Idéias de um livre pensador sem medo da polêmica ou da patrulha dos "politicamente corretos".
terça-feira, agosto 31, 2010
O país de Eike Batista
Rodrigo Constantino, para o Instituto Liberal
O Rodaviva desta segunda-feira recebeu o empresário Eike Batista. Sob o comando de Marília Gabriela, os entrevistadores fizeram boas perguntas, e não aliviaram o entrevistado, que se saiu muito bem. Não dá para negar: o “cara” é bom! Se você começa o programa desconfiando que Eike possa ser um “testa de ferro” dos poderosos do PT, você acaba convencido de que ele tem mesmo o toque de Midas. Eike faz e acontece.
Não obstante, alguma coisa ainda não fecha. O país que Eike descreve não se parece nada com aquele que eu vivo. No país de Eike, a legislação para os empresários é excelente, e o governo não se mete nos negócios privados. Que país é esse? Não pode ser o Brasil, o mesmo Brasil onde a tutela estatal é gigantesca e todos os empresários são reféns do governo. Legislação boa? Na verdade, Eike arrisca dizer: a melhor do mundo em sua área de atuação! É verdade que ele compara com Rússia, Índia ou China. Mas a melhor do mundo? Definitivamente estamos falando de outro país.
Os entrevistadores gostaram da entrevista, que de fato foi boa, e lamentaram apenas a questão do relacionamento de Eike com o Planalto, que não ficou clara o bastante. O empresário se esquivou bem, mas faltou endereçar o xis (do jeito que Eike gosta) da questão: por que existem certas coisas que somente ele consegue aprovar neste país? Qualquer outro que tentar construir um porto privado no Brasil vai dar com o burro n’água, para citar um exemplo. Mas Eike dá seu jeito, e seus projetos acabam aprovados em tempo recorde. Mérito dele?
Eike foi só elogio aos governos FHC e Lula. Ele reconheceu que os pilares sólidos foram construídos por FHC, e que o grande mérito de Lula foi não mexer nessas conquistas macro. Reconheço que ele tem um ponto, mas exagera demais na dose. Ainda falta muita mudança por aqui. Mas entendo que Carlos Slim, o homem mais rico do mundo, também deve elogiar bastante seu governo mexicano. Só não sei se os próprios mexicanos estão tão contentes assim com o modelo vigente.
Por fim, gostaria apenas de constatar uma coisa: por mais rico que seja um indivíduo, é lamentável que ele não tenha liberdade para dizer o que pensa. Eike, que teve seus ativos confiscados pelo populista Evo Morales na Bolívia, ainda precisa elogiar o camarada “bolivariano” de Lula. Tem certas coisas que o dinheiro não pode comprar...
segunda-feira, agosto 30, 2010
A Liberdade segundo Mises
Rodrigo Constantino
“O governo é o garantidor da liberdade e é compatível com a liberdade somente se seu alcance for adequadamente restrito à preservação do que é chamado de liberdade econômica.” (Mises)
Em sua obra-prima Ação Humana, o economista austríaco Ludwig von Mises define seu conceito de liberdade, assim como as funções adequadas para o governo numa sociedade livre. Mises foi um dos grandes defensores do livre mercado, argumentando sempre com base nos resultados deste modelo. A civilização conseguiu sair da barbárie e atingir razoável grau de prosperidade graças ao sistema capitalista, com base na propriedade privada e divisão de trabalho. Preservar estes pilares foi o grande objetivo de Mises.
Para ele, o conceito de liberdade faz sentido somente quando falamos de relações inter-humanas. A liberdade “natural” de um Robinson Crusoé isolado na ilha não fazia muito sentido para Mises, pois tal “liberdade” duraria apenas até ele encontrar um concorrente mais forte em seu caminho. Na fria biologia, o mais forte está com a razão. Neste sentido, Mises pensava que o homem primitivo não nasceu livre. Sua liberdade teve que ser conquistada.
O homem é livre, segundo Mises, quando ele pode escolher os fins e os meios que serão usados para atingir tais fins. Entretanto, para preservar esta própria liberdade, os indivíduos devem estar protegidos contra a tirania dos mais fortes ou espertos. Uma instituição é necessária para evitar os comportamentos antissociais de alguns elementos. A paz só seria alcançada pelo estabelecimento de um sistema no qual o poder de usar a violência fosse monopolizado por um aparato social de coerção, regulado por determinadas regras. Este aparato é normalmente chamado de governo.
Desde que o governo fique restrito ao uso da violência ou ameaça de violência para a supressão e prevenção de ações antissociais, então prevalece razoavelmente o que podemos chamar de liberdade. O poder de escolha dos indivíduos continua valendo. E mesmo sem um governo impondo as leis, o indivíduo não poderia ter ao mesmo tempo as vantagens derivadas da cooperação social e os prazeres de exercer livremente seus instintos animais de agressão. Não é possível ter e comer o bolo ao mesmo tempo. Usufruir da paz e dos incríveis benefícios da sociedade livre pressupõe abrir mão de certos prazeres. O benefício compensa, e muito!
Mas, se o governo faz mais do que proteger as pessoas contra a violência ou a fraude por parte de indivíduos antissociais, ele reduz a esfera da liberdade individual. Desta forma, Mises define a liberdade como o estado em que cada indivíduo é livre para escolher, sem a restrição da violência do governo além da margem em que a lei da praxeologia restringiria de qualquer maneira. Os indivíduos são livres quando podem praticar suas trocas voluntárias, contando com o aparato do governo somente para impedir a agressão alheia.
Mises acreditava que o alistamento obrigatório e a arrecadação de impostos não eram incompatíveis com esta visão de liberdade. Em um mundo repleto de agressores em potencial, o pacifismo integral e incondicional seria sinônimo da rendição aos opressores mais nefastos. Aqueles que desejam continuar livres devem estar dispostos a lutar pela liberdade contra os agressores. Mas, como as tentativas isoladas de reação por parte de cada indivíduo estariam fadadas ao fracasso, a única forma viável de organizar a resistência, para Mises, seria por meio do governo. A função essencial do governo é a defesa do sistema social livre contra criminosos internos e também inimigos externos. Mises achava que os opositores desta função do governo eram ingênuos e, sem saber, estavam ajudando aqueles que desejam a escravidão de todos.
Para manter o aparato governamental, com cortes, polícia, prisões e forças armadas, Mises considerava inevitável e legítimo o uso dos impostos. Segundo ele, isso não seria incompatível com uma sociedade livre. Mas, caso o governo fosse além desta função, expandindo seu poder ad libitum, então a economia de mercado seria abolida e substituída pelo totalitarismo socialista. Para prevenir este risco, torna-se necessário limitar o poder do governo. É para esta finalidade que temos as constituições, as leis, os direitos dos cidadãos. E esse é o significado de todas as lutas que os homens têm realizado pela liberdade. Vigiar o vigia é fundamental para preservar a liberdade.
Porém, nenhum desses mecanismos é realmente eficiente sem o arcabouço da opinião pública por trás. Mises depositava enorme importância no poder das idéias. E sabia que os inimigos da liberdade também, tanto que sempre buscaram reverter o sentido das palavras como tática para confundir. Reconhecendo o valor que o Ocidente dá ao conceito de liberdade, os advogados do totalitarismo deturparam seu sentido. A liberdade de imprensa, por exemplo, passa a ser a liberdade do governo decidir o que deve ou não ser publicado, o que é o oposto da verdadeira liberdade. Já a liberdade individual seria a oportunidade de fazer as coisas “certas”, sendo que estas coisas seriam definidas, naturalmente, por aqueles autoritários que se arrogam o direito de dizer o que é certo para os outros.
Em suma, a onipotência do governo seria a liberdade para estas pessoas. E para Mises, seria inútil rebater a estas táticas com o argumento de direito “natural” de propriedade, se as outras pessoas considerarem como “natural” o direito a uma renda igualitária, por exemplo. Tais disputas, segundo Mises, não podem ser resolvidas de forma simples. Ele sempre preferiu o argumento utilitarista, mostrando quais resultados certas ações humanas implicam, sem fazer julgamento de valor. O que ele fez, com maestria, foi demonstrar que o socialismo levaria ao término do progresso da civilização, ou, melhor dizendo, dela mesma!
domingo, agosto 29, 2010
Os Incorruptíveis no Divã
Rodrigo Constantino
“A liberdade de pensamento termina ali onde começa o dogma.” (Goerge Orwell)
Poucos representam maior ameaça às liberdades do que aqueles imbuídos de uma crença fanática em sua própria pureza e missão. Muito sangue inocente já foi derramado em nome dos ideais pregados por este tipo de gente, e devemos estar sempre alertas para seu perigo. É o que explica Marie-Laure Susini em Elogio da Corrupção, livro em que figuras como Robespierre e Paulo de Tarso vão parar no divã da autora, que é psicanalista.
Susini aceita o papel de advogada do diabo: “Afirmo que os incorruptíveis é que são perigosos. Os íntegros inquisidores e rigorosos purificadores, os virtuosos líderes de loucuras coletivas, os apóstolos da salubridade, os organizadores de campanhas de saneamento e massacres, os erradicadores do mal, os assassinos por dever”. A ideologia da pureza, enfim, deixou um rastro de destruição na História, e mais estrago foi causado por aqueles que lutavam em nome deste ideal do que por qualquer corrupto.
O livro começa com uma análise de 1984, principal obra de Goerge Orwell. Para ele, a ideologia, o ideal de regeneração é que corrompe o homem. Segundo a interpretação da autora, “arruinar a ignorância e a preguiça intelectual, as muralhas do pensamento convencional, as confortáveis e ilusórias certezas imaginárias foi o sentido do combate de Orwell ao longo da vida”. O novo homem, livre das imperfeições, sem as fraquezas humanas, eis o ideal que deve sempre ser combatido.
“Dizer não, recusar a imortalidade coletiva da virtude”, seria este o grande achado de Orwell. Entre a imortalidade do Partido ou sua mortalidade como humano imperfeito, o personagem principal de Orwell escolhe permanecer humano. Seu inquisidor, sob o uso da tortura, vai tentar extrair de seu corpo o “rastro de um gozo singular para aniquilá-lo”. Somente esta “confissão” pode apaziguar a fantasia de imortalidade do inquisidor. Todos os corruptos devem ser eliminados.
Susini vai ao cerne da questão quando diz: “Lutemos pela liberdade do segredo, do íntimo, para conservar em si uma parte estranha ao social”. Alerta fundamental na era do Big Brother, das redes sociais, da falta de privacidade e da ditadura do politicamente correto. A novilíngua orwelliana virou regra em nossos dias. A autora dá um excelente exemplo: “Afirmar que ‘a liberdade é segurança’ esvazia a palavra liberdade do próprio objeto do desejo de ser livre, da paixão da liberdade pela qual os homens se erguem e lutam, ao preço da vida. A liberdade é exatamente o contrário da segurança. Escolher morrer livre teve um sentido”.
O livro, que bate nos salvadores religiosos e ideológicos, não alivia também alguns cientistas modernos. Ela ataca essas “repugnantes ideologiazinhas vestidas de blusa branca que querem não só se apossar de nossa alma, mas nos chamar à ordem: o homem é neuronal, breve encontrarão nele o centro cerebral da moral”. Susini lembra que “não há ética sem uma reflexão íntima sobre a culpa subjetiva, sem uma interrogação íntima sobre o que são o bem e o mal”. A padronização dos seres humanos, vistos como cães de Pavlov, representa um enorme risco às liberdades individuais.
A corrupção defendida no livro é aquela consciência de que somos mortais, imperfeitos, castrados, fadados à destruição final por decomposição. O remédio encontrado contra esta inexorável realidade foi a criação da imortalidade humana. Foi forjada então a idéia de incorruptibilidade. Logo surgem os corruptores, aqueles que desvirtuam o homem de sua perfeição. As mulheres, responsáveis pelas maiores paixões dos homens, são candidatas evidentes ao papel de corruptoras. A tentadora Eva não foi quem convenceu Adão a experimentar o fruto proibido? A caça às bruxas da Inquisição foi um caso típico de fanáticos “puros” lutando para limpar a humanidade de sua corrupção.
A eternidade, a perfeição será sempre imaginária, enquanto o real será sempre corrupto, finito. O homem, sonhando com a imortalidade imaginária, irá considerar corrupto tudo aquilo que representa um obstáculo a este ideal. O sacrifício destes corruptos parecerá um preço pequeno a se pagar em nome de uma salvação coletiva eterna. Para criar o paraíso terrestre de justiça, o que são algumas cabeças enforcadas pelo Terror de Robespierre? A Revolução Francesa tinha um tom messiânico: ela iria moldar o novo homem, devolvê-los sua “virtude primária”, salvá-los da corrupção. E seu líder era ninguém menos que o Incorruptível. Quem vai ligar para algumas mortes quando a pureza de Robespierre está por trás das ordens? Não podem ser inocentes, pois o próprio líder é o povo, e o povo não pode estar errado; a vontade geral é a vontade de Deus!
