quinta-feira, agosto 26, 2010

O Sonho Americano



Rodrigo Constantino

“O estado é a grande ficção através da qual todo mundo tenta viver à custa de todo mundo.” (Bastiat)

Era uma vez um país, terra da liberdade, em que pessoas migravam em busca de oportunidade de trabalho ou para fugir da opressão de seus governos. Foi-se o tempo em que a América representava este refúgio aos indivíduos de valor. Onde foi parar o antigo sonho americano? O “império” está em decadência, e a economia é apenas um reflexo do declínio cultural e moral. Os Estados Unidos cada vez mais se parecem com os países decadentes europeus, onde o coletivismo sepultou o conceito de meritocracia.

O sonho americano não é uma utopia, ao contrário do igualitarismo que muitos buscam mundo afora. Tampouco representa um simples materialismo mesquinho, como seus detratores tentam acusar. A imagem de ganhos fáceis e rápidos, sem esforço, não é condizente com o sonho americano original. Assim como o “socialismo dos ricos”, ou o “capitalismo de compadres”, em que “amigos do rei” se beneficiam à custa dos pagadores de impostos, não guarda similaridade alguma com este sonho. Estes são sintomas justamente de sua morte lenta e gradual.

Quem capturou a essência do sonho americano, tendo inclusive cunhado o termo, foi o historiador James Truslow Adams, que escreveu em 1931 “The Epic of America”. No livro, ele descreve o que entendia por este sonho. Numa tradução livre:

“... o Sonho Americano, aquele sonho de uma terra em que a vida deve ser melhor e mais rica e mais plena para todos os homens, com oportunidade para cada um segundo sua capacidade ou realização. É um sonho difícil para as classes superiores européias interpretarem adequadamente, e muitos de nós mesmos temos desconfiado dele. Não é um sonho de automóveis e altos salários apenas, mas um sonho de uma ordem social em que cada homem e cada mulher devem ser capazes de atingir a maior estatura da qual eles são naturalmente capazes, e serem reconhecidos pelos outros pelo que eles são, independentemente das circunstâncias fortuitas de nascimento ou posição.”

Que belo sonho! O sobrenome de família passa a ser insignificante para determinar o sucesso individual, frente ao mérito de cada um. Os privilégios concedidos pelo governo desaparecem, e as conquistas dependem das trocas voluntárias no livre mercado. Há ampla mobilidade social, e nada impede que uma pessoa humilde possa chegar ao topo. Os valores culturais mais respeitados são individualismo, meritocracia e tolerância. O otimismo faz parte deste sonho, na convicção de que seus filhos viverão num país melhor que o seu, uma conseqüência do progresso constante, que por sua vez depende do esforço individual, da poupança, dos investimentos produtivos. O trabalho não é exploração, e o lucro é o resultado justo do empreendimento bem-sucedido.

Quanta diferença para a realidade atual! Os americanos dependem cada vez mais do governo. Em vez de lutar pelo direito de propriedade privada, querem mais e mais “direitos” estatais. Em vez de defender o livre mercado, querem mais tutela estatal. Trabalhar duro, poupar e aos poucos conquistar os objetos de desejo, como a casa própria, cedeu lugar aos “NINJA loans” (No Income, No Job, No Asset). O sujeito não tem nada, nem emprego, nem poupança, mas pretende ter a casa própria por meio de crédito facilitado, com o aval e incentivo do próprio governo. É a morte da formiga responsável, e o nascimento da cigarra frívola. Vamos todos viver de forma “digna”, e a conta se pendura na “viúva”. Nossos filhos não vão herdar um país melhor, resultado de nosso trabalho e poupança; eles vão herdar a fatura de nossa irresponsabilidade! Carpe diem!!!

O verdadeiro sonho americano é viver numa terra livre com oportunidades para quem deseja trabalhar duro ou para quem tem talentos diferenciados; não é o sonho de garantias governamentais para ter casa própria, emprego e uma “vida digna”. Pelo bem dos americanos e de todos aqueles que sonham este sonho, espero que certos valores ainda possam ser resgatados na terra do Tio Sam. Antes que seja tarde demais.

12 comentários:

cast away disse...

Acredito que seja só a ida do pêndulo. A sociedade americana, ou pelo menos sua maioria, a “All-American”, tem toda uma cultura muito bem enraizada no mérito e na liberdade. Observem hoje boa parte dela expressando-se receosa e em desagrado com estes sinais que você cita. O pêndulo voltará.

Anônimo disse...

Rodrigo, apenas uma ressalva: uma hipoteca jamais deu o cidadão a propriedade da casa, apenas a falsa impressão ilusória de fingir que possue uma casa própria; mas eu e você sabemos que isso não é verdade: a casa é sempre dos bancos, o indivíduo apenas se mata de trabalhar para girar a roleta do ramster pagando juros em cima de juros, sem jamais possuir o que chama de seu; de fato, a maioria esmagadora dos americanos jamais possuem sua casa; uma hipoteca dura pela vida toda; essa é a grande ilusão do sonho americano. O sonho americano é a liberdade total para o empreendimento, esse sim, ameaçado pelo tão famoso socialismo de estado, ou melhor, socialismo para os ricos; e como você tão bem coloca de maneira categórica: o fascimo.

ntsr disse...

