” (Nelson Rodrigues)
Ninguém insiste tanto na conformidade como aqueles que advogam “diversidade”. Sob o manto de um discurso progressista jaz muitas vezes um autoritarismo típico de pessoas que gostariam, no fundo, de um mundo uniforme, onde todos rezam o mesmo credo. A Utopia de More, a Cidade do Sol de Campanella, a República platônica, enfim, “um mundo melhor é possível”. Se ao menos todos abandonassem o egoísmo, a ganância, e se tornassem almas conscientes e engajadas...
Mesmo se for preciso “forçar o indivíduo a ser livre”, como defendeu Rousseau, esse parece um preço aceitável a se pagar pelo sonhado “progresso”. Foi com base nesta mentalidade que milhões de inocentes foram sacrificados no altar de ideologias coletivistas. Atualmente, os “progressistas” buscaram refúgio em novas seitas, mas a meta continua a mesma: “purificar” a humanidade e criar um paraíso terrestre onde todos serão igualmente “felizes” e “saudáveis”.
A obsessão pela saúde e pela felicidade, assim como a ditadura do politicamente correto são claramente sintomas da modernidade. Vivemos na era da covardia, onde poucos têm coragem de se levantar contra o rebanho. Estamos sob o controle dos eufemismos, com a linguagem sendo obliterada para proteger os mais “sensíveis”. Todos são “especiais”, o mesmo que dizer que ninguém o é. Chegamos à era do conformismo: ninguém pode desviar do padrão definido, pois as diferenças incomodam muito. Todos devem adotar a mesma cartilha “livre de preconceitos”.
Até mesmo o Papai Noel já foi vítima desta obtusa mentalidade. A obesidade é um problema de saúde preocupante no mundo. Um dos culpados? Sim, o Papai Noel. Um médico australiano chegou a afirmar que Papai Noel é um “pária da saúde pública”, e seria melhor se ele fosse retratado sem aquela “pança”, sua marca registrada. Afinal, o bom velhinho é um ícone da garotada, e no mundo atual não fica bem um barrigão daqueles influenciando as crianças. Papai Noel “sarado”, eis um típico sinal dos tempos.
Qualquer pessoa com mais de 30 anos deve recordar daqueles cigarros de chocolate que as crianças adoravam no passado. Isso seria impensável hoje em dia. Chocolate, e ainda por cima em forma de cigarro? Seria politicamente incorreto demais para o mundo moderno. Diriam que as crianças vulneráveis seriam fumantes compulsivas, tal como acusam filmes e jogos violentos pela violência.
Pensar na possibilidade de que os próprios pais devem educar seus filhos, impondo limites e dizendo “não”, parece algo estranho demais para os engenheiros sociais da atualidade. As “crianças mimadas”, os adultos modernos, preferem delegar a função ao governo, que será responsável pela “pureza” das propagandas. Quem precisa de liberdade de escolha quando se tem o governo para controlar nossas vidas?
Parte importante da liberdade é o direito de cada um ir para o “inferno” à sua maneira. O alimento de um pode ser o veneno do outro. Esta variabilidade humana nos impõe a necessidade da liberdade individual e da tolerância. Ninguém sabe qual o desejo do outro. Infelizmente, estamos vivendo cada vez mais sob a ditadura da maioria. O paraíso idealizado pelos “progressistas” seria um mundo com tudo reciclado, pessoas vestindo roupas iguais, comendo apenas alimentos orgânicos, e andando de bicicleta para cima e para baixo. Paradoxalmente, os “progressistas” odeiam o progresso!
É neste preocupante contexto que chegamos ao fim de mais uma década. Ao longo do processo, alguns indivíduos ousaram remar contra a maré, mesmo que não passassem de vozes isoladas em meio às multidões. Entre os brasileiros, tivemos figuras como Paulo Francis e Nelson Rodrigues, sempre lutando contra a imposição dos medíocres, derrubando os velhos chavões populistas. Seguindo esta tradição, o filósofo Luiz Felipe Pondé lançou novo livro, “Contra um Mundo Melhor”, que pode ser visto como um antídoto amargo a esta doença moderna.
A frase que abre o primeiro ensaio já dá o tom da obra: “Detesto a vida perfeita”. Pondé liga sua metralhadora giratória contra todas as mais nobres bandeiras politicamente corretas, desnudando-as e expondo sua hipocrisia. Numa época em que o homem é praticamente obrigado a ser “feliz”, ainda que seja à base de Prozac, os ataques mal-humorados de Pondé servem para alertar sobre os enormes perigos desta trajetória, tal como Huxley havia feito com seu “Admirável Mundo Novo”.
Que saibamos desconfiar mais da cruzada moral dos “progressistas” e sua retórica politicamente correta. São meus votos para 2011.
“A unanimidade é burra.” (Nelson Rodrigues)
Ninguém insiste tanto na conformidade como aqueles que advogam “diversidade”. Sob o manto de um discurso progressista jaz muitas vezes um autoritarismo típico de pessoas que gostariam, no fundo, de um mundo uniforme, onde todos rezam o mesmo credo. A Utopia de More, a Cidade do Sol de Campanella, a República platônica, enfim, “um mundo melhor é possível”. Se ao menos todos abandonassem o egoísmo, a ganância, e se tornassem almas conscientes e engajadas...
Mesmo se for preciso “forçar o indivíduo a ser livre”, como defendeu Rousseau, esse parece um preço aceitável a se pagar pelo sonhado “progresso”. Foi com base nesta mentalidade que milhões de inocentes foram sacrificados no altar de ideologias coletivistas. Atualmente, os “progressistas” buscaram refúgio em novas seitas, mas a meta continua a mesma: “purificar” a humanidade e criar um paraíso terrestre onde todos serão igualmente “felizes” e “saudáveis”.
A obsessão pela saúde e pela felicidade, assim como a ditadura do politicamente correto são claramente sintomas da modernidade. Vivemos na era da covardia, onde poucos têm coragem de se levantar contra o rebanho. Estamos sob o controle dos eufemismos, com a linguagem sendo obliterada para proteger os mais “sensíveis”. Todos são “especiais”, o mesmo que dizer que ninguém o é. Chegamos à era do conformismo: ninguém pode desviar do padrão definido, pois as diferenças incomodam muito. Todos devem adotar a mesma cartilha “livre de preconceitos”.
Até mesmo o Papai Noel já foi vítima desta obtusa mentalidade. A obesidade é um problema de saúde preocupante no mundo. Um dos culpados? Sim, o Papai Noel. Um médico australiano chegou a afirmar que Papai Noel é um “pária da saúde pública”, e seria melhor se ele fosse retratado sem aquela “pança”, sua marca registrada. Afinal, o bom velhinho é um ícone da garotada, e no mundo atual não fica bem um barrigão daqueles influenciando as crianças. Papai Noel “sarado”, eis um típico sinal dos tempos.
Qualquer pessoa com mais de 30 anos deve recordar daqueles cigarros de chocolate que as crianças adoravam no passado. Isso seria impensável hoje em dia. Chocolate, e ainda por cima em forma de cigarro? Seria politicamente incorreto demais para o mundo moderno. Diriam que as crianças vulneráveis seriam fumantes compulsivas, tal como acusam filmes e jogos violentos pela violência.
Pensar na possibilidade de que os próprios pais devem educar seus filhos, impondo limites e dizendo “não”, parece algo estranho demais para os engenheiros sociais da atualidade. As “crianças mimadas”, os adultos modernos, preferem delegar a função ao governo, que será responsável pela “pureza” das propagandas. Quem precisa de liberdade de escolha quando se tem o governo para controlar nossas vidas?
Parte importante da liberdade é o direito de cada um ir para o “inferno” à sua maneira. O alimento de um pode ser o veneno do outro. Esta variabilidade humana nos impõe a necessidade da liberdade individual e da tolerância. Ninguém sabe qual o desejo do outro. Infelizmente, estamos vivendo cada vez mais sob a ditadura da maioria. O paraíso idealizado pelos “progressistas” seria um mundo com tudo reciclado, pessoas vestindo roupas iguais, comendo apenas alimentos orgânicos, e andando de bicicleta para cima e para baixo. Paradoxalmente, os “progressistas” odeiam o progresso!
É neste preocupante contexto que chegamos ao fim de mais uma década. Ao longo do processo, alguns indivíduos ousaram remar contra a maré, mesmo que não passassem de vozes isoladas em meio às multidões. Entre os brasileiros, tivemos figuras como Paulo Francis e Nelson Rodrigues, sempre lutando contra a imposição dos medíocres, derrubando os velhos chavões populistas. Seguindo esta tradição, o filósofo Luiz Felipe Pondé lançou novo livro, “Contra um Mundo Melhor”, que pode ser visto como um antídoto amargo a esta doença moderna.
A frase que abre o primeiro ensaio já dá o tom da obra: “Detesto a vida perfeita”. Pondé liga sua metralhadora giratória contra todas as mais nobres bandeiras politicamente corretas, desnudando-as e expondo sua hipocrisia. Numa época em que o homem é praticamente obrigado a ser “feliz”, ainda que seja à base de Prozac, os ataques mal-humorados de Pondé servem para alertar sobre os enormes perigos desta trajetória, tal como Huxley havia feito com seu “Admirável Mundo Novo”.
Que saibamos desconfiar mais da cruzada moral dos “progressistas” e sua retórica politicamente correta. São meus votos para 2011.
sábado, dezembro 25, 2010
Morre Orestes Quércia
"É com pesar que recebo a notícia da morte de Orestes Quércia. São Paulo e o Brasil vão se lembrar dele como um expoente da resistência democrática, um governador de muitas realizações e um defensor do desenvolvimento do país. Em todas as circunstâncias, foi um lutador." (Dilma Rousseff Linhares)
Um país que tem heróis como Quércia, Sarney e Lula está perdido mesmo!
Um país que tem heróis como Quércia, Sarney e Lula está perdido mesmo!
quinta-feira, dezembro 23, 2010
Mensagem de Natal
Como não acredito em deuses faz muito tempo, e sou católico somente por inércia, o sentido do Natal se resume, para mim, em duas coisas apenas: família e presentes. Desejo a todos um excelente momento ao lado de seus entes queridos, pois "this is what it's all about". E, claro, bons presentes, pois a hipocrisia é algo que combato sempre, e quem não gosta de um presente legal?
Aproveito para desejar um ótimo ano novo, que já começa com uma coisa espetacular, que não deve ser ignorada: Lula vai estar fora da presidência! Ao menos oficialmente.
Feliz Natal e um próspero 2011!
Aproveito para desejar um ótimo ano novo, que já começa com uma coisa espetacular, que não deve ser ignorada: Lula vai estar fora da presidência! Ao menos oficialmente.
Feliz Natal e um próspero 2011!
FARC são terroristas
Deu no G1: A Câmara de Deputados chilena aprovou na terça-feira um texto que declara a guerrilha colombiana das Farc uma "organização terrorista", anunciou o Legislativo nesta quarta-feira (22).
"Com 39 votos a favor e dois contra, a Câmara de Deputados aprovou um projeto de acordo que declara as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) como uma 'organização terrorista' e expressa seu repúdio às ligações que ela tenha com partidos ou grupos sociais de qualquer natureza que existam em nosso país", afirma o comunicado da Câmara.
Comento: Que diferença entre esta postura e a dos governantes brasileiros! Enquanto o PT de Lula insiste em flertar com os terroristas das FARC, que celebraram a vitória de Lula e agora de Dilma, além de terem doado até dinheiro para a campanha, segundo a revista Veja noticiou, os chilenos colocam os pingos nos is e chamam as coisas pelo nome certo. É por isso, e outras coisas, que o Chile é o país mais avançado da América Latina. Está razoavelmente livre do câncer populista que infesta a esquerda latino-americana, dominada por caudilhos como Chávez e companhia. Parabéns, Chile!
"Com 39 votos a favor e dois contra, a Câmara de Deputados aprovou um projeto de acordo que declara as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) como uma 'organização terrorista' e expressa seu repúdio às ligações que ela tenha com partidos ou grupos sociais de qualquer natureza que existam em nosso país", afirma o comunicado da Câmara.
Comento: Que diferença entre esta postura e a dos governantes brasileiros! Enquanto o PT de Lula insiste em flertar com os terroristas das FARC, que celebraram a vitória de Lula e agora de Dilma, além de terem doado até dinheiro para a campanha, segundo a revista Veja noticiou, os chilenos colocam os pingos nos is e chamam as coisas pelo nome certo. É por isso, e outras coisas, que o Chile é o país mais avançado da América Latina. Está razoavelmente livre do câncer populista que infesta a esquerda latino-americana, dominada por caudilhos como Chávez e companhia. Parabéns, Chile!
Socialismo
Deu no G1: "O Congresso Nacional aprovou nesta quarta-feira (22) o Orçamento de 2011. A receita total da União estimada para o próximo exercício é de R$ 2,073 trilhões. A votação foi concluída às 22h27, perto do prazo limite de meia-noite que o Congresso tinha para votar essa proposta. O texto segue agora para a sanção presidencial."
Comento: Atentai, brasileiros, para o tamanho do Estado em nosso país! O orçamento inclui as estatais, e retrata melhor quanto da economia passa pela mão visível do Leviatã. Nosso PIB está em torno de US$ 2 trilhões, ou algo como R$ 3,4 trilhões por ano. E o governo aprovou um orçamento de... R$ 2 trilhões! É isso mesmo! Quase 60% do PIB brasileiro! E ainda tem gente que chama o Brasil de "neoliberal"...
Comento: Atentai, brasileiros, para o tamanho do Estado em nosso país! O orçamento inclui as estatais, e retrata melhor quanto da economia passa pela mão visível do Leviatã. Nosso PIB está em torno de US$ 2 trilhões, ou algo como R$ 3,4 trilhões por ano. E o governo aprovou um orçamento de... R$ 2 trilhões! É isso mesmo! Quase 60% do PIB brasileiro! E ainda tem gente que chama o Brasil de "neoliberal"...
quarta-feira, dezembro 22, 2010
Metáfora
terça-feira, dezembro 21, 2010
Meritocracia
Excelente palestra na Graduate School of Business da Stanford University, proferida pelo CEO da InBev, o brasileiro Carlos Brito. Ele fala da importância da meritocracia na empresa, dos sonhos ambiciosos, da cultura corporativa que realmente filtra as melhores pessoas e mantém pressão constante por progresso. (palestra em inglês com 52 min)
sábado, dezembro 18, 2010
O corporativismo da OAB
Rodrigo Constantino
Está em pauta novamente a questão do exame obrigatório para a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), depois que o desembargador Vladimir Souza Carvalho, do Tribunal Federal Regional em Recife, determinou que todos os bacharéis em Direito tenham seus nomes inscritos nos quadros da OAB mesmo sem prestar o exame de admissão. Por lei, o advogado só pode exercer sua profissão se passar no exame da OAB. O desembargador considerou isto inconstitucional.
O argumento dos representantes da OAB em defesa de sua reserva de mercado são os mesmos de sempre: milhares de alunos se formam todo ano em faculdades de Direito, e é preciso filtrá-los de alguma forma, "proteger" a sociedade dos alunos formados que não estão preparados para atuar como advogados. Mas ocorre que esse argumento é muito fraco.
Em primeiro lugar, se fosse para ter qualquer tipo de filtro regulatório legal, este teria que ser nas próprias universidades. Ora, como pode um aluno passar nas matérias durante cinco anos de faculdade e ainda assim não estar preparado para exercer sua profissão? Algo muito errado teria ocorrido já na faculdade, com seu critério de aprovação. Portanto, aqueles que depositam fé na burocracia, em sua capacidade de separar o joio do trigo com base em critérios isentos e justos (uma fé para lá de ingênua, diga-se de passagem), o MEC deveria ser a escolha, para que as faculdades tivessem que responder pela obrigação de formar somente alunos capacitados. Particularmente, acho temerário depositar tanto poder nos burocratas do MEC, e prefiro a opção dos psicanalistas, de fugir do reconhecimento "oficial" de profissão, para não ter que ficar sob o controle do governo, que invariavelmente leva a mediocridade aonde vai.
O melhor filtro que existe ainda é o próprio mercado. Não é por acaso que um advogado formado pela Pontifícia Universidade Católica (PUC), por exemplo, não tem o mesmo "valor de mercado" que outro formado por qualquer faculdade de fundo de quintal. É o próprio mercado que está selecionando os melhores, sem ajuda alguma de burocratas "clarividentes". No limite, não há porque um auto-didata ser impedido de atuar como advogado também, sob conta e risco do seu cliente. Devo ser livre para escolher qualquer um como meu advogado, desde que seja responsável por isso.
Mas, digamos que ainda assim a OAB represente um bom filtro para descartar os advogados ruins (assumindo que uma prova seja capaz disso). Tudo bem. Não tem problema. A OAB pode continuar existindo e aplicando exames, e somente os aprovados poderão usar a placa "aprovado pela OAB", ou algo do tipo. Desde que não seja uma condição sine qua non para advogar. Em outras palavras: se a aprovação pela OAB realmente tem valor de mercado e é eficaz para selecionar somente os mais aptos, então o próprio mercado vai reconhecer isso, e o exame será feito de forma voluntária. Que advogado não vai querer o carimbo OAB em seu currículo?
Com a proteção legal da reserva de mercado da OAB, fica parecendo que a Ordem não se garante, não confia tanto em sua eficiência naquilo que se propõe, e por isso demanda a proteção legal de seu monopólio. Não sou advogado, e sim economista, mas ocorre algo similar em minha área: tenho que pagar mais de R$ 300 por ano ao Corecon para ser reconhecido como "economista" legalmente, e isso para um bando de socialistas defensores de Hugo Chávez! Reconheço que a OAB não é tão ruim assim, mas nada justifica a obrigatoriedade do exame. Será que membros do alto escalão da OAB são sócios nos cursinhos que acabam virando febre entre aqueles que precisam passar na prova para validar cinco anos de faculdade? A suspeita é legítima.
Por fim, há algo que a OAB claramente não consegue filtrar: a ética dos bacharéis em Direito. O que tem de advogado aprovado pela Ordem atuando como cúmplice dos traficantes e assassinos! Não estou falando aqui do direito de defesa de qualquer um no Estado de Direito, mas da cumplicidade mesmo, de advogados mancomunados com o crime, agindo como pombo-correio dos bandidos. Talvez a OAB devesse dedicar mais tempo para limpar sua casa desta sujeira em vez de lutar para preservar seu monopólio corporativista.
