quarta-feira, agosto 04, 2010

Brincadeira de criança ou partido de verdade?

Rodrigo Constantino

Os brasileiros com viés liberal são órfãos na política nacional. Como a própria revista britânica The Economist já reconheceu, não existe um único partido que defenda de forma decente os principais valores liberais, tais como livre mercado, igualdade perante as leis, propriedade privada e escopo altamente limitado do estado. Predomina no país uma mentalidade esquerdista, coletivista, que enxerga o governo como a grande locomotiva para o progresso e a “justiça social”.

É neste contexto que cheguei a celebrar publicamente, em artigo, a iniciativa de alguns jovens de tentar criar um novo partido, chamado Liber. Já conhecia alguns membros-fundadores do partido, e dei meu apoio informal, além de começar a acompanhar um pouco mais de perto seus passos. O principal instrumento que usei como amostra do tipo de gente que estava sendo atraída para o partido foi o Orkut, que não é dos melhores, reconheço. Mas, com o passar do tempo, certo incômodo começou a tomar conta de mim. O que vi ali foi uma grande decepção.

O principal ponto de desilusão foi a postura de alguns membros. Não pude evitar a conclusão de que, para estes, o projeto não passa muito de um grito de revolta, de uma rebeldia juvenil, até mesmo de uma brincadeira de criança. Se o objetivo é criar um partido sério que poderá fazer alguma diferença num futuro próximo, então a postura dessas pessoas vai à contramão da meta almejada. O simplismo na defesa de certos pontos extremamente radicais é gritante, a arrogância com que temas complexos são tratados é assustadora, e a intolerância com discordâncias é dogmática.

O modus operandi deles funciona mais ou menos assim: se você não é um anarco-capitalista, então ou não leu os livros certos, ou não entendeu o que leu, ou então entendeu, mas odeia a liberdade. Em suma, ou você é ignorante ou desonesto e autoritário. E o mais espantoso de tudo é que tal postura se dá entre libertários! Basta discordar de uma vírgula, e você logo passa a ser um “socialista”. Fica a nítida impressão de que essas pessoas, na maioria dos casos jovens demais, querem apenas embarcar numa cruzada moral, onde se colocam como os únicos defensores verdadeiros da liberdade. Não há respeito genuíno por aqueles que conhecem os principais argumentos, mas discordam de alguns deles. Esta postura é típica de seitas fechadas e fanáticas.

Naturalmente, não estou dizendo que todos do Liber são assim. Devemos evitar generalizações deste tipo. Pelo contrário, acredito que a maioria não é, e conheci alguns com postura diametralmente oposta dentro do partido. Tampouco estou afirmando que todos os anarco-capitalistas são iguais. Claro que não! A defesa de tal ideologia é legítima, e eu mesmo flertei com ela no passado, e ainda tenho alguma simpatia pelos seus ideais – apesar de compreender que se trata de um sonho com viés um tanto utópico. O problema maior não é com o anarco-capitalismo em si, mas com a postura de alguns “libertários”, que chega a ser contraproducente ao extremo para a causa da liberdade.

Apenas a titulo de ilustração, alguns exemplos merecem ser destacados, para mostrar até onde pode ir a “tirania da visão” quando falta o mínimo de bom senso. Se há estado, então há escravidão. A liberdade significa ausência de estado. Logo, os suíços são apenas escravos, e os somalis vivem livremente, pois o estado foi abolido. Se o governo americano tem bombas atômicas, então por que a teocracia iraniana não pode ter também? O PT e o PSDB são ambos socialistas, logo, não há diferença alguma entre ambos, e não passa de “paranóia de direita” falar em golpismo autoritário dos petistas. O estado é ilegítimo, logo, atacar um policial que tenta evitar que você ande armado nas ruas é legítima defesa. Toda troca voluntária deve ser aplaudida (não apenas tolerada), logo, o vendedor de crack é praticamente um herói. Tudo que vem do estado é fruto do roubo, logo, o calote da dívida pública seria uma medida louvável. E o grau de bizarrices só aumenta.