Os capítulos finais do livro colocam num divã duas figuras importantes para os católicos: Thomas More e Paulo de Tarso. Sobre o primeiro, Susini resume: “A utopia, o projeto de uma sociedade da inocência, foi o sonho de um violento rebelde que queria ser santo”. Em Utopia, os homens estariam livres da falta, protegidos do ócio e da preguiça, da avareza e da cupidez, do orgulho e da vaidade, da depravação e da luxúria; enfim, livres dos vícios que corrompem as nações. Utopia estaria intacta, em sua “perfeição de origem”. Enquanto sonhava com este mundo perfeito, o chanceler More mandava condenar à fogueira seis adeptos de Lutero. Para extirpar o diabo do coração dos homens, é preciso agir!
Por fim, o grande nome da Igreja Católica é analisado sob a lupa da psicanálise, não deixando pedra sobre pedra. A transformação do judeu perseguidor de nazarenos em principal construtor da Igreja de Cristo é explicada com base nas teorias freudianas. A voz que ecoou na cabeça de Saulo a caminho de Damasco, “por que me persegues?”, era a voz de seu próprio interior, de seu inconsciente. Paulo é perseguidor, mas também perseguido. “Como justificar a fascinação secreta e o perturbador prazer que se tem de apedrejar um homem? A voz lhe revelou o mal”. E o mal estava nele.
Saulo virava Paulo, o escolhido, o eleito: “O homem antigo, prisioneiro de sua decadência, escravo de sua corrupção e – infelizmente! – mortal, cedia a uma criação nova, ao homem novo concebido e inventado por Paulo. Ao homem incorruptível! Nada menos!” E os novos perseguidos seriam, em primeiro lugar, os próprios cristãos; os corruptos, claro.
Como o universo dos incorruptíveis é imaginário e, portanto, nulo, conclui-se que o universo dos corruptos abrange a totalidade dos homens. Exceto, naturalmente, os Incorruptíveis, ou aqueles que nisso acreditam. Esses são as verdadeiras ameaças!
sexta-feira, agosto 27, 2010
Verde e Vermelho
Rodrigo Constantino, para o Instituto Liberal
Líder do Maio de 68, Daniel Cohn-Bendit veio ao Brasil apoiar o Partido Verde. Em entrevista ao Globo, aproveitou para atacar o presidente Lula: “[...] a cumplicidade de Lula com Ahmadinejad, Fidel ou Chávez é um problema, porque mostra que não tem sensibilidade sobre o problema do totalitarismo e o tema da democracia”. E ainda acrescentou: “Comparar presos políticos a traficantes é uma coisa de doente”. Ponto para o verde. A imagem de Lula perante a esquerda européia está bastante arranhada.
Daniel condena o simplismo do debate político europeu: “Na França, se você é de esquerda, defende a aposentadoria aos 60; se é de direita acha que deve ser aos 62”. De fato, o debate político – não só na Europa – tem sido dominado por variações bobas dentro do mesmo discurso. O curioso é que o próprio Daniel defende, como medida alternativa, outro paliativo boboca: “Podemos, por exemplo, começar a diminuir a jornada de trabalho a partir dos 55 anos”. Que tal alguém propor uma reforma estrutural que vá ao cerne da questão do rombo previdenciário? Cada um deve poupar em contas individuais para seu próprio futuro! Isso, nem verde, nem vermelho defende.
A aliança entre socialistas e verdes é defendida por Daniel. O líder da revolução socialista do passado aderiu ao movimento verde atual, mas ainda deseja caminhar de mãos dadas com seus antigos camaradas. Isso apenas mostra como o movimento verde acabou sendo um refúgio para socialistas órfãos após a queda do Muro. Talvez com um tom mais suave, e rejeitando os excessos antidemocráticos dos colegas, mas ainda muito parecidos. Tão parecidos que me sinto um daltônico tentando diferenciar os verdes dos vermelhos. Talvez sejam como melancias: verdes por fora, mas vermelhos por dentro.
quinta-feira, agosto 26, 2010
O Sonho Americano
Rodrigo Constantino
“O estado é a grande ficção através da qual todo mundo tenta viver à custa de todo mundo.” (Bastiat)
Era uma vez um país, terra da liberdade, em que pessoas migravam em busca de oportunidade de trabalho ou para fugir da opressão de seus governos. Foi-se o tempo em que a América representava este refúgio aos indivíduos de valor. Onde foi parar o antigo sonho americano? O “império” está em decadência, e a economia é apenas um reflexo do declínio cultural e moral. Os Estados Unidos cada vez mais se parecem com os países decadentes europeus, onde o coletivismo sepultou o conceito de meritocracia.
O sonho americano não é uma utopia, ao contrário do igualitarismo que muitos buscam mundo afora. Tampouco representa um simples materialismo mesquinho, como seus detratores tentam acusar. A imagem de ganhos fáceis e rápidos, sem esforço, não é condizente com o sonho americano original. Assim como o “socialismo dos ricos”, ou o “capitalismo de compadres”, em que “amigos do rei” se beneficiam à custa dos pagadores de impostos, não guarda similaridade alguma com este sonho. Estes são sintomas justamente de sua morte lenta e gradual.
Quem capturou a essência do sonho americano, tendo inclusive cunhado o termo, foi o historiador James Truslow Adams, que escreveu em 1931 “The Epic of America”. No livro, ele descreve o que entendia por este sonho. Numa tradução livre:
“... o Sonho Americano, aquele sonho de uma terra em que a vida deve ser melhor e mais rica e mais plena para todos os homens, com oportunidade para cada um segundo sua capacidade ou realização. É um sonho difícil para as classes superiores européias interpretarem adequadamente, e muitos de nós mesmos temos desconfiado dele. Não é um sonho de automóveis e altos salários apenas, mas um sonho de uma ordem social em que cada homem e cada mulher devem ser capazes de atingir a maior estatura da qual eles são naturalmente capazes, e serem reconhecidos pelos outros pelo que eles são, independentemente das circunstâncias fortuitas de nascimento ou posição.”
Que belo sonho! O sobrenome de família passa a ser insignificante para determinar o sucesso individual, frente ao mérito de cada um. Os privilégios concedidos pelo governo desaparecem, e as conquistas dependem das trocas voluntárias no livre mercado. Há ampla mobilidade social, e nada impede que uma pessoa humilde possa chegar ao topo. Os valores culturais mais respeitados são individualismo, meritocracia e tolerância. O otimismo faz parte deste sonho, na convicção de que seus filhos viverão num país melhor que o seu, uma conseqüência do progresso constante, que por sua vez depende do esforço individual, da poupança, dos investimentos produtivos. O trabalho não é exploração, e o lucro é o resultado justo do empreendimento bem-sucedido.
Quanta diferença para a realidade atual! Os americanos dependem cada vez mais do governo. Em vez de lutar pelo direito de propriedade privada, querem mais e mais “direitos” estatais. Em vez de defender o livre mercado, querem mais tutela estatal. Trabalhar duro, poupar e aos poucos conquistar os objetos de desejo, como a casa própria, cedeu lugar aos “NINJA loans” (No Income, No Job, No Asset). O sujeito não tem nada, nem emprego, nem poupança, mas pretende ter a casa própria por meio de crédito facilitado, com o aval e incentivo do próprio governo. É a morte da formiga responsável, e o nascimento da cigarra frívola. Vamos todos viver de forma “digna”, e a conta se pendura na “viúva”. Nossos filhos não vão herdar um país melhor, resultado de nosso trabalho e poupança; eles vão herdar a fatura de nossa irresponsabilidade! Carpe diem!!!
O verdadeiro sonho americano é viver numa terra livre com oportunidades para quem deseja trabalhar duro ou para quem tem talentos diferenciados; não é o sonho de garantias governamentais para ter casa própria, emprego e uma “vida digna”. Pelo bem dos americanos e de todos aqueles que sonham este sonho, espero que certos valores ainda possam ser resgatados na terra do Tio Sam. Antes que seja tarde demais.
Big Brother
Rodrigo Constantino, para o Instituto Liberal
Em “1984”, George Orwell diz que a nova aristocracia que tomaria o poder seria composta, na sua maioria, de burocratas, cientistas, técnicos, organizadores sindicais, peritos em publicidade, sociólogos, professores, jornalistas e políticos profissionais. Esta gente, cuja origem estava na classe média assalariada e nos escalões superiores da classe operária, fora moldada pelo mundo do governo centralizado, onde a liberdade individual precisa ser combatida.
Como o próprio autor diz sobre esta nova classe, “comparada com os seus antecessores, era menos avarenta, menos tentada pelo luxo, mais faminta de poder puro e, acima de tudo, mais consciente do que fazia e mais decidida a esmagar a oposição”. A oligarquia procura o poder pelo poder, sem interesse real no bem-estar alheio. Não é a ditadura um meio para a “revolução”, mas sim a revolução um meio para se chegar à ditadura!
Parece que o Brasil lulopetista se aproxima cada vez mais desta triste realidade. Com a economia em crescimento por conta de fatores externos e do crédito insustentável, o povo hipnotizado pelo carisma do presidente e anestesiado pelo aumento da renda e do consumo, os grandes empresários comprados pelos bilhões do BNDES, a classe média feliz com o câmbio valorizado facilitando viagens para Miami, e os mais pobres dependendo das esmolas estatais, eis que a maioria simplesmente ignora os abusos cada vez maiores da máquina estatal.
Os sindicalistas petistas se apoderaram do Estado, a Receita Federal virou um braço de espionagem de um partido, mas quase ninguém liga. Afinal de contas, a Casas Bahia vende uma TV (teletela?) novinha de LCD em até 24 vezes, “sem juros”! Enquanto isso, o Big Brother vai transformando todos em reféns do governo.
quarta-feira, agosto 25, 2010
terça-feira, agosto 24, 2010
A morte do federalismo
Rodrigo Constantino, O GLOBO
O poder corrompe. Cada indivíduo costuma se preocupar mais com seus interesses do que com aqueles distantes. A soma do conhecimento dos indivíduos não existe em lugar algum como um todo integrado. Para lidar com o risco de corrupção proveniente da concentração de poder, com o individualismo natural dos homens, e com a dispersão do conhecimento na sociedade, o modelo federalista parece ser a melhor alternativa.
O grande pilar do federalismo é o conceito de subsidiariedade: a idéia de que a autonomia individual é fundamental. O governo central deve assumir apenas as competências necessárias que as entidades mais próximas dos indivíduos não conseguem executar. Muitas atividades do governo não requerem necessariamente uma política nacional. A própria comunidade local sabe melhor dos seus problemas e demandas, sem falar que a ação individual vale muito mais quando o escopo é restrito.
Basta pensar no grau de influência que um indivíduo exerce nas coisas públicas de sua pequena comunidade, frente à total irrelevância de um voto entre 130 milhões para eleger o presidente do país. No berço da democracia, na Atenas de Péricles, alguns milhares de indivíduos debatiam na Ágora poucas questões comuns a todos. Atualmente, temos inúmeras questões muito mais complexas delegadas ao governo central, que exerce poder crescente no cotidiano de dezenas de milhões de pessoas.
Uma grande vantagem do federalismo é a diversidade de opções, fruto da concorrência entre estados para atrair pessoas e investimentos. Quanto mais concorrência, melhor para os habitantes e consumidores de serviços públicos, assim como ocorre no setor privado. Infelizmente, muitos chamam esta concorrência de “guerra fiscal”, como se a busca por melhores serviços com um custo tributário menor fosse prejudicial. No federalismo, os residentes podem “votar com os pés” caso seus governos locais abusem do poder, dos impostos ou da incompetência nos serviços. A prova de que esta pressão funciona é a necessidade de regimes fracassados como os socialistas erguerem muros para impedir a saída do próprio povo.
Os exemplos mais famosos de federalismo são Suíça, Estados Unidos e Canadá. Na Suíça, os cantões preservam bastante independência, escolhendo em plebiscitos locais diversos assuntos que nem chegam ao governo central. Este arrecada menos da metade do total de receitas tributárias da nação, comparado a mais de dois terços no caso brasileiro, onde os estados acabam reféns de Brasília. Pior mesmo só a Nigéria ou a Venezuela, onde o governo central arrecada praticamente a totalidade dos impostos do país.
Outro ponto importante é a limitação do poder Executivo. Todos conhecem os presidentes da França, da Itália e da Alemanha, mas ninguém saberia dizer o nome do presidente suíço. Na verdade, a Suíça tem um Executivo composto por sete membros e eleito pelo Parlamento. Isso reduz o risco de culto à personalidade, de abuso do poder pelo “messias salvador”, o “pai do povo”. Já o presidente brasileiro concentra poderes incríveis, e ainda abusa da prerrogativa de governar por “medidas provisórias”, que fariam qualquer general do regime militar morrer de inveja.
Quando se trata da representatividade das respectivas unidades constitutivas na federação, verifica-se que nosso federalismo inexiste na prática. A distorção maior é em prol do Norte e do Nordeste, contra o Sul e o Sudeste. Juntos, Norte e Nordeste possuem 36% da população, produzem 18% do PIB, mas apontam 48 dos 81 senadores, enquanto Sul e Sudeste, com 57% da população e 73% do PIB, indicam somente 21 senadores. Quem paga a conta não exerce o poder.
