Rodrigo Constantino
Domingo, dia de chuva. Não obstante, praia de Copacabana lotada. O motivo? A Parada do Orgulho Gay, que reuniu mais de 500 mil pessoas. Direitos iguais, independente da preferência sexual, sim. Mas o que seria exatamente ter orgulho de ser gay? Uma coisa é pedir o fim do preconceito, o tratamento isonômico. Outra, bem diferente, é tentar garantir privilégios via Estado e afirmar sentir orgulho somente pelo fato de gostar de pessoas do mesmo sexo. Sentimos orgulho por sermos virtuosos, corretos, inteligentes, honestos, independente de sermos homossexuais ou não. Mas não se sente orgulho pelo simples fato de ser gay. Um gay desonesto sentirá orgulho de que? De gostar de outro homem? Isso lá é motivo para se ter orgulho? O orgulho diz respeito às características do caráter, não aos aspectos físicos de nascença ou à preferência sexual. Ninguém sente orgulho por ser ruivo, baixo ou careca. São – ou deveriam ser – aspectos irrelevantes para o sentimento de orgulho, que deveria estar atrelado ao caráter, à inteligência.
Muitos apelos da “causa gay” fazem sentido. A menor minoria de todas é o indivíduo, e qualquer um que ignore um tratamento isonômico para todos os indivíduos, independente de cor, credo, renda ou preferência sexual, não pode se dizer defensor das minorias. Mas tampouco defender minorias é pregar a criação de novos privilégios para determinados grupos. Impor, por exemplo, que uma empresa privada seja obrigada a contratar certa quantidade de negros, ou de gays, não é defender minorias, mas sim defender privilégios em detrimento da menor minoria de todas, o indivíduo. Afinal, onde fica a liberdade do indivíduo que é dono da empresa, que deveria ser livre para contratar quem ele quisesse? Onde fica a liberdade dos membros de uma sinagoga se estes não querem ter que conviver com muçulmanos? Onde fica a liberdade dos católicos se sua Igreja passa a ser obrigada pelo Estado a aceitar homossexuais?
O que incomoda os liberais no movimento gay não é a pressão pelo fim do preconceito, mas o uso do aparato estatal para a criação de privilégios, a começar pelo próprio financiamento das paradas gays, que muitas vezes contam com verbas públicas. Em relação ao casamento, o Estado deveria se abster da questão também. Dois adultos responsáveis devem ser livres para travar o acordo que desejarem. A intromissão do Estado apenas prejudica as partes. E jamais deveríamos obrigar que a Igreja Católica aceite o casamento homossexual. A luta para separar o Estado da Igreja foi longa e árdua. Seria um grande retrocesso conceder agora um poder abusivo ao Estado para determinar pontos que dizem respeito somente à religião. Um Estado laico vale para os dois lados: a Igreja não se mete nas questões do Estado, e o Estado não se mete nas questões da Igreja. Isso vem de um ateu!
Ser homossexual é algo de foro íntimo, uma opção – ou não – do indivíduo. Sua preferência sexual carrega certos fardos naturais – como a impossibilidade de procriação – mas ninguém tem nada a ver com isso. Ninguém deveria ser alvo de preconceito somente por gostar de gente do mesmo sexo. Mas as outras pessoas, que não compartilham desta preferência, também não deveriam ter suas liberdades prejudicadas. Isso envolve não forçar que heterossexuais paguem pelas paradas gays via seus impostos, ou que donos de empresas sejam obrigados a contratar certa quantidade de membros de minorias caso ele não deseje. Pode ser moralmente repulsivo que alguém deixe de contratar um funcionário somente pela sua cor ou escolha sexual, além de ser ilógico do ponto de vista econômico. Mas não é via leis que vamos superar tal preconceito. Se um sujeito quer contratar somente ruivos ou pessoas altas, deve ser um direito seu. O tempo irá se encarregar de eliminar tais figuras do mercado, pela menor eficiência de sua empresa. Afinal, quanto mais você limita o escopo de candidatos para a contratação, por aspectos que nada dizem sobre a eficiência e produtividade do empregado, menores as chances de você contratar o melhor candidato disponível. A sua produtividade sofre pelo preconceito.
Resumindo, vamos defender sim o fim do preconceito, o tratamento isonômico para todos os indivíduos. Isso pressupõe ficar contra qualquer privilégio concedido pelo Estado, incluindo todo tipo de ação afirmativa. E vamos sentir orgulho das almas nobres, das pessoas virtuosas e inteligentes. Isso independe totalmente da preferência sexual da pessoa. Não há motivo algum para se ter orgulho somente do fato de ser gay.