O que eu notei nesta amostra é que alguns jovens são tão revolucionários, com um ímpeto tão destrutivo contra “tudo e todos” que estão por aí, que a diferença entre eles e os comunistas parece imperceptível a olho nu. Talvez o MST pudesse ser uma alternativa para eles. Isso sem falar da contradição na largada, uma vez que não parece fazer muito sentido para um anarquista, que considera o estado sempre ilegítimo e a democracia um lixo, criar um partido político! Seria pragmatismo demais até para meu gosto; imagina para o gosto deles, que dizem abominar o pragmatismo, para manter o “purismo” de suas bandeiras! Não faz sentido para mim.

Confesso que escrevo este artigo com certa tristeza, pois acho que os liberais são tão poucos no país, que deveriam estar mais unidos. Digo mais: não apenas os liberais, mas qualquer um com um viés um pouco mais liberalizante, contra esse excesso de estado que temos atualmente, deveria unir forças para impedir o gigantismo crescente do nosso governo, que acelerou o processo sob a gestão petista. Conservadores, liberais, libertários, social-democratas mais civilizados (sim, eles existem), todos deveriam estar combatendo o projeto petista de poder. Mas, infelizmente, sinto-me na necessidade de desabafar, e também de alertar, para tentar contribuir de alguma maneira com o projeto do Liber.

Enquanto a vitrine do partido no Orkut for dominada por uma postura infantil como a que eu vi, e a imagem do Liber depender de certos membros-fundadores que não amadureceram ainda, o partido não será levado a sério, e os liberais continuarão órfãos na política nacional, o que seria uma pena. Ainda não perdi minhas esperanças. Mas para evitar que o Liber seja apenas uma brincadeira de Orkut de adolescentes rebeldes, certas posturas terão que ser contidas. Caso contrário, nem mesmo o PSTU do “lado de cá” ele vai ser. Estará mais para PCO, e olhe lá! Torço para que o destino seja outro, e com este artigo tento colaborar à minha maneira. E boa sorte a todos! Com esses aliados, ela será mais que necessária...

24 comentários:

brenoalmpq disse...

Constantino,

Prazer. Meu nome é Breno e eu acompanhei o seu debate no Liber sobre o apelido do velho capitalista assassino de grevista "Carnegie".

Você entende o lado ruim da defesa dogmática da liberdade. Mas ignora que existe um lado bom.

Pense na lei de salário mínimo nacional. Como essa maluquice virou censo comum da sociedade e existe em quase todos os estados capitalista?

Eu acredito que tal feito só aconteceu porque há uns 80 anos os comunistas dogmáticos defendiam essa lei e outras maluquices.

Não vejo dificuldade para um político libertário entrar em um partido pragmático seja o PSDB,DEM ou outro.

Então porque outro partido pragmático se existem tantos?

Com 10 segundos do horário eleitoral você diria o que?

Eu diria: "Imposto é roubo!".

Não vejo recursos ou tempo para que os libertários e o partido libertário do Brasil façam reforma.

O que máximo que dá para fazer é colocar uma pulga atrás da orelha das massas.

Eu acredito que é pragmático ser um libertário dogmático no Brasil.

E a propósito você é um dos poucos que acredita na importância do Orkut. As outras pessoas que conheço acham o Orkut uma bobagem.

ntsr disse...

Exatamente.Artigo perfeito esse, também acompanhei essa comunidade só pra ver que são maniqueístas e tem a certeza irracional dos adolescentes
Quando vc pergunta uma coisa que eles n sabem responder eles ou ficam enrolando, ou partem pra ataques pessoais, ou fazem piadinhas, ou repetem o que já tinham dito antes (que antes n tinha respondido nada) e finalmente te expulsam da comunidade

E talvez um motivo pra sermos tão poucos e ainda ficarmos desunidos é que a maioria dos que querem um governo pequeno também são os primeiros a ir embora pros países mais ricos e menos socialistas assim que tem chance

offtopic:
Queria ver os esquerdinhas que frequentam esse blog, como é que eles defendem o lula falando que temos que respeitar a cultura do irã e deixar eles matarem aquela mulher lá pelo horrendo crime de adultério

ntsr disse...