A mesma distorção existe na Câmara, já que há um limite para o número de representantes de São Paulo, assim como um número mínimo de oito deputados garantido aos estados menores com poucos eleitores. Desta forma, Norte e Nordeste elegem 216 dos 513 deputados, contra apenas 256 do Sul e Sudeste. Tocantins possui um deputado para cada 160 mil habitantes, contra um deputado para cada 585 mil paulistas. E ainda querem criar novos estados no Norte!
O caso do pré-sal é sintomático, mostrando o fracasso do nosso “federalismo”. O Sudeste pode ser obrigado a sustentar com sua produção de petróleo os caudilhos nordestinos e os corruptos em Brasília. Com tantos abusos, corre-se o risco de movimentos separatistas ganharem força com o tempo. Ou, quem sabe, no tradicional “jeitinho” brasileiro, os habitantes do Sul e Sudeste não resolvem criar uma dezena de estados novos para equilibrar as forças políticas?
O poder corrompe. Cada indivíduo costuma se preocupar mais com seus interesses do que com aqueles distantes. A soma do conhecimento dos indivíduos não existe em lugar algum como um todo integrado. Para lidar com o risco de corrupção proveniente da concentração de poder, com o individualismo natural dos homens, e com a dispersão do conhecimento na sociedade, o modelo federalista parece ser a melhor alternativa.
O grande pilar do federalismo é o conceito de subsidiariedade: a idéia de que a autonomia individual é fundamental. O governo central deve assumir apenas as competências necessárias que as entidades mais próximas dos indivíduos não conseguem executar. Muitas atividades do governo não requerem necessariamente uma política nacional. A própria comunidade local sabe melhor dos seus problemas e demandas, sem falar que a ação individual vale muito mais quando o escopo é restrito.
Basta pensar no grau de influência que um indivíduo exerce nas coisas públicas de sua pequena comunidade, frente à total irrelevância de um voto entre 130 milhões para eleger o presidente do país. No berço da democracia, na Atenas de Péricles, alguns milhares de indivíduos debatiam na Ágora poucas questões comuns a todos. Atualmente, temos inúmeras questões muito mais complexas delegadas ao governo central, que exerce poder crescente no cotidiano de dezenas de milhões de pessoas.
Uma grande vantagem do federalismo é a diversidade de opções, fruto da concorrência entre estados para atrair pessoas e investimentos. Quanto mais concorrência, melhor para os habitantes e consumidores de serviços públicos, assim como ocorre no setor privado. Infelizmente, muitos chamam esta concorrência de “guerra fiscal”, como se a busca por melhores serviços com um custo tributário menor fosse prejudicial. No federalismo, os residentes podem “votar com os pés” caso seus governos locais abusem do poder, dos impostos ou da incompetência nos serviços. A prova de que esta pressão funciona é a necessidade de regimes fracassados como os socialistas erguerem muros para impedir a saída do próprio povo.
Os exemplos mais famosos de federalismo são Suíça, Estados Unidos e Canadá. Na Suíça, os cantões preservam bastante independência, escolhendo em plebiscitos locais diversos assuntos que nem chegam ao governo central. Este arrecada menos da metade do total de receitas tributárias da nação, comparado a mais de dois terços no caso brasileiro, onde os estados acabam reféns de Brasília. Pior mesmo só a Nigéria ou a Venezuela, onde o governo central arrecada praticamente a totalidade dos impostos do país.
Outro ponto importante é a limitação do poder Executivo. Todos conhecem os presidentes da França, da Itália e da Alemanha, mas ninguém saberia dizer o nome do presidente suíço. Na verdade, a Suíça tem um Executivo composto por sete membros e eleito pelo Parlamento. Isso reduz o risco de culto à personalidade, de abuso do poder pelo “messias salvador”, o “pai do povo”. Já o presidente brasileiro concentra poderes incríveis, e ainda abusa da prerrogativa de governar por “medidas provisórias”, que fariam qualquer general do regime militar morrer de inveja.
Quando se trata da representatividade das respectivas unidades constitutivas na federação, verifica-se que nosso federalismo inexiste na prática. A distorção maior é em prol do Norte e do Nordeste, contra o Sul e o Sudeste. Juntos, Norte e Nordeste possuem 36% da população, produzem 18% do PIB, mas apontam 48 dos 81 senadores, enquanto Sul e Sudeste, com 57% da população e 73% do PIB, indicam somente 21 senadores. Quem paga a conta não exerce o poder.
A mesma distorção existe na Câmara, já que há um limite para o número de representantes de São Paulo, assim como um número mínimo de oito deputados garantido aos estados menores com poucos eleitores. Desta forma, Norte e Nordeste elegem 216 dos 513 deputados, contra apenas 256 do Sul e Sudeste. Tocantins possui um deputado para cada 160 mil habitantes, contra um deputado para cada 585 mil paulistas. E ainda querem criar novos estados no Norte!
O caso do pré-sal é sintomático, mostrando o fracasso do nosso “federalismo”. O Sudeste pode ser obrigado a sustentar com sua produção de petróleo os caudilhos nordestinos e os corruptos em Brasília. Com tantos abusos, corre-se o risco de movimentos separatistas ganharem força com o tempo. Ou, quem sabe, no tradicional “jeitinho” brasileiro, os habitantes do Sul e Sudeste não resolvem criar uma dezena de estados novos para equilibrar as forças políticas?
Piada de mau gosto
Rodrigo Constantino, para o Instituto Liberal
Centenas de pessoas fizeram uma passeata domingo na praia de Copacabana contra a limitação imposta pela lei eleitoral que proíbe sátiras a candidatos durante a campanha. A lei, de 1997, proíbe que "emissoras de rádio e TV usem trucagem, montagem ou outro recurso de áudio ou vídeo que, de qualquer forma, degradem ou ridicularizem candidato, partido ou coligação". Como se os políticos precisassem do auxílio dos humoristas para serem ridicularizados!
Sempre encarei o trabalho dos humoristas no Brasil de forma ambígua: se por um lado há farta matéria-prima, por outro lado a concorrência é desleal, uma vez que Brasília já é um grande circo. Esse é o país da piada pronta. Mas isso não vem ao caso. O importante é que a censura ao humor, mesmo do tipo mais esculachado possível, denota um autoritarismo absurdo. Não é coincidência que os revolucionários comunistas nunca tenham demonstrado aptidão ao riso. Ou então os “moralistas” hipócritas da igreja medieval retratados por Umberto Eco em “O Nome da Rosa”. Sempre desconfio de quem não é capaz de rir de si mesmo de vez em quando.
Ditaduras não aceitam piadas sobre seus líderes, justamente pelo poder deste importante mecanismo numa sociedade aberta. Quando uma “democracia” apela para o mesmo instrumento de censura, há algo de muito podre acontecendo. O comediante Marcelo Madureira, do Casseta & Planeta, que fazia humor durante o regime militar, afirmou que hoje é ainda mais difícil ser humorista, pois a censura não é explícita. Os políticos usam o poder do estado para intimidar rádios e TVs, e o autoritarismo velado pode ser ainda mais complicado do que o escancarado.
Henri Bergson, em seu ensaio sobre a comicidade, afirma que o riso, pelo medo que inspira, mantém constantemente vigilantes certas atividades que correriam o risco de adormecer; ele “flexibiliza tudo o que pode restar de rigidez mecânica na superfície do corpo social”. Neste sentido, o riso persegue “um objetivo útil de aperfeiçoamento geral”, ele é uma espécie de “trote social”. A censura ao humor é uma grande palhaçada. Mas trata-se de uma piada de mau gosto.
Centenas de pessoas fizeram uma passeata domingo na praia de Copacabana contra a limitação imposta pela lei eleitoral que proíbe sátiras a candidatos durante a campanha. A lei, de 1997, proíbe que "emissoras de rádio e TV usem trucagem, montagem ou outro recurso de áudio ou vídeo que, de qualquer forma, degradem ou ridicularizem candidato, partido ou coligação". Como se os políticos precisassem do auxílio dos humoristas para serem ridicularizados!
Sempre encarei o trabalho dos humoristas no Brasil de forma ambígua: se por um lado há farta matéria-prima, por outro lado a concorrência é desleal, uma vez que Brasília já é um grande circo. Esse é o país da piada pronta. Mas isso não vem ao caso. O importante é que a censura ao humor, mesmo do tipo mais esculachado possível, denota um autoritarismo absurdo. Não é coincidência que os revolucionários comunistas nunca tenham demonstrado aptidão ao riso. Ou então os “moralistas” hipócritas da igreja medieval retratados por Umberto Eco em “O Nome da Rosa”. Sempre desconfio de quem não é capaz de rir de si mesmo de vez em quando.
Ditaduras não aceitam piadas sobre seus líderes, justamente pelo poder deste importante mecanismo numa sociedade aberta. Quando uma “democracia” apela para o mesmo instrumento de censura, há algo de muito podre acontecendo. O comediante Marcelo Madureira, do Casseta & Planeta, que fazia humor durante o regime militar, afirmou que hoje é ainda mais difícil ser humorista, pois a censura não é explícita. Os políticos usam o poder do estado para intimidar rádios e TVs, e o autoritarismo velado pode ser ainda mais complicado do que o escancarado.
Henri Bergson, em seu ensaio sobre a comicidade, afirma que o riso, pelo medo que inspira, mantém constantemente vigilantes certas atividades que correriam o risco de adormecer; ele “flexibiliza tudo o que pode restar de rigidez mecânica na superfície do corpo social”. Neste sentido, o riso persegue “um objetivo útil de aperfeiçoamento geral”, ele é uma espécie de “trote social”. A censura ao humor é uma grande palhaçada. Mas trata-se de uma piada de mau gosto.
sexta-feira, agosto 20, 2010
Contra a censura!
Será que os palhaços de Brasília não aceitam a concorrência? Até entendo que o trabalho dos humoristas fica complicado quando a política "séria" já é uma piada pronta. Como competir com Tiririca candidato, pior que tá não fica? O CQC e o Casseta & Planeta têm mesmo uma concorrência desleal. Mas impedir esta saudável competição é um total absurdo! Pela liberdade do humor!!! Domingo, em frente ao Copacabana Palace, às 15h, protesto contra a censura. Estejam lá!
Um Povo Infantil
Rodrigo Constantino, para o Instituto Liberal
Estava quase na hora de jantar, e assumi o risco de uma grave indigestão para assistir, pela primeira vez, o programa eleitoral do PT no horário “gratuito” na TV. Minha filha de oito anos estava ao meu lado, e apesar de impróprio para menores, resolvi deixá-la assistir a indecência de nossa política. Sua reação me fez refletir sobre algo bastante óbvio até, mas que a esperança nos leva a reprimir com freqüência.
O programa é um show de embuste, do começo ao fim. Os marqueteiros tentam criar uma personagem que não chega nem perto de existir. Transformaram Dilma numa pessoa dócil, apaixonada pelo conhecimento e pela liberdade, que sempre lutou pela democracia, que foi uma supermãe carinhosa, e que praticamente tocou o governo Lula sozinha. Os fatos se perdem em meio a tanta mentira.
Onde está aquela jovem Dilma que sonhava em transformar o Brasil numa grande Cuba, que casou cedo com um terrorista, que fez parte de organizações criminosas e que pegou em armas, não para defender a democracia, mas sim para lutar por uma ditadura comunista? Onde está a Dilma fria, dura, insensível que qualquer um pode ver nas entrevistas ao vivo? E a Dilma do PAC que quase não saiu do papel? Desapareceu por completo. Foi transformada numa heroína sensível e eficiente que sempre combateu pela democracia.
E a reação da minha filha? Como ela sabe que eu não suporto o PT, ela quis saber o motivo. Afinal, aquela mulher sorridente parecia tão boa... Será que papai é injusto? Tive que explicar que aquilo era propaganda enganosa, com personagens inventados; manipulação pura. Tive que ensiná-la a ser mais cética, a não aceitar passivamente, de imediato, tudo aquilo que falam para ela (nem mesmo o que eu falo). Tive que educá-la, mostrando que o conhecimento deve ser buscado de forma independente, evitando as armadilhas no caminho, os enganadores que tentam vender as lindas roupas invisíveis que ninguém consegue enxergar de fato. “Lembre-se que até na Branca de Neve a bruxa se disfarça para enganá-la!”
Foi quando tive que me dar conta daquilo que tento evitar, para manter as falsas esperanças: o povo brasileiro é infantil. O povo age exatamente como uma criança de oito anos, louco para acreditar no primeiro embusteiro que aparece para falar coisas boas. Mas, como sabia Aldous Huxley, os fatos não deixam de existir porque são ignorados. Será que o povo terá que amadurecer the hard way?
quinta-feira, agosto 19, 2010
Cartas Conflitantes
Rodrigo Constantino, para o Instituto Liberal
Era o ano de 2002, ano eleitoral, e o petista Lula tentava pela quarta vez uma vitória na disputa para presidente. O “risco PT” era elevado, com base num discurso que somava duas décadas de história. Uma famosa atriz chegou a declarar que tinha medo de uma eventual vitória de Lula. Os investidores acusaram o golpe, e a fuga de capitais fez com que o “risco país” disparasse. Foi então que Lula deu sua cartada de mestre: publicou a “Carta ao Povo Brasileiro”, alegando basicamente que não faria rupturas institucionais, ou seja, que seguiria com a política macro de FHC.