Está em pauta novamente a questão do exame obrigatório para a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), depois que o desembargador Vladimir Souza Carvalho, do Tribunal Federal Regional em Recife, determinou que todos os bacharéis em Direito tenham seus nomes inscritos nos quadros da OAB mesmo sem prestar o exame de admissão. Por lei, o advogado só pode exercer sua profissão se passar no exame da OAB. O desembargador considerou isto inconstitucional.
O argumento dos representantes da OAB em defesa de sua reserva de mercado são os mesmos de sempre: milhares de alunos se formam todo ano em faculdades de Direito, e é preciso filtrá-los de alguma forma, "proteger" a sociedade dos alunos formados que não estão preparados para atuar como advogados. Mas ocorre que esse argumento é muito fraco.
Em primeiro lugar, se fosse para ter qualquer tipo de filtro regulatório legal, este teria que ser nas próprias universidades. Ora, como pode um aluno passar nas matérias durante cinco anos de faculdade e ainda assim não estar preparado para exercer sua profissão? Algo muito errado teria ocorrido já na faculdade, com seu critério de aprovação. Portanto, aqueles que depositam fé na burocracia, em sua capacidade de separar o joio do trigo com base em critérios isentos e justos (uma fé para lá de ingênua, diga-se de passagem), o MEC deveria ser a escolha, para que as faculdades tivessem que responder pela obrigação de formar somente alunos capacitados. Particularmente, acho temerário depositar tanto poder nos burocratas do MEC, e prefiro a opção dos psicanalistas, de fugir do reconhecimento "oficial" de profissão, para não ter que ficar sob o controle do governo, que invariavelmente leva a mediocridade aonde vai.
O melhor filtro que existe ainda é o próprio mercado. Não é por acaso que um advogado formado pela Pontifícia Universidade Católica (PUC), por exemplo, não tem o mesmo "valor de mercado" que outro formado por qualquer faculdade de fundo de quintal. É o próprio mercado que está selecionando os melhores, sem ajuda alguma de burocratas "clarividentes". No limite, não há porque um auto-didata ser impedido de atuar como advogado também, sob conta e risco do seu cliente. Devo ser livre para escolher qualquer um como meu advogado, desde que seja responsável por isso.
Mas, digamos que ainda assim a OAB represente um bom filtro para descartar os advogados ruins (assumindo que uma prova seja capaz disso). Tudo bem. Não tem problema. A OAB pode continuar existindo e aplicando exames, e somente os aprovados poderão usar a placa "aprovado pela OAB", ou algo do tipo. Desde que não seja uma condição sine qua non para advogar. Em outras palavras: se a aprovação pela OAB realmente tem valor de mercado e é eficaz para selecionar somente os mais aptos, então o próprio mercado vai reconhecer isso, e o exame será feito de forma voluntária. Que advogado não vai querer o carimbo OAB em seu currículo?
Com a proteção legal da reserva de mercado da OAB, fica parecendo que a Ordem não se garante, não confia tanto em sua eficiência naquilo que se propõe, e por isso demanda a proteção legal de seu monopólio. Não sou advogado, e sim economista, mas ocorre algo similar em minha área: tenho que pagar mais de R$ 300 por ano ao Corecon para ser reconhecido como "economista" legalmente, e isso para um bando de socialistas defensores de Hugo Chávez! Reconheço que a OAB não é tão ruim assim, mas nada justifica a obrigatoriedade do exame. Será que membros do alto escalão da OAB são sócios nos cursinhos que acabam virando febre entre aqueles que precisam passar na prova para validar cinco anos de faculdade? A suspeita é legítima.
Por fim, há algo que a OAB claramente não consegue filtrar: a ética dos bacharéis em Direito. O que tem de advogado aprovado pela Ordem atuando como cúmplice dos traficantes e assassinos! Não estou falando aqui do direito de defesa de qualquer um no Estado de Direito, mas da cumplicidade mesmo, de advogados mancomunados com o crime, agindo como pombo-correio dos bandidos. Talvez a OAB devesse dedicar mais tempo para limpar sua casa desta sujeira em vez de lutar para preservar seu monopólio corporativista.
sexta-feira, dezembro 17, 2010
A importância do medo
Rodrigo Constantino, para o Instituto Liberal
“O medo é uma coisa boa. Se você não tiver medo, pode acabar pulando pela janela.” (Keith Richards)
Um estudo de pesquisadores da Universidade de Iowa mostrou como a emoção de medo depende da região do cérebro denominada amígdala. A paciente estudada teve uma rara condição que destruiu essa parte do cérebro. Os pesquisadores então observaram a resposta dela a estímulos assustadores, como casas assombradas, cobras, aranhas, filmes de terror e perguntaram sobre experiências traumáticas no passado. A conclusão foi que a paciente não estava apta a vivenciar o medo. E isso torna sua vida infinitamente mais perigosa.
Coragem, dizia Mark Twain, significa resistência ao medo, controle do medo, e não ausência de medo. O medo pode ser uma emoção crucial para nossa sobrevivência, pois nos mantêm mais alertas e desconfiados. Claro que se ele ultrapassar certo limite será prejudicial. O medo que paralisa não faz bem algum ao indivíduo. O interessante é encontrar um equilíbrio em que o medo existe e funciona como constante alerta, ao mesmo tempo em que pode ser dominado pela coragem. O mérito está justamente nisso, até porque enfrentar enormes perigos sem consciência deles, sem medo, não é um ato corajoso, e sim inconseqüente.
E o que isso tem a ver com liberalismo? Tudo! Afinal, o liberal é justamente aquele sujeito que desconfia sempre do poder, do governo, e mais ainda, ele costuma ter muito medo da concentração de poder no Estado. “O preço da liberdade é a eterna vigilância”, reza o credo liberal. Ceticismo e desconfiança geram uma postura mais alerta, impedindo abusos de poder por parte dos governantes. Por outro lado, os românticos ingênuos costumam demandar mais e mais governo, pois deixam a esperança falar mais alto que o medo. Mas, como dizia Baltazar Gracián, “a esperança é a grande falsária da verdade”. Os esperançosos em demasia são utópicos e, por isso, vítimas fáceis dos oportunistas de plantão.
Tenhamos medo do Leviatã estatal sim, pois, em primeiro lugar, ele é legítimo, devido à enorme capacidade de estrago dos governos; e, em segundo lugar, ele pode contribuir para uma maior vigilância aos governantes no poder.
“O medo é uma coisa boa. Se você não tiver medo, pode acabar pulando pela janela.” (Keith Richards)
Um estudo de pesquisadores da Universidade de Iowa mostrou como a emoção de medo depende da região do cérebro denominada amígdala. A paciente estudada teve uma rara condição que destruiu essa parte do cérebro. Os pesquisadores então observaram a resposta dela a estímulos assustadores, como casas assombradas, cobras, aranhas, filmes de terror e perguntaram sobre experiências traumáticas no passado. A conclusão foi que a paciente não estava apta a vivenciar o medo. E isso torna sua vida infinitamente mais perigosa.
Coragem, dizia Mark Twain, significa resistência ao medo, controle do medo, e não ausência de medo. O medo pode ser uma emoção crucial para nossa sobrevivência, pois nos mantêm mais alertas e desconfiados. Claro que se ele ultrapassar certo limite será prejudicial. O medo que paralisa não faz bem algum ao indivíduo. O interessante é encontrar um equilíbrio em que o medo existe e funciona como constante alerta, ao mesmo tempo em que pode ser dominado pela coragem. O mérito está justamente nisso, até porque enfrentar enormes perigos sem consciência deles, sem medo, não é um ato corajoso, e sim inconseqüente.
E o que isso tem a ver com liberalismo? Tudo! Afinal, o liberal é justamente aquele sujeito que desconfia sempre do poder, do governo, e mais ainda, ele costuma ter muito medo da concentração de poder no Estado. “O preço da liberdade é a eterna vigilância”, reza o credo liberal. Ceticismo e desconfiança geram uma postura mais alerta, impedindo abusos de poder por parte dos governantes. Por outro lado, os românticos ingênuos costumam demandar mais e mais governo, pois deixam a esperança falar mais alto que o medo. Mas, como dizia Baltazar Gracián, “a esperança é a grande falsária da verdade”. Os esperançosos em demasia são utópicos e, por isso, vítimas fáceis dos oportunistas de plantão.
Tenhamos medo do Leviatã estatal sim, pois, em primeiro lugar, ele é legítimo, devido à enorme capacidade de estrago dos governos; e, em segundo lugar, ele pode contribuir para uma maior vigilância aos governantes no poder.
terça-feira, dezembro 14, 2010
Crianças Mimadas
Rodrigo Constantino, O Globo
Em “A rebelião das massas”, o filósofo Ortega y Gasset descreveu o homem-massa como alguém que “só tem apetites, pensa que só tem direitos e não acha que tem obrigações”. O perfil psicológico que ele faz deste típico homem moderno é o de alguém com livre expansão de desejos e a radical ingratidão para com tudo que tornou possível a facilidade de sua existência. Em suma, a psicologia da criança mimada.
Qualquer um que assume a segurança econômica como um “direito”, age exatamente como uma criança mimada. Ignora como a natureza é hostil, e que todo o avanço material da modernidade era inexistente no passado. Um operário hoje tem mais conforto que muito nobre medieval. Basta pensar nas dificuldades de sobrevivência de Robinson Crusoé sozinho numa ilha – ou dos cubanos na ilha-presídio caribenha –, para se ter idéia do valor do progresso capitalista.
Sem a compreensão adequada desta realidade, muitos encaram o Estado como uma espécie de Deus, e exigem os bens modernos como “direitos naturais”. A mentalidade econômica predominante assume que a riqueza não precisa ser criada, devendo apenas ser dividida. Basta o governo tirar de José e dar para João, e todos terão uma qualidade de vida confortável. Esta postura leva à hipertrofia da social-democracia ou, no limite, ao socialismo.
A contrapartida da liberdade é sempre a responsabilidade. Os jovens vão conquistando mais liberdade à medida que passam a assumir as rédeas de suas vidas. Já as crianças mimadas nunca aceitam crescer, e preferem viver sempre à custa do pai, eximindo-se das escolhas essenciais. Para muitos, o Estado se tornou esta figura paterna que vai cuidar de tudo. Tal como as crianças que não são realmente livres, pois a liberdade concedida pode sempre ser retirada, os cidadãos sob o paternalismo estatal se tornam dependentes do governo para tudo.
Liberdade não é o mesmo que poder. Um cego não deixa de ser livre por não poder enxergar, assim como ninguém é escravo por não poder voar. A natureza nos impõe limites. Quando falamos em liberdade, estamos pensando basicamente na ausência de obstáculos criados pelos próprios homens, ou seja, da coerção humana. Este conceito de liberdade não tem ligação alguma com aquele comumente usado pelas crianças mimadas. Para estas, liberdade é ter todos os seus desejos satisfeitos por terceiros, ter um escravo onipotente, um gênio da garrafa pronto para realizar sonhos num estalar de dedos.
O homem moderno deseja ficar “livre” de todo sofrimento, da angústia, da falta, do risco. Ele vive no vale das quimeras, onde basta demandar algo, que o Estado atende. Todos devem ter “direito” à moradia decente, emprego com bons salários, fartas aposentadorias, remédios grátis, em resumo, a uma “vida digna” mesmo que sem esforços. Ninguém liga para como tais anseios serão atendidos. A resposta é automática: o Estado! Bastiat resumiu bem a questão: “O Estado é a grande ficção através da qual todo mundo se esforça para viver à custa de todo mundo”.
Onde há demanda, haverá oferta. Com tantas pessoas agindo feito uma criança mimada, parece natural que os candidatos a “paizão” ou “supermãe” logo apareçam. São aqueles que Thomas Sowell chamou de “ungidos”, pessoas que se consideram clarividentes, detentoras de uma incrível benevolência, e de um conhecimento quase onisciente. Eles sabem o que é melhor para cada um, e sua meta é proteger o indivíduo de si próprio, cuidar do povo como um pai cuida de seu filho.
A simbiose entre crianças mimadas e governantes paternalistas produz um círculo vicioso, alimentando o infantilismo na sociedade e concentrando mais poder no Estado. O fascismo de Mussolini representa o ápice deste modelo. Tudo no Estado, nada fora do Estado. O cidadão é tratado como um mentecapto, incapaz de tomar decisões acerca de seu destino. Cabe ao Estado escolher por todos: que leitura é adequada para nossos filhos; quais remédios nós podemos comprar; quanto de endividamento cada família pode ter; e até qual tipo de tomada devemos usar em casa!
Enquanto esta simbiose não for quebrada, jamais haverá liberdade individual de fato. Responsabilidade quer dizer “habilidade de resposta”, e esta deve ser do indivíduo. Nunca teremos satisfação plena de nossos desejos, pois somos seres imperfeitos. Mas temos que assumir nossa responsabilidade, sabendo que as coisas não caem do céu – ou do governo. Reconhecer isso é o primeiro passo para o amadurecimento. A alternativa é ser uma criança mimada para sempre, dependente do “papai” governo para tudo.
Em “A rebelião das massas”, o filósofo Ortega y Gasset descreveu o homem-massa como alguém que “só tem apetites, pensa que só tem direitos e não acha que tem obrigações”. O perfil psicológico que ele faz deste típico homem moderno é o de alguém com livre expansão de desejos e a radical ingratidão para com tudo que tornou possível a facilidade de sua existência. Em suma, a psicologia da criança mimada.
Qualquer um que assume a segurança econômica como um “direito”, age exatamente como uma criança mimada. Ignora como a natureza é hostil, e que todo o avanço material da modernidade era inexistente no passado. Um operário hoje tem mais conforto que muito nobre medieval. Basta pensar nas dificuldades de sobrevivência de Robinson Crusoé sozinho numa ilha – ou dos cubanos na ilha-presídio caribenha –, para se ter idéia do valor do progresso capitalista.
Sem a compreensão adequada desta realidade, muitos encaram o Estado como uma espécie de Deus, e exigem os bens modernos como “direitos naturais”. A mentalidade econômica predominante assume que a riqueza não precisa ser criada, devendo apenas ser dividida. Basta o governo tirar de José e dar para João, e todos terão uma qualidade de vida confortável. Esta postura leva à hipertrofia da social-democracia ou, no limite, ao socialismo.
A contrapartida da liberdade é sempre a responsabilidade. Os jovens vão conquistando mais liberdade à medida que passam a assumir as rédeas de suas vidas. Já as crianças mimadas nunca aceitam crescer, e preferem viver sempre à custa do pai, eximindo-se das escolhas essenciais. Para muitos, o Estado se tornou esta figura paterna que vai cuidar de tudo. Tal como as crianças que não são realmente livres, pois a liberdade concedida pode sempre ser retirada, os cidadãos sob o paternalismo estatal se tornam dependentes do governo para tudo.
Liberdade não é o mesmo que poder. Um cego não deixa de ser livre por não poder enxergar, assim como ninguém é escravo por não poder voar. A natureza nos impõe limites. Quando falamos em liberdade, estamos pensando basicamente na ausência de obstáculos criados pelos próprios homens, ou seja, da coerção humana. Este conceito de liberdade não tem ligação alguma com aquele comumente usado pelas crianças mimadas. Para estas, liberdade é ter todos os seus desejos satisfeitos por terceiros, ter um escravo onipotente, um gênio da garrafa pronto para realizar sonhos num estalar de dedos.
O homem moderno deseja ficar “livre” de todo sofrimento, da angústia, da falta, do risco. Ele vive no vale das quimeras, onde basta demandar algo, que o Estado atende. Todos devem ter “direito” à moradia decente, emprego com bons salários, fartas aposentadorias, remédios grátis, em resumo, a uma “vida digna” mesmo que sem esforços. Ninguém liga para como tais anseios serão atendidos. A resposta é automática: o Estado! Bastiat resumiu bem a questão: “O Estado é a grande ficção através da qual todo mundo se esforça para viver à custa de todo mundo”.
Onde há demanda, haverá oferta. Com tantas pessoas agindo feito uma criança mimada, parece natural que os candidatos a “paizão” ou “supermãe” logo apareçam. São aqueles que Thomas Sowell chamou de “ungidos”, pessoas que se consideram clarividentes, detentoras de uma incrível benevolência, e de um conhecimento quase onisciente. Eles sabem o que é melhor para cada um, e sua meta é proteger o indivíduo de si próprio, cuidar do povo como um pai cuida de seu filho.
A simbiose entre crianças mimadas e governantes paternalistas produz um círculo vicioso, alimentando o infantilismo na sociedade e concentrando mais poder no Estado. O fascismo de Mussolini representa o ápice deste modelo. Tudo no Estado, nada fora do Estado. O cidadão é tratado como um mentecapto, incapaz de tomar decisões acerca de seu destino. Cabe ao Estado escolher por todos: que leitura é adequada para nossos filhos; quais remédios nós podemos comprar; quanto de endividamento cada família pode ter; e até qual tipo de tomada devemos usar em casa!
Enquanto esta simbiose não for quebrada, jamais haverá liberdade individual de fato. Responsabilidade quer dizer “habilidade de resposta”, e esta deve ser do indivíduo. Nunca teremos satisfação plena de nossos desejos, pois somos seres imperfeitos. Mas temos que assumir nossa responsabilidade, sabendo que as coisas não caem do céu – ou do governo. Reconhecer isso é o primeiro passo para o amadurecimento. A alternativa é ser uma criança mimada para sempre, dependente do “papai” governo para tudo.
segunda-feira, dezembro 13, 2010
Os Chacais no Poder
Rodrigo Constantino
“A característica do momento é que a alma vulgar, sabendo que é vulgar, tem a coragem de afirmar o direito da vulgaridade e o impõe em toda parte.” (Ortega y Gasset)
Não sou um saudosista e jamais idealizei o passado. Longe disso! Acredito que todo saudosista costuma se imaginar como parte da aristocracia no passado, nunca como um dos plebeus, cuja vida era dureza. Dito isso, parece-me inegável que algo se perdeu nesta transição para os regimes populares modernos. As conquistas, em minha opinião, compensam as perdas com ampla margem. Mas estas existem. Principalmente se levarmos em conta as promessas anteriores às mudanças. E ao ler o excelente livro “O Gattopardo”, de Tomasi Di Lampedusa, esta é a sensação que fica.