'E a propósito você é um dos poucos que acredita na importância do Orkut. As outras pessoas que conheço acham o Orkut uma bobagem.'

E é mesmo.Vc quer um site com fórum, qualquer webdesigner medíocre 'faz' um pra ti.Na verdade eles já pegam feito pela internet.Tirando isso, orkut serve pra quê? Pra ficar fuçando a vida dos outros? Coisa de quem não tem o que fazer.

Unknown disse...

Muito bom! Rodrigo, tenho a impressão que a sua opinião mudou um tanto nos últimos tempos. Não, lia o seu site com frequência a uns anos (não por implicância, mas por falta de tempo).

Está bastante moderado, o que é ótimo. Ultimamente tens visto com melhores olhos os conservadores deste matiz: http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=13511?

Paulo disse...

Concordo em gênero, número e grau.

ntsr disse...

outra parte boa:
'Como preservar a propriedade privada no mundo real. Só de pensar que alguém rebate esta questão com um "agências privadas, simples assim" me dá calafrios, e levo esta resposta tão a sério quanto levaria a resposta de um comunista que diria "a justiça está em abolir as classes, simples assim". Ou seja, frase boba de efeito retórico para atrair adolescentes.'

ntsr disse...

só mais uma coisa, quando vc fala que hitler tinha amplo apoio na alemanha, era a alemanha que não sabia nada sobre campos de concentração, genocídio, etc, isso tudo só foi descoberto depois da guerra

ntsr disse...

Como esse povo viaja
'Fernando, mesmo uma agência mais poderosa que a outra não vai querer entrar em conflito armado com outra.
Se você for resolver tudo no tiro, vai ter que pagar mais caro pros seus gorilas...'

Não necessáriamente.Aperta um botão, solta um míssil feito pela Stark Industries e ganha a guerra que quiser em meio segundo.
Não vai ser tão caro considerando que a tendência é sempre a tecnologia ficar mais avançada e barata...

Vitor Roma disse...

De fato falta um Ron Paul tupiniquim, que saiba transmitir ao povão a importância da liberdade de maneira clara, ao mesmo tempo sem desagradar seus fãs mais radicais.

André Rufino disse...

Olá, sou André Rufino, um dos responsáveis pelo "novo" marketing do Partido dos Libertários.

Esse artigo do Rodrigo Constantino é elucidador em diversos aspectos. Essa percepção que o Constantino tem a respeito do Libertários é parcialmente justificada. Porém não há considero totalmente justa.

Olhar para o partido dos libertários apenas pelo canal orkut dá realmente essa impressão de imaturidade e de utopia. Concordo em gênero, número e grau.

O orkut é uma ferramenta desregularizada (pela comitiva de marketing), totalmente livre para todos os usuários falarem o que querem, da maneira que lhes convir.
Isso dá margem exatamente para esses debates infrutíferos, discussões com-pouca-educação, repetições insanas e mediações muitas vezes injustas.

Por esses motivos vejo muita gente com uma visão errada do partido.


Porém, a de se entender que o Libertários não é a comunidade do orkut. Essa comunidade foi responsável pela semente de algo que hoje está sendo cultivado em outros campos.

Como eu havia dito, acho injusto a análise do Constantino pois ela é prematura e reducionista.

Tudo, ou quase tudo que é discutido nas reuniões estaduais fica nas reuniões estaduais. Internamente o liber tem se desenvolvido a passos largos.

Quem acompanha apenas o partido pela comunidade do orkut tem uma miopia da realidade do Liber. Nossos principais ativistas hoje em dia são mais maduros, mais preparados e responsáveis.

A histeria das discussões do orkut é o retrato da imaturidade de grande parte dos membros, que devem ter uma média de idade de uns 23, 24 anos.

Porém mesmo jovens e muitas vezes histéricos a tendência é que amadureçam e se tornem grandes intelectuais. Grandes ativistas para o Liber. Na minha opnião só falta um direcionamento e algumas regras básicas de conduta que tem de ser seguidas.

Particulamente eu achei esse artigo elucidador, no sentido da "imagem de marca" do Libertários mesmo. A falta de agilidade em tirar o foco da comunicação do orkut está nos custando um potencial estigma de marca desagradável.