O Obama não ganhou voto por causa de nenhuma dessas m***** que ele anda fazendo, mas só pq era contra a guerra do iraque.
Se ele conseguir escancarar as portas pros cupins do mundo inteiro,aí sim, esperança morta e enterrada.

ntsr disse...

Long Live Australia, número 2 da heritage foundation

Anônimo disse...

Os Estados Unidos da América vem sofrendo deste mal, desde os primórdios do século 19. Ora com maior ou menor intensidade, as ondas estatizantes vão sedimentando a imoralidade e perventendo o espírito dos homens que um dia foram livres. A "rede de proteção" que o Estado cria para os cidadãos é, na realidade, a malha que nos aprisiona. Nunca vivemos tanto pelos outros como agora. O sonho americano, antigo pesadelo dos estatocratas, é cada dia mais um sonho.

Ricardo Froes disse...

Simplesmente perfeito. De vez em quando você consegue.

O resto é apenas muito bom.

Phillip Grillo disse...

Bons ventos...

http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=760

Theresa disse...

Os americanos sonhavam e compravam a casa propria com emprestimos "Ninja loans",sem ter qualquer emprego ou poupança,li uma entrevista com uma brasileira que vive nos USA que tinha 60 cartões de credito, já os brasileiros vivem a custa dos cheques prédatados e 300 vezes no cartão Visa é a cultura das "suaves prestações".
Comprar um simples par de sandalias ou fazer implante de um par de nadegas de silicone e pagar em 10-35 vezes no cartão mostra bem o poder aquisitivo do brasileiro.
A bolha brasileira tambem pode estourar.Vai ser gente descalça e nádegas de silicone por todos os lados.
Ademais o país tem um presidente imbecil que manda o povo gastar o que não tem, pois cheques predatados não significam que o consumidor tenha fundos e portanto nao tem dinheiro, esta comprando sem ter capital.
Creio que a bolha brasileira é gigantesca e vai sobrar sapatos e bundas de plastico para a metade do mundo.
A mentalidade europeia não tem nada a ver com a mentalidade americana no quesito consumismo sem receitas
Talvez em Portugal onde abundam os brasileiros, levaram nao sómente sua crença como tambem o seus vicios.

Ótima a tua crônica, para já quero saber os países decantes europeus que sepultaram a meritocracia em favor do coletivismo.
Conheço muito bem a Suécia e poderia ser este paraiso um dos paises europeus em decadencia a que voce se refere?Pois este pequeno paraiso realmente pensa coletivamente e vai muito bem obrigada.
Não me parece que os países escandinavos estejam em decadência, ou mesmo a Alemanha que esta calgando o segundo lugar depois do USA em força economica mundial. Não temos por aqui nenhum populista mentiroso como o Lula e se tivessemos os europeus não caem no conto do vigario tão facilmente, vide Sarkozy que esta despencando, não agrada aos frances, fora!O Sarkozy me agrada em muitos pontos.
Infelizmente para aqueles que ficariam felizes com a derrocada europeia, acho que terao que esperar um pouco mais. Melhor sentar para nao cansar.
Desejo uma recuperação para a economia americana, melhor com que sem ela.

Keoma disse...

Interessante que uma vez eu comentei aqui no escritório que o Estado não deveria se responsabilizar por serviços que podem ser providos pela iniciativa privada, tais como saúde e educação. Todos olharam para mim como se eu fosse um maníaco, estuprador, pedófilo, daí para pior. Hehe. A partir daí evitei fazer comentários sobre isso. Mas num certo dia não resisti e fiz um comentário sobre a Lei Rouanet, em particular sobre a indecência que é o financiamento pelo Estado dos filmes nacionais. Para quê? Tive que ouvir que tenho opiniões muito "estranhas", e ouvir também a afirmação de uma estúpida matrona que trabalha aqui, metida a chic, de que o Estado deve sim "investir um pouco" em todas as áreas. Primeira moral da história: tenho que aprender a calar a boca; segunda moral da história: estamos perdidos!

Anônimo disse...

Keoma, pergunta para a matrona se ela sabe que quem paga por estas porcarias escolhidas pelo governo é ela acompanhada de todos os outros babacas que somos nós.
Aposto 10 contra 1 que ela não sabe.
Pergunta se ela sabe as 4 maneiras de se gastar dinheiro sintetizada pelo Milton Friedman.
Quando ela disser que não sabe, olha para ela como se ela fosse uma maníaca, estupradora, etc etc etc...

ntsr disse...

'infelizmente para aqueles que ficariam felizes com a derrocada europeia, acho que terao que esperar um pouco mais. Melhor sentar para nao cansar.'

Mesma coisa se dizia sobre a espanha e a grécia até bem pouco tempo

ntsr disse...

@Keoma: uma empresa feita de gente burra n vai durar muito tempo, melhor vc ir trabalhar em outro lugar.