Oito anos depois, o mesmo Lula, agora terminando seu segundo mandato como presidente, escreveu uma nova carta. Desta vez, entretanto, ela não foi direcionada ao povo brasileiro, mas aos camaradas do Foro de São Paulo, reunidos na Argentina este ano. O Foro, como se sabe, foi criado pelo PT ao lado de ditadores como Fidel Castro. Os traficantes das Farc também faziam parte do grupo, cujo objetivo era resgatar na América Latina aquilo que se perdeu no Leste Europeu.
Nesta carta, Lula afirma que as “transformações pelas quais passaram a América Latina e o Caribe nestas duas décadas têm muito a ver com os debates que realizamos”. Além disso, numa inversão digna de Lênin, Lula acusou os opositores: “Não se conformam com a democracia de que se dizem falsamente partidários”. Essa carta, não custa lembrar, será lida para os camaradas que representam a ditadura mais velha e assassina da região. Na mesma carta, Lula assume os créditos que pertencem ao crescimento chinês: “Nosso Governo retomou o crescimento, depois de décadas de estagnação”.
Por fim, o presidente Lula enaltece as mudanças brasileiras, lembrando que o país mudou “como está mudando a Argentina que agora acolhe mais este encontro do Foro de São Paulo”. Foi Reinaldo Azevedo quem resumiu bem a coisa: “A referência à Argentina, país-anfitrião do Foro, ilustra bem o ‘espírito democrático’ do grupo. O casal Kirchner resolveu destruir a imprensa do país, contando com o auxílio de tropas-de-choque que se comportam como hordas fascistas”.
O autor de qual dessas cartas conflitantes é o Lula verdadeiro?
terça-feira, agosto 17, 2010
Frase do dia
"Não precisamos de um BNDES, mas de três bancos como o BNDES para atender a demanda por investimentos." (Benjamin Steinbruch, presidente da Fiesp, defendendo seus interesses, como crédito estatal subsidiado e protecionismo comercial, lembrando que grandes empresários raramente são liberais, pois preferem a aproximação com o governo para barrar a livre concorrência).
A pesquisa do Ibope
Rodrigo Constantino, para o Instituto Liberal
A nova pesquisa do Ibope confirma a tendência exposta nas demais pesquisas, de que a candidata Dilma tem aumentado a distância em relação ao segundo colocado, o tucano José Serra. Se as eleições fossem hoje, haveria o risco de a candidata petista levar logo no primeiro turno, o que possivelmente representaria uma ameaça ainda maior para as liberdades no país. Ainda falta certo tempo até as eleições, e muita pedra vai rolar, especialmente agora que começa a campanha televisiva. Mas as recentes pesquisas deveriam acender uma luz amarela na estratégia dos tucanos.
Serra tem tentado posar de pós-Lula, nem contra seu governo, e nem a favor. Entende-se a razão por trás disso: quem quer se colocar diretamente contra um governo com ampla aprovação popular? Mas esta postura tem seus custos, que parecem cada vez mais elevados. Se Serra é apenas uma espécie de continuação do que está aí, então por que mudar? Essa imagem acaba corroborada pelo fato de que Serra, dentro do quadro tucano, realmente é um dos mais parecidos com os petistas, em termos de ideologia. Só que não votamos apenas no indivíduo, e sim nos partidos da base aliada e seus programas. E, sob este ponto de vista, a candidatura petista representa um perigo infinitamente maior para as liberdades do que a tucana.
Entretanto, o discurso de Serra não tem sido convincente nesse aspecto. Ele tem optado por um caminho cordial demais, deixando para seu vice, Índio da Costa, o papel de “bucha de canhão”. Acontece que Índio não tem o mesmo alcance de Serra, nem é o candidato a presidente. No debate dos vices, Índio tocou uma vez mais no ponto nevrálgico das alianças petistas. O deputado lembrou que Dilma vestiu literalmente o boné do MST, e que o líder deste movimento criminoso declarou que defende a eleição da petista. Ele falou novamente da ligação entre o PT e as Farc.
Mas Índio não é Serra. Talvez esteja na hora do tucano reavaliar sua estratégia, de simpatizante do governo Lula, e partir para um ataque mais duro. Pode ser que isso não seja suficiente para uma reviravolta no resultado; mas ao menos ele perderia com alguma dignidade, dando voz aos milhões de brasileiros que não toleram mais essa pouca vergonha petista. A alternativa pode ser uma humilhação patética como a de Alckmin, que vestiu os bonés das estatais e mesmo assim – ou talvez por isso – perdeu as eleições em 2006.
domingo, agosto 15, 2010
O passado de Dilma
Vídeo onde comento a reportagem de capa da revista Época desta semana, sobre o passado guerrilheiro de Wanda ou Estela, mais conhecida como Dilma Rousseff, candidata petista à Presidência.
sexta-feira, agosto 13, 2010
Read Ayn Rand
Deu no G1:
Um homem percorreu mais de 12 mil milhas (cerca de 22 mil quilômetros) em 30 estados dos Estados Unidos para conseguir escrever uma mensagem que pode ser vista apenas por usuários do serviço de mapas Google Earth. Em uma viagem de 30 dias, indo da costa oeste para a costa leste do país, Nick Newcomen conseguiu escrever “Read Ayn Rand”, que em português significa “leia Ayn Rand”.
Para conseguir o feito, Newcomen primeiro identificou qual caminho deveria fazer para conseguir escrever a mensagem. Segundo ele, o motivo do feito foi porque ele é fã da filósofa Ayn Rand. “Na minha opinião, se mais pessoas lessem seus livros, o país estaria muito melhor”, disse.
Newcomen, diferentemente de outros artistas que usam o GPS, viajou para conseguir escrever no mapa. Ele usou um GPS Qstarz BT-Q1000X para “pintar” a mensagem. Iniciando sua viagem na cidade de Marshall, no Texas, ele ligou o aparelho apenas quando era necessário escrever. “A primeira palavra que escrevi foi ‘Rand’. Depois, viajei para o norte e escrevi ‘Read’ e finalizei com ‘Ayn’”, disse.
Programa de Aceleração da Campanha
Rodrigo Constantino, para o Instituto Liberal
O jornal “O Globo” traz hoje reportagem sobre os atrasos na principal vitrine da campanha da petista Dilma, o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Mais da metade dos gastos previstos nas obras do PAC se encontra no estágio inicial de contratação, ação preparatória ou licitação. Após três anos do lançamento do PAC, com muita fanfarra e divulgação, somente 13% das obras são consideradas concluídas. O levantamento foi feito pela ONG Contas Abertas.
Já a Folha de São Paulo vem com matéria sobre outro programa crucial da campanha petista, o “Minha Casa, Minha Vida”. A Caixa Econômica Federal omite dados do programa, desfavoráveis ao governo Lula, mas existem números públicos que podem ser analisados. Eles mostram que, no segmento no qual se concentra 90% do déficit habitacional do país, a conclusão dos imóveis não chega a 2% do previsto. Mais um projeto para inglês – ou no caso eleitor ingênuo – ver.
O candidato tucano José Serra denunciou na entrevista ao Jornal Nacional que o governo Lula investiu apenas cerca de um terço do total de R$ 65 bilhões arrecadados com a Cide desde 2003, lembrando que este imposto deve ser exclusivo para melhoria das estradas no país. Qualquer um sabe que as estradas federais estão em péssimo estado, merecendo o rótulo de “estradas da morte”, uma vez que o país é recordista mundial em mortes no trânsito. O governo prefere usar recursos para capitalizar o BNDES e financiar dez grandes empresas nacionais.
Esses dados mostram que o PT está interessado somente no Programa de Aceleração da Campanha mesmo, e não nos resultados concretos. O próprio presidente Lula, em vídeo gravado sem seu conhecimento durante visita em favela carioca, deixa claro que sua preocupação é o prejuízo político se a imprensa mostrar a “porra” do complexo esportivo fechado para o público humilde. E ainda tem gente que acredita nas boas intenções do Partido dos Trabalhadores... ou em Papai Noel, Saci-Pererê e Mula-sem-Cabeça!
Palavra de Gestor - Valor Econômico
Cabo de guerra entre inflação e deflação. Quem leva a melhor?
Rodrigo Constantino
Existe um cabo de guerra entre forças deflacionárias e inflacionárias nos mercados hoje. De um lado, o estouro da bolha de crédito pressiona os ativos para baixo. Do outro, as políticas monetária e fiscal dos governos estimulam os preços dos ativos. Quem vai vencer esta batalha? Como ganhar dinheiro neste cenário tão incerto? São estas questões que Anthony Boeckh tenta responder no livro "The Great Reflation".
Quando tanto dinheiro sem lastro é criado pelos bancos centrais, algum destino precisa ser encontrado para ele. Um dos resultados desta política costuma ser o aumento da volatilidade e instabilidade na economia e nos mercados financeiros. Esta seria a primeira conclusão do autor.
Nos últimos 15 anos, durante a fase da formação da bolha, falou-se muito na grande moderação, com a crença de que os bancos centrais tinham domado a inflação, a despeito do acelerado crescimento mundial. O estouro da bolha mostrou que isso não passou de uma ilusão, alimentada pelo fator China. Boeckh acredita que, daqui para frente, o esforço das autoridades monetárias para inflar os ativos será estupendo, como já está sendo. Repiques econômicos temporários serão inevitáveis com tanto estímulo, mas isso fará apenas com que a inflação de crédito fique maior, aumentando a fragilidade do sistema.
Entretanto, Boeckh acredita que a inflação dos ativos não vai durar tanto quanto nos últimos ciclos, pois o nível de endividamento privado chegou possivelmente ao seu limite, e o mesmo deve ocorrer no setor público em breve. Os balanços dos principais governos desenvolvidos estão sendo testados no limite. O resultado deverá ser um déficit fiscal cada vez maior para os governos, e um crescimento econômico menor. Se a crise recente foi causada em parte pelo excesso de dinheiro e crédito, mais dinheiro e crédito deverão causar crises ainda maiores à frente.
Para se proteger dos riscos e da volatilidade, manter o dinheiro parado pode não ser a solução. Afinal, os impostos crescentes e a inflação poderão corroer o ganho nominal. Para ganhar bons retornos reais, o investidor terá de correr mais risco. O problema é que, no cenário atual, o patamar de risco será maior do que o nível de conforto da maioria das pessoas. E a estratégia de simplesmente comprar e carregar ativos poderá ser um fracasso maior do que já foi nos últimos dez anos. Quem comprou ações das empresas americanas há uma década, ainda se encontra debaixo d'água. Será preciso uma atitude mais ativa dos investidores.
Quando os bancos centrais podem criar dinheiro do nada, sem lastro em ouro, a tentação de fazê-lo é grande, especialmente durante crises. Os políticos, olhando só as próximas eleições, desejam estimular a economia artificialmente, jogando a conta para frente. Juntando tudo isso, a tendência natural das economias sob o sistema fiduciário é inflacionária. O problema é que a festa não pode durar para sempre, pois o endividamento fica insustentável. Inflação demais acaba em deflação, quando a bolha estoura. A alternativa é a completa destruição da moeda, como ocorreu no Zimbábue recentemente.
Como dificilmente os bancos centrais dos países mais avançados agiriam de forma tão irresponsável, parece razoável supor que, em algum momento, a maciça injeção de liquidez será revertida. Na hora do enxugamento, as taxas de juros são pressionadas para cima e o preço dos ativos e a atividade econômica, para baixo. A prosperidade será ilusória, e os investidores deverão tomar cuidado para não embarcar novamente na euforia irracional. Confundir a recuperação artificial com um novo "bull market" sustentável poderá ser fatal para o retorno do portfólio.
Acertar o "timing" dessas oscilações mais bruscas e curtas será o "x" da questão para o desempenho do patrimônio. Entretanto, se trata de uma tarefa praticamente impossível na prática. Os cenários para a economia mundial são incertos demais, podendo tanto seguir na direção de uma era do gelo no estilo japonês, como no caminho de uma inflação fora de controle. Dizem que a diversificação é um hedge para a ignorância. O problema é que todo mundo está perdido quanto aos possíveis resultados deste cabo de guerra, com medidas sem precedentes por parte dos governos.
Cautela deve ser o nome do jogo agora. Não parece adequado apostar todas as fichas num cavalo. A única previsão mais concreta é que tempos de elevada volatilidade virão. Melhor se preparar.
Rodrigo Constantino é economista e gestor de recursos
Rodrigo Constantino
Existe um cabo de guerra entre forças deflacionárias e inflacionárias nos mercados hoje. De um lado, o estouro da bolha de crédito pressiona os ativos para baixo. Do outro, as políticas monetária e fiscal dos governos estimulam os preços dos ativos. Quem vai vencer esta batalha? Como ganhar dinheiro neste cenário tão incerto? São estas questões que Anthony Boeckh tenta responder no livro "The Great Reflation".
Quando tanto dinheiro sem lastro é criado pelos bancos centrais, algum destino precisa ser encontrado para ele. Um dos resultados desta política costuma ser o aumento da volatilidade e instabilidade na economia e nos mercados financeiros. Esta seria a primeira conclusão do autor.
