domingo, julho 01, 2007

Inteligência e Liberdade


Rodrigo Constantino

“A virtude que distingue os homens numa sociedade livre, a essência da visão liberal da vida, é a busca da verdade.” (Frank H. Knight)

Em 1959, o professor Frank H. Night proferiu cinco palestras que se transformaram em livro no ano seguinte, sob o título Inteligência & Ação Democrática. Knight foi inegavelmente um dos pais da assim chamada “Escola de Chicago”, tendo presidido o Departamento de Economia da Universidade de Chicago por vários anos. Veremos a seguir alguns pontos abordados pelo economista.

Nas palestras, Knight enfatiza que pouco vale uma ordem nacional estruturada sobre a hipótese de um caráter altruísta do homem, já que uma boa dose de egoísmo faz parte de sua natureza. Ele tinha muito receio do poder arbitrário exercido com “boas intenções”. Ele se mostrava cético a respeito da contribuição da ciência à solução dos problemas fundamentais de uma sociedade livre. Ele diz: “O conhecimento científico confere poder, mas tem pouco a dizer sobre os fins para os quais esse poder deverá ser utilizado”. Respeitava o fato de que certos padrões comportamentais, assim como valores, foram sendo preferidos em detrimento de outros, devido à sua maior capacidade de assegurar a sobrevivência e o crescimento dos grupos que as adotaram. Tal como Hayek, Knight tinha respeito pelas tradições, sem apego irrestrito a elas, mas receoso de qualquer tipo de ação construtivista que buscasse moldar artificialmente a sociedade, ignorando essas heranças. Devemos aceitar as mudanças apenas quando existem fortes razões para acreditar que serão para melhor, que promoverão o progresso. “Apenas lenta e gradualmente os hábitos e costumes podem ser mudados sem que se destrua a ordem ou a liberdade, ou as duas”.

A ênfase de Knight no aspecto da educação do povo é total, mas para ele, o “desensinar” é uma tarefa principal da educação geral, no sentido tanto de superar preconceitos como de evitar julgamentos apressados. Faz-se necessário desenvolver a vontade de ser inteligente, ou seja, “objetivo e crítico”, conforme o autor explica. Em suas palavras, “o primeiro passo é tornar o povo em geral mais inclinado à crítica, menos romântico no seu julgamento acerca dos argumentos usados nos debates durante as campanhas políticas”. A primeira tarefa da inteligência, assim como a mais difícil, seria fazer as perguntas corretas. Para Knight, temos exemplos perenes de estupidez em matéria de idéias e políticas econômicas justamente por falta dessa postura mais crítica. Ele cita o protecionismo no comércio internacional e a inflação, ou seja, a “idéia e a política de se criar riqueza ou prosperidade por meio de dinheiro abundante e barato”, o que pode ser obtido com uma taxa artificialmente baixa de juro. O nacionalismo econômico seria outro caso de virulento preconceito, assim como os subsídios do governo americano no programa agrícola.

Um dos preconceitos mais condenados nas palestras trata da “incapacidade ou recusa de reconhecer que o livre intercâmbio é axiomaticamente vantajoso para ambas as partes, desde que elas tenham uma competência elementar para administrar seus próprios negócios”. A hipótese de que o governo é uma espécie de Deus benevolente costuma andar junto deste preconceito. Knight lembra que ocorreu uma inversão falaciosa do significado de liberalismo, sustentando que alguém não é livre a menos que tenha o poder de fazer qualquer coisa que deseje. “A liberdade é o oposto da coerção e não do determinismo”. A liberdade de que o empregado dispõe, por exemplo, é a de escolher entre empregadores alternativos. Se realmente existe a concorrência de mercado entre os empregadores, “qualquer tentativa de estabelecer uma relação de poder no sentido contrário comprometerá a produção, e beneficiará apenas os empregados através da violação do direito à liberdade dos consumidores, outros empregados, proprietários ou empresários em busca de ganhos legítimos – sem o que o pagamento de salários se torna impossível”.