Estamos fazendo nossa parte aqui dentro, e logo logo o novo site do libertários estará no ar.
Nesse novo canal de comunicação esperamos mostrar mais maturidade, e possições oficiais a respeito de alguns assuntos.

Queremos desenvolver um fórum muito parecido com o do Orkut, porém com a diferença de ser verdadeiramente mediado e bem organizado, limpo.

Espero, inclusive, que o Constantino seja um dos ilustres convidados para os debates. Dividos por temas e com regras bem determinadas. Incentivando o debate intelectual e não a disputa de gritos que é o orkut.

Finalizando, restringir o Partido dos Libertários a comunidade do orkut é cometer um erro grave. O partido já é muito maior que isso.

As divergências ideológicas devem ser debatidas de uma maneira sadia e fértil. Iremos criar uma arena nova para isso e espero que seja utilizada para que se esqueça um pouco essa famigerada comunidade do orkut.


Um grande abraço,

André Rufino - Vice Presidente do Diretório Estadual de São Paulo.

Da C.I.A. disse...

Acorda Constantino... A postura deles é EXATAMENTE a mesma que vocÊ teve na sua célebre briga com Olavo de Carvalho.
Ainda há tempo de você reconhecer o erro.

ntsr disse...

Esse tal de olavo de carvalho é um que defende a igreja católica?

ntsr disse...

Ahhh tá
'Olavo de Carvalho mostra que Einstein e a teoria da relatividade é uma farsa'
'Olavo de Carvalho desmascara Richard Dawkins'

O triste é ver que na direita brasileira tem gente que admira ISSO

Tem jeito mesmo não.

INTERCEPTOR disse...

Olha... Acompanhei alguma discussão entre eles e o Rodrigo e muito do que este escreveu está certo mesmo, os paradoxos, a crítica incoerente e o extremismo absolutista, muito embora haja muita coisa interessante nos anarcos... Mas, o que mais me incomoda é a falta de foco. Não dá para pensar em mudar nada sem um mínimo de pragmatismo e propostas concretas. Torço pelo amadurecimento do partido, sinceramente. E não acho que não valha a pena interagir com eles, mas quando se debate ouvindo o missivista te chamar de ignorante etc. e tal fica tão difícil quanto entrar num DCE da vida e tentar argumentar.

Bem... Vamos tentando.

Marcelo Augusto disse...

Olá!

Rodrigo, você não considera que falar de liberalismo no Brasil faz tanto sentido quanto exportar televisores para países que não têm eletricidade e, muito menos, canais de TV?

Tenho enorme apreço pelo liberalismo em todos os seus sentidos. Uma parcela considerável do fato de o Brasil ser um país pobre, atrasado, corrupto, politicamente autoritário e economicamente ineficiente reside exatamente no fato de o Brasil nunca ter vivido e nem absorvido valores liberais.

Todos os países do mundo desenvolvido, em escalas nem tão distantes e momentos diferentes, viveram e absorveram tais valores ao ponto de terem construído instituições tendo tais valores como pilares.

Esses países possuem estruturas capazes de cultivar, manter e melhorar esses valores e instituições, enquanto que países atrasados, como o Brasil, não dispõem dos mesmos meios -- por isso fiz, mais acima, a metáfora dos televisores.

Uma outra situação que considero estranha é a atitude dos esquerdistas brasileiros perante as sociais-democracias escandinavas: Eles pensam que é o Estado/governo gigantesco a causa do elevado grau de desenvolvimento na Escandinávia, ao passo que é exatamente a ausência de obstáculos estatais/governamentais e a elevada liberdade econômica que permite a esses países gerarem recursos numa quantidade suficiente para bancar um Welfare State gigantesco. Basta ver os rankings de liberdade econômica para constatar que os países escandinavos estão entre os mais liberalizados do mundo.

E aí vem o paradoxo: Os esquerdistas brasileiros, que tanta admiração nutrem pelo modelo escandinavo, estariam dispostos a implementar medidas economicamente liberalizantes no mesmo estilo daquelas que existem nos países escandinavos para que haja recursos suficientes no sentido de bancar um Welfare State semelhante ao da Escandinávia?

