quarta-feira, julho 24, 2013

Bolha nas artes?

Tela de Beatriz Milhazes vendida por US$ 2,1 milhões

Rodrigo Constantino

Uma reportagem da Folha mostra como teve crescimento rápido o mercado de artes no Brasil, e que ele pode ter chegado ao seu pico de euforia. Diz a matéria:

Novos números comprovam a sensação de euforia no mercado de arte brasileiro, que cresceu 22,5% em 2012, três vezes a média mundial, de 7%, segundo um último levantamento de dados. As galerias de arte contemporânea chegaram à arrecadação de R$ 250 milhões ao ano, enquanto preços de obras subiram em média 15%, bem acima da inflação do período.

Outro dado também surpreende. Segundo um relatório da secretaria paulista da Fazenda obtido pela Folha, a última edição da feira SP-Arte, em abril, declarou R$ 99 milhões em vendas, mais do que o dobro de 2012, quando registrou R$ 49 milhões.


Essa é apenas uma fração do total dos negócios da feira, já que só as comercializações com isenção de impostos estaduais --no caso, as vendas de algumas obras importadas-- precisam ser declaradas dessa forma. O faturamento total pode ter superado R$ 300 milhões porque essas transações respondem por pouco menos de um terço do total das galerias.

[...]

"As vendas têm sido bem firmes, mas é fato que o gelo da festa acabou", diz Marcia Fortes, sócia da galeria Fortes Vilaça. "Artistas jovens no Brasil custam muito caro, então a tendência é estabilizar."

Ou seja, após atingir um pico, o mercado está mais maduro, com crescimento "consistente e linear", segundo Ana Letícia Fialho, do projeto Latitude. Mas galeristas preveem uma desaceleração.


O preço de uma obra de arte costuma ser um bom sinal para bolhas especulativas, pois se trata de um ativo difícil de mensurar o valor, uma vez que ele não tem yield, fluxo de caixa. Além disso, esse é um mercado visto por muitos como "reserva de valor", especialmente quando se trata de artista renomado. Há, ainda, facilidade em lavagem de dinheiro por meio desse mercado, justamente porque ninguém sabe ao certo qual seria o valor justo de uma obra de arte.

Enfim, a valorização excessiva e rápida demais de obras de arte costuma estar atrelada ao ciclo de bolhas especulativas, quando há fartura de crédito e abundância de recursos em busca de retorno extra. É cedo dizer se foi isso que ocorreu no Brasil. Mas há sinais preocupantes, como este, retratado em outra matéria do jornal:

Na última edição da feira SP-Arte, um galerista queria mostrar poder e pediu a um amigo colecionador que cedesse uma pintura de Alfredo Volpi ao seu estande.

O objetivo não era vender, apenas impressionar. Para convencer o colecionador, o galerista pediu que ele estipulasse um preço impraticável para a obra. Colocada à venda por US$ 1 milhão (R$ 2,2 milhões), a obra acabou saindo logo no primeiro dia do evento.


É uma montanha de dinheiro por aquelas bandeirinhas coloridas! Todo alerta é pouco. Estamos diante de mais um indício de que o país viveu uma fase de excessos insustentáveis, e que a fatura está chegando. Vai machucar todo mundo. Mesmo os artistas descolados, normalmente de esquerda, que "abominam" o capitalismo e o lucro - dos outros.

PS: Com as obras de arte se valorizando, o olho gordo aumenta. Segundo a Folha, os advogados querem criar o "Ecad" das artes visuais: "Num cenário de hipervalorização das obras de arte, advogados querem tentar fazer valer o direito de sequência, ou seja, o repasse de 5% do lucro sobre a peça para o artista ou seus herdeiros a cada vez que ela trocar de mãos". Mais estatização, mais governo, mais impostos ou taxas. 

No mais, escapa-me a compreensão de porque o artista ou seus herdeiros teriam algum tipo de direito sobre a valorização de suas obras no mercado. Quando eles aceitaram vendê-la na primeira vez, isso já foi uma troca voluntária, onde eles julgaram receber um valor suficiente pelo que deram em troca, caso contrário a transação não ocorreria. O ganho posterior é de quem apostou na obra, correu riscos, especulou. O artista, a meu ver, não teria mais direito financeiro algum sobre isso.

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