Fonte: O GLOBO |
A entrevista do Ministro da Educação Aloizio Mercadante para a Folha ontem repercutiu muito mal no Congresso. Nela, o cada vez mais poderoso ministro, que avança sobre as demais pastas e assume uma postura de porta-voz do governo Dilma, avisou em tom de ameça que o eleitor iria "cobrar caro" nas urnas o plebiscito não ter sido aprovado.
Não podemos considerar esse alerta um ato isolado. Mercadante está no seleto círculo de confiança da presidente Dilma. Eis a estratégia que eles têm adotado: a presidente "escutou a voz das ruas", levou para o Congresso uma medida fundamental para viabilizar mudanças por meio dessa voz, e os deputados enterraram a oportunidade, fazendo-se de surdos.
Há só um problema: nada disso é verdade! Chega a ser constrangedora a cara-de-pau do governo de se fingir alheio às críticas das ruas. O PT governa o país há mais de uma década! Foi o PT que se aliou ao PMDB. Foi o PT que expandiu gastos públicos e crédito estatal, plantando as sementes dos problemas econômicos atuais. Foi o PT que priorizou o investimento em estádios de futebol que são verdadeiros "elefantes brancos". E foi o PT o líder do mensalão.
Além disso, ninguém estava nas ruas demandando um plebiscito. Como disse Eduardo Cunha, do PMDB, havia até placa anunciando a venda de um Monza 92, mas nenhuma pedindo plebiscito. Este, no fundo, era um sonho antigo do próprio PT, que usou as manifestações de forma oportunista para desengavetar seu projeto de concentração de mais poder no partido e em seus caciques. O anseio do PT é poder passar por cima do Congresso e governar sozinho, no estilo bolivariano.
Uma das críticas mais duras ao oportunismo de Mercadante veio de Ronaldo Caiado, líder do DEM: "Senhor Mercadante, não queira jogar a falência do governo Dilma nas costas do Congresso. Quem não investe em educação, saúde, segurança e combate à corrupção é a presidente Dilma, que tem o poder da caneta". Ele continuou:
Veja o quanto os porta-vozes do governo são inescrupulosos. Mercadante deveria ter um conhecimento mínimo de Constituição e Regimento Interno quando induz a população a pensar que estamos impedindo a consulta popular. O plebiscito já foi feito e o povo disse nas passeatas que quer é uma saúde de qualidade, uma educação que seja compatível para nossos jovens, uma mobilidade urbana. É fazer com que os mensaleiros não fiquem apenas no julgamento e sejam cumpridas as penas.
Em sua coluna de hoje no GLOBO, Merval Pereira também disseca o fracasso dessa tentativa de Mercadante de desviar o foco do governo para o Congresso:
Quem tentou tirar partido da fragilidade do Congresso foi o ministro Aloizio Mercadante, promovido a principal interlocutor político do Palácio do Planalto. A entrevista à "Folha" em que ele ameaça o Congresso com uma vingança dos eleitores nas urnas em 2014 se não ouvir as vozes das ruas, como se as manifestações nada tivessem a ver com a presidente Dilma e o governo do qual se tornou porta-voz, certamente dificultará ainda mais a relação entre a base aliada e o governo.
Já há quem fale em abandono do PMDB da base aliada ano que vem. Ainda faltam 15 meses para as eleições, cuja campanha foi antecipada pelo próprio PT. E o PT cava cada vez mais seu isolamento, criando um clima de completa ingovernabilidade em meio a uma grave crise econômica. Faltam estadistas no PT e no governo. Quem tem Mercadante como poderoso ministro, interlocutor e porta-voz, não pode querer muita coisa mesmo.
3 comentários:
Sem falar na declaração dada por ele dando como certa a reeleição de Dilma no ano que vem e ainda no primeiro turno.
Nossa Universidades vão mal... o cara tem Doutorado?!
A total falta de tino político deste cidadão é espantosa. Nada que ele diga ou faça pode ser levado a sério. O cara que tornou irrevogável, revogável. Faz qualquer coisa para conseguir ser o candidato a Governador pelo PT.
A coisa é tão amadora que custo a acreditar. Às vezes acho que tanta trapalhada deve ter algum intuito, porque não é possível tamanho amadorismo.
Prezado Rodrigo , parabéns pelo discernimento sobre a situação nacional. Corretíssimo.
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