Um tanto complicado de os esquerdistas brasileiros aceitarem essas medidas, afinal de contas, na maluquice ideológica deles, isso é "neoliberalismo".

Talvez, uma das razões para não haver uma tradição liberal no Brasil seja o histórico político brasileiro que é marcado fortemente pelo autoritarismo e a concentração de forças em poucas estruturas de poder.

Tenho um blog onde escrevo e utilizo dados diversos (liberdade econômica, IDH, renda per capita, e etc.) para plotar gráficos e mostrar algumas correlações entre elas. Se o dono do blog me permitir, peço humildemente licença para colocar o link:

Mare Solitude

URL direta:

http://maresolitude.wordpress.com/

Até!

Marcelo

Adão disse...

Olavo de Carvalho é filósofo, astrólogo, psicólogo, vidente, matemático, sociólogo, e também profeta. Escreve bobagem em linguagem sofisticada e cola/copia como ninguém. Enche o seu blog de comentários elogiosos a sim mesmo utilizando pseudônimos e anônimos. Tem cinco ou seis idiotas que o seguem. Mas, cuidado, ele não é de direita, nem de esquerda. Ele nem sabe o que isso significa! Um tolo.

Thiago Cortês disse...

Regra básica para fazer política séria: sempre desconfie de quem tem resposta para tudo.

Eu sempre achei incríel que os anarco-capitalistas tivessem resposta para tudo, e uma solução para todo problema hipótetico do futuro, porque isso lembra os engenheiros sociais e planificadores socialistas.

Vinicius Falcão disse...

Leio este blog há algum tempo: desde que comecei uma transformação enorme na minha visão política - eu sempre fui (e ainda sou) anarquista, mas o viés do meu anarquismo mudou ao começar a ler e entender melhor o liberalismo. Hoje, por exemplo, digo com todas as letras que um não pode existir sem o outro.

Mas, de fato, isso não basta. É algo "muito bonito", mas não vai fazer a menor diferença isso nas próximas eleições. Percebi, justamente pelo que acabei de falar, o "senso prático", que um estado/governo MENOS interventor na economia é sempre melhor que um mais interventor. Agora, se tem algo que concordo plenamente com os "ancaps" (não sou ancap, não sei bem qual vertente poderia dizer que sigo, mas estou bem próximo de uma junção entre individualismo e mutualismo; isso não faz muita diferença, pois, para mim, no anarquismo, a pluralidade de arranjos sociais deve ser a tônica, em outras palavras: há liberdade de associação: desde que respeitem a clásula dura - "não coagir ninguém" - pouco importa se são anarco-capitalistas ou anarco-comunistas), é que o Estado é sim um modelo de escravidão. E, veja, não é apenas o Estado enquanto uma instituição bem organizada e fácil de alvejar, mas todo e qualquer corpo que faça a vez de Estado, com suas imposições, coerções, etc (nesse ponto de vista, ao meu ver, alguém que vê o Estado como escravo, não diria que na Somália o modelo-Estado está ausente só porque o Estado está, na verdade, às vezes, é, de fato, bem pior a forma Estado estar presente sem o Estado institucionalmente falando estar). Enfim, este ponto para mim é pacífico: todo Estado opera escravidão. Mas, óbvio, não iremos abolir a escravidão do dia pra noite, é preciso uma lei para proibir o tráfico, outra para tornar livre os que nascerem a partir da aquela data e assim indo numa escala progressiva (que no meio do caminho terá ganhos e percas, contanto que o caminho esteja, por mais espinhento que se mostre, caminhando pra frente) até o objetivo final: a lei áurea. A partir do momento que se defende um modelo de Estado menor (e que tenda a desaparecer, de preferência), se cobra isso e se trabalha para que isso aconteça, tal voz ganha eco na sociedade, é, também, uma tarefa pedagógica em certo sentido: divulgar as benecesses de uma sociedade realmente sem interferências verticais em nossas vidas (e aqui existe um ponto importante que talvez você, Rodrigo, não tenha pensado para que mesmo algumas pessoas sendo contra todo tipo de estatismo apoiarem um partido: vejo o liber muito antes como um "partido-pedagógico", com o intuito mesmo de divulgar idéias - usando as prerrogativas que todo partido tem no cenário eleitoral - que como um "rei das urnas", uma "máquina de captar votos", nesse sentido a idéia do liber é perfeita).