Nos últimos 15 anos, durante a fase da formação da bolha, falou-se muito na grande moderação, com a crença de que os bancos centrais tinham domado a inflação, a despeito do acelerado crescimento mundial. O estouro da bolha mostrou que isso não passou de uma ilusão, alimentada pelo fator China. Boeckh acredita que, daqui para frente, o esforço das autoridades monetárias para inflar os ativos será estupendo, como já está sendo. Repiques econômicos temporários serão inevitáveis com tanto estímulo, mas isso fará apenas com que a inflação de crédito fique maior, aumentando a fragilidade do sistema.
Entretanto, Boeckh acredita que a inflação dos ativos não vai durar tanto quanto nos últimos ciclos, pois o nível de endividamento privado chegou possivelmente ao seu limite, e o mesmo deve ocorrer no setor público em breve. Os balanços dos principais governos desenvolvidos estão sendo testados no limite. O resultado deverá ser um déficit fiscal cada vez maior para os governos, e um crescimento econômico menor. Se a crise recente foi causada em parte pelo excesso de dinheiro e crédito, mais dinheiro e crédito deverão causar crises ainda maiores à frente.
Para se proteger dos riscos e da volatilidade, manter o dinheiro parado pode não ser a solução. Afinal, os impostos crescentes e a inflação poderão corroer o ganho nominal. Para ganhar bons retornos reais, o investidor terá de correr mais risco. O problema é que, no cenário atual, o patamar de risco será maior do que o nível de conforto da maioria das pessoas. E a estratégia de simplesmente comprar e carregar ativos poderá ser um fracasso maior do que já foi nos últimos dez anos. Quem comprou ações das empresas americanas há uma década, ainda se encontra debaixo d'água. Será preciso uma atitude mais ativa dos investidores.
Quando os bancos centrais podem criar dinheiro do nada, sem lastro em ouro, a tentação de fazê-lo é grande, especialmente durante crises. Os políticos, olhando só as próximas eleições, desejam estimular a economia artificialmente, jogando a conta para frente. Juntando tudo isso, a tendência natural das economias sob o sistema fiduciário é inflacionária. O problema é que a festa não pode durar para sempre, pois o endividamento fica insustentável. Inflação demais acaba em deflação, quando a bolha estoura. A alternativa é a completa destruição da moeda, como ocorreu no Zimbábue recentemente.
Como dificilmente os bancos centrais dos países mais avançados agiriam de forma tão irresponsável, parece razoável supor que, em algum momento, a maciça injeção de liquidez será revertida. Na hora do enxugamento, as taxas de juros são pressionadas para cima e o preço dos ativos e a atividade econômica, para baixo. A prosperidade será ilusória, e os investidores deverão tomar cuidado para não embarcar novamente na euforia irracional. Confundir a recuperação artificial com um novo "bull market" sustentável poderá ser fatal para o retorno do portfólio.
Acertar o "timing" dessas oscilações mais bruscas e curtas será o "x" da questão para o desempenho do patrimônio. Entretanto, se trata de uma tarefa praticamente impossível na prática. Os cenários para a economia mundial são incertos demais, podendo tanto seguir na direção de uma era do gelo no estilo japonês, como no caminho de uma inflação fora de controle. Dizem que a diversificação é um hedge para a ignorância. O problema é que todo mundo está perdido quanto aos possíveis resultados deste cabo de guerra, com medidas sem precedentes por parte dos governos.
Cautela deve ser o nome do jogo agora. Não parece adequado apostar todas as fichas num cavalo. A única previsão mais concreta é que tempos de elevada volatilidade virão. Melhor se preparar.
Rodrigo Constantino é economista e gestor de recursos
quarta-feira, agosto 11, 2010
Serra no JN
Rodrigo Constantino, para o Instituto Liberal
Antes de começar este comentário, preciso confessar que nunca fui muito com a cara – e com as idéias – de José Serra. Sua trajetória na militância esquerdista, seja na UNE, seja como economista da Cepal, sempre me incomodou, e ainda o faz. Dito isso, preciso admitir que o candidato tucano foi muito bem na entrevista do Jornal Nacional. Passou calma e confiança, e conseguiu se colocar como alguém pós-Lula, ou seja, preocupado com o futuro, e não com o passado. Foi convincente na imagem de quem está acima da rixa FHC-Lula, interessado em aproveitar os acertos de ambos e rejeitar os erros de ambos.
Outro gol de Serra foi focar na questão da experiência, do currículo, lembrando que não se governa um país na “garupa”, como um fantoche de terceiros. Serra insistiu que Lula não é candidato a cargo algum, e que, concluído seu governo, ele sai de cena. Isso visa a confrontar a mensagem do próprio Lula que, desesperado com a incapacidade de sua pupila andar com as próprias pernas, declarou que Dilma será apenas outro nome para “Lula” nas urnas. Falso. Quem está concorrendo ao cargo mais poderoso do país é Dilma Rousseff, não Lula.
Serra justificou a aliança com o PTB, partido envolvido no “mensalão”, alegando que a responsabilidade pelos erros é individual, e que o PTB apóia o PSDB com base programática, mas que ele, enquanto presidente, não aceita compactuar com o crime. Essa mensagem é útil, quando se lembra que o PT passa a mão na cabeça de seus próprios “aloprados” e que os réus de formação de quadrilha continuam apitando dentro do partido – alguns inclusive bem próximos do núcleo da campanha de Dilma.
Outro ponto forte da entrevista foi quando Serra deixou claro que entre pagar pedágios ou morrer nas estradas federais, a primeira opção é muito melhor. E ainda aproveitou para denunciar que o governo Lula investiu apenas um terço dos R$ 65 bilhões arrecadados com a Cide desde 2003, imposto cuja única finalidade é melhorar a qualidade das estradas no país.
Por fim, Serra defendeu a escolha de Índio da Costa como vice da chapa, frisando seu papel na aprovação do projeto “Ficha Limpa”, mais uma bola dentro. Tenho que reconhecer que o tucano foi bem na entrevista de maior audiência da televisão brasileira, e lamento apenas que o casal de entrevistadores não tenha levantado a questão do “mensalão” durante a entrevista com Dilma. Ficou faltando isso, e as Farc, claro.
Enquanto os liberais continuam órfãos de representantes na política, não resta muita dúvida: por eliminação, e principalmente para frear o projeto autoritário petista em curso, é tomar um Engov e ir de Serra mesmo!
Antes de começar este comentário, preciso confessar que nunca fui muito com a cara – e com as idéias – de José Serra. Sua trajetória na militância esquerdista, seja na UNE, seja como economista da Cepal, sempre me incomodou, e ainda o faz. Dito isso, preciso admitir que o candidato tucano foi muito bem na entrevista do Jornal Nacional. Passou calma e confiança, e conseguiu se colocar como alguém pós-Lula, ou seja, preocupado com o futuro, e não com o passado. Foi convincente na imagem de quem está acima da rixa FHC-Lula, interessado em aproveitar os acertos de ambos e rejeitar os erros de ambos.
Outro gol de Serra foi focar na questão da experiência, do currículo, lembrando que não se governa um país na “garupa”, como um fantoche de terceiros. Serra insistiu que Lula não é candidato a cargo algum, e que, concluído seu governo, ele sai de cena. Isso visa a confrontar a mensagem do próprio Lula que, desesperado com a incapacidade de sua pupila andar com as próprias pernas, declarou que Dilma será apenas outro nome para “Lula” nas urnas. Falso. Quem está concorrendo ao cargo mais poderoso do país é Dilma Rousseff, não Lula.
Serra justificou a aliança com o PTB, partido envolvido no “mensalão”, alegando que a responsabilidade pelos erros é individual, e que o PTB apóia o PSDB com base programática, mas que ele, enquanto presidente, não aceita compactuar com o crime. Essa mensagem é útil, quando se lembra que o PT passa a mão na cabeça de seus próprios “aloprados” e que os réus de formação de quadrilha continuam apitando dentro do partido – alguns inclusive bem próximos do núcleo da campanha de Dilma.
Outro ponto forte da entrevista foi quando Serra deixou claro que entre pagar pedágios ou morrer nas estradas federais, a primeira opção é muito melhor. E ainda aproveitou para denunciar que o governo Lula investiu apenas um terço dos R$ 65 bilhões arrecadados com a Cide desde 2003, imposto cuja única finalidade é melhorar a qualidade das estradas no país.
Por fim, Serra defendeu a escolha de Índio da Costa como vice da chapa, frisando seu papel na aprovação do projeto “Ficha Limpa”, mais uma bola dentro. Tenho que reconhecer que o tucano foi bem na entrevista de maior audiência da televisão brasileira, e lamento apenas que o casal de entrevistadores não tenha levantado a questão do “mensalão” durante a entrevista com Dilma. Ficou faltando isso, e as Farc, claro.
Enquanto os liberais continuam órfãos de representantes na política, não resta muita dúvida: por eliminação, e principalmente para frear o projeto autoritário petista em curso, é tomar um Engov e ir de Serra mesmo!
terça-feira, agosto 10, 2010
Cenário econômico mundial
Vídeo onde comento o cenário da economia mundial, com foco maior na americana. O Fed afirmou que deve manter a taxa de juros extremamente baixa por longo período de tempo; seria a "era do gelo" americana, como ocorreu com o Japão após o estouro de sua bolha? Quais os efeitos disso para o Brasil?
Dilma no Jornal Nacional
Rodrigo Constantino, para o Instituto Liberal
A entrevista de Dilma no Jornal Nacional não foi das piores, sob o ponto de vista dos petistas. O casal de entrevistadores foi duro e apertou a candidata, cobrando respostas para questões mais delicadas, e ela até que desviou bem: não respondeu nada. Os petistas celebram o avanço de Dilma na “arte da embromação”, que vem com mais naturalidade para ela agora, após treinamento intensivo. Entretanto, como o jornalista Merval Pereira comentou na coluna de hoje, Dilma faltou com a verdade, eufemismo para mentir.
Merval apontou a escorregada: “Por exemplo, quando afirmou que os investimentos em saneamento na favela da Rocinha, dentro do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) representam uma mudança de comportamento do governo federal. Simplesmente, na Rocinha, não há nenhum investimento do PAC relativo a saneamento”. O PAC, como todos já sabem, não passa de um engodo, que abriga investimentos antigos e outros inacabados. O governo gasta uma fortuna com a máquina estatal, mas não investe quase nada. A “mãe do PAC” teve um filho bastardo!
Além disso, Dilma não soube explicar direito os motivos pelos quais a economia brasileira cresceu menos que as economias emergentes durante o governo Lula. Esse é o calcanhar de Aquiles da campanha petista, que conta com a ignorância dos eleitores a seu favor. Se os dados do crescimento de outros países em desenvolvimento forem esfregados na cara dos petistas, então todo o discurso de elevado crescimento brasileiro, locomotiva da popularidade de Lula, vai por água abaixo! É uma pena que os brasileiros sejam tão míopes e pensem que o mérito do crescimento pertence ao governo.
Os piores trechos foram quando Dilma defendeu as alianças nefastas do PT com os velhos caciques da política, alegando que o partido amadureceu, e quando ela insistiu na tese furada de “herança maldita” da era FHC. Os poucos acertos do governo Lula foram justamente na macroeconomia, ao manter as políticas do governo anterior. Mas, reconhecer isso seria afundar de vez a única coisa razoável da era Lula.
Por fim, estão todos convidados para uma visita à Baixada Santista aqui no Rio de Janeiro. Lá, assim como no país das maravilhas de Alice, talvez o PT seja um partido honesto...
A Bajulação Corrompe
Rodrigo Constantino, O Globo
“A grande vaia é mil vezes mais forte, mais poderosa, mais nobre do que a grande apoteose; os admiradores corrompem.” (Nelson Rodrigues)
Os principais observadores da natureza humana sempre tiveram receio do estrago que a vaidade excessiva pode causar. Gostamos de elogios, enquanto criamos mecanismos de defesa contra as críticas. O autoengano pode ser uma estratégia útil para a sobrevivência, como diz Eduardo Giannetti em seu livro sobre o tema: “O enganador autoenganado, convencido sinceramente do seu próprio engano, é uma máquina de enganar mais habilidosa e competente em sua arte do que o enganador frio e calculista”. O enganador embarca em suas próprias mentiras, e passa a acreditar nelas com veemência. Fica mais fácil convencer os demais assim.
Justamente por isso a adulação popular ajuda a criar monstros perigosos. As piores tiranias foram aquelas com amplo apoio do povo, como Hitler e Mussolini atestam. Aqueles que passam a se cercar somente de bajuladores, enquanto concentram poder e conquistam as massas, acabam blindados contra todo tipo de crítica. Os conselheiros mais sábios ficam impotentes diante da reverência das massas e fazem alertas em vão. De tanto escutar que é uma espécie de “messias salvador”, o demagogo pode acabar acreditando. Aí reside o maior risco para a sociedade.
Em “Teoria dos Sentimentos Morais”, Adam Smith alertou que nas cortes de príncipes, onde sucesso e privilégios dependem, não da estima de inteligentes e bem informados, mas do favor de superiores presunçosos e arrogantes, a adulação e falsidade prevalecem sobre mérito e habilidades. “Em tais círculos sociais”, conclui ele, “as habilidades em agradar são mais consideradas do que as habilidades em servir”. Quando o mais importante é agradar o poderoso governante, a primeira coisa a ser sacrificada será a sinceridade.