O livro, único romance escrito pelo italiano, ele mesmo de família nobre, retrata com ares autobiográficos a decadência da nobreza siciliana, durante a revolução liderada por Garibaldi no século XIX. O Príncipe Fabrizio Salina, personagem principal, encarna o pessimismo de quem “contemplava o ruir da sua casta e do seu patrimônio sem nada fazer e sem nenhum desejo de remediar o desastre”. Ele era apenas um observador dos acontecimentos que pareciam inevitáveis em seu tempo.
A passagem mais famosa do livro é também uma de suas mais importantes lições. O sobrinho querido de Don Fabrizio, Tancredi, ao decidir se alistar nos exércitos garibaldinos, explica ao tio sua lógica: “Se nós não estivermos presentes, eles aprontam a república. Se queremos que tudo continue como está, é preciso que tudo mude”. No primeiro momento, estas palavras ficariam registradas na memória de Don Fabrizio, mas somente com o tempo ele teria uma compreensão mais clara de seu completo significado. A promessa de “tempos gloriosos” para a Sicília já durava algum tempo, e muitos tiros tinham sido disparados por tal objetivo. Mas nenhuma mudança estrutural ocorreria de fato.
As palavras enigmáticas de Tancredi adquiriam maior clareza: “Muita coisa ia acontecer, mas seria tudo uma comédia, uma comédia ruidosa e romântica com algumas manchas de sangue no traje burlesco”. O resultado da “revolução” seria apenas uma “lenta substituição de classes”. E as novas classes que subiriam ao poder não seriam melhores que as antigas; pelo contrário: “Nós fomos os Gattopardos e os Leões; os que vão nos substituir serão pequenos chacais, hienas; e todos, Gattopardos, chacais e ovelhas continuaremos a crer que somos o sal da terra”.
A sensação de asco que o nouveau riche Calogero Sedàra despertava em Don Fabrizio era total, sinal dos tempos modernos. A insensibilidade à graça de objetos ilustres no palácio era indiretamente proporcional à atenção ao valor monetário dos bens. Don Fabrizio, de repente, sentiu que o odiava; “era ao afirmar-se dele, de cem outros semelhantes a ele, às suas obscuras maquinações, à sua persistente avidez e mesquinharia que se devia a sensação de morte que agora pesava sobre esses palácios”. Os novos donos do poder e do dinheiro eram brutos se comparados aos nobres de antes.
Na resenha que Mário Vargas Llosa fez do livro de Lampedusa, merece destaque o contraste do autor frente ao modismo de sua época, na década de 1950, quando a literatura estava impregnada de ideologia e todos deveriam seguir a posição moral e politicamente correta a favor do progresso da humanidade. As utopias estavam no auge da fama, e muitos sonhavam com as revoluções socialistas que trariam o paraíso à Terra. O livro, com mensagem mais pessimista – ou realista, diriam alguns –, faria um alerta contra o romantismo destes que pensam ser possível atingir alguma perfeição quando se trata de modelo social.
Vargas Llosa resume: “Em vez de um lustroso gattopardo, o símbolo do poder será uma flâmula tricolor. Mas, sob essas mudanças de nomes e de rituais, a sociedade se reconstituirá, idêntica a si mesma, em sua imemorial divisão entre ricos e pobres, fortes e fracos, senhores e servos. Variarão as maneiras e as modas, porém para pior: os novos chefes e donos são vulgares e incultos, sem os refinamentos dos antigos”. E não acabaram quase sempre assim todas as revoluções redentoras, que iriam colocar um fim nas divisões de classes?
Para Étienne La Boétie, em seu “Discurso Sobre a Servidão Voluntária”, os vários atentados realizados contra imperadores romanos “não passaram de conspirações de pessoas ambiciosas, cujos inconvenientes não se deve lamentar, pois se perceber que desejavam, não eliminar, mas remover a coroa, pretendendo banir o tirano e reter a tirania”. A própria Revolução Francesa eliminou a nobreza para colocar em seu lugar o Terror de Robespierre.
A última passagem de “A Revolução dos Bichos”, de Goerge Orwell, desfere similar golpe aos utópicos: “As criaturas de fora olhavam de um porco para um homem, de um homem para um porco e de um porco para um homem outra vez; mas já era impossível distinguir quem era homem, quem era porco”. O destino daqueles que acreditam nas promessas de barbudos “salvadores da pátria” será invariavelmente o mesmo: trocar seis por meia-dúzia na melhor das hipóteses; ou por algo muito pior na mais provável delas. Sai uma arrogante aristocracia, e entra um metalúrgico ignorante com mais sede ainda pelo poder, mais corrupto ainda que seus antecessores. São os chacais alçados ao poder pelos idiotas que, de repente, descobriram que são em maior número.
Como o regresso ao feudalismo não é desejável de forma alguma, só resta aos liberais seguir na luta por reformas constantes, na batalha realista por uma gradual evolução da sociedade, rejeitando as soluções revolucionárias mágicas e tentando limitar o estrago causado pelos chacais famintos.
sexta-feira, dezembro 10, 2010
O limite medíocre do crescimento
Rodrigo Constantino, para o Instituto Liberal
Os dados divulgados pelo IBGE mostram que o crescimento do PIB brasileiro deve fechar o ano acima de 7,5%. Mas é preciso ter calma na comemoração. O crescimento de 2009 foi revisado para baixo: uma queda de 0,6% ao invés de 0,2%, mostrando que a “marolinha” que o presidente Lula previu foi, na verdade, uma onda forte com estrago considerável. A base mais reduzida de 2009 faz com que o aumento registrado este ano seja maior. Na era Lula, o crescimento ficou perto de 4% ao ano, bem abaixo da média dos BRIC e mesmo dos países latino-americanos. Este patamar parece ser o potencial do país, dada as atuais circunstâncias internas e externas.
Muitos falam de um crescimento de 5% para 2011, mas o fato é que a economia está operando claramente no seu limite. Os gargalos de sempre continuam impedindo um vôo mais alto e sustentado. A inflação já começa a incomodar bastante, acima de 5%. Falta mão-de-obra em vários setores, especialmente a mais qualificada. A infra-estrutura é precária e inviabiliza um crescimento mais acelerado. A lei trabalhista impõe um obstáculo enorme aos empresários. A carga tributária é absurdamente alta e extremamente complexa. A burocracia é asfixiante. Os gastos públicos são muito elevados.
Tudo isso somado, e muito mais, faz com que o investimento produtivo fique em patamares reduzidos, abaixo de 20% do PIB, enquanto deveria ser de pelo menos 25%. O Banco Central terá que subir bem a taxa de juros ano que vem, prejudicando a trajetória de investimento. Não há milagre quando se trata de economia. Ou o governo faz o dever de casa, aprova reformas estruturais, coloca a casa em ordem, corta gastos de verdade; ou veremos mais um vôo de galinha, e o crescimento ficará na faixa dos 4% mesmo, o limite medíocre da era Lula, mesmo com um cenário externo bastante favorável.
Os dados divulgados pelo IBGE mostram que o crescimento do PIB brasileiro deve fechar o ano acima de 7,5%. Mas é preciso ter calma na comemoração. O crescimento de 2009 foi revisado para baixo: uma queda de 0,6% ao invés de 0,2%, mostrando que a “marolinha” que o presidente Lula previu foi, na verdade, uma onda forte com estrago considerável. A base mais reduzida de 2009 faz com que o aumento registrado este ano seja maior. Na era Lula, o crescimento ficou perto de 4% ao ano, bem abaixo da média dos BRIC e mesmo dos países latino-americanos. Este patamar parece ser o potencial do país, dada as atuais circunstâncias internas e externas.
Muitos falam de um crescimento de 5% para 2011, mas o fato é que a economia está operando claramente no seu limite. Os gargalos de sempre continuam impedindo um vôo mais alto e sustentado. A inflação já começa a incomodar bastante, acima de 5%. Falta mão-de-obra em vários setores, especialmente a mais qualificada. A infra-estrutura é precária e inviabiliza um crescimento mais acelerado. A lei trabalhista impõe um obstáculo enorme aos empresários. A carga tributária é absurdamente alta e extremamente complexa. A burocracia é asfixiante. Os gastos públicos são muito elevados.
Tudo isso somado, e muito mais, faz com que o investimento produtivo fique em patamares reduzidos, abaixo de 20% do PIB, enquanto deveria ser de pelo menos 25%. O Banco Central terá que subir bem a taxa de juros ano que vem, prejudicando a trajetória de investimento. Não há milagre quando se trata de economia. Ou o governo faz o dever de casa, aprova reformas estruturais, coloca a casa em ordem, corta gastos de verdade; ou veremos mais um vôo de galinha, e o crescimento ficará na faixa dos 4% mesmo, o limite medíocre da era Lula, mesmo com um cenário externo bastante favorável.
quinta-feira, dezembro 09, 2010
Discurso de Mário Vargas Llosa para o Prêmio Nobel
Seguem trechos do discurso de Mário Vargas Llosa para o Prêmio Nobel. Finalmente, além de um excelente escritor, uma pessoa digna levou este prêmio! Lá vai:
Aprendi a ler aos cinco anos, na classe do irmão Justiniano, no Colégio de la Salle, em Cochabamba, na Bolívia. Foi a coisa mais importante da minha vida. Quase 70 anos depois, lembro-me com nitidez como essa magia - transformar as palavras dos livros em imagens - enriqueceu a minha vida, quebrando as barreiras do tempo e do espaço e permitindo-me viajar com o capitão Nemo 20 mil léguas abaixo do nível do mar, lutar junto com d'Artagnan, Athos, Portos e Aramís contra as intrigas que ameaçavam a rainha nos tempos do sinuoso Richelieu, ou arrastar-me pelas entranhas de Paris com o corpo inerte de Marius às costas.
A leitura convertia o sonho em vida e a vida em sonho e punha ao alcance do pedacinho de homem que eu era o universo da literatura. Minha mãe me disse que as primeiras coisas que escrevi foram continuações das histórias que lia, pois me aborrecia quando elas terminavam ou queria mudar seu final. E talvez seja isso que acabei fazendo na vida sem perceber: prolongar no tempo, enquanto crescia, amadurecia e envelhecia, as histórias que encheram minha infância de exaltação e de aventuras.
Gostaria que a minha mãe estivesse aqui, ela que costumava se emocionar e chorar ao ler os poemas de Amado Nervo e Pablo Neruda, e também meu avô Pedro, de nariz grande e calva reluzente, que elogiava os meus versos, e o tio Lucho que tanto me animou a dedicar-me de corpo e alma a escrever, embora a literatura, naquele tempo e naquele local, alimentasse tão mal os seus cultores. Toda a vida tive ao meu lado gente assim, que gostava de mim e me animava, e me contagiava com a sua fé quando eu duvidava. Graças a eles e, sem dúvida, também à minha insistência e um pouco de sorte, pude dedicar boa parte do meu tempo a essa paixão, vício e maravilha que é escrever, criar uma vida paralela onde nos refugiamos contra a adversidade, que torna natural o extraordinário e o extraordinário natural, que dissipa o caos, embeleza o feio, eterniza o instante e torna a morte um espetáculo passageiro.
Não era fácil escrever histórias. Ao se transformarem em palavras, os projetos passeavam pelo papel e as ideias e imagens morriam. Como reanimá-los ? Por sorte, ali estavam os mestres para que eu aprendesse com eles e seguisse seu exemplo. Flaubert me ensinou que o talento é uma disciplina tenaz e uma longa paciência. Faulkner, que é a forma - o texto e a estrutura - que engrandece ou empobrece os temas. Martorell, Cervantes, Dickens, Balzac, Tolstoi, Conrad, Thomas Mann, que o número e a ambição são tão importantes numa novela quanto a destreza estilística e a estratégia narrativa. Sartre, que as palavras são atos e que uma novela, uma peça de teatro, um ensaio, comprometidos com a atualidade e as melhores opções, podem mudar o curso da História. Camus e Orwell, que uma literatura desprovida de moral é desumana, e Malraux que o heroísmo e o épico cabiam na atualidade tanto quanto no tempo dos argonautas, da Odisséia e da Ilíada.
Se eu mencionasse neste discurso todos os escritores aos quais devo um pouco ou muito as suas sombras nos deixariam na escuridão. São inumeráveis. Além de me revelarem os segredos do ofício de contar, eles me fizeram explorar os abismos do humano, admirar seus feitos e horrorizar-me com os seus desvarios. Foram os amigos mais serviçais, os estimuladores da minha vocação, em cujos livros descobri que, mesmo nas piores circunstâncias, há esperança, e que vale a pena viver, nem que seja só porque sem a vida não poderíamos ler nem fantasiar histórias.
Algumas vezes me perguntei se em países como o meu, com poucos leitores e tantos pobres, analfabetos e injustiças, onde a cultura era privilégio de tão poucos, escrever não era um luxo escapista. Mas essas dúvidas nunca asfixiaram minha vocação, e continuei sempre escrevendo, mesmo naqueles períodos em que o trabalho de subsistência absorvia quase todo o meu tempo. Acho que fiz a coisa certa, pois, se para a literatura florescer numa sociedade fosse preciso lançar primeiro a alta cultura, a liberdade, a prosperidade e a justiça, isso não teria existido nunca. Ao contrário, graças à literatura, às consciências que ela formou, aos desejos e anseios que inspirou, ao desencanto do real com que retornamos da viagem a uma bela fantasia, a civilização é agora menos cruel do que quando os contadores de contos começaram a humanizar a vida com suas fábulas. Seríamos piores do que somos sem os bons livros que lemos, mais conformistas, menos inquietos e insubmissos, e o espírito crítico, o motor do progresso, nem sequer existiria. A exemplo de escrever, ler é protestar contra as insuficiências da vida. Quem procura na ficção o que não tem, diz, sem necessidade de dizer, e nem de saber, que a vida tal como é não nos basta para apagar a nossa sede de absoluto, fundamento da condição humana, e que deveria ser melhor. Inventamos as ficções para podermos viver de, alguma maneira, as muitas vidas que queríamos ter, quando apenas dispomos de uma só.
Sem as ficções seríamos menos conscientes da importância da liberdade para que a vida seja suportável e do inferno em que ela se converte quando dominada por um tirano, uma ideologia ou uma religião. Quem duvida que a literatura, além de nos levar ao sonho da beleza e da felicidade, nos alerta contra toda forma de opressão, pergunte por que todos os regimes empenhados em controlar a conduta dos cidadãos, do berço ao túmulo, a temem tanto a ponto de estabelecerem regras de censura para reprimi-la, e vigiam com tanta suspeita os escritores independentes. Fazem isso porque sabem o risco que correm ao deixarem que a imaginação flua pelos livros, como quão sediciosas se tornam as ficções quando o leitor compara a liberdade que as torna possíveis e que nelas se exerce, com o obscurantismo e o medo que o pressionam no mundo real. Queiram ou não, saibam disso ou não, os criadores de fábulas, ao inventar histórias, propagam a insatisfação, mostrando que o mundo é mal feito, que a vida da fantasia é mais rica que a rotina cotidiana. Essa constatação cria raízes na sensibilidade e na consciência, torna os cidadãos mais difíceis de manipular, de aceitar as mentiras que querem fazer com que aceite, de que entre cassetetes, inquisidores e carcereiros vivem mais seguros e melhor. A boa literatura cria pontes entre pessoas diferentes, fazendo-nos gozar, sofrer ou nos surpreendermos, nos une sobre as barreiras das línguas, crenças, usos, costumes e preconceitos que nos separam. Quando a grande baleia branca sepulta o capitão Ahab no mar, o coração dos leitores se oprime do mesmo modo em Tóquio, Lima ou Tombuctu. Quando Emma Bovary toma arsênico, Anna Karênina se joga do trem e Julien Sorel sobe ao patíbulo; e quando, em El Sur, o urbano doutor Juan Dahlmann sai daquela vendinha do pampa para enfrentar o punhal de um matador; ou percebemos que todos os moradores de Comala, o povoado de Pedro Páramo, estão mortos, o abalo é semelhante no leitor que adora Buda, Confúcio, Cristo, Alá ou é agnóstico, vista terno e gravata, túnica, quimono ou bombachas. A literatura cria uma fraternidade dentro da diversidade humana e apaga as fronteiras que erguem entre os homens e mulheres a ignorância, as ideologias, as religiões, os idiomas e a estupidez.
Como todas as épocas tiveram os seus espantos, a nossa é a dos fanáticos, dos terroristas suicidas, antiga espécie convencida de que matando se chega ao paraíso, de que o sangue dos inocentes lava as afrontas coletivas, corrige as injustiças e impõe a verdade sobre as falsas crenças. Inumeráveis vítimas são imoladas todos os dias em diversos locais do mundo por aqueles que se sentem donos de verdades absolutas. Acreditávamos que com a queda dos impérios totalitários a convivência, a paz, o pluralismo, os direitos humanos se imporiam e o mundo deixaria para trás os holocaustos, genocídios, invasões e guerras de extermínio. Nada disso ocorreu. Novas formas de barbárie proliferam estimuladas pelo fanatismo, e com a multiplicação das armas de destruição em massa não se pode excluir que algum grupelho de redentores enlouquecidos provoque um dia um cataclismo nuclear. É preciso ir atrás deles, enfrentá-los e derrotá-los. Não são muitos, embora o estrondo dos seus crimes ecoe por todo o planeta e nos encham de horror os pesadelos que provocam. Não devemos nos intimidar ante os que querem tirar a liberdade que conquistamos na longa façanha da civilização. Defendamos a democracia liberal que, com todas as suas limitações, ainda significa o pluralismo político, a convivência, a tolerância, os direitos humanos, o respeito à crítica, a legalidade, as eleições livres, a alternância de poder, tudo aquilo que nos tirou da vida selvagem e nos faz aproximar - embora nunca cheguemos a alcançá-la - da formosa e perfeita vida fingida pela literatura, aquela que só inventando, escrevendo e lendo podemos merecer. Ao enfrentarmos os fanáticos homicidas defendemos o nosso direito de sonhar e de tornar nossos sonhos realidade.