Com relação ao monopólio, Knight entende que o público tem idéias grosseiramente exageradas, especialmente no caso dos monopólios empresariais. Ele considerava Adam Smith certo ao afirmar que se o governo se abstivesse de estimular monopólios, grande parte do problema se resolveria por si mesmo. “Os piores monopólios não estão no campo dos negócios”, ele explica. Os sindicatos trabalhistas seriam muito mais perigosos para a liberdade e o progresso: “A ameaça suprema ao bem-estar sócio-econômico e que constitui o maior obstáculo ao bom senso na política econômica é o poder arbitrário crescente das organizações sindicais”. Mas um enorme preconceito contra a atividade empresarial dificulta essa visão.

Knight rejeita utopias, preferindo focar nas soluções mais realistas e possíveis. Para ele, “o homem precisa, acima de tudo, aprender a sentir-se razoavelmente satisfeito com o possível”. É mais importante evitar as falsas soluções, os remédios piores do que os males a serem curados. Ele era um grande cético: “Os homens têm de ser conscientes do seu romantismo natural e céticos quanto aos remédios e, antes de tudo, céticos com relação a todos os diagnósticos”. Para ele, o esforço para a objetividade crítica é de origem recente e tem progredido frente a mais tenaz oposição, especialmente da parte dos guardiões da “verdade”, considerada como sagrada e imutável. Como exemplo, ele menciona os casos de Galileu e Darwin.

Sobre religião, Knight defende claramente a liberdade e a tolerância. Para ele, “a sociedade livre é inevitavelmente uma sociedade secular, pois os homens não vão chegar livremente a um acordo sobre a verdade sobrenatural”. Por isso, “os adeptos de qualquer religião têm que ser tolerantes com relação a outras preferências religiosas, a fim de que a paz e a ordem possam prevalecer”. Knight vai além, afirmando que “a religião se opõe ao progresso, da mesma forma que os homens não aceitarão ou adorarão um deus que mude as suas mentes e as suas leis”. Para ele, “numa sociedade livre não pode haver verdade sagrada, dogma ou assunto que não seja aberto para o questionamento e a mudança”. Sua definição de crença religiosa era “qualquer crença mantida como absoluta em bases morais, de forma que questioná-la constitui um mal”. Knight defende que na cultura liberal não há lugar para o dogmatismo e a intolerância, assim como “não há verdade que não seja suscetível de questionamento”. A revolução liberal que ocorreu, principalmente com a Renascença e o Iluminismo, seria um progresso em relação aos tempos da Idade Média, nesse sentido. A essência da revolução foi a substituição da conformidade e da obediência pela liberdade e o progresso.

Por fim, Knight conclui suas palestras atacando novamente o grande preconceito existente contra os empresários: “Um povo que pensa que o meio de beneficiar os trabalhadores é tratar os empregadores como seus inimigos, persegui-los e denegrir ao máximo o seu papel, não merece ter liberdade e não pode mantê-la para sempre”. De forma geral, a liberdade depende de mais inteligência por parte do povo. Como realizar isso é uma questão muito complexa, a qual Knight apenas esboça algumas respostas. Por isso é tão fundamental para a sociedade livre que os homens insistam na busca da verdade, evitando ao máximo os preconceitos e julgamentos apressados.

Um comentário:

Anônimo disse...

No Brasil mesmo empresário é visto como demônio.

Pra mim existem sim empresários nojentos e imbecis. Os mamadores de tetas do estado.

Porém é uma atitude lógica, de incentivo, pois o estado é gigante e torna-se muito mais vantajoso mamar lá do que lutar no mercado.

Vide o caso dos Bancos. É melhor comprar títulos do governo que financiar atividades produtivos. E porque tantos títulos? Porque o governo precisa se financiar, gastador.