Infelizmente, esta é a realidade brasileira. A popularidade do presidente Lula está nas alturas. Boa parte da imprensa – com honrosas exceções – parece filtrar todas as notícias através de uma lente benigna em prol dele, os intelectuais o tratam com incrível condescendência, e até mesmo um filme foi feito para o “filho do Brasil”. Há uma espécie de salvo-conduto que lhe permite abusar das contradições e arroubos demagógicos. O presidente adquiriu uma imunidade que nenhum cidadão teria em seu lugar. Qualquer outro seria julgado de forma severa por aquilo que o presidente Lula diz sorrindo. Um “efeito Teflon” protege o presidente, já que nenhuma sujeira gruda em sua pessoa.
O problema é que essa bajulação ajuda a despertar a megalomania do presidente, alimentando sua vaidade de forma incrível. O poder corrompe, e o excesso de poder concentrado em alguém vaidoso e sem escrúpulos corrompe ainda mais. Nunca antes na história deste país um presidente contou com tanta indulgência dos críticos. Lula está perdoado por qualquer pecado antes mesmo de ele ocorrer.
Ele pode se aliar aos mais antigos caciques da política nacional, beijar a mão deles, e tudo é perdoado pelo povo. Ele pode aderir às piores práticas políticas, passar a mão na cabeça dos réus de formação de quadrilha do seu partido, que poucos terão coragem de subir o tom das críticas. Ele pode abraçar os piores ditadores, chamá-los de “camaradas”, que poucos ousarão atacá-lo com firmeza. Quando se trata do presidente Lula, então tudo faz parte do “jogo democrático”. Até Jesus Cristo teria que se aliar a Judas para governar o Brasil, não é mesmo?
“O mal de quase todos nós é que preferimos ser arruinados pelo elogio a ser salvos pela crítica”, disse Norman Vincent. Quando um povo perde sua capacidade de indignação, o caminho da servidão está aberto. A postura mais crítica é fundamental para se evitar abusos do poder. Quando as pessoas se deixam levar pelas emoções – ou pelo bolso –, a decadência moral da sociedade está iminente.
Se os brasileiros desejam construir uma nação mais próspera, justa e livre, então se faz necessário respeitar princípios éticos básicos. O país precisa de um governo de leis isonômicas, incompatível com a carta branca concedida aos governantes carismáticos. A má-conduta deve ser punida, independente de seu autor. Ninguém está acima da lei, e os fins não justificam os meios. O cinismo não é uma virtude. A ética não pode ser jogada no lixo, em troca de migalhas.
Precisamos resgatar certos valores que parecem cada vez mais abandonados, antes que seja tarde demais. Devemos enaltecer o espírito crítico. Quem tem boca vaia Roma – e Brasília também.
“A grande vaia é mil vezes mais forte, mais poderosa, mais nobre do que a grande apoteose; os admiradores corrompem.” (Nelson Rodrigues)
Os principais observadores da natureza humana sempre tiveram receio do estrago que a vaidade excessiva pode causar. Gostamos de elogios, enquanto criamos mecanismos de defesa contra as críticas. O autoengano pode ser uma estratégia útil para a sobrevivência, como diz Eduardo Giannetti em seu livro sobre o tema: “O enganador autoenganado, convencido sinceramente do seu próprio engano, é uma máquina de enganar mais habilidosa e competente em sua arte do que o enganador frio e calculista”. O enganador embarca em suas próprias mentiras, e passa a acreditar nelas com veemência. Fica mais fácil convencer os demais assim.
Justamente por isso a adulação popular ajuda a criar monstros perigosos. As piores tiranias foram aquelas com amplo apoio do povo, como Hitler e Mussolini atestam. Aqueles que passam a se cercar somente de bajuladores, enquanto concentram poder e conquistam as massas, acabam blindados contra todo tipo de crítica. Os conselheiros mais sábios ficam impotentes diante da reverência das massas e fazem alertas em vão. De tanto escutar que é uma espécie de “messias salvador”, o demagogo pode acabar acreditando. Aí reside o maior risco para a sociedade.
Em “Teoria dos Sentimentos Morais”, Adam Smith alertou que nas cortes de príncipes, onde sucesso e privilégios dependem, não da estima de inteligentes e bem informados, mas do favor de superiores presunçosos e arrogantes, a adulação e falsidade prevalecem sobre mérito e habilidades. “Em tais círculos sociais”, conclui ele, “as habilidades em agradar são mais consideradas do que as habilidades em servir”. Quando o mais importante é agradar o poderoso governante, a primeira coisa a ser sacrificada será a sinceridade.
Infelizmente, esta é a realidade brasileira. A popularidade do presidente Lula está nas alturas. Boa parte da imprensa – com honrosas exceções – parece filtrar todas as notícias através de uma lente benigna em prol dele, os intelectuais o tratam com incrível condescendência, e até mesmo um filme foi feito para o “filho do Brasil”. Há uma espécie de salvo-conduto que lhe permite abusar das contradições e arroubos demagógicos. O presidente adquiriu uma imunidade que nenhum cidadão teria em seu lugar. Qualquer outro seria julgado de forma severa por aquilo que o presidente Lula diz sorrindo. Um “efeito Teflon” protege o presidente, já que nenhuma sujeira gruda em sua pessoa.
O problema é que essa bajulação ajuda a despertar a megalomania do presidente, alimentando sua vaidade de forma incrível. O poder corrompe, e o excesso de poder concentrado em alguém vaidoso e sem escrúpulos corrompe ainda mais. Nunca antes na história deste país um presidente contou com tanta indulgência dos críticos. Lula está perdoado por qualquer pecado antes mesmo de ele ocorrer.
Ele pode se aliar aos mais antigos caciques da política nacional, beijar a mão deles, e tudo é perdoado pelo povo. Ele pode aderir às piores práticas políticas, passar a mão na cabeça dos réus de formação de quadrilha do seu partido, que poucos terão coragem de subir o tom das críticas. Ele pode abraçar os piores ditadores, chamá-los de “camaradas”, que poucos ousarão atacá-lo com firmeza. Quando se trata do presidente Lula, então tudo faz parte do “jogo democrático”. Até Jesus Cristo teria que se aliar a Judas para governar o Brasil, não é mesmo?
“O mal de quase todos nós é que preferimos ser arruinados pelo elogio a ser salvos pela crítica”, disse Norman Vincent. Quando um povo perde sua capacidade de indignação, o caminho da servidão está aberto. A postura mais crítica é fundamental para se evitar abusos do poder. Quando as pessoas se deixam levar pelas emoções – ou pelo bolso –, a decadência moral da sociedade está iminente.
Se os brasileiros desejam construir uma nação mais próspera, justa e livre, então se faz necessário respeitar princípios éticos básicos. O país precisa de um governo de leis isonômicas, incompatível com a carta branca concedida aos governantes carismáticos. A má-conduta deve ser punida, independente de seu autor. Ninguém está acima da lei, e os fins não justificam os meios. O cinismo não é uma virtude. A ética não pode ser jogada no lixo, em troca de migalhas.
Precisamos resgatar certos valores que parecem cada vez mais abandonados, antes que seja tarde demais. Devemos enaltecer o espírito crítico. Quem tem boca vaia Roma – e Brasília também.
segunda-feira, agosto 09, 2010
A Filantropia dos Ricos
Rodrigo Constantino, para a Revista Voto
Os bilionários Bill Gates e Warren Buffett entraram numa campanha para que outros ricaços doassem no mínimo metade de suas fortunas a instituições de caridade. Pelo menos quarenta bilionários já aderiram à campanha. A atitude levanta algumas reflexões interessantes, e expõe também as diferenças culturais entre Estados Unidos e Brasil. O senso de caridade parece mais enraizado lá, sem dúvida. Mas, a despeito da maioria considerar tal ato louvável, faz-se necessário evitar algumas conclusões precipitadas.
São vários os motivadores que podem levar alguém a doar boa parte de seu patrimônio. O altruísmo pode sim ser um fator, quando o rico acredita que tem como ajudar mais ainda a sociedade por meio da filantropia. A vaidade exerce seu papel, pois a caridade não deixa de ser uma forma de se “imortalizar”. A preocupação com a educação dos filhos pode ter alguma influência, pois não deve ser fácil passar valores e princípios sólidos quando o jovem sabe ser herdeiro de bilhões. E, por fim, o fator tributário também tem sua parcela nas motivações, pois ninguém gosta de morrer e deixar boa parte da fortuna que construiu para os burocratas do governo, cuja ineficiência nos gastos é praticamente certa – para não falar dos enormes riscos de corrupção.
O grande problema que vejo em tais atos de generosidade é quando os próprios doadores justificam seus gestos com argumentos falaciosos. Infelizmente, é esse o caso de muitos deles. David Rockfeller, por exemplo, disse que os ricos têm uma responsabilidade com a sociedade, e devem retribuir aquilo que ela lhes deu. Há uma desinformação perigosa nessa argumentação.
A sociedade não deu nada por caridade aos empreendedores ricos. Ao contrário, eles ficaram ricos justamente por atender a várias demandas da sociedade, dos consumidores. E fizeram isso gerando riqueza, empregos e bem-estar social. A fortuna dos ricos, quando obtida por mérito no livre mercado, já representa uma retribuição da própria sociedade. Ter carros melhores, computadores rápidos, navegadores de internet, remédios e uma infinidade de outros bens e serviços é o que permitiu que os ricos empresários ficassem ricos. Nada mais justo!
Ao falar da necessidade de “devolver” para a sociedade aquilo que ela os deu, esses filantropos ajudam a disseminar a mentalidade marxista de que o lucro não é legítimo, mas fruto de uma exploração. É uma espécie de sentimento de culpa da elite financeira por ser rica. Mas, se esta riqueza for resultado de esforço e mérito próprio, por meio de trocas voluntárias com os consumidores, então não há razão para tal sentimento de culpa. Muito pelo contrário: todo rico honesto deveria sentir orgulho de sua riqueza. Foi na fase de construção dela que ele mais beneficiou a sociedade.
Além disso, deve-se ter em mente o alerta que o economista francês Bastiat, do século XIX, fez, ao falar daquilo que se vê e daquilo que não se vê. A filantropia é celebrada pois o impacto dos gastos com caridade são visíveis de imediato. Mas não devemos ignorar o que não se vê no curto prazo. O que a poupança investida no setor produtivo pode oferecer para a sociedade é muito mais do que a caridade momentânea. Bastiat usa a comparação entre dois irmãos, Mondor e Aristo, para explicar melhor seu ponto. Após repartirem a herança do pai, cada um deles parte para um estilo de vida totalmente distinto. Um pratica a filantropia, e outro resolve poupar e investir o dinheiro.
Os felizes fornecedores dos luxos de Mondor, o filantropo, representam aquilo que se vê. Não é tão fácil de se perceber, do ponto de vista do interesse dos trabalhadores, o que se tornam os rendimentos de Aristo, o poupador. Mas todos esses rendimentos, até o último centavo, servem para dar emprego aos operários tanto quanto certamente os rendimentos de Mondor. Mas há uma diferença importante: “Os gastos loucos de Mondor estão condenados a diminuir sempre e a chegar a um fim necessário. A sábia despesa de Aristo vai engordando de ano para ano”. A poupança de Aristo pode ser canalizada para investimentos produtivos. Os gastos de Aristo, feitos em parte por terceiros à distância, representam aquilo que não se vê.
Ao final de dez anos, é provável que os gastos com filantropia de Mondor estejam se esgotando. Bastiat conclui: “Ao final dos mesmos dez anos, Aristo continua não somente a pôr o seu dinheiro em circulação, mas continua aumentando seus rendimentos de ano para ano. Ele contribui para fazer crescer o capital nacional, ou seja, o fundo que alimenta os salários. E, como a demanda de trabalho depende da extensão desse fundo, ele concorre para o aumento progressivo da remuneração da classe operária. Se ele vier a morrer, deixa os filhos preparados para substituí-lo nessa obra de progresso e de civilização. Do ponto de vista moral, a superioridade da poupança sobre o luxo é incontestável. É consolador poder-se pensar que o mesmo se dá do ponto de vista econômico, para quem quer que, não se fixando nos efeitos imediatos das coisas, saiba levar suas investigações até os seus últimos efeitos”.
O presidente Lula já chegou a afirmar que dar dinheiro aos pobres, mesmo que para a compra de cachaça, era melhor para a economia do que deixar o dinheiro com o rico, aplicado no banco. Segundo Lula, isso faria a roda da economia girar, estimulando o comércio e a criação de empregos. O presidente cometeu esta falácia apontada por Bastiat, ao enxergar os efeitos econômicos com uma visão míope. A caridade tem efeito imediato, mas está fadada a se esgotar. Quando é “caridade” estatal é pior ainda, pois o governo antes precisa tirar recursos dos outros, justamente recursos que poderiam ser investidos de forma mais produtiva. Muito melhor para a sociedade, especialmente para os mais pobres, seria deixar os ricos investirem suas poupanças. Desta forma o progresso pode acelerar, beneficiando a todos.