Dito isto, concordo com alguns pontos do que vc falou: o pragmatismo é importante, pois não iremos (e aqui me refiro a todos os anarquistas) conquistar uma sociedade sem Estado do dia pra noite, as conquistas precisam ser progressivas e, principalmente, a principal conquista deve ser a pedagógica: quanto mais pessoas entenderem as benecesses de um mundo liberal, mais irá fluir tal progresso rumo à liberdade.

VW disse...

É Rodrigo, tem coisas que só o passar do anos traz... Quem nunca foi revolucionário quando era mais novo, seja à direta ou à esquerda? O tempo, porém, passa e a gente aprende a ver o mundo sob uma ótica mais realista... O "contra tudo e contra todos" é coisa boba, não passa de pirraça infanto-juvenil...

Dei uma olhada nos "princípios" do partido e cheguei às mesmas conclusões que você... Mas se pensarmos um pouquinho é bem plausível o fato de não termos um partido liberal no Brasil...

1 abraço!
Vítor Wilher

nenhum disse...

Ninguém leva os ditos "liberais" brasileiros à sério porque o Serra pode propor sandices como o Ministério da Segurança Pública e um ministério para deficientes que estes liberais ainda estarão falando em "ditadura" do PT ou algo que o valha.

samuel disse...

"...o Serra pode propor sandices como o Ministério da Segurança Pública e... " me faz lembrar a capa do TIMES quando da nomeação de Andropov para 1o. ministro da Rússia Soviética: "more of the same" escrito em baixo de sua foto de primeiro ministro. Minha opção por Serra não é uma opção ideológica. Apenas que no momento é a opção de continuar a democracia...
Como assesso as discussões do Liber?

fejuncor disse...

Concordo com o comentário segundo o qual devemos exercitar a exposição do que pensamos e não a aceitação do que repetimos. Tmb sou do tipo que só escreve pra materializar o que pensa e não para dissimular o que cobiça. Por ponde passo vou deixando meus pitacos; seja aqui, no facebook, no Blog do Bolívar, do Tio Rei e em vários outros lugares. Tô de bobeira na internet, tô comentando.

Sobre esse lance de modo anárquico, liberal, conservador acho a discussão superestimada. Em nosso caso está mais pra desperdício de saliva. Onde o governo é bêbado, corrupto, ladrão, incompetente e omisso, é claro que nenhum modelo de estruturação do estado vai funcionar. Nem socialismo, nem capitalismo, liberalismo, nem ismo nenhum. No Brasil o PT virou de direita. Não estão vendo? Querem uma lupa? Selvageria capitalista. Elitismo. Concentração de renda. Favorecimento dos ricos.

Somos um país de cultura fortemente latina, nunca seremos liberais por mais que se nutra essa miragem. Com muito esforço talvez possa ser possível formar uma voz de moderação, que faça ser ouvida na sociedade, e consiga puxar um pouco as rédeas do patrimonialismo – mas almejar uma revolução liberalizante, nessas bandas, já é ilusão demais.

Aqui não é a França Antártica. Aqui é o litoral do Paraguai, o interior do Perú.

Unknown disse...

Rodrigo, qual sua opinião sobre o Partido Federalista?

Anônimo disse...

Olha Rodrigo, você superestima muito o Liber. O antiestatismo deles é tão doentio quanto o anticapitalismo dos comunas: o estado é o culpado por todo o mal da humanidade. Pobreza, depravação moral, tudo culpa do estado. Sem falar do axioma único e sem sentido da não iniciação da agressão física, e dos cristãos fanáticos(esses eu prefiro nem comentar). Daqui a pouco tá todo mundo pegando em arma para "lutar pela liberdade" e matando todo mundo que não disser amém.

A galera é lelé da cuca.