Quando jovem, como muitos escritores da minha geração, fui marxista e acreditava que o socialismo seria o remédio para a exploração e as injustiças sociais que dominavam o meu país, a América Latina e o resto do Terceiro Mundo. Minha decepção com o estatismo e o coletivismo e a minha passagem para o democrata e liberal que sou - que tento ser - foi longa, difícil e ocorreu aos poucos por causa de episódios como a conversão da Revolução Cubana, que me entusiasmou de início, ao modelo autoritário e vertical da União Soviética, dos testemunhos dos dissidentes que conseguiam vazar dos muros do gulag, da invasão da Tchecoslováquia pelos países do Pacto de Varsóvia e graças a pensadores como Raymond Aron, Jean-François Revel, Isaiah Berlin e Karl Popper, aos quais devo a minha revalorização da cultura democrática e das sociedades abertas. Esses mestres foram um exemplo de lucidez e galhardia quando a intelligentsia ocidental parecia, por frivolidade ou oportunismo, ter sucumbido ao feitiço do socialismo soviético, ou pior ainda, à diabólica e sanguinária revolução cultural chinesa.
[...]
Tradução: Damian Kraus e Antonio Alberto Dias Castro.
Aprendi a ler aos cinco anos, na classe do irmão Justiniano, no Colégio de la Salle, em Cochabamba, na Bolívia. Foi a coisa mais importante da minha vida. Quase 70 anos depois, lembro-me com nitidez como essa magia - transformar as palavras dos livros em imagens - enriqueceu a minha vida, quebrando as barreiras do tempo e do espaço e permitindo-me viajar com o capitão Nemo 20 mil léguas abaixo do nível do mar, lutar junto com d'Artagnan, Athos, Portos e Aramís contra as intrigas que ameaçavam a rainha nos tempos do sinuoso Richelieu, ou arrastar-me pelas entranhas de Paris com o corpo inerte de Marius às costas.
A leitura convertia o sonho em vida e a vida em sonho e punha ao alcance do pedacinho de homem que eu era o universo da literatura. Minha mãe me disse que as primeiras coisas que escrevi foram continuações das histórias que lia, pois me aborrecia quando elas terminavam ou queria mudar seu final. E talvez seja isso que acabei fazendo na vida sem perceber: prolongar no tempo, enquanto crescia, amadurecia e envelhecia, as histórias que encheram minha infância de exaltação e de aventuras.
Gostaria que a minha mãe estivesse aqui, ela que costumava se emocionar e chorar ao ler os poemas de Amado Nervo e Pablo Neruda, e também meu avô Pedro, de nariz grande e calva reluzente, que elogiava os meus versos, e o tio Lucho que tanto me animou a dedicar-me de corpo e alma a escrever, embora a literatura, naquele tempo e naquele local, alimentasse tão mal os seus cultores. Toda a vida tive ao meu lado gente assim, que gostava de mim e me animava, e me contagiava com a sua fé quando eu duvidava. Graças a eles e, sem dúvida, também à minha insistência e um pouco de sorte, pude dedicar boa parte do meu tempo a essa paixão, vício e maravilha que é escrever, criar uma vida paralela onde nos refugiamos contra a adversidade, que torna natural o extraordinário e o extraordinário natural, que dissipa o caos, embeleza o feio, eterniza o instante e torna a morte um espetáculo passageiro.
Não era fácil escrever histórias. Ao se transformarem em palavras, os projetos passeavam pelo papel e as ideias e imagens morriam. Como reanimá-los ? Por sorte, ali estavam os mestres para que eu aprendesse com eles e seguisse seu exemplo. Flaubert me ensinou que o talento é uma disciplina tenaz e uma longa paciência. Faulkner, que é a forma - o texto e a estrutura - que engrandece ou empobrece os temas. Martorell, Cervantes, Dickens, Balzac, Tolstoi, Conrad, Thomas Mann, que o número e a ambição são tão importantes numa novela quanto a destreza estilística e a estratégia narrativa. Sartre, que as palavras são atos e que uma novela, uma peça de teatro, um ensaio, comprometidos com a atualidade e as melhores opções, podem mudar o curso da História. Camus e Orwell, que uma literatura desprovida de moral é desumana, e Malraux que o heroísmo e o épico cabiam na atualidade tanto quanto no tempo dos argonautas, da Odisséia e da Ilíada.
Se eu mencionasse neste discurso todos os escritores aos quais devo um pouco ou muito as suas sombras nos deixariam na escuridão. São inumeráveis. Além de me revelarem os segredos do ofício de contar, eles me fizeram explorar os abismos do humano, admirar seus feitos e horrorizar-me com os seus desvarios. Foram os amigos mais serviçais, os estimuladores da minha vocação, em cujos livros descobri que, mesmo nas piores circunstâncias, há esperança, e que vale a pena viver, nem que seja só porque sem a vida não poderíamos ler nem fantasiar histórias.
Algumas vezes me perguntei se em países como o meu, com poucos leitores e tantos pobres, analfabetos e injustiças, onde a cultura era privilégio de tão poucos, escrever não era um luxo escapista. Mas essas dúvidas nunca asfixiaram minha vocação, e continuei sempre escrevendo, mesmo naqueles períodos em que o trabalho de subsistência absorvia quase todo o meu tempo. Acho que fiz a coisa certa, pois, se para a literatura florescer numa sociedade fosse preciso lançar primeiro a alta cultura, a liberdade, a prosperidade e a justiça, isso não teria existido nunca. Ao contrário, graças à literatura, às consciências que ela formou, aos desejos e anseios que inspirou, ao desencanto do real com que retornamos da viagem a uma bela fantasia, a civilização é agora menos cruel do que quando os contadores de contos começaram a humanizar a vida com suas fábulas. Seríamos piores do que somos sem os bons livros que lemos, mais conformistas, menos inquietos e insubmissos, e o espírito crítico, o motor do progresso, nem sequer existiria. A exemplo de escrever, ler é protestar contra as insuficiências da vida. Quem procura na ficção o que não tem, diz, sem necessidade de dizer, e nem de saber, que a vida tal como é não nos basta para apagar a nossa sede de absoluto, fundamento da condição humana, e que deveria ser melhor. Inventamos as ficções para podermos viver de, alguma maneira, as muitas vidas que queríamos ter, quando apenas dispomos de uma só.
Sem as ficções seríamos menos conscientes da importância da liberdade para que a vida seja suportável e do inferno em que ela se converte quando dominada por um tirano, uma ideologia ou uma religião. Quem duvida que a literatura, além de nos levar ao sonho da beleza e da felicidade, nos alerta contra toda forma de opressão, pergunte por que todos os regimes empenhados em controlar a conduta dos cidadãos, do berço ao túmulo, a temem tanto a ponto de estabelecerem regras de censura para reprimi-la, e vigiam com tanta suspeita os escritores independentes. Fazem isso porque sabem o risco que correm ao deixarem que a imaginação flua pelos livros, como quão sediciosas se tornam as ficções quando o leitor compara a liberdade que as torna possíveis e que nelas se exerce, com o obscurantismo e o medo que o pressionam no mundo real. Queiram ou não, saibam disso ou não, os criadores de fábulas, ao inventar histórias, propagam a insatisfação, mostrando que o mundo é mal feito, que a vida da fantasia é mais rica que a rotina cotidiana. Essa constatação cria raízes na sensibilidade e na consciência, torna os cidadãos mais difíceis de manipular, de aceitar as mentiras que querem fazer com que aceite, de que entre cassetetes, inquisidores e carcereiros vivem mais seguros e melhor. A boa literatura cria pontes entre pessoas diferentes, fazendo-nos gozar, sofrer ou nos surpreendermos, nos une sobre as barreiras das línguas, crenças, usos, costumes e preconceitos que nos separam. Quando a grande baleia branca sepulta o capitão Ahab no mar, o coração dos leitores se oprime do mesmo modo em Tóquio, Lima ou Tombuctu. Quando Emma Bovary toma arsênico, Anna Karênina se joga do trem e Julien Sorel sobe ao patíbulo; e quando, em El Sur, o urbano doutor Juan Dahlmann sai daquela vendinha do pampa para enfrentar o punhal de um matador; ou percebemos que todos os moradores de Comala, o povoado de Pedro Páramo, estão mortos, o abalo é semelhante no leitor que adora Buda, Confúcio, Cristo, Alá ou é agnóstico, vista terno e gravata, túnica, quimono ou bombachas. A literatura cria uma fraternidade dentro da diversidade humana e apaga as fronteiras que erguem entre os homens e mulheres a ignorância, as ideologias, as religiões, os idiomas e a estupidez.
Como todas as épocas tiveram os seus espantos, a nossa é a dos fanáticos, dos terroristas suicidas, antiga espécie convencida de que matando se chega ao paraíso, de que o sangue dos inocentes lava as afrontas coletivas, corrige as injustiças e impõe a verdade sobre as falsas crenças. Inumeráveis vítimas são imoladas todos os dias em diversos locais do mundo por aqueles que se sentem donos de verdades absolutas. Acreditávamos que com a queda dos impérios totalitários a convivência, a paz, o pluralismo, os direitos humanos se imporiam e o mundo deixaria para trás os holocaustos, genocídios, invasões e guerras de extermínio. Nada disso ocorreu. Novas formas de barbárie proliferam estimuladas pelo fanatismo, e com a multiplicação das armas de destruição em massa não se pode excluir que algum grupelho de redentores enlouquecidos provoque um dia um cataclismo nuclear. É preciso ir atrás deles, enfrentá-los e derrotá-los. Não são muitos, embora o estrondo dos seus crimes ecoe por todo o planeta e nos encham de horror os pesadelos que provocam. Não devemos nos intimidar ante os que querem tirar a liberdade que conquistamos na longa façanha da civilização. Defendamos a democracia liberal que, com todas as suas limitações, ainda significa o pluralismo político, a convivência, a tolerância, os direitos humanos, o respeito à crítica, a legalidade, as eleições livres, a alternância de poder, tudo aquilo que nos tirou da vida selvagem e nos faz aproximar - embora nunca cheguemos a alcançá-la - da formosa e perfeita vida fingida pela literatura, aquela que só inventando, escrevendo e lendo podemos merecer. Ao enfrentarmos os fanáticos homicidas defendemos o nosso direito de sonhar e de tornar nossos sonhos realidade.
Quando jovem, como muitos escritores da minha geração, fui marxista e acreditava que o socialismo seria o remédio para a exploração e as injustiças sociais que dominavam o meu país, a América Latina e o resto do Terceiro Mundo. Minha decepção com o estatismo e o coletivismo e a minha passagem para o democrata e liberal que sou - que tento ser - foi longa, difícil e ocorreu aos poucos por causa de episódios como a conversão da Revolução Cubana, que me entusiasmou de início, ao modelo autoritário e vertical da União Soviética, dos testemunhos dos dissidentes que conseguiam vazar dos muros do gulag, da invasão da Tchecoslováquia pelos países do Pacto de Varsóvia e graças a pensadores como Raymond Aron, Jean-François Revel, Isaiah Berlin e Karl Popper, aos quais devo a minha revalorização da cultura democrática e das sociedades abertas. Esses mestres foram um exemplo de lucidez e galhardia quando a intelligentsia ocidental parecia, por frivolidade ou oportunismo, ter sucumbido ao feitiço do socialismo soviético, ou pior ainda, à diabólica e sanguinária revolução cultural chinesa.
[...]
Tradução: Damian Kraus e Antonio Alberto Dias Castro.
O tiro de Ron Paul contra o Fed pode sair pela culatra
Do Bloomberg:
A majority of Americans are dissatisfied with the nation’s independent central bank, saying the U.S. Federal Reserve should either be brought under tighter political control or abolished outright, a poll shows.
The Bloomberg National Poll underlines the extent to which the central bank’s standing has suffered as it has come under fire in Congress, first from Democrats for regulatory lapses before the financial crisis and then from Republicans for failing to revive an economy in which the jobless rate hovers near 10 percent. Voters from both parties have criticized the Fed’s $3.3 trillion in aid to the financial system.
“The Fed had to do extraordinary things to keep us from going into a great depression, and the public doesn’t see it this way,” said Lyle Gramley, a former Fed governor who is now senior adviser at Potomac Research Group in Washington. “The last time we had any really severe criticism of the Fed was in the early-1980s, when the Fed was pursuing this brutally tight policy to keep inflation under control.”
The survey, conducted Dec. 4-7, also shows deep skepticism, especially among Republicans, over the Fed’s Nov. 3 announcement that it would buy bonds in an attempt to bring down unemployment and prevent deflation. More than half say the purchases won’t help the economy.
The policy, known as quantitative easing, was the target of criticism in Washington and overseas. That prompted Fed Chairman Ben S. Bernanke to appear in an interview on CBS television’s “60 Minutes” program on Dec. 5 to defend his actions.
Across the Spectrum
Americans across the political spectrum say the Fed shouldn’t retain its current structure of independence. Asked if the central bank should be more accountable to Congress, left independent or abolished entirely, 39 percent said it should be held more accountable and 16 percent that it should be abolished. Only 37 percent favor the status quo.
In a previous poll, conducted Oct. 7-10, 35 percent of Americans said the Fed should be radically overhauled, while 8 percent said it should be abolished.
[...]
Comento: A campanha dos libertários, liderada por Ron Paul, pode acabar ajudando o inimigo. Sim, todos aqueles que desconfiam muito do excesso de poder inflacionário do Fed podem vibrar com a pesquisa que mostra o dobro de pessoas defendendo o fim do Fed. Eu mesmo, em resenha do livro de Ron Paul ("End the Fed") para a revista Banco de Idéias, do Instituto Liberal, cheguei a defender esta bandeira. O problema é o que colocar em seu lugar, na prática. Uma vez que o retorno do padrão-ouro parece fora de questão atualmente, e que um sistema de "free banking" parece mais distante ainda, a probabilidade maior é esta que está se confirmando: os ataques ao Fed vão gerar maior controle político sobre a instituição. Em outras palavras, o Fed não será abolido, mas terá menor independência. Será que isso é desejável mesmo? Nós, brasileiros, sabemos o que é ter um banco central politizado. É, possivelmente, o pior dos mundos no que se refere ao controle da moeda. Um Fed mais obediente à Casa Branca não é o sonho de liberal algum. Mas talvez seja o resultado concreto da campanha contra a instituição. O tiro pode ter saído pela culatra.
A majority of Americans are dissatisfied with the nation’s independent central bank, saying the U.S. Federal Reserve should either be brought under tighter political control or abolished outright, a poll shows.
The Bloomberg National Poll underlines the extent to which the central bank’s standing has suffered as it has come under fire in Congress, first from Democrats for regulatory lapses before the financial crisis and then from Republicans for failing to revive an economy in which the jobless rate hovers near 10 percent. Voters from both parties have criticized the Fed’s $3.3 trillion in aid to the financial system.
“The Fed had to do extraordinary things to keep us from going into a great depression, and the public doesn’t see it this way,” said Lyle Gramley, a former Fed governor who is now senior adviser at Potomac Research Group in Washington. “The last time we had any really severe criticism of the Fed was in the early-1980s, when the Fed was pursuing this brutally tight policy to keep inflation under control.”
The survey, conducted Dec. 4-7, also shows deep skepticism, especially among Republicans, over the Fed’s Nov. 3 announcement that it would buy bonds in an attempt to bring down unemployment and prevent deflation. More than half say the purchases won’t help the economy.
The policy, known as quantitative easing, was the target of criticism in Washington and overseas. That prompted Fed Chairman Ben S. Bernanke to appear in an interview on CBS television’s “60 Minutes” program on Dec. 5 to defend his actions.
Across the Spectrum
Americans across the political spectrum say the Fed shouldn’t retain its current structure of independence. Asked if the central bank should be more accountable to Congress, left independent or abolished entirely, 39 percent said it should be held more accountable and 16 percent that it should be abolished. Only 37 percent favor the status quo.
In a previous poll, conducted Oct. 7-10, 35 percent of Americans said the Fed should be radically overhauled, while 8 percent said it should be abolished.
[...]
Comento: A campanha dos libertários, liderada por Ron Paul, pode acabar ajudando o inimigo. Sim, todos aqueles que desconfiam muito do excesso de poder inflacionário do Fed podem vibrar com a pesquisa que mostra o dobro de pessoas defendendo o fim do Fed. Eu mesmo, em resenha do livro de Ron Paul ("End the Fed") para a revista Banco de Idéias, do Instituto Liberal, cheguei a defender esta bandeira. O problema é o que colocar em seu lugar, na prática. Uma vez que o retorno do padrão-ouro parece fora de questão atualmente, e que um sistema de "free banking" parece mais distante ainda, a probabilidade maior é esta que está se confirmando: os ataques ao Fed vão gerar maior controle político sobre a instituição. Em outras palavras, o Fed não será abolido, mas terá menor independência. Será que isso é desejável mesmo? Nós, brasileiros, sabemos o que é ter um banco central politizado. É, possivelmente, o pior dos mundos no que se refere ao controle da moeda. Um Fed mais obediente à Casa Branca não é o sonho de liberal algum. Mas talvez seja o resultado concreto da campanha contra a instituição. O tiro pode ter saído pela culatra.
quarta-feira, dezembro 08, 2010
Maior inflação desde 2005
Do G1:
A inflação oficial medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ganhou força em novembro e acelerou para 0,83%, informou nesta quarta-feira (8) o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
É o maior índice mensal desde abril de 2005, quando havia atingido 0,87%, de acordo com o IBGE.
O indicador havia registrado as variações de 0,75% em outubro e de 0,41% em novembro de 2009.
De janeiro a novembro, a alta acumulada pelo IPCA é de 5,25%, acima dos 3,93% registrados em igual período de 2009. O IPCA é o indicador usado como base para as metas de inflação do governo determinadas pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).
Atualmente, a meta central para a inflação em 2010 é de 4,5%, com intervalo de tolerância de dois pontos percentuais para cima ou para baixo (até 6,5%).
Na opinião de analistas do mercado financeiro consultados pelo G1, o patamar elevado da inflação é preocupante e impõe a necessidade de mais medidas do governo para controlar os preços, como aumento dos juros e artifícios para "enxugar" o mercado, como a elevação do compulsório anunciada recentemente pelo Banco Central.