Em suma, cada um faz com seu patrimônio aquilo que lhe apraz, e já é um absurdo o estado taxar a herança, um direito legítimo não apenas do herdeiro, mas principalmente do proprietário da fortuna, que deve ser livre para dar o destino que quiser a ela. Se esta escolha for pela filantropia, então ótimo. Mas acredito que a escolha de investir ainda mais nos negócios, nas empresas, no empreendedorismo, merece mais aplausos. O resultado costuma ser bem melhor do que a filantropia.
sábado, agosto 07, 2010
Intelectualismo como fuga da vida
Rodrigo Constantino
O homem mesmo se denominou homo sapiens, de forma um tanto arrogante. Sim, está claro que somente os humanos desfrutam da potente capacidade racional da mente, por meio de sua autoconsciência e raciocínio lógico-dedutivo. E que ferramenta fantástica! A razão é sem dúvida aquilo que mais nos diferencia dos demais animais. Mas, e quanto aquilo que nos aproxima deles? Por que evitar ou jogar no lixo? Por que achar que são menos humanos os “instintos” animais responsáveis por nossas paixões? Será que faz sentido cortar o homem em duas partes, mente e corpo, e ainda por cima alçar uma ao pedestal de deusa, atirando a outra no fogo?
Em seu magnífico livro Contraponto, Aldous Huxley fala, por meio do personagem Rampion, sobre esse assunto, de forma bastante apaixonada – como não poderia deixar de ser. Para Rampion, a “alma consciente quer mal às atividades da parte inconsciente, física e instintiva do ser total”. Ele continua: “A vida de uma é a morte de outra e vice-versa. Mas o homem são de espírito pelo menos procura guardar o equilíbrio. Os cristãos, que não eram sãos de espírito, disseram às gentes que elas deviam lançar uma metade de si mesmas na lata do lixo. E agora os cientistas e os homens de negócio vieram para nos dizer que devemos jogar fora a metade que os cristãos nos deixaram. Prefiro ficar vivo, inteiramente vivo. É tempo de fazer uma revolta a favor da vida e da plenitude”.
Escrito em 1928, o livro captura bem a essência das diferenças entre a vida de um Rampion e de um típico “intelectual puro”, Philip Quarles. O interessante é que o próprio Quarles tinha noção disso, e relata em seu caderno de notas: “A companhia de Rampion me deprime um pouco; porque ele me faz ver quão grande é o abismo cavado entre o conhecimento da evidência e o simples fato de vivê-la realmente. Ah! Que dificuldades há para transpor esse abismo! Percebo agora que o verdadeiro encanto da vida intelectual – da vida consagrada à erudição, à pesquisa científica, à filosofia, à estética, à crítica – é a sua facilidade. É a substituição de simples esquemas intelectuais em lugar das complicações da realidade; da morte silenciosa e rígida em lugar dos movimentos desconcertantes da vida”.
Quarles descobre então que o “intelectualismo” não passa de uma fuga também, como tantas outras que os homens inventam para o desespero de uma vida sem muito sentido lógico: “A corrida para os livros e para as universidades lembra a corrida para as tavernas. Essa gente necessita afogar a consciência das dificuldades que há em viver decentemente neste grotesco mundo contemporâneo; têm necessidade de esquecer a sua deplorável insuficiência como cultivadores da arte de viver. Uns afogam suas tristezas no álcool, mas outros, ainda mais numerosos, as afogam nos livros e no diletantismo artístico; uns procuram achar o esquecimento de si mesmos na libertinagem, na dança, no cinema, no rádio; outros nas conferências e nas ocupações científicas”. Ele passa a ver a “procura pela verdade” não mais como a tarefa nobre dos homens, mas simplesmente como um “divertimento, uma distração como todas as outras”.
As revelações pessoais vão além na mente de Quarles: “Percebi igualmente que a busca da verdade não passa de um nome polido para designar o passatempo favorito dos intelectuais, que consiste em substituir por abstrações simples, e por conseguinte falsas, as complexidades vivas da realidade”. E, para concluir sua descoberta, faz uma pergunta retórica, cuja resposta ele já sabe antes: “Terei algum dia bastante força de espírito para me livrar desses hábitos indolentes de intelectualismo e para consagrar minha energia à tarefa mais séria e mais difícil de viver integralmente?”
O personagem de Philip Quarles era desapegado de fortes emoções, um novelista frio, que analisava o mundo de forma sempre impessoal e abstrata, para o desespero de sua esposa, que desejava ardentemente uma prova de vida, de paixão do seu marido (ainda que fosse com outra!). Entretanto, o curioso era sua própria consciência disso tudo, inclusive da demanda de sua mulher, que ele não conseguia atender, sabendo da artificialidade que seria seu ato “apaixonado” consciente. Em suas reflexões, ele mesmo escreve: “Por esta supressão das relações emotivas e da piedade natural, parece-lhe (ao intelectualista) ter atingido a liberdade – a liberdade com relação à sentimentalidade, ao irracional, à paixão, ao impulso, à emotividade”. E dispara: “Sua razão permaneceu livre – mas para se ocupar somente com uma pequena fração dos fatos da experiência”. Essa vida simplesmente intelectual era mais fácil, pois evita os outros seres humanos.
Rampion, que não tinha papas na língua, jogava a realidade crua com violência na cara do amigo: “Nossa verdade, a verdade humana que nos interessa, é uma coisa que se descobre vivendo, vivendo completamente, com a totalidade do nosso ser. Os resultados dos divertimentos de vocês, Philip, todas essas famosas teorias sobre o cosmo e todas as suas aplicações práticas não têm absolutamente nada que ver com a única verdade que nos importa. E a verdade inumana não é meramente alheia a nós; é perigosa. Ela distrai a atenção de cada um da importante verdade humana. Ela os faz falsificar a sua própria experiência, a fim de que a realidade vivida possa ajustar-se à teoria abstrata”.
Na tentativa de criar algo mais que humano, acabamos menos que humanos, era a conclusão de Rampion. A cabeça até pode voar pelas nuvens, com a condição dos pés ficarem firmes no chão. É quando as pessoas se empenham em voar o tempo todo que vem a destruição. “Têm a ambição de ser anjos; mas o mais que conseguem ser são cucos e gansos, por um lado, ou então abutres repugnantes e corvos carniceiros, por outro”. Para Rampion, o homem não é anjo nem diabo, mas homem, um ser que “anda sobre uma corda esticada, que caminha sobre ela delicada, equilibradamente, tendo, numa das extremidades da vara que lhe dá estabilidade, o espírito, a consciência, a alma, e na outra extremidade o instinto e tudo o que é inconsciente, tudo o que é terreno e misterioso”.
Do ponto de vista puramente lógico, isso pode ser um contra-senso. Mas para Rampion, eis justamente o ponto fundamental: “a lógica é um simples contra-senso também à luz da verdade viva”. Para ele, pode-se escolher a que se quiser – a lógica ou a vida. “É questão de gosto. Algumas pessoas preferem ser cadáveres”. Entre bestas e anjos, o segredo estaria em buscar o equilíbrio. O intelectualismo puro seria apenas mais uma forma de fuga da vida humana.
sexta-feira, agosto 06, 2010
Liberais, Uni-vos!
Rodrigo Constantino
O Brasil não possui um partido liberal. Eis o primeiro fato que deve ser constatado. O que fazer para resolver este problema, para criar uma alternativa viável ao monopólio esquerdista que temos hoje? Aqui já nascem as primeiras divergências entre os liberais. Cada um acredita num meio diferente para o mesmo fim: viver num país com muito mais liberdade individual, sem tanta intervenção estatal em nossas vidas. Mas, como?
Alguns preferem um partido mais moderado, que prega a descentralização do poder de forma bem pragmática; é o caso dos federalistas. Outros acham que uma postura mais ideológica se faz necessária; é o caso dos libertários. Existem, ainda, aqueles que não confiam na via política para mudanças, preferindo atuar apenas por meio de “think tanks”. Eu dou meio apoio a todos eles! A luta é tão desigual, e estamos tão longe do liberalismo, que todo esforço nesse sentido é louvável e deve ser incentivado.
Infelizmente, os liberais sabem ser muito desorganizados algumas vezes, e até segregados demais. Isso pode dificultar os trabalhos. Por outro lado, acreditamos na divisão de trabalho, nas vantagens comparativas e na livre concorrência. Logo, não há razão para pensar que os liberais deveriam criar algo monolítico, que reunisse todos numa única agregação. A competição entre os diferentes meios é absolutamente saudável. O que não é nada saudável é ficar arrumando motivo bobo para criar brigas desnecessárias internas. Já somos tão poucos nesse país!
Mas foi justamente o que aconteceu recentemente com os libertários, principalmente anarco-capitalistas de um lado e minarquistas do outro. Faço mea culpa, por reconhecer que o recado que tentei levar aos libertários, que vai em seguida, não foi passado da melhor forma possível. Faltou, talvez, mais paciência ou sabedoria de minha parte, para lidar com os problemas que vi – e vejo – em alguns libertários. E qual seria esse recado? Basicamente, que a postura de alguns tem que mudar, para o bem da causa liberal. E qual postura seria essa? A postura dogmática de alguns, intolerante com quaisquer divergências, arrogante ao extremo, e até mesmo infantil.
Conforme escrevi no meu artigo sobre o assunto, esta não é a postura adequada para quem deseja realmente criar uma alternativa viável para o liberalismo. Ela simplesmente afasta as pessoas mais sérias. Escrevi alguns artigos tentando expor meus pontos, todos batendo mais ou menos nessa mesma tecla. Falei do simplismo de alguns, do excesso de romantismo juvenil e do radicalismo típico das seitas fechadas. Diogo Costa, do OrdemLivre, também escreveu um artigo apontando as falhas que ele enxerga na postura de alguns libertários. As críticas são construtivas, e merecem reflexão. Sem que o Diogo soubesse, eu tinha usado a mesma fonte para analisar o fenômeno: o “narcisismo das pequenas diferenças” freudiano.
Um funcionário de classe média tende a ficar mais ressentido com a promoção do colega ao lado do que com o bônus milionário do CEO da empresa. O vizinho se incomoda mais com o carro um pouco mais novo ao lado do que com a Ferrari distante do chefe. Os católicos brigam mais com os protestantes do que com os budistas. Os trotskistas e os marxistas digladiam-se entre si mais do que com adversários como os liberais. Enfim, parece briga de território às vezes. Disputam as mesmas almas. Os anarco-capitalistas e os minarquistas lutam para conquistar o mesmo tipo de seguidor, aqueles que detestam o excesso de governo, o coletivismo, o dirigismo estatal.
Acabam, muitas vezes, se bicando por detalhes abstratos e insignificantes, extremamente distantes da nossa realidade. Falta um pouco mais de bom senso, talvez, de união contra os verdadeiros inimigos comuns, que estão vencendo o jogo com facilidade. Enquanto alguns anarco-capitalistas atacam o fato de os minarquistas aceitarem poucas funções básicas para o estado, este se torna cada vez mais um Leviatã assustador, que toma metade de nossa renda e controla nossas vidas nos mínimos detalhes. Falta senso de proporção nesse combate pela liberdade, ou então os resultados concretos não interessam, mas sim uma sensação particular de regozijo por abraçar uma cruzada moral, como o único defensor verdadeiro da liberdade.
Se os liberais de todos os tipos desejam realmente viver num país com mais liberdade, então será preciso deixar essas pequenas diferenças de lado, vencer o narcisismo, e mergulhar nos pontos de convergência, respeitando as diferenças. Liberais do país inteiro, uni-vos!
PS: Gostaria apenas de destacar novamente que minha grande decepção nesta novela toda não foi com o partido Liber em si, mas com alguns membros que vi na comunidade do Orkut, que nem pertence ao partido. Passei a conhecer melhor alguns membros importantes dentro do Liber, e pude notar que a postura deles é bem diferente, bem mais madura e moderada. Infelizmente, a comunidade do Orkut, sob o comando das pessoas erradas, acaba servindo como vitrine do partido, e muitos saem com o mesmo tipo de decepção que eu saí (na verdade, fui expulso). Ainda tenho esperanças no Liber como um dos meios importantes nessa luta pela liberdade. Será preciso “domar as feras” internamente, e manter o respeito à pluralidade.
O Debate da Band
Rodrigo Constantino, para o Instituto Liberal
O primeiro comentário que vem à mente após o debate da Band entre os candidatos para presidente é curto e grosso: estamos perdidos! Após o “choque” inicial – não tão inesperado assim, vamos filtrando um pouco, eliminando as maiores bizarrices, até restar o “menos pior” deles. Mas é uma tarefa hercúlea diante da péssima qualidade das alternativas disponíveis. Que falta faz um partido liberal decente neste país!
A candidata Dilma se saiu muito mal, mesmo após seu “extreme makeover” no visual e o “treinamento com treinadores”. Não adianta: por mais que você tente ensinar uma mula a cantar, ela jamais será uma boa cantora. A natureza de Dilma não é ser carismática, e lhe falta o mínimo de traquejo. Trata-se de um robô programado. Sempre que vejo entrevistas ou debates com ela, fica mais fácil entender o desespero do presidente Lula ao afirmar que Dilma será apenas outro nome para “Lula” na urna. Se ela tiver que andar com as próprias pernas, não sai do lugar. Dilma gagueja o tempo todo, mostra insegurança, nervosismo, resultado de sua falta de preparo e do fato de jamais ter ganhado uma única eleição na vida. Além disso, ela abusa do hábito tradicional dos políticos, de enrolar nas respostas.