"Quanto mais cedo o BC começar a elevar os juros, melhor. Vamos terminar o ano com inflação por volta de 5,8%, acima da meta, e o BC precisa recuperar sua credibilidade com o mercado", opina Luís Otávio Leal, economista-chefe do Banco ABC Brasil.
Comento: A fatura está chegando! Após tanto tempo de gastos públicos crescentes e crédito em expansão acelerada, a inflação começa a incomodar de verdade. O BC terá que subir a taxa de juros em 2011, talvez em até 200 pontos base. O mais correto seria um forte aperto fiscal por parte do governo, assim como reformas estruturais que estimulassem os investimentos privados. Mas com um governo Dilma fica difícil acreditar que as medidas necessárias serão tomadas. Algum corte nos gastos deve ocorrer, mas muito pouco perto do ideal. E as reformas têm baixa probabilidade de serem realizadas. Crescer bombando gastos do governo e crédito é tarefa fácil, que até um apedeuta pode executar. Complicado é crescer fazendo a coisa certa, de forma sustentável, sem pressionar tanto a inflação. É hora de aprender economia básica, petralhas!
PS: Nesta palestra no I Seminário da Escola Austríaca eu fiz um alerta sobre os riscos de maior inflação.
A inflação oficial medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ganhou força em novembro e acelerou para 0,83%, informou nesta quarta-feira (8) o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
É o maior índice mensal desde abril de 2005, quando havia atingido 0,87%, de acordo com o IBGE.
O indicador havia registrado as variações de 0,75% em outubro e de 0,41% em novembro de 2009.
De janeiro a novembro, a alta acumulada pelo IPCA é de 5,25%, acima dos 3,93% registrados em igual período de 2009. O IPCA é o indicador usado como base para as metas de inflação do governo determinadas pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).
Atualmente, a meta central para a inflação em 2010 é de 4,5%, com intervalo de tolerância de dois pontos percentuais para cima ou para baixo (até 6,5%).
Na opinião de analistas do mercado financeiro consultados pelo G1, o patamar elevado da inflação é preocupante e impõe a necessidade de mais medidas do governo para controlar os preços, como aumento dos juros e artifícios para "enxugar" o mercado, como a elevação do compulsório anunciada recentemente pelo Banco Central.
"Quanto mais cedo o BC começar a elevar os juros, melhor. Vamos terminar o ano com inflação por volta de 5,8%, acima da meta, e o BC precisa recuperar sua credibilidade com o mercado", opina Luís Otávio Leal, economista-chefe do Banco ABC Brasil.
Comento: A fatura está chegando! Após tanto tempo de gastos públicos crescentes e crédito em expansão acelerada, a inflação começa a incomodar de verdade. O BC terá que subir a taxa de juros em 2011, talvez em até 200 pontos base. O mais correto seria um forte aperto fiscal por parte do governo, assim como reformas estruturais que estimulassem os investimentos privados. Mas com um governo Dilma fica difícil acreditar que as medidas necessárias serão tomadas. Algum corte nos gastos deve ocorrer, mas muito pouco perto do ideal. E as reformas têm baixa probabilidade de serem realizadas. Crescer bombando gastos do governo e crédito é tarefa fácil, que até um apedeuta pode executar. Complicado é crescer fazendo a coisa certa, de forma sustentável, sem pressionar tanto a inflação. É hora de aprender economia básica, petralhas!
PS: Nesta palestra no I Seminário da Escola Austríaca eu fiz um alerta sobre os riscos de maior inflação.
sexta-feira, dezembro 03, 2010
Comunicado aos leitores
Prezados leitores do blog,
Gostaria de comunicar que a partir de 2011 terei que dedicar menos atenção ao blog, que terá atualizações mais espaçadas. Não, o motivo não tem ligação alguma com pressão dos petralhas ou medo do governo Dilma. É uma decisão estritamente pessoal de focar mais nos negócios. Este blog é um grande hobby para mim. Eu adoro escrever sobre política e economia, entre outros temas. E continuarei a fazê-lo, só que com menor freqüência. Afinal, nem os poetas vivem só de vento! E está na hora de dedicar mais tempo e energia aos meus negócios, ligados ao mercado financeiro, outra grande paixão minha.
Os artigos para a coluna de O Globo e do Valor Econômico, assim como da revista Voto, serão as minhas prioridades. Sempre que for possível, farei curtas atualizações, com comentários específicos. E toda sexta-feira continuo escrevendo o comentário do dia para o Instituto Liberal.
Agradeço a todos pela compreensão,
Rodrigo Constantino.
Gostaria de comunicar que a partir de 2011 terei que dedicar menos atenção ao blog, que terá atualizações mais espaçadas. Não, o motivo não tem ligação alguma com pressão dos petralhas ou medo do governo Dilma. É uma decisão estritamente pessoal de focar mais nos negócios. Este blog é um grande hobby para mim. Eu adoro escrever sobre política e economia, entre outros temas. E continuarei a fazê-lo, só que com menor freqüência. Afinal, nem os poetas vivem só de vento! E está na hora de dedicar mais tempo e energia aos meus negócios, ligados ao mercado financeiro, outra grande paixão minha.
Os artigos para a coluna de O Globo e do Valor Econômico, assim como da revista Voto, serão as minhas prioridades. Sempre que for possível, farei curtas atualizações, com comentários específicos. E toda sexta-feira continuo escrevendo o comentário do dia para o Instituto Liberal.
Agradeço a todos pela compreensão,
Rodrigo Constantino.
Mudando o Passado
Rodrigo Constantino, para o Instituto Liberal
O presidente Lula chamou novamente de “tentativa de golpe” o escândalo do “mensalão” de 2005. Seu discurso está afinado com o de José Dirceu, principal réu no processo, acusado de “chefe de quadrilha” pelo então procurador-geral da República. A impunidade completa do alto escalão do poder já não é suficiente para os petistas. Eles querem mais! Eles querem não só a impunidade, como também o direito de reescrever a história, de mudar o passado e apagar os fatos da memória dos brasileiros.
Em “1984”, George Orwell retratou com perfeição esta tática autoritária. O “Ministério da Verdade” ficava responsável pela seleção de quais fatos permanecem registrados, e quais serão apagados ou alterados. A distopia orwelliana apenas registrava o que efetivamente ocorria nas nações comunistas. O sonho de muitos petistas é o mesmo: censurar a imprensa, usando o eufemismo “controle social”, justamente para filtrar os fatos históricos. Não basta estar blindado pela impunidade; é preciso monopolizar as versões dos acontecimentos e dominar a alma de todos!
Em seu conto “O Relato do Jardineiro-Chefe”, Tchékhov lamenta o grau de impunidade em seu país: “Nos últimos tempos, na Rússia andam inocentando com excessiva freqüência os malfeitores, justificando tudo com estados mórbidos e afetivos, e no entanto essas sentenças absolutórias representam evidente indulgência e conivência e não conduzem a nada de bom. Elas desmoralizam as massas, o senso de justiça embotou-se em todos, já que se acostumaram a ver o vício impune; e, sabe, do nosso tempo pode-se tranquilamente dizer com as palavras de Shakespeare: ‘No nosso século perverso e devasso, até a virtude tem de pedir perdão ao vício’”.
Nem na Rússia do século XIX, nem na Inglaterra do século XVII; é no Brasil do século XXI que esta pouca-vergonha atingiu patamares impensáveis. E o principal responsável por isso atende pelo nome Luís Inácio Lula da Silva.
PS: Quem quiser refrescar a memória com os fatos, que ainda não foram apagados pelos conselhos (soviets) estatais, recomendo a leitura do livro “O Chefe”, de Ivo Patarra, que relata dia a dia o escândalo do “mensalão”.
Como foi que o tigre celta virou um gatinho frágil?
Rodrigo Constantino, Jornal Valor Econômico
A Irlanda está no radar dos investidores como a bola da vez na crise mundial, que ainda parece longe do fim. O pequeno país europeu foi arrastado pelo estouro da bolha imobiliária, que afetou inúmeros países do mundo todo. Seu caso mostra os enormes riscos que o excesso de crédito pode gerar mesmo numa economia saudável.
O país já foi visto como o "patinho feio" da região. Após uma série de reformas liberalizantes, o quadro mudou radicalmente. Os impostos corporativos foram cortados para 12,5%, um dos menores do mundo. A abertura comercial trouxe bastante investimento estrangeiro, modernizando o parque industrial.
O setor de tecnologia se fortaleceu muito com a vinda de multinacionais, tornando o setor agrícola menos relevante. A burocracia foi reduzida: para abrir uma empresa eram necessários poucos dias. As leis trabalhistas ficaram flexíveis. A corrupção é percebida como mínima.
De 1995 a 2007, a média do crescimento econômico ficou em 6% ao ano. Os quase cinco milhões de habitantes passaram a desfrutar de um dos melhores padrões de vida do mundo, com renda per capita superior a US$ 40 mil, expectativa de vida acima de 80 anos, mortalidade infantil abaixo de quatro mortes para cada mil nascimentos, e a erradicação do analfabetismo. Muitos passaram a se referir a Irlanda como o "tigre celta". Parecia um "milagre econômico", ainda que nada houvesse de milagroso em seu sucesso. Era apenas a adoção de medidas reconhecidamente benéficas.
Mas tudo veio abaixo com o estouro da bolha imobiliária em 2008. O PIB irlandês caiu mais de 10% em 2008 e 2009 somados. O setor bancário implodiu, forçando a intervenção do governo por meio da "National Asset Management Agency" (NAMA), que iria comprar ativos dos bancos para evitar uma catástrofe ainda maior.
As medidas de resgate do setor financeiro fizeram o déficit fiscal explodir para mais de 30% do PIB em 2010. Ao contrário de seus pares no chamado PIIGS, a Irlanda não foi vítima de uma crise do modelo de "welfare state", mas sim da perda de controle do setor financeiro.
Com a enorme competitividade da Irlanda e a bonança do crescimento mundial antes do estouro da bolha, os bancos irlandeses conseguiram acumular elevados lucros através da acelerada expansão de crédito.
Em boa parte, isso ocorreu devido à crença de que haveria socorro do governo em caso de crise, aquilo que os economistas chamam de "moral hazard". Os banqueiros ficaram mais ousados na certeza de que os lucros seriam privados, mas os prejuízos seriam socializados.
Além disso, o sistema de reservas fracionárias permitiu uma verdadeira bolha de crédito, criando por tabela uma bolha imobiliária. A alta no preço dos ativos imobiliários tornava as garantias dos empréstimos melhores, estimulando ainda mais a bolha. Quando esta estourou, os bancos insolventes enfrentaram imediatamente problemas de liquidez.
Os bancos começaram a cobrar seus financiamentos, os especuladores precisaram vender desesperadamente suas casas, e isso adicionou mais lenha à fogueira deflacionária. Em suma, um típico ciclo de "boom & bust", como tantos outros.
O caso irlandês mostra, uma vez mais, como é perigoso um sistema bancário com possibilidade de expansão creditícia quase ilimitada, garantida pelo "emprestador de última instância", o banco central. Os economistas da Escola Austríaca, com isso em mente, se dividem em dois grupos: aqueles que defendem a desestatização da moeda, ou seja, um livre mercado para a emissão de moeda privada, fugindo assim do monopólio do governo no setor; e os que pregam um retorno ao padrão ouro, obrigando os bancos a emprestar somente de acordo com a poupança efetiva depositada em seus cofres.
Ambas as soluções parecem distantes de nossa realidade. Mas o alerta feito pelos austríacos continua válido: sempre que os bancos puderem expandir o crédito sem respaldo algum nos depósitos, isso irá produzir bolhas especulativas seguidas de depressões econômicas. Como disse Mises: "Não há meios de evitar o colapso final da expansão econômica provocada pela expansão do crédito. A alternativa é apenas se a crise deve chegar mais cedo como o resultado de um abandono voluntário de mais expansão de crédito, ou mais tarde, como uma catástrofe final e total do sistema monetário envolvido".
Não custa lembrar que o Brasil passa por um acelerado ciclo de crédito. É verdade que ele parte de uma base ainda reduzida. Mas que a desgraça que assola os irlandeses sirva de alerta para evitarmos tal destino.
A Irlanda está no radar dos investidores como a bola da vez na crise mundial, que ainda parece longe do fim. O pequeno país europeu foi arrastado pelo estouro da bolha imobiliária, que afetou inúmeros países do mundo todo. Seu caso mostra os enormes riscos que o excesso de crédito pode gerar mesmo numa economia saudável.
O país já foi visto como o "patinho feio" da região. Após uma série de reformas liberalizantes, o quadro mudou radicalmente. Os impostos corporativos foram cortados para 12,5%, um dos menores do mundo. A abertura comercial trouxe bastante investimento estrangeiro, modernizando o parque industrial.
O setor de tecnologia se fortaleceu muito com a vinda de multinacionais, tornando o setor agrícola menos relevante. A burocracia foi reduzida: para abrir uma empresa eram necessários poucos dias. As leis trabalhistas ficaram flexíveis. A corrupção é percebida como mínima.
De 1995 a 2007, a média do crescimento econômico ficou em 6% ao ano. Os quase cinco milhões de habitantes passaram a desfrutar de um dos melhores padrões de vida do mundo, com renda per capita superior a US$ 40 mil, expectativa de vida acima de 80 anos, mortalidade infantil abaixo de quatro mortes para cada mil nascimentos, e a erradicação do analfabetismo. Muitos passaram a se referir a Irlanda como o "tigre celta". Parecia um "milagre econômico", ainda que nada houvesse de milagroso em seu sucesso. Era apenas a adoção de medidas reconhecidamente benéficas.
Mas tudo veio abaixo com o estouro da bolha imobiliária em 2008. O PIB irlandês caiu mais de 10% em 2008 e 2009 somados. O setor bancário implodiu, forçando a intervenção do governo por meio da "National Asset Management Agency" (NAMA), que iria comprar ativos dos bancos para evitar uma catástrofe ainda maior.
As medidas de resgate do setor financeiro fizeram o déficit fiscal explodir para mais de 30% do PIB em 2010. Ao contrário de seus pares no chamado PIIGS, a Irlanda não foi vítima de uma crise do modelo de "welfare state", mas sim da perda de controle do setor financeiro.
Com a enorme competitividade da Irlanda e a bonança do crescimento mundial antes do estouro da bolha, os bancos irlandeses conseguiram acumular elevados lucros através da acelerada expansão de crédito.
Em boa parte, isso ocorreu devido à crença de que haveria socorro do governo em caso de crise, aquilo que os economistas chamam de "moral hazard". Os banqueiros ficaram mais ousados na certeza de que os lucros seriam privados, mas os prejuízos seriam socializados.
Além disso, o sistema de reservas fracionárias permitiu uma verdadeira bolha de crédito, criando por tabela uma bolha imobiliária. A alta no preço dos ativos imobiliários tornava as garantias dos empréstimos melhores, estimulando ainda mais a bolha. Quando esta estourou, os bancos insolventes enfrentaram imediatamente problemas de liquidez.
Os bancos começaram a cobrar seus financiamentos, os especuladores precisaram vender desesperadamente suas casas, e isso adicionou mais lenha à fogueira deflacionária. Em suma, um típico ciclo de "boom & bust", como tantos outros.
O caso irlandês mostra, uma vez mais, como é perigoso um sistema bancário com possibilidade de expansão creditícia quase ilimitada, garantida pelo "emprestador de última instância", o banco central. Os economistas da Escola Austríaca, com isso em mente, se dividem em dois grupos: aqueles que defendem a desestatização da moeda, ou seja, um livre mercado para a emissão de moeda privada, fugindo assim do monopólio do governo no setor; e os que pregam um retorno ao padrão ouro, obrigando os bancos a emprestar somente de acordo com a poupança efetiva depositada em seus cofres.
Ambas as soluções parecem distantes de nossa realidade. Mas o alerta feito pelos austríacos continua válido: sempre que os bancos puderem expandir o crédito sem respaldo algum nos depósitos, isso irá produzir bolhas especulativas seguidas de depressões econômicas. Como disse Mises: "Não há meios de evitar o colapso final da expansão econômica provocada pela expansão do crédito. A alternativa é apenas se a crise deve chegar mais cedo como o resultado de um abandono voluntário de mais expansão de crédito, ou mais tarde, como uma catástrofe final e total do sistema monetário envolvido".
Não custa lembrar que o Brasil passa por um acelerado ciclo de crédito. É verdade que ele parte de uma base ainda reduzida. Mas que a desgraça que assola os irlandeses sirva de alerta para evitarmos tal destino.
quinta-feira, dezembro 02, 2010
Extra! NASA fará anúncio de vida extra-terrestre
Este blog antecipa o anúncio que a NASA fará hoje às 17h. Foi descoberta vida extra-terrestre. O ET possui 9 dedos, tem uma enorme cara-de-pau, pode se camuflar como um camaleão dependendo do ambiente, é movido pelo consumo de álcool, fala um dialeto que se parece um pouco com o português, e jura que faz milagres. Estudos da NASA mostraram que o ET tem o poder de hipnotizar os seres humanos mais limitados. A NASA alerta que o ET é perigoso e apresenta elevada capacidade de destruição. Segue uma foto dele obtida pelo telescópio Hubble:
terça-feira, novembro 30, 2010
O tigre celta virou gato
O caso da Irlanda é interessante, pois mostra os riscos do sistema bancário atual. A Irlanda era o patinho feio da Europa, um país bem mais pobre que os demais. Após uma série de reformas liberais, a economia irlandesa cresceu mais de 6% ao ano por uma década, tornando-se um caso de sucesso, com uma das maiores rendas per capita da região (chegou a quase US$ 45.000). Mas... o sistema bancário expandiu o crédito sem limites, colocando todas as conquistas em risco. Alguns oportunistas de esquerda aproveitam para atacar... as reformas liberais, como se estas fossem causa dos problemas. Não são! São o motivo do relativo sucesso, que mesmo após esta crise toda, gerada pelos bancos e pela bolha imobiliária mundial, ainda mantém a Irlanda como uma nação próspera.