O tucano Serra foi muito fraco, burocrata demais, mas em termos relativos pode ser considerado até razoável. Seu discurso é o social-democrata padrão, mas lhe falta o mínimo de coragem para defender os acertos do governo FHC. Além disso, ele perde boas oportunidades de apertar mais a candidata petista, expondo a face mais radical do PT. Os eleitores têm o direito de saber quem é o PT na verdade, e o debate nacional é uma excelente chance de tocar nessas questões delicadas para Dilma. A estratégia de Serra está errada, em minha opinião. Em resumo, Serra foi pusilânime demais no debate.
Por fim, para não ignorar os outros dois: Plínio é uma figura de ópera bufa, com uma postura patética de quem sabe não ter chances, e um conteúdo socialista saído de um museu; e Marina não engana como “terceira via”, impregnada demais com o ranço petista. Além disso, verdade seja dita, ninguém pode “vencer” um debate com uma voz tão irritante.
quarta-feira, agosto 04, 2010
PT Mafioso
Novo vídeo onde comento as atitudes mafiosas do PT, que finalmente estão sendo atacas pelo que são por alguns opositores.
Brincadeira de criança ou partido de verdade?
Rodrigo Constantino
Os brasileiros com viés liberal são órfãos na política nacional. Como a própria revista britânica The Economist já reconheceu, não existe um único partido que defenda de forma decente os principais valores liberais, tais como livre mercado, igualdade perante as leis, propriedade privada e escopo altamente limitado do estado. Predomina no país uma mentalidade esquerdista, coletivista, que enxerga o governo como a grande locomotiva para o progresso e a “justiça social”.
É neste contexto que cheguei a celebrar publicamente, em artigo, a iniciativa de alguns jovens de tentar criar um novo partido, chamado Liber. Já conhecia alguns membros-fundadores do partido, e dei meu apoio informal, além de começar a acompanhar um pouco mais de perto seus passos. O principal instrumento que usei como amostra do tipo de gente que estava sendo atraída para o partido foi o Orkut, que não é dos melhores, reconheço. Mas, com o passar do tempo, certo incômodo começou a tomar conta de mim. O que vi ali foi uma grande decepção.
O principal ponto de desilusão foi a postura de alguns membros. Não pude evitar a conclusão de que, para estes, o projeto não passa muito de um grito de revolta, de uma rebeldia juvenil, até mesmo de uma brincadeira de criança. Se o objetivo é criar um partido sério que poderá fazer alguma diferença num futuro próximo, então a postura dessas pessoas vai à contramão da meta almejada. O simplismo na defesa de certos pontos extremamente radicais é gritante, a arrogância com que temas complexos são tratados é assustadora, e a intolerância com discordâncias é dogmática.
O modus operandi deles funciona mais ou menos assim: se você não é um anarco-capitalista, então ou não leu os livros certos, ou não entendeu o que leu, ou então entendeu, mas odeia a liberdade. Em suma, ou você é ignorante ou desonesto e autoritário. E o mais espantoso de tudo é que tal postura se dá entre libertários! Basta discordar de uma vírgula, e você logo passa a ser um “socialista”. Fica a nítida impressão de que essas pessoas, na maioria dos casos jovens demais, querem apenas embarcar numa cruzada moral, onde se colocam como os únicos defensores verdadeiros da liberdade. Não há respeito genuíno por aqueles que conhecem os principais argumentos, mas discordam de alguns deles. Esta postura é típica de seitas fechadas e fanáticas.
Naturalmente, não estou dizendo que todos do Liber são assim. Devemos evitar generalizações deste tipo. Pelo contrário, acredito que a maioria não é, e conheci alguns com postura diametralmente oposta dentro do partido. Tampouco estou afirmando que todos os anarco-capitalistas são iguais. Claro que não! A defesa de tal ideologia é legítima, e eu mesmo flertei com ela no passado, e ainda tenho alguma simpatia pelos seus ideais – apesar de compreender que se trata de um sonho com viés um tanto utópico. O problema maior não é com o anarco-capitalismo em si, mas com a postura de alguns “libertários”, que chega a ser contraproducente ao extremo para a causa da liberdade.
Apenas a titulo de ilustração, alguns exemplos merecem ser destacados, para mostrar até onde pode ir a “tirania da visão” quando falta o mínimo de bom senso. Se há estado, então há escravidão. A liberdade significa ausência de estado. Logo, os suíços são apenas escravos, e os somalis vivem livremente, pois o estado foi abolido. Se o governo americano tem bombas atômicas, então por que a teocracia iraniana não pode ter também? O PT e o PSDB são ambos socialistas, logo, não há diferença alguma entre ambos, e não passa de “paranóia de direita” falar em golpismo autoritário dos petistas. O estado é ilegítimo, logo, atacar um policial que tenta evitar que você ande armado nas ruas é legítima defesa. Toda troca voluntária deve ser aplaudida (não apenas tolerada), logo, o vendedor de crack é praticamente um herói. Tudo que vem do estado é fruto do roubo, logo, o calote da dívida pública seria uma medida louvável. E o grau de bizarrices só aumenta.
O que eu notei nesta amostra é que alguns jovens são tão revolucionários, com um ímpeto tão destrutivo contra “tudo e todos” que estão por aí, que a diferença entre eles e os comunistas parece imperceptível a olho nu. Talvez o MST pudesse ser uma alternativa para eles. Isso sem falar da contradição na largada, uma vez que não parece fazer muito sentido para um anarquista, que considera o estado sempre ilegítimo e a democracia um lixo, criar um partido político! Seria pragmatismo demais até para meu gosto; imagina para o gosto deles, que dizem abominar o pragmatismo, para manter o “purismo” de suas bandeiras! Não faz sentido para mim.
Confesso que escrevo este artigo com certa tristeza, pois acho que os liberais são tão poucos no país, que deveriam estar mais unidos. Digo mais: não apenas os liberais, mas qualquer um com um viés um pouco mais liberalizante, contra esse excesso de estado que temos atualmente, deveria unir forças para impedir o gigantismo crescente do nosso governo, que acelerou o processo sob a gestão petista. Conservadores, liberais, libertários, social-democratas mais civilizados (sim, eles existem), todos deveriam estar combatendo o projeto petista de poder. Mas, infelizmente, sinto-me na necessidade de desabafar, e também de alertar, para tentar contribuir de alguma maneira com o projeto do Liber.
Enquanto a vitrine do partido no Orkut for dominada por uma postura infantil como a que eu vi, e a imagem do Liber depender de certos membros-fundadores que não amadureceram ainda, o partido não será levado a sério, e os liberais continuarão órfãos na política nacional, o que seria uma pena. Ainda não perdi minhas esperanças. Mas para evitar que o Liber seja apenas uma brincadeira de Orkut de adolescentes rebeldes, certas posturas terão que ser contidas. Caso contrário, nem mesmo o PSTU do “lado de cá” ele vai ser. Estará mais para PCO, e olhe lá! Torço para que o destino seja outro, e com este artigo tento colaborar à minha maneira. E boa sorte a todos! Com esses aliados, ela será mais que necessária...
Os brasileiros com viés liberal são órfãos na política nacional. Como a própria revista britânica The Economist já reconheceu, não existe um único partido que defenda de forma decente os principais valores liberais, tais como livre mercado, igualdade perante as leis, propriedade privada e escopo altamente limitado do estado. Predomina no país uma mentalidade esquerdista, coletivista, que enxerga o governo como a grande locomotiva para o progresso e a “justiça social”.
É neste contexto que cheguei a celebrar publicamente, em artigo, a iniciativa de alguns jovens de tentar criar um novo partido, chamado Liber. Já conhecia alguns membros-fundadores do partido, e dei meu apoio informal, além de começar a acompanhar um pouco mais de perto seus passos. O principal instrumento que usei como amostra do tipo de gente que estava sendo atraída para o partido foi o Orkut, que não é dos melhores, reconheço. Mas, com o passar do tempo, certo incômodo começou a tomar conta de mim. O que vi ali foi uma grande decepção.
O principal ponto de desilusão foi a postura de alguns membros. Não pude evitar a conclusão de que, para estes, o projeto não passa muito de um grito de revolta, de uma rebeldia juvenil, até mesmo de uma brincadeira de criança. Se o objetivo é criar um partido sério que poderá fazer alguma diferença num futuro próximo, então a postura dessas pessoas vai à contramão da meta almejada. O simplismo na defesa de certos pontos extremamente radicais é gritante, a arrogância com que temas complexos são tratados é assustadora, e a intolerância com discordâncias é dogmática.
O modus operandi deles funciona mais ou menos assim: se você não é um anarco-capitalista, então ou não leu os livros certos, ou não entendeu o que leu, ou então entendeu, mas odeia a liberdade. Em suma, ou você é ignorante ou desonesto e autoritário. E o mais espantoso de tudo é que tal postura se dá entre libertários! Basta discordar de uma vírgula, e você logo passa a ser um “socialista”. Fica a nítida impressão de que essas pessoas, na maioria dos casos jovens demais, querem apenas embarcar numa cruzada moral, onde se colocam como os únicos defensores verdadeiros da liberdade. Não há respeito genuíno por aqueles que conhecem os principais argumentos, mas discordam de alguns deles. Esta postura é típica de seitas fechadas e fanáticas.
Naturalmente, não estou dizendo que todos do Liber são assim. Devemos evitar generalizações deste tipo. Pelo contrário, acredito que a maioria não é, e conheci alguns com postura diametralmente oposta dentro do partido. Tampouco estou afirmando que todos os anarco-capitalistas são iguais. Claro que não! A defesa de tal ideologia é legítima, e eu mesmo flertei com ela no passado, e ainda tenho alguma simpatia pelos seus ideais – apesar de compreender que se trata de um sonho com viés um tanto utópico. O problema maior não é com o anarco-capitalismo em si, mas com a postura de alguns “libertários”, que chega a ser contraproducente ao extremo para a causa da liberdade.
Apenas a titulo de ilustração, alguns exemplos merecem ser destacados, para mostrar até onde pode ir a “tirania da visão” quando falta o mínimo de bom senso. Se há estado, então há escravidão. A liberdade significa ausência de estado. Logo, os suíços são apenas escravos, e os somalis vivem livremente, pois o estado foi abolido. Se o governo americano tem bombas atômicas, então por que a teocracia iraniana não pode ter também? O PT e o PSDB são ambos socialistas, logo, não há diferença alguma entre ambos, e não passa de “paranóia de direita” falar em golpismo autoritário dos petistas. O estado é ilegítimo, logo, atacar um policial que tenta evitar que você ande armado nas ruas é legítima defesa. Toda troca voluntária deve ser aplaudida (não apenas tolerada), logo, o vendedor de crack é praticamente um herói. Tudo que vem do estado é fruto do roubo, logo, o calote da dívida pública seria uma medida louvável. E o grau de bizarrices só aumenta.
O que eu notei nesta amostra é que alguns jovens são tão revolucionários, com um ímpeto tão destrutivo contra “tudo e todos” que estão por aí, que a diferença entre eles e os comunistas parece imperceptível a olho nu. Talvez o MST pudesse ser uma alternativa para eles. Isso sem falar da contradição na largada, uma vez que não parece fazer muito sentido para um anarquista, que considera o estado sempre ilegítimo e a democracia um lixo, criar um partido político! Seria pragmatismo demais até para meu gosto; imagina para o gosto deles, que dizem abominar o pragmatismo, para manter o “purismo” de suas bandeiras! Não faz sentido para mim.
Confesso que escrevo este artigo com certa tristeza, pois acho que os liberais são tão poucos no país, que deveriam estar mais unidos. Digo mais: não apenas os liberais, mas qualquer um com um viés um pouco mais liberalizante, contra esse excesso de estado que temos atualmente, deveria unir forças para impedir o gigantismo crescente do nosso governo, que acelerou o processo sob a gestão petista. Conservadores, liberais, libertários, social-democratas mais civilizados (sim, eles existem), todos deveriam estar combatendo o projeto petista de poder. Mas, infelizmente, sinto-me na necessidade de desabafar, e também de alertar, para tentar contribuir de alguma maneira com o projeto do Liber.
Enquanto a vitrine do partido no Orkut for dominada por uma postura infantil como a que eu vi, e a imagem do Liber depender de certos membros-fundadores que não amadureceram ainda, o partido não será levado a sério, e os liberais continuarão órfãos na política nacional, o que seria uma pena. Ainda não perdi minhas esperanças. Mas para evitar que o Liber seja apenas uma brincadeira de Orkut de adolescentes rebeldes, certas posturas terão que ser contidas. Caso contrário, nem mesmo o PSTU do “lado de cá” ele vai ser. Estará mais para PCO, e olhe lá! Torço para que o destino seja outro, e com este artigo tento colaborar à minha maneira. E boa sorte a todos! Com esses aliados, ela será mais que necessária...
terça-feira, agosto 03, 2010
Frase do Dia
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