O artigo do Mises.org hoje fala justamente do caso irlandês. Vale a pena a leitura. Segue um trecho relevante:
"In some sense Ireland was even too competitive. Ireland has the lowest corporate tax rate in the Economic and Monetary Union (at 12.5 percent). The tax rate attracted banks from all over the world to expand their businesses on the island. As a consequence, Ireland's banking sector expanded substantially. During the boom years, banks earned immense profits through their privilege of credit expansion and their implicit government backing. As a result of the credit expansion, an Irish housing bubble developed. And its burst caused substantial losses and even insolvency for Irish banks.
While banking profits during the boom were private, its losses were socialized on September 30, 2008, when the Irish government guaranteed all Irish bank liabilities. As of late 2010, Ireland has injected about €50 billion into its banking system. The Irish problems were created, not by an excessive welfare system, but by the socialization of the losses of a privileged banking system."
O artigo do Mises.org hoje fala justamente do caso irlandês. Vale a pena a leitura. Segue um trecho relevante:
"In some sense Ireland was even too competitive. Ireland has the lowest corporate tax rate in the Economic and Monetary Union (at 12.5 percent). The tax rate attracted banks from all over the world to expand their businesses on the island. As a consequence, Ireland's banking sector expanded substantially. During the boom years, banks earned immense profits through their privilege of credit expansion and their implicit government backing. As a result of the credit expansion, an Irish housing bubble developed. And its burst caused substantial losses and even insolvency for Irish banks.
While banking profits during the boom were private, its losses were socialized on September 30, 2008, when the Irish government guaranteed all Irish bank liabilities. As of late 2010, Ireland has injected about €50 billion into its banking system. The Irish problems were created, not by an excessive welfare system, but by the socialization of the losses of a privileged banking system."
O papel da oposição
Rodrigo Constantino, O Globo
Democracia não é a ditadura da maioria. O regime democrático requer condições básicas para funcionar, tais como liberdade de imprensa, limite constitucional ao governo, independência dos poderes e uma sólida oposição. Todos estes importantes pilares estão enfraquecidos no Brasil. O último deles será o foco deste artigo.
Mais de 40 milhões de brasileiros mostraram nas urnas que não estão satisfeitos com os rumos do país. Trata-se de um brado retumbante que garante legitimidade aos opositores do governo. Resta saber se a oposição vai cumprir com responsabilidade, união e coragem esta função delegada por tantos brasileiros. É o que se espera dela, e cabe às suas lideranças o papel de coordenar seus partidos nesta direção comum. Eximir-se desta tarefa significa trair milhões de eleitores.
O papel da oposição é fundamental para fortalecer a democracia. Hibernar por quatro anos para reaparecer nas eleições é suicídio político. Compreende-se o receio de enfrentar um governo popular como o do presidente Lula, mas ter deixado de fazê-lo foi como dar um tiro no próprio pé. Com Dilma na presidência, sem o mesmo carisma, esta negligência passa a ser indefensável.
Ao que tudo indica, a oposição terá uma excelente oportunidade para mostrar a que veio, lutando em defesa dos milhões de brasileiros que não suportam mais tantos impostos. Mal acabara a contagem das urnas, e a coligação eleita já falava em recriar a CPMF, com nome diferente para ludibriar o povo. Trata-se de um verdadeiro “estelionato eleitoral”, uma vez que a própria Dilma chegou a afirmar que não aumentaria os impostos, já em patamares indecentes no Brasil.
Segundo Alberto Carlos Almeida, em “O dedo na ferida”, o povo brasileiro sabe que paga muitos impostos, e gostaria que eles fossem reduzidos. Almeida acredita que há o script pronto, mas falta o ator. Eis a chance da oposição. O povo brasileiro está mais atento, e dificilmente cairá na retórica do governo, de que é preciso mais recursos para a saúde. O povo entendeu que dinheiro não tem carimbo, e que seus impostos acabam desviados para destinos menos nobres, como corrupção e inchaço da máquina pública.
A questão da recriação da CPMF será um teste crucial para verificar se ainda há oposição de fato neste país. Em vez de o governo criar mais imposto, ele deveria focar na redução dos gastos públicos, que estão em trajetória explosiva. A pressão inflacionária já começa a incomodar, e usar somente a política de juros para combatê-la significa usar uma bazuca para matar uma formiga: o estrago é geral.
O presidente Lula, no afã de eleger sua candidata, mandou às favas a responsabilidade fiscal durante o final de seu governo. Não só a gastança pública saiu de controle, como o crédito estatal também foi estimulado de forma irresponsável. O resultado foi um forte crescimento econômico, fator extremamente relevante para decidir a eleição. Mas a fatura ainda terá que ser paga. Se o governo Dilma não reverter o quadro, demonstrando maior austeridade fiscal, o crescimento será insustentável, tornando-se mais um vôo de galinha. Os “desenvolvimentistas”, estes alquimistas da ciência econômica, terão que aceitar a realidade como ela é.
Além da CPMF, existem várias outras batalhas que a oposição deve lutar. Os escândalos do Enem, para começo de conversa, ou então o trem-bala, cujo orçamento está claramente subestimado, e mesmo assim já representa enorme desperdício de recursos públicos frente a tantas alternativas mais urgentes. Ou ainda o estranho episódio envolvendo a Caixa Econômica e o Banco PanAmericano. Há muito que explicar nestes casos. A oposição não pode deixar tudo por conta da imprensa.
Há também a postura neutra lamentável do governo, quando a ONU resolveu condenar a teocracia iraniana por desrespeito aos direitos humanos. Para o governo, “negócios são negócios”. Cabe à oposição sustentar que esta não pode ser a postura de um país que ainda leva em consideração a questão ética. Milhões de brasileiros esperam esta reação da oposição.
Existem muitos outros pontos em que o papel da oposição se faz necessário para a construção de uma democracia mais sólida. O povo merece o contraditório, até para poder julgar melhor os atos do governo. Quando a oposição está fragilizada, desorganizada e passiva, a democracia corre perigo. A experiência mexicana mostrou como isso pode ser fatal. A oposição precisa resolver seus problemas internos e assumir seu papel legítimo em prol da democracia brasileira. Milhões de brasileiros contam com isso.
Democracia não é a ditadura da maioria. O regime democrático requer condições básicas para funcionar, tais como liberdade de imprensa, limite constitucional ao governo, independência dos poderes e uma sólida oposição. Todos estes importantes pilares estão enfraquecidos no Brasil. O último deles será o foco deste artigo.
Mais de 40 milhões de brasileiros mostraram nas urnas que não estão satisfeitos com os rumos do país. Trata-se de um brado retumbante que garante legitimidade aos opositores do governo. Resta saber se a oposição vai cumprir com responsabilidade, união e coragem esta função delegada por tantos brasileiros. É o que se espera dela, e cabe às suas lideranças o papel de coordenar seus partidos nesta direção comum. Eximir-se desta tarefa significa trair milhões de eleitores.
O papel da oposição é fundamental para fortalecer a democracia. Hibernar por quatro anos para reaparecer nas eleições é suicídio político. Compreende-se o receio de enfrentar um governo popular como o do presidente Lula, mas ter deixado de fazê-lo foi como dar um tiro no próprio pé. Com Dilma na presidência, sem o mesmo carisma, esta negligência passa a ser indefensável.
Ao que tudo indica, a oposição terá uma excelente oportunidade para mostrar a que veio, lutando em defesa dos milhões de brasileiros que não suportam mais tantos impostos. Mal acabara a contagem das urnas, e a coligação eleita já falava em recriar a CPMF, com nome diferente para ludibriar o povo. Trata-se de um verdadeiro “estelionato eleitoral”, uma vez que a própria Dilma chegou a afirmar que não aumentaria os impostos, já em patamares indecentes no Brasil.
Segundo Alberto Carlos Almeida, em “O dedo na ferida”, o povo brasileiro sabe que paga muitos impostos, e gostaria que eles fossem reduzidos. Almeida acredita que há o script pronto, mas falta o ator. Eis a chance da oposição. O povo brasileiro está mais atento, e dificilmente cairá na retórica do governo, de que é preciso mais recursos para a saúde. O povo entendeu que dinheiro não tem carimbo, e que seus impostos acabam desviados para destinos menos nobres, como corrupção e inchaço da máquina pública.
A questão da recriação da CPMF será um teste crucial para verificar se ainda há oposição de fato neste país. Em vez de o governo criar mais imposto, ele deveria focar na redução dos gastos públicos, que estão em trajetória explosiva. A pressão inflacionária já começa a incomodar, e usar somente a política de juros para combatê-la significa usar uma bazuca para matar uma formiga: o estrago é geral.
O presidente Lula, no afã de eleger sua candidata, mandou às favas a responsabilidade fiscal durante o final de seu governo. Não só a gastança pública saiu de controle, como o crédito estatal também foi estimulado de forma irresponsável. O resultado foi um forte crescimento econômico, fator extremamente relevante para decidir a eleição. Mas a fatura ainda terá que ser paga. Se o governo Dilma não reverter o quadro, demonstrando maior austeridade fiscal, o crescimento será insustentável, tornando-se mais um vôo de galinha. Os “desenvolvimentistas”, estes alquimistas da ciência econômica, terão que aceitar a realidade como ela é.
Além da CPMF, existem várias outras batalhas que a oposição deve lutar. Os escândalos do Enem, para começo de conversa, ou então o trem-bala, cujo orçamento está claramente subestimado, e mesmo assim já representa enorme desperdício de recursos públicos frente a tantas alternativas mais urgentes. Ou ainda o estranho episódio envolvendo a Caixa Econômica e o Banco PanAmericano. Há muito que explicar nestes casos. A oposição não pode deixar tudo por conta da imprensa.
Há também a postura neutra lamentável do governo, quando a ONU resolveu condenar a teocracia iraniana por desrespeito aos direitos humanos. Para o governo, “negócios são negócios”. Cabe à oposição sustentar que esta não pode ser a postura de um país que ainda leva em consideração a questão ética. Milhões de brasileiros esperam esta reação da oposição.
Existem muitos outros pontos em que o papel da oposição se faz necessário para a construção de uma democracia mais sólida. O povo merece o contraditório, até para poder julgar melhor os atos do governo. Quando a oposição está fragilizada, desorganizada e passiva, a democracia corre perigo. A experiência mexicana mostrou como isso pode ser fatal. A oposição precisa resolver seus problemas internos e assumir seu papel legítimo em prol da democracia brasileira. Milhões de brasileiros contam com isso.
sexta-feira, novembro 26, 2010
Simples ou Simplista?
Rodrigo Constantino
“Para todo problema complexo, há uma resposta clara, simples e errada.” (H. L. Mencken)
O caos da criminalidade carioca suscitou intensos debates sobre quais são suas principais causas e como resolver o problema. Algumas pessoas, imbuídas das melhores intenções, mas armados com uma visão extremamente limitada, logo partem para as soluções “mágicas”, aquelas que parecem demasiadamente simples. Porém, quando se trata de problemas complexos como este, a única certeza é de que não existem panacéias. Qualquer solução simples será, na verdade, simplista.
É o caso daqueles que pregam a legalização das drogas como saída para o problema. Estou de acordo com o argumento de que sua proibição tem sido uma importante causa da criminalidade, pois concentrou poder nos bandidos. Durante a Lei Seca nos Estados Unidos, era Al Capone quem mandava. Com seu fim, vieram as respeitadas empresas de bebidas alcoólicas. É preciso rever esta política de proibição, sem dúvida, ao menos para as drogas mais leves como a maconha, responsáveis por boa parte do faturamento dos traficantes. Mas legalização não é panacéia.
Basta pensar que há consumo de drogas ilegais no mundo todo, e que nem por isso as cidades de países desenvolvidos se parecem com o Rio neste aspecto. As milícias que tomaram conta das favelas ganham dinheiro em cima da venda de serviços legais também, como botijão de gás, transporte de vans ou TV a cabo (neste caso nem tão legal assim, pois são os famosos “gatos”). As máfias russas cobravam cerca de 30% do faturamento das empresas apenas para “protegê-las” das próprias máfias. Onde não há Estado de Direito, o uso da força, da coerção de algum poder paralelo será a regra, não a exceção, independente de qual produto ou serviço está sendo ofertado.
A bandeira “social” também é utilizada por muitos românticos como panacéia. Normalmente uma bandeira da esquerda, ela também peca por falta de realismo. Em primeiro lugar, ao tratar bandidos cruéis e insensíveis como simples “vítimas da sociedade”. Claro que o ambiente é importante, que as favelas são locais inadequados para se criar crianças, e que o convite ao crime representa constante ameaça e tentação. O homem é, em parte, um produto do meio. Mas só em parte! Há o livre-arbítrio, e basta pensar que a maioria dos moradores de favelas é formada por pessoas honestas, e não assassinos. A política do “coitadinho”, que transmuta vilão em vítima, tem prestado grande desserviço ao combate ao crime.
Investimentos sociais, sendo que o principal deles é mais liberdade econômica para se criar riqueza e empregos, são importantes, não resta dúvida. Mas não são mágicos. Enquanto a impunidade for total, os bandidos, reagindo aos incentivos, serão ousados e destemidos. O crime compensa. Por isso que o confronto duro com marginais é parte essencial da solução do problema. A turma de “direitos humanos” precisa reconhecer este fato. Fechar os olhos para a realidade é insistir no autoengano, alimentando mais ainda o monstro. A polícia tem que agir com firmeza sim, e é legítimo abrir fogo contra bandidos altamente armados, prontos para uma guerra.
Mas o confronto e mesmo a tomada de território pelo Estado tampouco serão soluções mágicas. São medidas necessárias de curto prazo, mas não resolvem os problemas estruturais. Estes demandam muito tempo, reformas sérias, trabalho conjunto da sociedade, mudança na polícia, na economia, no sistema penitenciário, na mentalidade das pessoas e no judiciário. A criminalidade que tomou conta do Rio é obra não de uma geração, mas de décadas de descaso das autoridades, a começar pelo governador Leonel Brizola, que transformou as favelas em verdadeiras fortalezas do crime, impedindo a ação policial necessária nestes locais.
Aquilo que foi gestado por décadas, não poderá ser solucionado num piscar de olhos. Mas as recentes ações do governo demonstram que há luz no fim do túnel. Ao menos parece que a trajetória foi alterada, colocando o governo no rumo certo. Há uma estratégia, e os bandidos estão sendo asfixiados. Naturalmente, como nos lembra Thomas Sowell, “a maioria dos problemas não é resolvida; apenas dá lugar a novas preocupações”. Nem tudo está dominado, como muitos pensavam. Mas estamos longe da paz. Novos problemas irão surgir com estas medidas. Os bandidos não vão desaparecer. As drogas continuam sendo elevada fonte de renda, e onde há demanda, sempre haverá oferta.
Para questões tão complexas, não existem soluções definitivas. Podemos apenas melhorar o quadro, ir gradualmente mudando a situação na direção de um modelo mais civilizado, que possa resgatar o título de “cidade maravilhosa” que o Rio merece. Mãos à obra!
E o caseiro Francenildo, hein?
Rodrigo Constantino, para o Instituto Liberal
O Estadão destaca em manchete: “Palocci é confirmado na Casa Civil”. O poderoso cargo, que já foi ocupado por José Dirceu, Dilma Rousseff e Erenice Guerra, sempre foi palco de grandes escândalos de corrupção. O governo Dilma começa mal quando aponta para tal função crucial do governo ninguém menos que Palocci, já envolvido em diversos escândalos diferentes. Como diz a máxima: “À mulher de César não basta ser honesta, é preciso parecer honesta”. O ministério da Casa Civil deveria ser ocupado por alguém acima de qualquer suspeita. Palocci está muito longe de representar algo parecido.
Em 2005, Palocci se viu envolvido no escândalo do “mensalão”, após ser acusado por Rogério Buratti, seu ex-secretário em Ribeirão Preto, de receber entre 2001 e 2004 R$ 50 mil mensais de propina da empresa Leão&Leão, que seria favorecida em licitações da prefeitura. Palocci foi denunciado em 2006 pelo Ministério Público de São Paulo por crimes de formação de quadrilha, peculato e adulteração de documentos públicos. Em 2007, ele foi condenado em primeira instância pela Justiça, por irregularidades em Ribeirão. A lista continua.
Mas o caso que o derrubou do governo Lula, mostrando que estava completa a transformação do médico de fala mansa (Dr. Jeckyl) no “monstro” (Mr. Hyde) do livro de Stevenson, foi a quebra de sigilo do pobre caseiro Francenildo Costa, que era testemunha da presença do então ministro na mansão alugada em Brasília para a chamada "república de Ribeirão Preto". O episódio, totalmente bizarro, expôs a verdadeira natureza de Palocci.
O uso da máquina estatal como instrumento de espionagem particular é uma das maiores ameaças ao Estado de Direito, e tal crime não pode ser ignorado pelos liberais, só porque Palocci tem fala mansa e prega mais austeridade fiscal. O Mr. Hyde sempre estará lá, pronto para vir à tona sempre que for necessário para o projeto petista de poder.
quinta-feira, novembro 25, 2010
Rio em guerra
Vídeo onde comento os fatos recentes ocorridos no Rio, com o confronto entre Bope e traficantes, alegando que esta situação caótica é obra de décadas de negligência do governo, com o auxílio das ONGs de "direitos humanos" que sempre defenderam os piores bandidos como simples "vítimas da sociedade". É preciso intensificar o ataque contra estes criminosos!
Campanha "Fora Palocci"
Rodrigo Constantino
Pragmatismo tem limite! Entendo que Palocci seja visto como uma ilha de bom senso num mar de mediocridade que é o PT. Em terra de cego, quem tem um olho é rei. O médico de fala mansa, que sempre esteve mais próximo da razão quando se tratava de defender a austeridade fiscal no governo Lula, é visto pelo mercado como um pilar de credibilidade do futuro governo Dilma. O mercado é amoral, e quer resultado. Mas não creio que seja do interesse dos brasileiros, no longo prazo, sacrificar a questão ética em troca de um pouco mais de segurança.
"Aqueles que desistiriam da liberdade essencial para comprar um pouco de segurança temporária não merecem nem liberdade, nem segurança", disse Benjamin Franklin. E parte da liberdade essencial é condenar alguém envolvido até o pescoço em escândalos de corrupção. Para refrescar a memória, recomendo a leitura do capítulo do livro "O Chefe", de Ivo Patarra, sobre o caso da "máfia do lixo", envolvendo Palocci.
Isso sem falar da quebra de sigilo bancário do pobre caseiro Francenildo Costa, que era testemunha da presença de Palocci na mansão alugada em Brasília para a chamada "república de Ribeirão Preto". Quem persegue de forma tão autoritária um simples caseiro, usando o aparato estatal como instrumento particular de espionagem, não pode ocupar cargo algum no governo! Nem ministro da Casa Civil, nem Secretário-Geral da Presidência. Não podemos ser "pragmáticos" a ponto de sacrificar valores tão fundamentais numa democracia como o direito de privacidade do cidadão comum.
Estou iniciando minha campanha isolada em nome da ética na política: Fora Palocci!
quarta-feira, novembro 24, 2010
Individualismo, sim; Sociopatia, não!
Rodrigo Constantino
Cada indivíduo deve ser um fim em si mesmo. Nas palavras de Kant, “ninguém poderá obrigar-me a ser feliz à sua maneira”. Esta tem sido a máxima dos liberais desde então, em contraposição aos coletivistas, que colocam algum coletivo qualquer, seja raça, nação, ou classe, como a finalidade nobre, transformando indivíduos em simples meios sacrificáveis.
Uma das grandes defensoras do individualismo foi Ayn Rand, cuja novela “A Revolta de Atlas” apresenta seu arquétipo de super-homem, John Galt. A frase em destaque no rancho de Galt resume bem sua filosofia: “Juro pela minha vida e meu amor por ela que nunca vou viver em função de outro homem, nem pedir a outro homem que viva em minha função”. Sem dúvida, trata-se de um individualismo exacerbado, mas compreensível como antídoto de uma individualista radical que fora vítima da mais nefasta experiência coletivista: a União Soviética.
Na novela anterior, “A Nascente”, Rand já esboçara este perfil de herói por meio de Howard Roark. Em determinada passagem, o vilão Ellsworth Toohey, um coletivista invejoso, quer saber o que Roark pensa dele, após um de seus golpes bem-sucedidos contra Roark. Este se limita a responder: “Eu não penso em você”. A mais completa indiferença frente ao mal existente na humanidade. Eis uma meta interessante. Mas digna somente dos deuses. Tanto que a própria Ayn Rand, de carne e osso, não conseguia ser indiferente, tendo que atacar seus inimigos através de suas novelas. Na fantasia, ela fugiu para seu paraíso, um lugar onde somente os melhores – todos com os mesmos valores e crenças – viviam. Narciso acha feio o que não é espelho.
A verdade é que Aristóteles já havia percebido que o homem é um “animal social”. Quem não é impelido a estar com outros homens, dizia ele, “ou é um deus ou um bruto”. Como nenhum ser humano é perfeito, então aquele que se mostra totalmente indiferente aos homens, mesmo aos piores, só pode ser um bruto. No fundo, todos nós necessitamos do convívio social, ainda que a sociedade seja vista como uma espécie de “baile de máscaras”, com seus ritos hipócritas e regras bobas de civilidade. O equilíbrio entre o puro individualismo, que escuta somente o chamado de potência de que falava Nietzsche, e a vida gregária, parece ser o grande desafio de todos.
Como organizar a sociedade de forma a preservar o máximo possível da liberdade individual, sem matar a própria comunidade? Esta é a questão que atormenta todos os pensadores individualistas desde sempre. Para Freud, estamos fadados a experimentar o “mal-estar na cultura”, pois o homem tem que abrir mão de parte de sua liberdade para viver em sociedade. As possibilidades de satisfação individual são reduzidas neste convívio, mas a alternativa é ainda pior. Renunciar a certos impulsos, ou sublimá-los, passa a ser questão de sobrevivência do próprio indivíduo na cultura.
Freud diz: “Portanto, o ímpeto libertário se dirige contra determinadas formas e exigências da cultura ou contra a cultura em geral. Não parece que se possa levar o homem, através de algum tipo de influência, a transformar a sua natureza na de um cupim; é provável que ele sempre defenda sua pretensão à liberdade individual contra a vontade da massa”. Encontrar um equilíbrio conveniente tem sido a luta da humanidade. O individualista estará sempre fadado à frustração na sociedade. Afinal, ele não é um inseto gregário como o cupim.
Antecipando Freud em mais de um século, Adam Smith já tinha notado que mesmo o “altruísmo” tinha uma natureza egoísta. A primeira frase de seu “Teoria dos Sentimentos Morais” é: “Por mais egoísta que se suponha o homem, evidentemente há alguns princípios em sua natureza que o fazem interessar-se pela sorte de outros, e considerar a felicidade deles necessária para si mesmo, embora nada extraia disso senão o prazer de assistir a ela”.
Mas, independente da causa original do sentimento de empatia, o fato é que os seres humanos, à exceção dos psicopatas, estão inclinados a olhar para o próximo sem indiferença. Por projeção ou não, o sofrimento alheio incomoda, a felicidade pode contagiar, e a banalidade do mal choca. Humanos de carne e osso não ficam indiferentes aos Tooheys da vida, mas sim revoltados. Levar os outros em consideração, ligar para o que se passa em volta, estar preocupado com o destino de outras pessoas, nada disso é necessariamente coletivismo. O individualista pode perfeitamente demonstrar traços “altruístas”. A diferença é que seu altruísmo estará voltado para indivíduos, e não abstrações coletivas.
“É fácil amar a Humanidade”, dizia Nelson Rodrigues, completando que “o difícil é amar o próximo”. O individualista rejeita o amor por abstrações coletivas, não por outros indivíduos. Para Karl Popper, a associação que Platão fez entre individualismo e egoísmo, em seu sentido pejorativo, tinha como estratégia manchar a imagem do primeiro, de forma a defender seu coletivismo. Mesmo o Cristianismo, lembra Popper, recomenda amar “teu próximo”, não “tua tribo”. Mas a visão distorcida platônica prevaleceu, e até hoje os individualistas são erroneamente confundidos com egoístas insensíveis, ou pior, sociopatas.
Quem tratou de forma clara deste tema foi Mário Vargas Llosa, escrevendo sobre o livro “O Estrangeiro”, de Albert Camus. Seu personagem principal, Meursault, não aceita “jogar o jogo” da sociedade, repleta de hipocrisias e máscaras. Ele se recusa a ser um ator no teatro da vida. Mas, conforme lembra Vargas Llosa, “não existe sociedade, quer dizer, convivência, sem um consenso dos seres que a integram, de respeito a certos ritos ou formas que devem ser respeitadas por todos”. Sem isso, haveria apenas uma “selva de bípedes libérrimos onde somente sobrevivem os mais fortes”. Meursalt pode não saber, mas ele também interpreta um papel: o de “ser livre ao extremo, indiferente às formas entronizadas da sociabilidade”.
Mário Vargas Llosa acredita que “no fundo de todos nós existe um escravo nostálgico, um prisioneiro que queria ser tão espontâneo, franco e anti-social” como o personagem de Camus. Mas mesmo os espíritos mais livres reconhecem que há um preço a se pagar pela cultura, qual seja, o de renúncia à soberania absoluta, aos impulsos que poderiam colocar em risco a vida em sociedade. Se todos fossem puro instinto, até a instituição da família estaria em perigo, e com ela os próprios indivíduos.
O parecer de Vargas Llosa não é favorável ao tipo “libertário” representado por Meursault. Em sua opinião, o estrangeiro de Camus vive num mundo desumanizado, e mostra a “imagem deprimente de um homem a quem a liberdade não engrandece moral ou culturalmente; talvez, destrua sua espiritualidade e o prive de solidariedade, de entusiasmo, de ambição, e o torne passivo, rotineiro e instintivo, num grau pouco menos que animal”. Em suma, um bruto no sentido aristotélico.
O individualista deve sim colocar sua própria felicidade no topo da hierarquia de valores, e não deve levar tanto em conta o que os outros pensam o tempo todo dele. Ele tem o direito de existir para a própria felicidade. Aquele que vive sempre preocupado com tudo que dizem ou pensam dele não passa de um escravo. Mas isso não é sinônimo de total aversão à vida em comunidade, ainda que esta exija, em contrapartida, o convívio com suas infindáveis imperfeições e limites à própria liberdade plena. Esta só existe mesmo nas utopias.
Rio em guerra
Rodrigo Constantino
A violência e ousadia dos bandidos cariocas estão em patamares cada vez mais assustadores. São várias causas que levaram a esta situação periclitante, mas as três mais importantes são: impunidade, impunidade e impunidade!
Tenho vários artigos mais antigos sobre o tema, todos eles batendo basicamente nesta mesma tecla. Estamos deixando a barbárie tomar conta da "cidade maravilhosa". Pergunto: até quando? Guerra é guerra. Guerra não é paz, como "pensam" os orwellianos "pacifistas", que pretendem reagir à agressão dos bandidos com rosas.
No artigo A Janela Quebrada, falo da necessidade de uma política de "tolerância zero", mesmo com os delitos menores. O ambiente de impunidade é nosso maior inimigo. A mesma mensagem é passada no artigo Chega de Impunidade!, de 2006.
A reação aos ataques ousados destes bandidos deve ser em dobro! Todos os demais problemas estruturais devem ser atacados também, sem dúvida. Mas no curto prazo, a meta deve ser "tolerância zero" com estes marginais. Chega de passar a mão na cabeça de assassinos como se fossem "vítimas da sociedade". Chega de impunidade! Ou vamos ficar como o México em pouco tempo...
terça-feira, novembro 23, 2010
Detran: piada de mau gosto!
Rodrigo Constantino
Os cariocas são obrigados a fazer vistoria anual nos carros, mesmo que seja um carro novinho, quase 0 km (meu caso). Somos forçados a encarar filas gigantescas, funcionários incompetentes e muitas vezes truculentos. Tudo isso para mandar ligar as setas, a lanterna e apertar a buzina.
Não obstante tanta palhaçada, já sem graça alguma para os trabalhadores, que perdem muitas vezes um dia inteiro nesta novela, há um agravante: não é possível agendar a vistoria dentro do prazo! Pela lentidão e incompetência dos "funças" que parasitam nesta máfia chamada Detran, o fato é que o proprietário do veículo tem que ficar atento não só ao prazo limite da vistoria, mas com meses de antecedência!
Resumo da ópera bufa: estou trafegando com um carro que tem apenas 10 mil km rodados, e de forma ilegal, tudo porque o Detran tem que fazer uma vistoria estúpida e caça-níquel, e não consegue nem mesmo agendar tal vistoria no curto prazo. Se um guarda me parar, vai rebocar o carro novinho em folha, por culpa do Detran. Os serviços prestados pelo governo não são uma maravilha?
Os cariocas são obrigados a fazer vistoria anual nos carros, mesmo que seja um carro novinho, quase 0 km (meu caso). Somos forçados a encarar filas gigantescas, funcionários incompetentes e muitas vezes truculentos. Tudo isso para mandar ligar as setas, a lanterna e apertar a buzina.
Não obstante tanta palhaçada, já sem graça alguma para os trabalhadores, que perdem muitas vezes um dia inteiro nesta novela, há um agravante: não é possível agendar a vistoria dentro do prazo! Pela lentidão e incompetência dos "funças" que parasitam nesta máfia chamada Detran, o fato é que o proprietário do veículo tem que ficar atento não só ao prazo limite da vistoria, mas com meses de antecedência!
Resumo da ópera bufa: estou trafegando com um carro que tem apenas 10 mil km rodados, e de forma ilegal, tudo porque o Detran tem que fazer uma vistoria estúpida e caça-níquel, e não consegue nem mesmo agendar tal vistoria no curto prazo. Se um guarda me parar, vai rebocar o carro novinho em folha, por culpa do Detran. Os serviços prestados pelo governo não são uma maravilha?
Liberdade com pão de queijo
Rodrigo Constantino
Impecável. Esta é a palavra que define o primeiro Fórum da Liberdade em Minas Gerais, organizado pelo Instituto de Estudos Empresariais (IEE). Há mais de duas décadas o IEE organiza o Fórum da Liberdade em Porto Alegre, evento que cresceu tanto a ponto de se tornar o maior fórum liberal da América Latina, quiçá do mundo! Inúmeras personalidades importantes já passaram pelo evento, que preza por sua pluralidade de idéias, sempre respeitando o contraditório (esquerdistas são invariavelmente convidados, ao contrário do que ocorre no Fórum Social Mundial, onde liberais jamais são chamados).
Desta vez o IEE abraçou o desafio de levar este incrível evento para Minas Gerais. E com que sucesso o instituto realizou esta tarefa! Foi o primeiro Fórum da Liberdade em BH, mas a criatura já nasceu grande. Mais de 500 pessoas compareceram ao evento, fora outros tantos que puderam acompanhar as palestras por transmissão via internet. A organização estava impecável, e as palestras foram excelentes. Foi, sem dúvida, um evento nota 10!
Os discursos da presidente do IEE capítulo BH, Sílvia Araújo, e do presidente do IEE Felipe Quintana foram diretos ao ponto, atacando o modelo político perverso que vigora no país, asfixiando a iniciativa privada de forma criminosa. Não pude deixar de notar que toda vez em que Felipe Quintana criticava algum absurdo do governo, ele olhava diretamente para Antônio Anastasia, o governador de Minas Gerais ali presente. Eis a cultura disseminada pelo IEE: falar o que deve ser dito com coragem. O discurso do governador mostrou que ele acusou o golpe. Anastasia, na defensiva, disse que o Estado não deve ser nem mínimo nem gigante, mas sim do tamanho "necessário". O diabo é que governantes sempre acham que o necessário é infinitamente maior do que o realmente necessário!
Roberto Civita, presidente do Grupo Abril, foi homenageado com o Prêmio Liberdade. E que homenagem merecida! A revista Veja tem sido um dos principais pilares na defesa da liberdade no país, com seu jornalismo investigativo que já derrubou ministros importantes envolvidos em escândalos de corrupção. Para medir o valor do trabalho em prol da liberdade da revista Veja, basta verificar a virulência com a qual os mais retrógrados dinossauros da esquerda carnívora atacam o veículo de comunicação. O discurso de Civita, como de praxe, foi excelente, com sua tradicional defesa do que chama de "indissolúvel interdependência" para a liberdade: livre iniciativa, liberdade de expressão e democracia.
No primeiro painel, sobre Liberdade e Prosperidade, Jorge Gerdau mostrou como os obstáculos criados pelo governo dificultam a vida dos empresários, que são quem cria riqueza e empregos no país. Ele se mostrou bastante preocupado com a dificuldade de sobrevivência do parque industrial construído com hercúleo esforço ao longo de décadas. As políticas do governo, especialmente sua gastança exagerada, impedem a queda mais acentuada dos juros, mantendo a taxa de câmbio extremamente valorizada e, com isso, prejudicando a indústria nacional.
Paulo Rabello de Castro fez uma palestra dinâmica em seguida, tocando em pontos importantes que são muitas vezes ignorados pelos liberais. Sua idéia é levar o capitalismo para o povo, sem medo de usar o termo "social". Paulo chamou de "estelionato eleitoral" a tentativa de resgatar a CPMF, uma vez que durante toda a campanha o tema não foi levantado, e sequer há algo do tipo no programa apresentado pela coligação que levou Dilma à vitória. Por excesso de pragmatismo, talvez, sua maior escorregada foi chamar Lula de um "grande homem". Nem aqui, nem na China!
O segundo painel, Para que serve o Estado?, foi muito interessante, a despeito do começo enfadonho. O primeiro palestrante foi um garoto de 23 anos, Felipe Salto, sem muita experiência em palestras. Ele cometeu o pecado dos pecados numa palestra: leu tudo do começo ao fim. Foi bastante cansativo. Mas logo em seguida o quadro mudou da água para o vinho, com a excelente palestra de Stefan Melnik sobre o liberalismo clássico e seus pilares. Locke e Kant foram usados para mostrar a importância de se limitar o escopo do governo, preservando assim a liberdade individual. Todo liberal, ao contrário de conservadores ou esquerdistas, desconfia do Estado, sempre. Eis o recado principal.
O ilustre Ives Gandra finalizou o painel, fazendo um discurso espetacular, levantando fortes aplausos quando disse que eram as autoridades políticas que deveriam nos chamar de "vossa excelência", e não o contrário. Afinal, somos nós os senhores, e eles os empregados. Infelizmente estamos muito longe desta cultura liberal, e Ives Gandra lembrou que na própria Constituição, o povo é tratado como "administrado", e não como cidadão livre. O jurista também destacou que o modelo de monarquia parlamentar tem tido mais sucesso no mundo com a estabilidade política do que modelos alternativos. Food for thought.
O último painel, o qual tive a honra de ser o mediador, falou sobre a reforma agrária. O primeiro palestrante foi o professor José Ambrósio, defensor da reforma agrária, mas que não defende o MST, movimento que teria se apropriado ilegitimamente deste "nobre fim". Em seguida falou o príncipe Dom Bertrand de Orleans e Bragança, que chamou os assentamentos do INCRA de "favelas rurais". Ele mostrou como é o agronegócio que garante a produtividade no campo.
Para fechar o painel, a senadora Kátia Abreu fez um ótimo discurso, mostrando o absurdo dos critérios arbitrários que o governo usa para desapropriar fazendeiros "improdutivos". Ela disse estar lendo Gramsci para conhecer melhor seus oponentes. Aproveitei para perguntá-la como podemos lutar, na prática, contra os invasores de terras, uma vez que o próprio presidente, que deveria ser o guardião da lei e da propriedade privada, toma café com um bandido feito Stédile, que deveria estar atrás das grades. A senadora disse confiar na Justiça, o último recurso daqueles que querem apenas preservar suas propriedades e produzir alimentos. Espero que possamos mesmo confiar na Justiça, pois se depender da presidente eleita, estamos perdidos: ela também veste literalmente o boné do MST, e Kátia Abreu lembrou da importância simbólica de se vestir um boné, significando apoio ao movimento criminoso.
A palestra especial de encerramento ficou por conta do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. À primeira vista, surge a dúvida de o que alguém como FHC está fazendo num evento liberal. Sou um crítico do governo FHC em diversos aspectos, e vejo como sintoma de nosso atraso o fato de que ele é "acusado" pela esquerda jurássica do país de "neoliberal". Mas devo reconhecer que foi uma agradável surpresa sua palestra. Tocou em pontos importantes, condenou o "personalismo caudilhesco" que tem predominado na América Latina, usou dois grandes pensadores, Tocqueville e Nabuco, para defender um modelo com mais liberdade, e chamou a atenção para o risco da ausência de uma oposição mais organizada. FHC criticou bastante a falta de debates no país, onde decisões são tomadas de forma totalmente centralizada e sem a devida discussão prévia. Os liberais podem não morrer de amores por FHC, e com razão. Mas uma coisa é inegável: quanta diferença entre ele e Lula!
Em resumo, fiquei muito feliz ao ver o sucesso do evento em Minas. O IEE e todos os envolvidos na organização do fórum estão de parabéns. Fica registrado aqui um parabéns especial ao empresário Salim Mattar, da Localiza, por sua energia e dedicação em prol da luta pela liberdade. Lamento apenas que o Fórum da Liberdade não ocorra no Rio de Janeiro também. Na verdade, deveria ter um fórum em cada capital!
Os liberais contam com os melhores argumentos teóricos, com toda a experiência empírica a seu favor, mas pecam pela falta de melhor organização e divulgação de suas idéias. O IEE vem fazendo um excelente trabalho neste sentido, mas ainda é pouco. Precisamos de mais institutos e fóruns debatendo os valores liberais país afora. Os brasileiros, muitas vezes mantidos na ignorância por falta de oportunidade, precisam conhecer melhor os pilares do liberalismo, doutrina responsável pelo progresso material e também espiritual das nações mais desenvolvidas.
Impecável. Esta é a palavra que define o primeiro Fórum da Liberdade em Minas Gerais, organizado pelo Instituto de Estudos Empresariais (IEE). Há mais de duas décadas o IEE organiza o Fórum da Liberdade em Porto Alegre, evento que cresceu tanto a ponto de se tornar o maior fórum liberal da América Latina, quiçá do mundo! Inúmeras personalidades importantes já passaram pelo evento, que preza por sua pluralidade de idéias, sempre respeitando o contraditório (esquerdistas são invariavelmente convidados, ao contrário do que ocorre no Fórum Social Mundial, onde liberais jamais são chamados).
Desta vez o IEE abraçou o desafio de levar este incrível evento para Minas Gerais. E com que sucesso o instituto realizou esta tarefa! Foi o primeiro Fórum da Liberdade em BH, mas a criatura já nasceu grande. Mais de 500 pessoas compareceram ao evento, fora outros tantos que puderam acompanhar as palestras por transmissão via internet. A organização estava impecável, e as palestras foram excelentes. Foi, sem dúvida, um evento nota 10!
Os discursos da presidente do IEE capítulo BH, Sílvia Araújo, e do presidente do IEE Felipe Quintana foram diretos ao ponto, atacando o modelo político perverso que vigora no país, asfixiando a iniciativa privada de forma criminosa. Não pude deixar de notar que toda vez em que Felipe Quintana criticava algum absurdo do governo, ele olhava diretamente para Antônio Anastasia, o governador de Minas Gerais ali presente. Eis a cultura disseminada pelo IEE: falar o que deve ser dito com coragem. O discurso do governador mostrou que ele acusou o golpe. Anastasia, na defensiva, disse que o Estado não deve ser nem mínimo nem gigante, mas sim do tamanho "necessário". O diabo é que governantes sempre acham que o necessário é infinitamente maior do que o realmente necessário!
Roberto Civita, presidente do Grupo Abril, foi homenageado com o Prêmio Liberdade. E que homenagem merecida! A revista Veja tem sido um dos principais pilares na defesa da liberdade no país, com seu jornalismo investigativo que já derrubou ministros importantes envolvidos em escândalos de corrupção. Para medir o valor do trabalho em prol da liberdade da revista Veja, basta verificar a virulência com a qual os mais retrógrados dinossauros da esquerda carnívora atacam o veículo de comunicação. O discurso de Civita, como de praxe, foi excelente, com sua tradicional defesa do que chama de "indissolúvel interdependência" para a liberdade: livre iniciativa, liberdade de expressão e democracia.
No primeiro painel, sobre Liberdade e Prosperidade, Jorge Gerdau mostrou como os obstáculos criados pelo governo dificultam a vida dos empresários, que são quem cria riqueza e empregos no país. Ele se mostrou bastante preocupado com a dificuldade de sobrevivência do parque industrial construído com hercúleo esforço ao longo de décadas. As políticas do governo, especialmente sua gastança exagerada, impedem a queda mais acentuada dos juros, mantendo a taxa de câmbio extremamente valorizada e, com isso, prejudicando a indústria nacional.
Paulo Rabello de Castro fez uma palestra dinâmica em seguida, tocando em pontos importantes que são muitas vezes ignorados pelos liberais. Sua idéia é levar o capitalismo para o povo, sem medo de usar o termo "social". Paulo chamou de "estelionato eleitoral" a tentativa de resgatar a CPMF, uma vez que durante toda a campanha o tema não foi levantado, e sequer há algo do tipo no programa apresentado pela coligação que levou Dilma à vitória. Por excesso de pragmatismo, talvez, sua maior escorregada foi chamar Lula de um "grande homem". Nem aqui, nem na China!
O segundo painel, Para que serve o Estado?, foi muito interessante, a despeito do começo enfadonho. O primeiro palestrante foi um garoto de 23 anos, Felipe Salto, sem muita experiência em palestras. Ele cometeu o pecado dos pecados numa palestra: leu tudo do começo ao fim. Foi bastante cansativo. Mas logo em seguida o quadro mudou da água para o vinho, com a excelente palestra de Stefan Melnik sobre o liberalismo clássico e seus pilares. Locke e Kant foram usados para mostrar a importância de se limitar o escopo do governo, preservando assim a liberdade individual. Todo liberal, ao contrário de conservadores ou esquerdistas, desconfia do Estado, sempre. Eis o recado principal.
O ilustre Ives Gandra finalizou o painel, fazendo um discurso espetacular, levantando fortes aplausos quando disse que eram as autoridades políticas que deveriam nos chamar de "vossa excelência", e não o contrário. Afinal, somos nós os senhores, e eles os empregados. Infelizmente estamos muito longe desta cultura liberal, e Ives Gandra lembrou que na própria Constituição, o povo é tratado como "administrado", e não como cidadão livre. O jurista também destacou que o modelo de monarquia parlamentar tem tido mais sucesso no mundo com a estabilidade política do que modelos alternativos. Food for thought.
O último painel, o qual tive a honra de ser o mediador, falou sobre a reforma agrária. O primeiro palestrante foi o professor José Ambrósio, defensor da reforma agrária, mas que não defende o MST, movimento que teria se apropriado ilegitimamente deste "nobre fim". Em seguida falou o príncipe Dom Bertrand de Orleans e Bragança, que chamou os assentamentos do INCRA de "favelas rurais". Ele mostrou como é o agronegócio que garante a produtividade no campo.
Para fechar o painel, a senadora Kátia Abreu fez um ótimo discurso, mostrando o absurdo dos critérios arbitrários que o governo usa para desapropriar fazendeiros "improdutivos". Ela disse estar lendo Gramsci para conhecer melhor seus oponentes. Aproveitei para perguntá-la como podemos lutar, na prática, contra os invasores de terras, uma vez que o próprio presidente, que deveria ser o guardião da lei e da propriedade privada, toma café com um bandido feito Stédile, que deveria estar atrás das grades. A senadora disse confiar na Justiça, o último recurso daqueles que querem apenas preservar suas propriedades e produzir alimentos. Espero que possamos mesmo confiar na Justiça, pois se depender da presidente eleita, estamos perdidos: ela também veste literalmente o boné do MST, e Kátia Abreu lembrou da importância simbólica de se vestir um boné, significando apoio ao movimento criminoso.
A palestra especial de encerramento ficou por conta do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. À primeira vista, surge a dúvida de o que alguém como FHC está fazendo num evento liberal. Sou um crítico do governo FHC em diversos aspectos, e vejo como sintoma de nosso atraso o fato de que ele é "acusado" pela esquerda jurássica do país de "neoliberal". Mas devo reconhecer que foi uma agradável surpresa sua palestra. Tocou em pontos importantes, condenou o "personalismo caudilhesco" que tem predominado na América Latina, usou dois grandes pensadores, Tocqueville e Nabuco, para defender um modelo com mais liberdade, e chamou a atenção para o risco da ausência de uma oposição mais organizada. FHC criticou bastante a falta de debates no país, onde decisões são tomadas de forma totalmente centralizada e sem a devida discussão prévia. Os liberais podem não morrer de amores por FHC, e com razão. Mas uma coisa é inegável: quanta diferença entre ele e Lula!
Em resumo, fiquei muito feliz ao ver o sucesso do evento em Minas. O IEE e todos os envolvidos na organização do fórum estão de parabéns. Fica registrado aqui um parabéns especial ao empresário Salim Mattar, da Localiza, por sua energia e dedicação em prol da luta pela liberdade. Lamento apenas que o Fórum da Liberdade não ocorra no Rio de Janeiro também. Na verdade, deveria ter um fórum em cada capital!
Os liberais contam com os melhores argumentos teóricos, com toda a experiência empírica a seu favor, mas pecam pela falta de melhor organização e divulgação de suas idéias. O IEE vem fazendo um excelente trabalho neste sentido, mas ainda é pouco. Precisamos de mais institutos e fóruns debatendo os valores liberais país afora. Os brasileiros, muitas vezes mantidos na ignorância por falta de oportunidade, precisam conhecer melhor os pilares do liberalismo, doutrina responsável pelo progresso material e também espiritual das nações mais desenvolvidas.
China insiste em erro milenar ao controlar preços
Rodrigo Constantino, no Valor Econômico
Aprendemos com a história que muitos não aprendem com a história. A repetição de certos erros chega a assustar. É o caso da China e sua recente tentativa de combater a inflação por meio do controle de preços ou punição aos especuladores.
Sobe o preço dos alimentos? Então o governo decide que estão proibidos novos aumentos, como se leis econômicas pudessem ser alteradas pela “caneta mágica” do Estado. Os brasileiros sabem muito bem que isso não funciona.
Quando um país se abre para o fluxo internacional de recursos, é impossível ele controlar tanto a inflação quanto o câmbio. Várias crises recentes aconteceram em países que tentaram isso. Queriam ter e comer o bolo ao mesmo tempo. No sistema de câmbio flutuante, os ajustes no fluxo de capital ocorrem através da taxa de câmbio. Com o câmbio fixo, entretanto, o governo não tem como controlar os juros e a inflação. Tentar fazer isto é como servir a dois mestres simultaneamente, e o resultado é a traição a ambos.
A economia chinesa vem crescendo a taxas elevadas, basicamente por conta de sua revolução industrial tardia, depois que o governo resolveu acordar para a globalização. Com farta mão-de-obra barata, a China se tornou a maquiladora mundial, exportando manufatura para o mundo todo e importando tanto commodities como capital. Com uma taxa de câmbio artificialmente desvalorizada, surgem vários desequilíbrios na economia global. Para piorar, o yuan é atrelado ao dólar, que perdeu valor frente a diversas moedas do mundo todo, graças à política expansionista do Fed.
O resultado acaba sendo mais pressão inflacionária na China. O caminho natural de equilíbrio seria uma forte apreciação do yuan, justamente o que o governo chinês tenta evitar faz tempo. Como a moeda chinesa não pode se valorizar, os preços começam a subir em moeda local. Para uma população ainda muito pobre, a alta dos preços de alimentos gera forte impacto negativo. O governo, preocupado com isso, resolve tentar controlar tais preços na marra. Algo como colocar o termômetro no gelo para acabar com a febre do doente.
Nada disso é novo. Trocam-se os personagens, mas a trama continua a mesma. Robert Schuettinger e Eamonn Butler escreveram um livro em 1979, chamado “Quarenta séculos de controles de preços e salários”. Pelo título, já fica claro como esta política é antiga. Tão velha quanto a Babilônia, para ser mais preciso. O Código de Hamurabi já impunha um rígido sistema de controles de salários e preços. Naturalmente, não funcionou.
Os autores resumem: “O registro histórico mostra uma seqüência sombriamente uniforme de repetidos fracassos. De fato, não existe um único episódio em que os controles dos preços tenham conseguido deter a inflação ou acabar com a escassez. Em vez de conter a inflação, os controles de preços acrescentam outras complicações à doença da inflação, como o mercado negro e a escassez, que refletem o desperdício e a má alocação de recursos provocada pelos mesmos controles”.
A razão para o fracasso é clara: os controles de preços não atacam a verdadeira causa da inflação, que é “o aumento dos meios de pagamento superior ao aumento da produtividade”. O governo chinês insiste no erro. Pretende evitar o aumento da inflação decretando controle de preços e prendendo especuladores, em vez de permitir a valorização de sua moeda, que seria o curso natural se o mercado fosse livre. Não se brinca impunemente com os preços de mercado, especialmente o câmbio.
Outro grave problema do controle de preços é que sabemos onde ele começa, mas nunca onde termina. O economista austríaco Mises descreveu a desagradável experiência alemã: “Nos seus esforços para fazer funcionar o sistema de controle de preços, as autoridades ampliaram passo a passo a gama de mercadorias sujeitas ao controle de preços. Um após o outro, os setores de economia passaram a ser centralizados, sendo colocados sob a administração de um comissário do governo”.
O controle de determinado preço gera conseqüências indesejáveis, e novos controles são demandados para atacar os novos problemas. Algo como aqueles desenhos animados antigos, em que o personagem tentava conter o vazamento de água tampando um buraco, mas logo apareciam inúmeros outros buracos, levando-o ao desespero.
Seria bem mais inteligente atacar a raiz do problema, a saber, o preço da moeda chinesa totalmente fora de seu lugar adequado. Mas será que o governo chinês fará a coisa certa, ou a mais fácil? Dependendo da escolha, o cenário global fica totalmente diferente para os investidores.
Aprendemos com a história que muitos não aprendem com a história. A repetição de certos erros chega a assustar. É o caso da China e sua recente tentativa de combater a inflação por meio do controle de preços ou punição aos especuladores.
Sobe o preço dos alimentos? Então o governo decide que estão proibidos novos aumentos, como se leis econômicas pudessem ser alteradas pela “caneta mágica” do Estado. Os brasileiros sabem muito bem que isso não funciona.
Quando um país se abre para o fluxo internacional de recursos, é impossível ele controlar tanto a inflação quanto o câmbio. Várias crises recentes aconteceram em países que tentaram isso. Queriam ter e comer o bolo ao mesmo tempo. No sistema de câmbio flutuante, os ajustes no fluxo de capital ocorrem através da taxa de câmbio. Com o câmbio fixo, entretanto, o governo não tem como controlar os juros e a inflação. Tentar fazer isto é como servir a dois mestres simultaneamente, e o resultado é a traição a ambos.
A economia chinesa vem crescendo a taxas elevadas, basicamente por conta de sua revolução industrial tardia, depois que o governo resolveu acordar para a globalização. Com farta mão-de-obra barata, a China se tornou a maquiladora mundial, exportando manufatura para o mundo todo e importando tanto commodities como capital. Com uma taxa de câmbio artificialmente desvalorizada, surgem vários desequilíbrios na economia global. Para piorar, o yuan é atrelado ao dólar, que perdeu valor frente a diversas moedas do mundo todo, graças à política expansionista do Fed.
O resultado acaba sendo mais pressão inflacionária na China. O caminho natural de equilíbrio seria uma forte apreciação do yuan, justamente o que o governo chinês tenta evitar faz tempo. Como a moeda chinesa não pode se valorizar, os preços começam a subir em moeda local. Para uma população ainda muito pobre, a alta dos preços de alimentos gera forte impacto negativo. O governo, preocupado com isso, resolve tentar controlar tais preços na marra. Algo como colocar o termômetro no gelo para acabar com a febre do doente.
Nada disso é novo. Trocam-se os personagens, mas a trama continua a mesma. Robert Schuettinger e Eamonn Butler escreveram um livro em 1979, chamado “Quarenta séculos de controles de preços e salários”. Pelo título, já fica claro como esta política é antiga. Tão velha quanto a Babilônia, para ser mais preciso. O Código de Hamurabi já impunha um rígido sistema de controles de salários e preços. Naturalmente, não funcionou.
Os autores resumem: “O registro histórico mostra uma seqüência sombriamente uniforme de repetidos fracassos. De fato, não existe um único episódio em que os controles dos preços tenham conseguido deter a inflação ou acabar com a escassez. Em vez de conter a inflação, os controles de preços acrescentam outras complicações à doença da inflação, como o mercado negro e a escassez, que refletem o desperdício e a má alocação de recursos provocada pelos mesmos controles”.
A razão para o fracasso é clara: os controles de preços não atacam a verdadeira causa da inflação, que é “o aumento dos meios de pagamento superior ao aumento da produtividade”. O governo chinês insiste no erro. Pretende evitar o aumento da inflação decretando controle de preços e prendendo especuladores, em vez de permitir a valorização de sua moeda, que seria o curso natural se o mercado fosse livre. Não se brinca impunemente com os preços de mercado, especialmente o câmbio.
Outro grave problema do controle de preços é que sabemos onde ele começa, mas nunca onde termina. O economista austríaco Mises descreveu a desagradável experiência alemã: “Nos seus esforços para fazer funcionar o sistema de controle de preços, as autoridades ampliaram passo a passo a gama de mercadorias sujeitas ao controle de preços. Um após o outro, os setores de economia passaram a ser centralizados, sendo colocados sob a administração de um comissário do governo”.
O controle de determinado preço gera conseqüências indesejáveis, e novos controles são demandados para atacar os novos problemas. Algo como aqueles desenhos animados antigos, em que o personagem tentava conter o vazamento de água tampando um buraco, mas logo apareciam inúmeros outros buracos, levando-o ao desespero.
Seria bem mais inteligente atacar a raiz do problema, a saber, o preço da moeda chinesa totalmente fora de seu lugar adequado. Mas será que o governo chinês fará a coisa certa, ou a mais fácil? Dependendo da escolha, o cenário global fica totalmente diferente para os investidores.
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